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Revolução Industrial

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Ficha 9 
 
 
A Revolução Industrial e suas consequências 
Na Cidade Ocidental 
 
 
O final do século XVIII veio trazer ao Mundo Ocidental um conjunto de alterações na indústria, nos 
transportes e na distribuição territorial da população a que se convencionou denominar de 
“Revolução Industrial”. 
 
Tendo sem dúvida as raízes imersas no espirito científico e inquisitivo do ambiente “iluminado” 
desse século, uma série de inovações técnicas no manuseamento de matéria-prima e na produção 
de artefactos tem o seu cenário principal em Inglaterra, onde a Revolução Industrial principia. 
Gradualmente os restantes países europeus vão aderindo às inovações referidas, pelo que se 
pode dizer que os seus efeitos se vão fazendo sentir ao longo de um prazo de tempo largo, sendo 
que na Península Ibérica se dá de um modo bastante tardio. 
 
A expansão do sector secundário na Grã-Bretanha dá-se inicialmente na área têxtil, e por bons 
motivos: o final do século XVIII assinala a primazia do Império Britânico entre os poderes coloniais 
europeus; é o extensíssimo “Império onde o Sol não se põe”, que proporciona um imenso mercado 
de consumo do Canadá à Índia, essencial à de produção em massa própria da revolução 
industrial. Por outro lado, este período da história da humanidade é também marcado pela difusão 
dos produtos agrícolas do Novo Mundo, que portugueses e espanhóis fazem ingressar na lavoura 
europeia com consequências benéficas na quantidade de alimento produzido (o famoso 
excedente…), bem como na sua qualidade: o milho, o tomate e a batata, com tal sucesso que é 
hoje difícil imaginar a nação irlandesa sem este tubérculo, a italiana sem esse fruto ou o Leste 
europeu sem aquele cereal… 
 
Em consequência desta “Revolução Agrícola” (também marcada pelo novo sistema de “vedação” 
das terras comuns dos condados britânicos e sua entrega a agricultores individuais), tal como 
havia ocorrido na origem da cidade medieval, dá-se um aumento da população que, incapaz de 
retirar um rendimento capaz ao serviço dos proprietários rurais, se desloca para a cidade em 
busca de trabalho operário, proporcionando aos proprietários das fábricas as grandes massas 
laborais essenciais ao esquema de produção industrial. 
 
O crescimento das populações urbanas vai permitir que se dê a especialização da mão-de-obra e 
a divisão do trabalho, em que cada operário funciona como uma peça da complexa cadeia de 
montagem da fábrica, repetindo mecanicamente as mesmas tarefas que deverá completar antes 
de passar o produto ao operário seguinte (que o cineasta Charlot tão divertidamente caracteriza 
em “Tempos Modernos”). Este sistema é apenas possível no seio de um núcleo populacional de 
A.doc Ficha 2 
 
grande dimensão: num pequeno povoado, não é possível atingir este grau de especialização, dada 
a escassez de mão-de-obra e sobretudo a falta de consumidores. Em todo o caso, também nas 
cidades maiores se torna necessário alargar os mercados de consumo, pelo que rapidamente se 
revela essencial para o progresso da indústria e do comércio que se melhorem os circuitos de 
circulação dos produtos, pelo que se realizam melhoramentos nas estradas (com os novos 
processos de execução de Telford e Macadam) e nos canais, quase sempre em consequência da 
iniciativa privada. 
 
O recurso à força motriz dos cursos de água condiciona a localização das infraestruturas 
industriais, pelo que são as cidades nas margens dos rios que crescem mais rapidamente. No 
entanto, a invenção da máquina a vapor por James Watt em 1775 vai introduzir a peça 
fundamental para a difusão da revolução industrial. Já não se dá a implantação da indústria 
linearmente ao longo dos rios, passando a ser possível situar fábricas virtualmente em qualquer 
lugar – ainda que seja estrategicamente preferível situá-las, como de facto irá ocorrer, junto às 
minas de carvão e coque, que proporcionam o combustível. Naturalmente que a introdução dos 
caminhos-de-ferro, em consequência da locomotiva a vapor, tem também consequências decisivas 
na transformação da Grã-Bretanha (primeiro) e do Velho Continente (depois), e das respectivas 
modalidades de distribuição populacional e paisagem. A máquina a vapor aplicada à navegação 
vai permitir uma nova era de crescimento das frotas mercantes, e o aumento dos calados vai trazer 
uma prosperidade maior às grandes cidades portuárias (Liverpool, Londres, Hamburgo, Antuérpia, 
Nova Iorque, Baltimore) ao mesmo tempo que torna obsoletos os portos mais pequenos, que não 
reúnem as condições de serviço para estes grandes navios. 
 
Em consequência da alteração do quadro populacional das cidades, dá-se um crescimento das 
manchas urbanas sem precedentes na história da humanidade. O ritmo de transformação dos 
aglomerados provoca alterações tão aceleradas que em poucos anos a paisagem da cidade se 
torna irreconhecível. 
 
A necessidade imperativa de alojar as massas populacionais dá origem à ocupação inicial do 
centro histórico das cidades. As classes mais abastadas abandonam gradualmente esta parte do 
povoado, para se situarem nos arredores mais espaçosos, e o operariado vai ocupar os edifícios 
esvaziados, de modo aglomerado, em que famílias inteiras se alojam em um ou dois 
compartimentos. Os logradouros da cidade começam também a ser construídos, de forma que 
todos os espaços intersticiais da cidade vão sendo ocupados com construção, num processo que 
Leonardo Benevolo descreve em “As Origens da Urbanística Moderna”1: 
 
«A construção das novas casas ou a adaptação das existentes era obra de especuladores 
privados - os jerry builders - e, devido ao jogo da concorrência, a qualidade dos alojamentos, tal 
como o valor dos salários ou a extensão dos horários de trabalho na oficina, era quase em toda a 
parte a pior que as famílias operárias estavam dispostas a suportar. Os alugueres podiam variar 
apenas dentro de limites muito estreitos, nivelados pelo mínimo compatível com a sobrevivência 
dos vendedores de força de trabalho; os lucros sobre o capital investido só podiam portanto ser 
 
 
 
 
1 
BENEVOLO, Leonardo. “As Origens da Urbanística Moderna”. Editorial Presença - Colecção 
Dimensões, 2ª.Edição. Lisboa, 1987. 
A.doc Ficha 3 
 
aumentados reduzindo os custos e baixando o mais possível o nível das construções. Para além 
disso, a maioria das casas operárias de Manchester, de Leeds, de Birmingham e dos subúrbios de 
Londres fora construída durante as guerras napoleónicas, quando a madeira importada dos países 
bálticos começava a escassear, a mão-de-obra da construção civil se tornara mais dispendiosa e 
sobretudo as taxas de juro sobre o capital aplicado iam subindo, mantendo-se altas ainda durante 
muitos anos após o final do conflito. As condições do tempo de guerra contribuíram pois 
decisivamente para piorar a qualidade dos novos bairros. 
 
Com tudo isto, é provável que as casas ocupadas pelas famílias operárias nas cidades não fossem 
piores, consideradas uma a uma, do que as casas do campo de onde essas mesmas famílias 
provinham em grande parte. 
 
As paredes eram construídas em tijolo em vez de madeira, e os telhados em ardósia ou em pedra 
em vez de colmo; os quartos eram mais acanhados, mas sem o estorvo e a poeira das máquinas 
fiandeiras domésticas; os sanitários estavam ausentes ou eram igualmente primitivos em ambos 
os casos. 
 
A diferença é, em contrapartida, evidente, se considerarmos: 
 
- os problemas derivados das relações recíprocas entre as casas e os outros edifícios, no corpo 
compacto da cidade industrial; 
- a mudança de atitude dos habitantes relativamente aos incómodos que são constrangidos a 
suportar. 
 
As carências higiénicas relativamente suportáveis no campo tornam-se insuportáveis na cidade, 
pela contiguidade e o número enormíssimo das novas habitações. Enquanto cada casa tinha muito 
espaço à sua volta, os dejectos líquidos e sólidos podiam ser eliminados com facilidade, e as 
diversas actividades que se realizavam ao ar livre - criação dos animais, tráfegodos peões e dos 
carros, os jogos das crianças - podiam processar-se sem interferirem demasiado entre si. Mas 
agora, o adensamento e a extensão sem precedentes dos bairros operários tornam quase 
impossível o escoamento dos detritos; ao longo das ruas correm os regos dos esgotos a 
descoberto, e qualquer recanto afastado está cheio de amontoados de imundícies. Nos 
mesmíssimos espaços, promiscuamente, circulam os carros e os peões, vagueiam os animais, 
brincam as crianças. 
 
Os bairros de habitação são construídos preferencialmente próximo dos locais de trabalho, pelo 
que as casas e as oficinas ficam amiúde em contacto, alternando-se sem qualquer ordem e 
perturbando-se mutuamente. As oficinas impregnam as casas de fumo, inquinam os cursos de 
água com resíduos, enquanto o tráfego industrial é penosamente tolhido pelo tráfego residencial. 
 
Este quadro caótico vai sendo continuamente alterado pelo dinamismo dos seus próprios factores: 
as oficinas transformam-se e ampliam-se, as casas são demolidas e reconstruídas, as orlas da 
cidade avançam para o campo sem se ordenarem num equilíbrio definido. 
 
Eis a clássica descrição de Manchester feita por Engels em 1845, utilizando muitos dados dos 
inquéritos e dos estudos efectuados nos decénios precedentes: 
A.doc Ficha 4 
 
 
[Na cidade velha] as ruas, mesmo as melhores, são estreitas e tortuosas, as casas são imundas, velhas, a 
cair, e o aspecto das ruas laterais é absolutamente horrível. Chegando a Long Millgate pela Igreja Velha, 
tem-se logo à direita uma fila de casas antiquadas, nas quais nem urna só das paredes frontais se manteve 
de pé: são os restos da velha Manchester pré-industrial, cujos antigos habitantes se transferiram com os 
seus descendentes para bairros melhor construídos, abandonando as casas, que para eles se tinham 
tornado demasiado miseráveis, a uma casta de operários fortemente mesclada de sangue irlandês. Aqui 
encontramo-nos realmente num bairro quase manifestamente operário, visto que nem as lojas nem as 
tabernas se dão ao trabalho de mostrarem um pouco de asseio. Mas isto ainda não é nada comparado com 
as vielas e os pátios que se estendem por detrás, e aos quais apenas se chega por meio de estreitas 
passagens cobertas através das quais não passam nem duas pessoas ao lado urna da outra. 
 
É difícil imaginar a mistura desordenada das casas, escarnecendo de qualquer urbanística racional, o seu 
apinhamento, de tal ordem que se encontram literalmente em cima uma das outras. E a culpa não é 
somente imputável aos edifícios sobreviventes dos velhos tempos de Manchester: em tempos mais 
recentes a confusão foi levada ao máximo, pois onde quer que houvesse um bocadinho de espaço entre as 
construções da época precedente continuou-se a construir e a remendar, até arrebatar entre as casas a 
última unha de terreno livre ainda susceptível de ser utilizado.» 
 
No entanto, o centro da cidade é rapidamente preenchido, tornando-se necessário desenvolver na 
envolvente da cidade um conjunto de novos bairros operários, que num esforço especulativo 
procuram igualmente extorquir uma renda máxima para um mínimo de qualidade construtiva e 
ambiental. Leia-se a descrição de Engels para a cidade de Manchester: 
 
A cidade nova estende-se depois da cidade velha, sobre uma colina argilosa entre o Irk e St. George's 
Road. Aqui desaparece qualquer fisionomia de cidade; filas de isoladas casas ou grupos de ruas 
encontram-se dispersas aqui e acolá como pequenos aglomerados, sobre o desnudado terreno argiloso 
onde nem a erva cresce; as casas, ou antes, as cottages, encontram-se em estado degradado, sem nunca 
terem sido reparadas, sujas, com quartos em caves húmidas e insalubres; as ruas não são pavimentadas 
nem possuem canais de escoamento, mas albergam inúmeras colónias de porcos, fechados em pequenos 
pátios e chiqueiros ou percorrendo livremente a encosta. Estas ruas são tão lamacentas que somente 
quando o tempo está muito seco se tem alguma possibilidade de as atravessar sem afundar os pés até ao 
tornozelo a cada passo. Nas vizinhanças de St. George's Road, as ilhas de casas tornam-se mais densas, e 
deparamos com uma série interminável de caminho e becos, ruelas secundárias e pátios, cada vez mais 
numerosos e desordenados à medida que nos vamos aproximando do centro da cidade. Em compensação, 
tornam-se mais frequentes as ruas pavimentadas ou pelo menos com passeios calcetados e canais de 
escoamento; mas a porcaria e as carências das casas, particularmente as caves, mantêm-se exactamente 
as mesmas. 
 
É oportuno fazer aqui algumas observações de carácter geral sobre o tipo de construções próprias dos 
bairros operários de Manchester. Vimos corno na cidade velha foi na maior parte das vezes o acaso a 
presidir ao agrupamento das casas. Cada casa é construída sem qualquer preocupação com as restantes, 
e os recantos livres entre as casas recebem, à falta de outro, o nome de pátios (courts). Nas partes mais 
novas deste e doutros bairros operários, construídos nos primeiros tempos de florescimento da indústria, 
observa-se um maior esforço de sistematização. O espaço entre duas casas é dividido em pátios mais 
regulares, na maior parte de forma quadrada, aproximadamente do seguinte modo: 
A.doc Ficha 5 
 
 
… dispostos assim de enfiada e aos quais se tem acesso das ruas através de passagens cobertas. Mas se 
a disposição do todo, privada de um plano, era já nociva para a saúde dos habitantes porque impedia a 
ventilação, este modo de encerrar os operários em pátios cercados de construções por todos os lados é-o 
ainda muito mais. O ar não tem qualquer possibilidade de sair de lá; as próprias chaminés das casas 
constituem, até se acender o lume, a única via de escape para o ar viciado dos pátios. A isto vem juntar-se 
ainda o facto de as casas em volta destes pátios serem na sua maioria duplas, unidas duas a duas pela 
parede posterior, o que é já de si suficiente para impedir uma boa ventilação. E na medida em que a polícia 
não se ocupa das condições destes pátios, pelo que tudo aquilo que para lá é arremessado aí pode 
permanecer tranquilamente, não é caso para ficar admirado com a porcaria e os montões de cinzas e de 
imundícies que neles existem. Estive em pátios - nas proximidades de Millers Street - que se encontravam 
pelo menos a meio pé abaixo do nível da rua, e que não possuíam o mínimo canal de escoamento para as 
águas que aí se concentram durante as chuvas! Em tempos mais recentes passou-se a um outro modo de 
construção, que agora se tornou geral. As cottages operárias já não são construídas isoladamente, mas 
quase sempre às dúzias, ou verdadeiramente aos montões, construindo um só empreiteiro uma ou mais 
ruas à volta. A disposição é então a seguinte: um lado é constituído por cottages de primeira fila, muito 
afortunadas por possuírem uma porta traseira e um pequeno pátio, e pelas quais é pedido o aluguer mais 
elevado. Por trás do muro dos pátios destas cottages fica uma estreita ruela, a via secundária (back street), 
que é obstruída por construções nas duas extremidades e na qual desemboca uma estreita viela ou uma 
passagem coberta. As cottages que dão para esta ruela secundária pagam um aluguer menor do que as 
restantes, e em geral são as mais descuradas. As suas paredes posteriores são comuns com a terceira fila 
de cottages, que por sua vez dão para a rua do lado oposto e pagam um aluguer inferior ao da primeira fila, 
mas superior ao da segunda. Eis pois, aproximadamente, a disposição das ruas: 
Com este sistema de construção, a ventilação das cottages da primeira fila é bastante boa, e a das cottages 
da terceira fila não é pelo menos pior do que a das construções correspondentes do velho sistema; mas a 
fila central é mal ventilada, pelo menos tanto como as casas dos pátios, e a rua secundária é suja e sórdida, 
não menos do que os próprios pátios. 
 
Na realidade a Revolução Industrial havia irrompido de um modo tão súbito na cidade, e as 
mudanças que provocara fizeram-se sentirtão aceleradamente, que não houvera tempo para 
avaliar as suas consequências no tecido físico e sociológico das urbes. A riqueza gerada pela 
produção em massa aparentava justificar todas as mudanças, e o tom do poder político afinava por 
um liberalismo de intervenção quase nula, em que ao sector industrial e aos proprietários e 
promotores imobiliários se deixavam as mãos livres para fazer o que lhes parecesse mais oportuno 
com a cidade. Para as classes ricas, de qualquer forma, as consequências vivenciais eram quase 
nulas, porque se a cidade via o seu centro degradar-se, e a sua periferia povoar-se dos bairros 
operários descritos por Engels e das grandes superfícies industriais, a cidade vai mesmo assim 
conservar um “nicho” do seu território para o desenvolvimento da cidade burguesa, atravessada 
por amplos “boulevards” com frondosas árvores, parques e quarteirões com edifícios de espaçosos 
pisos de rendimento ou palacetes dos mais afortunados, em que as ruas são pavimentadas e as 
A.doc Ficha 6 
 
infraestruturas são as mais modernas. Dão-se iniciativas deste tipo na Paris de Haussman (1853- 
69, com demolição de 3/7 da cidade antiga), no “Ring” de Viena (1857), no “Ensanche” de Cerdá, 
em Barcelona (1859), ou entre nós com o Plano da Avenidas de Ressano Garcia (1879 em diante). 
A arquitectura desta cidade burguesa caracteriza-se por um forte ecletismo, em que pululam 
“neos” que pretendem transferir o prestígio do passado para o cidadão burguês – prova edificada 
da nobreza do sangue. Chueca Goitia chega mesmo a assinalar um pouco comicamente, que “ [é] 
possível que em nenhuma outra época da história se tenham construído mais igrejas góticas que 
no séc. XIX.2” 
 
Nas cidades de Portugal com maior índice de industrialização (que se dá com atraso, e num menor 
grau de grandeza que na Grã-Bretanha), Lisboa e Porto, dão-se desenvolvimentos dentro do 
tecido da cidade nos moldes descritos por Engels para o centro de Manchester. São os conhecidos 
“Pátios” e “Vilas” da capital, e as “Ilhas” da cidade nortenha, conjuntos de promoção privada para 
alojamento das classes mais baixas de características interiorizadas: são desenvolvimentos na 
perpendicular ao eixo da rua que lhes dá acesso através de um arco, em que as casas se voltam 
para um espaço aberto oblongo. As instalações sanitárias e por vezes os tanques para lavagem de 
roupa são colectivos, fazendo lembrar um pouco as "Railroad Houses" e as "Dumbell Houses" 
nova-iorquinas da segunda metade do Século XIX. 
 
“Na segunda metade do séc. XIX, com o desenvolvimento industrial, acentuou-se a corrente 
migratória para a capital, à procura de trabalho nas novas fábricas, nos serviços e nos transportes. 
Mas este surto demográfico não encontrou resposta na oferta de habitação. Para além da 
sobreocupação dos bairros populares e das construções abarracadas que alastravam na periferia, 
as populações operárias e dos serviços só puderam encontrar alojamento nos chamados “pátios”. 
Constituindo a versão lisboeta das famosas “ilhas” do Porto, a sua ocorrência não apresenta o 
carácter sistemático destas últimas. Tratam-se antes de situações pontuais e variadas, ao sabor 
dos diferentes espaços residuais onde se iam instalando, geralmente em logradouros de prédios e 
por vezes em palácios arruinados ou conventos desafectados. Presentes nos bairros mais pobres 
de Lisboa, desde o Castelo e a Graça até à Lapa e Alcântara, a sua maior concentração verifica-se 
ao longo do vale de S. Bento, prolongando-se para Norte – Santa Isabel, Amoreiras, Campolide.”3 
 
Assinalam-se, entre outros, a Vila do Jardim Botânico, o Pátio do Picadeiro, a Vila Martel, o Pátio 
do Tijolo, o Alto do Longo, o Pátio do Batalha, o Pátio do Lencastre, o Pátio dos Tanoeiros, o Pátio 
da Encarnação e o Pátio do Pimenta, em volta da colina do Bairro Alto; o bairro da Companhia de 
Fiação e Tecidos Lisbonenses, à Rua 1º. de Maio, a Vila Cabrinha, junto à Avenida de Ceuta, a 
Vila Flamiano, em Xabregas, o Pátio Bagatela, a Vila Cândida e o Bairro Estrela de Ouro, o Bairro 
Grandella em Benfica, e tantos outros. 
 
 
 
 
 
 
 
2 
CHUECA GOITIA, Fernando. “Breve História do Urbanismo”. Editorial Presença. 2ª.Edição, 
Lisboa, 1989. 
3 
“Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa”. Associação dos Arquitectos Portugueses. 
Lisboa, 1987.

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