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O Urbanismo Formal dos séculos XIX-XX

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c 1 
 
Planejamento 
Urbano I 
Ficha C 
 
O Urbanismo Formal dos Secs. XIX – XX 
 
A cidade burguesa das cidades europeias estrutura-se sob padrões 
geométricos formados por longas avenidas, praças, parques ajardinados e 
quarteirões fechados com logradouros interiores, ocupando áreas 
remodeladas de cidade (Paris), espaços residuais (Viena) ou zonas de 
expansão (Barcelona ou Lisboa). Contudo, nesta cidade não existe lugar 
para o operário, que há anos vem afluindo à metrópole para fazer funcionar 
a pesada máquina industrial da sociedade liberal. 
Ocupando território residuais da cidade, ou partilhando imóveis em 
estado de semi-ruína sub- divididos em incontáveis “alvéolos” familiares, os 
trabalhadores industriais e suas famílias vão-se arrumando como podem nas 
Ilhas, Pátios e Vilas mais próximas do seu local de trabalho. 
As revoluções que percorreram as principais nações centro-européias 
durante 1848, e alguns surtos de cólera durante meados daquele século, 
colocam em evidência aos olhos das classes dominates no Mundo Ocidental 
um estado de sítio socio-económico entre os estratos mais baixos da 
população. Os baixos salários, as carências alimentares, educativas, 
higiénicas e sanitárias sentidas entre as classes trabalhadores, de que 
participavam também as condições espacio- funcionais das suas habitações, 
forçam a introdução de correcções ao status-quo da sociedade, e por 
inerência da qualidade das suas residências. Os governantes apercebem-se 
finalmente do perigo que poderá advir para a sociedade burguesa dessa 
nova classe do proletariado, filha da revolução industrial, que em números 
de dezenas de milhares reclama, e irá conseguir, melhorias de vida. 
Em termos sócio-políticos e económicos, a Europa transitará para um 
período de Pós-Liberalismo, em que a intervenção do Estado passará a 
sentir-se de forma mais activa na sociedade, no trabalho e, naturalmente, na 
política habitacional. 
A necessidade de acomodar com dignidade um número “instantâneo” 
de novos habitantes da cidade – facto sem precedentes na história do 
mundo ocidental – irá desencadear utopias na linha do que apresentámos 
Luisa
Realce
Luisa
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nas sessões anteriores. Contudo, reconhecendo-se a importância histórica 
de alguns desses esforços filantrópicos para a cidade, tal como a cidade 
jardim, cedo se reconheceu contudo que havia que realizar iniciativas mais 
abrangentes e noutra escala, para solver a carência habitacional nas urbes 
deste período. 
Já focámos em sessões anteriores o modo como os meados do 
século XIX assistem à emissão de legislação de tipo urbanístico, com um 
ênfase especial na problemática sanitária. Em 1864 a primeira legislação 
urbanística entra em vigor em Portugal, relativa às condições higiénicas e 
sanitárias das edificações urbanas (com ênfase na habitação e condições 
das casas dos trabalhadores). Em 1930 é proibida em regulamento 
camarário a realização de vilas e pátios operários. 
No entanto, numa primeira fase, os agentes económicos irão ensaiar 
modelos urbanísticos que, cumprindo no limite a legislação em vigor, não 
deixem de procurar maximizar os lucros das operações imobiliárias. Os 
resultados são visíveis em vastas áreas de arquitecturas repetidas até ao 
infinito, em que a mesma tipologia habitacional se repete centenas de vezes, 
enquadrada em quarteirões com uma forma que se repete dezenas de 
vezes, num encadeamento de uma entediante monotonia. 
No estrangeiro, cedo se torna evidente contudo que a introdução de 
legislação urbanística no domínio da habitação não basta, e que as 
modernas cidades deverão ter uma estratégia para a gestão e expansão dos 
seus espaços, públicos e privados. Assim, nasce uma nova expressão no 
âmbito da arquitectura: o Urbanismo, palavra que possui o duplo sentido de 
análise e antecipação no contexto da morfologia urbana. Socorrendo-se de 
disciplinas acessórias (a Psicologia, a Sociologia, a Economia, a 
Engenharia…) do conhecimento humano para lidar com a enorme escala 
dos problemas com que se confronta, esta “ciência” dos factos urbanos irá 
provocar que, por exemplo em França, se torne por lei obrigatória, nas 
primeiras décadas do século XX, a execução de Planos de Ordenamento de 
qualquer cidade com mais de 10.000 habitantes. Ficarão no passado as 
cidades em que as faixas rurais envolventes dos centros históricos se vêem 
ocupadas por padrões urbanísticos relativamente anárquicos, que não 
fazem mais do que espelhar a estrutura fundiária pré-existente, 
Luisa
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materializando extensas áreas urbanizadas sem qualquer coerência 
intrínseca. 
Dá-se assim origem a uma forma de planear e desenhar cidade a que 
certos autores dão o nome de Urbanismo Formal. Este consiste num modo 
de projectar a cidade fazendo apelo a elementos urbanísticos clássicos – a 
praça, a rectícula, o quarteirão, o “boulevard” – mas sofrendo influências 
igualmente de certas inovações recentes na história da cidade, como a 
cidade-jardim, promovendo o desenho de faixas (habitualmente 
vocacionadas para a moradia individual ou geminada) de lotes ondulando 
paralelamente ao eixo de ruas curvilíneas, de gosto inglês. A prática prova 
que normalmente a rede viária principal, com traçado mais largo e trânsito 
mais veloz, ocorria em eixos rectilíneos, enquanto a rede secundária recorria 
à curva. 
 
A cidade burguesa resultante, universal, é-nos descrita por Sartre, em «A 
Náusea»: 
Eles saem dos seus escritórios depois do dia de trabalho, olham as 
casas e praças com satisfação, pensam que é a sua cidade, uma 
boa, sólida cidade burguesa. Eles não têm medo, sentem-se em 
casa. Tudo aquilo que alguma vez viram é água treinada saindo de 
torneira, luz que enche lâmpadas quando ligamos o interruptor, 
árvores híbridas e bastardas apoiadas em muletas. Eles têm a 
prova, cem vezes por dia, que tudo acontece mecânicamente, que 
o mundo obedece leis fixas, imutávies. Num vácuo todos os corpos 
caem à mesma velocidade, o parque público fecha às 4 da tarde no 
Inverno, às 6 no Verão, o chumbo funde a 335 gráus centígrados, o 
último eléctrico deixa a Câmara Municipal às 11.05 da noite. Eles 
são pacíficos, um tanto tristonhos, eles pensam sobre o Amanhã, 
quer dizer, simplesmente, um novo hoje; as cidades têm só um dia 
à sua disposição e todas as manhãs ele volta exactamente igual. 
 
 
Planejamento e Morfologia Urbana na Holanda da primeira metade do 
século XX 
 
Durante as primeiras décadas do século XX, os arquitectos 
holandeses vão promover um conjunto de variações em torno do Urbanismo 
Formal, que se irão repercutir em todo o mundo. O planeamento possuía já 
nesse período uma importância particularmente vital nesse país, dado que 
historicamente ocorreu um combate dos seus habitantes com os elementos 
da natureza pela conservação do território. 
Os “Países Baixos”, ou Nederlanden na própria língua, caracteriza à-
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medida um país totalmente plano, em que muitas áreas se acham abaixo da 
cota do mar. Em circunstâncias climatéricas adversas, grandes partes do 
país eram ciclicamente inundadas, com perda de solos agrícolas, redução 
da frente marítima do país, perda de colheitas e casas, mortes animais e 
humanas e evacuações de emergência de comunidades humanas junto à 
costa. Em consequência, os holandeses viram-se forçados ao longo dos 
anos a proteger os seus solos férteis, especializando- se na realização de 
obras de engenharia hidráulica (canais, comportas, diques e barragens) 
numa luta pela sobrevivência da própria nação. 
Se aos aspectos focados adicionarmos a reduzida área da Holanda, 
com uma superfície inferior a metade da nação portuguesa, e uma 
população de aproximadamente 15 milhões de habitantes – resultante 
porventura de uma privilegiada situação central do país no Velho Continente, 
e de uma posição estratégica do ponto de vista náutico – materializando-se 
numa densidadepopulacional três vezes superior à do nosso país, 
compreenderemos porque motivo o planeamento teve nos Países Baixos um 
protagonista pioneiro. 
A tradição urbanística, no âmbito da política territorial do país, tem 
portanto raízes no início do século XX, prolongando-se até aos nossos dias, 
em que o planeamento continua a desempenhar um papel de destaque, 
sendo transparentes as vocações, índices e tipologias possíveis em 
qualquer ponto do território. Arquitectos-Urbanistas holandeses vão então 
desenvolver uma actividade planeadora na regulação e planeamento do 
tecido urbano existente, e espaços de expansão, sobretudo em torno das 
duas cidades mais populosas: Amesterdão e Roterdão – o maior porto 
industrial da Europa. 
A reflexão em torno da problemática das expansões urbanas a 
realizar, leva projectistas como Oud, Van Eesteren e Berlage a propor 
morfologias mais elásticas e diversificadas. 
Continuando a recorrer a um vocabulário formal tomando por base o 
repertório clássico da cidade, existe contudo uma procura da variedade, 
contrariando a monotonia dos novos bairros urbanos da viragem do século 
XIX para o XX. Gradualmente a figura clássica do quarteirão é 
reinterpretada, quebrando-se a dualidade dentro/fora, privado/público, e 
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trocando-se uma hierarquia de fachada exterior, mais académica, e fachada 
de logradouro, mais livre, por uma arquitectura “global”, em que as fachadas 
sobre a via pública e aquelas orientadas para o interior do quarteirão se irão 
pautar por uma maior uniformidade. 
O aspecto da “surpresa” não é subestimado pelos projectistas 
holandeses. Certos pontos do quarteirão poderão assumir uma expressão 
estética mais evidente, e o interior do quarteirão é gradualmente 
desprivatizado: o clássico sistema do vazio interior do quarteirão, 
apertadamente sudividido em pequenos logradouros, vê-se substituido por 
um esquema em que todo o miolo vai constituir um espaço semi-privado, 
partilhado pelos moradores do quarteirão. 
Numa primeira fase, um dos topos do quarteirão é suprimido, 
restando uma forma em “U”. Este é o ponto de partida para toda uma 
fragmentação da unidade-quarteirão, em que finalmente se dá lugar a um 
esquema de bandas que se dispoem em ângulo recto, apresentado um 
espaço medianeiro (o que resta do logradouro) que pertence ao domínio 
público, podendo ser atravessado e fruido pela cidade. O sistema das super-
quadras da Brasília de Lúcio Costa pode em última análise filiar-se nesta 
experimentação. 
Este período da história da cidade na Europa apresenta ainda 
algumas inovações, como por exemplo a figura da “unidade de vizinhança”: 
vindo este continente de uma experiência traumática de mais de cem anos, 
na adaptação das velhas urbes ao novo cenário da industrialização, 
evidenciam-se aos olhos dos urbanistas os riscos de deshumanização e 
descaracterização do ambiente urbano nas novas expansões urbanas. 
Propõe-se consequentemente a recriação artificiosa de ambientes humanos 
que procuram recuperar o espírito do bairro histórico da cidade pré-
industrial, promovendo o convívio dos habitantes dos novos “bairros”: as 
unidades de vizinhança. Associando-se ao recente conceito, que logo irá ser 
aproveitado pelo Movimento Moderno, de “zonamento”, isto irá produzir a 
ocorrência em lugares centralizados na “unidade de vizinhança” de pontos 
comerciais, culturais, educativos, religiosos e administrativos. Uma “unidade 
de vizinhança” (também conhecida, numa expressão mais “laboratorial”, 
como célula) é servida por um ou mais centros deste tipo. 
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O Caso do Bairro de Alvalade 
 
O Urbanismo, tanto enquanto ciência como enquanto actividade 
projectual, desperta pouco interesse em Portugal até meados do século XX. 
O arquitecto nacional continua a exercer a sua actividade associada à peça 
arquitectónica individual num regime de prática exclusividade, e a cidade 
deve a sua concretização a engenheiros de “Ponts et Chaussées” como 
Ressana Garcia. Assim, não espanta que Faria da Costa, primeiro urbanista 
português, diplomado em Paris, no seu regresso ao seu país, assuma um 
protagonismo que lhe proporciona trabalho quase ilimitado. 
Sendo a França na época o centro cultural do continente, tão-pouco 
surpreende que o fosse também desde há muitas décadas no campo da 
arquitectura, da engenharia e do urbanismo. Na Escola de Urbanismo que 
Faria da Costa frequenta, pratica-se naturalmente o “Urbanismo Formal”, 
num contexto universitário eminentemente académico, e o jovem estudante 
receberá ensinamentos de figuras como Ettienne de Groer. Este mestre virá 
por sua vez a Portugal, país que dada a carência assinalada na área da 
urbanística, se vê forçado a recorrer a especialistas estrangeiros para solver 
os problemas de planeamento com que se vê a braços. 
O celebrado urbanista Alfred Agache, com quem Le Corbusier e os 
jovens modernistas brasileiros se enfrentarão na reformulação do centro do 
Rio de Janeiro (L. C. fala de “lixo agáchico”…), havia vindo para Portugal, 
com a encomenda de alguns trabalhos de planeamento. No entanto, a 
chamada de projectos melhores no país sul-americano fá-lo partir, deixando 
o colaborador De Groer ocupado do famoso Plano Director para a região 
metropolitana de Lisboa, concluído em 1948, além do plano do Estoril, para 
a Sociedade Estoril, de Fausto Figueiredo, e alguns outros.

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