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AN02FREV001/REV 4.0 24 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE PERÍCIA JUDICIAL Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 25 CURSO DE PERÍCIA JUDICIAL MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 26 MÓDULO II 7 PROVA PERICIAL 7.1 CONCEITOS Prova significa formar a convicção do juiz sobre a existência ou não de fatos relevantes no processo, isto é, o conjunto de motivos produtores da certeza, é a demonstração legal da verdade de um fato. Prova vem do latim proba, de probare (demonstração, reconhecer, formar juízo de). Segundo De Plácido e Silva (1995), “a prova consiste na demonstração de existência ou de veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que se defende ou se contesta”. Prova é o convencimento de fatos e a convicção de alguém, são os fatos da causa, ou seja, os fatos deduzidos pelas partes como fundamentos da ação ou execução (prova judiciária). Dessa forma, é todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de se comprovar a veracidade de uma alegação. Isto é, um instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz (finalidade) a respeito da ocorrência de fatos controvertidos (objeto) no processo. No sentido processual, designa os meios, indicados em lei, para a realização dessa demonstração, isto é, a soma de meios para a constituição da própria prova, ou seja, para conclusão ou produção da certeza. Provar é demonstrar a verdade de uma proposição. Podemos dizer que a prova judicial é a confrontação da versão de cada parte, com os meios produzidos para aboná-la. O juiz procura reconstituir os fatos valendo-se dos dados que lhe são oferecidos e dos que pode procurar por si mesmo nos casos em que está autorizado a proceder de ofício. AN02FREV001/REV 4.0 27 7.2 FINALIDADE A prova tem a finalidade de transportar, para o processo judicial, a realidade externa dos fatos que geraram a demanda, traduzindo-os, para que possam ser conhecidos pelo juiz e para que sirvam de base para os debates entre as partes. Como meio destinado a levar para o processo a reconstituição dos fatos, poderá ter falhas e não cumprir com exatidão esse fim, situação na qual haverá a verdade real (concreta), diferente da realidade formal (imaginária), e esta prevalecerá. De nada adianta ter ocorrido ou não um fato se não pode ser provado. Assim, finalidade da prova judiciária é a formação da convicção quanto à existência dos fatos da causa. Em primeiro lugar, verifica-se a correção dos fatos afirmados, ou seja, cria-se a natureza quanto à sua existência. O destinatário da prova é o juiz. Para esse fim é que se produz a prova, pela qual o juiz virá a formar sua convicção. Na convicção que formar o juiz, assentará a sentença. Desse modo, a importância da prova e da sua análise pelas partes e pelo juiz é fundamental para que o processo possa cumprir os seus fins. 7.3 PRINCÍPIOS DA PROVA No processo penal, os princípios gerais da prova, segundo Paulo Lúcio Nogueira (2000), são: Princípio da autorresponsabilidade das partes está relacionado com o ônus da prova, cabendo a cada uma apresentar as provas que lhe pareçam necessárias. Princípio da comunhão da prova, pelo qual toda prova produzida na esfera penal teria interesse comum, portanto, mesmo que fosse a AN02FREV001/REV 4.0 28 testemunha arrolada pela acusação, não poderia ser dispensada sem concordância da defesa, ou vice-versa. Mas tal princípio não pode ser levado a extremo, pois permitiria um aumento do número máximo de testemunhas de cada parte. Princípio da oralidade implica a realização de todas as provas em uma só audiência de instrução e julgamento, exceto nas perícias. Princípio da concentração consiste na realização da instrução e do julgamento em uma só audiência. Tal princípio já está implícito na oralidade. Princípio do livre convencimento motivado exige decisão fundamentada do julgador, em face da relatividade das provas e do princípio da verdade real. Já a prova, em processo trabalhista, submete-se aos seguintes princípios: Princípio da necessidade da prova, em que os fatos de interesse das partes devem ser demonstrados em juízo. A prova deve ser a base e a fonte da sentença. O juiz deve julgar de acordo com o alegado e provado. Princípio da unidade da prova, que, embora constituída de diversas modalidades, forma uma só unidade a ser apreciada em conjunto, globalmente. Princípio da contradição, porque a parte contra a qual é apresentada uma prova deve gozar da oportunidade processual de conhecê-la e discuti-la, inclusive impugná-la, pelos meios processuais adequados. AN02FREV001/REV 4.0 29 Princípio da igualdade de oportunidade de prova, garantindo-se às partes idêntica oportunidade para pedir a realização de uma prova ou de exercitá-la. Princípio da legalidade, em decorrência do qual, se a lei prevê uma forma específica para a produção da prova, ela não pode ser produzida de outra maneira. Princípio da imediação, significando não só a direção da prova pelo juiz, mas a sua intervenção direta na instrução probatória, mais facilitada quando o processo é fundado na oralidade, como no caso trabalhista. Princípio da obrigatoriedade de prova, segundo o qual, sendo a prova de interesse não só das partes, mas também do Estado, que quer o esclarecimento da verdade, as partes podem ser compelidas pelo juiz a apresentar no processo determinada prova, sofrendo sanções no caso de omissão, especialmente as presunções que passam a militar contra aquele que se omitiu e a favor de quem solicitou. 7.4 ÔNUS DA PROVA A palavra ônus vem do latim “onus, oneris”, que significa carga, peso fardo, encargo, aquilo que sobrepesa. Existe ônus da prova quando um determinado comportamento é exigido da parte para alcançar um fim jurídico desejado. O ônus é aquilo que implica uma sobrecarga, que se tornou uma incumbência ou compromisso de alguém, um dever. Daí pode-se concluir que o ônus da prova é a incumbência que a parte possui de demonstrar a verdade de um fato ou de uma alegação feita no processo penal, por exemplo. A regra do CPP é a de que o ônus da prova incumbe a quem o alega: AN02FREV001/REV 4.0 30 Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Desse modo, as provas possuem a finalidade de convencer o julgador a respeito de determinado fato que se apura no processo, podendo ser produzida de forma ampla e irrestrita, observado o disposto no art. 155, parágrafo único do CPP. Assim, no processo penal, toda vez que o fato a ser demonstrado estiver vinculado ao estado das pessoas, o código impõe a produção da prova de acordo com a prescrição da lei civil, por exemplo: se determinado indivíduo alega ser casado, a prova contundente será a certidão de casamento. Ônus da prova é a responsabilidade atribuídaà parte para produzir uma prova e que, uma vez não desempenhada satisfatoriamente, traz, como consequência, o não reconhecimento, pelo órgão jurisdicional da existência do fato que a prova se destina a demonstrar. Segundo o art. 818 da CLT: “o ônus da prova é atribuído a quem alega a existência de um fato: a prova das alegações incumbe à parte que as faz”. Desta forma, compete ao empregador que despede por justa causa a prova desta. Os pagamentos efetuados ao empregado têm de ser provados pelo empregador, o que abrange salários, remuneração das férias, do repouso semanal, verbas rescisórias, etc. Nem sempre a igual distribuição do ônus da prova atende às necessidades do processo trabalhista, porque sobrecarrega o empregado, que não tem as mesmas condições e facilidades do empregador. Outras vezes, acarreta cômoda posição para o empregador. Basta negar todos os fatos e o empregado tem de prová-los, o que não é fácil. AN02FREV001/REV 4.0 31 8 PRINCIPAIS MEIOS DE PROVA Meio de prova é expressão de duplo significado. Tanto pode designar a atividade do juiz ou das partes para a produção das provas, como também os instrumentos ministrados ao juiz no processo para formar o seu convencimento. De acordo com o art. 332 do CPC, “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa. (verdade formal)”. Dessa forma, o compromisso do juiz é com a verdade formal, revelada pela prova. O CPC admite todos os meios legais, entretanto, especifica em seu art. 342 a 443 diversos tipos de provas, assim como o Código de Processo Penal, nos artigos 158 a 250. De acordo com o art. 332 do CPC, existem provas consideradas moralmente legítimas, que embora não previstas em lei, não ferem os princípios éticos de captação, tais como: escuta telefônica, gravação em meio magnético, filmagens, dentre outras. 8.1 PROVA DOCUMENTAL Documento é todo objeto, produto de um ato humano, que representa outro fato ou um objeto, uma pessoa ou uma cena natural ou humana. O documento pode conter uma simples declaração de ciência ou um ato de vontade, como também uma confissão extrajudicial, uma declaração de terceiros e, quando a lei o exige, deve ter forma especial. Prova documental abrange os instrumentos e documentos, públicos e privados. Os instrumentos são documentos confeccionados com o objetivo de servir de prova e documentos são gêneros a que pertencem todos os registros materiais de fatos jurídicos. AN02FREV001/REV 4.0 32 De acordo com o art. 365 do CPC, na prova documental fazem os originais a mesma prova que: I - as certidões textuais de qualquer peça dos autos, do protocolo das audiências, ou de outro livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por ele ou sob sua vigilância e por ele subscritas; II - os traslados e as certidões extraídas por oficial público, de instrumentos ou documentos lançados em suas notas; III - as reproduções dos documentos públicos, desde que autenticadas por oficial público ou conferidas em cartório, com os respectivos originais; IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judicial declaradas autênticas pelo próprio advogado sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade; (Acrescentado pela L-011.382-2006). V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as informações conferem com o que consta na origem; (Acrescentado pela L-011.419-2006). VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, público ou particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados públicos ou privados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização. (Acrescentado pela L-011.419-2006). Vimos acima que a Lei 11.419/2006 incluiu ao art. 365 novos incisos e dois parágrafos. Prova documental não se trata apenas de documento escrito, mas são coisas que transmitem diretamente um registro físico a respeito de um fato, como por exemplo: tela, pedra, fotos, contratos, desenhos, fita de vídeo, etc. Os documentos podem ser apresentados como originais e cópias, salvo em casos específicos. Algumas legislações só admitem como prova os instrumentos, outras, os documentos em geral, como discos, radiografias, plantas, quadros, etc. como no processo trabalhista. A prova documental apresenta vantagens e defeitos. Do mesmo modo que pode trazer maior segurança quanto à existência do fato que produz, pode, de outro lado, ser uma falsa atestação de ato a que não corresponde. Nessas condições, o documento, em especial no processo trabalhista, deve ser recebido com reservas e o seu valor apreciado em conjunto com as demais provas. AN02FREV001/REV 4.0 33 8.2 PROVA TESTEMUNHAL Testemunho é um meio de prova que consiste na declaração representativa que uma pessoa, que não é a parte no processo, faz ao juiz, com fins processuais, sobre o que sabe a respeito de um fato de qualquer natureza. E testemunha é a pessoa capaz, estranha ao processo, que é chamada a declarar sobre os fatos que caíram sob o domínio dos seus sentidos. A prova testemunhal é tão velha quanto à humanidade e a mais antiga de todas. É a que se obtém por meio do relato prestado em juízo, por pessoas que conhecem o fato litigioso. A condição de testemunha impõe deveres como os de comparecimento, depoimento e veracidade, podendo inclusive incorrer em tipo penal se faltar intencionalmente com a verdade. A testemunha deve comparecer quando intimada ou pode comparecer quando a parte que a arrolou se comprometer a levar independentemente de intimação. Essa testemunha não pode ter interesse na causa. Ela não é obrigada a depor sobre fatos que acarretem grave dano para si, seu cônjuge, parentes consanguíneos ou afins, em linha reta ou colaterais até o 2° grau, conforme dispõe o art. 406 do CPC. Com relação a esta prova, não podem depor os incapazes, os impedidos e os suspeitos. Se for necessário, o juiz ouvirá testemunhas impedidas ou suspeitas, mas os seus depoimentos serão prestados independentemente de compromisso, conforme o art. 415 do CPC. Prova testemunhal seria a prova mais frágil, mais sujeita às fraquezas humanas. Há inclusive o crime de falso testemunho. No processo trabalhista, o testemunho é de largo uso à prova principal. A prova testemunhal continua sendo básica no processo trabalhista, mesmo porque o documento também apresenta riscos. São inúmeros os processos nos quais se discute a autenticidade ideológica de documentos e não são raras as questões nas quais fica evidenciado o preenchimento de documentos pelo AN02FREV001/REV 4.0 34 empregador, assinados em branco pelo empregado por ocasião da sua admissão. 8.3 DEPOIMENTO PESSOAL Um dos meios de prova é o depoimento pessoal das partes do processo, que é uma declaração, prestada pelo autor ou pelo réu, sobre os fatos objetos do litígio, perante o juiz. Equipara-se ao interrogatório do processo penal, de modo que é possível falar em interrogatório recíproco das partes. O depoimento pessoal é ato personalíssimo, isto é, o meio de prova destinado a realizar o interrogatório das partes no curso do processo. Aplica-se tanto ao autor como ao réu, pois ambos se submetem ao ônus de comparecer em juízo e responder ao que lhe for interrogado pelo juiz (art. 340, I do CPC). As diferenças entre interrogatório judicial e depoimento pessoal são as seguintes: o depoimento pessoal é requerido pela parte, é meio de prova, há pena de confesso, é realizado apenas uma vez e emaudiência de instrução. Já o interrogatório é determinado de ofício, é meio de convencimento, não há pena de confesso, pode ser realizado a qualquer tempo e no curso do processo. Isto é, consiste em um meio de defesa e de prova. O silêncio do acusado não importará confissão e não poderá ser interpretado em juízo da defesa. 8.4 CONFISSÃO A confissão é quando a parte admite a verdade do fato, pode ser simples, complexa, qualificada, judicial ou extrajudicial. É um meio de prova judicial que consiste em uma declaração de ciência ou conhecimento, AN02FREV001/REV 4.0 35 expressa, terminante e séria, feita conscientemente, sem coações que destruam a voluntariedade do ato por quem é parte no processo em que ocorre ou é aduzida, sobre fatos pessoais ou sobre o conhecimento de outros fatos prejudiciais a quem a faz ou ao seu representante, conforme o caso, ou simplesmente favoráveis à sua contraparte no processo. Ocorre a confissão quando a parte admite a verdade de um fato contrário ao seu interesse e favorável ao adversário (art. 348 do CPC). É uma declaração judicial ou extrajudicial, que pode ser provocada ou espontânea, em que os litigantes, capazes e com ânimo de se obrigar, fazem da verdade (integral ou parcial) dos fatos alegados pela parte contrária, como fundamentais na ação. Confissão é uma prova que pesa sobre quem a faz e em favor da parte contrária, mera confirmação das alegações do adversário. Observa-se, em consequência, que o depoimento pessoal e a confissão não são a mesma coisa. Pode haver depoimento sem confissão. Como também pode haver confissão extrajudicial, esta admitida com muita reserva no processo trabalhista. Mas pode haver confissão, no processo trabalhista, fora do depoimento pessoal na contestação, desde que haja o reconhecimento parcial ou total de fatos alegados pelo autor. Da mesma forma, também por petição nada impede que o autor admita fatos alegados na contestação. Confissão é, portanto, a aceitação dos fatos apontados pela parte como verdadeiros, produzida quer no depoimento pessoal, como é mais comum, quer em outros atos processuais e mesmo extrajudicialmente. A confissão, de acordo com o art. 352 do CPC, será revogável quando: “emanar de erro, dolo ou coação”. O meio é a ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita, ou a ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença. AN02FREV001/REV 4.0 36 8.5 INSPEÇÃO JUDICIAL É o meio de prova em que o próprio juiz comparece no local para verificar coisas ou pessoas relacionadas ao litígio, consiste na percepção sensorial e direta do juiz. Seu objeto pode ser pessoas, coisas ou lugares. A inspeção judicial ocorrerá quando o juiz entender necessário. Durante essa inspeção o magistrado pode ser assistido de um ou mais peritos; às partes também é assegurado o direito de assistir a inspeção. Assim, podem ser objeto da inspeção judicial: Pessoas vivas - inspeção judicial de pessoas (ad personam) ou subtipo inspectio corporis (no corpo da pessoa) ou mortas – os cadáveres. Coisas - inspeção judicial real (ad rem). Por fim, a inspeção judicial é simplesmente um reconhecimento ou uma diligência processual com a função de obter provas, mediante uma verificação direta. Tem por finalidade permitir ao juiz esclarecimento sobre fatos de interesse da causa, de acordo com o art. 440 do CPC. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato que interesse à decisão da causa. 8.6 PROVA PERICIAL Por meio da prova pericial colhem-se percepções e fazem-se apreciações, não só para a direta demonstração ou constatação dos fatos que interessam a lide, das causas ou consequências desses fatos, como também para o esclarecimento dos mesmos. AN02FREV001/REV 4.0 37 Prova pericial é aquela que surge para apurar fatos que envolvem matéria técnica e científica. Vimos que a prova pericial não é a única prova válida admitida, existem outras, como as testemunhais e as documentais, que também devem ser levadas em consideração. Segundo Humberto Theodoro Junior (2002), a prova pericial “é o meio de suprir a carência de conhecimentos técnicos de que se ressente o juiz para apuração dos fatos litigiosos”. De acordo com o art. 420 do CPC, a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação: § único. O juiz indeferirá a perícia quando: I - a prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico; II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas; III - a verificação for impraticável. Assim, o exame é relativo à pessoa, às coisas móveis e semoventes (animais). A vistoria é a mesma inspeção só que aplicada a imóveis. Quando o assunto é valor ou obrigações, chama-se arbitramento. E a avaliação é estimar valores para coisas, direitos e obrigações. A função da prova pericial é subministrar a experiência técnica ao processo, para que seja empregada na dedução judicial. 9 PROVA EMPRESTADA E PROVAS INADMISSÍVEIS A prova de um fato, produzida em um processo, seja por documentos, testemunhas, confissão, depoimento pessoal ou exame policial, pode ser transladada para outro, por meio de certidão extraída daquele. A essa prova, assim transferida de um processo para outro, a doutrina e a jurisprudência dão o nome de prova emprestada. Segundo a doutrina, são também inadmissíveis as provas que sejam incompatíveis com os princípios do respeito ao direito de defesa e à dignidade humana, os meios cuja utilização se opõe às normas reguladoras do direito que, em caráter geral, regem a vida social de um povo. AN02FREV001/REV 4.0 38 Nesse caso, estaremos diante de provas inadmissíveis, ou seja, provas ilegais, quando ocorrer violação do ordenamento jurídico, quer seja material (prova ilícita) ou processual (prova ilegítima). 10 PROVAS ILÍCITAS E PROVAS ILEGÍTIMAS As provas ilícitas são aquelas obtidas com violação às normas de direito material. Na área do Processo Penal temos os exemplos da confissão obtida mediante a tortura, provas adquiridas com violação de correspondências, etc. Tais provas são ilícitas por ferirem o direito material, pois tanto a tortura como a violação de correspondência são condutas tipificadas no direito material, conforme o art. 5°, XII da CF de 1988. Assim, não pode o juiz fundamentar sua decisão em prova obtida ilicitamente. Não são ilícitas as provas, entretanto, quando o interessado consente na violação de seus direitos assegurados constitucionalmente ou pela legislação ordinária, desde que sejam bens ou direitos disponíveis. Nessas hipóteses a conduta do autor da prova deixa de ter a ilicitude exigida na Constituição para a sua proibição. Assim, há entendimento na doutrina nacional e estrangeira de que é possível a utilização de prova favorável ao acusado, ainda que colhida com infringência a direitos fundamentais seus ou de terceiros, quando indispensáveis e quando produzida pelo próprio interessado, como a de gravação de conversa telefônica em caso de extorsão, por exemplo, que traduz hipótese de legítima defesa, excluindo a ilicitude. Já as provas ilegítimas são aquelas produzidas ou apresentadas em infringência às normas de direito processual (formal). É prova obtida ilegitimamente, afrontando preceitos do direito processual, tanto na produção quanto na introdução da prova no processo. AN02FREV001/REV 4.0 39 Como exemplo de prova ilegítima temos a prova emprestada, “aquela produzida num processo para nele gerar efeitos, sendo depois transportada documentalmente para outro, com fim de gerar efeitos neste”. Para sua admissibilidade no processo é necessário que tenha sido produzida em processo formado entre as mesmas partes e, portanto,submetida ao contraditório. O compromisso do juiz é com a verdade formal, revelada pela prova, contudo, a verdade real é a sua busca permanente, podendo, nesta busca ideal, determinar provas. Temos como ideal a verdade real, ou seja, a realidade dos fatos, não pode o julgador afastar-se da prova. Pode ele, inclusive, determinar diligências, contudo, não lhe é permitido presumir verdades. Assim, o fundamental para o julgador é a prova que os autos encerram, não lhe cabendo procurar a verdade fora dos autos. As verdades processuais se estabelecem pelas várias formas de prova em direito permitidas, como documentos, perícias, testemunhas e constituem pequenas parcelas de verdade que, combinadas e analisadas, se ajustam e se encaixam de modo a formar uma verdade maior. O juiz deve analisar cada um destes fragmentos isoladamente, antes de fazê-las integrar ao todo. 11 FOTOGRAFIA FORENSE NA PROVA PERICIAL Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, cinematográfica, fonográfica ou de qualquer espécie, faz prova dos fatos ou das coisas representadas se aquele contra quem foi produzida lhe admite conformidade. Impugnada a autenticidade da reprodução mecânica, o juiz ordena a realização de exame pericial. Segundo o Conselho Nacional dos Peritos Judiciais (CONPEJ): AN02FREV001/REV 4.0 40 A fotografia forense, que é também conhecida como fotografia de evidências, tem o seu destaque como prova pericial, sendo necessária para todos os peritos judiciais e criminais independentes de sua especialidade pericial, pois constitui uma excelente ferramenta de produção de prova, enriquecendo o laudo pericial e os pareceres técnicos elaborados pelos peritos. Havia certa desconfiança ao se utilizar fotos digitais como meio de produção de prova pericial, devido à qualidade das fotos e também à autenticidade das mesmas. Hoje, com o avanço tecnológico, foi superado pela credibilidade e qualidade das imagens obtidas por meios digitais. Dentre as dezenas de aplicações para a fotografia forense podemos citar: fotografia grafotécnica, fotografia papiloscópica, de local de crime, de acidentes, cadáveres, etc. Para a realização de uma boa fotografia forense o perito deve primeiramente se preocupar com o tipo de câmera que irá utilizar, pois a escolha do equipamento apropriado será fundamental para o sucesso da obtenção de prova. Importante frisar que o perito deve ter em mente que o objetivo da fotografia forense será sempre produzir provas, ajudando assim a esclarecer as possíveis dúvidas que possam existir e enriquecer o laudo pericial. 12 FOTOGRAMETRIA COMPUTADORIZADA (FERRAMENTA PARA DIAGNÓSTICO FUNCIONAL) A fotogrametria pode ser realizada em qualquer lugar, porém é ideal que se tenha um lugar apropriado e específico. Esse espaço pode ser chamado de laboratório de fotogrametria, sendo instalado dentro do consultório do perito, de algum consultório que seja específico para a perícia ou mesmo posto de trabalho, para a análise da atividade laboral. Nas perícias, a importância e responsabilidade do exame físico pericial são de grande amplitude, devido à grande quantia financeira que está em jogo e porque o resultado da perícia pode definir o ganhador dessa questão. De AN02FREV001/REV 4.0 41 acordo com cada perícia para a realização da fotogrametria computadorizada postural, o exame físico inicia-se com a colocação de marcadores de pele em pontos ósseos predeterminados. Após a fotogrametria computadorizada são realizados os testes palpatórios específicos para o exame pericial. Esse exame tem como objetivo verificar a extensão da lesão para chegar a um parecer final quanto à capacidade funcional. 13 PERÍCIA CALIGRÁFICA E/OU DOCUMENTOSCOPIA NA PROVA PERICIAL A perícia caligráfica e/ou documentoscópica é um dos objetos de prova mais importantes e também dos mais usuais com que conta a justiça. Com relação ao exame escrito ou perícia caligráfica, prevê o art. 174 do CPP que as diligências para o exame de reconhecimento de escritos, por comparação de letra, destinam-se a autenticar documento, ou então, proclamar sua falsidade. As regras previstas no art. 174, que se referem à perícia de escritos, podem ser estendidas, como orientação, às perícias datilográficas. De acordo com o art. 339 do CPC, “ninguém pode se eximir, sem justo motivo, do dever de colaborar com a justiça para o descobrimento da verdade”. A perícia caligráfica judicial conta hoje com muitos recursos para poder detectar qualquer falsificação ou alteração que se tenha produzido. A documentoscopia ajuda na prova pericial, pois se aplicam técnicas e métodos óticos e computacionais para identificação dos meios utilizados para adulterar ou falsificar um documento. Ou seja, é a ciência que estuda, analisa e identifica os diversos tipos de falsificações e adulterações em documentos, moedas, selos, cartões de crédito, cheques, contratos, procurações, certidões de nascimento, óbito etc.. Desta forma, os processos que envolvem as questões acima serão solucionados por meio de um perito em documentoscopia forense, que tem AN02FREV001/REV 4.0 42 como objetivo desvendar falsificações em diversos tipos de documentos. Para ser perito dessa especialização, é necessário: Uso de equipamentos; Ser um grande estudioso da matéria, conhecendo profundamente os dispositivos gráficos de segurança (talho-doce, microletras, fundos numismáticos, rosáceas, imagens latentes, etc.); Tintas especiais, sem contar no notório conhecimento das fases de produção gráfica e fotografia. 14 PERÍCIA NO CRIME DE LESÃO CORPORAL E MOMENTO PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME Como vimos anteriormente, a perícia é o exame realizado por pessoa que tem determinados conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou práticos acerca dos fatos, circunstâncias objetivas ou condições pessoais inerentes ao fato punível, a fim de comprová-los. No caso de crime de lesão corporal, dispõe o art. 168 do CPP que: Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. Na ausência ou deficiência do exame complementar, ele é suprido pela prova testemunhal, mas esta só é possível quando, comprovadamente, desapareceram os vestígios, o que impossibilita o exame direto. Havendo divergências dos peritos nas conclusões ou mesmo em aspectos circunstanciais do exame, o laudo deve registrar a opinião e as respostas de cada um deles. Por escolha deles também podem redigir laudos isolados. Havendo tal divergência, o juiz deve nomear perito desempatador, conforme o art. 180 do CPP. Divergindo este da conclusão dos primeiros, o juiz AN02FREV001/REV 4.0 43 pode ordenar novo exame por outros peritos. Pode, porém, optar por uma das opiniões emitidas. No momento da realização da prova pericial em uma perícia contábil, por exemplo, verifica-se a eficácia de uma contabilidade com registros atualizados e se os mesmos encontram-se de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Os livros comerciais e fiscais que preencham os requisitos exigidos por lei são prova, contra ou a favor, do seu autor. Isto é, todos os meios legais e moralmente legítimos podem ser apresentados ao perito para a apuração dos fatos. Já as perícias, especialmente o exame de corpo de delito direto, devem ser realizadas logo que o fato se torna conhecido da autoridade policial, pois mais perfeita será a perícia quanto mais próxima do delito for realizada. Além disso, sempre há o risco de desaparecerem os vestígios, obrigando a realização do corpo de delito indireto. Por isso, o código permite que sejaele realizado em qualquer dia e a qualquer hora, ou seja, inclusive aos domingos e feriados e à noite. O exame de corpo de delito pode ser direto ou indireto e será feito em pessoas ou em coisas, sempre em que a infração penal deixar vestígios. Deixando o crime vestígios materiais é indispensável o exame de corpo de delito direto, elaborado por peritos para se comprovar a materialidade do crime, sob pena de nulidade. O exame destina-se à comprovação, por perícia, dos elementos objetivos do tipo, que diz respeito, principalmente, ao evento produzido pela conduta delituosa, ou seja, do resultado de que depende a existência do crime. Por vezes, as infrações não deixam vestígios materiais ou estes não são encontrados, impossibilitando o exame direto. Assim, dispensa-se a perícia, fazendo-se então a prova do crime por outros meios, em regra por testemunhas, conforme o art. 167 do CPP. Forma- se, então, o corpo de delito indireto, que também não pode ser suprido apenas pela confissão do réu. Desse modo, não sendo possível o exame de corpo de delito direto – por terem desaparecido os vestígios –, dispensa-se a perícia, AN02FREV001/REV 4.0 44 fazendo-se a prova do crime inclusive pelo depoimento de testemunhas. Deve haver, porém, uma prova testemunhal cabal sobre a materialidade do delito. O exame de corpo de delito é obrigatório, mas quanto às demais perícias há uma faculdade da autoridade policial ou judiciária na sua realização. Requerida pela parte, cabe à autoridade deferi-la ou não, conforme a considera ou não necessária para a elucidação dos fatos ou de suas circunstâncias; evitando-se, assim, a realização de perícias desnecessárias. Permanece indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, nas infrações que deixam vestígios, conforme o art. 158 do CPP. Contudo, pela nova redação do art. 159 do CPP, a perícia pode ser feita por apenas um perito oficial. Nesse aspecto, a prova pericial foi simplificada e tornou-se mais ágil. Nos locais em que não houver perito oficial permanecem as regras do art.159, § 1º e § 2º do CPP. 15 QUESITOS DA PERÍCIA Determinada a realização do exame, a autoridade policial ou judiciária e as partes podem formular quesitos, ou seja, perguntas pertinentes à perícia e que versem sobre pontos a serem esclarecidos. Tais quesitos podem ser formulados até o ato da diligência, consequentemente não podem ser propostos durante sua realização. Cabe o oferecimento tempestivo de quesitos em qualquer espécie de perícia. No caso de perícia judicial, constitui o indeferimento do pedido ilegalidade e restrição ao direito das partes, que importa nulidade da decisão e da perícia que assim se realizar. Não cabe quesito do acusado quando se trata de perícia realizada em inquérito policial. Quesitos são os elaborados pelas partes para obtiverem respostas, esclarecimentos sobre o laudo pericial. Isto é, a parte requer ao juiz que mande intimar o perito e o assistente técnico para comparecerem à audiência, formulando desde logo as perguntas, sob forma de quesitos. Compete ao juiz AN02FREV001/REV 4.0 45 indeferir quesitos impertinentes e formular os que entender necessários ao esclarecimento da causa. Da juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão ciência à parte contrária, conforme o art. 425 CPC, que poderá impugnar quesitos do adversário, apontando-os para o juiz, quando os entender incabíveis. É fundamental que ao formular os quesitos nos autos o profissional operador do direito tenha como escopo que há uma linha que dirige as indagações, e que dela não deve se afastar, por que assim fazendo estará desvirtuando o objeto da perícia. Os quesitos são essenciais, pois é por ele que o perito irá se guiar para aduzir aos autos um documento que auxiliará o juízo na decisão a ser tomada. FIM DO MÓDULO II
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