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Arquitetura Militar: Um panorama Histórico a partir do Porto de Santos

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Arquitetura Militar
Um panorama Histórico 
a partir do Porto de Santos
Victor Hugo Mori
Carlos A. Cerqueira Lemos
Adler H. Fonseca de Castro
São Paulo
2018
ArquiteturA MilitAr: 
uM pAnorAMA histórico 
A pArtir do porto de sAntos
ArquiteturA MilitAr: 
uM pAnorAMA histórico 
A pArtir do porto de sAntos
Victor Hugo Mori
Carlos A. Cerqueira Lemos
Adler Homero F. de Castro

 
5
suMário
Nota à presente edição .......................................................................................11
Apresentação .......................................................................................................13
cApítulo i
ARQUITETURA MILITAR: 
DA “CORTINA VERTICAL” À “CORTINA VIRTUAL” ................................15
A “cortina vertical” e a neurobalística .............................................................17
A “cortina Horizontal” e a Pirobalística ..........................................................20
Vauban e o sistema de defesa territorial: “a Cortina Rasante” ....................24
A “Cortina invisível” e a Artilharia Raiada ....................................................26
A “Cortina virtual” e o fim do capítulo 
da história da arquitetura militar .....................................................................27
cApítulo ii
A EVOLUÇÃO DA ARTILHARIA ..................................................................29
Introdução ............................................................................................................31
A artilharia experimental e o início da colonização do Brasil .....................33
O progresso da artilharia lisa no período colonial .......................................39
O “Tratado de Artilharia” luso-brasileiro 
do engenheiro Alpoim de 1744 .........................................................................43
A época da artilharia raiada ..............................................................................45
Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998.
É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Textos
Victor Hugo Mori
Projeto Gráfico, Capa e Editoração
Guen Yokoyama
2018
Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 1825, de 20/12/1997)
 
7
ArquiteturA MilitAr
6
cApítulo vii
AS FORTIFICAÇÕES DA ENTRADA DO CANAL DA BARRA 
GRANDE: FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE 
E FORTIM DO GÓES FORTE DO CRASTO OU DA ESTACADA .......125
Séculos xvi e xvii ...............................................................................................127
Séculos xviii e xix..............................................................................................140
“Último relatório do Comando da Fortaleza ................................................158
da Barra de Santos de 1º/01/1904” ...............................................................159
A História do Restauro nas obras 
da Fortaleza da Barra Grande .........................................................................160
cApítulo viii
SISTEMA DE PROTEÇÃO DA VILA DE SANTOS: FORTE DE 
MONSERRATE, FORTE DE ITAPEMA, CASA DO TREM BÉLICO 
E O PLANO DE DEFESA DE JOÃO MASSÉ .............................................179
Séculos xvi e xvii ...............................................................................................181
Século xviii .........................................................................................................187
Séculos xix e xx ..................................................................................................196
cApítulo ix
AS NOVAS FORTIFICAÇÕES DA ENTRADA 
DA BARRA DE SANTOS ...............................................................................201
Fortaleza de Itaipu e Forte dos Andradas .....................................................203
cApítulo iii
AS FORTIFICAÇÕES COLONIAIS NO BRASIL ...................................... 49
Introdução ............................................................................................................51
A primeira etapa .................................................................................................56
A segunda etapa ..................................................................................................62
A terceira etapa ....................................................................................................67
A quarta etapa .....................................................................................................72
cApítulo iv
MAPA DAS FORTIFICAÇÕES DA BAIXADA SANTISTA ........................77
cApítulo v
A ORGANIZAÇÃO MILITAR NA CAPITANIA 
DE SÃO VICENTE NOS PRIMEIROS SÉCULOS
O Sistema de Ordenanças ..................................................................................85
Os Engenheiros Militares ...................................................................................93
cApítulo vi
AS FORTIFICAÇÕES DO CANAL DA BERTIOGA: FORTES DE SÃO 
TIAGO OU SÃO JOÃO - SÃO FELIPE - SÃO LUIZ ..................................97
Séculos xvi e xvii .................................................................................................99
Séculos xviii e xix..............................................................................................108
Século xx .............................................................................................................117
 
9
ArquiteturA MilitAr
8
Esse trabalho é dedicado a duas pessoas especiais na história da preserva-
ção do patrimônio no Brasil, recentemente falecidas. Tive o privilégio de ter 
sido amigo e aluno informal desses dois mestres, tão diferentes entre si. Um 
muito jovem, arquiteto e professor da fau-usp, o outro, um velho militar dos 
quadros da engenharia do Exército Nacional. O que os unia era a paixão 
comum pela preservação da memória nacional. 
O jovem Antonio Luiz Dias de Andrade, a quem o Dr. Lúcio Costa carinho-
samente acrescentava um pronome possessivo "o nosso Janjão", fez sua trin-
cheira de luta no iphan. O velho Coronel Reginaldo Moreira de Miranda, 
fez seu baluarte dentro do Arquivo Histórico do Exército. Muito antes do 
arquiteto Antonio Luiz iniciar seu aprendizado no iphan, o historiador 
Miranda já era um colaborador assíduo de Luís Saia e o ajudou, inclusive, 
nos momentos difíceis de sua vida particular como um amigo fraterno. 
Parte dos documentos aqui reproduzi-
dos foram frutos de seu trabalho 
durante os anos em que serviu no 
Arquivo do Exército como Capitão. 
O início dos estudos objetivando a res-
tauração das Fortificações da Baixada 
Santista, em 1989, levou o jovem Anto-
nio Luiz, então diretor do iphan-sp, a 
convocar o velho soldado Miranda 
Antonio Luiz Dias de Andrade
cApítulo x 
AS FORTIFICAÇÕES DESAPARECIDAS DO CANAL 
DE SÃO SEBASTIÃO ......................................................................................213
A Proteção do Porto de São Sebastião ...........................................................215
linhA do teMpo
PANORAMA HISTÓRICO SÃO PAULO/BRASIL/GERAL ................... 221
 
11
ArquiteturA MilitAr
10
Victor Hugo Mori, com muita imaginação, sabedoria e simplicidade, trans-
fere ao público não especializado e aos estudantes em geral, conhecimentos 
inestimáveis sobre a complexa evolução da Arquitetura Militar, desde os 
primórdios da neurobalística até o advento da "guerra nas estrelas". Toma 
como linha narrativa as fortificações do Porto de Santos, para nos conduzir 
à formação histórica da nossa nacionalidade.
A pesquisa histórica estabelece um paralelo entre o troar dos canhões e os dife-
rentes sistemas defensivos arquitetados, ao longo dos últimos séculos, sob a 
forma de fortalezas, fortes, fortins, redutos, baterias e baluartes. Para tanto, Vic-
tor Hugo contou com a colaboração do professor Carlos A. C. Lemos, um dos 
mais importantes estudiosos da arquitetura brasileira,e do historiador Adler 
Homero F. de Castro, renomado pesquisador da História Militar. 
Até meados do século xx, a Arquitetura Militar oferecia um poderoso invó-
lucro de proteção contra os projéteis de artilharia que cruzavam os espaços 
vazios entre forças antagônicas, num campo de batalha. Hoje, os projéteis 
cruzam o espaço aéreo, lançados a partir de posições virtuais momentâneas 
em perseguição a objetos também fugazes. A Artilharia libertou-se progres-
sivamente dos invólucros arquitetônicos construídos sob a forma de "corti-
nas fortificadas", verticais, rasantes, horizontais e invisíveis, submersas ou 
aflorantes, deixando porém, de pé ou em ruínas, um acervo patrimonial de 
inestimável valor cultural.
notA à presente edição
ULTIMA RATIO REGIS
para mais essa luta. Nessa batalha de dez anos, em que atuei como coadju-
vante e aluno, acumularam-se sobre as mesas centenas de anotações, docu-
mentos, fotografias e desenhos. O "nosso Janjão" queria que eu os transfor-
masse em uma Tese de Mestrado sob a sua orientação. O "nosso coronel 
Miranda" sonhava com uma grande exposição sobre a engenharia militar 
nos fortes restaurados da Baixada 
Santista.
O resultado, porém, foi modesto. 
Nem uma inovadora tese nem tam-
pouco, uma grande exposição. A 
importância desse catálogo reside no 
tênue lampejo dos ensinamentos 
transmitidos pelo jovem arquiteto e 
pelo velho coronel.
Victor Hugo Mori
Coronel Reginaldo Miranda 
no Forte São Luiz
 
13
ArquiteturA MilitAr
12
Escolher a publicação de um livro demanda agilidade em avaliar o que de 
fato ele oferece como divulgador de cultura, expansão de conhecimentos, 
que lado de uma questão ele vem tornar claro ou reavaliar. Conteúdo bom 
em história, ciência ou memória é o que muitas vezes se apresenta em textos 
que pretendem tornar-se livros, mas é preciso pôr algo mais na escolha ou 
aceitação de publicar. Que escolher, visto que, no geral, o autor se ampara 
na confiança sem abalos de que seu trabalho é o melhor, talvez até um 
achado literário ou científico?
Apenas para exemplificar a importância desta publicação, podemos afirmar 
que o capítulo "A Organização Militar na Capitania de São Vicente nos Pri-
meiros Séculos", assinado por Victor Hugo Mori, é um substancial acréscimo 
ao que até agora se escreveu sobre São Vicente, região fundamental na histó-
ria de São Paulo e na do Brasil, assim também o capítulo viii: "O Sistema de 
Proteção da Vila de Santos: Forte de Monserrate, Forte de Itapema," e vários 
outros cujo relato chega ao século xx. 
Só me resta desejar que Arquitetura Militar cumpra a sua função como 
livro, abrindo caminhos que levam o homem à consciência do que ele ver-
dadeiramente representa neste planeta.
Sérgio Kobayashi
ApresentAçãoA Artilharia, conhecida no mundo desde os primórdios da civilização, evoluiu 
do arco e flecha à catapulta medieval, do canhão de alma lisa ao míssil conti-
nental, sideral, espacial, que transporta ogivas de poder atômico. Nos últimos 
séculos, o canhão – último argumento dos reis – troava sob o controle das forças 
em teatro de operações militares. No momento, o imaginário desloca-se para a 
"guerra nas estrelas", onde vetores balísticos podem atingir qualquer lugar, dis-
parados sob a chancela do chefe de Estado. A Artilharia, torna-se assim, instru-
mento de um poder avassalador, libertando-se do invólucro da arquitetura 
militar que a acompanhou até o século passado. 
Algumas fortalezas centenárias ainda permanecem de pé, desafiando o 
tempo, as intempéries e as agressões humanas. Muito se deve aos profissio-
nais do iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que 
não medem esforços para preservá-las. 
Victor Hugo Mori, como arquiteto do iphan, foi o responsável pelas obras de 
restauração dos mais antigos e mais importantes monumentos arquitetônico-
militares do Estado de São Paulo: o Forte São João da Bertioga, erguido a partir 
de 1553, e a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, edificada a partir de 
1583. Atualmente, como voluntário, o arquiteto empenha-se na restauração do 
complexo arquitetônico da Fortaleza de Itaipu, na Praia Grande – SP, que abri-
ga a última bateria "invisível" de artilharia construída no Brasil. 
Ao amigo, que prossiga trilhando o seu caminho do dever.
Elcio Rogerio Secomandi - Coronel de Artilharia R/1
Fundação Cultural Exército Brasileiro
ArquiteturA MilitAr: 
dA “cortinA verticAl” 
à “cortinA virtuAl”
Victor Hugo Mori

ArquiteturA MilitAr: dA “CortinA VertiCAl” à “CortinA VirtuAl”
17
Combate de contato na Idade Média Viollet 
Le Duc
A “CORTINA VERTICAL” E A NEUROBALÍSTICA
A fortificação é uma construção funcionalista por natureza. Sua 
tipologia se transformou conforme o desenvolvimento tecnológico 
da artilharia e das inovações da estratégia militar de ataque e defesa.
A té o fim da Idade Média, as guerras eram travadas com a utilização de arma-
mentos com pouco poder de des-
truição. As armas de arremesso 
eram de alcance restrito e precisão 
máxima de 50 metros. Os confron-
tos entre as tropas rivais eram, 
portanto, à curta distância, e cha-
mados de “combates de contato”. 
Foi a era da artilharia mecânica, 
conforme veremos no capítulo 
seguinte.
A época em que se utilizavam 
essas armas primitivas, como o arco-
-e-flecha, a besta e a catapulta, foi 
denominada na história militar de: 
período da neurobalística (ciência 
que estuda a impulsão de projéteis, 
Castelo de São Miguel em Guimarães (Portugal). A torre central foi construída no século x 
pela condessa Munadona. Foi residência de D, Afonso Henriques e considerado o “Berço da 
Nacionalidade Portuguesa”.
ArquiteturA MilitAr: dA “CortinA VertiCAl” à “CortinA VirtuAl”
19
ArquiteturA MilitAr
18
através da força elástica, provocada 
pelo tensionamento ou torção de 
cordas).
A proteção de um território era, 
então, assegurada pela presença de 
castelos elevados, torres de mena-
gem e grandes muros defensivos, 
concebidos para se distanciar do 
alcance e precisão desses arma-
mentos. Este sistema defensivo foi 
denominado de “cortina vertical”, 
pois, quanto maior a altura dos 
muros (cortinas) mais seguros e 
inacessíveis eram os edifícios mili-
tares, freqüentemente construídos 
nos penhascos para ampliar sua 
verticalidade.
São exemplos históricos dessa 
arquitetura militar, as Muralhas da 
China, a Torre de Londres, os 
muros medievais de Carcassone, o 
Castelo de Santo Ângelo em Roma, 
e até mesmo as paliçadas de madei-
ra das fortificações provisórias.
Castelo de 
Chillon na Suiça
Catapulta medievalBombarda (esq.) e balestra (dir.)
Ilustração alemã 
do século XV 
mostrando 
o uso de 
canhões e 
flechas 
incendiárias no 
cerco de uma 
cidade medieval
ArquiteturA MilitAr: dA “CortinA VertiCAl” à “CortinA VirtuAl”
21
ArquiteturA MilitAr
20
riências dentro desses 
novos princípios, na Itá-
lia. O mesmo Sangallo 
em 1492 havia aplicado 
os baluartes angulares 
na modernização do 
Castelo de Santo Ânge-
lo, em Roma.
A Torre de Belém, em Lisboa, 
concluída em 1519 por Francisco 
Arruda, pode ser vista como o para-
digma do “período de transição” 
entre o sistema medieval e o siste-
ma renascentista, ao conjugar num 
mesmo projeto a torre de menagem 
e o baluarte de três faces provido de 
guaritas nos ângulos, com a plata-
forma superior e canhoneiras no 
piso inferior. O Castelo 
da Mina, no Golfo da 
Guiné, construído em 
1482 ainda com influên-
cia da tradição medie-
val, é considerado a pri-
meira fortificação por-
tuguesa nos trópicos.
As plantas poligonais ou circula-
res das fortificações medievais 
foram, paulatinamente, sendo subs-
tituídas pela forma de estrela de 
múltiplas pontas – os baluartes 
angulares. As estreitas passagens 
dos arqueiros sobre os muros 
medievais deram lugar às amplas 
“plataformas de armas” para as 
manobras da artilharia. As mura-
Castelo Farnese em Caprarola, de 1515. Surgimento de baluartes pentagonais nos vértices 
da torre P.J. Mariette
Nau de Nicolau Coelho 
Lisuarte de Abreu
A nova artilharia,composta de canhões e bombardas, era capaz de destruir um 
sítio fortificado a distância. 
Diante desta nova realidade, o 
sistema da “cortina vertical” pas-
sou a ser estratégicamente inconve-
niente, pois no “combate à distân-
cia”, quanto mais alta a construção, 
mais exposta estaria à mira dos 
canhões. Por outro lado, a adapta-
ção das cortinas elevadas em plata-
formas de canhões diminuía a pre-
cisão da artilharia defensiva, for-
çando “os tiros de mergulhão”.
No reinado de D. João II (1481-
1495), consolidou-se o poderio béli-
co de Portugal, com a fabricação 
intensiva de “bocas-de-fogo” e da 
criação da “nau” com três mastros 
equipada com artilharia de fogo – 
uma verdadeira fortaleza móvel de 
ataque e defesa1.
A época da pirobalística exigia 
uma nova arquitetura militar, alon-
gada e de pouca altura: a “cortina 
horizontal”.
Neste período de grande eferves-
cência cultural (Renascimento), os 
arquitetos italianos, através dos estu-
dos da resistência dos materiais, da 
balística e da geometria, criaram a 
forma ideal desta nova arquitetura 
militar: a “fortaleza abaluartada”.
O Castelo Farnese, em Caprarola, 
de planta poligonal com baluartes 
pentagonais nos vértices, desenha-
do em 1515 por Antônio Sangallo e 
Peruzzi, e concluído por Jacopo Vig-
nola, revelava as primeiras expe-
A “CORTINA HORIZONTAL” E A PIROBALÍSTICA
A partir do século xv, com o desenvolvimento da pirobalística 
(ciência que estuda a impulsão de projéteis através da explosão 
da pólvora), a prática do “combate de contato” começava a perder 
importância nas guerras. 
Castelo da Mina no Golfo da Guiné (1482) – primeira fortificação portuguesa nos trópicos 
Franz Post
ArquiteturA MilitAr: dA “CortinA VertiCAl” à “CortinA VirtuAl”
23
ArquiteturA MilitAr
22
Cortinas abaluartadas, segundo Vitruvius Edição Valentinus Rose, 1899
Segundo Rafael Moreira, “a base 
do sistema abaluartado era a prote-
ção recíproca pelo cruzar de fogos 
entre diferentes pontos do mesmo 
perímetro”. Foi essa arquitetura o 
primeiro “estilo internacional do 
Renascimento”2, repetindo-se, do 
oriente ao ocidente, numa seqüên-
cia inumerável de fortificações este-
lares, que vai do Forte da Aguada 
em Goa ao Forte Príncipe da Beira 
na Amazônia. 
lhas mais grossas, ligeiramente 
inclinadas e de pouca altura, espar-
ramavam-se horizontalmente pelo 
relevo, reduzindo a precisão e o 
poder de destruição da artilharia 
adversária.
O projeto de fortificação de 
Mazagão, no Marrocos, de autoria 
do italiano Benedetto de Ravenna, 
de 1541, é considerado a primeira 
obra portuguesa integralmente 
dentro do estilo abaluartado.
A difusão dos Tratados de Arqui-
tetura, como os de Alberti (1452), 
Filarete (1464), di Giorgio (1500), 
Serlio (1537), Dürer (1554), Palla-
dio (1556 e 1570), Serrão Pimentel 
(1680) – o primeiro em língua por-
tuguesa, além da presença de inú-
meros engenheiros italianos requi-
sitados por Portugal e Espanha 
para desenhar fortificações, contri-
buíram para firmar esse modelo 
renascentista nas Américas, África 
e Ásia.
Tour de la Guinette do século XII Viollet Le Duc
Torre de Belém: transição entre a torre de 
Menagem e o sistema renascentista
ArquiteturA MilitAr: dA “CortinA VertiCAl” à “CortinA VirtuAl”
25
ArquiteturA MilitAr
24
Planta de Neuf-Brisach (acima)
Planta de Lille, cidade fortificada 
por Vauban (dir.)
Os três sistemas de Vauban
um período em que a mobilidade 
das tropas superou a formação geo-
métrica da guerra tradicional.
As idéias de Vauban se difundi-
ram com a publicação dos seus Tra-
tados em 1704 e 1706, e através das 
atividades de seus seguidores. As 
cidades de Toulon e de Neuf Brisa-
ch na França, fortificadas por 
Vauban e Nardeen, na Holanda são, 
exemplos desse sistema.
V auban considerava a “praça fortificada” apenas como um instrumento tático ele-
mentar, componente de uma estra-
tégia global de defesa. 
Até mesmo o modesto baluar-
te angular renascentista, foi 
transformado num complexo 
projeto geométrico poligonal, 
composto por múltiplos ele-
mentos defensivos: fossos, 
tenalhas, revelins, hornarveques, 
meias-luas, glacis, etc.
As formas distribuíam-se numa 
seqüência de cortes e aterros, partes 
enterradas e outras semi-aflorantes, 
com distribuição rádio-concêntrica a 
partir da praça-forte, configurando 
uma “cortina rasante”, quase con-
fundindo-se visualmente com o per-
fil horizontal do terreno.
Esse novo sistema implicava a 
necessidade de alto grau de 
especialização, diversificação 
e profissionalização do corpo 
militar. A seqüência de ele-
mentos arquitetônicos de 
defesa, permitia tanto o aban-
dono das posições fronteiras com o 
recuo paulatino até a praça forte, 
como o avanço das tropas a partir do 
núcleo fortificado, conforme nos 
ensinou o historiador militar cel. 
Reginaldo Moreira de Miranda. Foi 
VAUBAN E O SISTEMA DE DEFESA TERRITORIAL: 
“A CORTINA RASANTE”
A partir do século xvii, o engenheiro militar Sébastien le Prestre 
de Vauban, Marechal do Rei Luís xiv, transformou a tradicional 
fortaleza abaluartada num complexo sistema de defesa territorial.
Marechal Sébastien le Prestre de Vauban (em cima)
Um dos métodos de Vauban de fortificar (em baixo)
ArquiteturA MilitAr: dA “CortinA VertiCAl” à “CortinA VirtuAl”
27
ArquiteturA MilitAr
26
O atual e moderno sistema de proteção da costa pau-lista com lançadores 
móveis de foguetes “Astros II”, ao 
dispensar a posição fixa das antigas 
fortalezas e o invólucro da arquite-
tura, configura um novo sistema: a 
“cortina virtual”.
As fortificações, que sempre se 
caracterizaram como “construções 
funcionalistas” por excelência, hoje 
esvaziadas de suas funções milita-
res, buscam se adaptar a novos pro-
gramas sociais. São documentos da 
história e da arte que as gerações 
futuras têm o direito de conhecer e 
se reconhecer. 
A defesa do Porto de Santos 
representa um retrato resumido 
dessa história da arquitetura mili-
tar. Do primitivo Forte da Bertioga 
construído para o “combate de con-
tato” contra os índios, ainda dentro 
dos princípios medievais da neuro-
balística, passando pelo complexo 
sistema de defesa projetado por 
João Massé em Santos, até as arqui-
teturas subterrâneas e “invisíveis” 
das fortificações de Itaipu e dos 
Andradas, cinco séculos de história 
subsistem.
A “CORTINA VIRTUAL” E O FIM DO CAPÍTULO 
DA HISTÓRIA DA ARQUITETURA MILITAR
O fracasso da "Linha Maginot" em 1940, o surgimento dos 
foguetes v-2 e a explosão da bomba atômica em Hiroshima em 
1945, encerraram o capítulo da história das fortificações. 
Lançador de foguetes Astros II 
na Fortaleza de Itaipu
Imagem do lançador de 
foguetes Astros II, 
chamado de 
“fortaleza móvel”
A “CORTINA INVISÍVEL” 
E A ARTILHARIA RAIADA
A partir de meados do século xix, com o desenvolvimento 
da “artilharia raiada” e da criação do torpedo “obus”, 
o sistema de fortificações abaluartadas tornou-se obsoleto.
O alcance quilométrico dos projéteis explosivos, a preci-são dos disparos e o grande 
poder de destruição desta artilharia, 
permitiu concentrar em poucas bate-
rias todo o complexo de fortificações 
criado pelo sistema Vauban. 
As novas fortalezas foram proje-
tadas em subterrâneos ou protegi-
das por cortinas blindadas, camu-
fladas na paisagem. O uso do aero-
plano para fins bélicos acentuou a 
necessidade de se procurar, cada 
vez mais, a proteção do subsolo.
A arquitetura militar perdeu defi-
nitivamente seu caráter simbólico 
de domínio e presença do poder na 
paisagem ao se ocultar e se proteger 
nos relevos naturais. O simbolismo 
da “cortina vertical” da idade 
média, reduzido a partir do Renas-
cimento na geometria acachapada 
da “cortina horizontal”, desapare-
ceu nesta nova configuração arqui-
tetônica: a “cortina invisível”.
A construção da “Linha Maginot” 
pela França entre 1930 e 1936 para 
assegurar a proteção da fronteira 
leste voltada para a Alemanha, foi a 
maior obra subterrânea dentro 
deste princípio militar. Ela de nada 
serviu contra o ataque das tropas 
alemãs em1940, que partiu pela 
fronteira norte e ocupou a França.
A Fortaleza de Itaipu na Praia 
Grande e o Forte dos Andradas 
no Guarujá podem ser incluídos 
nesse estilo.
Fortaleza de Itaipu na Praia Grande (SP) – 
Bateria Duque de Caxias: rampa de acesso 
ao subterrâneo (esq.). 
Fortaleza de Itaipu – Bateria de Jurubatuba 
(1919) com seu canhão raiado Schneider-
Canet (abaixo à esq.). 
Cozinha subterrânea do Forte dos Andradas 
no Guarujá – SP (abaixo)
ArquiteturA MilitAr
28
A evolução 
dA ArtilhAriA
Victor Hugo Mori
Adler Homero Fonseca de Castro
Notas
1 Moreira, Rafael. "Caravelas e Baluartes" in "A Arquitetura Militar na Expansão Portuguesa". 
Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Porto, 1994, p. 85.
2 Moreira Rafael. "Fortalezas do Renascimento". Op.cit., p. 129 – O autor neste texto cita Sir 
John Hale: O "Estilo Internacional" por excelência do Renascimento foi o da arquitetura militar, 
e o seu módulo o baluarte angular".

A Evolução dA ArtilhAriA
31
INTRODUÇÃO
Os primeiros armamentos criados para a defesa e a caça, eram 
de madeira, ossos e pedras impulsionados pela força humana. 
Uma grande inovação aconteceu ainda na pré-história, com a 
invenção de engenhos de arremesso, como o arco-e-flecha e a 
funda. Foi o início da história da artilharia.
Artilharia de assédio 
protegida por 
cortina de faxina
Guillaume Le Blond
A palavra artilharia, do fran-cês artillerie tem sua origem etimológica mais aceita 
pelos especialistas, nos termos lati-
nos Ars Telorum (arte das armas) e 
Artilum cujo radical significa “enge-
nho”, do francês engin. Aliás, a pala-
vra engin, era sinônimo de máquina 
de guerra, e sua variante “enge-
nheiro”, significava quem construía 
esses armamentos. Assim, desde as 
suas origens, a arquitetura militar, a 
tecnologia das armas e a ciência do 
combate são interdependentes, 
Fotomontagem sobre pintura de Debret com lançador de foguetes Astros II VHM
A Evolução dA ArtilhAriA
33
ArquiteturA MilitAr
32
A ARTILHARIA EXPERIMENTAL 
E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO DO BRASIL
As primitivas bombardas eram construídas com barras de ferro 
forjado longitudinais, presas por anéis metálicos à semelhança do 
processo de tanoaria (construção de tonéis de madeira). Segundo 
Portela F. Alves, “a precisão era deplorável e o alcance não 
ultrapassava o da artilharia neurotona” (cerca de 400 m), e “era 
considerada notável quando podia dar vinte tiros sem arrebentar”.2
D. Afonso V utilizou esses arma-mentos na Batalha de Alcácer Seguer (Marrocos) em 1458. 
Porém, foi na Tomada de Arzila, em 
1471, que algumas peças de bronze 
começaram a surgir nas tropas por-
tuguesas, ainda convivendo com as 
bombardas de anéis de ferro, espa-
das, lanças e balestras. As quatro 
tapeçarias que retratam a Tomada 
Detalhe de gravura italiana 
do século XV: boca-de-fogo 
primitiva
umas influenciando outras ao longo 
dos séculos.
Como vimos no capítulo anterior, 
a história da artilharia pode ser divi-
dida em três grandes partes:
1) Período da neurobalística ou 
da artilharia mecânica (engenhos 
que impulsionam os projéteis pela 
força elástica produzida pela torção 
ou flexão de cordas ou por outro sis-
tema mecânico como o de contra 
peso), que vai da pré-história até o 
fim da Idade Média.
2) Período da pirobalística ou 
da artilharia de fogo (engenhos 
que impulsionam os projéteis pela 
explosão da pólvora), que vai do fim 
da Idade Média até a Segunda Guer-
ra Mundial.
3) Período dos mísseis, que vai 
da eclosão da Segunda Guerra até 
os dias de hoje. 
No caso do nosso estudo sobre a 
arquitetura militar paulista, interes-
sa-nos, sobretudo, o período da piro-
balística, que, grosso modo, pode-
mos subdividi-lo em três épocas:
a) da artilharia experimental: 
quando a precisão, o alcance, o 
poder de destruição e a durabilida-
de das bocas-de-fogo de alma lisa, 
são deficientes e imponderáveis, e o 
“efeito moral” causado pelo estron-
do e pelas chamas, supera o real 
poder de destruição. Esse período 
vai do início das primeiras bocas-
de-fogo do século XIII até a primeira 
metade do século XVI – tempo em 
que as armas de pólvora ainda con-
viveram com as armas mecânicas.1 
b) da artilharia de alma lisa: 
quando as primitivas bombardas 
evoluíram para os canhões de alma 
lisa, de bronze ou ferro fundido, que 
disparam projéteis metálicos esféri-
cos. Essa época, que vai da primeira 
metade do século XVI até meados do 
século XIX, coincide em parte com o 
período da colonização do Brasil 
pelos portugueses.
c) da artilharia raiada: quando o 
raiamento das almas dos canhões, o 
aperfeiçoamento do sistema de 
retrocarga, e a criação do projétil 
explosivo de forma ogival, propi-
ciam à artilharia, precisão, alcance 
quilométrico e grande poder des-
trutivo. Esse período vai de meados 
do século XIX até a Segunda Guerra 
Mundial.
A Evolução dA ArtilhAriA
35
ArquiteturA MilitAr
34
O exemplO dO CastelO de edimburgO
A construção do Castelo de Edimburgo iniciou-se no século XII sobre uma 
elevação vulcânica. Em 1449, o Duque de Burgundy mandou construir na 
cidade de Mons a famosa “bombarda gigante” – Mons Meg – como presen-
te para o seu sobrinho Jaime II, rei da Escócia. No ano de 1497 esse canhão 
foi levado para o Castelo de Edimburgo. A partir de 1570 começaram as 
adaptações para modificar o velho sistema de defesa medieval do castelo. Foi 
construído o baluarte renascentista em “meia-lua” no lado leste. Nos séculos 
que se seguiram, o complexo medieval foi contornado por cortinas, baterias 
de canhões e baluartes.
Artilharia do século XVIII
Bateria de canhões em 
“meia lua”, 
acrescentada 
em 1570.
A Bombarda Gigante 
“Mons Meg”, construída em 
1449, em uma gravura de 
1880. O canhão real encontra-
se, hoje, em exposição no 
edifício que abrigava as 
antigas prisões do Castelo.
Página anterior: “Tomada de Arzila” (1471). 
Detalhe da tapeçaria existente na cidade 
de Pastrana (Espanha), retratando os feitos 
portugueses em Tânger, executada em 
Flandres.
Fundição de balas 
esféricas no século XVI
Canhão primitivo do livro de Charles Boutell de 1868
de Arzila, representam “um docu-
mento de excepcional importância para 
a reconstituição do armamento de cam-
panha utilizado na época”.3
O efeito moral das bombardas 
era proporcional ao calibre dessas 
rudimentares artilharias. Houve 
inúmeras tentativas de se construir 
bombardas gigantes para atemori-
zar os inimigos. Das primeiras 
fabricadas no século XV, podería-
mos citar as Michelettes que hoje se 
encontram em Mont Saint-Michel, 
a Dulle Griet, de fabricação holan-
desa, com um metro de diâmetro e 
comprimento de cinco metros, e a 
célebre Mons Meg (Monster-
Margherite), construída em 1449, 
que serviu por anos à proteção do 
Castelo Real de Edimburgo, onde 
ainda permanece com seus 6.600 
kg de anéis de ferro forjado, capaz 
de disparar esferas de granito de 
150 kg. Essa foi uma época de tran-
sição, quando os antigos castelos 
construídos para resistir às armas 
mecânicas tiveram de se adaptar à 
nova artilharia que surgia.4 
Foi, portanto, a partir do fim do 
século XV, com o progresso da fundi-
ção, que se iniciou a fabricação das 
primeiras peças maciças de bronze e 
ferro fundido. Houve, também, expe-
riências no sentido de se construir 
canhões com carregamento pela 
culatra (retrocarga), aperfeiçoou-se a 
fundição de projéteis esféricos, subs-
tituindo as pedras lavradas, e difun-
diu-se o uso dos “munhões” que 
controlavam a pontaria.
Quando os primeiros portugueses 
chegaram ao Brasil, os indígenas 
A Evolução dA ArtilhAriA
37
ArquiteturA MilitAr
36
Desenho de 1611, reproduzido por C. Lechuga
Bombarda grossa, do livro de D. Ufano (1613)
nos ataques imprevisíveis naquele 
inóspito território. 
A artilharia de fogo dos portugue-
ses era ainda bastante ineficiente nos 
primeiros anos de colonização. O 
“efeito moral”, causado pela explo-
são das bombardas e arcabuzes, era 
logo dissipado pela demora no 
recarregamento das bocas-de-fogo.Martim Afonso de Souza, após a 
dura recepção no Rio de Janeiro, 
entendeu que a conquista da região 
de São Vicente dependia muito mais 
da “tática de guerra”, que do poder 
da sua primitiva artilharia. Foi a 
aliança com os tupiniquins que, de 
fato, consolidou a colonização da 
capitania. Uma “aliança de guerra”, 
tal qual se fazia na Europa para 
assegurar conquistas através de 
matrimônios. O casamento de João 
Ramalho com a filha do cacique 
Tibiriçá foi o primeiro elo para a 
aproximação. Seguiram-se inúme-
ros outros entre colonizadores e 
indígenas aliados, que acabaram 
por consolidar a conquista.
O Governador-Geral Thomé de 
Souza em 1552, “respeitando a contí-
nua guerra que nas ditas capitanias 
havia” mandou provê-las “de alguma 
artilharia, e munições necessárias para a 
segurança delas”. Para a Capitania de 
São Vicente (Fortaleza da Bertioga) 
“mandava para defensa dela a artilharia 
e munições seguintes: um pedreiro de 
metal e um reparo de rodas maciças, um 
falcão também de metal, duas camaras, a 
chave e o reparo dele, trinta pelouro para 
o dito falcão, quatro berços também de 
metal, doze camaras e quatro chaves 
para eles, vinte pelouros, seis arcabuzes 
Armas indígenas segundo desenho de Jean B. Debret
Arcabuzes utilizados pelos bandeirantes segundo desenho de Belmonte (abaixo)
encontravam-se ainda na idade cul-
tural da pedra polida. Seus arma-
mentos eram rudimentares, como o 
arco-e-flecha, a borduna, o macha-
do e a lança. Considerando-se os 
parâmetros históricos da evolução 
dos engenhos de guerra, os nativos 
encontravam-se nos primórdios do 
período da neurobalística. Sequer 
conheciam as balestras, as catapul-
tas e os onagros. O temor dos colo-
nizadores concentrava-se na dife-
rença numérica “dos contrários” e 
A Evolução dA ArtilhAriA
39
ArquiteturA MilitAr
38
O PROGRESSO DA ARTILHARIA LISA 
NO PERÍODO COLONIAL 
A pirobalística ganhou impulso com o Imperador Carlos v, 
depois da vitória em Pavia (1525) sobre Francisco i. 
Carlos V também ordenou a normalização dos calibres, disciplinou 
os tipos de artilharia e estabeleceu, inclusive, a composição do 
bronze (92 partes de cobre para oito de estanho).
Carlos V, 
retratado por Ticiano
A artilharia imperial foi com-posta pelas seguintes peças: o canhão (33 libras e 4 
onças), a grande colubrina (15 libras 
e 2 onças), a colubrina bastarda (7 
libras e 2 onças), a colubrina média 
(2 libras), o falcão (1 libra e 1 onça) e 
o falconete (14 onças). A Ordenança 
de Carlos V de 1554, prescrevia que 
“ao introduzir a bala no tubo, o artilhei-
ro fará o sinal da cruz na boca da peça e 
rogará a assistência de Santa Bárbara”.6
Com a abdicação de Carlos V em 
1555, o vasto império dos Habsbur-
gos foi subdividido entre seu irmão 
Fernando, que ficou com o título de 
Imperador Germânico, e seu filho 
Felipe II, que herdou o reino da 
Tipos de canhões antigos
aparelhados, uma arroba de polvora de 
espingarda, e vinte espadas com suas 
bainhas”; tudo isso somado às armas 
“que já estavam de Sua Alteza na dita 
Capitania de São Vicente, a saber um 
falcão outro de metal, duas camaras para 
ele, vinte pelouros para ele, seis meio 
berços de metal, dezoito camaras, vinte 
pelouros, um quintal mais de polvora de 
bombarda, trinta espadas guarnecidas, 
tudo avaliado em duzentos, quarenta, e 
seis mil, e oitenta, e oito reis”, a serem 
pagos das rendas do donatário Mar-
tim Afonso de Souza.5
Não havia nessa época nenhuma 
normalização das bocas-de-fogo. 
Existiam grandes variedades de 
calibres, tipos e formatos, com 
denominações diversas, freqüente-
mente utilizando nomenclaturas 
de animais. Os modelos mais 
empregados em Portugal eram:
• Colubrina ou colubreta: peça 
de bronze de grande comprimento e 
grande alcance.
• Passavolante: pequena colu-
brina.
• Falcão: peça de bronze de ante-
carga equivalente ao calibre 3 (peso 
do projétil em libra). A descrição do 
documento de São Vicente sugere 
ser aquele falcão de retrocarga.
• Falconete: semelhante e menor 
que o falcão.
• Bombarda (grossa e miúda): o 
termo bombarda foi inicialmente 
empregado nas primeiras bocas-de-
fogo de ferro forjado semelhante ao 
morteiro, posteriormente foi aplica-
do genericamente a inúmeros tipos 
de canhões.
• Esmeril: peça pouco maior que o 
falconete.
• Berço: art i lharia curta e de 
pequeno calibre de retrocarga. 
• Meio-berço: semelhante e menor 
que o berço.
• Pedreiro: tipo de bombarda 
destinado a lançar projéteis de 
pedra, posteriormente essa deno-
minação foi empregada para o 
canhão-pedreiro da artilharia de 
D. Manuel I.
A Evolução dA ArtilhAriA
41
ArquiteturA MilitAr
40
Trinta Anos, suprimiu as pesadas 
armaduras dos soldados e, utilizan-
do o binômio artilharia-infantaria 
com canhões de pequeno calibre, 
transformou o conceito de mobilida-
de em fator determinante nas guer-
ras. Foi o fim das formações geomé-
tricas das tropas, substituídas pelas 
movimentações e combinações táti-
cas. A arquitetura militar teve que 
acompanhar esse novo tipo de com-
bate, e foi o Marechal de Luís XIV, 
Sébastien le Prestre de Vauban, quem 
melhor sistematizou na arquitetura a 
complexidade desse sistema.
Em 1732, Jean F. Vallière por 
ordem de Luís XV estruturou a 
fabricação da artilharia francesa. 
Vallière estabeleceu proporções de 
espessura e peso das peças, dimen-
sões dos projéteis e carga de pól-
vora, fixou os calibres e redese-
nhou os reparos (carretame) para 
facilitar os deslocamentos. Com 
pequenas variações, o “Sistema 
Vallière” transformou-se em 
norma internacional, difundido 
em inúmeros países fabricantes de 
boca-de-fogo. Na Inglaterra, a pri-
meira uniformização de material 
bélico foi feita pelo Cel. Bogard, de 
1716 à 1719, que foi posteriormen-
te reformulada por Armstrong a 
partir de 1727.7 
Outra inovação no século XVIII foi 
o emprego regular do “obus”, um 
canhão mais curto, de tiro curvo, 
Artilharia de Vallière (1735)
Canhão francês Gribeauval com desenho simplificado sem ornamentações barrocas – 
Tratado de Heinrich O. Schell’s de 1800
Espanha, grande 
parte da atual Itália, 
Borgonha, Países 
Baixos e as posses-
sões nas Índias e no 
Novo Mundo. A 
partir de 1580, com a 
morte de D. Henri-
que em Portugal, 
que não deixou des-
cendentes diretos, 
Felipe II, cuja mãe 
Isabel era filha de D. 
Manuel I, assumiu o trono português 
com o título de Felipe I. Toda a Amé-
rica ficou unificada até 1640.
Grande parte da atual Itália tam-
bém pertencia à Espanha ou estava 
sob protetorado do Império dos 
Habsburgo. Daí, saíram inúmeros 
arquitetos, engenheiros militares e 
matemáticos para trabalhar na corte 
de Felipe II, que havia sido governa-
dor da região milanesa antes da abdi-
cação de seu pai. Esses especialistas 
“espano-italianos”, transformaram os 
arcaicos sistemas defensivos existen-
tes no novo mundo, introduzindo os 
modernos preceitos da arquitetura 
militar renascentista, apropriados 
para a nova artilharia que surgia. 
Os armamentos de Carlos V e 
Felipe II eram propícios para o “tiro 
tenso” ou de trajetória rasante. O 
morteiro de “tiro 
curvo” utilizado 
nessa época para 
atingir alvos ocul-
tos por cortinas ou 
afundar navios, não 
possuía precisão e 
funcionava em fun-
ção do acaso e das 
tentativas. A balísti-
ca ainda desconhe-
cia a ação da gravi-
dade e a resistência 
do ar, fundamentais para o cálculo 
da trajetória curvilínea. Durante o 
reinado de Felipe II, o mais impor-
tante engenheiro militar espano-ita-
liano na América era Giovanni Batis-
ta Antonelli, patriarca de uma famí-
lia que adotou o mesmo ofício. Os 
Antonelli introduziram na arquite-
tura do novo mundo, o sistema de 
plataformas de armas escalonadas, 
que permitia à artilharia de defesa, 
lançar tiros rasantes (trajetória 
tensa) e mergulhantes (trajetória 
inclinada) contra os navios inimi-
gos. Os projetos das Fortalezas de 
El Morro em Havana, de San Felipe 
del Morro em Porto Rico e da Barra 
Grande no Guarujá, todos da lavra 
dos Antonelli, seguem este estilo.
O rei da Suécia (1611-1632)Gusta-
vo Adolfo, durante a Guerra dos 
Felipe II de Espanha – 
Felipe I de Portugal, 
retratado por Rubens
Artilharia de Gustavo 
Adolfo: pequeno 
canhão escocês 
(1642) 
do Museu do Castelo 
de Edimburgo
A Evolução dA ArtilhAriA
43
ArquiteturA MilitAr
42
F oi seu padrinho q u e m o 
iniciou nos estu-
dos da artilharia 
na Academia de 
Viana. Em 1738, 
Alpoim foi desig-
nado a reger o 
“ensino de enge-
nharia militar” 
no Rio de Janeiro 
com o posto de 
sargento-mor. Sil-
va-Nigra atribuiu 
ao Brigadeiro 
Alpoim a intro-
dução, no Brasil, 
da verga em 
“arco abatido” 
nas suas obras no 
Rio de Janeiro, 
como o Palácio 
dos Vice-reis e o 
Arco do Teles, e 
no Palácio dos 
G o v e r n a d o re s 
em Ouro Preto. 
Mas foi no seu 
livro “Exame de 
A r t i l h e i r o s ” 
publicado em 1744 em Lisboa, con-
siderado um dos primeiros e escri-
tos no Brasil, que o seu amplo 
conhecimento sobre a engenharia 
militar pode ser apreciado. Esse 
Tratado permite-nos compreender 
o que foi a artilharia luso-brasileira 
no século XVIII.8
O “Exame de Artilheiros” abran-
ge a matemática, a geometria e a 
artilharia, sempre acompanhadas 
de elucidativos desenhos. Descreve 
os canhões e seus apetrechos sem se 
esquecer de preceitos religiosos. 
Antes do tiro, recomendava que 
O “TRATADO DE ARTILHARIA” LUSO-BRASILEIRO 
DO ENGENHEIRO ALPOIM DE 1744
José Fernandes Pinto Alpoin foi um dos mais importantes engenheiros 
militares que atuaram no Brasil colonial. Nascido em Viana do Castelo, 
em 1700, teve como padrinho, outro célebre engenheiro militar, Manuel 
Pinto Vila Lobos, que em 1712 elaborou um projeto para a Fortaleza do 
Crasto em Santos posteriormente modificado por João Massé.
Santa Bárbara, 
padroeira dos artilheiros
Seção de um obuseiro do século XVIII 
segundo Rudyerd (1791-1793)
Canhão Paixhans de alma lisa, do 
século XIX - Forte da Bertioga (SP)
que possibilitava o carregamento 
com as mãos.
O “Sistema Vallière” foi aperfei-
çoado em 1765 pelo “Sistema Gri-
beauval”, cujo criador foi chamado 
por Napoleão Bonaparte de “pai da 
artilharia francesa”. O general Gri-
beauval introduziu o eixo de ferro 
nos reparos, criou o carretame leve 
de quatro rodas, e reorganizou a arti-
lharia de acordo com a função mili-
tar de Campanha, de Sítio, de Praça 
e de Costa. O sistema Gribeauval foi 
também responsável pela padroniza-
ção dos acessórios, a criação de peças 
mais leves e ligeiras e a eliminação 
de decorações supérfluas das peças, 
que passaram a ter uma aparência 
“limpa” – a influência do Barroco 
diminuía na arte militar. Em Portu-
gal essas inovações chegaram apenas 
no final do século XVIII.
O progresso da Física nos campos 
da força gravitacional e da resistên-
cia do ar, permitiu ao estudioso da 
balística Benjamin Robins (1707-
1751), estabelecer que a precisão do 
tiro estava associada à velocidade, 
que por sua vez dependia da carga e 
da forma do projétil.
A Evolução dA ArtilhAriA
45
ArquiteturA MilitAr
44
O s franceses creditam a invenção do raiamento ao General Treville de Beau-
lieu em 1855, e os norte-americanos 
a Daniel Treadwell.10
A Guerra da Criméia (1854-1855) 
entre a Prússia de um lado e a Tur-
quia, França, Inglaterra e o Piemon-
te do outro, foi talvez o último 
grande conflito internacional com a 
utilização dos canhões de alma lisa.
Durante o governo de Napoleão 
III na França, La Hitte, Temésier e 
Beaulieu construíram canhões de 
antecarga com raiamento em larga 
escala. Na Inglaterra, Lancaster 
construiu canhões de alma helicoi-
dal ovalada. Whitworth em 1855 
introduziu o raiamento em espiral 
com seção poligonal, e nesse mesmo 
ano, George Armstrong fabricou a 
primeira peça raiada de retrocarga 
composta de várias partes.
O forte atrito dos projéteis nos sul-
cos do raiamento demonstrou que a 
resistência do bronze ou do ferro 
fundido eram inadequados. Alguns 
autores atribuem ao inglês Blakely a 
A ÉPOCA DA ARTILHARIA RAIADA
Giovanni Cavalli, em 1846, construiu um obuseiro de retrocarga de 
150 mm de alma sulcada com dupla raia espiralada. O projétil, de 
forma ogival de 30 kg, atingiu a distância de 5 km com relativa precisão.
Projétil Armstrong (esq.), 
projétil Whitworth (dir.)
Canhão raiado Whitworth no 
Morro do Castelo por volta de 1895 
(abaixo)
“Ballas encadeadas, enramadas, 
palanquetas, de pernos, diamante 
e mensageira”. Desenho do “Exame 
de Artilheiros” de Alpoim – 1744
“São panelas de barro, com suas asas, cheias 
de pólvora fina, com uma granada carregada 
dentro. Se cobre com pele de carneiro e nas 
asas se colocam morrões acesos ou estopim”. 
Desenho do “Exame de Artilheiros” de 
Alpoim – 1744
“em nome de Deus e da senhora Santa 
Bárbara, pegará o Artilheiro a lanada”, 
para limpar a alma do canhão, “e 
feito o sinal da Cruz com a dita bala na 
boca da peça (…) meterá a bala em nome 
da Senhora Santa Bárbara”. 
Alpoim definia a Artilharia como 
“toda a sorte de peças, toda a sorte 
de armas, todas as ferramentas e 
petrechos, que podem servir na 
guerra, ou nos ataques das Praças e 
sua defesa, ou nas batalhas do mar, 
ou da terra”. Sobre a peça de artilha-
ria: “é um instrumento, ou boca-de-
fogo, comprido, e côncavo, por dentro, 
em forma redonda, feito de ferro, ou de 
bronze, com o qual por meio da pólvora, 
se arrojarão balas, bombas, e granadas”. 
Na segunda metade do século 
XVIII em Portugal, Bartolomeu da 
Costa (1731-1801) encarregado da 
fundição de obuseiros de campa-
nha, foi o responsável pela normali-
zação dos calibres.9.
A Evolução dA ArtilhAriA
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ArquiteturA MilitAr
46
Lançamento de foguete na Fortaleza de Itaipu
alguns para o Exército, inclusive um 
de 11 polegadas. A maior parte da 
artilharia de costa moderna era 
composta de canhões Whitworth, 
sendo que a partir de 1877, foram 
comprados diversos de retrocarga. 
Esses canhões (Armstrong e Whit-
worth), continuaram em serviço até 
o final da década de 1920, assim 
como alguns La Hitte, empregados 
em fortes menores. 
No fim do século XIX surgiram na 
França o canhão de tiro rápido, de 
trajetória tensa, com alcance de 
11.000 metros, e na Alemanha o obus 
105 mm de tiro curvo com alcance de 
6.000 metros. A Primeira Guerra 
Mundial foi o campo de teste, onde 
se consagrou a artilharia pesada com 
calibres variando de 155 à 280mm e 
alcance de até 40 km.
No Brasil, a defesa da costa resu-
mia-se à artilharia de alma lisa 
assentada nas velhas fortificações 
coloniais. A modernização iniciou-
se no princípio do século XX com o 
Ministro da Guerra Gal. João Nepo-
muceno Mallet, construindo as pri-
meiras fortalezas de concreto e 
adquirindo canhões Krupp e Sch-
neider-Canet. Os fortes foram arma-
dos com canhões que iam de 150 
mm (Krupp e Schneider) até 305 
mm (Copacabana), sendo que a 
defesa do Porto de Santos foi equi-
pada com seis peças de 150 mm Sch-
neider-Canet C/50 modelo 1902 
Tiro Rápido e quatro obuseiros de 
Krupp 280mm C/16 modelo 1912. 
Durante a 2ª Guerra se pensou em 
equipar o Porto de Santos com 
canhões de 7 e 12 polegadas norte-a-
mericanos. Os canhões foram com-
prados e a construção de um forte 
para eles chegou a começar, mas as 
obras foram interrompidas.
O Forte dos Andradas, no Guaru-
já, é um excelente exemplo dos pro-
Obuseiro Krupp de 280 mm do Forte dos 
Andradas, no Guarujá (SP)
Canhão Armstrong da Fortaleza de Itaipu no município de Praia Grande (SP).
Canhão Schneider-Canet 
do Forte de Jurubatuba
construção do canhão de aço forjado. 
A fábrica Krupp, na Alemanha, tam-
bém desenvolveu a fabricação de 
canhões de aço. Era a consolidação 
da artilharia raiada com a consagra-
ção do sistema de retrocarga, cujo 
desenvolvimento levou ao canhão de 
tiro rápido, que empregava cartu-
chos e disparadores elétricos.
O avanço tecnológico nas siderur-
gias, com o emprego do aço, cromo 
e níquel, transformou as empresas 
Krupp, Schneider, Armstrong, 
Bethlehem, Firth, Holtzer, etc., nos 
grandes fabricantes de armamentos 
na virada do século.
A Guerra do Paraguai surgiu no 
momento em queo País encontrava-
se com a artilharia obsoleta. Foram 
fabricadas no Rio de Janeiro alguns 
canhões de bronze no sistema La 
Hitte, copiados de canhões franceses 
e espanhóis adquiridos pouco antes 
do conflito, somando aos existentes 
Whitworth, além de inúmeras bocas-
de-fogo de alma lisa. A guerra civil 
norte-americana também fomentou a 
sua indústria bélica, que passou a 
fabricar excelentes artilharias como 
as de Rodman e Parrott. 
O exército brasileiro se rearmou, 
após 1872, com canhões Krupp de 
campanha de 75mm. Na artilharia 
de costa, a Marinha comprou um 
certo número de canhões Arms-
trong para seus fortes e repassou 
ArquiteturA MilitAr
48
As FortiFicAções 
coloniAis no BrAsil
Carlos A. Cerqueira Lemos
 CALIBRES E ALCANCES DA ARTILHARIA
 Ano Peça Peso da bala (Kg) Calibre (mm) Alcance útil (m)
 1620 Falcão 1,3 (sólida) 74 420
 1730 Canhão/1730 11 (sólida) 148 2.000
 1863 La Hitte 12 (explosiva) 121 4.100
 1863 Whitworth 14,5(explosiva) 97 5.380
 1895 Krupp 45,5(explosiva) 150 10.200
 1914 Krupp 445 (explosiva) 305 23.000
Notas
1 Alves, J. V. Portella F. “Seis Séculos de Artilharia - A História da Arma dos Fogos Largos, 
Poderosos e Profundos”. Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1959, p. 96.
2 Idem. Ibidem., p. 97.
3 Moreira, Rafael. “A Artilharia em Portugal na Segunda Metade do Século xv”, adaptado do 
texto original “A Artilharia Portuguesa nas Tapeçarias de Arzila” de Nuno José V. Valentim, in “A 
Arquitectura Militar na Expansão Portuguesa”. Comissão Nacional para os Descobrimentos 
Portugueses, Porto, 1994, pp. 16-26.
4 Lead, Peter. “Mons Meg: A Royal Cannon”. Mennock Publishing, Staffordshire, 1984.
5 “Documentos Históricos (mandados, alvarás, provisões, sesmarias) – 1549-1553”, vol. xxxviii. 
Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, Biblioteca Nacional, 1937, pp. 214-217.
6 Alves, J. V. Portella F. Op. cit., pp. 104-107.
7 Caruana, Adrian B.. “The identification o British Muzzle Loading Artillery”. Part 1, the 
Designers. In: “Canadian Journal of Arms Collecting”, vol. 21, nº 4, (nov. 1983), p. 132.
8 Alpoim, José Fernandes Pinto. “O Exame de Artilheiros” – 1744. Biblioteca Reprográfica 
Xerox, Rio de Janeiro, 1987.
9 Alves, J. V. Portella F. Op. cit., p. 147.
10 Manucy, Albert. “Artillery Trough the Ages”. Division of Publications National Park, 
Washington, dc, 1985, pp. 13-14.
blemas técnicos surgidos no Entre 
Guerras. Quando foi decidido cons-
truir o Forte dos Andradas (o último 
a ser construído no País), os obusei-
ros, ao invés de ficarem concentra-
dos em poços, como era o caso dos 
dois fortes com armas semelhantes 
do Rio de Janeiro (Duque de Caxias 
e Pico), foram dispersos na mata. 
Além disso, as instalações de apoio 
foram “enterradas” dezenas de 
metros abaixo do solo. Era a fortale-
za invisível dissimulada no relevo 
da paisagem da Ponta do Monduba.
Na Segunda Guerra Mundial 
decidiu-se modernizar a artilharia 
de costa do País, adquirindo-se 
material norte-americano composto 
de 99 peças Vickers-Armstrong de 6 
polegadas (152,4 mm), modelo 1917, 
para os Grupos de Artilharia de 
Costa Motorizada. Posteriormente 
foram usados também canhões de 
90 mm antiaéreos, em disparos de 
tiro tenso, contra embarcações.
O surgimento dos foguetes V2 na 
Segunda Guerra, marcou o início 
de uma nova fase da história da 
artilharia. Na costa paulista os 
canhões Vickers-Armstrong foram 
substituídos pelo Sistema de 
Foguetes Astros-II.

As FortiFicAções coloniAis no BrAsil
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ArquiteturA MilitAr
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INTRODUÇÃO
Na costa brasileira, as primeiras feitorias portuguesas corriam o 
risco permanente de assaltos de piratas ingleses, franceses e 
holandeses. Nacionalidades variadas também tentaram a posse 
efetiva de regiões ainda não ocupadas por gente de Portugal, 
querendo estabelecer enclaves destinados a transformar-se em 
colônias que romperiam a continuidade do litoral lusitano.
A França, por exemplo, soube aliar-se a alguns indígenas inimigos dos portugueses e 
chegaram mesmo a fixar-se longa-
mente, pelo menos no Rio de Janei-
ro, em 1555, e no Maranhão, em 
1612. Os holandeses, mais ambicio-
sos, organizados e financiados por 
poderosas companhias de comércio, 
trataram de conquistar núcleos já 
estruturados e ricos produtores de 
açúcar. Atacaram, no início do 
segundo quartel do século XVII, a 
Bahia e logo depois conquistaram 
Pernambuco, lá ficando quase vinte 
e cinco anos. 
Os primeiros estabelecimentos 
portugueses também se viram 
ameaçados pelos índios, nem sem-
pre amigos porque, guerreando-se 
entre si, muitas vezes atacavam as 
povoações dos colonizadores onde 
estivessem homiziados os seus 
desafetos, ali bem relacionados. 
Assim sendo, os portugueses eram 
hostilizados tanto pelos seus inimi-
gos europeus como, muitas vezes, 
pelos selvagens da terra conquista-
da. Inimigos, pois, possuidores de 
diferentes logísticas e estratégias, 
uns na Idade da Pedra Polida, usan-
do métodos primitivos, mas eficazes, 
Forte de São Marcelo - S. Salvador (1698) BN
As FortiFicAções coloniAis no BrAsil
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Ataque do corsário Duguay-Trouin ao Rio de Janeiro em 1712 Le Brésil 1909
dada a diferença numérica entre os 
opositores; outros providos de todos 
os recursos que a modernidade ofe-
recia naqueles tempos do nascimen-
to da pirobalística. Contra os índios 
havia a intimidação, até certo ponto 
fácil. Tomé de Sousa dava o exemplo 
matando-os às dezenas, a tiros de 
canhão, os selvagens aprisionados e 
amarrados uns aos outros com cor-
das. Para combater os invasores que 
vinham pelo mar, providos dos mais 
Tratado de Tordesilhas (1494): novos descobrimentos divididos entre 
Espanha e Portugal
Forte de São Marcelo em Salvador (BA), também chamado Forte do Mar. 
Obra de Frias de Mesquita (1622)
As FortiFicAções coloniAis no BrAsil
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ArquiteturA MilitAr
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mitindo o exame atento dos arredo-
res descampados; depois, os primei-
ros muros abaluartados. Vejamos, 
porém, os que nos interessa: as for-
talezas defensoras, de norte a sul, 
dos limites portugueses nas terras 
da América do Sul. 
Podemos estabelecer uma meto-
dologia de abordagem desse vasto 
tema relativo à defesa do território 
brasileiro, dividindo a história das 
fortificações em algumas etapas 
significativas do período colonial. 
Salvo melhor juízo, uma primeira 
etapa compreende os primeiros 
anos a partir de 1500 até o ataque 
holandês, aquele que verdadeira-
mente ameaçou a integridade do 
litoral brasileiro; corresponde, a 
grosso modo, ao tempo pioneiro 
de tomada de conhecimento do 
território somado ao período de 
dominação espanhola sobre Portu-
gal, que vai de 1580 até 1640. Uma 
segunda etapa, com ligeira sobre-
posição de datas em relação à ante-
rior, abrange o período de perma-
nência dos holandeses no litoral 
pernambucano, aproximadamente 
de 1630 a 1654, não havendo cons-
truções defensivas significativas 
no resto da costa, fora da nordesti-
na. Uma terceira etapa, na bacia 
amazônica, vai desde os últimos 
anos do século XVII até pratica-
mente ao fim do século XVIII, refe-
rindo-se aos planos de fortificação 
da área contra os franceses, ingle-
ses e holandeses, interessados em 
estabelecer domínio ao longo da 
margem esquerda do rio Amazo-
nas. A quarta etapa corresponde 
ao período em que os espanhóis 
da Argentina procuraram ocupar o 
litoral ao sul de Cananéia, já que 
ainda eram nebulosas as divisas 
entre os domínios de Castela e 
Portugal antes do Tratado de 
Madrid, de I750, e do Tratado de 
Santo Ildefonso, de 1777.
Artilheiros holandeses 
na Batalha 
de Guararapes. 
Detalhe da pintura 
“A Batalha de 
Guararapes” no 
forro da Igreja de 
N. Senhora da 
Conceição dos 
Militares em Recife, 
atribuída a João de 
Deus Sepúlveda.
Ataque holandês aos Engenhos na Bahia de Todos os Santos protegidos 
por paliçadas de madeira (1640), segundo Franz Post
recentes recursos em matéria de 
armamento com base na pólvora, tra-
taram os Lusitanos de providenciar 
fortalezas. Lembremo-nos, porém,de um aspecto: até 1580, o sistema 
defensório português era incipiente 
porque não havia, verdadeiramente, 
valores a defender, a não ser meia 
dúzia de povoações ainda não bem 
estruturadas economicamente atra-
vés de atividades lucrativas de modo 
efetivo. 
Foi durante o domínio espanhol 
sobre Portugal que realmente se 
organizaram os primeiros sistemas 
eruditos de fortificação, principal-
mente à vista do perigo holandês. 
Assim, desde aquele ano até 1640 a 
arquitetura das fortificações, no 
Brasil, foi baseada nas ordens dos 
arquitetos sob o comando espanhol 
e a vigilância especial de Felipe II. 
Os Italianos, na época os maiores 
especialistas em fortificações 
modernas apropriadas às novas 
armas de fogo, foram os mentores 
dos espanhóis, agora donos de toda 
a América. 
Podemos dizer que, de um modo 
geral, as fortificações brasileiras 
foram condicionadas à experiência 
italiana de fortificações a partir do 
século XVII, abandonando totalmente 
as maneiras transitórias baseadas 
ainda na tradição medieval das altas 
muralhas e das ostensivas torres de 
defesa. Agora havia que privilegiar 
as fortificações baixas e de grande, 
enorme, espessura. De pouca altura 
para oferecer o menor alvo possível, 
e grossas para absorver o impacto de 
projéteis de força incrível. 
Esses primeiros tempos de coloni-
zação, o primeiro século de posse, 
foram realmente anos de muito 
sacrifício e improvisação. Os docu-
mentos demonstram o heroísmo dos 
colonizadores defendendo-se de 
perigos de toda ordem. Esses papéis 
dos arquivos falam-nos das fortifi-
cações iniciais, principalmente pali-
çadas, cercas pontiagudas de paus-
-a-pique protegendo as pequenas 
povoações; trincheiras, atalaias, tor-
res, mesmo as de igrejas providas de 
seteiras, como a de Cananéia, per-
As FortiFicAções coloniAis no BrAsil
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ArquiteturA MilitAr
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in encontrou desguar-
necida a Fortaleza de 
Santa Cruz ao assaltar a 
cidade. Mas não deve-
mos esquecer o primei-
ro desses aventureiros 
do mar que saqueou o 
litoral sul brasileiro, 
que foi Thomas Caven-
dish, autor da proeza 
de encurralar toda a 
população de Santos, 
no Natal de 1591, den-
tro das igrejas, nos 
momentos das cerimô-
nias religiosas daquele dia e saquear 
a cidade e os modestos engenhos de 
açúcar no caminho de São Vicente.
Sabemos que o almirante Diogo 
Flores Valdez, na sua viagem de 
reconhecimento pela costa, anotou 
os lugares que deveriam ser guarne-
cidos e que chegou mesmo a erigir 
algumas fortificações até à altura de 
Santos, local onde a sua esquadra 
fora assaltada por ingleses. Ali fez 
modesta fortificação que, aos pou-
cos, foi sendo aperfeiçoada até se 
transformar na Fortaleza da Barra, 
ou de Santo Amaro, que 
hoje vemos na ponta da 
Praia daquela cidade. 
Do primeiro século, de 
1532, também é a 
pequena fortificação 
levantada por Martim 
Afonso para defender, 
na barra da Bertioga, a 
vila próxima de São 
Vicente do ataque dos 
índios tamoios, e parece 
que nisso tal providên-
cia foi inoperante, pois 
o local foi assaltado em 
1551 pelos selvagens, que acabaram 
por aprisionar o seu artilheiro, o ale-
mão Hans Staden, autor de célebre 
livro de memórias. Essa pequena 
Fortaleza da Bertioga foi aperfeiçoa-
da entre 1551 e 1560, e praticamente 
reconstruída em 1750. São essas 
duas fortalezas santistas, as únicas 
ainda existentes, que podem perten-
cer ao primeiro século na nossa clas-
sificação. As primeiras trincheiras e 
baterias do Rio de Janeiro foram tão 
alteradas a partir da transferência 
da capital do vice-reinado da Bahia, 
Felipe II, rei de Portugal e 
Espanha retratado por 
Ticiano
Forte da Bertioga 
localizado na 
entrada da Barra 
Pequena do Porto 
de Santos (SP).
A PRIMEIRA ETAPA
Por motivos bastante compreensíveis a primeira etapa, 
carece de ampla documentação escrita e é praticamente omissa 
em iconografia referente às primeiras fortificações brasileiras. 
Fortaleza de Santo 
Amaro da Barra 
Grande, construída 
por Flores Valdez na 
entrada do 
Porto de Santos (SP)
O s construtores militares vin-dos nas comitivas dos pri-meiros donatários e gover-
nadores eram infatigáveis, e talvez o 
pedreiro Luís Dias seja o modelo 
deles. Luís Dias esteve na Bahia com 
Tomé de Sousa por volta de 1549, lá 
residindo alguns anos. Construiu os 
primeiros baluartes e muros da 
cidade, tudo obra de taipa de pilão. 
Parece que a taipa de pilão foi, no 
começo da pirobalística, um mate-
rial recomendável nas fortificações 
porque amortecia o impacto dos 
projéteis, evitando o sempre perigo-
so ricochetear de alcance imprevisí-
vel. Essa qualidade talvez fosse de 
certo interesse, mas a precariedade 
e conservação permanente, ligadas 
à taipa, logo exigiram recobrimen-
tos de pedra aparelhada, fazendo a 
pedra o papel do taipal.
Como sabemos, até o início do 
século XVIII, os maiores rendimentos 
de Portugal no Brasil provinham da 
produção açucareira das áreas lito-
râneas do Nordeste. Da Bahia para o 
sul, desde os primeiros anos até 
aquela data, as povoações, eram 
muito pobres, sem expressão algu-
ma que pudesse justificar um siste-
ma de defesa categorizado. Os 
pequenos portos daquelas humildes 
cidades eram unicamente assedia-
dos por corsários já conformados 
com os irrisórios despojos que ante-
viam. Talvez ali aportassem mais 
por desfastio ou diversão, porque 
nada havia de importante a roubar. 
E vinham de vez em quando, pas-
sando ao lado de fortalezas vazias e 
de canhões abandonados, como 
aconteceu no Rio de Janeiro em 
1712, quando o pirata Duguay-Trou-
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ArquiteturA MilitAr
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Fortaleza dos Reis Magos em Natal. Em 
1603, essa fortificação foi reconstruída com 
novo projeto de Francisco Frias de 
Mesquita, definida por uma tenalha em 
cauda de andorinha na parte posterior e 
uma obra coroa na frente. M.I.
governo de Matias de Albuquer-
que. A obra foi terminada em 1612 
e elogiada, como é relatado por 
Sousa Viterbo. Possuía nove lados, 
ocupando praticamente toda a 
superfície do parcel que lhe deu o 
nome, medindo aproximadamente 
dez braças de diâmetro, e a sua 
muralha alamborada tinha mais 
de quatro braças de altura. O pró-
prio Frias, em 1618, escreveu que o 
povo espontaneamente havia con-
corrido com recursos para o fabri-
co desta fortaleza, auxílio também 
ocorrido durante a construção da 
matriz de Olinda, o que sugere 
tenha sido aquele templo também 
projetado por ele. 
Em 1614, Francisco Frias de Mes-
quita estava às voltas com a Forta-
leza dos Reis Magos, em Natal, Rio 
Grande do Norte, que fora iniciada 
em 1598 pelo padre jesuíta Gaspar 
Samperes. O arquiteto José Luís 
Mota Meneses, no seu livro sobre 
as fortificações do litoral nordesti-
no brasileiro, vê proximidade de 
concepções entre este projeto de 
Frias de Mesquita e o da Fortaleza 
de Jesus em Mombaça, da segunda 
metade do século XVI, onde espe-
cialistas italianos atuaram segundo 
os mais recentes critérios de fortifi-
cação. Assim, a Fortaleza dos Reis 
Magos não seria mais que um 
exemplar feito segundo uma conti-
Forte do Picão em Recife em mapa de 1759 P.J. Caetano
em 1763, e a seguir à instalação da 
corte de D. João VI e à independên-
cia, proclamada por D. Pedro I, que 
mais nada de original existe, restan-
do delas somente vagas indicações 
e velhas plantas e vistas em esmae-
cidas aquarelas e em algumas gra-
vuras já do século XVIII.
No alvorecer do século XVII, 
sobressai Francisco Frias de Mes-
quita e sua obra, englobando, 
inclusive, trabalhos de arquitetura 
religiosa. Francisco Frias de Mes-
quita, engenheiro militar portu-
guês, nasceu em 1578, e aos 20 
anos de idade conseguia ser pen-
sionista de Felipe II numa das três 
vagas existentes no curso de 
Arquitetura que o monarca manti-
nha em Lisboa. Com os estudos 
concluídos em 1603, é remetido ao 
Brasil com o importante título de 
engenheiro-mor, permanecendo 
na colônia por trinta e dois anos de 
muito trabalho. Foi, além de enge-
nheiro militar, também soldado 
valoroso. Por volta de 1608,estava 
a construir a Fortaleza da Laje, 
também conhecida por Castelo do 
Mar, Forte de São Francisco ou 
Forte do Picão, no Recife, desenho 
de Tibúrcio Spanochi, no tempo do 
As FortiFicAções coloniAis no BrAsil
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ArquiteturA MilitAr
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1622, projeta, com base nas orienta-
ções de Spanochi, o Forte do Mar, 
em Salvador. Essa também é uma 
fortificação brasileira importante, 
imaginada para defender a capital 
baiana dos holandeses. Construída 
sobre uma laje que aflorava na maré 
baixa, como no caso do Recife, 
ainda ostenta a sua forma original 
circular, com quase 90 m de diâme-
tro. Também foi chamada de São 
Marcelo ou de Nossa Senhora do 
Pópulo. Durante a frustrada inva-
são holandesa de 1624–1625 sofreu 
agravos que depois foram repara-
dos pelo próprio Frias.
Vista do Forte dos Reis Magos, em Natal (RN). 
Desenho da Casa de Pólvora, de autoria de Frias de Mesquita.
nuidade teórica norteadora das 
novas defesas. A fortaleza em causa 
não possui os já vigentes baluartes 
triangulares agenciados às cortinas 
pelos flancos de ângulos variados. 
A sua muralha envolvente é quase 
um retângulo de 50 m por 100 m 
cujos lados são quebrados fazendo 
ângulos reentrantes na maior 
dimensão e um ângulo saliente na 
face que olha para o mar. Na face 
oposta, há a entrada defendida por 
dois “orelhões”, espécie de baluar-
te provido de um só flanco, como 
mostra com mais clareza a ilustra-
ção. Talvez seja a Fortaleza dos Reis 
Magos o mais belo exemplar de 
fortificação remanescente dos tem-
pos heróicos da posse portuguesa, 
constituindo exemplo de fortifica-
ção única isolada na vastidão do 
litoral abandonado, defendendo 
tão- somente a humilde povoação 
de Natal. O seu papel era mais polí-
tico, simbolizando a inamovível 
presença luso-espanhola da costa. 
Muitas vezes a fortaleza defendeu-
se bravamente, mas um dia, em 
dezembro de 1631, a sua pequena 
guarnição não resistiu ao poderio 
de dois mil holandeses chegados 
numa esquadra de 16 navios. 
Então, passou a chamar-se Castelo 
Ceulen. Foi recuperada em 1654. 
Em 1617, na barra da lagoa de 
Araruama, nas proximidades da 
recém-fundada vila de Cabo Frio, 
Frias localiza o Forte de São Mateus, 
obra destinada a proteger aquela 
área das incursões de ingleses e 
holandeses que ali, com a conivên-
cia dos índios, furtavam pau-brasil. 
Nesse ano, freqüenta o Rio de Janei-
ro, ali próximo, e elabora o seu mais 
prestigiado projeto de edifício reli-
gioso: o Mosteiro de São Bento. Em 
Forte de Jesus em Mombaça segundo desenho de João Teixeira Albernaz c. 1548. ONB
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ArquiteturA MilitAr
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Ataque dos holandeses à cidade do Recife em 1630 Le Brésil
estiveram relacionadas com a pre-
sença batava ali por volta de 1625. 
São, evidentemente, obras que 
devem estar situadas na primeira 
etapa da classificação que estamos 
seguindo, como muitas outras, tal 
qual as do Recife, conforme vere-
mos, mas que somente agora estão 
a ser tratadas devido precisamente 
à já citada sobreposição no tempo 
entre as duas primeiras divisões. 
Salvador, situada numa baía de 
grandes proporções, que possui 
abertura para o “mar Oceano” com 
mais de duas léguas de largura, 
extensão muito grande para permi-
tir o cruzamento de fogos de armas 
ainda incipientes naquele tempo, 
na verdade nunca pôde ostentar 
um racional sistema de defesa, 
tanto que as principais escaramuças 
entre baianos e holandeses, em 
1624-1625 e depois em 1638, se 
deram em terra, já que vários eram 
os pontos envoltórios a Salvador 
permitindo livre desembarque de 
tropas. Ali, dentre as principais for-
talezas vindas ainda do tempo dos 
portugueses, destacamos o Forte de 
Santo Antônio da Barra, a Fortaleza 
de Nossa Senhora de Monserrate 
(ou de São Felipe) e o Forte do Mar, 
de que já falamos quando tratamos 
da obra de Francisco Frias de Mes-
quita. Depois das ameaças holande-
sas, o sistema defensivo baiano foi 
aperfeiçoado dentro das possibili-
dades e acabou por possuir cerca de 
vinte e quatro fortificações de varia-
dos tamanhos. 
O citado Forte de Santo Antônio 
da Barra data aproximadamente de 
É verdade que esse sistema de apoio mútuo foi iniciado pelos espanhóis, inclusive na 
Bahia, mas foram os holandeses que 
o aperfeiçoaram, construindo forti-
ficações em pontos desguarnecidos 
e fortalezas projetadas conforme 
novas bases, próprias da chamada 
“escola holandesa”. Na verda-
de, essa maneira batava 
nada tem de muito dife-
rente da italiana, como 
nos lembra Ulisses 
Pernambucano de 
Melo Neto no seu 
trabalho “O Forte 
das Cinco Pontas”, 
pois foi um técnico 
vindo da Itália, em 1559, 
chamado Marchi, quem 
introduziu nos Países Baixos 
alterações nos critérios antigos de 
agenciamento de defesas ali ainda 
vigentes. O que caracteriza a siste-
mática holandesa é a maneira de 
implantação no terreno, a escolha de 
áreas planas, até mesmo alagadiças 
e a introdução do chamado “sistema 
bastionado”, isto é, a localização 
fora dos muros principais de bas-
tiões ou trincheiras avançadas 
fazendo linhas concêntricas de defe-
sa em volta da fortaleza propria-
mente dita. É claro que essa acomo-
dação às planícies nem sempre era 
viável nas costas brasileiras, mas, 
de um modo geral, ela foi aplicada 
tendo sempre o cuidado de se evi-
tar padrastos próximos, providên-
cia que os portugueses nem sempre 
tomavam, embora fosse justa-
mente da sua tradição a 
fortificação dos pontos 
altos. Enfim, de uma 
maneira geral, os 
portugueses privile-
giaram as elevações 
do terreno na insta-
lação das suas forti-
ficações e os holande-
ses, ao contrário, 
davam prioridade às pla-
nícies. Está claro também que 
os holandeses, depois de se apossa-
rem do litoral nordestino, aprovei-
taram as fortalezas portuguesas ali 
encontradas, reformando-as segun-
do as suas conveniências. 
Antes de tratarmos das ativida-
des holandesas no Recife, é conve-
niente, porém, que sejam lembra-
das as instalações de defesa de Sal-
vador, na Bahia, porque, de um 
modo ou de outro, elas também 
A SEGUNDA ETAPA
A segunda etapa da história das fortificações brasileiras trata 
primordialmente das obras relacionadas com o período holandês 
em Pernambuco e áreas limítrofes, onde, pela primeira vez no Brasil, o 
sistema defensivo é articulado, envolvendo variados redutos, cujos 
alcances de tiro garantiam a defesa contínua de extensa faixa litorânea.
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ArquiteturA MilitAr
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gentil-homem florentino Baccio di 
Filicaya, que certamente trouxe 
para o Brasil as novidades arquite-
tônicas não só referentes às constru-
ções militares, mas também às 
obras religiosas e particulares. Essa 
Fortaleza de Nossa Senhora de 
Monserrate tem como planta um 
hexágono irregular mostrando nos 
vértices seis torreões, ou guaritas 
abobadadas, que lhe marcam incisi-
vamente a silhueta. 
Na área de influência pernambu-
cana há a destacar, na região da 
Paraíba, a célebre Fortaleza de 
Santa Catarina de Cabedelo. O seu 
primeiro projeto deveu-se ao zelo 
do já citado Diogo Flores Valdez 
nas suas vistorias nos pontos 
importantes ainda falhos de defesas 
eficazes. Na foz do rio Paraíba pro-
videncia ele a ereção de um forte 
projetado pelo engenheiro alemão 
Cristovan Lintz por volta de 1585. 
Foi trabalho mal executado, no 
entanto. As suas taipas não resisti-
ram aos anos e às intempéries. Isso 
fez com que o próprio Felipe II orde-
nasse uma “reformação” de tal for-
taleza, altamente degradada. Cum-
prindo tais ordens, em 1618, D. Luís 
de Sousa, o então governador-geral 
da capitania, vai ao local, na com-
panhia de Francisco Frias de Mes-
quita, e planeia uma nova constru-
ção, aquela que hoje ombreia em 
Forte de Nossa Senhora de Monserrate, Salvador (BA)
1534 e foi reconstruído em pedra e 
cal pelo governador-general D. 
Francisco de Sousa, e desde aquele 
tempo a sua eficácia foi posta em 
causa. Foi tomado pelos holandeses 
e logo depois reconquistado. Em 
1627, nas suas imediações, foram 
levantados os Fortes deSanta Maria 
e São Diogo, para que fossem evita-
dos novos desembarques nas 
redondezas. 
As três fortificações, no entanto, 
estão à mercê de padrastos bem 
próximos, o que as torna vulnerá-
veis. O de Santo Antônio da Barra 
teve, ao longo do tempo, o seu perí-
metro aumentado, passando a mos-
trar a forma de um polígono irregu-
lar de dez lados e nenhum baluarte, 
mas tão-somente guaritas nos vérti-
ces salientes. 
A Fortaleza de Nossa Senhora de 
Monserrate de Salvador tem inte-
resse arquitetônico e, ao mesmo 
tempo, documental porque talvez 
seja a última fortificação brasileira 
projetada e construída por um 
arquiteto italiano especialmente 
trazido para tal mister. Antigamen-
te chamava-se Forte de São Felipe, 
em homenagem ao rei espanhol, 
tendo sido feita sobre uma primiti-
va fortificação, entre 1591 e 1602, 
por ordem do mesmo D. Francisco 
de Sousa, tendo como arquiteto o 
Forte de Santo Antonio da Barra 
em Salvador (BA), em desenho 
do século XVIII AHE
Sistema bastionado segundo o “Método Luzitano de Desenhar Fortificações das Praças 
Regulares e Irregulares”, de Serrão Pimentel (1680)
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Fortaleza de Santa Catarina de Cabedelo na Paraíba Barlaeus, 1647
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A TERCEIRA ETAPA
Restaurada a soberania portuguesa na totalidade do litoral 
brasileiro do Nordeste em 1654, ficaram ainda indecisas as 
demarcações separando o Brasil das possessões espanholas.
conservação, até surgir a planta defi-
nitiva, que hoje vemos, caracterizada 
pelo convencional quadrado provido 
de quatro baluartes nos seus vértices.
A Fortaleza de Santa Cruz de Ita-
maracá, também denominada Forte 
Orange pelos holandeses que a cons-
truíram, data de 1631 e, situada ao sul 
da ilha daquele nome, defendia a 
barra do Rio Igaraçu, que, mesmo na 
maré baixa, dava calado aos navios 
de grande porte. Possuía planta qua-
drada, com os sempre presentes qua-
tro baluartes de ângulo agudo.
T udo era muito nebuloso de Santa Catarina, ao sul de Cananéia, em direção a Bue-
nos Aires, e também nada estava 
definido no que diz respeito às divi-
sas no âmago do continente, pois 
todo aquele sertão, praticamente 
desconhecido, aguardava uma deci-
são que indicasse o que pertencia a 
Portugal e o que seria espanhol. 
Contrariando o velhíssimo Tratado 
de Tordesilhas, estavam os portu-
gueses fixados centenas de léguas a 
oeste, quase nas faldas dos Andes, e 
realmente aquele remoto labirinto 
de rios envolvendo gigantescas flo-
restas que escondiam riquezas ini-
magináveis haveria que ser reparti-
do. Os bandeirantes paulistas, desde 
os anos iniciais do século XVII, per-
correram, em busca de índios a 
escravizar e de ouro, em viagens que 
duravam anos, todas aquelas remo-
tas paragens e durante essas andan-
ças fixaram-se em pontos isolados, 
que serviram de balizas lusitanas na 
hora das confrontações territoriais. 
Em 1750, ocorre o Tratado de 
Madrid, que estabelece as divisas 
entre as duas nações com base numa 
Forte Orange na Ilha de Itamaracá (PE), em 
gravura do século XVII do livro de Barlaeus.
Fortaleza de Santa Cruz de Itamaracá, na Barra do Rio Igaraçu, (PE). Antigo Forte Orange, 
edificado pelos holandeses em 1631, foi tomado pelos portugueses em 1654, quando foi 
rebatizado com o nome atual. AHU
importância arquitetônica com os 
Reis Magos de Natal. Em 1634 é 
tomada pelos holandeses, que ali 
ficam por vinte anos fazendo obras 
de ampliação e manutenção. Passou 
a chamar-se Forte Margaret. A sua 
planta irregular apresenta três 
baluartes voltados para o oceano. 
Da Paraíba para o sul começa o 
grande sistema defensivo que carac-
terizou o período da dominação 
holandesa. Só na costa pernambuca-
na podemos identificar vinte e oito 
fortificações, fora as de Alagoas. Cita-
remos somente as duas principais, 
que têm certo valor arquitetônico e 
histórico e testemunham a obra forti-
ficatória dos subordinados do conde 
Maurício de Nassau: a Fortaleza de 
Santiago das Cinco Pontas e a Forta-
leza de Santa Cruz de Itamaracá (ou 
Forte Orange). 
Hoje, a Fortaleza das Cinco Pontas 
está envolta pelo casario do Recife e 
há muitos e muitos anos que já não 
existem os cinco baluartes que lhe 
deram o nome, apelido, aliás, vindo 
dos tempos dos flamengos, que resis-
tiu a todas as modificações introduzi-
das no seu perímetro. Realmente, 
essa fortaleza, levantada em 1630 
p e l o e n g e n h e i ro h o l a n d ê s 
Commersteyn, possuía um períme-
tro pentagonal que aos poucos pas-
sou a ser remodelado em obras de 
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zuela os espanhóis desciam pelos 
rios da cabeceira para atingir o mar 
facilitador das comunicações com a 
Europa. Havia que trancar o rio. 
Coisa difícil, no entanto, porque só 
da terra firme seria impossível o esta-
belecimento articulado de fortifica-
ções. A defesa dos canais necessaria-
mente haveria de ser comprometida 
com o emprego de navios de guerra. 
No entanto, em alguns pontos julga-
dos estratégicos foram levantadas 
poucas fortalezas, que vêm a consti-
tuir as da terceira etapa da nossa clas-
sificação, e duas delas, pelo menos, 
tiveram, e têm ainda, grande signifi-
cação arquitetônica: uma, a de 
Macapá, no imenso delta amazônico, 
e a outra bem no interior, nas mar-
gens do Guaporé, já para os lados da 
remota capitania do Mato Grosso. 
A Fortaleza de São José de Macapá 
foi projetada em 1764 por Henrique 
Antônio Galluzzi. Esse cidadão ita-
liano, parece que natural de Mânto-
va, foi contratado em 1750 como aju-
dante de infantaria, com o exercício 
de engenheiro. São José de Macapá 
foi, deve-se reconhecer, uma fortale-
za de pouca eficácia, dada a imensa 
largura do rio à sua frente e também 
por estar sempre malguarnecida de 
soldados devido à pestilência do 
local, naquela época caracterizado 
por pântanos envolventes. Pois 
Planta da Fortaleza de N. Sra. 
de Nazareth no Rio Tocantins (PA) AHE
Projeto de fortificação da cidade de Belém do Pará, de Gaspar Gronsfeld MI
Portal do Forte 
Príncipe da Beira,
em Rondônia CI
incipiente cartografia que simples-
mente apontava rumos ou direções, 
sem a possibilidade de indicar com 
exata precisão o percurso da raia 
separadora das duas línguas. Há 
necessidade, então, de profissionais 
que viessem à América do Sul para 
demarcar os limites imaginados 
pelos diplomatas na corte espanhola. 
Portugal arregimenta o que há de 
melhor entre os seus profissionais, 
principalmente cartógrafos e enge-
nheiros militares, e manda também 
que sejam contratados especialistas 
italianos que facilitem o intento de 
balizar o território através de obser-
vações astronômicas e, inclusive, 
localizar fortificações nos pontos-
chave. Dentre esses italianos distin-
guiram-se Antônio José Landi, Hen-
rique Antônio Galluzzi e Domingos 
Sambuceti, todos chegados ao Norte 
do Brasil poucos anos depois do refe-
rido tratado diplomático. Dentre os 
três, Landi talvez tenha sido o mais 
famoso no exercício da profissão, 
pois revelou-se um arquiteto compe-
tente, tendo sido responsável pela 
introdução de novas versões estilísti-
cas que poderíamos chamar de “tar-
do-maneirismo” a partir de suas 
obras civis de Belém do Pará. No 
entanto, como engenheiro fortifica-
dor, assumiu aspecto apagado. Os 
seus patrícios, porém, na arquitetura 
militar tiveram papel atuante. 
O rio Amazonas era vulnerável 
porta aberta para o interior do conti-
nente, e daí a extensão do problema 
surgido aos portugueses: pela sua 
quilométrica foz, ingleses, franceses e 
holandeses, insatisfeitos só com a 
posse das Guianas, voltadas para o 
Atlântico, desejavam também fazer 
frente para as águas amazônicas, 
enquanto no Peru, Colômbia e Vene-
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Real Forte Príncipe da Beira em Guajará Mirim (RO). 
Em baixo, detalhe do portal do forte CI
Projeto e construção da Guarita 
do Forte Príncipe da Beira.
naquele deserto, longe de tudo e de 
todos, o capitão-general

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