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A evasão escolar ocorre quando o aluno deixa de frequentar a aula, caracterizando o abandono da escola durante o ano letivo. No Brasil, a evasão escolar é um grande desafio para as escolas, pais e para o sistema educacional. Segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira), de 100 alunos que ingressam na escola na 1ª série, apenas 5 concluem o ensino fundamental, ou seja, apenas 5 terminam o nono ano ( antiga 8ª série / IBGE, 2007). Em 2007, 4,8% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental (1ª a 8ª séries/1º ao 9º ano) abandonaram a escola. Embora o índice pareça pequeno, corresponde a quase um milhão e meio de alunos. No mesmo ano, 13,2% dos alunos que cursavam o Ensino Médio abandonaram a escola, o que corresponde a pouco mais de um milhão de alunos. Muitos desses alunos retornarão à escola, mas em uma incômoda condição de defasagem idade/série, o que pode causar conflitos e possivelmente nova evasão. As causas da evasão escolar são variadas. Condições socioeconômicas, culturais, geográficas ou mesmo questões referentes aos encaminhamentos didáticos – pedagógicos e a baixa qualidade do ensino das escolas podem ser apontadas como causas possíveis para a evasão escolar no Brasil. Os motivos para o abandono da escola Dentre os motivos alegados pelos pais ou responsáveis para a evasão dos alunos, são mais frequentes nos anos iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª séries/1º ao 9º ano) os seguintes: Escola distante de casa, falta de transporte escolar, não ter adulto que leve até a escola, falta de interesse e ainda doenças/dificuldades dos alunos. Ajudar os pais em casa ou no trabalho, necessidade de trabalhar, falta de interesse e proibição dos pais de ir à escola são motivos mais frequentes alegados pelos pais a partir dos anos finais do ensino fundamental (5ª a 8ª séries) e pelos próprios alunos no Ensino Médio. Cabe lembrar que, segundo a legislação brasileira, o ensino fundamental é obrigatório para as crianças e adolescentes de 6 a 14 anos, sendo responsabilidade das famílias e do Estado garantir a eles uma educação integral. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB9394/96) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um número elevado de faltas sem justificativa e a evasão escolar ferem os direitos das crianças e dos adolescentes. Nesse sentido, cabe a instituição escolar valer-se de todos os recursos dos quais disponha para garantir a permanência dos alunos na escola. Prevê ainda a legislação que esgotados os recursos da escola, a mesma deve informar o Conselho Tutelar do Município sobre os casos de faltas excessivas não justificadas e de evasão escolar, para que o Conselho tome as medidas cabíveis. http://www.infoescola.com/direito/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente/ http://www.infoescola.com/direito/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente/ http://www.infoescola.com/educacao/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao/ http://www.infoescola.com/educacao/evasao-escolar/#%23 http://www.infoescola.com/educacao/ensino-medio/ http://www.infoescola.com/educacao/ensino-fundamental/ http://www.infoescola.com/educacao/evasao-escolar/#%23 http://www.infoescola.com/educacao/instituto-nacional-de-estudos-e-pesquisas-educacionais-anisio-teixeira-inep/ http://www.infoescola.com/educacao/instituto-nacional-de-estudos-e-pesquisas-educacionais-anisio-teixeira-inep/ http://www.infoescola.com/educacao/evasao-escolar/#%23 http://www.infoescola.com/educacao/evasao-escolar/#%23 Fontes: BRASIL, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira. Sinopse Estatística da Educação Básica 2007. Acesso em 14 set. 2009. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/> BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República. Desinteresse é o principal motivo da evasão escolar dos jovens, afirma pesquisa da FGV-RJ A falta de interesse pela escola é o principal motivo que leva o jovem brasileiro a evadir. A pesquisa Motivos da Evasão Escolar, lançada nesta quarta-feira pela Fundação Getulio Vargas - FGV-RJ, revela que 40% dos jovens de 15 a 17 anos que evadem deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante. A necessidade de trabalhar é apontada como o segundo motivo pelo qual os jovens evadem, com 27% das respostas, e a dificuldade de acesso à escola aparece com 10,9%. Coordenada pelo economista Marcelo Neri, a pesquisa mostra que, apesar de diversos estudos demonstrarem o impacto da Educação na qualidade de vida e na renda dos indivíduos, em 2006, 17,8% da população 15 a 17 anos, que deveriam estar cursando o Ensino Médio, caso não houvesse atraso escolar, estavam fora da escola. Entre as motivações que levaram esses jovens a evadir, na comparação entre 2004 e 2006, o desinteresse pela escola caiu de 45,12% para 40,29%, embora ainda seja o principal motivo. Já a necessidade de trabalhar aumentou de 22,75% para 27,09%. O coordenador da pesquisa acredita que o desinteresse do jovem pela escola reflete a falta de demanda por Educação. "O que a pesquisa está mostrando é que não basta garantir o acesso ou criar programas de transferência de renda para assegurar que esse jovem permaneça na escola, é preciso torná-la mais atrativa, interessante e cativante. O problema da evasão é grave e atinge quase 20% da população de 15 a 17 anos", explica. Na opinião do pesquisador, as políticas públicas só terão sucesso se houver a concordância e a participação dos pais e os alunos. "É preciso entender as necessidades dos clientes dessas políticas", explica. Marcelo Neri diz que é importante informar e conscientizar esses jovens sobre os benefícios trazidos pela Educação e atraí-los à escola. Na avaliação de Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco, uma das organizações que patrocinam o estudo, esses dados refletem uma situação preocupante. "As pessoas não estão atentas a esse problema, nem os governos, nem a opinião pública, nem a mídia, não se deram conta de que isto é uma bomba relógio. Estamos alimentando a exclusão desses jovens da entrada no mercado de trabalho moderno e, pior do que isso, excluindo o País de condições de competitividade no mercado internacional", argumenta. Segundo Wanda Engel, falta ao jovem entender que a Educação é um investimento necessário. "Conseguir o diploma do Ensino Médio é essencial para entrar na vida adulta", afirma. Para ela, o problema precisa ser atacado em três níveis: criar as condições mínimas para que esse jovem freqüente a escola; melhorar a qualidade da escola; e fazer um trabalho para que esse jovem readquira a sua capacidade de sonhar com um futuro. "Os gestores públicos precisam conhecer o fenômeno, avaliar na sua própria realidade o que pesa mais desses três níveis e desenvolver estratégias específicas para cada um", explica. O estudo, patrocinado por Fundação Educar DPaschoal, movimento Todos Pela Educação, Instituto Unibanco e Fundação Getulio Vargas - Rio de Janeiro, foi realizado com base nos suplementos de Educação das PNADs de 2004 e 2006 e na Pesquisa Mensal do Emprego - PME/IBGE, utilizando as respostas diretas de pais e alunos sobre os motivos da evasão escolar. Fonte: Todos pela Educação Mais informações: Veja a íntegra da pesquisa no site: http://www.fgv.br/cps/tpemotivos/ VEJA TAMBÉM MATÉRIA DO O GLOBO/AGÊNCIA BRASIL (ABAIXO) Uma pesquisa sobre motivos da evasão escolar no país realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), revela que o Brasil não conseguirá vencer a batalha pela melhoria da qualidade do ensino se não convencer primeiro os principais protagonistas: os alunos e pais. O estudo, coordenado pelo chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, Marcelo Neri, procura saber, por meio de perguntas diretas, por que o jovem não está na escola. A pesquisa foi realizada para analisar as causas da evasão escolar na visão dos próprios jovens e de seus pais - a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (Pnad) - e de avaliar a taxa de atendimento escolar - a partir de dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME). Para o professor Marcelo Neri, é fundamental a participação engajada de pais e alunos para que se chegue a bom termo na evolução dos dados da educação: http://www.fgv.br/cps/tpemotivos/ - Podemos ganhar todas as batalhas pela melhoria da qualidade da educação, adotando as melhores práticas educacionais, mas se não conseguirmos convencer os principais protagonistas - que são as crianças, os adolescentes e seus país - vamos perder a guerra - diz. Foram feitas aos estudantes e aos pais perguntas do tipo "porque não estão na escola; se pela necessidade de trabalhar; por não haver vaga ou escola perto de casa; dificuldade de transporte; ou por que não querem a escola que aí está?" Na avaliação do professor, as perguntas serviram para derrubar mitos como o de que os jovens de comunidades pobres deixam a escola entre 15 e 17 anos para trabalhar. A pesquisa mostra que, ao contrário do mito, muitos desses jovens estão fora da escola não porque são de comunidades pobres e têm que trabalhar. É em regiões ricas, quando a economia está mais aquecida, que eles deixam a escola. O crescimento econômico tira o jovem da escola mais nas regiões ricas do país do que nas mais pobres, que não oferecem oportunidade de trabalho para os pais e seus filhos - explica. Marcelo Neri disse ainda que a época atual - "de desaceleração da economia em função da crise externa e do 'apagão' da mão-de-obra" - cria uma oportunidade, um efeito colateral, que é positivo no meio de todas as dificuldades: a economia disputar menos o jovem com a escola. Entre as crianças de até 15 anos abrangidas pelo programa Bolsa Família, o papel do benefício é mais importante pelo controle de freqüência do que pela própria matrícula, uma vez que nessa faixa etária de 96% a 97% já estavam ou continuam na escola. O desafio maior é na faixa de 16 a 18 anos. O chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV avalia que o efeito do benefício é mais significativo para o crescimento do número de matrículas nas escolas públicas na faixa de 15 a 18 anos. - Sou um defensor dessa extensão da cobertura etária do Bolsa Família, porém, mais importante do que isso é você aumentar a atratividade da escola. No Brasil, os estudos procuram sempre olhar a questão pelo lado da oferta: você tem que melhorar, incentivar professores. Agora, quando você analisa o desempenho escolar dos alunos, vai ver que 80% das diferenças de notas de aprendizado nos diversos métodos de avaliação se dá por variáveis do domicílio do aluno ou do nível de educação do pai, da mãe ou ainda da renda da família, o que é frustrante para quem está pensando políticas públicas - diz. A pesquisa mostra ainda a existência de um gargalo no ensino médio, da mesma forma como já existiu no ensino fundamental. - Esse é o próximo desafio, como foi o ensino fundamental há alguns anos - relata. Incentivo Na opinião do economista, no entanto, para vencer este gargalo é preciso criar condições de atrair o jovem para a escola. - Mais do que criar uma extensão do Bolsa Família para a faixa até os 18 anos, como foi feito agora, a pesquisa mostra que é preciso despertar e conquistar o interesse do jovem em permanecer na escola - explica. Enquanto as meninas avançam na escolaridade e ainda assim são mais misteriosas ao falar das razões por que abandonam os estudos, os jovens do sexo masculino são mais diretos: não têm interesse ou têm que trabalhar. Reforma na educação Para o Ministro da Educação uma das medidas para acabar com a evasão escolar é a reformulação da educação no Brasil, principalmente do ensino médio. - Há duas reformas importantes em curso. A primeira é do sistema S (Senac e Senai), que terão que investir dois terço dos recursos para a oferta de cursos profissionalizantes gratuitos pra essa faixa estaria de 15 a 18 anos. A outra é a expansão da rede federal de ensino técnico profissional. Nós precisamos associar o ensino médio com a educação profissional. Essas médidas visam fazer com que os jovens vejam interesse em permanecer na escola - explica o ministro, acrescentando que este ano o programa Mais Educação está investindo recursos para ampliar a jornada escolar para o segundo turno com o objetivo de tirar os estudantes da rua e do tráfico de drogas. Segundo o ministro, a reforma do ensino fundamental também é importante para evitar a evasão. - A Prova Brasil, que avlaia os alunos de 4ª e 8ª série, vem sendo usada para organizar o currículo do ensino fundamental e também a formação de professores - diz. Fonte: O Globo/ Agência Brasil BRASIL TEM MAIOR TAXA DE ABANDONO ESCOLAR DO MERCOSUL Ana Okada Em São Paulo Atualizado às 15h00 O Brasil tem a maior taxa de abandono escolar no ensino médio dentre Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela: 10%. Ou seja, 1 em cada 10 jovens acabam abandonando a escola nesta etapa, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada nesta sexta-feira (17). Apesar da taxa ter melhorado --a pesquisa anterior revelava abandono de 13,2%-- dados da publicação confirmam o ensino médio como o "gargalo" da educação brasileira: dos jovens com idade ideal para estar nessa etapa -- com idades de 15 a 17 anos de idade -- apenas metade (50,9%) está na escola. No ensino fundamental o abandono é menor, mas ainda assim a taxa do país foi a maior: 3,2%, o que representa uma diminuição de 1,6 pontos percentuais em relação à taxa anterior, que era de 4,8%. Dentre os países citados, as menores taxas de abandono estão, no nível fundamental, no Uruguai (0,3%); e no médio, na Venezuela (1%). EVASÃO ESCOLAR: CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS. Márcia Rodrigues Neves Ceratti* RESUMO Este artigo aborda as causas e conseqüências da evasão escolar, especialmente na Educação de Jovens e Adultos, a partir de pesquisa qualitativa e etnográfica realizada na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos- Nova Londrina- Ensino Fundamental e Médio, no município de Nova Londrina. O objetivo é analisar elementos que causam a evasão escolar refletindo sobre o trabalho educativo, e a importância da prática pedagógica dos professores acerca dos conceitos envolvendo: mediação, historicidade, prática social e transmissão do conhecimento socialmente construído. O texto segue defendendo a necessidade da escola combater a exclusão social por meio do efetivo trabalho educativo voltado a instrumentalizar o aluno com o desenvolvimento eficaz da aprendizagem dos conhecimentos científicos/conteúdos, trabalhados nas diferentes áreas do conhecimento. Esse argumento caracteriza-se, por um lado, como uma maneira da escola enfrentar os problemas nesse campo, e por outro, uma possibilidade para que o aluno saia do complicado processo da evasão escolar. Palavras-chave: Evasão escolar. Trabalho educativo. Aprendizagem significativa. INTRODUÇÃO Nesse artigo, a pretensão é apresentar para a discussão as causas e conseqüências da evasão escolar, mas especificamente na Educação de Jovens e adultos, a partir de pesquisa qualitativa e etnográfica, realizada por meio da aplicação de questionários, com quatro a sete questões abertas, elaboradas para cada um dos três segmentos da comunidade escolar à saber: aluno, professor e equipe diretiva, efetuada na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos- Nova Londrina- Ensino Fundamental e Médio, no município de Nova Londrina, Estado do Paraná. Tal investigação envolveu a diretora, duas professoras pedagogas, três coordenadoras, quatro auxiliares administrativos, uma professora readaptada na função de bibliotecária, trinta e cinco professores e cento e quinze alunos, sendo 52 do Ensino Fundamental e 63 do Ensino Médio. Esta pesquisa procura analisar a relação aluno – professor – escolafamília na Rede Públicade Ensino do Estado do Paraná. Buscam verificar: a visão do aluno/ família sobre a escola pública em que estuda; a visão dos Professores da escola pública do Paraná sobre a sua escola de atuação; analisar a formação do Professor, inicial e continuada; analisar as condições físicas e materiais das escolas e analisar as condições humanas das escolas. O problema da evasão escolar preocupa a escola e seus representantes, ao perceber alunos com pouca vontade de estudar, ou com importantes atrasos na sua aprendizagem. Os esforços que a escola, na 3 pessoa da direção, equipe pedagógica e professores fazem para conseguir a freqüência e aprovação dos alunos não asseguram a permanência deles na escola. Pelo contrário, muitos desistem. Nesse sentido, é preciso considerar que a evasão escolar é uma situação problemática, que se produz por uma série de determinantes. Convém esclarecer que o termo evasão escolar será entendido como resultado do fracasso escolar do estudante e da própria instituição escolar, como se verá mais adiante ao estudar as causas e conseqüências da evasão escolar, assim também, como seus efeitos na produtividade da escola. Torna-se relevante explicar que produtividade será tomada sob dois aspectos: um diz respeito à conclusão dos estudos pelo aluno e outro se amplia para abranger o próprio resultado da apropriação do saber em seu sentido mais amplo, capaz de levar o aluno a se constituir como cidadão e sujeito histórico (VASCONCELLOS, 1995). Entender e interferir positivamente no processo da evasão escolar é um desafio que exige uma postura de desconstrução das verdades construídas pelos leitores, assumindo assim uma atitude reflexiva diante dos conhecimentos prévios acerca da evasão escolar. Assim vale destacar que essa situação é semelhante ao ato de conhecer citado por Freire (1982, p. 86), como um desafio, onde se lê que: O próprio fato de tê-lo reconhecido como tal me obrigou a assumir em face dele uma atitude crítica e não ingênua. Essa atitude crítica, em si própria, implica na penetração na “intimidade” mesma do tema, no sentido de desvelá-lo mais e mais. Assim, [...] ao ser a resposta que procuro dar ao desafio, se torna outro desafio a seus possíveis leitores. É que minha atitude crítica em face do tema me engaja num ato de conhecimento. Nesse intuito, ao compreender a abrangência do tema evasão escolar citado por Brasil (2006), envolvendo questões cognitivas e pscicoemocionais dos alunos, fatores socioculturais, institucionais e aqueles ligados à economia e a política, faz-se necessário esclarecer que o estudo feito neste artigo referese a questões institucionais envolvendo o trabalho educativo desenvolvido nas escolas públicas do estado do Paraná. 4 A partir daí, considera-se necessário a aproximação daqueles estudiosos e pesquisadores que se ocuparam em desvendar o problema da evasão escolar, suas causas e conseqüências, mas especificamente na Educação de Jovens e Adultos. Essas preocupações nortearam as discussões, culminando na produção deste artigo, cujo objetivo é analisar os determinantes que causam a evasão escolar refletindo sobre o trabalho educativo, tomando-se como referência, as idéias autores, que vêm se dedicando a fundamentar uma tendência de pensamento pedagógico diferenciado, posto que explicam a importância do trabalho dos professores acerca dos conceitos envolvendo: mediação, historicidade, prática social e transmissão do conhecimento socialmente construído (VASCONCELLOS, 1995). Procura-se descobrir se o que vivenciado no pequeno município de Nova Londrina, no Estado do Paraná é o mesmo que em outras localidades. A vontade de explicar um pouco mais essa complexidade força a retomada do estudo da questão. Então com maior proximidade tentou-se oferecer uma visão mais abrangente do trabalho educativo desenvolvido nas escolas públicas do Paraná. Contudo, este não é um texto fechado; são reflexões que pode no futuro receber outras contribuições, inclusive, superá-las, entendendo o processo dialético, como um fato que marca a sociedade contemporânea. Nesse sentido, Vasconcellos (1995), caracteriza o homem como um ser ativo e de relações com os outros e com o mundo, sendo o conteúdo objeto de reflexão e re-elaboração. 5 2- A RELAÇÃO ALUNO- PROFESSOR- ESCOLA- FAMÍLIA NA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. A idéia dessa pesquisa nasceu nos encontros de orientação com a professora Janira Siqueira Camargo da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e mais três professoras pedagogas, suas orientandas e participantes do Programa de Desenvolvimento Educacional- turma 2007, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e etnográfica, realizada por meio da aplicação de questionários, com quatro a sete questões abertas, elaboradas para cada um dos três segmentos da comunidade escolar, sendo eles: aluno, professor e equipe diretiva, englobando nessa categoria a diretora, as professoras pedagogas, as coordenadoras, os auxiliares administrativos e uma professora readaptada na função de bibliotecária, realizada na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos- Nova Londrina- Ensino Fundamental e Médio (CEEBJANova Londrina), no município de Nova Londrina, no Estado do Paraná. As considerações aqui veiculadas têm o objetivo de analisar a relação aluno – professor – escola- família na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Buscam verificar: a visão do aluno/ família sobre a escola pública em que estuda; a visão dos professores da escola pública do Paraná sobre a sua escola de atuação; analisar a formação do professor, inicial e continuada; analisar as condições físicas e materiais das escolas e analisar as condições humanas das escolas. Questões de caráter pedagógico apresentam implicações de ordem administrativa. A partir dessa discussão envolvendo a aplicação e tabulação das respostas da pesquisa, busca-se questionar e elucidar indícios das causas e conseqüências da evasão escolar. 6 2.1- APLICAÇÃO DA PESQUISA. Iniciou-se o trabalho de aplicação dos questionários e levantamento de dados na terceira semana do mês de agosto do ano de 2007, na escola pública da rede estadual de ensino denominada CEEBJA- Nova Londrina, que atende 530 alunos, sendo do Ensino Fundamental (II Segmento) e do Médio. Seu quadro de funcionários somam: uma diretora, duas professoras pedagogas, três coordenadoras da Ação Pedagógica Descentralizada (APED)- (salas de aula que funcionam em outros espaços físicos e ou em outros municípios), quatro auxiliares administrativos, uma professora readaptada na função de bibliotecária, trinta e cinco professores, três auxiliares de serviços gerais e um vigia. Observa-se que essas duas últimas categorias não participaram da pesquisa. As alunos participantes da pesquisa totalizam 52 no Ensino Fundamental e 63 no Ensino Médio. 2.2- PERFIL DOS SUJEITOS. Quadro 1- Perfil dos alunos participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto ao nível de ensino e idade. IDADE ENSINO ENSINO TOTAL FUND. MÉDIO 15 - 20 3 4 7 21 - 30 5 16 21 31 - 40 20 16 36 41 - 50 20 15 35 51 - 60 3 9 12 61 - 70 1 3 4 TOTAL 52 63 115 7 Quadro 2- Perfil dos alunos participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto à idade e sexo. IDADE SEXO TOTAL MASC. FEM. 15 - 20 5 5 10 21 - 30 11 9 20 31 - 40 22 10 32 41 - 50 22 10 32 51 - 60 7 6 13 61 - 70 3 5 8 TOTAL 70 45 115 Quadro 3- Perfil dos alunos participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto ao nível de ensino e trabalho. TRABALHO ENSINO ENSINO TOTAL FUND. MÉDIO SIM 37 54 91 NÃO 15 9 24 TOTAL 52 63 115 Quadro 4- Perfil dos professores participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto à idade e sexo. IDADE SEXO TOTAL MASC. FEM. 25 - 30 3 2 5 31 - 40 1 9 10 41 - 50 4 11 15 51 - 60 1 3 4 61 - 70 - 1 1 TOTAL 9 26 35 8 Quadro 5- Perfil dos professores participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto ao tempode magistério e ao tempo de trabalho na escola. TEMPO DE MAGISTÉRIO NÚMERO DE PROFESSORES TEMPO DE TRABALHO NÚMERO DE NA ESCOLA PROFESSORES 1 - 5 4 1 – 5 31 6 - 10 5 6 – 10 3 11 - 15 8 11 – 15 1 16 - 20 8 16 – 20 - 21 - 25 6 21 – 25 - 26 - 30 4 26 – 30 - TOTAL 35 TOTAL 35 Quadro 6- Perfil da equipe diretiva participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina-2007 quanto à idade e sexo. IDADE SEXO TOTAL MASC. FEM. 21 - 30 1 - 1 31 - 40 - 4 4 41 - 50 - 2 2 51 - 60 - 3 3 TOTAL 1 9 10 Quadro 7- Perfil da equipe diretiva participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto à escolaridade. ESCOLARIDADE ENSINO ENSINO ESPECIALIZAÇÃO TOTAL MÉDIO SUPERIOR 2 2 6 Quadro 8- Perfil da equipe diretiva participantes da pesquisa do CEEBJA- Nova Londrina- 2007 quanto ao tempo de trabalho na escola. ANOS TEMPO DE TRABALHO NA ESCOLA 1 -- 5 3 6 -- 10 7 TOTAL 10 Quanto a entrega, aplicação e devolução dos dados referentes à pesquisa, obteve-se os seguintes resultados: foram entregues aos alunos 192 formulários dos quais 115 retornaram respondidos, 67 devolvidos em branco e 10 não retornaram. Os questionários foram aplicados no período noturno, Ensino Fundamental e Médio, sendo que para os professores foram entregues e devolvidos respondidos a mesma quantidade, num total de 35. Esse dado permite considerar a importância e responsabilidade que os professores atribuíram a pesquisa, transmitindo confiança em suas respostas; dos 11 formulários destinados a equipe diretiva foram respondidos 10, incluindo nessa categoria: diretora, equipe pedagógica, coordenadoras, bibliotecária e auxiliares administrativos. Com relação à faixa etária dos entrevistados, os dados obtidos mostram que 70% dos alunos do Ensino Fundamental estão entre 30 a 40 anos, e 30% apresentam idade entre 20, 50 e 60 anos, por outro lado, os do Ensino Médio, 50% ficam na faixa etária de 30 anos, seguido respectivamente de 10% e 40% com 20 e 40 anos ou mais. Entre a equipe diretiva e os professores, a maior parte deles está entre os 30 e 40 anos. Os números envolvendo o tempo de magistério e o tempo de trabalho na escola nas categorias dos professores e equipe diretiva identificam que com relação ao tempo de magistério não diferem muito, ficando entre 18 meses a 37 anos sendo que a maioria possui entre 15 e 20 anos. 10 Já no tempo de trabalho na escola foram apontadas diferenças entre as categorias. A análise mostra que a primeira categoria apresenta menor tempo de trabalho na escola que a equipe diretiva, apontando que 10% estão na escola por volta de 10 anos e 90%, de um a cinco anos, sendo a maioria com apenas um e dois anos na escola. Esses números evidenciam um problema para implementação da Proposta Pedagógica da Escola, uma vez que o rodízio de professores os distanciam da responsabilidade e entendimento dos reais desafios a vencer envolvendo a escola. Aparecem na segunda categoria números que trazem benefícios para a escola, destacando que oferecem condições de desenvolvimento de sólido trabalho, haja vista que somente três pessoas estão na escola a menos de dez anos. Essa condição é favorável para o conhecimento das implicações administrativas e as conseqüências pedagógicas da prática educativa, incluindo aqui não só a prática dos professores, como também a atuação dos funcionários da escola. Nesse sentido, será primordial identificar os problemas e seus determinantes, distinguir suas peculiaridades, considerando seus efeitos na produtividade da escola, traduzidos na conclusão dos estudos pelo aluno e pela apropriação do saber científico e sistematizado. Não há respostas simples para as questões levantadas, essa tarefa se apresenta difícil e necessita de decisão profissional firme e segura para detectar os problemas buscando alternativas possíveis para sua resolução. Essa equipe assim constituída, parece dar uma característica peculiar à escola, imprimindo um caráter coletivo e no limite de suas possibilidades e das condições presentes na escola e no sistema educacional, concretizar a educação com a qual está comprometida. O cuidado com a evasão escolar por parte dessa categoria manifesta-se por um lado, em medidas visando o retorno dos alunos evadidos, e por outro, pela preocupação em manter os alunos na escola antes que abandonem os estudos. No primeiro caso podem ser citados: telefonemas, visitas, envio de 11 recados e entrega de listas contendo os nomes de alunos evadidos para a equipe pedagógica. Já, no segundo, as ações desenvolvidas denotam o engajamento de alguns professores com a equipe diretiva empenhados em planejar e desenvolver estratégias em sala de aula, tais como: momentos de estudo coletivo para alunos que estudam no individual, entendendo que o estudo individual é um processo solitário e com poucos estímulos, levantamento junto ao aluno acerca de suas dificuldades e aspirações futuras para assim trabalhar as necessidades individuais, aulas nos Laboratórios de Informática, Biologia, Física e Química com a finalidade de complementar as informações recebidas anteriormente, implementando a socialização dos conhecimentos adquiridos por meio do diálogo entre alunos e professores. 2.3- ANÁLISE E RESULTADOS: 2.3.1- Alunos/ família; No que se refere aos alunos, como respostas sobre a escola, todos os comentários foram positivos, classificando-a como: boa, muito boa, excelente e ótima. Assim, exemplificando as opiniões apresentadas, vale citar algumas falas, entre elas: “dá oportunidade para os alunos terminarem os estudos”, “é boa, organizada e merendas deliciosas”, “muito importante para a formação do cidadão”, “é bom, porque os alunos são adultos e tem respeito”. O modo como os alunos se referiram à escola, indica um distanciamento e um certo desinteresse, ficando claro que não refletem muito sobre a escola. Essa afirmação justifica-se nos relatos apresentados quanto às mudanças pretendidas: uma grande parte dos alunos alega que não precisa mudar nada, outra parte, propõe que providenciem carteiras novas, aumentem o espaço físico, haja mais silêncio, ofereçam aulas no diurno e noturno e que tenham atendimento em todas as disciplinas de segunda à sexta-feira. 12 Com relação aos professores e à disciplina com maior dificuldade aparecem na ordem: Matemática, Inglês, Química e Física. Esse fato explicase uma vez que essas disciplinas estão mais distantes da vida dos alunos, confirmando a necessidade da contextualização do conteúdo, favorecendo a proximidade entre conhecimento científico e conhecimento do senso-comum (RIBEIRO, 1999). Os alunos classificam os professores como ótimos, excelentes e bons, atingindo a marca de 60%, entretanto, observa-se um certo descontentamento nos comentários que seguem elencados: ”alguns são bons, outros péssimos” , “tem professor (a) muito estressado (a)“, “bom, mas às vezes temos que pedir mais explicação”, “eu não entendo o que o professor (a) fala”. Já no quesito participação nas aulas, os resultados da pesquisa apontam que 80% dos alunos se consideram ótimos, bons, participativos, atenciosos e freqüentadores regulares das aulas. No entanto, nota-se nas explicações, contradições nas respostas quando se desculpam por suas dificuldades, alegando que o ensino é difícil, porque: “falto e muitas vezes estou nas aulas cansado devido o trabalho diário”, “aprendo a matéria dependendo da explicação do professor (a)”, “não gosto de ler, acho que é por isso que não aprendo direito”. Alguns alegam já terem abandonado a escola e conhecem muitos que pararam de estudar devido aos problemas citados. Certamente, por trás das frases ditas pelos alunos estão presentes, muitas vezes, algumas das razões da evasão escolar concorrendo para: o medo do fracasso e de se esforçar, a necessidade de preservar a auto-estima, a dificuldade de enfrentar as dificuldades, entre outras. Diante destas constatações aparece a neutralidade da escola implícita nos alunos, assim também como a crença de que a causa do fracasso escolar realmente esteja nele próprio. 2.3.1.1- Evasão e a aprendizagem dos alunos. Às vezes a faltade interesse do aluno, traduzida na evasão escolar é uma maneira de mascarar sua incapacidade para se esforçar. Mas em outras ocasiões não é assim. O aluno faria um esforço se percebesse que os conteúdos da aprendizagem são medianamente atrativos, úteis, conectados, com sua vida diária, atraentes o suficiente para que o esforço valha a pena. Quando, pelo contrário, descobre que aprender supõe apenas memorizar certos conteúdos distantes para recuperá-los depois em uma prova, sua atitude defensiva diante da aprendizagem vai se consolidando. Pouco a pouco, seu atraso vai se ampliando e chega um momento em que a distância com o ritmo médio da turma se torna intransponível. O aluno com dificuldades específicas de aprendizagem não apresenta, de início, problemas de motivação, se bem que progressivamente pode se sentir incapaz de realizar as tarefas propostas e abandona qualquer tentativa de superá-las, já que as atividades propostas “estão cheias de respostas para perguntas que ele não sabe quais” (VASCONCELLOS, 1995, p.38). Conhecer não é fácil, exige esforço de ambas as partes: do aluno no domínio da leitura, na vontade ou necessidade de aprender e no estabelecimento de ligação entre o novo conhecimento e conhecimentos anteriores. Esses fatores tornam-se desafios a vencer sendo a sua ausência muitas vezes causa da evasão escolar, traduzido em desestímulo por Vasconcellos (1995). A esse respeito Freire (1982) esclarece que o ato de estudar necessita de persistência e atenção, o que por sua vez, remete a uma atividade mental que está presente não só na resolução de tarefas de aprendizagem, como também na maior parte das ações sociais. Essas reflexões mostram a importância da prática da leitura e da atenção, para que o aluno avance na sua automatização, já que alunos com dificuldades necessitam de mais tempo de prática e de mais orientação dos professores que o restante dos alunos. Se não dispõem delas, o risco de que sua aprendizagem se complique, e de que se atrasem muito, se torna cada vez maior. O mesmo autor enfatiza que o esforço da parte do professor está na criação de possibilidades para não só transmitir conhecimentos como também 14 na sua superação ao entender o conceito "bancário" da Educação para assinalar a perniciosa relação professor (depositante) - aluno (depósito) de conhecimentos, revelando assim seu papel como instrumento de dominação e, além disso, a concepção de educação como uma situação que desafia a pensar corretamente e não a memorizar; uma educação que propicie o diálogo comunicativo e que problematize dialeticamente o professor e o aluno. A primeira concepção (bancária) da educação é sem dúvida instrumento de opressão; a segunda, busca constante de libertação. A tarefa do professor deve ser então a de problematizar para os alunos o conteúdo que os mediatiza e não entregá-lo e expressá-lo como algo já feito e acabado (Freire, 1982). Os alunos apontam proximidade sobre a função da escola e o entendimento que eles têm sobre essa questão uma vez que as respostas foram: “preparar para o futuro”, “melhorar a comunicação entre as pessoas”, “trazer conhecimento”, “oferecer qualidade de vida”, “ensinar os alunos para que estejam mais preparados para entender o mundo e viver em sociedade”. Todavia, esses depoimentos comprovam pouca clareza a respeito do valor da escolarização e quanto a sua participação como cidadão na sociedade, sendo esses jovens e adultos excluídos socialmente há muito tempo dos bancos escolares e que trazem consigo marcas profundas dos processos passados e reflexos de uma sociedade injusta e excludente, sendo que muitos deles já não acreditam em mais nada, nem na própria escola; a considerar suas falas, que apesar de dizerem que a escola é muito importante e que oferece condições de um futuro melhor, na prática, isso não se concretiza, ao examinar os altos índices de evasão escolar (Freire, 1982). A função da escola mais descrita foi a de transmitir conhecimentos, contudo, quantos e como? Sobre esse assunto Azanha (1993) acredita que o trabalho educativo centrado em muitas atividades extra-classe e o aumento de informações envolvendo assuntos relacionados a outras áreas, em detrimento de questões específicas da escola, e do currículo como determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, contribuem para a desvalorização e descaracterização da escola. Essa concepção traz a possibilidade da escola recuperar sua força de atuação junto a sociedade, ao 15 provar que é capaz de transmitir conhecimentos por meio do domínio do ensino de conteúdos. Outro elemento a ser considerado, quando se busca a melhoria do ensino, é o entendimento que a tarefa educativa se constituiria muito maior, denominado de “ideal pedagógico” pelo autor; sendo que a busca deste, implica no trabalho centrado na perspectiva da formação de: “homens críticos, livres e criativos até mesmo a partir de condições sociais, políticas e econômicas adversas” (AZANHA, 1993, p. 43). Em síntese, fica clara a idéia de que não é possível ensinar diretamente alguém a ser crítico, mas a atitude crítica pode ser desenvolvida à medida que o aluno se instrui, adquirindo uma cultura geral sólida, o que reforça a afirmação sobre a função da escola e a sua força de atuação. Isso posto, a aquisição da cultura geral virá por acréscimo, assim também como o conhecimento centrado no processo ensino aprendizagem, responsável pela adequada intervenção pedagógica, que por sua vez trará a valorização do trabalho docente (OLIVEIRA,1997). Está claro que no cenário educacional, o aluno aparece como elo mais fraco dessa engrenagem, ficando a deriva, sendo sua vida levada para lá e para cá, a mercê da massificação imputada a ele pelo poder dominante. Nesse sentido, Freire (1982), defende a idéia de que é preciso superar o condicionamento do pensar falso sobre si e sobre o mundo. Isso implica na revisão profunda nos modos de conceber o mundo e nas manifestações dos jovens e adultos para tomarem nas mãos o próprio destino. Seguindo este raciocínio, o professor tem muito a contribuir, sendo ele peça fundamental seguido depois da família ou do próprio aluno, capazes de fazer frente aos problemas voltados à aprendizagem e à transformação da visão de mundo em sentido mais amplo Essas iniciativas de mudanças são marcadas graças à comunicação com seus colegas, professores e funcionários da escola, e com os familiares, implicando na reflexão sobre o futuro, na observação de outros modelos sociais, sintetizando assim os princípios da conscientização e emancipação. 16 2.3.2- Professores; Dos questionados, 90% dos professores consideram a escola excelente, uma vez que as respostas relacionadas denotam esse conceito ao classificá-la como: “excelente”, “escola acolhedora e modifica a vida de muitos alunos”, “a melhor escola que já trabalhei”, “organizada e com profissionais de qualidade e atuantes”. Contudo, os comentários complementares às afirmações anteriores, legitimam a necessidade de estudos, acerca das especificidades do trabalho na EJA, como se observa nas falas descritas a seguir: “excelente, mas têm muitas reuniões pedagógicas”, “escola agradável, mas deveria mudar a cooperação entre professores e funcionários”, “deveria matricular alunos com 13 anos”, “a prática pedagógica e a apostila deveriam ser direcionada para alunos trabalhadores”. O relato dos professores procede, a considerar que em seus depoimentos, aparece um certo descontentamento pessoal e apatia acerca dos problemas da escola em detrimento da preocupação que deveriam dirigir a essa parte do trabalho conjugados na aprendizagem do aluno e questões relacionadas a evasão escolar, sobretudo por ser esse o maior problema da escola, resumem as outras dificuldades convergentes à prática pedagógica. Entre as mudanças que fariam na escola, chamou a atenção na pesquisa, as idéias apresentadas pelos alunos, as quais convergem com as dos professores, tal como pressupõe as seguintes afirmações: “a escola necessita de mais opções de atendimento ao aluno envolvendodias e turnos”, “ melhorar o espaço físico”, “mais recursos pedagógicos”. Ao responder às perguntas sobre a prática pedagógica e como são suas aulas os professores se consideram excelentes, enumerando uma série de qualidades, assim como pressupõem suas próprias palavras: “trabalho, respeitando as diferenças individuais”, “desenvolvo atividades de auto-estima”, “observo a realidade dos alunos”, “trago atualidades”, “minhas aulas são dinâmicas, de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais da minha disciplina”. Apenas uma resposta foi diferente das demais, descrita como: “tento fazer o melhor. Mas sei que tenho muito a melhorar”. É complicado admitir que algo nessa engrenagem não está funcionando bem, mas é importante que essa análise seja feita para enfrentar com maiores garantias de êxito as divergências que surgiram sendo elas algumas das causas da evasão escolar. Torna-se pois, difícil delimitar as responsabilidades dos fenômenos ligados à evasão escolar, porque o problema é complexo e se produz no resultado de um conjunto de fatores que atuam de modo coordenado, já que nenhum deles tomado isoladamente o conseguiria provocar (BRASIL, 2006). 2.3.2.1- Evasão e a legitimidade dos fatos. Por muito tempo, o imaginário escolar e docente aparentou aceitar com muita tranqüilidade o fracasso escolar traduzido por aprendizagem ineficiente e evasão escolar como fator social e cultural, se eximindo de toda e qualquer culpa. Contudo, na última década, essa passividade toma outra característica: a dúvida sobre a legitimidade do fracasso escolar voltada para a cultura social e política, segregadora e excludente; ou se a escola ingenuamente não reproduz essa mesma sociedade contribuindo para que os alunos continuem excluídos da sociedade (ARROYO, 2001). A análise da pesquisa confirma esse dado ao mostrar que os motivos que afastam os alunos da escola, na visão de grande parte dos professores, pouco se diferem das explicações vindas dos alunos, leigos no assunto, ligados a problemas de ordem, econômica e social, em detrimento dos fatores didáticos e pedagógicos que têm deixado os educandos desestimulados e com baixa auto-estima. Na verdade, a afirmação apresentada sobre as causas da evasão é concebida como algo fora do contexto escolar, inclusive inerentes aos próprios alunos. Nesse sentido, constatou-se que a aparência mais esconde que revela a essência. O problema social vem carregado de influências e determinantes, visto que a tarefa é descobrir as manifestações que estão por detrás dos fatos. 18 A esse respeito Aquino (1997), enfatiza que as causas da evasão escolar são imputadas a casualidades levando a assuntos distantes do âmbito escolar, atribuídas a assuntos particulares e problemas sociais, como os apresentados acima. Diante dessas constatações o poder que o professor tem nas mãos para lutar contra essas adversidades é a necessária preocupação com a evasão escolar, traduzida na prática pedagógica centrada exclusivamente no conhecimento, já que essa característica é específica do âmbito escolar. Isso implica em assegurar conhecimentos teóricos envolvendo a educação nos seus fundamentos e como instituição escolar, para trabalhar sem interferência da outras áreas da ciência que explicam os fenômenos educacionais, sendo eles, aceitos sem discussão pela sociedade e até pela comunidade escolar (AQUINO, 1997). Imputar ao professor individualmente todos os defeitos da educação é tão injusto quanto livrá-lo de toda responsabilidade, assim é interessante mencionar nessa reflexão que o professor deve proporcionar a todos os seus alunos informações, fornecendo-lhes material cultural relevante que responda aos objetivos e conteúdos da série correspondente, que seja apropriada, que esteja adaptada à suas possibilidades e possa, portanto, ser compreendida por seus alunos, individualmente (AQUINO). 2.3.2.2- Evasão e o trabalho educativo. Até aqui reuniram-se as opiniões dos professores referentes ao que sentem, o que lhes preocupam e como convivem e desenvolvem seu trabalho, seguidos de análise e indicação de estudioso acerca dos assuntos abordados. A última pergunta feita aos professores refere-se à função da escola e seu cumprimento, que, mediante os dados coletados refletem com bastante precisão, o fato de concordarem que é a transmissão de conhecimentos científicos e na colaboração com a formação do cidadão, frente às desigualdades sociais. Contudo, existe uma preocupação compartilhada com o 19 cumprimento, apenas em parte, dessa função, dadas as circunstâncias descritas por eles como: “têm muitas implicações no sistema educacional brasileiro com a desvalorização da educação”, “falta de conhecimentos e idealismo dos educadores”, “influências negativas da sociedade, sentidas na escola, com a perda de valores, daqueles praticados por ela”, “a dificuldade de aprendizagem dos alunos” e “a evasão escolar causada por fatores sociais e familiares que os distanciam da escola”. Nota-se em Balzan (1989), que o trabalho educativo é fortemente marcado pelo pragmatismo, e, paradoxalmente, mesmo tendo conhecimento dos grandes problemas da tarefa educativa abrangendo as teorias psicológicas de desenvolvimento e o caráter ideológico de massificação inculcada à sociedade pelo poder dominante, não aceitam e nem ousam trabalhar levando em consideração pesquisas e estudos feitos pela comunidade universitária ou por cientistas da educação. Aparentemente existe um bloqueio, que distancia os professores e os teóricos da educação: se por um lado, as escolas e seus protagonistas discordam das verdades ditas pelos estudiosos sobre os assuntos educacionais; por outro, a distância parece aumentar a cada dia, e junto com eles os problemas, trazendo maior desvalorização para a profissão. Essa forma de considerar as práticas cotidianas, possibilita problematizar a apatia e o conservadorismo que comumente são associados à figura dos professores, em oposição ao teor inovador atribuído aos discursos acadêmicos e às propostas neles veiculadas. A esse respeito Balzan (1989), esclarece que a educação, como parte da sociedade, não está isolada, fazendo parte do contexto social, político e econômico e aí se encontra a raiz do problema educacional: “tudo pode e nada pode fazer”. Necessário se faz recuar um pouco, mostrando que a história conta que a escola está mais a serviço da conservação do poder instalado, reproduzindo as relações sociais vigentes, do que como fator de mudança. Ao enfrentar crises, as pessoas preferem fazer o que estão acostumadas, por insegurança daquilo que possa vir a acontecer, assim se explica também o motivo pelo qual os professores recusam a renovação didática, até porque na visão do autor, a escola não transforma a sociedade, contudo, “ela também pode ser fator de mudança”. 20 2.3.2.3- Evasão e seu enfrentamento: autonomia da escola. Autonomia da escola é um termo muito utilizado referente ao universo educativo e no interior das próprias escolas, todavia seu sentido é carregado de significados e responsabilidades (1993). A autonomia nas escolas, virá por meio da revisão dos compromissos assumidos na Proposta Pedagógica e no Projeto Político Pedagógico, com o propósito de realizar um trabalho voltado para a transformação dos alunos. Além disso, a comunidade, tomando em consideração não as prescrições de uma pedagogia abstrata, mas as condições reais dos alunos no reconhecimento, em primeiro lugar, da necessidade de chegar a um consenso referente à tarefa educativa. Autonomia da escola refere-se à escolha do método, técnica ou procedimento para a efetivação da tarefa educativa. Contudo, essa autonomia é resolvida no coletivo da escola e não significa autonomia de cada professor em sala de aula. Dessa forma, só tem significado a partir de uma perspectiva particular centrada em questões pontuais presentes na escola. Centrar o foco no aluno significa trabalhar com esse aluno real, encontrar uma maneira de levá-lo a exercer seu livre arbítrio e, com determinados limites sociais, culturais e econômicos, escolher seulugar, saber se posicionar em sociedade, fazer escolhas políticas. Dessa maneira, Azanha (1987), enfatiza que a discussão teórica abrangendo a prática educativa ainda trata o aluno como um ideal, entretanto, a relação educativa é, na verdade, uma mediação entre o ideal e o real, e nessas condições, vale destacar que o empenho do professor em ensinar e o esforço do aluno em aprender, são elementos indispensáveis num trabalho educativo sério. Nesse sentido, a escola é concebida como um lugar de trabalho sério, que “pode e deve ser agradável, mas não de lazer”. A autonomia da escola ainda está em construção, todavia não foi entendida adequadamente, se restringindo na elaboração de documentos, antes vindo prontos de órgãos educacionais superiores. O momento histórico vivido atualmente é a busca desse ideal, somente a escola por meio dos 21 envolvidos no processo educativo pode estudar os seus problemas, revisando seus compromissos com a tarefa educativa e se organizar para resolvê-los. Ledo engano, esperar soluções de outras esferas da sociedade, mas, paradoxalmente à essa posição, a comunidade educativa fica à espera e nessa espera, torna-se vulnerável e pouco a pouco se enfraquece como representante oficial do conhecimento (AZANHA, 1993). Aqui cabe a metáfora: “a César, o que é de César”, o que significa dizer que somente a escola, especialmente os professores, podem mudar o rumo da história e fazer acontecer o processo de aprendizagem, sendo essa tarefa da escola, de mais ninguém. 2.3.3- Equipe diretiva; Na categoria equipe diretiva inclui-se a diretora, a equipe pedagógica, as coordenadoras, uma professora readaptada na função de bibliotecária e os auxiliares administrativos. As respostas das questões envolvendo a escola expressam a crença de sua valorização, tendo em vista que grande parte dos questionados cita que a equipe de trabalho da escola mostra-se preocupada em atender bem aos alunos, respeitando suas necessidades. Todavia, aparece a preocupação com a Proposta Pedagógica da escola, considerando que deve ser colocada em prática e preservada para que se mantenha suas especificidades e diferenças com o ensino regular. A ação didática coletiva é capaz de reverter em parte, o quadro da evasão escolar, ao refletir sobre as formas adequadas de se trabalhar na EJA, principalmente quanto ao perfil dos alunos, os objetivos e a função da escola. É necessário compreender que um ensino de qualidade não se faz só no trabalho de cada professor de forma isolada, mas no planejamento conjunto da escola. Essa reflexão compartilhada por parte dos envolvidos no processo ensino aprendizagem se configura extremamente útil para enriquecer a visão que cada um tem e para confrontá-la com interpretações de seus colegas. Esse 22 enunciado se sustenta para que os alunos percebam que existe um certo grau de coerência na ação educativa dos professores, pelo menos nas normas e sanções, nas tarefas propostas aos alunos, na possibilidade de diálogo e no sistema de avaliação da escola (BALZAN,1989). 2.3.3.1- Evasão escolar e suas causas. Na procura pelas causas do fracasso escolar alguns estudos já mostraram que os fatores vinculados aos alunos, como: suas capacidades, sua motivação ou sua herança genética são determinantes. Outras perspectivas, pelo contrário, deram ênfase principalmente aos fatores sociais e culturais. O fato de que as classes socialmente desfavorecidas apresentem uma porcentagem superior de fracasso reforça tal posição. Existem também visões alternativas que situam, em segundo plano, os fatores individuais e sociais e atribuem a responsabilidade maior ao próprio sistema educacional, ao funcionamento das escolas e ao estilo de ensino dos professores. Entretanto o resultado do fracasso escolar é o produto da interação de três tipos de determinantes: - psicológicos: referentes a fatores cognitivos e psicoemocionais dos alunos (BRASIL, 2006); - socioculturais: relativos ao contexto social do aluno e as características de sua família. (OLIVEIRA, 2001); - institucionais: baseadas na escola, tal como, métodos de ensino inapropriados, currículo e as políticas públicas para a educação (AQUINO, 1997). Somado a esses três fatores, encontra-se também aqueles ligados à economia e à política (BRASIL, 2006). É importante que se esclareça que, dada sua complexidade para refletir sobre eles em um único artigo, a discussão estabelecida aqui refere-se apenas a questões ligadas a fatores institucionais: sobre a escola e a prática 23 pedagógica; e alguns problemas de ordem psicológica, como dificuldades de aprendizagem. Ficou evidente nas necessidades de mudanças o fazer pedagógico e questões relacionadas ao funcionamento da própria escola, haja vista os problemas apresentados pelos questionados, sendo apontados: a rotatividade dos professores, a prática de alguns docentes, a organização das disciplinas envolvendo carga horária e dias de funcionamento e a evasão escolar, caracterizada por aumento constante de infreqüência nas aulas. Na seqüência, ao descrever a prática pedagógica dos professores, coloca-se duas posições: uma mostrando que uma parte deles é responsável, competente e comprometida com a escola, trabalhando de forma adequada, com relação ao atendimento do jovem e adulto e á organização exigida para o tipo de escola que é o CEEBJA. Outra evidenciando que muitos professores precisam mudar sua prática pedagógica, já que o trabalho desenvolvido aparece centrado no livro didático (no CEEBJA são cadernos de apoio), priorizando aulas expositivas e desmotivadas. A esse respeito Vasconcellos (1995), diz que a falta de adaptação do aluno somado ao método de ensino das escolas são os responsáveis em grande parte pelo fracasso escolar. O mesmo autor não deixa qualquer dúvida nessa passagem quanto ao fato apresentado abaixo: [...] o grande problema da metodologia expositiva, do ponto de vista pedagógico, é seu alto-risco de não aprendizagem, em função do baixo nível de interação sujeito-objeto de conhecimento-realidade (o grau de probabilidade de interação significativa é muito baixo) (VASCONCELLOS, 1995, p.22). A esse respeito, o que se pode observar é a confirmação do que o mesmo autor reitera, por meio de pesquisas pedagógicas realizadas, ao comprovar que o aproveitamento escolar de um ano para o outro é de apenas 10% a 20% relacionado ao conteúdo ensinado. 24 2.3.3.2- Evasão e a distância entre as pretensões da escola e do aluno. Com relação ao atendimento do aluno, a pesquisa evidencia que se atribui papel preponderante àquele destinado ao ensino regular, relegando-se a segundo plano as especificidades da EJA. Nas palavras de Oliveira (2001) é preciso considerar a condição de não crianças, do grande contingente de excluídos da escola somados a fatores culturais determinantes no grupo de alunos da EJA. Em primeiro lugar um aspecto cultural do aluno da EJA, é sua especificidade cultural, presente na situação de excluído da escola regular, em segundo é a adequação dos currículos e programas para uma clientela que a princípio não é a sua. Oliveira (1995 apud OLIVEIRA, 2001), enfatiza que as situações de aprendizagem apresentadas não podem ser as mesmas do ensino regular, uma vez que os adultos possuem habilidades e dificuldades específicas, e uma capacidade maior de reflexão sobre si mesmo e o seu próprio processo de aprendizagem. Entre as dificuldades do aluno da EJA, relacionados à escola aparecem: a importância da experiência pessoal, as dificuldades referidas à abstração dos conteúdos e à sistematização dos mesmos e o restrito uso de processos metacognitivos Oliveira (1997) não concorda com concepções baseadas no culturalismo, ao alegar que levada ao extremo pode levar a um “relativismo radical e espotaneísta”. Ao considerar a realidade e a cultura do aluno com os conhecimentos adquiridos para o desenvolvimento de suas vidas e seus costumes em determinados grupos culturais, não permitiria muitas influências e interferências no sentido de mudanças relacionadas ao modo de viver desses grupos. Com base nessepensamento chega-se a uma posição contrária aos objetivos educacionais relacionados à transformação do ser humano e sua realidade. Os adeptos dessa concepção afirmam que o fracasso escolar atribuído à escola emerge da postulação de que o problema está na distância entre o que esperam os alunos e o que a escola lhes oferece (OLIVEIRA, 1997). 25 A mesma autora concorda com essa afirmação, entretanto exemplifica que não concorda com abordagens que se referem à distância intransponível entre a escola e o aluno baseadas na incapacidade de aprendizagem do aluno. Seguindo este pensamento, a interferência educativa apropriada, aliada à importância da escola como representante da sociedade letrada, podem ajudar os alunos a vencerem suas dificuldades e, conseqüentemente a exclusão social. Oliveira (2001) exemplifica a situação da evasão escolar na EJA, indicando como uma das causas institucionais, o desencontro entre a escola e os alunos, o qual já foi assinalado anteriormante. Caracteriza-se por questões de aprendizagem e pela própria organização da escola, que funciona dentro de um contexto próprio, que deve ser conhecido por toda a comunidade escolar, uma vez que em seu interior a linguagem escolar concorre como a maior dificuldade à aprendizagem, maior até que o próprio conteúdo. Apenas pessoas com níveis mais altos de habilidade na leitura conseguem compreender instruções escritas, sendo assim Ribeiro (1999), enfatiza que para aprender, o leitor precisa avaliar com objetividade o que falta para se efetivar o conhecimento relacionado ao conteúdo estudado e quais informações devem ser completadas para que o processo de aprendizagem se complete. Por esse motivo, a importância na contextualização do conteúdo, sendo que o aluno se conecta com o texto e estabelece relações entre fatos conhecidos e desconhecidos referentes ao conteúdo estudado e dessa maneira o professor consegue fazer a mediação necessária no processo ensino e aprendizagem. Uma boa aula é tão importante que figura como uma mola propulsora estimulando o gosto pelo estudo: ao apresentar o conteúdo de formas variadas, o professor prende a atenção do aluno, reforçando a idéia que o elemento surpresa mantém o seu interesse. Além disso, a intervenção pedagógica aumenta a amplitude do conteúdo, sendo que o fornecimento de instruções e pistas,induz o aluno à reflexão, exigindo intenso trabalho cognitivo, desenvolvendo assim, as “capacidades intelectuais superiores” (BALZAN, 1989, p. 267). 26 Dando continuidade à contribuição da equipe diretiva nessa pesquisa recaiu sem dúvida no reconhecimento de que o maior problema da escola é a evasão escolar, entendida aqui como o resultado do fracasso escolar somando uma série de determinantes e que a cada ano se constituem bem mais presentes no contexto educacional. (AQUINO, 1997). Para a presente discussão, o aspecto específico dessa ampla questão que se destaca, citados nas ações da equipe diretiva descritas na pesquisa realizada no CEEBJA- Nova Londrina, é de que é preciso avançar por vários caminhos sendo eles: levantamentos periódicos dos alunos evadidos; ouvir os professores e alunos, e após, proposição de ações no combate à evasão escolar; estudo da Proposta Pedagógica e de Projeto Político Pedagógico da escola com a finalidade de mostrar como é o trabalho na EJA, seus objetivos, o encaminhamento metodológico, o atendimento do jovem e ao adulto e o sistema de avaliação; proposição de inovações pedagógicas com aulas mais dinâmicas e preparação de atividades diferenciadas e personalizadas para alunos adultos e com dificuldades de aprendizagem. Na seqüência, com relação a estudos envolvendo os funcionários da escola, é importante que a equipe de direção conheça a situação de sua escola, as resistências de uns e os desejos de mudança de outros, e seja capaz de estabelecer um ritmo de trabalho que una um grupo significativo de professores. Nesse sentido, Balzan (1989), considera que a colaboração entre as equipes de professores de uma escola não é simples; a considerar a diversidade normal de situações profissionais e pessoas que condicionam as afinidades e as redes de relação, somam-se a essa questão dois fatores que freiam o estabelecimento de culturas de colaboração: a forte tradição individualista e a aceitação ou negação da proposta de trabalho da escola e assim, instalam-se os conflitos, dificultando o desenvolvimento da tarefa educativa em prol dos objetivos educacionais. 3- CONCLUSÃO Para concluir é necessário reconhecer as limitações deste trabalho envolvendo a evasão escolar, dada suas implicações, incluindo desde fatores cognitivos e psicoemocionais dos alunos a problemas socioculturais, institucionais e aqueles relacionados a economia e a política (BRASIL, 2006). Por essa razão o recorte feito aqui é constituído por parte dos determinantes institucionais, reportando-se apenas a questões relacionadas ao trabalho educativo desenvolvido nas escolas públicas. Considera-se nessa perspectiva, oferecer subsídios para o adequado desenvolvimento do trabalho educativo na escola, com a ajuda de autores estudados, que ofereceram importantes contribuições, no sentido de amenizar os prejuízos causados pela evasão escolar. Com esse objetivo foram levantados aspectos importantes da opinião dos alunos, equipe diretiva e professores, sobre o CEEBJA de Nova Londrina. Assim também como as características do exercício diário referente ao trabalho docente. Ao mesmo tempo esse levantamento possibilitou detectar os problemas e os pontos divergentes entre os participantes. De qualquer modo, o importante a registrar aqui é a intenção da equipe diretiva e dos professores em propiciar um ensino de melhor qualidade. Intenção essa que procura romper com a passividade e aceitação presentes no ensino tradicional e que ainda vigora. Mesmo assim, a educação que se realiza, não deixa de ser semelhante aquela dispensada na maioria das escolas públicas do país, apresentando os mesmos problemas e desencontros. Isso equivale dizer, segundo Aquino (1997) que apesar das intenções e esforços da equipe diretiva e professores, comprometidos com uma educação de qualidade, os determinantes envolvidos no processo educacional parecem não deixar de atuar e decidir o tipo de ensino que se realiza nas escolas. O mesmo autor enfatiza que mesmo que a comunidade escolar não tenha consciência dessas forças sociais mais amplas, um desses determinantes que parecem atuar de forma decisiva consiste na crença que a evasão escolar, traduzida aqui por fracasso escolar, é um fenômeno natural, com previsão que se assume como uma regularidade social inevitável. Trata-se antes, de um fenômeno produzido pela ação dos seres humanos. Assim, por não ser desejável, ninguém assume a responsabilidade 28 da sua produção, por isso dá a sensação de que ninguém o produz, que é um fato espontâneo e natural. Habitualmente o fracasso escolar é imputado aos alunos, ficando por norma os fatores que o provocam, fora do seu controle e da sua responsabilidade (ARROYO, 2001). Pelo exposto no texto não é difícil perceber, que cabe a cada uma das partes envolvidas, fazerem bem mais do que aparece na realidade educacional, relacionado às ações desenvolvidas pela escola e professores, por alunos e sociedade e pelas políticas públicas educacionais. Nesse sentido cabe à escola, transformar parte da realidade, que produz o fracasso e a evasão escolar, trazendo como conseqüência a exclusão social. Isso equivale dizer, que é preciso delimitar algumas possibilidades da escola, em torno dos quais podem ser tomadas medidas no sentido de trazer-lhes mais credibilidade e competência (AQUINO, 1997). Como escreveu Frigotto (1989, p. 200) é preciso instrumentalizar o aluno de maneira que possa lutar contra as adversidades que a vida lhe impõe, referente às relações econômicas e históricas; a escola importante para a classe trabalhadora é aquela que mostra a contradição nas relações entre a classe dominante e os dominados e a condição da negação histórica do saber, imposta aquela, pelaclasse dominante. A instrumentalização citada aqui é referente ao ensino da leitura e da escrita e ao efetivo ensino de conteúdos nas diferentes áreas do conhecimento, sendo a educação trabalhada no interior da escola como uma atividade humana e transformadora, inserida no movimento coletivo de emancipação. Seguindo esse raciocínio, Balzan (1989), defende a idéia, que a escola e o professor devem ter clareza dos objetivos que pretende atingir com seu trabalho. Não aqueles objetivos descritos em planos e documentos da escola, mas, sobretudo aos que dizem respeito à prática da escola e do professor; refere-se a intencionalidade do que se ensina, a importância destinada ao conteúdo em questão, e a maneira que o professor conduz o processo de ensino/aprendizagem. Dessa forma o conhecimento de que a intencionalidade do trabalho educativo está presente, demanda na compreensão da significação profunda da adequada intervenção pedagógica, denominada por Vasconcellos (1995) de 29 mediação entre o conteúdo e a realidade do aluno; essa será determinante para que a aprendizagem se efetive, implicando na escolha adequada das atividades a serem trabalhadas com os alunos. Para tanto se faz necessário entender o nível cognitivo do aluno e a importância de trabalhar o conteúdo de forma a contextualizá-lo, favorecendo assim a aproximação entre o conhecimento sistematizado e o conhecimento do senso-comum, fortemente incorporado pelo aluno como um conhecimento pré-estabelecido. Ao acompanhar essa descrição sobre o efetivo trabalho pedagógico, parece uma tarefa fácil, que já é realizada nas escolas. Contudo, essa pesquisa e outras conhecidas e estudadas por acadêmicos e pela classe dos professores, apontam que a distância entre as pretensões da escola e do aluno continuam evidentes. Outro ponto considerado determinante para que a aprendizagem se efetive e diminua a evasão escolar, refere-se à autonomia das escolas. Todavia, ela diz respeito à autonomia do ato de ensinar e não a decisões meramente burocráticas. Isso posto, avança-se naquilo que à primeira vista parece simples, haja vista que a escola deve cumprir o seu papel, que é ensinar e ensinar bem, uma vez que essa responsabilidade é inteiramente sua. Entretanto, a desqualificação do trabalho educativo aparece, na constatação de aulas monótonas e sem objetivos propostos, muitas vezes, com planejamentos inadequados e até mesmo sem sua realização; as atividades e conteúdos são escolhidos em grande parte sem uma análise do livro didático, sendo ele utilizado pelo professor, apenas como reprodução, não havendo uma reformulação dos conteúdos de acordo com a capacidade do aluno. Daí ser possível inferir que a escola reforça idéias de elitização e exclusão social. Justificando aparentemente a posição de desconhecer a intrínsica relação do trabalho educativo com a emancipação humana (FRIGOTTO, 1989). Cabe ressaltar o que salienta Azanha (1992), a respeito do Projeto Político Pedagógico, enfatizando, que este não pode encerrar-se no discurso teórico, como se somente as intenções bastasse, para obter o tão sonhado sucesso educacional. Nem tampauco pode simplesmente conter indicações práticas da tarefa educativa. Ao contrário, deve revelar capacidade concreta de 30 trabalhar a prática, tendo a teoria como suporte teórico, capaz de lhe dar sustentação. Como se vê, até aqui foi discorrido sobre as causas da evasão escolar, entendida por muitos autores por fracasso escolar, convergindo para suas conseqüências, justificando parte do processo. Brasil (2006), evidencia a ocorrência de baixa auto-estima ligada a timidez excessiva e ao sentimento de incapacidade, dificuldade para o ingresso no mercado de trabalho, má qualidade de vida, desqualificação e barateamento de mão-de-obra, estímulo a violência e prostituição, gravidez precoce, consumo e tráfico de drogas. Enfim, a maior conseqüência é a consolidação da desigualdade social, que por sua vez, coloca as pessoas numa situação completamente desprotegida, com dificuldades de saída dessa complicada condição. Embora haja riscos e desconfortos, envolvidos nesse tema, deve-se deixar de lado, a relutância tradicional, de investigar cientificamente os fenômenos que causam a evasão escolar, de modo a compreendê-la à luz de estudiosos que procuram clarificar seus determinantes e quais as intervenções necessárias. A esse respeito Vasconcellos (1995) anuncia que somente os professores interessados pela ciência da educação obterão sucesso em seu trabalho. 3- REFERÊNCIAS. AQUINO, Júlio Groppa. O mal-estar na escola contemporânea: erro e fracasso em questão. AQUINO, J. G. (Org.). In: Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. 4. ed. São Paulo: Summus,1997, p. 91-110. ARROYO, Miguel. Prefácio. PARO, V. H. In: Reprovação escolar: renúncia à educação. 2. ed. São Paulo: Xamã, 2001. AZANHA, José Mário Pires. Educação: alguns escritos. São Paulo: Nacional, 1987. 31 ______. Autonomia da escola: um reexame. São Paulo: FDE, Série Idéias n.16, p. 37-46, 1993. Disponível em: http://www.gogle.com/crmariocovas.sp.gov.br.html>Acesso em: 27/10/2008. BALZAN, Newton Cesar. Sete asserções inaceitáveis sobre a inovação educacional. GARCIA, W. E. (Coord.). In: Inovação educacional no Brasil: problemas e perspectivas. Coleção educação contemporânea: 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989, p. 264-285. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Alunas e alunos da EJA. Brasília: Coleção: Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos, 2006. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. Coleção educação contemporânea; 3. ed. São Paulo: Cortez, 1989. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. RIBEIRO, V. M. (Org.). In: Educação de Jovens e Adultos: novos leitores, novas leituras. São Paulo: Ação Educativa; Campinas: Mercado das Letras, 2001, p. 15-44. ______. Sobre diferenças individuais e diferenças culturais: o lugar da abordagem histórico-cultural. AQUINO, J. G. (Org.). In: Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. 4. ed. São Paulo: Summus,1997, p. 45-62. RIBEIRO, Vera Massagão. Alfabetismo e atitudes: pesquisa com jovens e adultos. São Paulo: Ação Educativa; Campinas: Papirus, 1999. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. Cadernos Pedagógicos do Libertad, 2; 3. ed. São Paulo: Libertad, 1995. EVASÃO ESCOLAR: NÃO BASTA COMUNICAR E AS MÃOS LAVAR Murillo josé Digiácomo[1] A evasão escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo muitas vezes passivamente assimilada e tolerada por escolas e sistemas de ensino, que chegam ao cúmulo de admitirem a matrícula de um número mais elevado de alunos por turma do que o adequado já contando com a "desistência" de muitos ao longo do ano letivo. Como resultado, em que pese a propaganda oficial sempre alardear um número expressivo de matrículas a cada início de ano letivo, em alguns casos chegando próximo aos 100% (cem por cento) do total de crianças e adolescentes em idade escolar, de antemão já se sabe que destes, uma significativa parcela não irá concluir seus estudos naquele período, em prejuízo direto à sua formação e, é claro, à sua vida, na medida em que os coloca em posição de desvantagem face os demais que não apresentam defasagem idade-série. As conseqüências da evasão escolar podem ser sentidas com mais intensidade nas cadeias públicas, penitenciárias e centros de internação de adolescentes em conflito com a lei, onde os percentuais de presos e internos analfabetos, semi- alfabetizados e/ou fora do sistema de ensino quando da prática da infração que os levou ao encarceramento margeia, e em alguns casos supera, os 90% (noventa por cento). Sem medo de errar, conclui-se que é a falta de educação, no sentido mais amplo da palavra, e de uma educação de qualidade, que seja atraente e não excludente, e não a pobrezaem si considerada, a verdadeira causa do vertiginoso aumento da violência que nosso País vem enfrentando nos últimos anos. O combate à evasão escolar, nessa perspectiva, também surge como um eficaz instrumento de prevenção e combate à violência e à imensa desigualdade social que assola o Brasil, beneficiando assim toda a sociedade. Possuindo diversas causas, que vão desde a necessidade de trabalho do aluno, como forma de complementar a renda da família, até a baixa qualidade do ensino, que desestimula aquele a freqüentar as aulas, via de regra inexistem, salvo honrosas exceções, mecanismos efetivos e eficazes de combate à evasão escolar tanto a nível de escola quanto a nível de sistema de ensino, seja municipal, seja estadual. E isto ocorre não em razão da falta de previsão legal para sua existência, na medida em que tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), como decorrência do enunciado dos arts.206, inciso I[2] e 208, §3º[3], da Constituição Federal, há muito contém disposições expressas no sentido de sua obrigatória criação. Situação curiosa resultou do advento da Lei nº 10.287, de 20 de setembro de 2001, que acrescentou ao art.12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, onde se encontram relacionadas diversas obrigações aos estabelecimentos de ensino, o seguinte dispositivo: "VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do percentual permitido em lei" (verbis). Logo surgiu uma verdadeira "enxurrada" de expedientes, encaminhados apressadamente pelas escolas, às autoridades públicas indicadas no texto legal transcrito, contendo listas muitas vezes bastante extensas de alunos infreqüentes, alguns, não é preciso dizer, com percentual de faltas muito superior ao máximo permitido em lei, que é de 25% (vinte e cinco por cento) do total de horas letivas (art.24, inciso VI da Lei nº 9.394/96). Tal cenário nos leva a concluir que boa parte dos dirigentes de estabelecimentos de ensino somente se deram conta da necessidade de tomarem medidas no sentido de providenciarem o retorno de seus alunos infreqüentes aos bancos escolares com a promulgação do texto legal acima transcrito, quando na verdade, consoante alhures mencionado, tal obrigação já constava do ordenamento jurídico vigente, inclusive da própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como de nossa Constituição Federal. Pior. Existem aqueles que pensam (ou poderão vir a pensar), em razão da citada inovação legislativa, que sua obrigação para com a solução do problema da evasão escolar se resume ao cumprimento de seu respectivo preceito, com a simples (para não dizer simplória) e automática comunicação do atingimento, por um ou mais alunos, do mencionado percentual legal. Ledo engano. O contido no art.12, inciso VIII da Lei nº 9.394/96 apenas veio a se somar aos demais dispositivos legais e constitucionais que visam combater a evasão escolar, devendo ser junto a eles interpretado. Para tanto, deve-se partir do princípio que os objetivos da educação, na clara dicção do art.205 da Constituição Federal[4], em muito extrapolam o simples ensino das disciplinas curriculares, exigindo que a escola se torne cada vez mais um espaço democrático, aberto aos pais e à comunidade em geral, que tem por missão ajudar a transformar e chamar à responsabilidade, de modo que todos participem desse necessário processo de construção da cidadania de nossos jovens, de seus pais além, é claro, dos próprios profissionais do ensino, numa permanente e saudável dialética. Inconcebível, portanto, que a escola se preste a uma atuação meramente burocrática e pragmática junto à comunidade escolar, em especial no que diz respeito ao combate à evasão escolar, através do cumprimento puro e simples do comando do citado art.12, inciso VIII da Lei nº 9.394/96. Se semelhante conduta já não se mostra compatível com o enunciado do art.205 da Constituição Federal, máxime quando praticada por uma instituição que tem a vocação natural de se tornar um verdadeiro "centro de formação de cidadãos", sua flagrante inadequação fica ainda mais evidenciada quando considerados os demais dispositivos que tratam da matéria e a própria sistemática da Lei nº 9.394/96, notadamente seus arts.5º, §1º, inciso III[5] e 12, incisos VI e VII[6], que por sua vez encontram respaldo no art.208, §3º da Constituição Federal acima citado, estabelecendo claramente a obrigação de que a escola promova uma necessária articulação com os pais ou responsáveis pelos seus alunos e, em especial, com toda comunidade, de modo a prevenir e evitar a evasão escolar. Não bastasse o estatuído na Lei nº 9.394/96 e dispositivos constitucionais referentes especificamente à educação, não podemos esquecer que estes comportam uma interpretação conjunta com as normas correlatas contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seus arts.53 e 54 praticamente reproduz o enunciado dos arts.205, 206 e 208 da Constituição Federal e, em seu art.56, é categórico ao dispor que: "Art.56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, ESGOTADOS OS RECURSOS ESCOLARES; III - elevados níveis de repetência" (verbis - grifei). A regra estatutária acima transcrita, que continua em pleno vigor, deve ser obviamente interpretada à luz de toda a sistemática estabelecida pela Lei nº 8.069/90 com vista à proteção integral da criança e do adolescente, ex vi do disposto em seus arts.1º[7] e 6º[8] (que por sua vez encontram guarida no art.227, caput, da Constituição Federal), na perspectiva de prevenir a ocorrência da mera ameaça ou da efetiva violação de seus direitos, pois afinal reza o art.70 do citado Diploma Legal que: "Art.70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente" (verbis - grifei). Assim sendo, é deveras evidente que compete às escolas, bem como aos respectivos sistemas de ensino, a criação de mecanismos próprios, em ambos os níveis, que estejam articulados com a rede de atendimento à criança e ao adolescente existente no município (vide arts.86, 88, incisos I e III, 101 e 129, todos da Lei nº 8.069/90), com vista ao combate à evasão escolar em caráter preventivo, de modo a evitar, o quanto possível, o atingimento do percentual de faltas a que se refere o art.12, inciso VIII da Lei nº 9.394/96 acima transcrito. Nessa perspectiva, uma vez apurado que um aluno atingiu determinado número de faltas, consecutivas ou alternadas (número este que por óbvio deve ser consideravelmente inferior ao percentual alhures mencionado), a própria escola deve já procurar interceder diretamente junto à sua família, de modo a apurar a razão da infreqüência e, desde logo, proceder às orientações que se fizerem necessárias, num verdadeiro trabalho de resgate do aluno infreqüente. Caso persista a infreqüência, a própria escola deve providenciar uma avaliação mais detalhada de sua condição sócio-familiar e, também, submeter o aluno a uma avaliação médica e psicológica, para o que deverá acionar diretamente profissionais, serviços e programas próprios existentes nos sistemas de ensino e de saúde[9]. Em entrando na "rede" de atendimento, com a presumível articulação dos diversos programas que a integram (nesse sentido, mais uma vez vide art.86 da Lei nº 8.069/90), o aluno será encaminhado de forma automática (embora criteriosa), às intervenções e equipamentos que se mostrem necessários para promover seu retorno - com aproveitamento, aos bancos escolares, sem é claro perder de vista que o referido atendimento se estende também à sua família, à qual cabe ser orientada, trabalhada
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