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Educação Ambiental

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Educação Ambiental ou Educação Ambiental 
Juan Ferrari Rizzo1 
 
Resumo 
Muito se fala de Educação Ambiental, mas nem sempre se está falando da 
mesma coisa. Neste artigo se pretende estabelecer a diferença entre a 
Educação Ambiental, no seu sentido mais amplo, e outra Educação Ambiental, 
que visa especificamente preparar o professor para que consiga desenvolver a 
consciência ambiental nos seus alunos, através do trabalho interdisciplinar, da 
“ambientalização” de sua matéria, da aplicação de métodos adequados no 
tratamento dos conteúdos da disciplina que podem se vincular com os 
problemas do meio ambiente. 
 
Palavras-chave: Educação ambiental. Consciência ambiental. 
Ambientalização. 
 
INTRODUÇÃO 
O título deste artigo pode parecer algo esquisito porque, pelo menos 
teoricamente, não podem existir duas coisas, dois fenômenos, com o mesmo 
nome. É que existe o conceito de algo, que deve defini-lo e diferenciá-lo de 
outro. 
Conceito, segundo o dicionário Michaelis, é: 
1.- Idéia, abstração. 
2.- Opinião. 
3.- Sentença, máxima. 
Assim, o conceito é a idéia que define uma coisa, é a sentença ou máxima que 
a define. Cada coisa, cada fenômeno, cada processo, têm o conceito que os 
 
1 Doutor em Geografia. Coordenador Adjunto e Professor do Curso de Pós-Graduação em 
Gestão Ambiental do Núcleo de Pós-graduação e Educação a Distância do SENAC Minas em 
Poços de Caldas e Varginha. 
 
define, embora existam dificuldades para definir alguns destes fenômenos. 
Lembre-se a opinião de alguns que disseram (acho que já não dizem) que meio 
e ambiente são a mesma coisa e que falar de meio ambiente era, 
simplesmente, uma redundância. Mas, em ecologia, existe o conceito de meio 
e o conceito de ambiente, alem de que existe o conceito, bem definido, de meio 
ambiente, estreitamente vinculado com os conceitos anteriores, mas 
independente deles. 
E existe o conceito de Educação Ambiental, muito bem definido, embora alguns 
expressem a idéia de forma diferente, usando palavras diferentes. 
No sítio www.apoema.com.br/definicoes.htm, é possível encontrar um artigo de 
Berenice Gehlen Adams que contém muitas definições do conceito de 
educação ambiental, além de que esse conceito encontra-se em todos os livros 
e artigos relacionados com a temática ambiental. Dentre as definições que 
aparecem no artigo mencionado anteriormente, vale a pena destacar as 
seguintes: 
• A definição oficial de educação ambiental, do Ministério do Meio 
Ambiente: 
 
Educação ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos 
e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem 
conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que 
os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver 
problemas ambientais presentes e futuros. 
www.apoema.com.br/definicoes.htm. 
 
• De acordo com o conceito de educação ambiental definido pela 
comissão interministerial na preparação da ECO-92, 
 
A educação ambiental se caracteriza por incorporar as dimensões 
sócio-econômica, política, cultural e histórica, não podendo se basear 
em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as 
condições e estágios de cada país, região e comunidade, sob uma 
perspectiva histórica. Assim sendo, a Educação Ambiental deve permitir 
a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a 
interdependência entre os diversos elementos que conformam o 
ambiente, com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na 
satisfação material e espiritual da sociedade, no presente e no futuro. 
(LEÃO & SILVA,1995, www.apoema.com.br/definicoes.htm). 
 
• A Lei Federal nº 9.795 define a Educação Ambiental como 
 
o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem 
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências 
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do 
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Art.1º, 
Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99). 
 
• Para a UNESCO, 
 
A educação ambiental é um processo permanente no qual os 
indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio 
ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, 
valores e a determinação que os tornam capazes de agir, 
individual ou coletivamente, na busca de soluções para os 
problemas ambientais, presentes e futuros (UNESCO, 1987). 
 
• Na conferência de Estocolmo em 1972, 
A finalidade da educação ambiental é formar uma população 
mundial consciente e preocupada com o ambiente e problemas 
com ele relacionados, e que possua os conhecimentos, as 
capacidades, as atitudes, a motivação e o compromisso para 
colaborar individual e coletivamente na resolução de problemas 
atuais e na prevenção de problemas futuros (UNESCO, 1976). 
 
Em todas estas definições a idéia fundamental, o objetivo da Educação 
Ambiental, é a criação de uma consciência ambiental na população através da 
educação; através da abordagem de elementos do meio ambiente, seus 
problemas e possibilidades de solução, dentro dos programas das diferentes 
disciplinas escolares. 
 
DESENVOLVIMENTO 
A Educação Ambiental é uma via para desenvolver a consciência ambiental 
nas pessoas, para que elas compreendam os processos naturais e sócio-
econômicos que afetam o meio ambiente e assumam posições responsáveis 
para solucionar estes problemas. Nesse sentido, fica evidente que é impossível 
desenvolver uma disciplina de Educação Ambiental. 
Este é um problema muito discutido na atualidade. Deve ou não existir uma 
disciplina de Educação Ambiental? 
Em julho de 2005, num grupo de trabalho do V Encontro de Geógrafos de 
Minas Gerais, participei de uma discussão sobre essa questão. Um colega 
começou questionando se devia ou não existir essa disciplina. 
As reações foram variadas, embora o grupo fosse relativamente pequeno. Uns 
falaram que sim, que devia existir. Outros, dentre eles eu, dizemos que não. A 
fundamentação para essa opinião é, fundamentalmente, cumprir o estabelecido 
pela lei 9.795 de abril de 1999 (sobre a Educação Ambiental). 
O artigo 10 dessa lei diz: 
§ 1o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina 
específica no currículo de ensino. 
Isso significa que não é possível ministrar uma disciplina de Educação 
Ambiental porque, em realidade, estar-se-ia faltando à lei. 
Porém, alguns falaram que se deveria ministrar a disciplina. Um dos 
participantes, estudante de uma Faculdade no curso de Geografia, diz que 
tinha freqüentado a disciplina, como matéria eletiva, mas que o resultado não 
foi bom, porque a disciplina abordou basicamente temas de história da 
Educação Ambiental e, não, como trabalhar os conteúdos nas diferentes 
disciplinas. 
Essa opinião, unida ao critério estabelecido pela lei, fez que não se discutisse 
muito mais e tudo acabou com a idéia de não se ministrar a disciplina. 
Mas a discussão continuou dentro de mim e achei que tinha alguma coisa 
errada nisso, porque, no mesmo evento, eu tinha ministrado um mini-curso 
sobre Educação Ambiental. 
Para mim, a questão radica no fato de que às vezes resulta interessante 
encontrar e utilizar conceitos que, segundo a situação concreta na qual são 
utilizados, podem ter outro objetivo. Vejam-se os seguintes exemplos: 
A mesma fonte mencionada anteriormente diz: 
• Educação Ambiental foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo 
e à prática da Educação, orientada para a solução dos problemas concretos do 
meio ambiente, através de enfoques interdisciplinares e de uma participação 
ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade (I Conferência 
Intergovernamental sobre Educação Ambiental - Tbilisi, Geórgia, ex URSS). 
Neste conceito existe um elemento que o diferencia dos anteriores: o de 
dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação. 
A própria lei 9.795, no Artigo jámencionado, diz o seguinte: 
§ 2o Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao 
aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer 
necessário, é facultada a criação de disciplina específica. 
O que significa “nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação 
ambiental”? 
Evidentemente, aqui o objetivo da Educação Ambiental é outro e diferente do 
anteriormente dito. 
O objetivo agora é preparar os professores para abordarem os aspectos 
ambientais em suas disciplinas. Então se fala do que poderíamos chamar de 
Metodologia do Ensino da Educação Ambiental, embora seja empregado o 
mesmo termo de Educação Ambiental. 
Em minha opinião, é necessário, então, diferenciar bem o que se pretende 
obter. Acho que o problema radica no fato de que ambas as disciplinas, a 
Educação Ambiental e essa Metodologia do Ensino da Educação Ambiental, 
têm objetos diferentes. O objeto de estudo da Educação Ambiental é o meio 
ambiente e seu campo de ação é a relação (ou relações) do homem com esse 
meio ambiente, que modifica dia-a-dia e que, na verdade, deve proteger. 
Por outra parte, o objeto de estudo dessa metodologia do Ensino da Educação 
Ambiental é a educação ambiental propriamente dita, e seu campo de ação é 
como ensinar a conhecer, a identificar e a evitar as ações que o homem 
desenvolve contra o meio ambiente. 
No primeiro caso, fica claro que não é possível elaborar uma disciplina que 
tente abordar todos os conteúdos ambientais. O que deve ser feito é incorporar 
a dimensão ambiental em todos os programas das disciplinas. O importante é 
“ambientalizar” os programas, quer dizer, tentar incluir os elementos 
ambientais, fundamentalmente os problemas ambientais, vinculando-os com os 
conteúdos específicos de cada disciplina. 
Assim, por exemplo, quando numa aula de Geografia o professor desenvolve 
os conteúdos relativos à atmosfera, ele deve falar dos problemas da poluição 
atmosférica, da camada de ozônio, do efeito estufa, do aquecimento global, 
das chuvas ácidas e das medidas que devem ser tomadas para evitar esses 
problemas. Isso é “ambientalizar”; isso é incorporar a dimensão ambiental. 
Mas esse professor deve saber como fazer isso, como levar em consideração 
essa dimensão, como “ambientalizar” seu programa, como desenvolver o 
trabalho de Educação Ambiental na sua disciplina. 
E esse é o objetivo da disciplina Educação Ambiental, da outra Educação 
Ambiental, aquela que deve abordar os métodos para desenvolver o trabalho 
nas aulas, essa Metodologia do Ensino da Educação Ambiental, que deve 
incluir conteúdos de Didática da Educação Ambiental. E eu acho que não se 
contradiz a lei, porque ela, como foi dito anteriormente, admite a disciplina 
voltada aos aspectos metodológicos da Educação Ambiental. 
Outro problema é o quê ministrar nesse curso, qual deveria ser a ementa dele. 
Acho que o importante não é desenvolver a história da Educação Ambiental, 
embora seja interessante conhecer os momentos fundamentais dessa evolução 
conceitual e de trabalho. O professor deve falar dessa história, mas existe 
bibliografia acessível que a contém e que pode ser consultada pelos 
estudantes. No livro Educação Ambiental, princípios e práticas , de 
Genebaldo Freira Dias, se aborda esta temática com uma profundidade mais 
que suficiente. Na Internet também é possível obter informação sobre esse 
tema. 
O importante é esclarecer os conceitos fundamentais vinculados com a 
Educação Ambiental e necessários para desenvolver o trabalho na sala de 
aula. O importante é saber o que é e por que é importante desenvolver a 
Educação Ambiental de forma interdisciplinar. O importante é saber como 
atingir essa interdisciplinaridade, como estabelecer vínculos entre as diferentes 
disciplinas. O importante é saber como desenvolver o trabalho formal e não 
formal de Educação Ambiental. O importante é discutir acerca de possíveis 
atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes nos diferentes níveis e com 
diferentes idades e os métodos e meios que devem ser empregados pelos 
docentes para essas atividades serem desenvolvidas, assim como que tipo de 
avaliação aplicar em cada caso. 
Esses podem ser, dentre outros, os conteúdos deste programa de Educação 
Ambiental (ou de Metodologia do Ensino da Educação Ambiental, que inclui a 
Didática da Educação Ambiental). 
 
CONCLUSÃO 
Em minha opinião, a letra da lei deve ser analisada em cada caso e não ser 
interpretada de maneira estreita. Uma coisa é Educação Ambiental como 
trabalho que deve desenvolver a consciência ambiental e outra é a Metodologia 
do Ensino da Educação Ambiental como via para saber como desenvolver esse 
trabalho. 
Acredito que nos cursos de formação de professores deve sim ser ministrada 
essa disciplina, como via de preparação dos professores para desenvolver o 
trabalho de educação ambiental nas suas aulas. 
Eis as duas concepções de “Educação Ambiental” do título deste artigo, com 
certeza bem diferentes, uma da outra. 
 
Abstract 
 Environmental Education is frequently spoken about, but it seems that people 
are not always talking about the same matters. This article is intended to 
establish the difference between Environmental Education, in general, and 
Environmental Education, which focuses mostly on the preparation of 
teachers/professors so that they will be able to develop the environmental 
awareness over their students, through interdisciplinary work, the 
“environmental effect” of their subject, and adequate choice of methodology 
when dealing with the contents of the discipline which can be linked to other 
environmental problems. 
 
Keywords: Environmental education. Environmental awareness. Environmental 
effect. 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
ADAMS, Berenice Gehlen. O que é Educação Ambiental? Definições de 
Educação Ambiental. Local (cidade) de publicação: Editor, data de 
publicação. Disponível em: www.apoema.com.br/definicoes.htm. Acesso 
em: 22/08/2005. 
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental, Princípios e práticas. 5. ed. São 
Paulo: Gaia, 1998, 400 p. 
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para Assuntos 
Jurídicos. Lei Nº 9.795 de 27 de abril de 1999. Disponível em: 
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm. Acesso em: 21/08/2005. 
RIZZO, Juan Ferrari. Medio Ambiente y Educación Ambiental. Formato digital. 
Inédito.

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