Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 Kátia de Freitas Alvarenga Lílian C. Bornia Jacob Corteletti O Mascaramento na Avaliação Audiológica (um guia prático) São José dos Campos 2006 3 Copyright © 2006 by Pulso Editorial Ltda. ME Avenida Anchieta, 885 (Jardim Esplanada) 12242-280 São José dos Campos – SP. Fone/Fax: (12) 3942-1302 e-mail: atendimento@pulsoeditorial.com.br home-page: http://www.pulsoeditorial.com.br Impresso no Brasil/Printed in Brazil, com depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto no. 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos reservados – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer parte desta edição, por qualquer meio, sem a expressa autorização da editora. A violação dos direitos de autor (Lei no 5.988/73) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Editor responsável: Vicente José Assencio-Ferreira Diagramação e capa: Dimitri Ribeiro Ferreira Impressão e acabamento: Gráfica e Editora Parma Ltda. Alvarenga, Kátia de Freitas e Corteletti, Lilian C. Bornia Jacob. O Mascaramento na avaliação audiológica: um guia prático, Kátia de Freitas Alvarenga e Lílian C. Bornia Jacob Corteletti. - São José dos Campos: Pulso, 2006. ISBN 85-89892-35-2 114p 1. Audilogia 2. Fonoaudilogia 3. Mascaramento Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) 4 À minha avó Maria Conceição, exemplo para minha vida; Aos meus pais Pedro e Heloisa, que me criaram em um seio familiar, cercada de amor e atenção, que me incutiu valores éticos e morais, permitindo que eu me tornasse o ser humano que sou hoje. Eu dedico esse livro! Kátia Aos meus pais, Euclides e Leonor, meus eternos mestres; Ao meu amor, Emerson, meu porto seguro, Eu dedico esse livro! Lilian 5 Aos nossos alunos, amigos e profissionais que durante a convivência diária, apoiaram a concretização deste projeto! 6 7 Prefácio As professoras Kátia F. Alvarenga e Lílian Jacob Corteletti convidaram-me gentilmente para escrever o prefácio do livro: “O Mascaramento na avaliação audiológica: um guia prático”. A leitura do livro é agradável, pois as autoras usaram uma linguagem que aproxima o leitor do texto, dando-lhe a sensação de aprendizado progressivo e de oportunidade de aplicação imediata dos conhecimentos adquiridos à clínica audiológica. As autoras preocuparam-se em fundamentar cientificamente todas as etapas para a correta aplicação do mascaramento. A narrativa moderna, cheia de exemplos e dicas, vai despertar a atenção dos estudantes e profissionais interessados no diagnóstico audiológico. A Parte II “Casos Clínicos: O uso do ruído mascarador nas diferentes perdas auditivas” é muito interessante, pois revela a competência e a importante experiência clínica das autoras obtidas em suas atividades profissionais ao longo dos anos. O livro tem referências bibliográficas muito bem selecionadas, importantes e atuais. Li com satisfação “O mascaramento na avaliação audiológica: um guia prático”. Gostei do conteúdo e de como o livro o expõe. Recomendo, entusiasticamente, sua leitura atenta a iniciantes e a profissionais das áreas da audiologia e otorrinolaringologia. Parabéns à Prof.ª Kátia. Parabéns à Prof.ª Lílian. Parabéns à Audiologia Nacional. Prof. Dr. Orozimbo Alves Costa Fo Professor Titular da Universidade de São Paulo – campus Bauru Médico Otologista e Coordenador do Centro de Pesquisas Audiológicas – Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais – Universidade de São Paulo 8 9 Kátia de Freitas Alvarenga – Professora Associada do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo. Lílian C. Bornia Jacob Corteletti – Professora Doutora do Curso de Fonoaudiologia e do Mestrado em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná. AUTORAS Autoras 10 11 Sumário Sumário INTRODUÇÃO PARTE I: O FENÔMENO DO MASCARAMENTO AUDIÇÃO POR CONDUÇÃO ÓSSEA COMPREENDENDO A AUDIOMETRIA TONAL LIMINAR COMPREENDENDO A NECESSIDADE DO MASCARAMENTO COMPREENDENDO O FENÔMENO DO MASCARAMENTO RACIOCÍNIO PARA O CÁLCULO DO RUÍDO MASCARADOR PARTE II: CASOS CLÍNICOS: O USO DO RUÍDO MASCARADOR NAS DIFERENTES PERDAS AUDITIVAS O MASCARAMENTO NA PERDA AUDITIVA NEUROSSENSORIAL BILATERAL ASSIMÉTRICA O MASCARAMENTO NA PERDA PROFUNDA UNILATERAL O MASCARAMENTO NA PERDA AUDITIVA NEUROSSENSORIAL BILATERAL SIMÉTRICA O MASCARAMENTO NA PERDA AUDITIVA CONDUTIVA UNILATERAL O MASCARAMENTO NA PERDA AUDITIVA CONDUTIVA BILATERAL SIMÉTRICA O MASCARAMENTO NA PERDA AUDITIVA MISTA UNILATERAL REFERÊNCIAS 13 17 19 29 37 49 63 73 75 85 91 93 97 105 111 12 13 Introdução A complexidade da audição, bem como de suas implicações no desenvolvimento dos indivíduos, tem historicamente desafiado pesquisadores de diferentes áreas à elaboração de recursos teóricos e tecnológicos para a sua compreensão. Ainda que muito já tenha sido feito no sentido de desvendar estruturas e mecanismos nos quais ela está envolvida, o que nos instiga e motiva é saber que os conhecimentos produzidos acerca da mesma permanecem transitórios e, portanto, sujeitos a aprofundamentos, a relativizações e a superações. Da transitoriedade do saber decorre o fato de aspectos aparentemente já conhecidos voltarem a ser passíveis de novas reflexões, estudos e produções. Dessa forma, pretendemos, ao longo deste trabalho, responder por que o mascaramento, fenômeno cujas produções científicas pioneiras surgiram nas primeiras décadas de 1900, ao contrário de ser um assunto esgotado, representa uma problemática atual. Este livro foi elaborado com uma abordagem que visa a induzir o examinador a um raciocínio que possibilite o uso do ruído mascarador de forma consciente e, conseqüentemente, que lhe permita ficar seguro diante de qualquer resultado obtido na avaliação audiológica convencional, seja na pesquisa dos limiares por condução aérea, por condução óssea ou na logoaudiometria. Está, para tanto, estruturado em duas partes: uma primeira parte, que aborda os conceitos básicos relacionados ao mascaramento, e uma segunda, onde são apresentados casos clínicos explicitando, passo a passo, o uso do ruído mascarador, em diferentes tipos de perdas auditivas, na clínica fonoaudiológica. Ressaltamos ainda que as dificuldades que envolvem o mascaramento estão relacionadas também à complexidade do funcionamento do sistema auditivo. A prova disso é que a produção do conhecimento envolvida com os mecanismos de condução óssea, 14 em nível nacional ou internacional, é contemporânea. Dessa forma, consideramos importante a elaboração de um capitulo que trate, especificamente, na primeira parte, dos mecanismos que envolvem a audição por condução óssea. Chamamos a atenção para uma série de estratégias, utilizadas ao longo de todo o livro, que denominamos de DICAS, cujo objetivo é transmitir ao leitor um pouco de nossa experiência obtida na prática clínica. Por meio delas pretendemos oferecer elementos teórico- práticos a serem utilizados no atendimento clínico do indivíduo, possibilitando diagnósticos mais precisos dos distúrbios da audição. Além disso, explicitamos que, em alguns exemplos de casos clínicos, são apresentados os limiares aéreos e/ou ósseos por meio da sua anotação com símbolos em marca d’água sempre que pretendemos expressar as seguintes situações: - suposição dos valores de limiares ósseos da orelha não testada, visto que não foram pesquisados; - limiares aéreos e/ou ósseos das orelhas testada e não testada anteriores à apresentação do ruído mascarador; - limiares aéreos e/ou ósseos obtidos com a participação da orelha não testada (audição cruzada). Abaixo, apresentamos um quadro com os símbolos audiométricos, utilizados neste livro, de acordo com o proposto pela ASHA (1990). Quadro 1: Símbolos audiométricos (ASHA, 1990). 15 Por fim, o nosso intuito é que a leitura deste livro também proporcione ao examinador, por meio do entendimento dos princípios básicos do mascaramento, a compreensão das diferentes técnicas e fórmulas existentes na literatura e possa,então, fazer sua opção com propriedade. As autoras 16 17 O Fenômeno DO MASCARAMENTO P A R T E I 18 19 A audição do ser humano envolve dois mecanismos de transmissão sonora: condução aérea e condução óssea. Independente da maneira pela qual a onda sonora é transmitida até a cóclea, haverá a movimentação das membranas basilar e tectória do Órgão de Corti, o que irá ocasionar a estimulação das células sensoriais, havendo a transdução da energia mecânica em elétrica e a posterior codificação para impulsos elétricos em nível neural. A transmissão desses impulsos pelas estruturas centrais será finalizada e interpretada pelo córtex auditivo como som. Ao contrário da percepção do som por condução aérea, a audição por condução óssea, mesmo nos dias de hoje, não é amplamente conhecida, por tratar-se de um fenômeno complexo devido à estrutura geométrica do crânio associado ao fato de que a cabeça humana compreende pele, camada óssea e tecido cerebral (Stenfelt, Hakansson, Tjellstrom, 2000). Contudo, na literatura especializada, já foi amplamente comprovado que a cóclea é o órgão receptor independente do meio de condução do som. O primeiro estudo desenvolvido por Békésy (apud Tonndorf, 1962) demonstrou que a resposta coclear é igual para os sons conduzidos por meio aéreo e ósseo, não sendo possível distinguir, no nível da membrana basilar, a maneira pela qual os mesmos foram conduzidos. Posteriormente, esse achado foi confirmado pela análise do microfonismo coclear de freqüências baixas e altas (0,25 a 15 kHz) gerado por sons transmitidos por condução aérea e óssea (Wever e Bray, 1936; Lowy, 1942; Wever e Lawerence, 1954). Estudos mais recentes realizados, seja com os potenciais evocados auditivos de tronco encefálico por meio da análise da função latência-intensidade (Beattie, 1998), seja focando o crescimento de sensação do som com ruído narrow band (Stenfelt e Audição por Condução Óssea 20 Hakansson, 2002), seja com as emissões otoacústicas evocadas, verificando a amplitude das mesmas com o aumento da intensidade (Rossi, Solero e Rolando, 1988), demonstraram haver diferenças entre a audição por condução óssea e por condução aérea. Porém, as mesmas são justificadas pelo meio de transmissão, e não pela resposta coclear. COMPONENTES DA AUDIÇÃO POR CONDUÇÃO ÓSSEA A vibração do osso temporal pode ser causada por estimulação direta (por exemplo, por aparelho auditivo ancorado no osso), por estimulação através da pele (como no teste por condução óssea) e por uma vibração induzida pelo som conduzido por via aérea (com o crânio posicionado em um campo sonoro). A visão inicial de que a audição por condução óssea pode ser atribuída apenas à ação da vibração do crânio sobre os líquidos cocleares, com conseqüente estimulação do Órgão de Corti, foi descartada nos primeiros estudos desenvolvidos por Tonndorf (1966, 1974). O autor descreveu a existência de componentes que contribuem de maneira conjunta para a condução óssea do som, entre os quais: a inércia dos ossículos da orelha média; complacência da cavidade da orelha média; efeito de compressão na cóclea; mobilidade da janela oval; mobilidade da janela redonda; inércia do fluído coclear e efeito da complacência via aqueduto coclear. Importante salientar que, na condução óssea, também há estimulação dos sensores táteis da pele, produzindo uma sensação não auditiva que ocorre primariamente nas freqüências baixas (inferiores a 0,5 Hz). Recentemente, Stenfelt e Goode (2005) discutiram esses aspectos fisiológicos do som por condução óssea e o seu significado clínico. A seguir estão descritos resumidamente os principais pontos abordados: - INÉRCIA DA ORELHA MÉDIA Os ossículos da orelha média estão conectados à parede da cavidade da orelha média por diversos ligamentos, dois tendões do músculo (estapédio e tensor do tímpano), pela membrana timpânica e pelo ligamento anular, que envolve a platina do estribo na janela 21 oval. Do ponto de vista mecânico, os ligamentos e os tendões agem como “molas”, segurando os ossículos no lugar. Na estimulação por condução óssea com sons de baixa freqüência, essas “molas” forçam os ossículos a vibrarem em fase com a vibração do crânio. No entanto, para os sons de freqüências mais altas, a força inercial da massa ossicular supera a rigidez dessas molas, ocorrendo uma diferença de fase e de amplitude de vibração dos ossículos quando comparada à vibração do crânio. Dessa forma, a movimentação da base do estribo na janela oval, decorrente da diferente vibração da cadeia ossicular, produz um deslocamento do líquido coclear que resulta na estimulação da orelha interna e na sua conseqüente sensação sonora, da mesma maneira que ocorre quando o som é transmitido por condução aérea pela cadeia ossicular. Assim, o efeito de inércia da orelha média pode influenciar na audição por condução óssea, principalmente em torno das freqüências de ressonância dos ossículos (1 - 3 kHz). Mudanças temporárias no limiar ósseo (10 dB ou menos), em alterações de orelha média, já foram amplamente descritas, como no caso da Otite Média Serosa (Palva e Ojala, 1955), da Otite Média Crônica e, com ausência de comprometimento desses limiares, na Otite Média Aguda e Disjunção de Cadeia (Huizing, 1960; Lindstrom et al, 2001). Na Otosclerose, a diminuição no limiar ósseo pode ser de aproximadamente 20 dB em torno de 2 kHz, estando este, nas demais freqüências, dentro da normalidade ou menos comprometido (Cahart, 1950). Contudo, é importante ressaltar que o efeito de Cahart ocorre em função da fixação do estribo na janela oval, o que irá anular não apenas o efeito da inércia dos ossículos, mas alterar também o status da janela oval para os efeitos da orelha interna na condução óssea. Ou seja, o movimento natural da platina do estribo torna-se rígido e não propicia o fluxo do liquido (Stenfelt, Hato e Goode, 2002). Os achados clínicos descritos acima foram confirmados por Moller (2000), que demonstrou que a remoção dos ossículos afeta minimamente os limiares ósseos, concluindo que o efeito da inércia da orelha média não é considerado um fator determinante na audição por condução óssea nas freqüências baixas e médias. 22 - INÉRCIA DOS LÍQUIDOS LABIRÍNTICOS Dentre as diversas teorias comprovadas para a audição por condução óssea, o efeito de inércia dos líquidos cocleares tem sido apresentado como o principal componente para que a mesma ocorra em orelhas normais, dominantemente para as freqüências abaixo de 1 kHz, parecendo ser menos importante em freqüências mais altas. Na cóclea, a movimentação dos líquidos labirínticos, a partir da vibração do crânio, só ocorre devido à existência de aberturas ou membranas, ou seja, a platina do estribo na janela oval e a membrana da janela redonda. Outro pré-requisito para anular o efeito de inércia dos líquidos labirínticos é a existência de um gradiente de pressão entre as duas janelas, o que gera uma movimentação dos líquidos entre as escalas vestibular e timpânica, provocando uma onda viajante na membrana basilar. Contudo, existem outras vias na cóclea que servem como entrada e saída para a movimentação dos líquidos, incluindo os aquedutos vestibular e coclear, assim como fibras do nervo, veias e micro- canais. O efeito complacente dessas estruturas é referido como uma terceira janela. - COMPRESSÃO DA PAREDE COCLEAR A primeira explicação para a audição por condução óssea foi pautada na teoria da compressão e expansão da parede coclear. De acordo com a mesma, o crânio, quando submetido a um estímulo apresentado por condução óssea, expande-se e comprime-se, e como essa movimentação do osso envolve a cápsula ótica, há mudanças nos espaços do fluído coclear. Como conseqüência, o líquido coclear se movimenta, visto que o mesmo é incompressível, devido à presença das janelas oval e redonda e à diferença no volume e na área das escalas vestibular e timpânica. Békésy (apud Tonndorf, 1962) foi o precursor na compreensão desse mecanismo ao apresentar, esquematicamente, a condução óssea por compressãodos espaços da cóclea (Figura 1). Contudo, estudos desenvolvidos posteriormente opõem-se à posição de que a compressão da orelha interna é o componente de maior contribuição na audição por condução óssea para as freqüências da 23 faixa normal da audição, uma vez que demonstraram que seu papel é insignificante na faixa de freqüência até 4 kHz. Importante destacar que a transmissão do som por condução óssea no crânio humano é linear, sem distorção ou harmônicos, até próximo à intensidade de 77 dB HL para as freqüências de 0.1 a 10 kHz (Tjellstrom, Hakansson e Granstrom, 2001). Com relação ao modo de vibração do crânio, Békésy (1948) descreveu que, para as freqüências baixas, 0,2 kHz, quando estimulado na fronte, o crânio conduz o primeiro modo de vibração como um corpo rígido. Em torno de 0,8 kHz inicia-se diferente modo de vibração, uma linha nodal aparece entre a testa e o osso occipital e as duas áreas passam a vibrar em fases opostas. Por outro lado, na freqüência de 1.6 kHz, o crânio vibra em quatro segmentos, nos quais as duas regiões temporais vibram em fases opostas, assim como a região da cabeça e do pescoço também vibram em oposição, ou seja, todos separados por linhas nodais (Figura 2). Com isso, quando um som por condução óssea é apresentado, o crânio vibra em todos os três planos, com movimento rotacional. Essa movimentação complexa do crânio reflete na movimentação da cóclea, que também se move nos três diferentes planos no espaço, mas sem qualquer direção dominante. Figura 1: Conceito de condução por compressão do crânio (Békésy apud Tonndorf, 1962): (a) cóclea completamente simétrica: não haveria deslocamento da membrana divisória; (b) a diferença na complacência das duas janelas permite o deslocamento da membrana divisória; (c) a diferença entre os volumes das duas escalas também permite o deslocamento da membrana divisória. A oposição de fase entre as duas janelas indica a inércia dos líquidos como um fator contribuinte adicional. Fonte: Tonndorf (1962). 24 Figura 2: Plano de vibração do crânio para as várias freqüências de estimulação. Fonte: Békésy (1948). Outras estruturas, no decorrer desses anos, tiveram questionadas as suas participações na audição por condução óssea, como o meato acústico externo e a mandíbula: - MEATO ACÚSTICO EXTERNO Na estimulação por condução óssea, a vibração do crânio causa deformações na parede do meato acústico externo, produzindo pressão sonora, no interior do mesmo, que faz vibrar a membrana e é transmitida para a cóclea por condução aérea. Análises minuciosas desse processo demonstraram que, para as freqüências abaixo da freqüência de ressonância do crânio (0,8 - 1 kHz), o mesmo se move como um todo, não havendo irradiação de som na parte óssea do meato acústico externo. Dessa forma, o tecido cartilaginoso, por ser mais complacente, seria, provavelmente, o responsável pela pressão sonora gerada (Nauton,1963). Essa hipótese foi confirmada em estudo recente desenvolvido por Stenfelt et al (2003) ao constatar uma redução, de 10 a 15 dB, na energia produzida no meato acústico externo com a remoção da cartilagem e do tecido mole do mesmo. A energia sonora gerada no meato acústico externo pela estimulação por condução óssea apresenta freqüência entre 0,4 e 1,2 kHz (Huizing, 1960; Khanna et al, 1976; Stenfelt et al, 2003). Normalmente, a energia escapará pelo canal não ocluído e apenas 25 uma pequena quantidade de pressão sonora irá vibrar a membrana timpânica e será transmitida para a cóclea por condução aérea. Achados clínicos demonstraram a pouca influência da energia produzida na orelha externa na audição por condução óssea, uma vez que pacientes com Atresia Congênita, Colesteatoma, Otite Média Serosa, Otosclerose ou Disjunção de Cadeia freqüentemente apresentam limiar ósseo normal ou próximo do normal nas baixas freqüências, com GAP aéreo-ósseo de 40 a 60 dB (Ginsberg e White, 1994). Assim, a orelha externa não contribui de forma significativa na audição por condução óssea. Entretanto, a oclusão do meato acústico externo (ou do poro acústico externo) poderá melhorar o limiar ósseo na freqüência de 1 kHz ou abaixo. Ou seja, será observada uma melhora na percepção do som nessas freqüências sem que haja qualquer modificação no status da cóclea. Esse fenômeno é denominado efeito de oclusão, podendo haver um aumento na energia transmitida à cóclea de 15 a 20 dB (Figura 3). Figura 3: Nível de pressão sonora no meato acústico externo na estimulação por condução óssea na mastóide (0 dB equivale a 1 Pascal/Newton). Nota: A linha contínua mostra os resultados quando o meato acústico externo (poro) está aberto, e a linha tracejada quando o meato acústico externo é ocluído. As barras verticais indicam os valores considerando ± 1 de desvio padrão. Fonte: Stenfelt e Goode (2005). 26 O efeito de oclusão é explicado por Huizing (1960), em função da mudança nas propriedades de ressonância do meato acústico (freqüências abaixo de 2 kHz), e por Tonndorf (1966), que atribuiu o efeito de oclusão à influência da massa da coluna de ar associada à complacência do ar no meato acústico e ao efeito do filtro passa-alto produzido pela membrana timpânica. De acordo com o autor, quando o poro acústico externo é ocluído, o efeito do filtro passa-alto é eliminado, o que resulta em um aumento dos sons de freqüência baixa. - MANDÍBULA A mandíbula é ligada ao crânio próxima ao canal auditivo externo, na junção temporomandibular, com freqüência de ressonância entre as estruturas de 110 e 180 Hz (Franke et al, 1952; Howell et al, 1988). Conseqüentemente, acima dessa freqüência existe uma movimentação relativa entre a mandíbula e o crânio e, por estar próxima ao meato acústico externo, essa vibração poderia ser transmitida e resultaria em uma pressão no mesmo (Békésy,1960). No entanto, Tonndorf (1966) relatou que a participação desse mecanismo na audição por condução óssea é insignificante. Essa constatação foi confirmada nos experimentos de Howell e Willians (1989) e, mais recentemente, por Stenfelt et al (2003). Stenfelt e Goode (2005) afirmaram que, apesar de existir um ligamento entre o martelo e a articulação temporomandibular, seria improvável que este pudesse transmitir a vibração da mandíbula para a orelha externa e/ou média. Como descrito anteriormente, a audição por condução óssea é um fenômeno complexo que envolve os componentes das orelhas externa, média e interna, de acordo com as suas regiões de freqüência. De maneira geral, os achados demonstram que: - a inércia do fluído é o fator que mais contribui na audição por condução óssea em orelhas saudáveis; - a inércia da orelha média pode ter alguma influência na audição por condução óssea em freqüências médias; - o som irradiado do meato acústico externo aberto, em função da estimulação por condução óssea, normalmente não contribui para a audição. Por outro lado, quando o poro acústico 27 externo é ocluído, o som passa a ter uma contribuição significativa na audição por condução óssea para freqüências abaixo de 1 kHz; - a compressão da parede coclear pode contribuir na audição por condução óssea somente nas freqüências mais altas. 28 29 Na prática clínica audiológica, o profissional tem como objetivo determinar a existência da perda auditiva, assim como definir, quando possível, o local da alteração no sistema auditivo. Dentre os procedimentos existentes, a audiometria tonal liminar é o método comportamental utilizado para definir a sensibilidade auditiva por meio da pesquisa dos limiares auditivos por condução aérea e óssea. Define-se limiar auditivo como o nível mínimo de pressão sonora de um sinal acústico capaz de produzir uma sensação auditiva (ANSI S3.20-1973). Contudo, na prática clínica, o limiar auditivo é definido como a menor intensidade do sinal percebida em 50% das apresentações. Na análise da audiometria tonal liminar, enquanto o limiar auditivo obtido por condução aérea demonstra a presença da perda auditiva, permitindo classificá-la quanto ao grau do comprometimento,a pesquisa do limiar auditivo por condução óssea fornece informações quanto à funcionalidade das estruturas da cóclea e acima destas. A diferença entre o limiar auditivo obtido por condução aérea e por condução óssea proporciona uma medida da alteração da orelha externa e/ou média. Isso porque os limiares por condução óssea são menos afetados pela alteração condutiva do que os limiares por condução aérea. A comparação entre os limiares encontrados por condução aérea e por condução óssea só é possível devido à determinação do 0 dB audiométrico para cada freqüência na calibração dos equipamentos para a avaliação audiológica. O conceito de 0 dB audiométrico refere- se ao limiar mínimo de detecção, ou audibilidade, registrado, para cada freqüência, em indivíduos normais. É importante ressaltar que a quantidade de energia do 0 dB audiométrico difere não apenas entre as freqüências, mas também COMPREENDENDO A AUDIOMETRIA TONAL LIMINAR 30 quanto ao tipo de estimulação, condução aérea ou óssea, visto que esta última requer maior quantidade de energia para estimular a cóclea devido à impedância oferecida pela inércia do crânio. Assim, na calibração dos transdutores, fone e vibrador, dos equipamentos para a avaliação audiológica, essa diferença na quantidade de energia é considerada, havendo maior energia no 0 dB por condução óssea do que por condução aérea. Por esse motivo, a faixa de intensidade possível de ser pesquisada no teste por condução óssea é limitada (nos equipamentos atuais varia de 60 a 80 dB) e, como conseqüência, reduz o máximo de perda auditiva que pode ser medida com esse tipo de estimulação. O limiar por condução óssea tem sido pesquisado tradicionalmente com o vibrador posicionado na mastóide do osso temporal. Apesar da confiabilidade do teste-reteste e da variabilidade inter-indivíduos ser igual entre a pesquisa do limiar ósseo pesquisado com o vibrador posicionado na mastóide e na fronte, Khanna et al (1976) encontraram diferença de até 25 dB na sensibilidade da condução óssea com o vibrador posicionado na fronte. Considerando que a saída máxima dos equipamentos para a estimulação com os vibradores é limitada, em especial para as baixas freqüências, devido à distorção em fortes intensidades, a fronte não é a posição indicada na prática clínica, principalmente na avaliação de indivíduos com perda auditiva nas freqüências baixas e com perda auditiva de graus severo e profundo. Na pesquisa dos limiares por condução óssea, as variáveis que apresentam maior influência (confiabilidade) na obtenção de valores reais nessa medida são o tipo de vibrador, a força estática aplicada, a utilização do mascaramento na orelha não testada e a localização do vibrador no crânio. Entretanto, o tipo de vibrador passa a não ter importância desde que a força estática exceda a 4N (Dirks, 1964). LIMIARES POR CONDUÇÃO AÉREA E ÓSSEA EM INDIVÍDUOS NORMAIS Os limiares obtidos por condução aérea considerados normais em crianças variam de 0 a 15 dBNA (Northern e Downs, 1991) e, em adultos, de 0 a 25 dBNA, e de 0 a 15 dBNA para os limiares obtidos por condução óssea (Silman e Silverman, 1997). 31 Na prática clínica, o limiar por condução óssea auxilia na definição do tipo de perda auditiva existente. Ou seja, será pesquisado apenas quando o limiar por condução aérea estiver rebaixado. Contudo, mediante o histórico positivo de alteração de orelha média, esta deverá ser investigada mesmo com limiares aéreos dentro da faixa de normalidade. Nesse contexto, os limiares ósseos devem ser pesquisados até a intensidade mínima disponível no audiômetro. Em alguns casos, até –10 dBNI (menos dez) para a investigação da presença do GAP aéreo-ósseo. Dica1 : No indivíduo com audição normal é esperado que os limiares obtidos por condução aérea e óssea sejam iguais, uma vez que a diferença na quantidade de energia necessária para estimular a cóclea pelos diferentes meios já foi corrigida na calibração do audiômetro e na determinação do 0 dB audiométrico. Entretanto, na prática clínica, se for realizada a pesquisa do melhor limiar por condução óssea colocando-se apenas o vibrador na mastóide, poderá ocorrer uma diferença de até 10 dB entre os limiares aéreo e ósseo. O que justifica essa diferença entre os limiares aéreos e ósseos? O audiômetro é calibrado para a estimulação por condução óssea baseado em valores obtidos em orelhas normais com a apresentação do mascaramento na orelha contralateral (ANSI S3.13-1972; ANSI S3.26-1981). Ao considerar que o mascaramento central pode ocorrer mesmo com pequenos aumentos da intensidade do ruído mascarador, elevando o limiar em 10 a 12 dB (Liden, 1954 e Dirks e Malmquist, 1964), fica evidente que os limiares de condução óssea obtidos nas normas de padronização podem ter sido influenciados pelo mesmo (Sanders e Hall, 1999). Dessa forma, na prática clínica, quando o limiar por condução óssea é obtido sem mascaramento na orelha contralateral, é possível encontrar uma diferença de 5 a 10 dB entre os limiares aéreo-ósseos, mesmo quando não existe a possibilidade de ocorrer audição cruzada. 32 Assim, no momento de realizar o raciocínio para definir a intensidade do ruído mascarador a ser utilizado, deve-se, por medida de segurança, considerar que o limiar ósseo é 10 dB melhor que o limiar obtido por condução aérea. Por exemplo, na freqüência de 1 KHz, limiar aéreo de 15 dBNA, o limiar ósseo a ser considerado é de 5 dBNA. LIMIARES POR CONDUÇÃO AÉREA E ÓSSEA EM INDIVÍDUOS COM PERDA AUDITIVA Na perda auditiva neurossensorial, é esperado que os limiares aéreo-ósseos estejam acoplados, uma vez que a cóclea é o órgão receptor do som e o padrão de resposta coclear é o mesmo para os sons transmitidos por condução aérea ou óssea. Assim, a lesão coclear, ou em qualquer estrutura acima desta, irá comprometer da mesma forma os limiares aéreos e ósseos. Entretanto, uma diferença aéreo-óssea de no máximo 10 dB pode ser observada sem que haja qualquer alteração na condução aérea do som ou audição cruzada. Esse fato também pode ser justificado pela ocorrência do mascaramento central na calibração explicitada anteriormente. Por outro lado, quando há uma alteração de orelha externa e/ou média, de acordo com a gravidade do problema, há uma perda de energia do estímulo sonoro apresentado por condução aérea antes de atingir a cóclea. Nessa situação, os resultados obtidos na audiometria tonal liminar indicam a presença do GAP aéreo- ósseo, que demonstra essa quantidade de energia perdida. O GAP aéreo-ósseo poderá estar presente na perda auditiva condutiva e na perda auditiva mista. Nesse indivíduo (Figura 4), a cóclea da orelha direita é capaz de responder para sons a partir da intensidade de 10 dB, considerando o limiar ósseo de 10 dBNA. O limiar por condução aérea foi de 40 dBNA, uma vez que a alteração da orelha média ocasionou uma perda de energia de 30 dB na intensidade do som apresentado, chegando à cóclea do indivíduo apenas 10 dB, intensidade na qual o som passará a se percebido (0 dBNS). Por outro lado, quando apresentado um som na intensidade de 30 dB por condução aérea, 33Nesse indivíduo (Figura 5) existe uma lesão coclear na orelha direita, ocasionando um rebaixamento do limiar ósseo para 40 dBNA. Com alteração de orelha média associada (perda auditiva mista), o limiar obtido por condução aérea foi de 70 dBNA, devido a uma perda de energia de 40 dB na intensidade do som apresentado, chegando à cóclea do indivíduo apenas 30 dB, intensidade na qual o som passará a ser percebido. Por outro lado, como a cóclea desse indivíduo só responderá a sons com intensidade a partir de 40 dB, quando apresentado um som na intensidade de 60 dB por condução aérea, não haverá resposta, visto que o som que atinge a cóclea em 30 dB (GAP=30dB) não será percebido. Figura 4: Exemplo de uma alteração do tipo condutiva na freqüência de 0,5 Hz na orelha direita. Figura 5: Exemplo de uma alteração do tipo mista na freqüência de 0,5 Hz. não haverá resposta do indivíduo, visto que o som atinge a cóclea em 0dB (GAP=30dB) e, conseqüentemente, não será percebido. 34 Dica 2: Na rotina clínica, durante a pesquisa do limiar ósseo, poderá ser constatado um GAP aéreo-ósseo nas freqüências altas que não se justifica pela alteração de orelha externa e/ou média, uma vez que, no problema condutivo, o primeiro fator de impedância a ser alterado é a rigidez, responsável pela oposição à transmissão dos sons de freqüências baixas. Esse achado pode ser justificado pelo colabamento do meato acústico externo produzido pelo fone supra-aural (Figura 6) posicionado na orelha do indivíduo, o que irá simular um problema na condução aérea do som. O que fazer nessa situação? Considerando que os limiares por condução óssea são reais, devem ser retestados os limiares por condução aérea, evitando-se o colabamento do meato acústico externo. Para isso, deve-se colocar uma oliva adequada ao tamanho do mesmo e sustentar o pavilhão auricular com compressas cirúrgicas (gazes) em uma posição que propicie a abertura do meato após a colocação do fone (pavilhão retraído para trás e para cima) (Figura 8). É importante salientar que o colabamento do meato acústico externo não ocorre quando utilizado o fone de inserção (Figura 7). Figura 6: exemplo de fone supra-aural. Figura 7: exemplo de fone inserção O profissional responsável pela avaliação audiológica deverá ter a competência necessária para considerar os fatores que poderão interferir na obtenção dos limiares auditivos, visto que a determinação 35 Figura 8: Estratégia para evitar o colabamento do meato acústico externo na avaliação audiológica com fone supra-aural. precisa dos limiares por condução aérea e óssea é que irá permitir a definição do diagnóstico da perda auditiva quanto ao tipo: condutiva, neurossensorial ou mista. 36 37 Na avaliação audiológica, é possível ocorrer a audição cruzada, na qual a orelha não testada responderá para o som apresentado na orelha testada devido à capacidade do crânio de vibrar frente à estimulação sonora, ocasionando, assim, a curva sombra. Nilsson (1942) foi o primeiro a descrever o conceito de curva sombra, definido quando os limiares obtidos na orelha pior, sem o mascaramento da orelha contra-lateral, podem representar a curva de audição da orelha boa. Essa situação pode ocorrer no caso de perda auditiva unilateral ou bilateral assimétrica. Contudo, existe uma quantidade mínima de energia necessária para iniciar a vibração do crânio, variável de acordo com a freqüência do tom puro apresentado. Sendo assim, a energia que atinge a cóclea da orelha não testada é sempre inferior à intensidade apresentada por condução aérea na orelha testada. Essa redução na energia é denominada atenuação interaural. Exemplo 1: Audiogramas demonstrando curva sombra na orelha esquerda Compreendendo a Necessidade do Mascaramento Na freqüência de 4 kHz, na orelha esquerda, por exemplo, o limiar aéreo é de 80 dBNA. Assim, o tom puro apresentado em 80 dBNI na orelha esquerda chegou na orelha direita, devido à transmissão OD OE 38 por condução óssea, em 30 dBNI, visto que o valor da atenuação interaural nessa freqüência é de 50 dB. Ao considerar que o limiar ósseo dessa orelha é de 30 dBNA, o individuo poderá detectar esse tom (nível de sensação de 0 dB), e a resposta obtida na orelha esquerda poderá ter tido a participação da orelha direita (não testada), caracterizando a curva sombra. Assim, o examinador deve realizar a avaliação audiológica sempre atento à possibilidade de haver a participação da orelha não testada na resposta. E essa análise difere em função do procedimento que está sendo realizado (avaliação por condução aérea ou por condução óssea) e do estímulo utilizado (tom puro ou fala). NA PESQUISA DOS LIMIARES POR CONDUÇÃO AÉREA No caso da estimulação por condução aérea, o crânio pode modificar seu estado de inércia e iniciar a vibração frente a sons de forte intensidade e, conseqüentemente, pode ocorrer a transmissão do som por condução óssea simultaneamente. Nesse processo, o tom puro apresentado por condução aérea na orelha testada poderá ser percebido na orelha contralateral (não testada) por condução óssea através da vibração do crânio. Assim, analisar se está havendo participação da orelha não testada na resposta obtida considerando seus limiares aéreos é uma visão equivocada. A transmissão do som de uma orelha para a outra ocorre por vibração do crânio, ou seja, por condução óssea, sendo importante, assim, a sensibilidade sensorial da orelha não testada (limiar ósseo). Com isso, a atenuação interaural deve ser considerada para a análise de se está ou não havendo a audição cruzada. Na Tabela 1 são apresentados os valores de atenuação interaural para a pesquisa dos limiares de condução aérea, utilizando o fone TDH 39, obtidos na literatura pesquisada: Frequência(Hz) Estudos Coles e Priede (1968) Liden et al. (1959) Chaiklin 125 40-75 32-45 250 50-80 45-75 44-58 500 45-80 50-70 54-65 1.000 40-80 45-70 57-66 2.000 45-75 45-75 55-72 4.000 50-85 45-75 61-85 8.000 45-80 51-69 Tabela 1: Valores de atenuação interaural, de acordo com as freqüências, para o som apresentado por condução aérea, na utilização do fone TDH 39. 39 Katz (1994), baseado nos estudos de Chaiklin (1967), propôs a utilização, na prática clínica, dos valores mínimos de atenuação interaural para definir se está havendo a participação da orelha não testada na pesquisa dos limiares aéreos da orelha testada (Tabela 2). A utilização desses valores mínimos de atenuação interaural, obtidos por freqüência, pode induzir o examinador à utilização do ruído mascarador, para eliminar a participação da orelha não testada, sem necessidade em alguns indivíduos, visto a grande variabilidade existente e apontada nos dados apresentados na Tabela 1. Ainda assim, essa medida garante ao examinador a utilização do ruído mascarador sempre que necessário: ao considerar o menor valor de atenuação interaural de cada freqüência, quando da decisão de realizar o mascaramento na avaliação audiológica, todos os indivíduos são contemplados. Tabela 2: Valores de atenuação interaural sugeridos para cada freqüência, para o som apresentado por condução aérea, na utilização do fone TDH 39 (Katz, 1994). * Na freqüência de 3.000 Hz, a atenuação interaural utilizada é de 45 dB, e na de 6.000 Hz, é de 50 dB. Frequência(Hz)* Atenuação internatural (dB) 125 35 250 40 500 40 1.000 40 2.000 45 4.000 50 8.000 50 Studebaker (1967) sugeriu, como medida de segurança, devido às diferenças individuais, que o valor de 40 dB de atenuação interaural fosse sempre utilizado na pesquisa dos limiares aéreos, independente da freqüência avaliada. Ressalte-se, no entanto, que o uso generalizado, para todas as freqüências, de um único valor de atenuação (40 dB, menor valor de atenuação interaural obtido apenas entre as freqüências de 0,25 a 1 kHz) parece ser um cuidado desnecessário, além de poder interferir na realização do teste: o ruído mascarador, às vezes, torna- se incomôdo e distrativo, prejudicando a pesquisa dos limiares auditivos com precisão. Há, também, um aumento no tempo de duração do teste, além da possibilidade de ocorrência do mascaramento central. 40 Fone supra-aural TDH 39 (área de contato com o crânio envolve os fones e o coxim) Fone de inserção 3A Figura 9: Áreas de contato do fone supra-aural TDH 39 e do fone de inserção 3A . No Brasil, os equipamentos já disponibilizam o fone de inserção, que traz inúmeras vantagens na avaliação audiológica quando comparado ao fone TDH 39: - facilidade em colocar o fone na orelha de bebês e de crianças; - diminuição do ruído ambiental, que pode interferir na pesquisa do limiar auditivo; - evita o colabamento do conduto que pode ocorrer com o uso do fone TDH 39, simulando um componente condutivo não existente (Dica 2); - diminuição da possibilidade de erro na pesquisa do limiar aéreo por posicionamento inadequado do fone, como pode ocorrer no fone supra-aural com rebaixamento do limiar em até 20dB; - maior valor de atenuação interaural, devido à menor área de contato entre o fone e a superfície do crânio (Figura 9). Dessa forma, faz-se necessária maior quantidade de energia para suprir a inércia do crânio, como apresentado na Tabela 3. Assim, na pesquisa dos limiares por condução aérea e na logoaudiometria com a utilização do fone de inserção são poucas as situações em que realizar o mascaramento faz-se necessário. 41 Tabela 3: Valores de atenuação interaural, de acordo com as freqüências, para o som apresentado por condução aérea na utilização do fone de inserção. Seguindo a mesma proposta para o fone TDH 39, ou seja, a de utilizar o menor valor de atenuação interaural para cada freqüência, na Tabela 4 encontram-se os valores por nós sugeridos baseados nos resultados dos estudos descritos na Tabela 3. Tabela 4: Valores de atenuação interaural, para o fone de inserção, sugeridos para cada freqüência. Frequência(Hz) Estudos Kilion et al. (1985) Konig (1962) Sklare e Denenberg 125 95 95 100 500 85 90 94+ 1.000 70 83 81 2.000 75 75 71 3.000 80 80 69 4.000 82 77 6.000 70 75+ Média 81 82 81+ Frequência(Hz)* Atenuação internatural (dB) 125 250 95 500 85 1.000 70 2.000 70 3.000 70 4.000 75 6.000 70 8.000 70 Nessa perspectiva, a análise da ocorrência da audição cruzada deve ser sempre realizada durante a pesquisa do limiar aéreo, na audiometria tonal liminar, tendo como referência os valores de atenuação interaural por freqüência. Contudo, para fazer essa análise, o examinador deve ter domínio do conceito de decibel nível de sensação (dBNS), fundamento para o raciocínio clínico do mascaramento que será descrito posteriormente. O nível de sensação que um indivíduo tem de um som apresentado é diretamente dependente do seu limiar auditivo. Por exemplo: Orelha testada: 50 dBNA – limiar aéreo (decibel nível de audição – dBNA) ⇒ 35 dBNS – sensação auditiva do tom puro apresentado (decibel nível de sensação - dBNS) 85 dBNI – intensidade do tom puro apresentado por condução aérea (decibel nível de intensidade - dBNI) 42 Nos Exemplos 2a e 2b, a seguir, o limiar aéreo foi pesquisado na freqüência de 4 kHz com o fone TDH 39 e o fone de inserção, respectivamente. O limiar obtido pode ter tido a participação da orelha não testada, ou seja, pode ter ocorrido a audição cruzada? Exemplo 2a: Pesquisa do limiar aéreo em 4 kHz com o fone TDH 39. O limiar aéreo obtido com o fone TDH 39 na freqüência de 4 kHz na orelha direita foi de 80 dBNA. Considerando que a atenuação interaural nessa freqüência é de 50 dB, o tom puro que atingirá a cóclea da orelha esquerda por condução óssea será de 30 dBNI (1). Como o limiar ósseo da orelha esquerda é de 10 dBNA, haverá a detecção deste, com um nível de sensação de 20 dB (ou 20 dBNS), havendo a possibilidade da participação da orelha esquerda (não testada) na resposta obtida na orelha testada (audição cruzada). Exemplo 2b: Pesquisa do limiar aéreo em 4 kHz com o fone de inserção O mesmo limiar aéreo de 80 dBNA agora foi obtido com o fone de inserção na freqüência de 4 kHz na orelha direita. Considerando que a atenuação interaural nessa freqüência é de 75 dB, o tom puro que atingirá a cóclea da orelha esquerda por condução óssea será de 5 dBNI (1). Como o limiar ósseo da orelha esquerda é de 10 dBNA, não haverá a detecção do som, ou seja, não ocorrerá a audição cruzada. 43 Para verificar se o conteúdo anterior foi assimilado, analise o audiograma apresentado a seguir (Exemplo 3) e responda em quais freqüências pode ter ocorrido a audição cruzada na pesquisa do limiar aéreo, considerando os dois tipos de transdutores, supra- aural TDH 39 e fone de inserção 3A. Exemplo 3: Obs: note que, como os limiares aéreos da orelha direita são normais, os limiares ósseos não foram pesquisados (apresentados em marca d´água), mas sim considerados 10 dB melhor que os limiares aéreos (Dica 1). Resposta: Com o fone TDH 39, a audição cruzada pode ter ocorrido apenas nas freqüências de 2 e 4 kHz, com níveis de sensação de 0 e 5 dB, respectivamente. Já com o fone de inserção, não poderá ocorrer a audição cruzada em nenhuma freqüência, visto que a energia atenuada que chegará à orelha direita, por condução óssea, será menor que seus limiares ósseos, não havendo, assim, a sensação auditiva do som. NA LOGOAUDIOMETRIA A logoaudiometria, na rotina clínica, é realizada com a apresentação do estímulo de fala por condução aérea. Sendo assim, também existe uma atenuação interaural significativa do estímulo de fala apresentado antes dele chegar, por condução óssea, à orelha não testada. Considerando que o estímulo de fala abrange uma faixa de freqüência ampla, não é possível fazer uma análise individual da atenuação interaural por freqüências para definir o quanto a energia é atenuada, sendo considerado o valor único de 45 dB, como proposto por Konkle e Berry (1983). OD OE 44 Contudo, a análise individual de cada freqüência deve ser realizada para verificar se houve audição cruzada. Ou seja, deve ser analisado o nível de sensação que a orelha não testada tem do estímulo de fala apresentado na orelha testada. Dessa forma, é considerado que está havendo participação da orelha não testada, mesmo que o estímulo de fala seja percebido em apenas uma freqüência específica. Na rotina clínica são pesquisados o Limiar de Recepção de Fala (LRF) e o Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF). As intensidades para a realização de cada um desses procedimentos são diferentes. Sendo assim, a análise individual das mesmas é necessária para definir se está ocorrendo audição cruzada (Exemplo 4). Exemplo 4: O LRF foi encontrado na intensidade de 50 dB. Com a atenuação interaural de 45 dB, o estímulo de fala chegará por condução óssea na intensidade de 5 dB à orelha direita, sendo percebido apenas na freqüência de 500 HZ, com nível de sensação de 0 dB. Por outro lado, o IPRF foi realizado na intensidade de 85 dB. Ao considerar a mesma atenuação interaural, de 45 dB, o estímulo chegará à orelha direita por condução óssea na intensidade de 40 dB, ocorrendo uma sensação que pode variar entre 0 (na freqüência de 4 kHz) e 35 dBNS (na freqüência de 0,5 kHz), de acordo com o limiar ósseo de cada freqüência. Assim, nesse caso, estaria ocorrendo a audição cruzada tanto na pesquisa do LRF quanto do IPRF. Às vezes, porém, pode ocorrer a audição cruzada apenas na pesquisa do IPRF. LRF = 50 dB IPRF = 85 dB OEOD 45 NA PESQUISA DOS LIMIARES POR CONDUÇÃO ÓSSEA Na estimulação por condução óssea, a perda de energia (atenuação interaural) na transmissão do som por vibração do crânio é insignificante, não excedendo 10 dB, se comparada à perda quando o som é apresentado por condução aérea (Liden et al, 1959). Dessa forma, o risco de audição cruzada deve ser sempre considerado quando o limiar ósseo está sendo pesquisado. Com isso, na prática clínica, considera-se que a atenuação interaural é zero no teste realizado com estimulação por condução óssea. A primeira análise seria, então, que, no teste por condução óssea, o ruído mascarador deve ser sempre utilizado. Entretanto, a definição de realizar o mascaramento está baseada na comparação do limiar de condução óssea, obtido sem o mascaramento, com o limiar de condução aérea. Exemplo 5: Nesse caso, com o vibrador posicionado na mastóide, foram obtidos os seguintes limiares ósseos sem o mascaramento: 0,5 kHz – 40 dBNA, 1 kHz – 45 dBNA, 2 kHz – 40 dBNA, 3 kHz – 40 dBNA, 4 kHz – 55 dBNA. Comparando esses limiares ósseos com os limiares aéreos da orelha direita, nota-se que, para as demais freqüências, com exceção da freqüência de 3 kHz, os mesmos estão acoplados, podendo-se afirmar assim que a cóclea direita é capaz de responder a partir dessas intensidades. Situação semelhante ocorre para as freqüências de 0,5 e de 1 kHz na orelha esquerda. Para as freqüências de 2 e de 4 kHz na OD OE 46 Nesse caso, com o vibrador posicionado na mastóide, foram obtidos os seguintes limiares ósseossem mascaramento: 0,5 kHz – 25 dB, 1 kHz – 25 dB, 2 kHz – 20 dB, 3 kHz – 25 dB, 4 kHz – 30 dB. Ao comparar esses limiares ósseos com os limiares aéreos, constata- se a presença de GAP aéreo-ósseo, tanto para a orelha direita quanto para a esquerda. Assim, não é possível definir qual cóclea está percebendo o tom puro apresentado. Portanto, o mascaramento deve ser utilizado, visto que com esse achado pode-se afirmar a presença de componente condutivo em uma orelha, mas não é possível definir se esse componente ocorre unilateral ou bilateralmente. orelha esquerda, surge uma diferença de 5 dB entre os limiares aéreos e ósseos, não sendo possível, assim, afirmar se esses limiares ósseos são também da orelha esquerda, visto que eles podem ser piores, acoplando- se aos limiares aéreos. Especificamente para a freqüência de 3 kHz, ao comparar os limiares aéreo e ósseo, surge uma diferença de 10 dB tanto para a orelha direita quanto para a orelha esquerda. Nesse caso, o limiar ósseo é marcado como indefinido, visto não ser possível definir qual cóclea é responsável por essa resposta.Contudo, em nenhuma freqüência foi constatado GAP aéreo-ósseo, descartando, assim, a presença do componente condutivo. Com isso, o mascaramento não precisa ser realizado porque, ao comparar esses limiares obtidos por condução óssea com os limiares obtidos por condução aérea das orelhas direita e esquerda, fica determinada a presença de perda auditiva neurossensorial bilateral. Exemplo 6: OEOD 47 A partir desses exemplos, pode-se concluir que se faz necessário o uso de ruído mascarador para a pesquisa do limiar ósseo quando o melhor limiar obtido sem mascaramento diferir em mais de 10 dB do limiar obtido por condução aérea, caracterizando a presença de GAP aéreo-ósseo. Dentro desse contexto, a principal dificuldade observada na avaliação audiológica é a obtenção da resposta da orelha testada sem que haja interferência da orelha não testada, ou seja, de forma a impedir que ocorra a audição cruzada. Para tanto, faz-se necessária a utilização do mascaramento. E a precisão do diagnóstico é altamente dependente do domínio que o examinador possui sobre esse procedimento clínico. 48 49 Compreendendo o Fenômeno do Mascaramento Mascaramento é o fenômeno no qual um som deixa de ser percebido quando outro som é apresentado simultâneamente em intensidade superior. Por exemplo: numa situação em que a sala de aula se encontra silenciosa, o professor ministra sua disciplina em intensidade de voz normal. Contudo, se, na sala ao lado, os alunos começarem a arrastar as carteiras, o nível de ruído produzido poderá ser suficiente para mascarar a voz do professor que, assim, deixará de ser percebida por seus alunos. Para que os alunos voltem a ouvi- lo, faz-se necessário que o professor aumente a intensidade de sua voz. Assim, mascaramento é um fenômeno psicoacústico por meio do qual o limiar de audibilidade de um som é aumentado na presença de outro som mascarador (Liden et al, 1959). O princípio baseia-se no fato de que a apresentação simultânea de sons diminui a habilidade da orelha em percebê-los. Ou seja, quando um som é apresentado em uma orelha e um segundo som é gradualmente aumentado em intensidade até o primeiro não ser mais percebido, diz-se que o primeiro som foi mascarado pelo segundo. Na prática clínica, é esse o objetivo de se utilizar o mascaramento contra-lateral, na qual o som mascarador deve ser sempre apresentado na orelha não testada em uma intensidade que causará uma sensação superior à sensação do tom puro ou da fala, impedindo a audição cruzada (Figura 10). O efeito do mascaramento pode ser produzido por qualquer som, tom puro ou ruído. Porém, a objeção de se utilizar como mascarador um tom puro tendo a mesma freqüência do tom teste se dá pela maior dificuldade que o paciente terá para distinguir os dois sons. Essa dificuldade poderá ser diminuída introduzindo uma diferença entre as freqüências do som mascarador e do tom teste. Entretanto, o tom mascarante terá que ser muito forte para produzir o efeito do mascaramento, o que poderá causar desconforto ao paciente. 50 Figura 10: o tom puro apresentado por condução aérea com fone TDH 39 na intensidade de 70 dB (freqüência de 500 Hz orelha direita) poderá ser percebido, devido à vibração do crânio, pela cóclea da orelha não testada (orelha esquerda), pois o limiar ósseo desta é de 0 dBNA. Dessa forma, o nível de sensação desse tom puro poderá ser de 30 dB (1) e, para que o mascaramento ocorra, o som mascarador apresentado à orelha não testada deverá provocar uma sensação superior, no caso, ≥ 40 dB (2). Para solucionar esse problema, na prática clínica, o som utilizado para realizar o mascaramento é o ruído, por ser fácil sua diferenciação dos estímulos testes (tom puro e fala). Contudo, é importante salientar que o ruído para produzir o mascaramento satisfatoriamente deverá conter a freqüência do estímulo teste em seu espectro de freqüência. As freqüências do ruído mais próximas da freqüência do estimulo teste apresentam maior eficiência para provocar o mascaramento. Nesse contexto, pode-se definir faixa crítica como sendo a faixa de freqüência do ruído que possui a freqüência do tom teste na posição central do seu espectro e que, efetivamente, participa do efeito do mascaramento (Fletcher, 1937). Por outro lado, a eficiência do ruído refere-se à relação entre a habilidade do som para mascarar e o nível de sensação que o mesmo provoca (Denes e Naunton, 1952), sendo que o som com maior eficiência é aquele que produz o mascaramento com um nível mínimo de sensação no indivíduo. RUÍDO MASCARADOR Atualmente, há três tipos de ruído mais comumentemente utilizados, ruído branco (White Noise), ruído de faixa estreita (Narrow Band) e ruído de fala (Speech Noise), que 51 se diferenciam não apenas pela eficiência, mas também pela faixa de freqüência e nível efetivo: • Ruído branco: ruído com uma faixa de freqüência ampla, contendo todas as freqüências entre 125 e 8000 Hz, com semelhante intensidade. Esse espectro mantêm-se para o fone de inserção (Roeser e Clark, 2000). Para o fone TDH 39, a intensidade do ruído decresce a partir de 6 kHz (Sanders e Rintelmann, 1964). A mudança na freqüência teste não traz diferença na sensação de freqüência do ruído apresentado para o indivíduo. • Ruído de faixa estreita: é um ruído branco filtrado. Específicas bandas de freqüência do ruído são determinadas, mantendo no centro do espectro a freqüência do sinal teste a ser mascarado. Dessa forma, a sensação do ruído referente à freqüência irá modificar de acordo com a freqüência do estímulo teste. A Tabela 5 apresenta a faixa crítica para cada freqüência teste, de acordo com o padrão de calibração, ANSI (1996). Tabela 5: Faixa crítica do ruído de faixa estreita (Narrow Band) para cada freqüência testada - ANSI, 1996. 52 Studebacker (1962) equiparou o nível de sensação do ruído branco ao do ruído de faixa estreita e constatou, ao analisar a intensidade de ambos, que o efeito do mascaramento foi maior para o ruído de faixa estreita. Conseqüentemente, para igual quantidade de mascaramento, a intensidade apresentada do ruído de faixa estreita é menor, o que reduz o desconforto do paciente, sendo considerado, assim, o ruído mais eficiente (Sanders e Rintelmann, 1964). Cabe ressaltar que, por ser um ruído de faixa estreita, o mesmo não é utilizado na realização da logoaudiometria. Geralmente, o audiômetro possibilita o uso do ruído branco ou ruído de fala (Speech Noise): · Ruído de Fala: é um tipo de ruído de faixa estreita filtrado que possui, em seu espectro, freqüências responsáveis pela inteligibilidade da fala, de 300 a 3000 Hz. Na Figura 11 pode-se visualizar o espectro acústico dos ruídos branco (White Noise), de faixa estreita (Narrow Band) e de fala (Speech Noise) (Roeser e Clark, 2000): Figura 11: Espectro acústico dos ruídos branco (White Noise), de faixa estreita (Narrow Band) e de fala (Speech Noise) (Roeser e Clark, 2000). 53 CALIBRAÇÃO DO RUÍDO Nívelefetivo do ruído é o total de energia acústica que modifica o limiar auditivo do indivíduo, sendo esperada uma relação de um para um entre o nível efetivo do ruído e o mascaramento (Sanders e Rintelmann, 1964). Assim, o ideal é que o ruído utilizado tenha nível efetivo de 0 dB, não havendo diferença entre a intensidade colocada no dial do equipamento e o nível de sensação que o indivíduo está tendo do ruído apresentado. Por exemplo, se o limiar aéreo do individuo, em uma determinada freqüência, é de 0 dBNA e o propósito é provocar um nível de sensação do ruído de 40 dB, a intensidade do ruído a ser apresentado é de 40 dBNI. Os manuais dos audiômetros apresentam o ruído utilizado como sendo totalmente efetivo, porém, sugere-se que a calibração biológica deste seja realizada antes de iniciar o uso do equipamento na prática clínica. A calibração biológica é realizada em indivíduos com audição normal a fim de determinar a quantidade de energia (dB) capaz de modificar o limiar do estímulo teste, tom puro ou fala (nível efetivo do ruído). Para tanto, os seguintes passos devem ser seguidos: a) apresenta-se o estímulo teste e o ruído pelo fone de forma ipsilateral; b) o nível efetivo do ruído é determinado na intensidade em que o sinal teste é mascarado pelo ruído, ou seja, deixa de ser percebido pelo indivíduo; c) mudanças no limiar são registradas em várias intensidades, até que a mesma se torne linear, e; d) a diferença entre o nível de intensidade observado no dial do ruído mascarador e o nível de intensidade apresentado do estímulo teste é anotada como o fator de correção. Exemplo 7: 10 15 20 30 30 40 40 50 50 60 Limiar (dBNA) Mascaramento 1Khz 10 20 20 35 30 45 40 55 50 65 Limiar (dBNA) Mascaramento 2Khz 54 A calibração biológica deverá ser realizada para todas as freqüências (0,25 e 8 kHz) e para a fala. Os valores obtidos deverão ser informados ao técnico responsável pela calibração do equipamento para que este realize os ajustes necessários na intensidade do ruído mascarador de forma a haver uma proporção de 1:1 entre a intensidade do ruído e a do sinal teste. Caso contrário, faz-se necessário adicionar à intensidade do ruído mascarador o fator de correção obtido em cada freqüência. CONCEITOS BÁSICOS NECESSÁRIOS PARA REALIZAR O RACIOCÍNIO DO MASCARAMENTO Na prática clínica, o raciocínio para definir a intensidade necessária para ocorrer o mascaramento passa a ser simples quando compreendido que deve ser usado um ruído com uma intensidade que não permita que o estímulo teste (tom puro/ fala) seja percebido. Ou seja, deve-se trabalhar com o nível de sensação do ruído em relação ao nível de sensação do estímulo teste que está sendo apresentado. Assim, para o raciocínio do mascaramento clínico, o examinador deve compreender o que acontece com a faixa dinâmica de audição de um individuo quando um ruído é apresentado. Inicialmente, o nível de sensação do ruído é diretamente dependente do limiar psicoacústico deste, ou seja, um estímulo de mesma intensidade pode provocar diferentes níveis de sensação. Exemplo 8: ao considerar três indivíduos com diferentes limiares psicoacústicos, para os quais foi apresentado um tom puro com intensidade de 90 dB, qual será o nível de sensação que cada indivíduo terá do estímulo apresentado? É possível constatar, pela Figura 12, que a faixa de sensação do ruído (cor cinza) será diferente para cada indivíduo, sendo que o indivíduo 1 terá uma sensação de 80 dB, o indivíduo 2, de 40 dB, e o individuo 3, de 10 dB. A mudança passou a ser linear a partir de 20 dBNA. Dessa forma, o fator de correção para o ruído é de 10 dB para a freqüência de 1 kHz e de 15 dB para a de 2 kHz. 55 Considerando, agora, que um tom puro de 40 dBNI seja apresentado simultaneamente a esse de ruído de 90 dBNI, qual será o nível de sensação que o tom puro provocará em cada individuo? A resposta correta é nenhum, visto que o ruído de 90 dBNI elevou o limiar de todos os indivíduos para essa intensidade, ou seja, o limiar de cada um deles passou a ser 90 dBNA. Sendo assim, apenas sons com intensidade igual ou superior a esta serão percebidos. Nessa situação, os indivíduos 1, 2 e 3 passaram a apresentar o mesmo limiar psicoacústico na presença do ruído. Na avaliação audiológica, ao realizar o mascaramento, o principal problema está justamente em definir qual a intensidade do ruído que eliminaria a resposta da orelha não testada sem prejudicar a percepção da orelha testada, principalmente na pesquisa dos limiares ósseos. Dentre as possibilidades de apresentação inadequada do ruído, pode-se citar: - SUPERMASCARAMENTO É um fenômeno que ocorre quando o ruído mascarador é apresentado na orelha não testada em uma intensidade suficientemente forte para interferir na resposta da orelha testada. É importante ressaltar que o ruído é apresentado por condução aérea e, assim, o valor de atenuação interaural deverá ser considerado para verificar se o ruído transmitido por condução óssea será percebido pela orelha testada. Figura 12: esquema representando a cóclea e os diferentes níveis de sensação para um estímulo com intensidade de 90 dBNI. 56 Figura 13: esquema para exemplificar a ocorrência do supermascaramento Na audiometria tonal liminar, a realização do mascaramento nos casos de perdas auditivas condutivas bilaterais é a que apresenta maior dificuldade ao examinador, uma vez que a quantidade de mudança no limiar ósseo, decorrente do ruído apresentado por condução aérea, dependerá do GAP aéreo-ósseo existente (Exemplos 9a e 9b): Exemplo 9a: ruído apresentado na intensidade efetiva de 60 dB na orelha esquerda, freqüência de 2 kHz, com limiares aéreo e ósseo de 30 dB. 60 dBNI intensidade do ruído que chega à cóclea, causando um nível de sensação de 30 dB devido ao limiar ósseo de 30 dBNA. O ruído apresentado na orelha direita, na intensidade de 60 dB por condução aérea (1), foi transmitido por vibração do crânio para a cóclea da orelha testada (orelha esquerda), atingindo-a na intensidade de 20 dB (2). O limiar ósseo da orelha esquerda ainda não foi testado. Porém, sabe-se que ele estará na faixa entre 10 dB (melhor limiar de óssea encontrado sem mascaramento e considerado da orelha direita) e 70 dB (acoplado ao limiar aéreo). Nessa circunstância, ao ser pesquisado o limiar ósseo da orelha esquerda em 0,5 kHz, o examinador não obterá resposta em intensidades inferiores a 20 dB, devido à sensação que o indivíduo poderá ter do ruído, caracterizando, assim, a ocorrência do supermascaramento. A intensidade do ruído para não causar o supermascaramento seria de 45 dB. OD = orelha não testada OE = orelha testada 57 Exemplo 9b: ruído apresentado na intensidade efetiva de 60 dB na orelha direita, freqüência de 2 kHz, com limiar ósseo de 30 dBNA e limiar aéreo de 50 dBNA (GAP aéreo-ósseo de 20 dB). 60 dBNI (ruído) – 20 dB (GAP) = 40 dBNI intensidade do ruído que chega à cóclea, causando um nível de sensação de apenas 10 dB devido ao limiar ósseo de 30 dBNA. Os exemplos 9a e 9b demonstram que, para provocar pequenas mudanças no limiar ósseo em uma orelha com problema condutivo, geralmente, o uso de fortes níveis de intensidade do ruído é necessário, de forma a suprir a perda de energia causada pelo problema da orelha externa e/ou média. Na prática, o que se observa é a ocorrência do supermascaramento, não sendo possível, na maioria dos casos, definir os limiares ósseos com precisão. No raciocínio da intensidade do ruído a ser utilizado, considerar que, para não provocar o supermascaramento e em função da ocorrência da atenuação interaural na freqüência que se está avaliando, este deverá chegar à cóclea da orelha testada em uma intensidade não perceptível pelo indivíduo. Para tanto, a intensidade do ruído deverá ser 5 dB inferior ao limiar ósseo da orelha testada. - MASCARAMENTO CENTRAL Na prática clínica, pode ocorrer uma mudança irreal do limiar na orelha testada, frente à apresentação do ruído, em intensidades fracas que não produziriam o supermascaramento, sendoesse fenômeno denominado mascaramento central. Essa terminologia foi proposta por Wegel e Lane (1924) ao assumirem que esse efeito ocorre no sistema nervoso central para todas as condições de mascaramento, mas a mudança no limiar irá variar de acordo com a freqüência do estímulo teste e a intensidade do ruído mascarador. 58 Na Tabela 6 está apresentado o efeito do mascaramento central no teste por condução aérea e óssea nas freqüências de 500, 1000 e 4000 Hz, com a intensidade variando de 20 a 80 dB, proposto por Dirks e Malmquist (1964). Tabela 6: efeito do mascaramento central no teste por condução aérea e óssea nas freqüências de 500, 1000 e 4000 Hz, com a intensidade variando de 20 a 80 dB, proposto por Dirks e Malmquist (1964). É importante salientar que a pesquisa do limiar ósseo por meio do vibrador posicionado na mastóide, local normalmente utilizado na sua pesquisa, sofre menos interferência do efeito do mascaramento central do que quando posicionado na fronte (Nauton, 1957). No raciocínio por nós proposto para o cálculo da intensidade de ruído, não fazemos a correção do limiar obtido considerando uma possível ocorrência do mascaramento central. Tal decisão deve-se ao fato de que a mudança nos limiares aéreos, ósseos ou de fala, devido ao efeito do mascaramento central, é em média de 5 dB, e o efeito do mesmo estará dentro da tolerância do teste-reteste para a diferença obtida na pesquisa dos limiares. - SUB-MASCARAMENTO Pode ocorrer apenas na pesquisa do limiar ósseo, quando o máximo de intensidade, calculado para não provocar o supermascaramento, não é percebido pela orelha mascarada. dB 500 1.000 4.000 Média 500 1.000 4.000 Média 20 0,2 1,2 0,6 0,7 0,5 0,9 0,6 0,7 40 1,8 3,0 2,2 2,3 2,9 4,5 1,6 3,0 60 3,6 4,5 3,1 3,7 5,0 5,9 2,1 4,3 80 7,2 8,8 6,2 7,4 7,8 10,6 7,3 8,6 Média 3,5 4,2 Modo de Apresentação Tom Puro por Condução Aérea Tom Puro por Condução Óssea (mastóide) 59Figura 14: esquema para exemplificar a ocorrência do sub-mascaramento. O ruído apresentado na orelha direita por condução aérea (1) deverá ter, inicialmente, a intensidade de 45 dB para não causar o supermascaramento, visto que, por vibração do crânio, o mesmo atingirá a cóclea da orelha testada (orelha esquerda) na intensidade de 5 dB, não sendo assim percebido, uma vez que o limiar ósseo dessa orelha não é melhor que 10 dB (melhor limiar de óssea obtido sem mascaramento e que foi considerado ser da orelha direita). Por outro lado, esse ruído também não será percebido na orelha mascarada, uma vez que o limiar aéreo é de 50 dB. - MASCARAMENTO INSUFICIENTE Quando a intensidade do ruído apresentado não elimina a participação da orelha não testada na resposta obtida. Pode ocorrer por limitação da intensidade máxima do ruído permitida pelo aparelho. - MASCARAMENTO MÍNIMO Menor intensidade de ruído suficiente para tornar o estímulo teste inaudível na orelha não testada. Ou seja, 10 dB de sensação superior à sensação do tom teste. - MASCARAMENTO MÁXIMO A mais forte intensidade de ruído que não altera a resposta da orelha testada (supermascaramento). EFEITO DE OCLUSÃO Como abordado no Capítulo 1, a orelha externa não contribui de forma significativa na audição por condução óssea. Entretanto, a oclusão do meato acústico externo com o fone supra-aural, o fone de inserção, o molde auricular ou com qualquer outro objeto poderá causar melhora na percepção do som por condução óssea, na freqüência 60 de 1 kHz ou abaixo, sem que haja qualquer modificação no status da cóclea. Esse fenômeno é denominado efeito de oclusão e poderá gerar um aumento na energia sonora apresentada de 15 a 20 dB nessas freqüências. Em outras palavras, efeito de oclusão significa um aumento da intensidade do som que poderá chegar à cóclea não testada por condução óssea devido à soma da energia produzida no meato acústico externo, pela vibração do crânio, a esse som. Importante ressaltar que o efeito de oclusão depende do dispositivo que está sendo utilizado, sendo mais pronunciado com a utilização do fone de inserção para a realização do mascaramento na pesquisa do limiar ósseo. Contudo, a colocação adequada do fone de inserção, garantindo que o mesmo oclua até a porção óssea do conduto, fará com que haja uma redução significativa na energia produzida, pois eliminará a participação do tecido cartilaginoso do conduto auditivo externo. Esse efeito poderá ocorrer nos indivíduos com audição normal ou com perda auditiva neurossensorial, não sendo observado em indivíduos com perda auditiva condutiva devido ao aumento de impedância acústica à passagem dessa energia adicional. Na Tabela 7 pode-se visualizar os valores do efeito de oclusão (dB) obtidos em diversos estudos e as médias destes para cada freqüência. Para o raciocínio clínico do mascaramento serão utilizados os valores recomendados por Roeser e Clark (2000): 250 Hz – 20 dB; 500 Hz – 15 dB e 1000 Hz – 5 dB. Estudos Elepern e Naunton (1963) Goldstein e Hayes (1965) Hodgson e Tilman (1966) Dirks e Swindeman (1967) Martin et al. (1974) Berger e Kerivan (1983) Média Valores recomendados - efeito de oclusão 250 30,0 12,2 22,0 23,7 20,0 20,3 21,3 20,0 500 20,0 13,1 19,0 19,3 15,0 21,6 18,0 15,0 1.000 10,0 4,9 7,0 8,5 5,0 7,5 6,9 5,0 4.000 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Frequência 2.000 0,0 0,0 -0,6 0,0 -1,3 -0,3 Tabela 7: médias dos valores do efeito de oclusão (dB) obtidas nas análises de diversos estudos. 61 Exemplo 10: orelha direita com limiares aéreos e ósseos em 40 dB na freqüência de 500 Hz. Na orelha esquerda, limiar aéreo de 70 dB, sendo necessário pesquisar o limiar ósseo com o mascaramento da orelha direita. Se o limiar ósseo da orelha esquerda for de 40 dB, essa intensidade deveria causar uma sensação de 0 dB na orelha direita. Contudo, ao colocar o fone na orelha direita para realizar o mascaramento, o efeito de oclusão poderá ocorrer. Assim, na cóclea direita poderá chegar, por condução óssea, um tom puro de 40 dB apresentado pelo vibrador na orelha esquerda, somado a 15 dB gerados no meato acústico externo da orelha direita, ou seja, 55 dB. Dessa forma, a cóclea direita irá perceber 15 dBNS, que deverá ser considerado no raciocínio do mascaramento. Nessa perspectiva, no raciocínio do ruído mascarador, o examinador deverá optar, sempre que possível, pelo mascaramento mínimo, e nunca pelo máximo, considerando as variáveis que a utilização do ruído adiciona à avaliação audiológica. O mascaramento ocorrerá de forma adequada, ou suficiente, quando a sensação do ruído apresentado na orelha não testada for 10 dB superior à sensação do estímulo teste, que poderá ser transmitido por condução óssea. De maneira geral, a intensidade ideal do ruído mascarador é determinada pela atenuação interaural, pelo tipo de ruído mascarador, pela intensidade do estímulo e pela acuidade auditiva da orelha testada (limiar aéreo) e não testada (limiar ósseo). 62 63 A utilização de fórmulas para determinar a intensidade do ruído mascarador necessária para cada caso não é por nós indicada, a não ser que o profissional seja capaz de aplicá-la compreendendo o por que de utilizar uma determinada intensidade e, conseqüentemente, de avaliar a possibilidade de ocorrência do submascaramento (mascaramento insuficiente) ou do supermascaramento (mascaramento excessivo) no momento da pesquisa dos limiares por condução aérea, óssea e da logoaudiometria. Cabe ressaltar que o emprego de fórmulas dissociado do raciocínio clínico poderá resultar em respostas imprecisas, além de contribuir para aumentar o tempo de duração do teste, uma vez que, em muitos casos, o uso de platôs, na intensidade do ruído, para confirmar a resposta obtida, é desnecessário. A seguir, apresentamos uma seqüência de raciocínio que poderá auxiliar na obtenção de níveis seguros de mascaramento: NA PESQUISA DO LIMIAR POR CONDUÇÃO AÉREA 1) Frente aos resultados obtidos, é necessário o uso do ruído mascarador? Essa deverá ser a primeira pergunta a ser realizadapelo examinador e, para respondê-la, deve-se analisar o limiar aéreo obtido na orelha testada e o limiar ósseo da orelha não testada, para verificar se o tom puro apresentado por condução aérea na orelha testada poderá ser percebido na orelha não testada, devido à condução óssea do som. Para isso, deve-se considerar o valor de atenuação interaural da freqüência sob teste. Importante ressaltar que, na prática clínica, os limiares por condução óssea nas freqüências de 0,25 kHz, 6 kHz e 8 kHz não são pesquisados. Porém, a audição por condução óssea nessas freqüências deve ser considerada para que se verifique a necessidade do Raciocínio para o Cálculo do Ruído Mascarador 64 mascaramento contralateral na pesquisa dos limiares obtidos por condução aérea. Para isso, nas perdas auditivas condutivas, sugerimos considerar, para as freqüências de 6 kHz e 8 kHz, o mesmo limiar ósseo que em 4 kHz, e para a de 0,25 kHz, o mesmo limiar que em 0,5 kHz. Para as perdas auditivas neurossensoriais, deve-se considerar o limiar ósseo não pesquisado 10 dB melhor que o limiar aéreo. 2) Se o uso do ruído mascarador for necessário, qual o nível de sensação que deverá ser mascarado? O nível de sensação (dBNS) que a orelha não testada poderá ter do tom puro é calculado comparando o nível de intensidade atenuada transmitido por condução óssea para a orelha não testada e o limiar ósseo dessa orelha para cada freqüência avaliada. É esse nível de sensação que deverá ser mascarado para se obter a resposta real da orelha avaliada. 3) Qual a intensidade do ruído mascarador que irá produzir o nível de sensação necessário para que ocorra o mascaramento? Se o ruído mascarador é apresentado por condução aérea, faz-se necessário considerar o limiar aéreo da orelha não testada e a presença ou não de GAP aéreo-ósseo, que pode atenuar o som antes de chegar à cóclea. Assim, para que o mascaramento seja suficiente, a intensidade de ruído deverá propiciar o nível de sensação necessário para eliminar a participação dessa orelha no teste, permitindo a realização da avaliação monoaural da audição. Para que isso ocorra, o nível de sensação (dBNS) do ruído deverá ser, no mínimo, 10 dB superior à sensação do tom puro na cóclea não testada, garantindo que o indivíduo perceba somente o ruído, e não mais o tom puro que foi apresentado na orelha testada e transmitido por condução óssea para a orelha não testada. 4) Ao considerar o limiar obtido com mascaramento, a intensidade do ruído apresentado foi insuficiente? O mascaramento será insuficiente se a sensação do tom puro na orelha não testada for maior que o nível de sensação do ruído, ou se a sensação do ruído for apenas 5 dB superior à sensação 65 do tom puro. Caso isso ocorra, o examinador deverá aumentar o ruído mascarador, tornando o nível de sensação do ruído, no mínimo, 10 dB superior à sensação do tom puro. Exemplo 11: Pesquisa do limiar por condução aérea com a utilização do mascaramento [orelha não testada = orelha direita (OD), orelha testada = orelha esquerda (OE)]. (a) O valor de atenuação interaural em 1 kHz é de 40 dB. Portanto, o tom puro apresentado na orelha esquerda, em 50 dB, está sendo transmitido por condução óssea, podendo causar uma sensação de 20 dB (1) na orelha direita (não testada), uma vez que o limiar ósseo desta poderá ser -10 dB. Assim, o mascaramento da orelha direita é necessário para a obtenção do limiar aéreo da orelha esquerda. (b) Deve-se utilizar o ruído na intensidade de 30 dB para que o nível de sensação deste seja 10 dB superior à sensação do tom puro na cóclea não testada (tom puro = 20 dBNS, ruído = 30 dBNS). NA LOGOAUDIOMETRIA 5) Ao considerar o nível de apresentação do estímulo de fala na orelha testada, é necessário o uso do ruído mascarador? Para responder a essa pergunta, o profissional deverá analisar a intensidade do estímulo apresentado na orelha testada (para a pesquisa do LRF e de IPRF) e o limiar ósseo da orelha não testada. (a) (b) 66 Essa medida é necessária para verificar se a fala apresentada por condução aérea na orelha testada poderá ser percebida, devido à condução óssea, na orelha não testada. Para tal, deve-se considerar o valor de atenuação interaural de 45 dB. 6) Se o uso do ruído mascarador for necessário, qual o nível de sensação que deverá ser mascarado? O estímulo de fala abrange uma ampla faixa de freqüências, e a sensação que o indivíduo terá do mesmo dependerá dos limiares ósseos, podendo, assim, diferir para cada freqüência. Com isso, o nível de sensação (dBNS) do estímulo de fala da orelha não testada, que deverá ser mascarado, é calculado a partir da comparação entre o nível de intensidade atenuada transmitido por condução óssea para a orelha não testada e o melhor limiar ósseo dessa orelha. Tal limiar corresponde à freqüência com maior sensação do estímulo de fala. Dessa forma, ao mascararmos o maior nível de sensação para a fala, por conseqüência, todos os outros níveis serão mascarados. 7) Qual a intensidade do ruído mascarador que irá produzir o nível de sensação necessário para que ocorra o mascaramento? Semelhante ao raciocínio para a pesquisa do limiar tonal, o nível de sensação (dBNS) do ruído deverá ser, no mínimo, 10 dB superior à sensação do estímulo de fala na cóclea não testada. Dessa forma, o indivíduo perceberá o ruído, e não mais a fala que foi apresentada na orelha testada e transmitida por condução óssea para a orelha não testada. Nesse sentido, a intensidade do ruído mascarador deverá propiciar um nível de sensação superior ao maior nível de sensação do estímulo de fala. Observar que, se o ruído mascarador é apresentado por condução aérea, faz-se necessário considerar o limiar aéreo da orelha não testada e a presença ou não de GAP aéreo- ósseo, que poderá atenuar o som antes de chegar à cóclea. Ao considerar a pesquisa do LRF, a intensidade do ruído mascarador deverá causar uma sensação na orelha não testada que impeça que a mesma perceba o som de fala apresentado na orelha 67 testada. Assim, para o cálculo da intensidade mínima a ser aplicada, deve-se considerar que, para a confirmação dos limiares por condução aérea, o LRF deverá ser, no máximo, 10 dB acima da média dos limiares aéreos em 0,5, 1 e 2 kHz. Exemplo 12: orelha direita com média = 60 dB, portanto, supõe-se o resultado do LRF = 70 dB. Considerando a atenuação interaural de 45 dB, o estimulo de fala que poderá chegar à orelha esquerda por condução óssea será de 25 dB. Se houver um limiar ósseo nessa orelha igual ou melhor a 25 dB, o uso do ruído mascarador para a pesquisa do LRF da orelha direita será necessário. Assim, para que ocorra o mascaramento, a intensidade do ruído mascarador deverá produzir um nível de sensação 10 dB superior à sensação do estímulo de fala que foi apresentado na orelha direita, porém transmitido por condução óssea para a orelha esquerda. Ao considerar a pesquisa do IPRF, o nível de sensação do ruído mascarador deverá ser 10 dB superior à sensação da fala na orelha não testada, tendo como referência o nível de apresentação do estímulo de fala na orelha testada, que deverá ser o mais confortável para o indivíduo (em torno de 40 dBNS), subtraído o valor da atenuação interaural (45 dB). 8) Ao considerar os resultados obtidos com mascaramento (LRF e IPRF), a intensidade do ruído apresentado continua suficiente? Na pesquisa do IPRF, o nível de apresentação do estímulo de fala é fixo durante todo o teste. Portanto, a intensidade do ruído apresentado inicialmente é suficiente. Dessa forma, para responder a essa pergunta, o examinador deverá estar atento, na pesquisa do LRF com a apresentação simultânea do ruído mascarador na orelha contralateral, à mudança desse limiar. Se houver essa mudança, o mesmo raciocínio utilizado anteriormente deverá ser efetuado, porém, considerando agora o novo nível de apresentação de fala. 68 (a) (b) (a) Na orelha direita existe a possibilidade do limiar
Compartilhar