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Miomatose Uterina Ana Carolina Picanço Introdução São tumores benignos compostos de células musculares bem diferenciadas, raro antes da menarca (ou seja, em meninas que nunca menstruaram) e geralmente tendem a regredir com o passar dos anos, principalmente nas mulheres que estão na menopausa. Tem uma repercussão muito grande na vida da mulher, porque é uma das causas de Sangramento Uterino Anormal (SUA), dor pélvica e complicações obstétricas. Dependem também da localização, do tamanho e da questão de sangramento, e são responsáveis por 1/3 das histerectomias realizadas, chegando a 300.000 por ano. - Tumor benigno formado por fibra muscular lisa do útero. - Únicos ou múltiplos / Pequeno ou gigantes. - Aumento simétrico do útero / Distorção anatômica Definição É um tumor benigno, monoclonal, formado por fibra muscular lisa do útero com estroma de tecido conjuntivo em proporções variáveis, e essas fibras musculares fazem sua aparência parecer um novelo de lã. Podem ser únicos ou múltiplos, pequenos ou grandes. Podem causar um aumento simétrico ou assimétrico do útero, chegando a uma distorção anatômica (o útero fica pequeno e o mioma toma conta como uma massa muito grande, fazendo com que o útero perca seu formato). Epidemiologia - Neoplasia benigna mais comum na mulher; - 95% dos tumores benignos do trato genital feminino; - Presente em 1/3 das mulheres em idade reprodutiva. - Sintomáticos em 50%. - Maior incidência: negras, obesas, nulíparas (pode ter a ver com o hiperandrogenismo, excesso de estrogênio, que pode aumentar os miomas). Fatores de risco - Raça: 3x mais comum em mulheres negras. - História familiar: risco maior / fator desconhecido. - Idade: 4ª e 5ª década de vida - Menarca precoce: (< 10 anos) - maior exposição hormonal. - Paridade: maior em nulíparas e inférteis. - ACO: reduz o risco em 17% a cada 5 anos de uso. - Primiparidade precoce; - Tabagismo: interfere no metabolismo do estrogênio. Ana Carolina Picanço Etiopatogenia A “pergunta que não quer calar”: qual etiopatogenia dos miomas ? Estrogênio: principal fator para o crescimento tumoral (estradiol) / maior quantidade de receptores no tecido tumoral. GH: Efeito sinérgico com estrogênio / Crescimento tumoral. hPL (hormônio lactogênio placentário): ação semelhante ao GH. Progesterona: estimula mitose e inibe apoptose / crescimento tumoral. 17-OH Desidrogenase: Tipo I: transforma estrona em estradiol. Aromatase: transforma testosterona em estradiol. Genética: 3x maior em negras do que em brancas. Patologia Macroscopia: brancacento e endurecido (tec. conjuntivo), róseo (tec. muscular), consistência amolecida, cística ou elástica. Microscopia: fibras musculares lisas, espiraladas, com tec. Conjuntivo de permeio. Alterações degenerativas encontradas: Cai na prova! - HIALINA: MAIS comum / tu amolecido/ ↓ fluxo sangue para o mioma. Vai causar um amolecimento do tumor e diminuição do fluxo de sangue para o mioma, que vai degenerar. - CÍSTICA: liquefação das áreas com degeneração hialina. ñ é comum. - MUCÓIDE: cistos com material gelatinoso. -RUBRA/VERMELHA/CARNOSA/NECROBIOS E ASSÉPTICA: mais comum na gravidez / Dor, hiperemia, ruptura / rápido crescimento tumoral. Mais comum em miomas intramurais. - GORDUROSA: a mais rara / Tec. Gorduroso no interior da fibra muscular. -CALCIFICAÇÃO: acúmulo de cálcio em local de baixo fluxo sanguíneo. Comum na pós-menopausa. - NECROSE: mais comum nos miomas pediculados / interrupção do fluxo sanguíneo por torção do pedículo. - SARCOMATOSA: é a degeneração maligna / extremamente rara / 0,5%. Agressivos, crescimento rápido, encontrados na pós-menopausa (crescimento rápido de mioma preexistente). Ana Carolina Picanço Classificação Mioma SUBSEROSO: localizado abaixo da serosa uterina / menos sintomático. É em sua maioria assintomático, a não ser que seja muito grande e comprima órgãos vizinhos. Mioma INTRAMURAL: localizado na parede miometrial / pode evoluir para subseroso ou submucoso. Quando cresce para fora, não causa nada, mas se tiver um componente submucoso (cresceu tanto que pode adentrar) tem chance de causar sangramento. Mioma SUBMUCOSO: se projeta para a mucosa endometrial / provoca mais hemorragia. Sempre pensar que pode ter sangramento, quadro de infertilidade, já que cresce para dentro da cavidade endometrial e empurra esse endométrio. O submucoso não obrigatoriamente tem que ser intramural primeiro. O mais sintomático é o submucoso e o menos é o subseroso (só causa sintoma se comprimir algum órgão). OUTROS: - PEDICULADO: com pedículo, subseroso ou submucoso. Tem um pedículo que pode torcer e causar dor no paciente ou romper (mioma parido). - PARIDO: mioma submucoso pediculado, com crescimento exagerado do seu pedículo, exteriorizando-se pelo colo. Quadro clínico - Maioria assintomática (achados ultrassonográficos). - Dependem do tamanho / número/ localização. - Dor pélvica, sensação de pressão pélvica, dismenorréia, infertilidade - Compressão de órgãos vizinhos: polaciúria, retenção urinária, urgência miccional, hidronefrose, disfunções intestinais, hemorróidas, estase venosa. Ana Carolina Picanço Diagnóstico - Clínico + imagem. Anamnese: - Alterações menstruais (submucosos): paciente geralmente se queixa de hipermenorréia, menorragia; - Dor pélvica e dismenorreia (compressão e isquemia); - Aumento do vol. abdominal; - Compressão geniturinária / Distúrbios intestinais; - Infertilidade (5-10%) – (oclusão óstio tubário, alteração endometrial, incapacidade de distensão uterina). Exame físico: - Aumento do volume uterino e abdominal (úteros com mais de 300g); - Útero aumentado / superfície irregular e endurecida. Diagnóstico por imagem: - USG endovaginal ou pélvica: mapeamento do útero / baixo custo / fácil acesso. / Nódulos hipoecóicos na parede uterina. - Histeroscopia: identificam miomas submucosos e intramurais (deformidade da cavidade uterina). / Diagnóstico diferencial de pólipos, hiperplasia endometrial, adenomiose e carcinoma de endométrio. - Videolaparoscopia: não é um método rotineiro / os miomas são um achado. Não é um método rotineiro, os miomas são um achado, geralmente pequenos e nem é preciso fazer nada nele. O paciente às vezes faz exame para apendicite, retirada de vesícula e acha miomas. - Tomografia computadorizada: não é indicada como exame diagnóstico primário / bom para planejar tratamento ou suspeita de degeneração maligna. - Ressonância magnética:melhor exame para visualização e mensuração do mioma / Custo elevado / diferenciação de adenomiose ou leiomiossarcoma. Ana Carolina Picanço Tratamento Escolha do método terapêutico vai depender de: FATORES RELEVANTES: - Manifestação clínica; - Idade; - História reprodutiva; - Aspirações reprodutivas; - Gestação concomitante; - Tamanho e localização do tumor. 1 - CONDUTA EXPECTANTE Exame físico periódico + USG semestral. Indicações: - Tumores assintomático; - Pacientes sintomáticas, sem comprometimento geral; - Pacientes na peri ou pós-menopausa. Pode fazer em miomas menores na peri ou pós menopausa, paciente não sintomático ou tem sintomas, mas sem comprometimento geral. 2 - TRATAMENTO CLÍNICO: Alívio dos sintomas Indicações: - Redução tumoral; - Controle do sangramento (anemia no pré-operatório); - Paciente na perimenopausa; - Paciente com risco cirúrgico aumentado. → ANÁLOGOS DO GnRH → AINES → DANAZOL → GESTRINONA → SIU – LEVONORGESTREL → ACO 1. ANÁLOGOS DO GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas): - Medicação mais efetiva no tratamento clínico do mioma. Mais efetivo na regressão do tumor, porém é muito caro, sendo cada injeção 800 reais, então não é muito usado na prática. Seu uso restringe para mulheres com miomas muito grandes que necessitam de cirurgia e, para isso, precisa reduzir esse mioma antes, corrigir anemia e parar sangramento. Então a mulher fica preparada para operar. Faz uso durante 6 meses com o Zoladex e espera uns dois a três meses para o tumor estar em plano de clivagem e opera. - Liga-se aos receptores de GnRH da hipófise / Hipoestrogenismo . - *** Preparo pré-op (anemia (Hb <9,5), miomas grandes e redução de sangramento); - Redução de 30-70% do volume do mioma. BENEFÍCIOS DO USO PRÉ-OPERATÓRIO: - Melhora do quadro de anemia, evitando necessidade de hemotransfusão. - Diminui tamanho uterino (cirurgia menos invasiva, incisão menor). - Menor perda sanguínea durante cirurgia ( ↓ vascularização). Ana Carolina Picanço RISCOS DO USO PRÉ-OPERATÓRIO: - Perda da pseudocápsula que circunda o mioma (dificuldade de ressecção); - *** Postergar a cirurgia por 45-60 dias após última aplicação, para um melhor plano de clivagem. - *** Não usar por mais de 6 meses : perda de massa óssea / síndrome climatérica. 2. AINES: - Controle da dor pélvica / não é comprovada a diminuição do sangramento / Piroxicam. 3. DANAZOL: - Esteróide sintético derivado da 19-nortestosterona. - Suprime secreção de GnRH, hipófise anterior e suprime secreção FSH e LH. - Induz amenorreia e controla a anemia. 4. GESTRINONA: - Derivado da 19-nortestosterona ; - Aumenta nível de testosterona; - Reduz nível de estradiol, FSH e LH ; - Induz a amenorreia Vantagem: efeito se mantém por até 18 meses após o fim do tratamento (mantém redução tumoral). 5. SIST. INTRAUTERINO (SIU) LIBERADOR DE LEVONORGESTREL - Reduzem fluxo menstrual, mas não o tamanho dos miomas. - Melhoram anemia. 6. ACO: - Agem na correção do sangramento uterino. - Não reduzem o tamanho do mioma. - Melhora dos sintomas (atrofia endometrial) 3 – TRATAMENTO CIRÚRGICO Indicações: - Tratamento de SUA ou dor pélvica; - Suspeita de malignidade; - Infertilidade; - Abortamento recorrente; Ana Carolina Picanço → HISTERECTOMIA → MIOMECTOMIA → EMBOLIZAÇÃO UTERINA 1. HISTERECTOMIA: Indicações: - Prole constituída ou sem desejo de engravidar, apresentando → sintomas importantes / miomas volumosos / falha do tratamento clínico. Pode ser histerectomia total (retirada de útero e colo: sempre preferir esse tipo) ou subtotal (tira apenas o útero: realizada quando teve alguma dificuldade na cirurgia ou porque o médico é preguiçoso). Deve sempre tirar os dois!! Além disso, é importante que a paciente tenha sempre o preventivo em dia, para ter certeza que se não conseguir tirar o colo não terá consequências graves, por exemplo, avanço de câncer de colo de útero em uma paciente que já tinha. Pode ser feita por Laparotomia / videolaparoscopica + vaginal / Vaginal. E como complicações podem ocorrer hemorragia, infecção, lesão uretral, vesical e intestinal, fístulas. 2. MIOMECTOMIA: Indicações: - Desejo de gestar e manter o útero. Retira apenas o mioma e esses precisam ser pequenos. É indicado para pacientes que desejam ficar grávidas. Pode acontecer de tirar o mioma e depois de um a dois anos, voltar. Complicações: Desenvolvimento de novos miomas (50-60%) em até 5 anos, hemorragias, aderências, ruptura uterina no final da gravidez ou durante o TP (cesariana melhor via de parto, pois pode romper no local da cicatriz). *** Laparotomia (útero volumoso, miomas intramurais > 5-8cm) *** Laparoscopia (útero pouco volumoso, mioma subseroso ou intramural < 5cm). *** Histeroscopia (mioma submucoso + SUA, infertilidade, abortamento) 3. EMBOLIZAÇÃO UTERINA: Cateterização e injeção de partículas (PVA, Gelfoam, Microesferas) em ambas as artérias Ana Carolina Picanço uterinas, que vão diminuir o fluxo sanguíneo e causar isquemia dos miomas. Indicações: Falha de tratamento prévio / recidivas / contra-indicação cirúrgica/ miomas volumosos e múltiplos / preservação uterina. Complicações: oclusão de outras artérias (ovários, bexiga, intestino). Dor pélvica, vômitos, cefaleia. Expulsão do mioma / Necessidade de HTA O QUE É IMPORTANTE SABER PARA A PROVA: Classificação (onde cada um está e o que pode causar), quando é indicado os tratamentos, Embolização, Análogos GnRh, Progestágenos, Histeroscopia, Exame Físico, Quadro Clínico, Degeneração, Fatores de risco, Epidemiologia, Patogenia e Etiologia. FIM. Ana Carolina Picanço
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