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Apostila - Bíblia II - Introdução ao AT

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Julho/ 2019
Professor/autor: Me. Ênio Caldeira Pinto
Coordenadoria de Ensino a Distância: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento 
institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
SUMÁRIO
Bíblia II - Introdução ao Antigo Testamento
Introdução geral à disciplina.................................................................................................04
Unidade I - O Pentateuco
Introdução..............................................................................................................................11
1. A história do texto do Antigo Testamento........................................................................11
2. O Cânon do Antigo Testamento........................................................................................16
3. A Torá: A história das origens...........................................................................................27
4. A Torá: Formas literárias....................................................................................................30
3. A Torá: Interpretando textos normativos..........................................................................38
Unidade II - Os livros históricos
Introdução..............................................................................................................................52
1. Teorias sobre os livros históricos.....................................................................................54
2. O eneateuco: outra teoria relevante...................................................................................65
3. O gênero das histórias........................................................................................................71
4. Visão panorâmica sobre os livros históricos.....................................................................78
Unidade III - Os Livros Poéticos
Introdução..............................................................................................................................97
1. A literatura sapiencial........................................................................................................98
2. A Perseverança, otimismo e vida....................................................................................111
3. Os Salmos: Gênero e teologia..........................................................................................123
4. O Cântico da vida e do amor............................................................................................138
Unidade IV - Os livros proféticos
Introdução............................................................................................................................144
1. O movimento profético.....................................................................................................145
2. Panorama teológico dos profetas...................................................................................154
3. Estrutura literária do oráculo profético..........................................................................163
4. Hermenêutica dos profetas............................................................................................163
Para assistir os vídeos, ouvir os podcasts e fazer os exercícios,
acesse o AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)
Atenção! Lembre-se que faz parte de suas obrigações:
1 - Participação na disciplina por meio da realização dos exercícios;
2 - Exercício integrativo - Resumo da disciplina, 800 a 900 palavras;
3 - 2 Provas objetivas (5 questões cada);
4- Leitura de textos complementares (100 páginas);
Consulte o “Programa de curso” e veja mais detalhes!
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA4
BÍBLIA II – Introdução ao antigo testamento
Introdução geral à disciplina
Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) a mais uma disciplina da Área 
de Bíblia. Desta vez será a disciplina Bíblia II: Introdução ao Antigo 
Testamento, cuja ênfase recairá sobre o estudo literário de cada livro, 
ou seja, o reconhecimento das grandes coleções de tipologias textuais 
(Pentateuco, Históricos, Profetas e Poesia) e os principais elementos 
da composição deles (autoria, data e lugar). Em síntese, esta disciplina 
cobrirá o Estudo do contexto histórico e geográfi co do antigo oriente, 
análise literária dos livros do Antigo Testamento. Doravante, para facilitar 
a escrita, em todo o decorrer da leitura deste material, será utilizada a 
sigla AT para Antigo Testamento.
O objetivo desta disciplina é proporcionar ao(à) estudante de Teologia uma 
visão panorâmica sobre o conteúdo literário do Antigo Testamento, bem 
como auxiliar sobre a variedade de leituras (hermenêuticas) das principais 
coleções, além de oferecer subsídios de ensino e aprendizagem para o 
anúncio da Palavra de Deus. Este tipo de abordagem irá paulatinamente 
contribuir para o crescimento do(da) estudante, tornando a leitura do 
AT dinâmica, contextual e relevante para a prática da espiritualidade e 
estudo da Palavra.
Para esta disciplina, espera-se que o aluno adquira as seguintes 
competências: a) assimilar a estrutura literária de cada uma das principais 
coleções; b) discorrer panoramicamente o conteúdo de cada livro, ou 
seja, os grandes temas; c) sintetizar as principais divisões (blocos ou 
perícopes maiores) dos livros do AT; e d) descrever as grandes coleções 
do AT enquanto obra literária sagrada. E as principais habilidades são: 
a) listar e apresentar as divisões do AT; b) apresentar o conteúdo formal 
de cada livro; c) praticar a leitura bíblica de textos do AT como estudo 
devocional e hermenêutico; e d) ensinar o conteúdo introdutório aos 
livros do AT para grupos pequenos em comunidades religiosas. 
5Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
Aqui, na Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), o ensino do Antigo 
Testamento sempre é enfatizado como uma das ferramentas que 
possibilita o entendimento acerca da importância da Palavra (leitura, 
estudo e interpretação) no processo de formação da identidade cristã, 
tanto através da prática da espiritualidade como do aperfeiçoamento 
do conhecimento (sabedoria) e da qualidade ministerial (culto, liturgia, 
educação cristã e educação teológica, aconselhamento, etc). De fato, o 
ensino do conteúdo bíblico é um dos pontos fortes da instituição, porque 
acredita na educação como processo de redenção de vidas. 
Outra ênfase que a FTSA quanto ao ensino do AT é que muitos alunos 
acabam simpatizando-se pelo estudo de textos que acabam se tornando 
a pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso. E, dentre os textos mais 
escolhidos, os Profetas e os Salmos são os mais apreciados pelos 
estudantes. Tal escolha comprova o porquê termos alunos voltados à 
prática da justiça – uma qualidade essencial do ministério profético – 
e do sentido da vida enquanto indivíduo integralmente alcançado pela 
fé em Cristo – uma transformação ocasionada em pessoas que foram 
impactadas por um ministério voltado ao cuidado da vida. 
Portanto, a estrutura do conteúdo desta disciplina será cumprida em 
quatro unidades. A primeira delas corresponde ao agrupamento dos cinco 
primeiros livros do AT, denominado de Torá ou simplesmente Pentateuco. 
Em seguida, virá o conteúdo dos livros Históricos – assim denominados 
porque se referem à transição do período tribal para o período monárquico 
e suas composições, ou seja, rolos que trazem dados da historiografi a 
do povo de Deus. A terceira unidade discorrerá sobre um agrupamento 
de dezessete livros, denominados Profetas – grupo de escola sapiencial 
que inauguram o movimento dos arautos de Deus. A quarta e última 
unidade tratará sobre os efeitos estilísticos e poéticos da Sabedoria ou 
simplesmente Poesia – conjunto de livros que tratam de ensinamentos 
sobre o estilo de vida, comportamentos, orientações, práticas litúrgicas, 
celebrativas e ritos. Comojá dito, esta disciplina fornecerá uma visão 
panorâmica de cada uma das grandes coleções do AT. 
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| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA6
Para que você, aluno(a) de Teologia, obtenha excelente êxito nesta 
disciplina, é oferecida uma estrutura que irá te proporcionar um 
entendimento panorâmico (geral) de como será ensinado o conteúdo. 
Esta estrutura é baseada na metodologia dos livros de Introdução ao 
Antigo Testamento. Ou seja, há um roteiro fi xo (físico e mental) que 
percorrerá todo o estudo do AT, mas que se torna dinâmico quando o 
conteúdo de cada um dos livros é inserido. Esta metodologia é oferecida 
por todas as instituições sérias de ensino teológico, mas é preciso já fazer 
aqui uma breve distinção, qual seja: não se deve entender esta disciplina 
como aquela que irá interpretar a passagens bíblica de um livro do AT, 
mas aquela que irá oferecer uma visão panorâmica de todo o livro. E 
por que assim, deste jeito? É porque a disciplina é de Introdução ao AT, 
logo, a metodologia é de oferecer uma visão panorâmica. Mas, quando 
chegar a disciplina de Metodologia Exegética, então serão oferecidos os 
instrumentos (roteiros) e ferramentas (procedimentos de interpretação) 
para uma passagem (tecnicamente chamada de perícope). Neste caso, 
não se adotará livros de Introdução, mas os de Comentários exegéticos. 
Então, o roteiro sugerido para esta atual disciplina é o seguinte: autoria, 
lugar, data, conteúdo, forma literária. No primeiro quadro a seguir, você 
entenderá como deve ser feita a identifi cação da autoria, também 
chamada de redator, escritor, ou ainda, remetente. Trata-se de obter 
uma visão geral sobre o tipo de pessoa que escreveu o referido texto 
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7Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
(conhecimento sobre o assunto, observação indireta ou participação direta, 
nível de formação e meios de acesso à informação, etc). A descoberta da 
autoria é mediante vários métodos de identifi cação escriturística, auto-
revelação (o próprio autor se declara na escrita), pseudonomia (quando 
atribui-se a obra a uma pessoa renomada, célebre, notável, geralmente como 
homenagem), ou ainda quando convencionou-se tradicionalmente dar um 
nome à composição do texto. Enfi m, saber sobre a autoria de um texto ajuda, 
na maioria das vezes, no processo de interpretação do texto todo. 
No segundo eslaide, a estrutura é utilizada para descobrir sobre o lugar 
em que o livro bíblico foi escrito. Esta técnica ajuda a identifi car (e a 
entender) dois tipos de contextos: o do autor e o do leitor. A relevância 
desta identifi cação consiste em assumir os papeis de intérprete sobre o 
texto bíblico. Por exemplo, a leitura do Salmo 1 permite situar um homem 
abençoado (feliz) porque, em sua trajetória de vida, não se ajuntou a 
homens injustos (incrédulos), antes preferiu meditar na Palavra de Deus 
e buscar estilos de vida abundante e saudável, tal como a do homem do 
campo, junto ao riacho e alimento da terra. No entanto, a composição 
deste salmo, dando abertura ao Saltério (150 salmos) foi escrito durante 
o período do Exílio Babilônico, cujo movimento sacerdotal procurou 
recuperar a cultura e a tradição nacional de Israel através de cânticos 
e celebrações litúrgicas, ao mesmo tempo que adoravam e cultuavam 
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| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA8
a Deus. Neste sentido, qual é o real contexto: o do leitor, que insiste em 
ser um homem abençoado? ou o do escritor, que quer estimular a viva 
esperança de culto em meio a terras estranhas? Seja qual for o contexto 
escolhido, a interpretação será: se for o do leitor, então o comentário 
será sobre a vida simples, de um lavrador ou morador do campo, sistema 
familiar e tribal, vinculado às raízes da terra como bênção de Deus; e se 
for o do escritor, então o comentário será sobre a tradição sacerdotal que 
resgatou valores centrais do estudo da Lei (Torá) de Deus como roteiro 
de uma vida bem sucedida. 
O terceiro roteiro apresenta a dica de como pode-se determinar a data da 
escrita. Na verdade, é mais um indicativo de como pensou-se a cronologia 
do livro do que propriamente a convenção do calendário (dia, mês e ano). 
São raros os textos que dão estas dicas. Miquéias 1:1, por exemplo, é rico 
em informar quase com exatidão o período de sua escrita: “Palavra de 
Javé dirigida a Miquéias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e 
Ezequias eram reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito 
de Samaria e Jerusalém”. A relevância desta identifi cação colabora muito 
para o levantamento do contexto histórico – um procedimento requisitado 
pela Hermenêutica e par excellence pela Exegese Bíblica. A datação é 
uma etapa importante, pois auxilia o leitor (intérprete) a observar o tempo 
de como uma determinada situação estava sendo peculiar para uma 
comunidade e, em seguida, como no desenvolvimento da narrativa (ou da 
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9Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
história) essa mesma situação foi alterada (transformada), seja para uma 
destruição ou para uma restauração. 
O quarto eslaide aponta para a análise do conteúdo de cada livro do AT. 
Trata-se de uma metodologia que facilita o rápido entendimento sobre 
o todo do livro. É muito comum, inclusive, ater-se às divisões principais 
(também conhecida como composição e/ou estrutura). Classicamente, 
esta análise é feita a partir de vários blocos (ou agrupamentos), indicadas 
em cada livro de Introdução ao Antigo Testamento ou nas Bíblias de 
Estudo. A relevância desta técnica contribui para a rápida assimilação 
do conteúdo, a fi m de direcionar o(a) estudante para a unidade de 
pensamento entre outros livros. A divisão do conteúdo possibilita 
o estudo sistemático de leituras históricas e teológicas, difundidas 
pelo próprio escritor do livro bíblico. Por exemplo, o livro de Salmos é 
dividido em cinco grandes agrupamentos (assemelhando-se à divisão 
do Pentateuco), mas que dentro de cada divisão sempre há um salmo 
introdutório e um salmo conclusivo, cooperando com o leitor sobre o 
entendimento dos 150 salmos produzidos. E, da mesma forma, como 
entender a divisão do livro de Isaías, a partir da classifi cação de autoria: 
Primeiro Isaías (capítulos 1-39), Segundo Isaías (capítulos 40-55) e 
Terceiro Isaías? (capítulos 56-66). Em outras palavras, a divisão é um 
sistema de leitura e de interpretação. 
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| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA10
O quinto, e último, roteiro considera a identifi cação da tipologia textual 
(também chamada de análise literária, ou ainda crítica das formas), através 
da qual os escritores bíblicos fi zeram uso para comunicar a mensagem 
de Deus. Quando o assunto foi escrito, o autor teve que colocá-lo em 
uma forma textual, e, para isto, ele precisou adotar linguisticamente um 
tipo de texto que fosse conhecido pelos leitores e de fácil compreensão. 
Vale dizer aqui que as tipologias textuais são adotadas naturalmente 
pelos compositores (escritores), e, tratando-se de contextos culturais de 
leitores, ocorrem muita difi culdade de interpretação quando o contexto 
literário do leitor difere do contexto do autor. Por exemplo, a forma de 
oráculo profético, pronunciado por Amós, não se encontra em nenhuma 
produção literária de falantes brasileiros, pois as formas são diferentes. 
Neste sentido, o(a) aluno(a) de Teologia estuda as formas ou tipologias 
textuais contidas nos textos bíblicos, também chamados de perícope, 
para compreender as partes do texto (estrutura), e, ao mesmo tempo, 
identifi cando os recursos literários utilizados para produzir o sentido e 
signifi cado, isto é, as rimas, as fi guras de linguagem, os efeitos sonoros, 
etc. (chamada de análise estilística). 
No vídeo introdutorio será feita a apresentação e, ao mesmo tempo, a 
indicação de três livros sobre a Introdução ao Antigo Testamento. Não se 
trata de leitura obrigatória, nem tampouco de aquisição (compra) deles. 
11Bíblia II- Introdução ao AT | FTSA | 
A presente indicação é uma recomendação sobre obras que discorrem 
sobre cada livro do AT, cujo propósito é situar o(a) estudante sobre o 
conteúdo escriturístico revelado por Deus ao seu povo. 
Assista ao vídeo: Apresentação à disciplina - Professor Ênio
Unidade 1: O Pentateuco
Introdução
Nesta primeira unidade, você irá obter uma visão geral (ou panorâmica) 
sobre o conteúdo dos cinco (penta, cinco) primeiros livros (teucos, 
rolos) do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e 
Deuteronômio. Para isto, a proposta de estudo abordará os seguintes 
tópicos: (1) A história do texto do Antigo Testamento, (2) O cânon do 
Antigo Testamento, (3) A Torá: a hist ória das origens, (4) A torá: Formas 
Literárias, e (5) a TORÁ: Interpretando textos normativos. Em cada um 
deles, haverá vídeos, leituras complementares e a seção SAIBA MAIS, 
além dos 2 exercícios de fi xação, dos 2 exercícios de aplicação e de 1 
exercício de refl exão. 
O objetivo desta unidade é conhecer as diferentes formas textuais dos 
cinco primeiros livros e dominar os principais conteúdos de cada um 
deles. Recomenda-se que, para o estudo de cada livro, o texto bíblico 
seja consultado panoramicamente, a fi m de familiarizar-se com a leitura 
das aulas e a imediata conferência com a Bíblia. 
A Avaliação 1 será feita no fi m da Unidade II, sendo composta de dez 
questões objetivas.
1. A história do texto do antigo testamento
é de comum senso que literalmente os livros não caem do céu. Os 
textos escritos (em vez de textos orais) têm autores, usam letras, uma 
certa língua (ou mais de uma) e utilizam algum meio material para 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA12
serem preservados no tempo. Uma longa história de produção, tradição 
e tradução aconteceu para que hoje os leitores pudessem acessar os 
textos do AT através de um belo volume impresso de papel, com capa de 
couro e em uma língua inteligível. Assim como hoje, os mecanismos e 
recursos digitais, têm possibilitado um alcance maior de leitores do AT. 
As palavras do AT (tanto como as do NT) foram escritas por homens (Jo 
1:14), mas sob a orientação do Espírito Santo, isto é, foram “inspirados” 
a escrever a Palavra de Deus). Isso signifi ca que o AT tem uma origem 
humana, a partir da qual deve-se conhecê-la para melhor perceber a 
sua mensagem. Defi ne-se o processo de formação da Bíblia através da 
seguinte sequência: 
Os homens de Deus:
• contaram e transmitiram as palavras de Deus oralmente (Dt 6,6-7; 1Co 15,3);
• escreveram textos em tabuletas de argila e em folhas de papiro (Ex 
17,14; Jr 36,2; Lc 1,1-3);
• copiaram as tabuletas e as folhas e juntaram-nas em rolos e em códices 
(compilações de folhas de papiro ou pergaminho). 
Depois dos rolos e códices, vieram os livros escritos e mais tarde os livros 
impressos. Os textos originais do AT (isto é, os textos escritos pelo próprio 
autor) não existem mais. A única coisa que preservada até os dias atuais 
são as cópias e as cópias das cópias. Arqueólogos conseguiram achar 
pedaços e partes de cópias bastante velhas dos textos do AT, mas nunca 
acharam um texto original escrito por um autor bíblico. Vale ressaltar 
aqui, que o AT atual, disponibilizado nas inúmeras versões de Bíblia em 
Língua Portuguesa, sempre considerou o critério do cânon para afi rmar 
que a Bíblia (AT) está completa. Ou seja, Deus deu sua Palavra completa, 
não podendo haver acréscimos! E, no desenvolvimento da transmissão 
e ensino acerca das Escrituras, o leitor cristão interpretou literalmente 
que a Bíblia foi encontrada integralmente em um só volume. Vale a pena 
estudar sobre os detalhes de cada descoberta e de cada procedimento 
utilizado pela Comissão no processo de formação do cânon. 
14 A Palavra tornou-se carne e sangue, e veio viver perto de nós. Nós vimos a glória com nossos olhos, uma glória única: o Filho é como o Pai, sempre generoso, autêntico do início ao fim.
6-9 Escrevam no coração os mandamentos que estou transmitindo a vocês. Apropriem-se deles e levem seus filhos a se apropriar deles. Que eles sejam o assunto de sua conversa, onde quer que vocês estiverem — sentados em casa ou andando pela rua. Que eles sejam repetidos desde a hora em que vocês se levantam, de manhã, até a hora de cair na cama, à noite. Que eles estejam amarrados na mão e na testa de vocês, como lembretes, e até escritos no batente da porta das casas e nas portas das suas cidades.
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. 
3-9 A primeira coisa que fiz foi apresentar a vocês de coração a Mensagem que recebi: o Messias morreu pelos nossos pecados, exatamente como dizem as Escrituras; foi sepultado e se levantou da morte no terceiro dia — mais uma vez, exatamente como dizem as Escrituras. Falei a vocês que ele apareceu vivo a Pedro, depois aos seus seguidores mais próximos e mais tarde a mais de quinhentos seguidores ao mesmo tempo — muitos deles estão por aí (ainda que alguns já tenham morrido) —, depois, ele passou um tempo com Tiago e com o restante dos que chamou para falar em seu nome, e, finalmente, apareceu vivo a mim. Faz todo sentido que eu viesse por último, pois nem mereço ser incluído no grupo original, como vocês bem sabem, já que passei anos perseguindo a igreja de Deus.
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. 
14 O Eterno disse a Moisés: “Escreva um relato desta batalha, para que Josué possa ler mais tarde, porque vou apagar a memória de Amaleque da face da terra”.
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. 
361-2 No quarto ano do reinado de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá, Jeremias recebeu esta Mensagem do Eterno: “Pegue um rolo e escreva tudo que eu disse com respeito a Israel e Judá e a todas as nações, desde o tempo em que comecei a falar a você, durante o reinado de Josias, até o dia de hoje.
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. 
11-4 Várias pessoas se deram ao trabalho de relatar por escrito os fatos extraordinários que se passaram entre nós, que eram, ao mesmo tempo, o cumprimento de profecias das Escrituras. Elas basearam seus relatos em testemunhas oculares que dedicaram a própria vida à Palavra. Investiguei cuidadosamente esses relatos, inteirando-me da história desde o princípio, e decidi escrever tudo ao senhor, honrado Teófilo, para que não haja nenhuma dúvida a respeito da confiabilidade de tudo que lhe foi ensinado.
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. 
13Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
Há quatro fatos que precisam ser destacados para conhecer sobre a 
história do texto do AT. O primeiro deles é sobre Os Rolos de Qumran ou 
simplesmente Os Papiros do Mar Morto. Afi nal, as histórias mais notáveis 
sobre a formação do AT, para exemplifi carem sobre a chegada da Palavra 
de Deus até nós, são melhores aceitas quando contadas pelos achados 
dos rolos do Mar Morto, em Qumran. No ano de 1947, um jovem pastor 
de ovelhas achou em uma cova nas montanhas perto do mar morto uns 
rolos de escritura depositadas em cântaros de barro. Levou alguns deles 
e os vendeu na feira da sua aldeia. Por acaso um arqueólogo passou 
por aquela feira e achou os rolos. Logo reconheceu o grande valor deles 
e comprou-os. Depois pediu ao jovem que lhe mostrasse o lugar onde 
é que tinha achado os rolos. Assim foram descobertas as cavernas de 
Qumran, que contêm uma antiga biblioteca de um monastério judaico (os 
monges de Qumran), situado perto do Mar Morto, onde foram guardados 
inúmeros textos sagrados do AT originários do ano 200 a.C., isto é, 
quase mil anos mais velhos de que os códices de Aleppo e Leningrado. A 
investigação dos rolos de Qumran mostrou que não existe uma diferença 
signifi cativa entre os textos do ano 200 a.C. e as cópias do ano 930 d.C. 
Uma prova maravilhosa da fi delidade e exatidão do processo da tradição 
dos textos sagrados do AT. 
O segundo fato pelo qual pode-seadotar como entendimento acerca da 
formação do Antigo Testamento diz respeito à existência da Septuaginta, 
comumente chamada de Tradução dos Setenta, ou ainda, representada 
pela numeração romana LXX. Ela foi a primeira coleção completa dos 
livros do AT. A palavra septuaginta é latina e vem de uma tradição antiga 
que afi rma ter sido exatamente setenta e dois homens que fi zeram tal 
tradução. Mas na verdade este trabalho levou muito mais tempo, mais ou 
menos de 300 até 100 a.C. A razão porque esta tradução foi feita é que 
houve muitos judeus, na época do Império Romano (a partir de 63 a.C.) 
que viveram fora dos territórios da Palestina e que não aprenderam a 
língua hebraica dos seus antepassados. Eles precisaram de uma tradução 
de suas Sagradas Escrituras na língua ofi cial do Império Romano, que na 
época era o grego. A qualidade e o estilo da tradução são bem variados 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA14
de livro para livro. Há casos que saem do literal à paráfrase. Em sua 
origem, a ordem dos livros da LXX eram: a Torá, os Livros Históricos, os 
Livros Poéticos, os Apócrifos e os Livros Proféticos. Na época da Igreja 
Primitiva (século I), a Bíblia que tanto os apóstolos e os cristãos liam e 
citavam era diretamente uma referência à LXX. Neste sentido, algumas 
citações no NT que fazem referência às passagens do AT parecem livres 
e diferentes do atual AT, que foi traduzido do diretamente do hebraico.
O terceiro fato que precisa ser considerado é a contribuição dos 
Massoretas. As cópias mais importantes dos textos do AT são as cópias 
feitas na língua hebraica, realizada por uma escola de escribas israelitas 
chamados massoretas. Os massoretas foram homens com uma grande 
tradição na arte de escrever e copiar; produziram cópias dos livros do AT e, 
ao mesmo tempo, tiveram o objetivo de manter o texto original inalterado 
e ileso. Durante muitos séculos, os massoretas mantiveram uma tradição 
irrepreensível e imaculada dos textos do AT. Porém, as cópias mais 
antigas, escritas pelos massoretas, ainda preservadas atualmente, são 
originárias do ano 930 d.C. São os códices chamados Codex Aleppo e 
Codex Leningradensis (têm estes nomes porque se encontram hoje em 
dia nos arquivos das cidades de Alepo e Leningrado (St. Petersburgo, na 
Russia). Isto signifi ca que entre o tempo em que o último livro do AT foi 
escrito (400 a.C.) e o tempo em que a cópia mais antiga do AT inteiro foi 
escrita, existe um espaço de mais de que 1000 anos! Logo, as cópias 
massoréticas conseguiram manter o sentido da originalidade da Palavra 
de Deus, ditada, narrada e copiada do AT. 
Por último, o quarto fator no estudo da formação do texto do AT a ser 
considerado refere-se à Bíblia Hebraica. Ao observar o uso frequente da 
LXX na igreja cristã (primitiva), i.e., como os fi éis conseguiram provar, 
através dos próprios textos da LXX, que Jesus Cristo é o Messias, os 
judeus decidiram abandonar esta tradução grega e voltaram para a sua 
Bíblia Hebraica, isto é, a coleção dos livros do AT na língua hebraica. Esta 
coleção já tinha existido antes de Cristo, o próprio Senhor Jesus a usou 
(Lc 24:27 e Mt 23:34). Entretanto, o Cânon Hebraico tornou-se fi xo e foi 
15Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
estabelecido somente no ano 90 d.C., no Sínodo de Jabne ou Jâmnia, em 
rejeição à LXX que os cristãos utilizaram. E, para tornar tal diferenciação 
mais nítida da LXX, uma nova ordem de livros foi colocada para a 
Bíblia Hebraica: Lei, Profetas Anteriores (Livros Históricos), Profetas 
Posteriores, Escrituras. Por este tempo, alguns cristãos continuaram 
seguindo a LXX e, por isto, decidiram manter a ordem antiga, na qual os 
Profetas Posteriores vêm no fi m, pois apontavam para Cristo. Já os judeus 
decidiram acrescentar os 5 rolos das festas (Rute, Cantares, Eclesiastes, 
Lamentações e Ester) e os livros do tempo do cativeiro (Daniel, Esdras, 
Neemias e Crônicas) para o fi m do cânon. 
O vídeo a seguir não é propriamente um vídeo, mas um áudio, narrado 
por Maurício Filho. Trata-se de um resumo muito signifi cativo sobre a Lei 
(Torá, Pentateuco). Vale a pena observar como a exposição faz relações 
sobre as dualidades: material e espiritual, entre outros. 
Assista ao vídeo: O que é Torá / Pentateuco? 
Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=17FqFcYYdMw
Duração: 10m40s
Assista ao vídeo: O que é Torá / Pentateuco? 
Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=17FqFcYYdMwh� ps://www.youtube.com/watch?v=17FqFcYYdMw
Duração: 10m40s
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA16
Exercício de fi xação
Basicamente, o judaísmo e o cristianismo têm fonte primária na 
literatura do Antigo Testamento, cuja história de transmissão, 
preservação e desenvolvimento foram reconstruídos através de 
achados importantes, compromisso pessoal de grupos religiosos, 
cuidado quanto à tradução dos textos e respectiva produção escrita 
como referência de leitura. Especifi camente sobre a história do 
texto do AT, é correto afi rmar que: 
a. ( ) O AT abrange os rolos de papiros encontrados no Cairo (Egito), 
quando os hebreus estavam no Egito e, depois os escritos exílicos que 
foram encontrados em Nínive. 
b. ( ) O AT compreende historicamente os rolos de Qumran, a 
Septuaginta, os textos massoréticos e a BHS (Bíblia Hebraica). 
c. ( ) O AT é o primeiro testamento, escrito por Moisés, e refere-se 
aos livros de Gênesis, Levíticos, Números, Josué e Juízes, porque 
resumem a história do povo de Deus. 
d. ( ) O AT é a coletânea escrita durante a peregrinação no deserto, 
desde o Sinai até à entrada em Canaã, e os escritos foram preservados 
pelos levitas. 
e. ( ) O AT registra os feitos de Deus com o seu povo e, 
resumidamente, refere-se apenas ao Código de Lei, isto é, aos Dez 
Mandamentos. 
2. O Cânon do antigo testamento
Para iniciar este tópico, vale a pena gastar algumas linhas sobre a defi nição 
de cânon. Basicamente, o signifi cado é “régua”, isto é, a medida utilizada 
para determinar a exatidão dos critérios previamente escolhidos. Trata-
se de confi rmação do conteúdo do texto (mensagem, ensinamento e 
função) em relação aos demais textos já canônicos. É mais uma procura 
por erros teológicos (ou dogmáticos) do que de produção literária. Uma 
vez que o texto passasse pelos critérios de análise canônica (literalmente 
17Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
pelas medidas), ele era inserido aos demais já existentes e começava a 
ser chamado de Escritura. 
O que vale também afi rmar aqui é que os textos do AT infl uenciaram demais 
a teologia cristã, bem como de outras literaturas sacras no mundo. Como 
já dito, o AT era considerado a Bíblia dos primeiros cristãos e também a 
Bíblia de Jesus. Tanto Jesus como os primeiros cristãos costumavam ler 
o AT em uma tradução grega (a Septuaginta [LXX]). A imagem seguinte 
mostra uma página deste texto. Trata-se de um manuscrito da metade 
do século IV. 
Acima, você pode ver duas páginas do Codex Sinaiticus, ou seja, o texto 
do AT em grego. Observe que este texto é sem divisões entre as palavras 
e utiliza só as letras maiúsculas. Os primeiros cristãos e os judeus que, 
possivelmente, não falavam hebraico utilizavam este texto para conhecer 
o conteúdo do AT. Se você é capaz de ler em inglês, visite este o site a 
seguir. Você poderá visualizá-lo, sem precisar ir até a biblioteca. 
Disponível em: h� p://www.codexsinai� cus.org
Para o mundo cristão, o AT é inseparável do NT, pois juntos constituem-
se no que comumente chama-se de Bíblia Cristã. E, neste caso, o AT é 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA18
a primeira e a maior parte desta Bíblia. E, como o AT é especifi camente 
sobre o povo de Israel, os textos dele desempenham um papel muito 
relevante para as comunidades cristãs, pois há sempre a necessidade 
de interpretar o contexto hebraico, associado à respectiva mensagem 
de Deus para o seu povo, e, posteriormente, deve-se reler tal contexto 
à luz da mensagem do Novo Testamento. Em certo sentido, isto explica 
porque há sempre leiturasdo AT na liturgia que as comunidades cristãs 
fazem semanalmente. 
A Bíblia tem um papel decisivo para a fé cristã, pois ela testemunha 
acerca dos feitos de Deus no mundo. A pergunta com que muitas religiões 
se ocupam é: “Como conhecer a Deus?” Algumas fi losofi as e religiões 
acham que o seu deus pode ser reconhecido pelo pensamento humano, 
pela nossa interpretação do mundo, ou experiências paranormais. Outra 
máxima vale para a religião cristã: o Deus cristão quer ser reconhecido 
como aquele que já se revelou para os homens.
Jesus era judeu, conhecia as Escrituras Sagradas do Judaísmo e 
testemunhou de que não havia nenhum outro deus além do Deus dos 
patriarcas de Israel: o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A Bíblia não só 
testemunha da experiência de Jesus, mas da totalidade dos procedimentos 
de Deus “Pai”, como Jesus disse no primeiro pedido da Oração do Pai 
Nosso. Isto também nos amarra, como cristãos, ao AT. Sem dúvida, Deus 
está continuamente agindo na história e está presente também nos dias 
de hoje, mas na Bíblia o testemunho foi interpretado mais claramente. 
Consequentemente, na fé cristã pode-se refl etir sobre Deus somente na 
interação com a Bíblia. Sem a Bíblia não há nenhum conhecimento de 
Deus que seja confi ável. Portanto, o AT era a Bíblia de Jesus. 
A Bíblia nos traz experiências das primeiras testemunhas de nossa fé. 
Pois a Bíblia preserva o testemunho da fé desde gerações distantes, 
sendo assim, nossa obrigação em torno dos textos bíblicos é dupla: (1) 
precisamos de uma compreensão histórica – o que o texto signifi cava; 
(2) precisamos buscar o signifi cado atual dos textos bíblicos – o que o 
texto signifi ca. 
19Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
Na história cristã houve e ainda há a tentativa de desvalorizar o AT como 
um documento obsoleto ou eliminá-lo do cânon cristão. Já em meados 
do séc. II o teólogo cristão Marcião de Sinope elaborou a tese de que 
o Deus proclamado por Jesus e Paulo estava em contradição ao deus 
vingativo e feroz do AT. Em discussões calorosas, a Igreja Antiga insistiu 
na primeira parte do cânon e considerou Marcião como herege da igreja 
junto com seus numerosos seguidores. Mas as perguntas que Marcião 
propusera foram levantadas muitas vezes durante a história da igreja.
No século XIX o famoso historiador da igreja, Adolf von Harnack, exigiu 
que fi nalmente estava na hora da igreja cristã lançar o AT (como símbolo 
da grande paralisação eclesiástica) no monte de escória da história 
(HARNACK, 1924, p. 217).
A desvalorização do AT frequentemente andava e anda junto com a 
desvalorização do povo judaico. O antijudaísmo cristão contribuiu com 
o antissemitismo moderno. A igreja entendeu como um novo Israel 
herdando o status do antigo povo de Deus que consequentemente 
deserdou. O AT, por consequência, era a escritura sagrada de uma religião 
estranha e sem graça.
Por isso, não deve-se esquecer o seguinte: Jesus era judeu, Paulo 
também. O que é chamado no cristianismo de “Antigo Testamento” era a 
Bíblia que ambos possuíam. As escrituras judaicas determinavam seus 
pensamentos e conversas. Além disso, os textos do Novo Testamento 
não podem ser entendidos sem o AT. Eles frequentemente reiteram os 
conceitos, imagens, metáforas, fundamentos, histórias e teologia do AT. 
Só pense sobre esse nome “Jesus Cristo” ou “Messias”!
Neste sentido, pode-se chamar a Bíblia cristã de uma “edição ampliada” 
do AT. Signifi ca dizer que nessa “nova edição” há novas escrituras 
(biografi as, livros históricos, cartas...) que foram tomando o título 
de sagradas escrituras. Isso tem algumas implicações para a nossa 
concepção e para o nome do AT.
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA20
O AT não conta com nenhuma designação própria para sua coleção de 
livros. Como já visto, a escritura sagrada dos judeus foi a Bíblia de Jesus 
e de seus discípulos. Por isso, o NT refere-se ao AT como “a escritura” ou 
“as escrituras”. Em o NT percebe-se uma diferenciação entre esse corpus
das escrituras: 
A lei (de Moisés) e 
os profetas
Moisés e os 
profetas
Moisés, os 
profetas e as 
escrituras
a lei de Moisés, 
os profetas e os 
Salmos
Mt 5:17; 7:12; 11:13; 
22,40; 
Lc 16:16; Jo 1:45; At 
24:14; 28:23; 
Rm 3:21
Lc 16:29.31 Lc 24:27 Lc 24:44
No vídeo abaixo, há um trecho retirado do fi lme “Os Dez Mandamentos”, 
gravado em 1956 (mas a imagem está excelente). Entenda como a 
ênfase é feita sobre o entendimento do termo “Lei” como liberdade, viver 
e morrer sem lei, a lei de Deus, etc. 
Assiste ao vídeo: Os Dez Mandamentos
Disponível em: h� ps://www.youtube.com/watch?v=oIZyd237xgM
Duração: 4m20s
No prólogo à tradução grega do livro apócrifo Eclesiástico (“Sirácida”, 
132 a.C.) diz: “Muitas e grandes coisas são nos dados através da lei, dos 
profetas e das outras escrituras, que lhe seguem...”, dando a interpretar que 
“outras escrituras” poderiam signifi car os “testamentos”. A terminologia 
“testamento” sugere a ideia de “aliança”, como pode-se observar no NT:
• Lc 22,20; 1Co 11,25: “Este cálice é o novo testamento/aliança no meu 
sangue...”;
21Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
• 2Co 3,6: “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo 
testamento/aliança ...”;
• Hb 9,15; 12,24: Jesus como Mediador do novo testamento/aliança.
Pode-se, então, com isto deduzir que as ações de Deus anteriormente 
são da “velha aliança/antigo testamento”? Claro que não! Especialmente 
2Coríntios 3:6 (evidentemente) põe uma relação desigual entre a velha 
e nova aliança. Mas isso não é correto no que tange a relação entre AT 
e NT. E com o anúncio do Novo Testamento já no AT, em Jeremias 31, 
é preciso distinguir bem esses conceitos de aliança. Entretanto, em 
2Coríntios 3:14 encontram-se os dizeres paulinos: “Mas os seus sentidos 
se endureceram; porque até hoje, quando fazem a leitura da antiga 
aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, 
é removido”. Aqui, onde se lê “antiga aliança,” refere-se, obviamente, a 
um livro. O que leva a concluir, por um lado, em um comentário sobre 
o AT no NT que o AT é antiquado. Por outro lado, isso obviamente não 
é verdade para todo o AT. Contudo, aqui encontra-se essa tensão entre 
a continuidade e descontinuidade ao descrever a relação entre os dois 
testamentos (livros). 
Por causa disso, Erich Zenger sugere descrever o AT como “Primeiro 
Testamento” (ZENGER, 2003). Alguns teólogos também usam o termo 
“Bíblia Hebraica” ou “Tanach”, uma palavra artifi cial que vem das letras 
iniciais das palavras hebraicas, que descrevem o conteúdo tripartido do 
AT: Torá, Neviim e Ketuvim (Instrução-Lei, Profetas e Escrituras). Essas 
possibilidades evitam termos que sugerem uma depreciação do AT. 
Todavia, chamar essa primeira parte da Bíblia cristã “Antigo Testamento” 
é uma designação tradicional que está sempre lembrando os cristãos de 
que o Novo Testamento é uma continuação do AT. Contudo, deve-se estar 
alerta aos perigos de uma desvalorização dos livros incluídos e também 
da probabilidade de barreiras na conversação com os judeus.
Pelo menos hoje, precisa-se de uma forte valorização do AT. Especialmente 
na sociedade atual, na qual a fé cristã está cada vez menos conhecida, 
e deve-se enfatizar mais a leitura do AT. Sem o AT, toda a salvação de 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA22
Jesus fi ca “no ar”. Além disso, o AT esclarece as perguntas fundamentais 
do ser humano em relação a Deus. 
Um lembrete: O AT testemunha acerca do amor de Deus pelo pecador, 
bem como as variadas tentativas de resgate e redenção deste pecador. 
Um dos grandes obstáculos porque muitos rejeitam a Cristo é porque 
também rejeitaram a revelação do Antigo Testamento. 
Diferente do NT, o cânon do AT possui diferenças de tamanho para várias 
igrejas cristãs. As dúvidas giram, acima de tudo, em torno dos livros 
apócrifos (literalmente “livros escondidos”). A Igreja Antiga os incluiu em 
torno de 400 d.C. Eram livros que o judaísmo e os primeiros cristãos não 
incluíam nas escrituras sagradas.Foram os reformadores no séc. XV que 
decidiram que todos os livros sem fundamento hebraico não deviam ser 
utilizados nos cultos públicos, sendo que, dessa forma, eles também não 
pertenciam ao cânon. 
A Igreja Católica fi cou com os apócrifos (Judite, Tobias, Baruque, 
Eclesiástico, Sabedoria de Salomão, I e II Macabeus, além de adições 
aos livros de Ester e Daniel). Ela aceitou esses livros como “livros 
deuterocanônicos” (= livros de um segundo cânon). Entretanto, as 
11 Igrejas Ocidentais (Igreja Ortodoxa) decidiram, apenas em 1672, 
incluir os livros Judite, Tobias, Eclesiástico e Sabedoria de Salomão. A 
tradição judaica desde o início se limitou para as escrituras hebraicas (ou 
aramaicas; partes de Esdras e Daniel). Esta delimitação do conteúdo do 
cânon (judaico) pode ser datada no tempo de Jesus.
O cânon judaico refl ete os tempos de origem e canonização dos vários 
livros da coleção. Também percebe-se uma hierarquia entre os livros – 
nenhum dos livros tem a mesma autoridade que a Torá. Por isso a tradição 
rabínica colocou um alto valor na “Torá Oral” que traz a maior parte da 
Torá do Sinai. Essa tradição oral foi escrita na Mishná e outros livros. 
Esses textos nunca foram continuados pela igreja cristã. A hierarquia é 
também visível nas leituras na sinagoga. A Torá é lida inteiramente todos 
os anos. Vários textos dos profetas são lidos como comentários da Torá. 
Entre as Escrituras, os Salmos e os Megilloth (“cinco rolos”: Cântico; Rute; 
Lamentações; Eclesiastes; Ester) fazem parte da liturgia - mas com uma 
23Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
função menos importante que a Torá. Os últimos são lidos nas grandes 
festas do judaísmo:
Os 5 Megilloth
Schavuot Pessach Sucot Tishá BeAv Purim
Festa das 
semanas
Festa da 
páscoa
Festa dos 
Tabernáculos
Festa de 
comemoração 
da destruição 
do templo
Festa de Purim
Rute Cântico; Eclesiastes Lamentações Ester
Como a palavra grega “cânon” signifi ca “regra” ou “instrumento de medir”, 
é possível já pensar em produção teológica. Com o termo “cânon do AT” 
determina-se a coleção encerrada de escritos inspirados pelo Espírito 
Santo. Abrange aqueles escritos que têm autoridade normativa para a 
igreja, isto é, que servem como regra para a o desenvolvimento da fé e da 
vida dos cristãos. Pode-se resumir uma interpretação teológica do cânon 
a partir da contribuição de Erich Zenger (2003):
BLOCO SEÇÃO ASSUNTO INTERPRETAÇÃO
I Gn – Dt Revelação originária no 
Sinai
Torá como promessa e 
interpelação
II Js 2 Mc História de Israel na terra Passado
III Jó – Sr Sabedoria para a vida Presente
IV Is – Ml Profetismo Futuro
Os livros Gn-Dt preservam que a Torá revelada no Sinai, contendo os 
dois focos “mandamento do amor a Deus” - “mandamento do amor ao 
próximo” (cf. Mc 12:28-34 par.), constitui a revelação originária de Deus, 
fundamentada na Criação e quem vem a todos os povos por meio de 
Israel. O fato de os Dez Mandamentos terem sido outorgados como 
proclamação de direito divino e de direito humano conforme a “história” 
no deserto do Sinai e anterior à tomada da terra, descrita em Gn-Dt, é 
interpretado pela própria tradição judaica como mandamentos que não 
devem ser lei de vida apenas para Israel, mas para todos os povos. Isso vale 
justamente para os cristãos, que devem “cumprir” a Torá no discipulado de 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA24
Jesus (cf. Mt 22:34-39 com base em Mt 5:17-20). Os blocos subsequentes 
II-IV visam conduzir para essa vida com a Torá do Sinai.
O bloco II (Js-2Mc) demonstra a partir do exemplo de Israel o que acontece 
numa comunidade que vive com essa Torá, mostra sua concretização e 
como isso ocorre, mas também que pode fracassar. Os leitores cristãos 
da Bíblia devem sentir e experimentá-lo com esse povo, envolvendo-se 
intimamente – como história de suas irmãs e seus irmãos judeus (não 
como história deles próprios) e como história do seu Deus comum.
O bloco III (Jó-Sr) convida cada pessoa a buscar, com ajuda desses escritos 
sapienciais, a verdadeira sabedoria salvadora da vida. A maneira de fazê-lo 
é ouvir a Torá, orando-a e meditando nela, pois ela se comunica, a todos os 
que se abrem a ela, por meio da Criação e das instruções a Israel.
O bloco IV (Is-Ml) projeta a visão de que o mundo e a história chegam à 
plenitude quando os povos peregrinam até Sião, para lá aprender a grande 
Torá da paz de Javé (Is 2,1-5: texto programático canônico no início do 
bloco IV) e para participar desse modo da renovação ou restauração 
fundamental de tudo, prometida pelos livros dos profetas a toda a terra – 
e que acontecerá, naturalmente não deixando Israel de fora, mas por meio 
desse povo e com ele. A partir de profetismo, que por diversas correntes 
foi lido no tempo de Jesus como promessa escatológica, isto é, como 
projeto de um drama consistente do fi m dos tempos, até mesmo a Torá 
(bloco I) adquire um dinamismo profético-escatológico na perspectiva 
da expectativa imediata do fi m. Por outro lado, o agir de Javé em e por 
meio de Jesus (singularmente no evento da Páscoa), testemunhado no 
Novo Testamento, pode ser entendido como ato decisivo no contexto 
desse drama escatológico anunciado pelos profetas. Dessa maneira, na 
Bíblia cristã, o profetismo abre-se em direção do Novo Testamento que o 
segue” (ZENGER, 2003, p. 40s).
Neste sentido podemos também ler o NT: 
FUNDAMENTAÇÃO TORÁ EVANGELHOS
Passado Livros históricos Atos dos Apóstolos
Presente Livros sapienciais Epístolas Apostólicas
Futuro Livros proféticos Apocalipse de João
25Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
Exercício de aplicação
Observe as três fi guras abaixo e as respectivas descrições de cada uma. 
Duas pessoas estão 
conversando sobre 
assuntos variados. 
Quando cada uma 
delas chega em sua 
casa, repassam o 
conteúdo da conversa 
para os demais 
membros da família. 
Algumas chegam, 
inclusive, a gravar 
o áudio para os 
membros da família 
que, ocasionalmente, 
estão distantes.
Um vendedor 
viajante sai às ruas 
anunciando os 
produtos de sua 
própria produção 
agrícola. São 
verduras e legumes 
frescos, colhidos 
diariamente de sua 
horta. Geralmente, ele 
estaciona o seu carro 
com os produtos e 
faz o anúncio, que 
consegue ecoar 
até aos moradores 
distantes de sua 
barraca.
Um designer gráfi co 
é responsável por 
produzir um cartaz, 
cujos enunciados 
foram esteticamente 
elaborados para a 
produção do sentido 
e signifi cado. Mas 
nem todos os 
leitores entendem 
a mensagem, pois 
estão acostumados 
com letras redondas 
e formatos 
convencionais.
ISTO PORQUE: 
Os homens de Deus:
• contaram e transmitiram as palavras de Deus oralmente;
• escreveram textos em tabuletas de argila e em folhas de papiro;
• copiaram as tabuletas e as folhas e juntaram-nas em rolos e em 
códices (compilações de folhas de papiro ou pergaminho). 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA26
PORTANTO, é correto afi rmar:
a. ( ) A forma de transmissão do Antigo Testamento foi a 
epifânica, ou seja, “a voz de Deus sendo falada audivelmente”. 
b. ( ) A inspiração das escrituras pelo Espírito Santo é o único 
critério de fi delidade porque os escritores resumiram a Palavra de 
Deus em linguagem escrita. 
c. ( ) A palavra ditada é o livro de Deuteronômio, pois signifi ca 
repetição da Lei. 
d. ( ) O uso do conteúdo dos textos veterotestamentários, 
através da recitação e da leitura, se tornaram meios de registro, 
preservação e transmissão para os copistas e escribas. 
e. ( ) Os povos semitas, em especial o povo de Deus, gostam de 
repetir e decorar textos, sejam eles sagrados ou não. 
Acesse o AVA para fazer o exercício!
Saiba mais: O Pentateuco – Resumo!!!
Para ler e visualizar rapidamente o conteúdo de cada um dos livros 
do Pentateuco, clique no endereço abaixo. 
GÊNESIS
h� ps://www.gotques� ons.org/Portugues/Livro-de-Genesis.html
ÊXODO
https:��www.gotquestions.org�Portugues�Livro-de-Exodo.html
LEVÍTICOS
h� ps://www.gotques� ons.org/Portugues/Livro-de-Levi� co.html
NÚMEROS
h� ps://www.gotques� ons.org/Portugues/Livro-de-Numeros.htmlDEUTERONÔMIO
h� ps://www.gotques� ons.org/Portugues/Livro-de-Deuteronomio.html
27Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
3. A Torá: a história das origens 
A interação entre o AT com seu contexto ocorre quando comparamos 
o conteúdo de Gênesis 1-11 com as histórias contadas por outros 
povos daquela época e região. Em 1872, George Smith descobriu no 
Museu Britânico o primeiro texto paralelo bem próximo ao Gênesis 1-11. 
Traduzindo uma tábua cuneiforme da biblioteca assíria de Assurbanipal 
(séc. VII a.C.) em Nínive, ele percebeu que tinha encontrado um relato 
de um dilúvio global que em muitos aspectos se assemelhava à história 
contada em Gênesis. Mais tarde foi descoberto que o texto de Smith 
fazia parte da Epopeia de Gilgamesh. 
Essa obra conta a respeito de um grande rei que saiu do seu papel real para 
viajar pelo mundo em busca da imortalidade. A Epopeia de Gilgamesh foi 
composta provavelmente por volta de 1700 a.C. e, bem depois, revisada 
em 1200 a.C. para reproduzir a mais conhecida versão dessa epopeia. 
Os estudiosos acharam que a história do dilúvio provavelmente foi 
emprestada pelo autor da epopeia de Gilgamesh de uma outra fonte, a 
qual utilizou para realçar seu próprio texto.
Uma possível fonte para a história do dilúvio é um épico Atrahasis, um 
poema épico da antiga Babilônia (1600 a.C.), que abrange a história do 
mundo desde a criação do homem até a nova ordem depois do dilúvio. 
Tudo começa quando os deuses menores viviam na terra escavando os 
rios e canais, e cultivavam os alimentos para os grandes deuses. Mas, 
depois de 3600 anos os deuses menores se cansaram do seu trabalho e 
entraram em greve.
Eles cercaram o grande deus Enlil em seu palácio, que fi nalmente cedeu. 
Um outro deus maior, Ea, e a deusa-mãe Nintu, então, criaram sete 
casais, sete homens e sete mulheres, para fazer o trabalho no lugar dos 
deuses menores. Mas a criação da humanidade gerou problemas para os 
grandes deuses. 
Depois de 600 anos a população tinha crescido tanto que o barulho 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA28
humano perturbou o descanso dos grandes deuses! Enlil, por conseguinte, 
determinou que uma praga devesse apagá-los. Mas um sacrifício 
oportuno ao deus da praga por Atrahasis (signifi ca “extrasábio”) parou 
a praga. Então, a população cresceu de novo, e Enlil tentou controlar o 
crescimento da humanidade mais duas vezes – pela seca e pela fome. E 
novamente sacrifícios aos deuses certos resolveram a situação.
Eventualmente, Enlil persuadiu todos os seus colegas divinos a apoiar o 
seu plano para destruir a humanidade, enviando um dilúvio universal. No 
entanto, o deus Ea não concordou com esta proposta e, secretamente, 
abriu o jogo e recomendou que Atrahasis construísse um navio para a 
sua família, amigos e animais para escapar. A inundação foi realmente 
catastrófi ca, acabando com todas as criaturas e assustando até os 
deuses por sua ferocidade. Mas Atrahasis e sua equipe sobreviveram. 
O barco fi nalmente desembarcou em uma montanha e os de dentro 
desembarcaram. Piedoso, Atrahasis ofereceu um sacrifício tão logo que 
desembarcou. Imediatamente os deuses rodearam o sacrifício ansiosos 
por experimentarem a oferenda. Eles estavam com muita fome! Destruir 
a humanidade em uma enchente signifi cou que os sacrifícios pararam, 
logo os deuses também não tinham nada para comer. 
Chegando ao sacrifício um pouco tarde, Enlil, o deus mais poderoso, 
fi cou chocado e com raiva ao encontrar alguns seres humanos. Ele se 
acalmou quando os outros deuses explicavam que a culpa foi de Ea. 
Enlil concedeu vida eterna a Atrahasis, o único homem a alcançar este 
objetivo. No entanto, para impedir que a explosão demográfi ca fi casse 
novamente fora de controle, Enlil e Nintu redesenharam a humanidade 
um pouco. A partir de agora, algumas mulheres sofreriam de infertilidade, 
os bebês muitas vezes seriam natimortos ou morreriam muito jovens, 
e ainda outras mulheres entrariam em ordens religiosas e nunca mais 
teriam fi lhos. Finalmente, parece que a partir de então, a morte passou a 
vir a todos em idade avançada: Até agora as pessoas morriam apenas de 
doenças ou se fossem mortas por alguém.
29Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
Existe mais um texto do mesmo período da epopeia de Atrahasis, é a 
história suméria da inundação. Este texto também relata sobre a criação 
do homem e culmina com a história do grande dilúvio. Infelizmente, muitas 
partes da história suméria estão perdidas, mas a versão reconstruída 
mostra paralelos com Gênesis 1-9 bastantes surpreendentes.
Paralelos entre a história da inundação suméria e a de Gênesis 1-9:
HISTÓRIA DA 
INUNDAÇÃO 
SUMÉRIA
CONTEÚDO GÊNESIS
Linhas 1-36
Criação do homem e dos animais; triste 
condição do homem, não há canais de 
irrigação, sem roupas, sem medo de 
animais, incluindo cobras. 
Gn 1 
Gn 2-3
Linhas 37-50 Deusa Nintur planeja acabar com o nomadismo humano. Gn. 4,1-16
Linhas 51-85 Falta de plano de Nintur.
Linhas 86-100
Estabelecimento da realeza (reis, corte, 
palácios...);
A construção das primeiras cidades, 
incluindo Eridu;
Estabelecimento de culto
Gn 4,17-18
Gn 4,26
Lista de reis antediluvianos Gn 5
Linhas 101-134 Ruído humano Gn 6,1-8
Linhas 135-260 O dilúvio Gn 6,9-9,29
Há semelhanças sufi cientes para conjecturar que ambos, Gênesis e a 
história da inundação suméria, são dependentes de um entendimento 
comum do que ocorreu no início da história humana. É interessante 
observar que as interpretações desses acontecimentos são muito 
diferentes, embora o gênero dos vários textos seja muito semelhante. 
Esses textos do Antigo Oriente Próximo abrem uma porta para entender 
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA30
o mundo em que o AT se formou. É importante conhecer este mundo 
para fazer uma contextualização desses textos antigos para aqueles que 
estudam o AT.
A modernidade também tem os seus mitos da origem do homem – a 
evolução biológica, a evolução sociológica, econômica, etc. Estes “textos” 
falam bastante sobre valores e visões da humanidade em geral e bem 
específi co quando pensa-se sobre assuntos da ética ou da moralidade. 
É necessário haver um alinhamento entre a interpretação da sociedade e 
a do texto bíblico. Como Gênesis 1-11 foi um texto muito contra cultural
em seu contexto, precisa-se ter uma visão da humanidade contrária a que 
está propagada hoje em nossa cultura pós-cristã. Deve-se entender esta 
porção de textos (1-11) como um registro sobre a história das origens, 
descrita pela cultura israelita, ou cultura do povo de Deus. 
4. A Torá: Formas literárias
Neste tópico, os estudos de Zenger et. al. (2003) são mais uma vez 
utilizados. Observe a tabela a seguir: 
ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
Os nomes dos cinco livros nas diversas línguas (hebraico, grego e latim) 
são propositais, isto é, foram planejados a facilitar o reconhecimento do 
conteúdo de cada um deles. 
Como primeira parte do AT, esses livros (também chamados de 
“pentateuco” – que signifi ca “cinco livros”) são fundamentais para 
entender o restante do AT e até mesmo a Bíblia inteira. Todos os outros 
31Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
livros bíblicos têm o Pentateuco como base e desdobram os temas lá 
mencionados. Como tal, grande parte da Bíblia pressupõe a Torá e 
toma como certo que a conhecemos. Sem saber bem a literatura da 
Torá, perdemos muitas das alusões sutis para os seus temas, o que nos 
ajudará a entender muitas passagens do AT, bem como do NT.
Uma vista geral da Torá
Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio
Criação e 
promessa 
da terra
Do Egito pelo 
deserto ao 
Sinai
NO SINAI
Do Sinai 
pelo deserto 
a Moab 
(à divisa 
da terra 
prometida)
Instruções para 
a vida na terra 
da promessa 
----------------------------------------Israel a caminho-----------------------------------------------
ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
Em um nível narrativo, pode-seinterpretar a Torá como biografi a 
dramática do povo Israel. É um caminho que começa com o chamado de 
Abraão dentre as nações e termina com um fi nal aberto na fronteira da 
terra prometida. É um caminho cheio de sofrimento e confl ito.
Os cinco livros estão agrupados, em forma de quiasmo espelhado 
(paralelos), em torno do livro do Levítico como centro teológico. 
O Gênesis e o Deuteronômio formam a moldura externa:
ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA32
Êxodo e Números perfazem a moldura interna. Eles se estruturam 
paralelamente por meio de numerosas histórias iguais. O Sinai constitui 
quase que um tipo de divisor de águas (antes do Sinai era “legítimo” 
clamar por pão e água, depois do Sinai isso ao pecado):
ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
No centro da composição situa-se a constituição de Israel como povo 
santo, em cujo meio o santo Javé quer tornar-se presente e agir. É por 
isso que se encontra no meio do livro do Levítico – por sua vez também 
construído concentricamente – a mensagem de Javé como o Deus 
disposto à reconciliação. 
ZENGER, ERICH et. al. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Loyola, 2003
A Torá fornece a narrativa fundamental que forma a cosmovisão bíblica. 
Ou seja, todas as culturas e sociedades têm suas narrativas fundamentais 
que explicam o que o mundo é, como funciona, o que deu errado com o 
mundo, onde a humanidade pode achar a esperança para colocá-la de 
33Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
novo no caminho certo. Para dar um exemplo de uma cultura estrangeira 
para todos nós: o “sonho americano” (American Dream). Este “sonho” 
afi rma que “você só precisa tomar seu destino em suas próprias mãos 
e você terá sucesso. Ajude a si mesmo e Deus vai te ajudar.” Esta é uma 
espécie moderna (no sentido fi losófi co da palavra) da visão da vida – 
cheia de positivismo (e calvinismo!). Ainda muitos norte-americanos 
são levados por ela a uma atitude imperialista referente outros povos e 
culturas que contam outras histórias sobre o mundo.
Cada seção da Bíblia desenvolve mais profundamente o tema do 
Pentateuco. Ao interpretar Gênesis 12:1-3 (“chamado de Abraão”) como 
sendo a exposição original do chamado do povo de Deus, certamente 
ele será reafi rmado com variações em outras partes de Gênesis e 
desenvolvido nos demais livros do Pentateuco. O AT inteiro gira em torno 
da relação entre os descendentes de Abraão e a terra, o seu crescimento 
como uma nação, e sua relação singular com Deus. Os progressos 
realizados no cumprimento das promessas feitas a Abraão não andam 
em uma só direção. Recuos são frequentes, tanto no Pentateuco como 
posteriormente. O livro de Números narra o adiamento de 40 anos da 
chegada à terra santa como um resultado da falta da fé dos espiões. 
O livro dos Reis narra a queda de Jerusalém e o exílio do povo para a 
Babilônia por causa de sua infi delidade a Deus. No entanto, ambos os 
episódios foram seguidos por perdão e um novo começo que acabou 
levando a um maior cumprimento das promessas. 
Mas nem dentro do período bíblico nem nos dois milênios seguintes, 
o cumprimento integral tem sido alcançado. Se os judeus modernos 
interpretam o seu regresso à terra de Israel como cumprimento da 
promessa a Abraão e como resposta às suas orações, eles não desfrutam 
da paz e da segurança prevista pelo Pentateuco. Os cristãos afi rmam que 
a vinda de Jesus trouxe mais próximo o dia em que em Abraão “todas as 
famílias serão abençoadas”. Mas eles também oram para que o Reino de 
Deus seja vindo e sua vontade seja feita na terra como no céu. Desta forma, 
o Pentateuco ainda fala tanto para o presente como falou ao passado.
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA34
Quando se lê a Bíblia, é recomendável estar conscientes de que ela é 
“literatura”. A Bíblia não é um livro mágico, descolado e isolado, mas – 
como já visto – é parte de um contexto histórico, cultural e literário. Este 
é um dos desafi os para os leitores da Bíblia e, especialmente, para os 
que estão ensinando os outros a ler a Bíblia – uma vez que o tempo, 
a cultura e a literatura são muito diferentes da maneira antiga de fazer 
textos, de escrever. Logo, fi ca-se propenso a erros de interpretação, se 
não atentar para o fato de utilizar os conceitos formados pela literatura 
contemporânea ao ler a Bíblia. É uma tarefa difícil deixar as próprias 
convenções literárias para trás e ler a Bíblia sobre o pano-de-fundo de 
suas próprias convenções literárias. Muitos especialistas estão tentando 
isto e, nos últimos 30 anos, fi caram muito mais perto de fazer justiça à 
própria Bíblia como literatura antiga: ela é a Palavra de Deus, e só por isso 
vale a pena todo esse esforço!
Aqui, a tentativa não é resolver questões da área de pesquisa bíblica, mas 
oferecer um bom começo para ler a Bíblia enquanto literatura. O truque é 
estar alerta para o gênero de um determinado texto bíblico. Um gênero 
é uma forma literária e refere-se ao tipo de texto utilizado para transmitir 
um determinado conteúdo. 
Qualquer pessoa crescendo no segundo milênio a.C. e lesse Gênesis 
1-11, imediatamente compararia esse texto em sua mente com textos 
semelhantes sobre a origem do mundo e da criação da humanidade. 
Qualquer leitor de Êxodo 20-24 irá instantaneamente reconhecer a 
semelhança na forma (e conteúdo) desta passagem com outras coleções 
de lei do Antigo Oriente Próximo. 
Sabendo disso, é preciso pensar sobre o lugar vivencial do texto que estamos 
lendo. No Antigo Oriente Próximo, histórias sobre a origem do mundo e da 
humanidade não foram em nenhuma forma concebidas para serem lidas 
como tratados científi cos sobre aspectos físicos, geológicos ou biológicos 
deste evento. Temos outros tratados como esses escritos na mesma época 
– sobre a matemática, a engenharia civil, a magia e a economia –, mas 
35Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
estes também não têm uma forma semelhante as das revistas científi cas 
de hoje. Portanto, histórias sobre a origem da humanidade são literárias, 
textos poéticos que tentam moldar a visão dos leitores, para estabelecer 
uma ordem e para interpretar as difi culdades da vida.
Outro exemplo são as coleções de lei na Bíblia. Seria fatal lê-los como um 
advogado lê, por exemplo, um decreto legislativo. Arqueólogos encontraram 
muitas coleções de lei do Antigo Oriente Próximo e as semelhanças na 
forma e no conteúdo com as leis bíblicas são impressionantes, da mesma 
forma que tais arqueólogos foram capazes de situar quando essas 
leis foram publicadas pelos seus respectivos reis. Normalmente, isso 
acontecia no fi nal do seu reinado, quando o velho rei tentava estabelecer 
um monumento (literário) da sua sabedoria e capacidade jurídica. 
Sugerindo essa função para essas coleções faz sentido, já que quase não 
foram encontrados qualquer processo judicial (… e foram encontrados 
muitos destes documentos) que citem essas grandes coleções de lei de 
alguma maneira. A lei realmente praticada nos tribunais das cidades era 
bem diferente das encontradas nas coleções de lei. 
Sobre as coleções de leis na Bíblia, a sugestão é para que as leituras 
fossem feitas como tentativas de defi nir Deus como rei no contexto do 
antigo oriente. As pessoas daquela época pensaram sobre o rei como o 
pastor do povo, um líder com a responsabilidade de cuidar de seu povo, 
para estabelecer a paz interna e externa e as condições adequadas 
para o povo prosperar. Neste pano de fundo, as leis bíblicas nos dizem 
muito sobre o caráter de Deus, seus valores e suas atitudes sobre a 
sociedade e a humanidade em geral. E tudo de uma forma muito prática 
e contextualizada, relevante para a vida cotidiana de Israel.
Assim, pode-se esboçar a estrutura macro da Torá (também chamada de 
gênero maior) como resultado da tensão entre a história (Deus agindo 
para o seu povo) e a lei (mostrando a forma como Israel pode realmenteviver como é chamado, como povo de Deus). Veja a tabela:
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA36
A “Torá”, nesse sentido, é mais bem entendida como instrução por 
qual o autor pretende ensinar seus leitores a viver realmente o que 
eles já são – parte do povo escolhido de Deus. Lendo os evangelhos 
do Novo Testamento, chega-se ao propósito muito semelhante, isto é, 
comunicativamente os evangelhos são projetados para serem “cursos de 
discipulado” – para ensinar os seguidores de Jesus como ser parte desta 
nova família de Jesus, a igreja.
Assista ao vídeo: A composição do Pentateuco
- Profº. Enio Caldeira
Exercício de fi xação
A Torá, em sua defi nição mais simples, compreende o conjunto dos 
cinco primeiros livros (rolos) do Antigo Testamento, denominado 
Pentateuco. Tais rolos foram temática e estruturalmente 
harmônicos entre si porque constituíram-se em um guia literário 
para o povo de Deus. Sendo assim, observe a seguinte estrutura: 
I II III IV V VI
Gênesis 
1-11
Gênesis 
12-50
Êxodo Levítico Números Deuteronômio
37Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
E, em relação aos conteúdos e ênfases de ensino histórico e 
teológico, leia os extratos na tabela a seguinte:
A Expansão da Lei a aliança com o propósito de santidade entre o povo de Javé, já que ele viveria em seu meio
B
Renovação da aliança e segunda entrega da Lei como 
preparativo da a entrada na terra da promessa pela segunda 
geração do povo de Javé.
C Criação, queda e julgamento.
D Provação e purifi cação do povo da aliança de Javé na peregrinação pelo deserto do Sinai. 
E Aliança, eleição de Abraão e conservação providencial de sua família
F
Livramento milagroso do povo de Javé da escravidão do 
Egito, relacionamento da aliança da Lei como constituição 
teocrática para Israel. 
Uma vez defi nida a relação da primeira tabela com a segunda, 
assinale a alternativa que corresponde corretamente a esta relação.
a. ( ) I-C, II-B, III-D, IV-A, V-E, VI-F
b. ( ) I-A, II-D, III-F, IV-B, V-C, VI-E
c. ( ) I-C, II-E, III-F, IV-A, V-D, VI-B
d. ( ) I-D, II-A, III-E, IV-F, V-B, VI-C
e. ( ) I-F, II-C, III-A, IV-B, V-D, VI-E
Acesse o AVA para fazer o exercício!
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA38
5: A Torá: interpretando textos normativos 
Na linguagem da igreja ou mesmo da academia teológica, costuma-se 
falar das leis do Pentateuco, ou dos seus textos legais, ou até mesmo 
se usa o título Código para descrever certos trechos do Pentateuco: 
Código da Aliança (Êx19-24), Código da Santidade (Lv 17-26), Código 
Deuteronômico (Dt 12-26). Esse costume, porém, difi culta a nossa 
compreensão desses textos. Por quê? 
Quando estes textos são chamados de leis ou de códigos, pensa-se neles 
como sendo equivalentes às leis e códigos de leis de nosso tempo. Para 
nós, as leis estabelecem os deveres e direitos dos cidadãos e regem a 
vida social. Se alguém quebra a lei deve ser punido por isso, e o Poder 
Judiciário é o responsável por aplicar a punição. Enquanto leis, pensa-
se nesses textos como se fossem produto ou de uma determinação 
direta de Deus que deve ser aplicada em todo e qualquer lugar em todo 
e qualquer tempo – ou, ao contrário, pode-se pensar neles como sendo 
fruto da vontade humana, de modo que poderíamos selecionar as leis 
válidas e as leis revogadas.
O maior problema, contudo, reside na confusão teológica que surge 
da confl itividade entre Lei e Graça na teologia cristã. “Lei” passa a 
ser entendida como as leis do Antigo Testamento, superadas pela 
Graça de Deus, de modo que já não têm mais nenhuma validade para 
os cristãos. Esses hábitos de compreensão dos textos normativos do 
Pentateuco são prejudiciais à sua interpretação dos mesmos. É preciso, 
então, desenvolver novos conceitos e hábitos hermenêuticos, a fi m de 
compreender esses textos.
5.1. Interpretando textos normativos da Torá
Os antigos judeus chamavam os seus textos normativos de torá. Esta 
palavra hebraica signifi ca, em primeiro lugar, instrução, ensinamento. 
Quando a torá vem de Deus, ela é um ensinamento com autoridade, 
cumpre uma função normativa. Uma norma não é a mesma coisa 
39Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
que uma lei, embora ambas sejam muito parecidas. Todas as leis são 
normas, mas nem todas as normas são leis. Lei é um tipo de norma que, 
estabelecida pelo Estado, deve ser obedecida por todos os cidadãos 
desse Estado, sob pena de punição. Lei é, em sentido mais amplo, o 
conjunto de leis que defi nem a identidade político-jurídica de um país, e 
que encontra na Constituição a sua expressão máxima. As normas são 
guias para a conduta e os relacionamentos humanos, e a maioria delas 
não está escrita, nem faz parte de um conjunto de leis de uma nação 
ou Estado. Normas, nesse sentido mais genérico, são um componente 
da cultura de um povo, enquanto leis são um componente da estrutura 
política de um país.
A torá (no plural hebraico: torôth) no Pentateuco é da natureza das 
normas e não das leis! Ou seja, as torôth que encontramos no Pentateuco 
não foram estabelecidas pelo Estado para servir de base para o 
julgamento das pessoas e instituições sociais. Quando ocorriam crimes, 
por exemplo, não havia um sistema de tribunais, semelhante ao nosso, 
nos quais os criminosos eram julgados. Os crimes eram julgados por 
“leigos”, por pessoas importantes de uma vila ou cidade, que se reuniam 
apenas quando necessário e tomavam suas decisões com base nos 
hábitos culturais – ou, nas normas daquela vila ou cidade. Casos que 
não conseguiam ser resolvidos no ambiente local eram enviados para o 
Templo ou para o Palácio, a fi m de que os sacerdotes ou o rei tomassem 
a decisão de acordo com a instrução (torá) de Deus. O relato de I Rs 3:16-
28 (quando Salomão ameaça dividir uma criança ao meio) é um exemplo 
da sabedoria superior do rei para lidar com situações difíceis – note que 
o rei não usa nenhum “código legal” para basear a sua decisão.
As coleções de normas no Pentateuco, embora muito parecidas com 
códigos legais cumpriam, de fato, outras funções:
(a) serviam como coleções de ensinamento para os líderes políticos e 
religiosos do povo de Israel;
(b) serviam como textos didáticos para escribas e outros funcionários do 
Templo e do Palácio;
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA40
(c) serviam para demonstrar a grandeza do Deus de Israel que não era 
como os outros deuses dos povos antigos;
(d) sua função mais importante, porém, era a de – juntamente com os 
textos narrativos do Pentateuco – defi nir a identidade do povo de Israel a 
partir da sua compreensão da ação e da vontade de Deus expressas na 
aliança entre Ele e Seu povo.
Precisa-se, então, compreender os textos normativos como instrução, 
ensino ou teologia, e não mais como leis. São normas culturais e 
teológicas que visam instruir o povo de Deus à prática da fi delidade 
à aliança entre YHWH e Seu povo. Como os textos normativos fazem 
parte da narrativa do Pentateuco sobre a identidade de Israel, eles não 
são lei no sentido do debate teológico-eclesiástico, mas expressão da 
graça de Deus. Em outras palavras, Israel não se tornaria povo de Deus 
se cumprisse as leis; Israel se tornou povo de Deus pela graça libertadora 
de Deus no êxodo e na promessa da Terra. As normas divinas vieram 
depois da libertação divina. Repare bem no seguinte texto bíblico: “Deus 
pronunciou todas estas palavras, dizendo: Eu sou YHWH teu Deus que te 
fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses 
diante de mim. (...)” (Êx 20:1-3).
Antes da lista de normas (v. 3-17) para a vida do povo de Deus, vem a 
declaração da graça – “que te fez sair”. Note, ainda, como, no verso 1, o 
texto defi ne o que nós, erradamente, chamamos de “Dez Mandamentos” 
– “todas estas palavras” – deveríamos, então, chamar este famoso texto 
de Decálogo (Dez Palavras) e não de dez mandamentos, posto que, 
embora tenham força normativa, não são leis, mas a instrução de Deus 
para nós que cremos nEle.
Note bem, agora, outro texto: “Eis que vos ensinei estatutose normas, 
conforme YHWH meu Deus me ordenara, para que os ponhais em prática 
na terra em que estais entrando, a fi m de tomardes posse dela. Portanto, 
cuidai de pô-los em prática, pois isto vos tornará sábios e inteligentes 
aos olhos dos povos. Ao ouvir todos esses estatutos, eles dirão: ‘Só 
Em outras palavras, Israel não se tornaria povo de Deus se cumprisse as leis; Israel se tornou povo de Deus pela graça libertadora de Deus no êxodo e na promessa da Terra.
41Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
existe um povo sábio e inteligente: é esta grande nação!’. De fato! Qual a 
grande nação cujos deuses lhe estejam tão próximos como YHWH nosso 
Deus, todas as vezes que o invocamos? E qual a grande nação que tenha 
estatutos e normas tão justas como toda esta Torá que eu vos proponho 
hoje?” (Dt 4:5-8).
Repare no primeiro verbo do texto: ensinei! Os estatutos e normas da Torá 
são o ensinamento de Moisés ao povo de Israel. A fi nalidade do ensino 
é que o povo de Deus, após entrar na terra prometida – (a) mantenha a 
posse dela, (b) seja reconhecido como um povo sábio e inteligente, (c) 
cujo Deus é um Deus próximo, amigo do povo, o Deus da aliança. Mais 
uma vez temos a sequência: graça libertadora de Deus – promessa – 
ensino – prática do que foi ensinado.
Para resumir e encerrar esta seção: os textos normativos do Pentateuco 
devem ser estudados e compreendidos como ensino de Deus para nós, 
não podem ser separados de seu contexto narrativo, não devem ser lidos 
como Lei em contraste com a Graça. As normas vétero-testamentárias são 
normas da graça, são expressão da fi delidade de Deus em relação ao seu 
povo e da fi delidade que Deus deseja que seu povo tenha para com Ele.
Exercício de aplicação
Observe um trecho sobre o Pentateuco: 
As coleções de normas no Pentateuco, embora muito parecidas 
com códigos legais cumpriam, de fato, outras funções, a saber:
(a) serviam como coleções de ensinamento para os líderes políticos 
e religiosos do povo de Israel;
(b) serviam como textos didáticos para escribas e outros 
funcionários do Templo e do Palácio;
(c) serviam para demonstrar a grandeza do Deus de Israel que não 
era como os outros deuses dos povos antigos;
De fato! Qual a grande nação cujos deuses lhe estejam tão próximos como YHWH nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E qual a grande nação que tenha estatutos e normas tão justas como toda esta Torá que eu vos proponho hoje?” (Dt 4:5-8).
Para resumir e encerrar esta seção: os textos normativos do Pentateuco devem ser estudados e compreendidos como ensino de Deus para nós, não podem ser separados de seu contexto narrativo, não devem ser lidos como Lei em contraste com a Graça. As normas vétero-testamentárias são normas da graça, são expressão da fi delidade de Deus em relação ao seu povo e da fi delidade que Deus deseja que seu povo tenha para com Ele.
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA42
(d) sua função mais importante, porém, era a de – juntamente com 
os textos narrativos do Pentateuco – defi nir a identidade do povo 
de Israel a partir da sua compreensão da ação e da vontade de 
Deus expressas na aliança entre Ele e Seu povo.
Considerando os termos grifados é correto afi rmar que: 
a. ( ) O Pentateuco contém narrativas que ajudam o leitor quanto 
à interpretação dos processos civis, litúrgicos, confessionais e 
educacionais do povo de Deus.
b. ( ) O Pentateuco é uma elaboração com ênfase literária dos fi lhos de 
Jacó. 
c. ( ) O Pentateuco é o desvendamento das quatro linhas teológicas: o 
Reino do Sul, o Reino do Norte, o Deuteronômio e os Sacerdotes. 
d. ( ) O Pentateuco é o agrupamento da linha de pensamento da tribo 
dos levitas. 
e. ( ) O Pentateuco é o registro da chamada e comissionamento da 
nação de Israel, desde o Egito até Canaã. 
5.2. Um exemplo de interpretação (Dt 14,22-29)
Na prática, então, como deve-se compreender um texto normativo, a partir 
dessa nova hermenêutica. Observe uma das normas mais interessantes 
do Deuteronômio, a que trata do dízimo (Dt 14,22-29). Por uma questão 
de economia de espaço, a discussão dos versos 24-26a fi carão de fora, o 
que permitirá prestar mais atenção aos demais versículos.
A norma tem duas partes: a primeira se refere ao dízimo anual (22-27), 
a segunda ao dízimo trienal (28-29). O dízimo requerido pela norma 
ao israelita é dos frutos da colheita, incluindo o vinho e o azeite, que 
seria ofertado juntamente com os primogênitos do gado (bovino) e do 
rebanho (ovino e caprino). O dízimo anual deveria ser levado ao lugar 
escolhido por Deus para ser adorado e, nesse lugar, deveria ser comido 
elaboração
c. ( )
43Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA | 
pelo ofertante, sua família e empregados ou escravos e pelos levitas da 
cidade do ofertante. Em relação ao levita, ele deveria ser incluído na festa 
das famílias porque ele não poderia dar o dízimo ao Senhor, pois não 
possuía terra (herança é o termo teológico do Antigo Testamento para a 
propriedade de uma família – presente de Deus que não poderia ser dado 
nem vendido a outras pessoas). Repare que interessante: o dízimo é para 
ser comido festivamente, no culto de gratidão a Deus pela colheita, e não 
para ser entregue aos sacerdotes para o sustento deles (conforme pedia 
a norma em Levítico!).
E mais, a norma pede o dízimo anual com uma intenção didática: “a fi m 
de que aprendas a temer Javé, teu Deus, todos os teus dias”. Que é temer 
a Deus? É reconhecer que Ele é o Senhor de nossa vida, de nossos bens, 
de nossa família, de nosso presente e de nosso futuro. É reconhecer 
que em Deus encontramos a fonte da sabedoria, da inteligência, da 
capacidade para o trabalho, etc. Assim, entregar o dízimo é uma forma 
de aprendizado. Ofertamos o dízimo, a fi m de não nos esquecermos de 
que tudo o que temos vem das mãos do Senhor. 
E o dízimo trienal? O dízimo trienal era para ser estocado nas cidades, 
com o propósito de servir de alimento para os “sem-terra”: levitas, órfãos, 
viúvas, imigrantes (provavelmente fugitivos do reino do norte e que foram 
morar no reino do Sul após a destruição de Samaria). O dízimo anual é 
gratidão, o trienal é solidariedade. Quem ama a Deus, ama ao próximo! 
Note o detalhe fi nal do texto: “a fi m de que te abençoe Javé, teu Deus, 
em toda obra de tuas mãos, que fi zeres”. Somos gratos a Deus pelas 
bênçãos que recebemos, de modo que damos o dízimo dessas bênçãos 
para aprendermos a temer ao Senhor. Como tementes a Deus, somos 
solidários com os necessitados, e repartimos com ele nossas bênçãos. 
Quando assim fazemos, Deus renova a bênção sobre nosso trabalho! 
Quando acumulamos de forma egoísta a bênção divina, não repartindo 
com o próximo, transformamos a bênção em pecado!
A escolha do texto deuteronômico sobre o dízimo foi proposital. É um texto 
pouco conhecido sobre um tema muito discutido nas igrejas. Certamente 
O dízimo anual é gratidão, o trienal é solidariedade. Quem ama a Deus, ama ao próximo
| Bíblia II - Introdução ao AT | FTSA44
você terá fi cado interessado nas diferenças entre a norma deuteronômica 
do dízimo e a norma em Levítico e Malaquias. A presença de diferenças 
desse tipo é comum nas coleções de normas no Pentateuco e revela as 
diferentes interpretações que o povo de Deus fez de seu ensino de Deus 
sobre a fi delidade à Aliança. Caso você deseje estudar mais a fundo as 
coleções de normas do Pentateuco, você encontrará bastante material 
para sua edifi cação e para seu crescimento em sabedoria e discernimento.
5.3. Torá: identidade do povo de Deus
Há, no Pentateuco, duas grandes teologias complementares que servem 
para descrever a identidade do povo de Deus. Essas formas não abrangem 
todos os textos do Pentateuco, mas oferecem uma síntese da teologia 
dos primeiros livros da Bíblia.
A primeira delas diz respeito à teologia sacerdotal na Torá. Por teologia 
sacerdotal entende-se, na tradição acadêmica de estudos bíblicos, 
o conjunto de temas e textos do Pentateuco que giram ao redor dos 
conceitos de santidade, sacrifício

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