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A ESSENCIALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E O DIREITO DE GREVE

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS 
COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
RICARDO JOSÉ DE CAMARGO BISPO 
 
 
 
A ESSENCIALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E O DIREITO DE GREVE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO BRANCO-ACRE 
2020 
 
 
 
RICARDO JOSÉ DE CAMARGO BISPO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ESSENCIALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E O DIREITO DE GREVE 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Direito da Universidade Federal do Acre - 
UFAC, sob a orientação do Prof. Me. 
Leonardo Lani de Abreu, como requisito 
para obtenção do título de Bacharel em 
Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO BRANCO-AC 
2020 
 
 
RICARDO JOSÉ DE CAMARGO BISPO 
 
 
A ESSENCIALIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E O DIREITO DE GREVE 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de 
Direito da Universidade Federal do Acre 
- UFAC, sob a orientação do Prof. Me. 
Leonardo Lani de Abreu, como requisito 
para obtenção do título de Bacharel em 
Direito. 
 
 
 
Aprovada em 05 de março de 2020. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 Prof. Me Leonardo Lani de Abreu – Orientador 
Universidade Federal do Acre – UFAC 
 
 
 
 
 
 Prof. Dr. Francisco Raimundo Alves Neto – Membro da Banca 
Universidade Federal do Acre – UFAC 
 
 
 
 
 Esp. Tatiana Karla Almeida Martins – Membro da Banca 
 Advogada – OAB/AC n° 2924 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho ao meu filho Bernardo José 
Martins Bispo. 
 
 
 
RESUMO 
 
A Lei n° 7.783/1989 dispõe sobre o exercício do direito de greve. Entretanto, tal 
legislação apresenta os parâmetros gerais para o exercício legal de um movimento 
grevista de trabalhadores. Por conta disso, essa legislação seria aplicada, em tese, 
apenas aos trabalhadores da iniciativa privada. A situação dos agentes públicos e das 
atividades de caráter essencial desempenhadas por esses servidores seria regulada 
por lei complementar, conforme disposto no artigo 37, inciso VII, da Constituição 
Federal de 1988. Em razão da falta de regulamentação do direito de greve dos 
servidores estatutários, há divergências doutrinárias quanto à legalidade e a 
legitimidade do exercício deste direito, inclusive sobre a natureza jurídica do instituto. 
O objetivo geral do trabalho é responder quais os limites de um movimento grevista 
para que ele não seja antijurídico ou inócuo. A metodologia utilizada na foi a 
abordagem jurídico-científica. A pesquisa foi estruturada em três capítulos, que 
contemplam cada um dos objetivos específicos do tema abordado. No primeiro 
capítulo, conceituou-se o instituto da greve com foco nos seus aspectos jurídicos, 
porém também levando em consideração as características e peculiaridades 
históricas, etimológicas e até culturais. O segundo capítulo do trabalho, além de 
conceituar e a analisar a doutrina referente aos servidores e serviços públicos, bem 
como os projetos de lei n° n° 4497/2001 e 375/2018, que buscam regulamentar o 
exercício do direito de greve pelos servidores públicos, com o objetivo de identificar 
as peculiaridades do regime celetista em relação ao Estatutário. O terceiro capítulo do 
trabalho busca identificar e conceituar as limitações impostas ao exercício do direito 
pelos servidores públicos frente aos princípios administrativos e, ainda, de que forma 
se dá a greve nos serviços e atividades essenciais, segundo o entendimento do 
Supremo Tribunal Federal, ao efetuar o controle de constitucionalidade no julgamento 
de mandados de injunção. Conclui-se que, enquanto na iniciativa privada a 
essencialidade dos serviços é a exceção, de modo que atividade que não estiver no 
rol do Art. 10 da Lei 7.783/1989 pode interromper a totalidade dos trabalhos, no serviço 
público todas as atividades são indispensáveis ao atendimento das necessidades 
inadiáveis da comunidade. 
 
Palavras-chave: Greve. História do Direito. Direito Administrativo. Direito 
Constitucional. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The law 7783/1989 provides for the exercise of the right to strike. However, such 
legislation presents the general parameters for the legal exercise of a strike movement 
of workers. As a result, such legislation would in theory be applied only to private sector 
workers. The situation of public agents and the essential activities performed by these 
servants would be regulated by complementary law, as provided for in article 37, item 
VII of the Brazilian Federal Constitution of 1988. Due to the lack of regulation of the 
right of strike of statutory servants, there are doctrinal differences regarding the legality 
and legitimacy of the exercise of this right, including the legal nature of the institute. 
The main objective of the paper is to answer the limits of a strike movement so that it 
is not anti-juridical or harmless. The research was structured in three chapters, which 
address each of the specific objectives of the theme. In the first chapter, the strike 
institute was conceptualized with a focus on its legal aspects, but also taking into 
account the historical, etymological and even cultural characteristics and peculiarities. 
The second chapter of the paper, besides conceptualizing and analyzing the doctrine 
regarding public services, proposes to study the creation of the Single Legal Regime 
of public servants and its peculiarities, as well as the proposed law n°. n° 4497/2001 
and 375/2018, which seeks to regulate the exercise of the right of strike by public 
servants. The third chapter of the paper seeks to identify and conceptualize the 
limitations imposed on the exercise of the right by public servants in the face of 
administrative principles and also how the strike in essential services and activities, 
according to the understanding of the Supreme Court, when performing control of 
constitutionality in the judgment of mandamus or court injunction. It is concluded that 
while in private initiative the essentiality of services is the exception, so that activity 
that is not in the list of Art. 10 of Law 7.783 / 1989 can interrupt all work, in the public 
service all activities are indispensable meeting the urgent needs of the community. 
 
Key-words: Right to strike. History of law. Administrative law. Constitutional right 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7 
2 A GREVE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .................................. 12 
2.1 ETIMOLOGIA E GENEALOGIA DA GREVE ........................................................ 13 
2.2 CRIME, CASTIGO E RECONHECIMENTO ......................................................... 16 
2.3 DEMOCRACIA, DITADURA E “NOVA REPÚBLICA”........................................... 24 
3 REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES E SERVIÇOS PÚBLICOS .................... 28 
3.1 AGENTES PÚBLICOS E O REGIME ESTATUTÁRIO ......................................... 29 
3.2 SERVIÇOS PÚBLICOS E OS SEUS PRINCÍPIOS .............................................. 33 
3.3 PROJETOS DE LEI SOBRE A GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO ........................ 35 
4 O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E OS SERVIÇOS ESSENCIAIS .. 39 
4.1 CONTROLE DIFUSO E O MANDADO DE INJUNÇÃO ........................................ 41 
4.2 OMISSÃO LEGISLATIVA E QUESTÕES DOUTRINÁRIAS ................................. 42 
4.3 JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ................................ 50 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 56 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59 
 
 
7 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Desde a nova ordem constitucional inaugurada em 1988, diversas questões 
sociais pendentesdo regime da ditadura civil-militar vigente nas duas décadas 
anteriores ficaram carentes de regulamentação legislativa sob égide da atual Carta 
Magna. Uma dessas problemáticas ainda presentes na década de 10 do século XXI é 
o direito de greve dos servidores públicos. 
Nesta seara, a Lei Ordinária n° 7.783, de 28 de junho de 1989, dispõe sobre 
o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais e regula o atendimento 
das necessidades inadiáveis da comunidade. Entretanto, tal legislação apresenta os 
parâmetros gerais para o exercício legal de um movimento grevista de trabalhadores. 
Por conta disso, a lei supracitada seria aplicada, em tese, apenas aos 
trabalhadores da iniciativa privada. A situação dos agentes públicos e das atividades 
de caráter essencial desempenhadas por esses servidores seria regulada por lei 
específica, conforme disposto na Constituição. 
Reivindicando melhores salários e condições de trabalho, bem como temendo 
a retirada ou mitigação de direitos, com as reformas trabalhistas e da previdência, 
intensificam-se os movimentos grevistas em praticamente todas as classes nas 
primeiras décadas do século XXI. A crise nas instituições e a constante desvalorização 
dos sindicatos perante setores da mídia reverbera na opinião pública e, por vezes, 
banaliza os movimentos grevistas. 
Não obstante, o Judiciário é constantemente provocado a se manifestar sobre 
questões referentes ao exercício legal do direito de greve, como a possibilidade de 
corte do ponto dos servidores e a legalidade da paralisação de categorias policiais 
civis. Além disso, lastreado pela subsidiariedade da Lei Geral de Greve aplicada aos 
agentes públicos1, movimentos que não se enquadram nos serviços essenciais 
defendem a paralisação total das atividades. 
Entretanto, enquanto na iniciativa privada a essencialidade dos serviços é a 
exceção, de modo que atividade que não estiver no rol do Art. 10 da Lei 7.783/1989 
 
1 Na ausência de lei complementar ao art. 37, inciso VII da Constituição Federal de 1988, referente ao 
Direito de Greve dos Servidores Públicos e quais seriam os serviços ou atividades essenciais, aplicam-
se os Arts. 10 e 11 da Lei 7.783/1989. 
8 
 
pode interromper a totalidade dos trabalhos, no serviço público todas as atividades 
são indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. 
Neste paradigma, surgem alguns dilemas: quais os limites de um movimento 
grevista para que ele não seja antijurídico ou inócuo, por não causar o impacto 
relevante para as mudanças ou manutenções pleiteadas? Com ou sem legislação 
específica sobre a matéria, os juristas e as instituições do poder Judiciário são 
constantemente instigados e convocados a promover a pacificação dessas questões 
sociais. 
Diante disso, enquanto permanece o vácuo legislativo, como o ordenamento 
jurídico trata questões referentes aos serviços públicos essenciais e a paralisação 
total dos trabalhos em decorrência de um movimento grevista? 
A pesquisa usa como principais referências a jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal e as doutrinas de História do Direito, Direito Administrativo e 
Constitucional sobre o direito de greve, com ênfase nas obras de Miron (2017), 
Siqueira (2017), Di Pietro (2014), Novelino (2014), Sarlet, Marinoni e Mitidiero (2018). 
Também foram utilizados como referências a Lei nº 7.783/1989; e os textos 
dos projetos de Lei n° 4497/2001, na Câmara dos Deputados, e 375/2018, no Senado 
Federal, que tramitam no Congresso Nacional a respeito do tema, e a jurisprudência 
do STF. A pesquisa foi estruturada em três capítulos, que contemplam cada um dos 
objetivos específicos do tema abordado. A metodologia utilizada na pesquisa foi a 
abordagem jurídico-científica, que usa como base em eventos históricos e sociais, se 
chega a uma conclusão necessária, em virtude da correta aplicação de regras lógicas. 
Caracteriza-se pelo emprego de cadeias de raciocínio. 
Sobre essa metodologia, Maria Guadalupe Piragibe Fonseca (2009) leciona 
que, em face das contradições acentuadas da sociedade contemporânea, mais do 
que nunca a pesquisa no campo do Direito se torna não só importante como 
necessária. As conclusões da pesquisa jurídica, principalmente da empírica, podem 
servir de guia eficaz para a tomada de decisões dos órgãos públicos, na medida em 
que as práticas sociais correntes são confrontadas com as instituições jurídicas 
vigentes. 
No primeiro capítulo, conceituou-se o instituto da greve com foco nos seus 
aspectos jurídicos, porém também levando em consideração as características e 
peculiaridades históricas, etimológicas e até culturais. Sendo assim, a greve, 
entendida como a suspensão temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação 
9 
 
pessoal de serviços, atualmente é reconhecida como um direito social fundamental, 
assegurado pela Constituição de 1988 aos trabalhadores da iniciativa privada e aos 
servidores públicos. 
Entretanto, durante a pesquisa optou-se por não discutir diretamente as 
questões referentes aos militares e servidores civis da área de Segurança Pública, 
pois o entendimento majoritário é de que essas categorias sequer têm direito à greve2, 
ainda que o assunto seja referenciado de forma tangencial no primeiro capítulo. 
Além disso, apesar da titularidade para iniciar um movimento grevista seja do 
sindicato de uma categoria, não serão aprofundadas questões de direito coletivo do 
trabalho, optando-se por utilizar uma abordagem multidisciplinar que envolve Direito, 
História, Filosofia, Cinema e Literatura. 
Assim, a partir do aprofundamento do instituto, é possível constatar que, ainda 
que seja um direito fundamental ao demais servidores, o direito de greve não é 
absoluto e seu exercício deve respeitar os preceitos que norteiam o ordenamento 
jurídico constitucional brasileiro. Portanto, as limitações ao direito de greve dos 
servidores públicos civis devem seguir os princípios administrativos, tais quais como 
a supremacia do interesse público sobre o privado, a indisponibilidade e continuidade 
dos serviços públicos. 
Isso porque na relação estatutária não há tensão entre o capital e trabalho, 
como ocorre no campo das atividades econômicas, em que o movimento grevista 
coloca em risco os interesses do capital. No serviço público, há uma contradição direta 
entre os interesses dos servidores e o interesse dos indivíduos que dependem da 
prestação do serviço público, ou seja, conflito de interesses públicos. 
Todavia, a não prestação do serviço público, em caso de uma greve ilegal, 
enseja a paralisação do pagamento da contraprestação, representada, in casu, pela 
remuneração devida aos agentes, sob pena de se configurar enriquecimento sem 
causa, em detrimento do dinheiro público. 
Em razão da falta de regulamentação do direito de greve dos servidores 
estatutários, há divergências doutrinárias quanto à legalidade e a legitimidade do 
exercício deste direito, inclusive sobre a natureza jurídica do instituto. 
 
2 Desde 2009, diversas decisões de ministros do STF consideraram ilegais as greves de policiais 
militares, civis e federais, sob o argumento de que representam risco para a segurança pública e para 
a manutenção da ordem. Em 2017, no julgamento do ARE-654432, o Supremo Tribunal Federal (STF) 
decidiu que o exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais 
civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. 
10 
 
Sobre isso, Di Pietro (2014) conceitua que: 
[...] a proibição de greve nos serviços públicos; essa vedação, que antes se 
entendia absoluta, está consideravelmente abrandada, pois a atual 
Constituição, no artigo 37, inciso VII, determina que o direito de greve será 
exercido “nos termos e nos limites definidos em leiespecífica”; o STF, na 
ausência de “lei específica”, decidiu pela aplicação da Lei nº7. 783/89 (cf. item 
13.4.5); também em outros países já se procura conciliar o direito de greve 
com a necessidade do serviço público. Na França, por exemplo, proíbe-se a 
greve rotativa que, afetando por escalas os diversos elementos de um 
serviço, perturba o seu funcionamento; além disso, impõe-se aos sindicatos 
a obrigatoriedade de uma declaração prévia à autoridade, no mínimo cinco 
dias antes da data prevista para o seu início; (p. 71-72). 
 
Ainda nas obras de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o desenvolvimento da 
pesquisa jurídica também pretende abordar temas de direito administrativo referente 
aos servidores e serviços públicos. 
Neste ponto, cabe destacar que antes da criação do Regime Jurídico Único 
(RJU) dos servidores públicos, a grande maioria dos agentes públicos era contratada 
sob o regime celetista, portanto estariam contemplados pela Lei Geral de Greve, já 
que tanto empregados públicos quanto privados eram regulados pela Consolidação 
de Leis do trabalho (CLT). 
Por isso, o segundo capítulo do trabalho, além de conceituar e a analisar a 
doutrina referente aos serviços públicos e os seus princípios, propõe-se a estudar a 
criação do RJU e as suas peculiaridades, bem como os projetos de lei que buscam 
regulamentar o exercício do direito de greve pelos servidores públicos. 
Por enquanto, devido à falta de lei complementar ao artigo 37, inciso VII, da 
constituição de 1988, o tema fora objeto de análise pelo Supremo Tribunal Federal, 
no julgamento dos Mandados de Injunção, dos quais foram analisados os de nº 670, 
708 e 712, em que restou determinado que deveria ser aplicada aos servidores 
públicos, de forma provisória, a lei nº 7.783/89, com as devidas adaptações ao 
funcionalismo público, enquanto não fosse editada lei específica. 
Outro precedente importante foi o julgamento do Recurso Extraordinário nº 
693.456, em 2016, em que ficou decidido que a Administração Pública deve realizar 
os descontos de salários dos dias parados em razão de greve de servidor, exceto 
quando o movimento grevista tiver sido motivado por conduta ilícita do Poder Público, 
como, por exemplo, atraso de salários. 
Diante disso, o terceiro capítulo do trabalho busca identificar e conceituar as 
questões doutrinárias e constitucionais sobre a greve, limitações impostas ao 
11 
 
exercício do direito pelos servidores públicos frente aos princípios administrativos e, 
ainda, de que forma se dá a greve nos serviços e atividades essenciais, segundo o 
entendimento do Supremo Tribunal Federal, ao efetuar o controle de 
constitucionalidade. 
12 
 
2 A GREVE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
No futuro distópico apresentado pelo filme Robocop (1987), durante uma 
greve dos policiais da cidade de Detroit3 após altos índices de criminalidade e de morte 
de policiais, bem como a decisão de Estado terceirizar a administração dos serviços 
de segurança pública para uma grande corporação de tecnologia, a solução 
encontrada pelo poder público foi a substituição dos servidores por policiais androides: 
incapazes de sentir dor, cansaço ou de reivindicar melhores salários e condições de 
trabalho. 
Nas palavras da personagem que representa CEO da empresa: 
Mudanças tributárias tornaram a economia ideal para o crescimento 
corporativo. Mas os serviços públicos, neste caso, a força policial, sofreram. 
Acho que é hora de darmos alguma coisa em troca. [...] Precisamos de um 
policial 24 horas por dia. Um ‘tira’ que não precise comer ou dormir. Um ‘tira’ 
com poder de fogo superior, e com os reflexos para usá-lo. (ROBOCOP, 
1987). 
 
Durante a película, o presidente da empresa discursa no telejornal, onde 
destaca: “Todo policial, quando se integra à força, sabe que há riscos inerentes ao 
seu trabalho. Pergunte a qualquer policial e ele lhe dirá: ‘Se não aguenta a pressão, é 
melhor desistir’4”. (ROBOCOP, 1987). 
Em seguida, destaca o chefe de um departamento de polícia: “Não quero mais 
ouvir conversas sobre greve! Não somos encanadores, somos policiais. E policiais 
não fazem greve!” (ROBOCOP, 1987). 
A situação das forças policiais no ordenamento jurídico brasileiro, no tocante 
ao direito de greve, apresenta-se pior do que a apresentada na obra cinematográfica, 
pois está consolidado que esses servidores sequer têm esse direito. Sobre isso, votou 
o ministro do Supremo Federal, Alexandre de Moraes, no julgamento do Recurso 
Extraordinário com Agravo (ARE) 654432, (COSTA, 2017): 
Não é possível que braço armado do Estado queira fazer greve. Ninguém 
obriga alguém a entrar no serviço público. Ninguém obriga a ficar. É o 
braço armado do Estado. E o Estado não faz greve. O Estado em greve é um 
Estado anárquico. A Constituição não permite. (negritei) 
 
3 A maior cidade do Estado de Michigan, referência na indústria automobilística dos EUA. 
4 No áudio original: “If you can't stand the heat, get out of the kitchen”, expressão idiomática em Inglês 
que ao ‘pé da letra’ significa: “Se você não aguenta a o calor, ‘cai fora’ da cozinha”. 
13 
 
No mesmo julgamento5, Moraes também votou que: 
No confronto entre o direito de greve e o direito da sociedade à ordem pública 
e da paz social, deve prevalecer o interesse público e social em relação ao 
interesse individual de determinada categoria. E essa prevalência do 
interesse público e social sobre o direito individual de uma categoria de 
servidores públicos exclui a possibilidade do exercício do direito de 
greve, que é plenamente incompatível com a interpretação do texto 
constitucional. (negritei). 
 
Os demais agentes públicos civis e os empregados das empresas privadas 
ainda têm o direito de greve resguardado pela Constituição. Entretanto, este instituto 
percorreu um longo caminho até conquistar o patamar de direito fundamental no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
 
2.1 ETIMOLOGIA E GENEALOGIA DA GREVE 
 
De acordo com Siqueira (2017, p. 13), as greves representam uma chave de 
compreensão para a história dos direitos sociais no Brasil, pois quase sempre estão 
ligadas a questões e demandas jurídicas. Se existe uma greve, existe a história de um 
direito. Usualmente, elas são lutas pelo reconhecimento, na lei, de um direito ou pelo 
cumprimento de um direito existente em lei. 
Contudo, há de se destacar que o direito nasce por meio de anseios sociais, 
de acordo com momentos, históricos. Desta forma, também defende Siqueira (2017, 
p. 26) que o direito nasce dessa equação social e histórica e só posteriormente é 
reconhecido pelos sistemas oficiais, o que o autor chama de “um sentimento de 
juridicidade”. 
Quanto às origens, alguns autores consideram que a primeira referência 
histórica do movimento paredista se deu ainda no século XII, a.C., no Antigo Egito, 
durante o reinado de Ramsés III (1194 a 1163 a.C), onde ocorreu o movimento dos 
“pernas cruzadas”. Nesse episódio, os manifestantes se recusaram a trabalhar nas 
construções do túmulo de um faraó, cruzando as pernas, em protesto, pois não haviam 
recebido o que lhes havia sido prometido. 
Outros autores, porém, remontam a história da greve ao êxodo em massa dos 
hebreus ao abandonarem o Egito. Em Roma, no Baixo Império, ocorreram 
 
5 STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (ARE): 654432 GO, Relator: Min. Edson 
Fachin. Relator p/ Acórdão: Min. Alexandre de Moraes. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Data de 
Julgamento: 05/04/2017, DJe-114 DIVULG 08-06-2018 PUBLIC 11-06-2018. 
14 
 
paralisações de trabalhadores no serviço público, em atividades essenciais, que foram 
imediatamente reprimidas por lei 
Entretanto, para Leite (2014) e Siqueira (2019), classificar como greve os 
movimentos anteriores à Revolução Industrial e aos Direitos Trabalhistas é um grande 
anacronismo. 
Tendo em vistaque os movimentos paredistas ocorridos antes da Revolução 
Industrial não poderiam ainda ser considerados como greve propriamente dita, mas 
apenas a origem precoce dos movimentos coletivos dos trabalhadores, pois naquela 
época ainda não havia estruturas de relações de trabalho, apenas um sistema social 
escravista e servil. Nesse sentido, leciona Amauri Mascaro Nascimento: 
Com a Revolução Industrial, as greves ganharam intensidade. Em Lyon, em 
1831, surgiu a primeira grande greve na França, contra os fabricantes que se 
recusavam a atribuir ao salário uma força obrigatória jurídica, mas 
simplesmente moral. Ainda na França apareceram greve de solidarité (Rue 
Transnonain), greves de protestatiton contre un texte législatif e greves 
gerais, muitas de fundo político, insufladas pela difusão das ideias socialistas. 
(NASCIMENTO, 2001, p. 890). 
 
Somente após a Revolução Industrial houve a massificação do trabalho 
assalariado. Dessa forma, Melo (2017) entende que o marco inicial da história da 
greve são os movimentos sindicais dos ingleses. 
No Brasil, o termo “greve” é uma francesia, pois tem origem na palavra 
francesa grève, cujo significado é areal, cascalho. Há relatos de que antes da 
canalização do Rio Sena em Paris, devido às enchentes, pedras e gravetos eram 
depositados em uma praça, que ficou conhecida como place de grève, hoje 
denominada de Place de l'Hôtel de Ville. 
A place de grève ficou conhecida como o local onde os operários se reuniam 
quando estavam insatisfeitos com as condições de trabalho ou na hipótese de 
paralisação do serviço. Era também o local onde os empregadores iam para buscar 
mão de obra. 
Assim, quando o operário não comparecia ao trabalho, era informado ao 
empregador que aquele estava em Grève. Com isso o termo greve passou a ser 
utilizado como sinônimo de paralisação do trabalho. 
O termo francês é utilizado no Brasil e em Portugal, porém, Itália, Alemanha 
e os países de Língua Inglesa têm uma palavra diferente para descrever esse 
15 
 
fenômeno greve. O que significa, a partir da semântica do termo utilizado, que cada 
país tem uma forma diferente de entender tal instituto jurídico. 
Como exemplos de palavras que nasceram com um significado diverso, mas 
que a partir do final do século XVIII passaram a ser associadas aos movimentos de 
trabalhadores em busca de melhorias de sua qualidade de vida ou por motivos 
políticos, destacam-se as palavras “huelga”, em Espanhol, que tem origem no verbo 
“holgar”, que em Português seria “folgar”; e “Sciopero”, em Italiano, quem tem origem 
na expressão latina “ex” (fora) e o verbo “operare” (trabalhar), ex-operare, que em 
português seria “fora do trabalho”. 
No mesmo sentido, como correspondentes à palavra greve, em Alemão se 
usa “streiken” e em Inglês “Strike”, que também podem significar “derrubar, quebrar, 
atacar, golpear etc”, palavras que passaram a ter essa conotação de greve a partir do 
Ludismo, um movimento de trabalhadores ingleses do ramo de fiação e tecelagem, 
ativo no início do século XIX, nos primórdios da Revolução Industrial, e que se 
notabilizou pela destruição de máquinas como forma de protesto. 
Sendo assim, Siqueira (2019) defende que cada país constrói a sua história 
sobre o direito de greve e as suas peculiaridades. Por conta disso, seria inadequado 
generalizar a história da greve no mundo todo, porque cada país teve a sua tradição. 
O que não significa que não houve influências, cópias ou tentativas de cópias, mas 
que cada país tem sua tradição sobre a greve. 
No século XIX, no Brasil, antes de se utilizar a palavra greve, utilizava-se a 
palavra “parede”, que inclusive era utilizada também pelos estudantes contra os 
professores ou gestores das instituições de ensino, quando formavam uma parede e 
impediam a entrada, semelhante aos movimentos do “empates” no Acre na década 
de 1980, quando os seringueiros ficavam em frente às árvores para evitar o avanço 
das máquinas. 
Apesar da primeira legislação brasileira sobre a greve surgir no primeiro 
Código Penal da República, em 1890, o conceito já é encontrado em dicionários que 
circulavam no país antes disso. Siqueira (2017) cita a obra de Faria (1868), que 
reproduz o termo: “Parêde: Ajustarem os estudantes a não entrarem na aula a ouvirem 
a lição, ou para outro acto de insubordinação” (sic) e a obra de Figueiredo (1899), que 
tem os dois conceitos de greve: “Conluio de operários, ou de funcionários, que se 
recusam trabalhar, enquanto lhes não atendem certas reclamações” e. “Parêde: fazêr 
greve: associar-se com outrem para certos fins” (sic). 
16 
 
Destaca-se que no dicionário de Figueiredo (1899), obra o autor conceitua 
que conluio era uma: “machinação, combinação entre duas ou mais pessoas, para 
prejudicar outrem” (sic). Portanto, a greve seria uma ação coletiva para prejudicar 
alguém enquanto suas reivindicações não fossem atendidas. 
Já Coelho (1890) descreve a greve como uma: “resolução que uma 
corporação de indivíduos da mesma classe toma, eximindo-se ao trabalho, enquanto 
não lhes satisfazem a sua pretenção” (sic). Nesse mesmo sentido é a descrição de 
Grave e Coelho Neto (1920): “conluio legal de pessôas que se ligam para fazer 
cessar o trabalho e que se recusam a trabalhar emquanto lhes não atendem certas 
reclamações” (sic) [negritei]. 
Diante disso, Siqueira (2017, p. 30), desta que: 
Se, por outro lado, todos os autores relacionavam greve com deliberações, 
demandas dos trabalhadores que movem suas ações, seu desejo de não 
trabalhar, é interessante destacar que, sendo todas as obras consultadas 
contemporâneas entre si, existia pouca concordância sobre a legalidade e 
legitimidade da ação grevista. Desse modo, observa-se que a tensão sobre a 
legalidade da greve era presente também nos meios acadêmicos. Dizer se a 
greve era uma ação legal ou não era apenas uma tarefa não exclusiva dos 
juristas. O debate espalhava-se por diversos ramos da sociedade. Daí a 
necessidade de uma constante ampliação das fontes de história do direito 
para trazer à tona não apenas as concordâncias, como, especialmente, as 
tensões, os enfrentamentos sociais, políticos e jurídicos de uma época. 
 
Diante disso, conclui-se que, até a década de 1930, a greve era descrita como 
“um conluio legal”, por mais paradoxal que isso possa parecer, pois era interpretada 
como uma ação para prejudicar alguém, porém dentro da lei. Com a criminalização 
dos movimentos no Estado Novo os dicionários passam a retirar novamente a palavra 
“legal”. 
 
2.2 CRIME, CASTIGO E RECONHECIMENTO 
 
Conforme discorre Miron (2017, p. 16), as constituições de 1824, 1891 e 1934 
não previam o instituto da greve, sendo esta considerada apenas como fato social 
tolerado pelo Estado. Como dito alhures, pouco tempo depois da Proclamação da 
República (1889), ainda no governo provisório, foi publicado o Código Penal, prevendo 
o instituto da greve como crime e punindo o infrator com pena de detenção em seus 
artigos 205 e 206. 
Paralelamente, aconteceu no Rio de Janeiro uma reivindicação que 
praticamente parou a cidade, que foi a greve dos cocheiros e carroceiros. Cabe aqui 
17 
 
um destaque para o qual era importante essa categoria até o início do século XX, pois 
além do transporte de pessoas e cargas, o que causou um impacto semelhante à 
greve dos caminhoneiros no Brasil em 2018, os cocheiros e carroceiros faziam a 
coleta de lixo na cidade. 
No Rio de Janeiro em 1890, a urbanização não era como acontece hoje, com 
uma série de prédios, a população vivia em quintas, sítios, casas grandes etc. A 
função do carroceiro era justamente entrar na casa das pessoas e recolher o lixo, 
porém, quando eles entraram em greve questionando alguns artigos do código penal, 
principalmente o que criminalizava a greve, a prefeitura tenta anular o movimento 
contratando pessoas que substituiriam os carroceiros. 
Entretanto, o efeito não foi o esperado, pois a populaçãose recusava a aceitar 
estranhos entrando em suas residências para coletar o lixo. Então foi uma greve de 
muito sucesso, que fez com que o governo alterasse o código penal de 1890, tornando 
crime apenas a greve violenta. 
Em razão disso, o Decreto nº 1162/1890 alterou os referidos dispositivos, 
criminalizando somente a greve violenta. Segue redação do decreto 1162/1890: 
O Chefe do Governo Provisório da Republica dos Estados Unidos do Brazil, 
considerando que a redacção dos arts. 205 e 206 do Codigo Criminal pode 
na execução dar logar a duvidas e interpretações erroneas e para estabelecer 
a clareza indispensavel, sobretudo nas leis penaes, decreta: 
Art. 1.º Os arts. 205 e 206 do Codigo Penal e seus paragraphos ficam assim 
redigidos: 
Art. 205. Desviar operarios e trabalhadores dos estabelecimentos em que 
forem empregados, por meio de ameaças e constrangimento: 
Penas – de prisão cellular por um a tres mezes e de multa de 200$ a 500$000. 
Art. 206. Causar ou provocar cessação ou suspensão de trabalho por meio 
de ameaças ou violencias, para impôr aos operarios ou patrões augmento ou 
diminuição de serviço ou salario: 
Penas – prizão cellular por um a trez mezes (BRASIL, 1890). 
 
De acordo com Siqueira (2019), essa alteração é fundamental para entender 
o direito de greve na Primeira República (1889-1930). Desta forma, a partir de 12 e 
novembro de 1890, a greve pacífica passa a não ser considera um crime no Brasil, o 
que fez com que doutrinadores e jurisprudência da época e até mesmo algumas 
empresas, quando se manifestam sobre a greve, descrevam a greve como um direito. 
A greve pacífica não foi tipificada como crime. A luta dos trabalhadores, por canais 
não oficiais, promoveu uma alteração no direito positivo. 
Além disso, a Constituição, a doutrina e a jurisprudência majoritária 
concordavam que a greve sem violência era um direito do trabalhador. Essa 
interpretação é pacífica até 1935, com a instituição do Estado Novo. Contudo, o 
18 
 
reconhecimento de um direito pela doutrina e pelos tribunais não significa que 
automaticamente ele será respeitado por todos. 
Sendo assim, apesar de ter a sua natureza jurídica pacificada reconhecendo-
a como direito e não como crime, o exercício da greve nunca foi algo considerado 
pacífico na História, pois: “No primeiro grito de greve a polícia era convocada e 
usualmente, mesmo a greve sendo legal, tinha violência empregada contra os 
trabalhadores, sub a justificativa de estarem garantindo a ordem e protegendo o 
patrimônio” (SIQUEIRA, 2019). 
Desde a Primeira República, pleiteia-se a regulamentação do Direito de 
Greve, enquanto isso, grandes movimentos operários paravam o país. As principais 
greves operárias ocorridas no Brasil durante a Primeira República tiveram como 
motivos a luta pelo aumento salarial, melhores condições de trabalho, melhores 
condições de vida (alimentação, moradia), por uma legislação previdenciária, direitos 
trabalhistas e sindicais. 
Segundo Carvalho (2019), no ano de 1907 existiam aproximadamente 150 mil 
operários. A grande maioria estava distribuída nas indústrias, mas existiam 
trabalhadores das ferrovias (ferroviários), trabalhadores da construção civil 
(serventes, pedreiros, carpinteiros), os portuários e outras profissões, como padeiros, 
sapateiros, trabalhadores dos comércios, entre outros. 
Grande parte das indústrias se concentrava na capital federal, a cidade do Rio 
de Janeiro, mas, a partir da década de 1920, a cidade de São Paulo assumiu o posto 
de maior detentora de indústrias no Brasil. 
Em meados de 1910, a maior parcela da população brasileira vivia no campo 
– os trabalhadores urbanos eram uma minoria em relação à população brasileira. O 
operariado brasileiro era formado principalmente por imigrantes estrangeiros 
(italianos, portugueses) e por uma parcela pobre da sociedade brasileira. 
Na Europa, na década de 1910, fervilhavam manifestações socialistas, 
comunistas e anarquistas, pois o operariado europeu reivindicava seus direitos 
perante a sociedade e os empregadores. Tanto que no ano de 1917 aconteceu a 
Revolução Socialista na Rússia. Devemos compreender a formação da classe 
operária brasileira dentro desse contexto histórico. 
Com a vinda de milhares de imigrantes europeus para o Brasil, vieram, 
juntamente com eles, as teorias sociais que fervilhavam entre a sociedade europeia. 
19 
 
Essas teorias foram fundamentais para os operários brasileiros iniciarem uma efetiva 
consciência de classe e, consequentemente, uma conscientização política. 
Os primeiros contatos do operariado brasileiro com o socialismo e 
principalmente com o anarquismo, levaram o proletariado, no começo do século XX, 
a lutar, reivindicar e se manifestar por direitos trabalhistas e sindicais, por melhores 
condições de trabalho e melhores salários. 
Os reflexos das reivindicações operárias foram sucessivas greves. Em 1905, 
os trabalhadores dos portos de Santos e do Rio de Janeiro paralisaram suas 
atividades; e no ano de 1906 foi a vez dos ferroviários decretarem greve. Todas essas 
greves tinham o apoio de trabalhadores de outros setores produtivos. 
No ano de 1907, o governo brasileiro aprovou uma lei que expulsaria do país 
todo imigrante estrangeiro que aderisse às greves – uma forma de retaliar e evitar a 
ocorrência de outras greves. Porém, a lei não surtiu efeito prático, pois no ano de 1907 
ocorreu a primeira greve geral de trabalhadores. 
A principal paralisação operária foi a greve geral de 1917, iniciada em São 
Paulo, após a morte de um jovem trabalhador pela polícia. A greve se generalizou por 
todo o país e ocorreram na capital paulista vários conflitos e tiroteios por vários dias. 
Dessa greve participaram os operários da indústria têxtil e alimentícia, os ferroviários 
e os gráficos. 
Durante a greve geral de 1917, os operários lutavam por melhores salários, 
jornada de trabalho de oito horas, direito a férias, fim do trabalho infantil, proibição do 
trabalho noturno para as mulheres, aposentadoria e assistência médica. 
Tal cenário político e social fez com que o Direito de Greve passasse por 
modificações. Sobre isso, Siqueira (2017, p. 42-43) destaca: 
A Constituição, a doutrina e a jurisprudência majoritária concordavam que a 
greve pacífica era um direito do trabalhador. Interessante verificar que tal 
entendimento também era comungado pelos trabalhadores e pelos 
empregadores. [...] 
O cenário jurídico era bem claro: fazer um discurso jurídico contrário ao direito 
de greve não parecia estar de acordo com o sistema legal. Ocorre que o 
direito de greve costumeiramente era um direito que incomodava o Poder 
Executivo – quase sempre composto pelos empresários ou cafeicultores do 
período.80 A greve compreendia um direito que era criminalizado pelo 
Estado. E este buscava recursos jurídicos – alegação de violências, de 
danos, de outros tipos penais – para combater a greve. 
A problematização em geral que se pode fazer – a partir de uma teoria crítica 
do direito – é que o reconhecimento de qualquer direito tem custo. Algumas 
vezes, custos econômicos, outras vezes, custos políticos, sociais... Não se 
estava disposto a pagar os custos que o reconhecimento do direito de greve 
traria. 
20 
 
Vale lembrar, ainda, que em 1921, quando Epitácio Pessoa ocupava o cargo 
de presidente do país, o decreto no 4.269, que regulava a repressão ao 
“anarquismo”, aumentou a pena para a greve violenta (art. 204 do Código 
Penal), que passou de 1 a 3 meses de prisão para de 3 meses a 1 ano. A 
pena máxima virou a pena mínima. O decreto, que permitia ao governo 
“ordenar o fechamento, por tempo determinado, de associações, siyndicatos 
e sociedades civis quando incorram por actos nocivos ao bem publico”, 
estabelecia-se como uma grande ameaça à liberdade de se associar e, 
durante a década de 30, seria uma das grandes críticas feitas ao governo 
republicano pelos defensores da Revolução de 1930. 
 
Nesse contexto,destaca-se que no ano de 1930 foi criado o Ministério do 
Trabalho, Indústria e Comércio, com o objetivo de concretizar o projeto do governo 
Vargas de interferir diretamente no conflito entre capital e trabalho. 
Devido à dinâmica econômica do Brasil até esse momento, as questões 
referentes ao Direito do Trabalho eram tratadas pelo Ministério da Agricultura, que não 
possuía a devida atenção pelo governo. Ocorre que os avanços foram poucos no que 
tange a proteção de direitos trabalhistas. 
Além disso, a Lei de Segurança Nacional (Lei nº 38/32) proibiu o exercício do 
direito de greve pelos trabalhadores. Essa proibição repercutiu de maneira negativa e 
a tensão social se intensificou: 
A Lei de Segurança Nacional, lei no 38, de 4 de abril de 1935, é apelidada de 
Lei Monstro. O projeto de lei, desde janeiro do mesmo ano, já vinha 
recebendo críticas de vários grupos sociais, bem como da imprensa.145 
Atribuía-se à lei a acusação de ser, por exemplo, uma imposição do 
capitalismo estrangeiro. 
No dia 23 de janeiro de 1935, a polícia de Belo Horizonte impediu uma 
manifestação dos trabalhadores da cidade contra a referida lei.147 Em 29 de 
janeiro houve discursos de deputados, na Câmara Federal, contra o projeto 
de lei, e, no dia 30, trabalhadores do estado de São Paulo iniciaram uma 
greve contra a aprovação do projeto. No dia 1° de fevereiro, o Correio de São 
Paulo noticiava o protesto de operários e ferroviários contra a nova lei. 
[...] 
Na imprensa da época, são diversas as manifestações contra a lei. É possível 
perceber que a Lei de Segurança Nacional, de certa forma, já era vista como 
o início de uma ditadura, uma cessão de direitos e uma violência contra a 
sociedade. 
O jornal A Noite anunciou, em 2 de fevereiro de 1935, uma greve da imprensa 
do estado do Paraná contra a Lei de Segurança Nacional. O mesmo jornal, 
no dia 7, anunciou manifestações no Rio Grande do Sul contra a lei: “Por essa 
lei monstruosa a democracia constitucional brasileira passará a viver 
sofrendo a agonia dos direitos políticos e individuais e o Brasil terá um 
governo ditatorial.” (SIQUEIRA, 2017, p. 65-66). 
 
O debate sobre a regulação da greve crescia, e restrições começaram a ser 
criadas na lei para o exercício desse direito. O governo Vargas promoveria uma 
grande expansão legislativa, e o direito de greve seria um dos mais presentes em todo 
esse processo. 
21 
 
Já no Estado Novo, a Constituição de 1937 instituiu a criação da Justiça do 
Trabalho e foi a primeira constituição a prever o instituto da greve. O regramento 
constitucional considerava a greve e o lockout como recursos antissociais, 
incompatíveis com os interesses da produção nacional. 
A Justiça do Trabalho foi instituída pelo Decreto-Lei 1.237/39, norma que 
também previa rígidas punições aos trabalhadores que participassem de movimentos 
grevistas, como, por exemplo, pena de suspensão, demissão por justa causa e até 
mesmo detenção. Inclusive, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelecia 
em sua redação original a greve como uma prática delituosa. Vide redação original 
dos artigos 723 e 724: 
Art. 723. Os empregados que, coletivamente e sem prévia autorização do 
tribunal competente, abandonarem o serviço, ou desobedecerem a qualquer 
decisão proferida em dissídio, incorrerão nas seguintes penalidades: 
a) suspensão do emprego até seis meses, ou dispensa do mesmo; 
b) perda do cargo de representação profissional em cujo desempenho 
estiverem; 
c) suspensão, pelo prazo de dois anos a cinco anos, do direito de serem 
eleitos para cargo de representação profissional. 
Art. 724. Quando a suspensão do serviço ou a desobediência às decisões 
dos tribunais do Trabalho for ordenada por associação profissional, sindical 
ou não, de empregados ou de empregadores, a pena será: 
a) se a ordem for ato de assembléia, cancelamento do registo da associação, 
alem da multa de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros), aplicada em dobro, em 
se tratando de serviço público; 
b) se a instigação ou ordem for ato exclusivo dos administradores, perda do 
cargo, sem prejuizo da pena cominada no artigo seguinte. (BRASIL, 1943). 
 
Na mesma esteira, o Código Penal de 1940, em seu texto original, previa 
como delito a paralisação do trabalho, caso houvesse perturbação da ordem pública 
ou se contrariasse os interesses públicos. 
Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem 
Artigo 200, participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, 
praticando violência contra pessoa ou contra coisa. 
Pena-detenção, de 1 mês a 1 ano, e multa, além da pena correspondente à 
violência. 
Parágrafo Único – Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é 
indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados. 
Paralisação de trabalho de interesse coletivo 
Artigo 201, Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho, 
provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo. 
 
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. (BRASIL, 1940). 
 
De acordo com Siqueira (2017, p. 79), a criação da justiça obreira seria a 
justificativa do governo para criminalizar as greves: 
Um dos mais influentes intelectuais e políticos durante o governo Vargas, 
Francisco Luis da Silva Campos, escreve sobre a greve na exposição de 
motivos da parte especial do Código Penal de 1940. Ministro da Justiça, 
22 
 
Campos justificava a necessidade de atualizar o texto penal, de maneira a 
contemplar “novas figuras delituosas com que os progressos industriais e 
técnicos enriqueceram o elenco dos fatos puníveis”. Nos crimes contra a 
organização do trabalho estão os dispositivos que criminalizam a greve. 
[...] 
Para Campos, a ideia liberal de um Código que só intervém “quando a livre 
ação de uns seja lesiva do direito de outros e a consequente não 
criminalização e penalização da greve e de todos os meios incruentos e 
pacíficos na luta entre o proletariado e o capitalismo” não eram admitidas pela 
Constituição de 1937. O novo texto proclamou a legitimidade da intervenção 
do Estado no domínio econômico para suprir as deficiências da iniciativa 
individual e coordenar os fatores da produção, de maneira a evitar ou resolver 
os seus conflitos e introduzir no jogo das competições individuais o 
pensamento do interesse da Nação [...] atentatória, ou não, da liberdade 
individual, toda ação perturbadora da ordem jurídica, no que concerne ao 
trabalho, é ilícita e está sujeita a sanções repressivas, sejam de direito 
administrativo, sejam de direito penal. 
 
Durante todo o Estado Novo, que durou até 1945, foi pacífico na doutrina e 
jurisprudência que a greve era um movimento antijurídico, conduto, os movimentos 
pacíficos e parciais de interrupção do trabalho em busca de melhorias nas condições 
não era considerado greve. 
Em alusão ao conceito de Sergio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”, 
Siqueira (2019) destaca que, na mentalidade e dinâmica da ditadura do Estado Novo, 
o brasileiro era um povo cordial e pacífico, então o crime de greve tinha um alvo 
específico: “os estrangeiros, que contaminavam o país com o Comunismo”. 
O escritor Jorge Amado publicou em 1954 a trilogia de romances ‘Os 
subterrâneos da liberdade’, caracterizada por uma forte crítica à ditadura do Estado 
Novo (1937-45), do ponto de vista de um integrante do Partido Comunista Brasileiro. 
O primeiro volume, “Os Ásperos Tempos”, narra a instauração do regime ditatorial do 
Estado Novo. O segundo, “Agonia da Noite”, tem foco na greve dos estivadores do 
porto de Santos. Por fim, “A Luz no Túnel” é centrado na caça aos militantes 
comunistas pela polícia de Getúlio, que torturava e matava. 
Em um trecho de “Agonia da Noite”, escreveu Amado: 
O navio alemão encostava no cais, junto ao armazém onde se encontrava 
depositado o café. Da cidade vinham curiosos espiar o movimento no porto. 
A vida continuava normalmente, navios eram carregados e descarregados. 
Apenas a turma de estivadores convocadapara o trabalho no navio alemão 
não aparecera. Outra turma estava em vias de ser chamada em seu lugar. 
Os jornais dessa manhã nada diziam da reunião da véspera. Apenas 
publicavam uma informação da polícia política local, dizendo que a sede do 
sindicato havia sido ocupada e clausurada devido a ameaças de agitação por 
parte de elementos extremistas. 
Mas a notícia da decisão dos estivadores se espalhara por toda a cidade, 
chegara já a São Paulo, de onde partiam para Santos reforços policiais, 
23 
 
carros cheios de investigadores. Barros, agora delegado de Ordem Política e 
Social, mantinha largas conversações telefônicas com a polícia santista. 
Dera ordens definitivas: se até à noite os estivadores não iniciassem o 
carregamento do navio, as primeiras prisões deviam ser efetuadas. 
— É preciso mostrar a essa canalha que não estamos mais num regime 
liberal! Agora é o Estado Novo, é obedecer ou levar porrada. Não aja com 
meias-medidas. É preciso cortar a cabeça dos comunistas de uma vez. E eu 
vou cortá-la. Tenho carta branca, não tenha medo de nada. Se for preciso 
atirar, atire. Vou lhe mandar mais gente. Amanhã o café tem que estar sendo 
carregado, amanhã, no máximo. Se for necessário, eu mesmo darei um pulo 
aí. 
Também o Ruivo descera nessa manhã para Santos, no primeiro ônibus. 
Viera encontrar. João na casa do camarada onde estava hospedado. João 
lhe disse: 
— Não vai ser fácil. Tudo dependerá do movimento de solidariedade que 
pudermos desencadear quando a greve se declarar. 
A polícia não vai demorar a agir contra a estiva. Eles estão seguindo toda a 
direção do sindicato. A greve pode se prolongar por muito tempo, a massa do 
porto é qualquer coisa de extraordinária, possui uma combatividade incrível. 
Mas, por quanto tempo poderão agüentar?, eis o problema. É necessário 
pensar em duas coisas imediatamente: iniciar em São Paulo, aqui, em 
Sorocaba, Campinas, Santo André, em todos os centros operários, uma 
campanha de finanças para ajudar os grevistas. E, ao mesmo tempo, ir 
preparando o pessoal, nas fábricas, para paradas de trabalho e mesmo 
greves de solidariedade. (AMADO, 2011, p. 29) 
 
Neste contexto, a greve que contrariava a segurança nacional era aquela com 
motivações políticas, por vezes, de solidariedade entre os trabalhadores, o que era 
violentamente reprimido pela polícia. Por outro lado, quando não estavam envolvidos 
comunistas, estrangeiros e constatava-se conduta ilícita do empregador, como atraso 
de salários, os movimentos não eram considerados e greve e acabam absolvidos até 
pelo Tribunal de Segurança Nacional. 
Com o fim do governo Vargas, na nova Constituição brasileira em 1946 a 
greve volta a ser reconhecida como Direito. Nas palavras de Siqueira (2017) fim do 
Estado Novo trouxe novos ares para a República. Esses ares também foram jurídicos. 
Uma nova gama de autores, com visões plurais, comenta a Constituição de 1946. Se 
em 1937 todos os autores tinham a mesma posição sobre o direito de greve, nesse 
momento é facilmente perceptível o surgimento de novas visões – alguns autores 
contrários ao direito de greve, outros a favor. 
Por outro lado, os autores que tiveram seus livros publicados pelo 
Departamento de Imprensa e Propaganda não voltaram a produzir novos textos; 
apenas Pontes de Miranda escreveu em 1937 e 1946, mudando de posição. 
24 
 
Nesse contexto, o ministro do STF entre 1931 e 1945 e presidente da Corte 
entre 1940 e 1945, Eduardo Espínola, escreveu: “[...] é opinião geral que a nossa 
legislação do trabalho é das mais evoluídas. A Constituição aproveitou tudo quanto 
de melhor se estabeleceu entre nós e não deixou de se inspirar também nas leis 
estrangeiras, bem como na melhor doutrina”. (ESPÍNOLA, 1946). 
 
2.3 DEMOCRACIA, DITADURA E “NOVA REPÚBLICA” 
 
O ano de 1945 marcou a deposição de Getúlio Vargas e a eleição de seu 
ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra. Apesar de Dutra ter participado do 
movimento de destituição presidencial, recebeu o apoio de Vargas. Getúlio Vargas 
vinha sofrendo forte pressão desde 1943. Os sucessivos acordos e manobras para 
prolongar a ditadura – mesmo lutando o Brasil contra o fascismo da Europa durante a 
Segunda Guerra Mundial – iam, aos poucos, minando a base política do governo. As 
tensões sociais do período de transição do Estado Novo para a democracia em 1945 
refletiram no novo ordenamento. Por exemplo, Jorge Amado, Marighela e Luís Carlos 
Prestes foram deputados constituintes, eleitos pelo Partido Comunista Brasileiro. 
Não obstante, explodiram diversas greves durante a constituinte, e o assunto 
foi constante durante a aprovação do novo texto constitucional no Congresso. A 
tensão social era tanta que o presidente Dutra editou o Decreto-Lei n° 9070/1946, 
regulamentando o direito de greve. 
Essa foi primeira norma que versava sobre como deveria ser o exercício do 
direito de greve, já que até então esse tipo de movimento era ilícito. Entretanto, esse 
decreto causou, na verdade, duas grandes limitações aos movimentos grevistas. 
A primeira era que a greve só era permitida nas atividades não essenciais, 
porém essa era uma limitação muito grande, de modo quase impossível uma greve 
legal, além disso trazia novos tipos penais, como o de aliciar trabalhadores de outra 
categoria a aderir a um movimento grevista, a conhecida “greve de solidariedade”. 
Segue abaixo um trecho do texto original do decreto: 
Art. 3º São consideradas fundamentais, para os fins desta lei, as atividades 
profissionais desempenhadas nos serviços de água, energia, fontes de 
energia, iluminação, gás, esgotos, comunicações, transportes, carga e 
descarga; nos estabelecimentos de venda de utilidade ou gêneros essenciais 
à vida das populações; nos matadouros; na lavoura e na pecuária; nos 
colégios, escolas, bancos, farmácias, drogarias, hospitais e serviços 
funerários; nas indústrias básicas ou essenciais à defesa nacional. 
25 
 
 
§ 1º O Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, mediante portaria, 
poderá incluir outras atividades entre as fundamentais. 
§ 2º Consideram-se acessórias as atividades não classificadas entre as 
fundamentais. (negritei). (BRASIL, 1946) 
 
Observa-se que, não só o rol das atividades essenciais é amplo, como ainda 
pode ser ampliado por ato do Ministério do Trabalho e aquilo que não for essencial é 
acessório, limitando, assim, o exercício do direito de greve. 
O segundo problema era que o decreto fora editado em março de 1946, 
durante a vigência da constituição de 1937, pois a nova Constituição passou a viger 
somente em setembro, então a norma seria inconstitucional. Sobre isso, tanto juristas 
que eram a favor do direito de greve quanto os que eram contra concordavam que o 
decreto não teria validade, por regular um direito não reconhecido pela constituição 
de 1937 e também não ter sido recepcionado pela nova ordem constitucional em 1946, 
que reconheceu o direito à greve no seu Art. 158. 
De acordo com Siqueira (2019), o Supremo Tribunal Federal julgou pouco 
mais de trinta processos envolvendo direito de greve entre 1946 e 1964, nos quais 
reconheceu a legalidade do decreto n° 7090, acatando a tese da “Repristinação 
Constitucional”, pela qual uma norma inconstitucional no sistema anterior passa a ter 
vigência no atual por ser adequada à nova constituição. Entretanto, devido às 
limitações impostas pelo referido decreto, apenas uma greve foi considerada legal, 
um caso bem pontual, onde, apesar da atividade ser essencial, a empresa tinha 
falhado e os trabalhadores estavam sem receber salário. 
Em seguida, no golpe civil-militar de 31 de março de 1964, tanta era a 
preocupação com a tensão social que as greves poderiam causar que, já em junho do 
mesmo ano, o governo publica um decreto-lei regulando a greve. Norma essa tão 
restritiva quanto a de 1946. 
Nesse momento histórico, o instituto da greve foi regulamentado pela Lei 
4.330/64, conhecida como “Lei da Greve”. A norma determinouos casos específicos 
em que o movimento grevista seria considerado como ilegal. Segue abaixo a redação 
original: 
Art. 22. A. greve será reputada ilegal: 
 
I - Se não atendidos os prazos e as condições estabelecidas nesta lei; 
II - Se tiver objeto reivindicações julgadas improcedentes pela justiça do 
Trabalho em decisão definitiva, há menos de 1 (um) ano; 
 
26 
 
III - Se deflagrada por motivos políticos, partidários, religiosos, sociais, de 
apoio ou solidariedade, sem quaisquer reivindicações que interessem, direta 
ou legitimamente, à categoria profissional; 
 
IV - Se tiver por fim alterar condição constante de acôrdo sindical, convenção 
coletiva de trabalho ou decisão normativa da Justiça do Trabalho em vigor, 
salvo se tiverem sido modificadas substancialmente os fundamentos em que 
se apoiam. (BRASIL, 1964) 
 
Por sua vez, o artigo 20, parágrafo único, da lei retromencionada estabelecia 
que a greve ilícita, nos moldes do artigo 22, suspendia o contrato e o pagamento dos 
dias de paralisação ficava a cargo do empregador ou da Justiça do Trabalho, desde 
que fossem deferidas, no todo ou em parte, as reinvindicações formuladas pelos 
grevistas. Detalhe, até mesmo na ditadura militar o corte de ponto só era autorizado 
após a greve ser considerada ilegal. 
Sob a égide do antigo regramento infraconstitucional, a Lei nº 4.430/64, a 
greve política e de solidariedade eram proibidas de forma expressa, nos seguintes 
termos: “a greve será reputada ilegal: III – se deflagrada por motivos políticos, 
partidários, religiosos, sociais, de apoio ou solidariedade, sem quaisquer 
reinvindicações que interessem, direta ou legitimamente, à categoria profissional”. 
A Constituição Federal de 1967 assegurou o direito de greve aos 
trabalhadores da iniciativa privada, vedando-o aos servidores públicos e atividades 
essenciais definidas em lei. A Emenda Constitucional nº 01/69, que parte da doutrina 
considera ser uma nova constituição, limitou-se a manter a disposição constitucional 
anterior, em seus artigos 162 e 165, XXI. 
O Decreto-Lei nº 1.632/78 estabeleceu quais seriam os serviços públicos e 
atividades essenciais em que o exercício do direito de greve estaria proibido. No 
mesmo sentido, a Lei da Segurança Nacional (Lei 6.620/78) previa os crimes contra a 
segurança nacional, punindo a incitação à paralisação dos serviços públicos e à 
cessação coletiva do trabalho por parte de funcionários públicos. 
Outrossim, Miron (2017, p. 20) destaca que a partir de 1979 eclodiram 
diversos movimentos grevistas no Brasil. Com o passar dos anos, houve um 
reconhecimento formal de que a greve consistiria em uma forma legítima de 
manifestação dos interesses sociais da classe trabalhadora. 
Diante desse novo modelo de relação de trabalho, a dita “Nova República” e 
a Constituição de 1988 passou a reconhecer o instituto da greve como um direito 
social, um instrumento democrático a serviço da cidadania, sendo entendido como 
uma reação natural dos trabalhadores em prol de melhoria nas condições de trabalho. 
27 
 
Sobre isso, a Constituição de 1988 assegurou aos trabalhadores da iniciativa 
privada o direito de greve em seu artigo 9º, regulamentado atualmente pela lei 
7.783/89. Abaixo o texto original da Constituição: 
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir 
sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio 
dele defender. 
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o 
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. 
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. 
(BRASIL, 1988) 
 
No que tange aos servidores públicos civis, a Constituição Federal também 
reconheceu a eles o direito de greve em seu artigo 37, VII, condicionando, porém, seu 
exercício, primeiramente, à edição de lei complementar. Com a Emenda 
Constitucional nº 19/98, o exercício do direito passou a depender de regulamentação 
por lei específica, ainda não aprovada pelo Congresso Nacional. 
Entretanto, de acordo com Oliveira (2013), ainda que o Art. 37 da Constituição 
de 1988 abranja os servidores da Administração direta e indireta, a Lei de Greve se 
aplica aos empregados das empresas públicas e sociedades de economia mista, 
como Correios e Petrobrás, por força do Art. 173, §1°, inc. II, também da Constituição, 
que lhes impõe regime jurídico igual ao das empresas privadas. 
Portanto, no momento estariam pendentes apenas a regulamentação dos 
termos e dos limites da greve dos servidores públicos estatutários civis. Sendo esta 
uma questão atual no ordenamento jurídico brasileiro, tendo em vista que, como a 
História sempre mostrou, a falta de regulamentação ou até mesmo a proibição não 
impediu que os trabalhadores de praticar a greve. Por isso, o capítulo seguinte busca 
aprofundar o conceito de agentes públicos. 
28 
 
3 REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES E SERVIÇOS PÚBLICOS 
 
Junto ao conceito de Estado moderno surgem os serviços públicos. Até 
mesmo o Liberalismo clássico, que defendia o Estado mínimo, reconhece que alguns 
serviços devem ser responsabilidade pública, como a segurança, a administração da 
Justiça, a construção e manutenção de bens de uso coletivo, como estradas e pontes, 
dentre outros. 
Considerando que o Estado é pessoa jurídica e que, como tal, não dispõe de 
vontade própria, ele atua sempre por meio de pessoas físicas, a saber, os agentes 
públicos. 
Várias teorias surgiram para explicar as relações do Estado pessoa jurídica 
com seus agentes, quais Di Pietro (2014, p. 589-590) destaca: 
1. pela teoria d o mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurídica; 
a teoria foi criticada por não explicar como o Estado, que não tem vontade 
própria, pode outorgar o mandato; 
2. pela teoria da representação, o agente público é representante do Estado 
por força de lei; equipara-se o agente à figura do tutor ou curador, que 
representam os incapazes; a teoria também foi criticada, quer por equiparar 
a pessoa jurídica ao incapaz, quer por implicar a ideia de que o Estado 
confere representantes a si mesmo, quando não é isso o que ocorre na tutela 
e curatela; além disso, essa teoria, da mesma forma que a anterior, teria outro 
inconveniente : quando o representante ou mandatário ultrapassasse os 
poderes da representação, a pessoa jurídica não responderia por esses atos 
perante terceiros prejudicados; 
3. pela teoria do órgão, a pessoa jurídica manifesta a sua vontade por meio 
dos órgãos, de tal modo que quando os agentes que os compõem 
manifestam a sua vontade, é como se o próprio Estado o fizesse; substitui-se 
a ideia de representação pela de imputação. 
 
Não obstante, a autora destaca que, enquanto a teoria da representação 
considera a existência da pessoa jurídica e do representante como dois entes 
autônomos, a teoria do órgão funde os dois elementos, para concluir que o órgão é 
parte integrante do Estado. 
Por conta disso, essa teoria seria utilizada por muitos autores para justificar a 
validade dos atos praticados por funcionário de fato; considera-se que o ato do 
funcionário é ato do órgão e, portanto, imputável à Administração. A mesma solução 
não é aplicável à pessoa que assuma o exercício de função pública por sua própria 
conta, quer dolosamente (como o usurpador de função), quer de boa-fé, para 
29 
 
desempenhar função em momentos de emergência, porque nesses casos é evidente 
a inexistência de investidura do agente no cargo ou função. 
Com base na teoria do órgão, pode-se definir o órgão público como uma 
unidade que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos que o integram 
com o objetivo de expressar a vontade do Estado. Na realidade, o órgão não se 
confunde com a pessoa jurídica, embora seja uma de suas partes integrantes; a 
pessoa jurídica é o todo, enquanto os órgãos são parcelas integrantes do todo. 
O órgão também não se confunde com a pessoafísica, o agente público, 
porque congrega funções que este vai exercer. Sobre isso, destaca-se que uma das 
dimensões do princípio da Impessoalidade da Administração Pública, significa que “os 
atos e provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica, 
mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública, de sorte que ele 
é o autor institucional do ato. Ele é apenas o órgão que formalmente manifesta a 
vontade estatal”. (DI PIETRO, 2014, p. 68). 
Contudo, destaca ainda Di Pietro, “servidor público” é expressão empregada 
ora em sentido amplo, para designar todas as pessoas físicas que prestam serviços 
ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vínculo empregatício, ora 
em sentido menos amplo, que exclui os que prestam serviços às entidades com 
personalidade jurídica de direito privado, os empregados públicos. Entretanto, apesar 
da Constituição não utilizar o vocábulo ‘funcionário’, isto não impede que este seja 
mantido na legislação ordinária. 
Outrossim, também existem preceitos aplicáveis a outras pessoas que 
exercem função pública; esta, em sentido amplo, compreende não só a função 
administrativa, de que cuida o capítulo referente à Administração Pública, mas 
também as funções legislativa e jurisdicional, tratadas em capítulos próprios, e ainda 
há as pessoas que exercem função pública, sem vínculo empregatício com o Estado. 
Daí a necessidade de adoção de outro vocábulo, de sentido ainda mais amplo 
do que servidor público para designar as pessoas físicas que exercem função pública, 
com ou sem vínculo empregatício. Em razão disto, os doutrinadores brasileiros 
passaram a falar em agente público nesse sentido amplo. 
 
3.1 AGENTES PÚBLICOS E O REGIME ESTATUTÁRIO 
 
30 
 
Na Constituição de 1988, de acordo com Di Pietro (2014, p. 633), existem 
quatro categorias de agentes públicos: “1. agentes políticos; 2. servidores públicos; 3. 
militares; e 4. particulares em colaboração com o Poder Público”. 
Conceituando cada um deles, a autora ensina que agentes Políticos são os 
titulares dos cargos estruturais à organização política do País, ou seja, são os 
ocupantes dos cargos que compõem o arcabouço constitucional do Estado e, 
portanto, o esquema fundamental do poder. Sua função é a de formadores da vontade 
superior do Estado." Para ele, são agentes políticos apenas o Presidente da 
República, os Governadores, os Prefeitos e respectivos auxiliares imediatos (Ministros 
e Secretários das diversas pastas), os Senadores, os Deputados e os Vereadores. 
Nesse contexto, a função política “implica uma atividade de ordem superior 
referida à direção suprema e geral do Estado em seu conjunto e em sua unidade, 
dirigida a determinar os fins da ação do Estado, a assinalar as diretrizes para as outras 
funções, buscando a unidade de soberania estatal”. Compreende, basicamente, as 
atividades de direção e as colegislativas, ou seja, as que implicam a fixação de metas, 
de diretrizes, ou de planos governamentais. 
Os servidores públicos, em sentido amplo, são as pessoas físicas que 
prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vínculo 
empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos. Compreendem: 
1. os servidores estatutários, sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de 
cargos públicos; 
2. os empregados públicos, contratados sob o regime da legislação 
trabalhista e ocupantes de emprego público; 
3. os servidores temporários, contratados por tempo determinado para 
atender à necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, 
IX, da Constituição); eles exercem função, sem estarem vinculados a cargo 
ou emprego público. (DI PIETRO, 2014, p. 588-599). 
 
Os da primeira categoria submetem-se a regime estatutário, estabelecido em 
lei por cada uma das unidades da federação e modificável unilateralmente, desde que 
respeitados os direitos já adquiridos pelo servidor. Quando nomeados, eles ingressam 
numa situação jurídica previamente definida, à qual se submetem com o ato da posse; 
não há possibilidade de qualquer modificação das normas vigentes por meio de 
contrato, ainda que com a concordância da Administração e do servidor, porque se 
trata de normas de ordem pública, cogentes, não derrogáveis pelas partes. 
31 
 
Enquanto os da segunda categoria são contratados sob regime da legislação 
trabalhista, que é aplicável com as alterações decorrentes da Constituição Federal; 
não podem Estados e Municípios derrogar outras normas da legislação trabalhista, já 
que não têm competência para legislar sobre Direito do Trabalho, reservada 
privativamente à União (art. 22, I, da Constituição). Embora sujeitos à CLT, submetem-
se a todas as normas constitucionais referentes a requisitos para a investidura, 
acumulação de cargos, vencimentos, entre outras previstas no Capítulo VII, do Título 
III, da Constituição. 
Por fim, os da terceira categoria são contratados para exercer funções em 
caráter temporário, mediante regime jurídico especial a ser disciplinado em lei de cada 
unidade da federação. Eles substituem os servidores a que fazia referência ao artigo 
106 da Constituição de 1967 (com a redação dada pela Emenda Constitucional 
nº1/69), que previa, também, um regime especial para duas hipóteses: servidores 
admitidos em serviços de caráter temporário ou contratados para funções de natureza 
técnica especializada. 
A Constituição de 1988, que substituiu a expressão funcionário público por 
servidor público, previu, na redação original, regime jurídico único para os servidores 
da Administração Direta, autarquias e fundações públicas (art. 39). A partir da Emenda 
Constitucional nº 19/98, a exigência tinha deixado de existir, de modo que cada esfera 
de governo podia instituir o regime estatutário ou o contratual, com possibilidade de 
conviverem os dois regimes na mesma entidade ou órgão, não havendo necessidade 
de que o mesmo regime adotado para a Administração Direta fosse igual para as 
autarquias e fundações públicas. No entanto, o Supremo Tribunal Federal suspendeu, 
em ação direta de inconstitucionalidade, a vigência do artigo 39, caput, voltando a 
aplicar-se o dispositivo em sua redação original. 
Algumas categorias se enquadrarão necessariamente como servidores 
estatutários, ocupantes de cargos e sob regime estatutário, estabelecido por leis 
próprias: trata-se dos membros da Magistratura, do Ministério Público, do Tribunal de 
Contas, da Advocacia Pública e da Defensoria Pública. 
Além disso, também ocupam necessariamente cargos públicos, sob regime 
estatutário, os servidores que “desenvolvam atividades exclusivas de 
Estado”; isto porque o artigo 247 da Constituição, acrescentado pelo artigo 
32 da Emenda Constitucional nº 19/98, exige sejam fixados, por lei, "critérios 
e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor público estável que, 
em decorrência das atribuições de seu cargo efetivo, desenvolva atividades 
exclusivas de Estado". Ainda não foram definidas as carreiras de Estado, 
mas, com certeza, pode-se afirmar que abrangem, além dos servidores que 
32 
 
atuam nas áreas de polícia civil ou militar, controle, fiscalização, diplomacia e 
regulação. 
Os servidores das empresas públicas, sociedades de economia mista e 
fundações privadas regem-se pela legislação trabalhista. Para as empresas 
que exercem atividade econômica, esse regime é imposto pelo artigo 173, § 
1 º, da Constituição. Para os demais, não é obrigatório, mas é o que se adota 
por meio das leis ordinárias, por ser o mais compatível com o regime de direito 
privado a que se submetem. (DI PIETRO, 2014, p. 602). 
 
Ainda sobre o regime estatutário: 
O regime jurídico dos servidores é, portanto, o conjunto de normas que 
estabelecem os direitos e deveres desses agentes públicos, pelo menos 
aqueles que se possam imputar de modo geral aos servidores públicos. Isso 
porque, para além de direitos e deveresgerais, os servidores públicos 
também devem observar normas específicas, relativas a determinadas 
categorias de agentes, diferenciados, sobretudo, pela natureza da atividade 
exercida. Assim é que servidores tais como professores, policiais civis e 
médicos, além das normas do regime jurídico único comum a todos, deverão 
também submeter-se a regras que são próprias das atividades exercidas 
pelas respectivas categorias. Mas mesmo essas normas específicas devem 
ser da mesma natureza daquelas do regime comum dos servidores públicos, 
no sentido de pertencerem ao direito administrativo ou ao direito do trabalho. 
(ARAUJO, 2017). 
 
Complementa Araújo (2017, p.12) que, independentemente da posição que 
se possa adotar no tocante à natureza do regime único, para a sua boa aplicabilidade, 
é imprescindível estabelecer o seu alcance, ou seja, determinar quais as espécies de 
servidores públicos estão nele incluídos e quais os excluídos. 
Para a delimitação dos servidores excluídos do regime único, é relevante 
atentar para o fato de que a CF estabeleceu normas específicas para determinadas 
carreiras do serviço público, com o claro propósito de diferenciá-las da generalidade 
dos servidores públicos no tocante ao regime jurídico. 
Assim, regimes específicos encontram-se previstos para os militares (CF, art. 
42, § 1º, e art. 142, § 3º, X), para os magistrados (CF, art. 93, que prevê o Estatuto da 
Magistratura) e para o Ministério Público (CF, art. 128, § 5º, com a previsão do Estatuto 
do Ministério Público). 
Caso os demais servidores públicos sejam submetidos ao regime estatutário, 
tanto eles quanto os servidores das carreiras com estatutos específicos serão 
caracterizados como agentes sujeitos a regimes da mesma natureza, ou seja, o 
regime estatutário. Porém, não há que se confundir a natureza do regime com o seu 
conteúdo. Regimes de conteúdos distintos podem ser da mesma natureza. No caso, 
teremos diversos regimes estatutários, na medida em que tivermos distintos estatutos, 
33 
 
com conteúdos diferentes, não obstante apresentarem todos a mesma natureza, 
sendo todos estatutários. 
Outra categoria de agentes públicos, os militares abrangem as pessoas físicas 
que prestam serviços às Forças Armadas: Marinha, Exército e Aeronáutica (art. 142, 
caput, e § 3º, da Constituição) - e às Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares 
dos Estados, Distrito Federal e dos Territórios (art. 42), com vínculo estatutário sujeito 
a regime jurídico próprio, mediante remuneração paga pelos cofres públicos, 
constituindo categoria própria. 
Por fim, os particulares em colaboração com o Poder Público são pessoas 
físicas que prestam serviços ao Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem 
remuneração. 
 
3.2 SERVIÇOS PÚBLICOS E OS SEUS PRINCÍPIOS 
 
 Sobre os serviços públicos, Miron (2017, p. 37) destaca que no ordenamento 
jurídico brasileiro atual, ainda existem divergências na doutrina quanto a definição do 
instituto, pois a sua noção sofreu diversas transformações no decurso do tempo, tanto 
no que tange aos seus elementos constitutivos, quanto no que diz respeito à sua 
abrangência. Além disso, a doutrina ora apresenta uma noção orgânica, ora expõe 
um conceito formal, ora oferece uma definição material. 
Sobre isso, José dos Santos Carvalho Filho explica que há duas concepções 
sobre o serviço público: uma concepção subjetiva e outra objetiva. Pela concepção 
subjetiva, são levados em consideração os órgãos do Estado responsáveis pela 
execução das atividades voltadas à sociedade. Pela concepção objetiva, o serviço 
público é a atividade em si, prestada pelo Estado e seus agentes. A partir disso, o 
autor discorre sobre os três critérios normalmente utilizados pela doutrina de modo a 
definir o serviço público. 
Pelo critério orgânico, serviço público é aquele prestado por órgãos públicos, 
diretamente pelo Estado. Esse critério é alvo de críticas, pois a execução das 
atividades públicas não se restringe ao Estado, podendo ser delegadas a particulares. 
Noutro vértice, pelo critério formal, serviço público é aquele disciplinado pelo regime 
de direito público. Entretanto, esse também seria um critério insuficiente, pois nem 
todo serviço público é prestado sob regime exclusivamente público. Isso porque 
34 
 
podem incidir regras de direito privado em alguns segmentos da prestação de serviços 
públicos. É o caso, por exemplo, das sociedades de economia mista e das empresas 
públicas. 
Contudo, Miron (2017, p. 38) destaca que de acordo com o critério material, 
serviço público seria aquele que atendesse direta e essencialmente à comunidade. 
Ocorre que existem atividades estatais que não atendem à comunidade de forma 
direta, mas sim de forma indireta e mediata. Além disso, nem todas as atividades 
executadas pelo Estado são frutos de uma demanda essencial da coletividade, isto é, 
muitas das vezes são executadas atividades secundárias pelo Estado. 
Diante do apresentado, Carvalho Filho (2015, p. 333) conceitua o serviço 
público como “toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, 
basicamente sob regime de direito público, em vistas à satisfação de necessidades 
essenciais e secundárias da coletividade”. Nas palavras de Hely Lopes Meirelles 
(2016, p. 418), “serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por seus 
delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais 
ou secundárias da coletividade ou simples conveniências do Estado”. 
Quanto aos princípios do inerentes ao serviço público, destacam-se os 
princípio o da continuidade do serviço público, o da mutabilidade do regime jurídico e 
o da igualdade dos usuários. 
Quanto à continuidade dos serviços públicos, este princípio tem aplicação 
especialmente com relação aos contratos administrativos e ao exercício da função 
pública. No magistério de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2014, p. 113) é possível 
identificar as duas dimensões desse princípio: 
No que concerne aos contratos, o princípio traz como consequências: 
1. a imposição d e prazos rigorosos a o contraente; 
2. a aplicação da teoria d a imprevisão, para recompor o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato e permitir a continuidade do serviço; 
3. a inaplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus contra a 
Administração; 
4. o reconhecimento de privilégios para a Administração, como o de 
encampação, o de uso compulsório dos recursos humanos e materiais da 
empresa contratada, quando necessário para dar continuidade à execução 
do serviço. 
Quanto ao exercício da função pública, constituem aplicação do princípio da 
continuidade, dentre outras hipóteses: 
1. as normas que exigem a permanência d o servidor e m serviço, quando 
pede exoneração, pelo prazo fixado em lei; 
2. os institutos da substituição, suplência e delegação; 
35 
 
3. a proibição do direito de greve, hoje bastante afetada, não só no Brasil, 
como também em outros países, como a França, por exemplo. Lá se 
estabeleceram determinadas regras que procuram conciliar o direito de greve 
com as necessidades do serviço público; proíbe-se a greve rotativa que, 
afetando por escala os diversos elementos de um serviço, perturba o seu 
funcionamento; além disso, impõe-se aos sindicatos a obrigatoriedade de 
uma declaração prévia à autoridade, no mínimo cinco dias antes da data 
prevista para o seu início. 
 
A aplicabilidade do princípio da continuidade dos serviços públicos no 
contexto do exercício da função pública e a constante luta dos servidores faz com que 
a edição de lei específica que regulamenta o direito de greve seja cada vez mais 
relevante e urgente. 
 
3.3 PROJETOS DE LEI SOBRE A GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO 
 
No início do ano de 2020, dois projetos mais avançados se destacam no 
Congresso Nacional. Na Câmara, o 4497/2001, de autoria da deputada Rita Camata 
(PMDB/ES), que tramita na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania

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