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Construções de bambu

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Construções de bambu
Estudos indicam que o produto é opção viável para exploração no Brasil. Uso, porém, depende da criação de linhas de produção em escala comercial
	
	
	
	
	
		La Catedral Alterna Nuestra Señora de La Pobreza, de Simón Vélez, Colômbia
	
	
	Na China, ouro verde. No Brasil, madeira dos pobres. Se no gigante asiático o bambu é largamente empregado há milênios - dos hashis (pauzinhos usados como talheres) às estruturas das construções - em terras brasileiras, apesar da abundância, o uso ainda é muito restrito. Na maioria das vezes, o produto atua como figurante em cercas, mobiliário e peças de artesanato. Mas um grupo de pesquisadores de diferentes entidades está trabalhando para mudar esse cenário. É o caso da Ebiobambu (Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu), em Visconde de Mauá (RJ). Fundada em 2002, a escola tem por meta disseminar as técnicas construtivas que utilizam o bambu e outros materiais considerados naturais ou ecológicos, como terra e fibras. "Acreditamos que o bambu é uma opção mais sustentável às madeiras de reflorestamento, auto-renovável e de rápido crescimento. O eucalipto, por exemplo, leva seis anos para ser cortado e o bambu só três anos. Além disso, não é necessário ser replantado", afirma Celina Llerena, arquiteta e diretora da Ebiobambu. Enquanto espécies arbóreas demoram até 60 anos para atingir 18 m, o bambu - considerado uma gramínea - demora apenas 60 dias para chegar a essa altura. A generosidade dos comprimentos dos bambus permite construções mais espaçosas e com grandes pés-direitos. 
Parte do estímulo à pesquisa vem do sucesso obtido em países vizinhos. "Na Colômbia e no Equador, construir com bambu faz parte da cultura local, ao contrário do Brasil", compara Eduardo de Aranha, arquiteto, urbanista e pesquisador da Unicamp. Segundo Aranha, na Colômbia, por exemplo, existem programas de habitação popular com base no bambu. Para o doutor Antonio Ludovico Beraldo, professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, arquitetos e engenheiros como Simón Vélez, Oscar Hidalgo Lopez e Jorg Stamm impulsionam a fama colombiana. Na Colômbia, por exemplo, o arquiteto Simón Vélez projetou uma igreja toda de bambu. "Além de excelentes profissionais, a Colômbia tem a vantagem de ter matéria-prima abundante, da espécie Guadua angustifolia, mão-de-obra qualificada e equipamentos desenvolvidos especialmente para trabalhar com o material", complementa Beraldo. Situação semelhante ocorre em países como China, Japão e Índia, onde o uso do bambu está consagrado. 
Somando-se as experiências, o mercado mundial do produto movimenta cerca de US$ 14 bilhões por ano, segundo o INBAR (International Network for Bamboo and Rattan). Na avaliação do INBAR, o bambu é uma solução viável e sustentável para combater o déficit habitacional: as casas de bambu são de baixo custo e mínimo impacto ambiental, fáceis de construir, duráveis, flexíveis, adaptáveis socialmente e resistentes a terremotos.
Embora tradicionalmente o bambu seja mais explorado no meio rural, o material tem sido cada vez mais empregado nas edificações urbanas. Em Hong Kong e na Colômbia, é possível encontrar grandes edifícios em construção cercados por gigantescos andaimes de bambu. Outras aplicações temporárias também são freqüentes, como em fôrmas e no escoramento de lajes. "Para aplicações usuais de colunas de cerca de 4 m de altura, colmos de bambu são perfeitamente adaptados para desempenhar essa função", garante Beraldo. 
	
	
	
	
	
	À esquerda, projeto de habitação popular no Peru; à direita, ponte em parque na cidade de Armenia, Colômbia, de Jorg Stamm
	
	
	
	No Brasil
Embora o País tenha reservas naturais do material e condições de plantio, o bambu ainda não é muito utilizado aqui. Segundo um levantamento feito pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), só no Estado do Acre 38% das florestas são compostas por bambuzais naturais. "E temos grandes áreas de bambu também na região do parque de Foz do Iguaçu e às margens de alguns rios do Pantanal", diz o professor Beraldo. As pesquisas, no entanto, estão apenas no início. Calcula-se que das cerca de 1.300 espécies desse tipo de gramínea existentes no mundo, 400 delas são encontradas no Brasil. "O número é impreciso porque ainda faltam levantamentos nessa área", afirma Marco Antonio dos Reis Pereira, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp, em Bauru. 
Ensaios feitos na universidade mostram que os mais indicados para uso estrutural são bambus pertencentes aos gêneros Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu), Dendrocalamus (denominado Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys pubescens. "Esses são os que apresentam melhores propriedades físicas e mecânicas e por isso são os mais adequados", diz. Celina Llerena explica que os colmos dos bambus têm uma fração fibrosa estrutural que representa até 70% de sua massa. Tal característica confere aos colmos elevada resistência mecânica à tração, compressão e flexão. Além disso, as estruturas são leves, resistentes e flexíveis. "Uma fita de bambu, quando comparada a uma de aço de iguais dimensões, tem maior resistência à tração", argumenta. 
Para ela, as desvantagens do material dizem respeito, entre outras coisas, à falta de divulgação das técnicas construtivas e de mecanismos de crédito oficiais para introdução de uma cultura de plantio em áreas degradadas, criando sustentabilidade para a comunidade local, assim como material para ser usado em construções ou como laminados. Apesar disso, Celina ressalta que o bambu, se colhido e tratado corretamente para aumentar a durabilidade (veja boxe sobre preservação), "pode substituir plenamente a madeira e ter o mesmo resultado". Alguns cuidados, no entanto, são fundamentais. "O bambu precisa estar afastado do chão no mínimo 40 cm, sobre uma bolacha de barra chata e fina de ferro, aço, bronze ou sobre bailarinas para, assim, não ter contato com a umidade que sobe do solo." Beirais grandes, complementa a arquiteta, evitam a incidência das intempéries, reduzindo gastos com manutenção. 
	
	
	
	
		Concha de espetáculo no parque de Armenia, Colômbia
	
	
	Laminados de bambu
Há duas principais formas de usar o bambu: in natura e laminado. Como no Brasil não se tem cultura para utilizá-lo na forma em que se apresenta na natureza, "há pesquisas para usar bambu laminado colado, ou BLC", explica Marco Pereira. De acordo com Pereira, os testes já indicam sinais positivos. O material é versátil e pode ser aplicado como piso, forro, vigas, painéis, elementos estruturais. O laminado de bambu está sendo pesquisado também no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Márcio Nahuz, engenheiro florestal e pesquisador da Divisão de Produtos Florestais do IPT, orientou uma dissertação de mestrado sobre o assunto. "O piso laminado de bambu é extremamente estável, tem apelo estético e ecológico, é diferente e tem a vantagem da alta produtividade, já que o material se reproduz muito rapidamente", explica Nahuz. 
O problema é que ainda não existe um mercado estabelecido para o bambu, com áreas de plantio, fornecedores e empresas que processem o material. Márcio Araújo, diretor do Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica), concorda com Nahuz. Especialista em materiais ecológicos, Araújo acredita que o bambu, apesar do potencial para a construção civil, ainda está longe de ser visto com apreço pelo mercado. "Enquanto o bambu for considerado um material alternativo ou marginal, e não uma opção de mercado, continuará restrito a um pequeno grupo que buscou se especializar nesse segmento", diz. "Os pesquisadores estão fazendo o que lhes cabe, mas sem chegar à escala comercial, o avanço não acontecerá", conclui.
Técnicas de preservação do bambu
O bambu apresenta baixa durabilidade natural por causa da presença do amido, que atrai fungos. Para prolongar a vida útil do bambu, existem algumas técnicas
 Observação da idade parao corte: esse é o procedimento mais simples de ser efetuado. Os colmos maduros (com mais de três anos) geralmente são mais resistentes aos ataques de fungos e de insetos, além de apresentarem melhor desempenho mecânico. O maior problema refere-se ao desconhecimento da idade dos colmos, já que a marcação anual, na maioria das vezes, não é feita regularmente.
 Cura na mata: os colmos de bambu são cortados e deixados para secar na própria touceira, geralmente apoiando-se a base inferior do colmo em uma pedra. Quando as folhas secam e caem, o colmo já pode ser utilizado. Essa técnica, denominada avinagrado na Colômbia, facilita a degradação do amido e da seiva presentes no colmo, aumentandoa durabilidade
 Tratamento por imersão: os colmos podem ser imersos em água (parada ou corrente), ou em soluções preservativas. Em alguns casos os colmos devem ser recém-cortados. Em outros, pode-se utilizar colmos secos ao ar. Quando feito por aspersão, apresenta pouca eficiência, já que a absorção do produto é feita apenas pelas extremidades do colmo
 Tratamento pela fumaça e pelo fogo: os colmos recém-cortados são colocados em fogo rápido. Também se pode desenvolver um tipo de defumador que, em bambus alastrantes, provoca o escurecimento dos colmos, tornando-os muito atraentes para fins ornamentais. Aparentemente, o efeito do calor e da fumaça alteram ou degradam o amido, tornando o colmo mais resistente ao ataque do caruncho. Para aplicações em escala comercial devem ser projetadas instalações específicas para esse fim (de preferência com recuperação dos produtos químicos eliminados)
 Tratamento sob pressão: o uso de pressão torna o processo mais eficiente. O método mais recomendado para colmos recém-cortados é o Boucherie modificado. Bambus secos podem ser tratados em autoclaves (utilizadas para preservação da madeira). Nesse caso, os diafragmas devem ser perfurados para que o colmo não rache durante a fase de vácuo. É necessário também fazer um tratamento preventivo para que, durante a secagem, os colmos não sejam atacados pelo caruncho.
Fonte: Antonio Ludovico Beraldo, da Unicamp
Características mecânicas do bambu
1) Compressão 
Peças curtas de bambu podem suportar tensões superiores a 50 MPa, superando a resistência dos concretos convencionais. Além disso, o concreto tem densidade superior a 2 e o bambu apresenta 1/3 desse valor. Desse modo, se for considerada a resistência em relação à densidade (resistência específica), o bambu mostra-se mais eficiente do que o concreto.
2) Tração paralela às fibras 
O módulo de elasticidade do bambu situa-se em torno de 20.000 MPa, cerca de 1/10 do valor alcançado pelo aço. Cabos de bambus trançados oferecem resistência similar ao aço CA-25 (2.500 kgf/cm2). O peso, no entanto, 
é 90% menor.
3) Flexão estática 
O bambu apresenta rigidez suficiente para que possa ser utilizado em estruturas secundárias, na forma de treliças e vigas. Na Colômbia, Equador e Costa Rica foram desenvolvidos importantes projetos estruturais com o Guadua angustifolia
	
	
	
	
		Fonte: Antonio Ludovico Beraldo, Unicamp
	
	
	
Escola oferece cursos sobre construção com bambu
Fundada em 2002 pela arquiteta Celina Llerena, a Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu (Ebiobambu) visa pesquisar e disseminar conhecimentos referentes à aplicação de técnicas 
e materiais naturais e ecológicos, especialmente o bambu. 
A Ebiobambu, localizada em Visconde de Mauá (RJ), reúne profissionais que, além dos projetos arquitetônicos, oferecem cursos e palestras para incentivar o uso do material e formar mão-de-obra especializada. Um ano antes da criação da escola, Celina já fazia coleta de espécies de bambu. 
Hoje ela conta com um campo de propagação da gramínea e um banco genético com mais de 50 espécies diferentes. 
Endereço: Escritório na Rua Benjamim Batista, 7/301, 22461-120, 
Jardim Botânico, Rio de Janeiro. 
Telefone: (21) 2266-2197. 
Site: www.bambubrasileiro.com/ebiobambu, e-mail: ebiobambu@ebiobambu.com.br.
Pavilhão de meditação
Localização: Vale das Flores, Visconde de Mauá (RJ)
Área coberta: 146 m2
Área útil: 80 m2
Área de varanda: 39 m2
Vão livre interno do octógono: 11 m
Espécie de bambu utilizada: Phyllostachys pubescens (Moso)
Características da espécie: bambu tipo alastrante de altura média de 20 m. O diâmetro dos colmos chega a atingir 15 cm. Nativo da China - mas encontrado no Brasil - tem colmos resistentes e retos, sendo bastante adequado para construção.
Projeto e execução: arquiteta Celina Llerena/Ebiobambu
Conexões entre as peças: as ligações são feitas com barras rosqueadas ou ferro não encruado (rosqueado na ponta) de 5/16. Nas conexões principais, no entanto, é feito preenchimento com cimento, areia e cal. Todas as peças usadas são bambus roliços da espécie Phyllostachys pubescens, com diâmetro médio de 10 cm. Nenhum desses componentes é pré-fabricado.
Pintura: segundo Celina Llerena, para realçar o material utiliza-se um impregnante - stain - que penetra nas fibras, tem ação fungicida e é fácil de reaplicar, já que não exige novo lixamento. 
Caixilhos: para inserir elementos como portas e janelas, a arquiteta recomenda deixar frestas de 1,5 cm de cada lado dos caixilhos. Assim, coloca-se o alizar, vedando-se com espuma de poliuretano.
Impermeabilização: nas junções com as fundações, o bambu é mantido afastado do chão a uma altura de, no mínimo, 40 cm sobre uma bolacha de barra chata e fina de ferro, aço ou bronze para evitar contato com a umidade e beirais grandes ajudam a evitar a incidência direta de sol e chuva.
Fundação
Para a fundação, diz Celina, utilizou-se tubo de concreto, "que é barato e não requer nenhuma fôrma". O concreto é do tipo ciclópico. "Nesse estágio da construção, utilizam-se dois ferros de 5/16 ou 3/8" (dependendo da espécie de bambu escolhida), que estão infincados até o terceiro nó e depois concretados."
Cobertura
O pavilhão tem forro de esteiras de palha comum coladas em placas de laminado melamínico furado. Por cima, uma subcobertura com alumínio e ripas de madeira, podendo ser usado qualquer tipo de cobertura, seja capim, sapé ou outras. 
Resistência à compressão
A exemplo das madeiras, o bambu seco (s) apresenta maior resistência do que o bambu verde (v), sendo que a base tende a ser a região de menor resistência. 
DG = Dendrocalamus giganteus
GV = Gigantoclhoa verticillata 
GA = Guadua angustifolia
	
	
	
	
		Fonte: Antonio Ludovico Beraldo/Unicamp
	
	
	
Serviço
 Ebiobambu - Escola de Bioarquitetura e Centro 
de Pesquisa e Tecnologia Experimental em Bambu www.bambubrasileiro.com/ebiobambu
 Inbar - International Network for Bamboo and Rattan www.inbar.int
Sites organizados pelo professor Antonio Ludovico Beraldo, da Unicamp www.brasilis.pro.br e www.agr.unicamp.br/bambubrasilis
Reportagem de Giuliana Capello
Téchne 108 - março de 2006

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