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1 Maria Luiza Fernandes - Medway Intubação orotraqueal - medway CLASSIFICAÇÃO DE CORMACK-LEHANE O QU E É ISS O N A LARING OSCOPIA ? Os pontos de referência para sabermos classificar são: epiglote (na região anterior), glote (central) e aritenóides (posterior). CORMACK-LEHANE E SUAS POSSÍVEIS CONDUTAS • Grau 1 - glote totalmente visível Prossiga com a intubação • Grau 2 - porção posterior da glote visível Prossiga com a intubação • Grau 3 - somente epiglote visível (nesse caso OU você ventila temporariamente com máscara laríngea - dispositivo supraglótico [uma boa saída naquele plantão de R1 na enfermaria em que o chefe não está por perto e você não está conseguindo intubar] OU “manobra a via aérea” e intuba com auxílio de bougie - uma espécie de “fio guia” para a intubação). Se não der para ventilar mesmo assim (geralmente vai dar com as condutas acima), considere despertar o paciente OU indicar uma cricotireoidostomia (em casos muito excepcionais, geralmente não precisará). • Grau 4 - nem glote e nem epiglote visíveis (tente passar uma máscara laríngea para ventilar o paciente OU nos casos extremos que você não conseguir ventilar, a cricotireoidostomia cirúrgica é uma possibilidade). Os pacientes com Cormack-Lehane grau 4 preferencialmente deverão ser intubados eletivamente, despertos e por broncoscopia, mas, no contexto de emergência, as condutas acima propostas são possibilidades. DROGAS E SEQUÊNCIA RÁPIDA DE INTUBAÇÃO QUANDO VOU INDICAR UMA DROGA PARA PRÉ- TRATAMENTO? • Antes de decidir se você irá ou não utilizar uma droga no pré- tratamento, duas análises deverão ser feitas: I. os efeitos desencadeados pela manipulação da via aérea na laringoscopia e passagem do tubo irão provocar piora clínica do meu paciente? II. o meu paciente tolera os efeitos adversos das drogas utilizadas na pré-medicação? • Se você estiver convencido que o paciente preenche esses dois requisitos, então considere realizar o pré-tratamento (uma conduta suplementar à sequência rápida de intubação). • Seguinte, muitas das drogas que vocês irão utilizar como agentes indutores na sequência rápida terão efeito hipnótico, mas nem sempre irão proporcionar analgesia. Frente à isso, durante a laringoscopia e passagem do tubo orotraqueal há estímulo das vias simpáticas e parassimpáticas presentes na laringe, faringe e carina traqueal e esse estímulo é responsável por causar importante bradicardia (visto principalmente em crianças) e, nos adultos, são gatilhos de estimulação adrenérgica e causam aumento da pressão arterial sistêmica e da pressão intracraniana. • Agora imagine que você irá intubar um paciente com dissecção aórtica aguda OU com hematoma subdural e sinais de herniação - concordam que é iatrogênico piorar o quadro clínico desses pacientes ao causar esse incremento pressórico? • Outra informação importante: para ter o efeito desejado, um pré- tratamento deve ser instituído cerca de 3 minutos antes da laringoscopia. Nem sempre dispomos desse tempo em um paciente grave e, nesses casos, devemos reconsiderar se a indicação de um pré-tratamento não causará mais efeitos indesejados do que benefícios. • Principais opções e indicações: A. Lidocaína (1,5mg/kg) Indicada para suprimir os efeitos da manipulação das vias aéreas nos pacientes asmáticos (por reduzir a resistência das vias aéreas) e com hipertensão intracraniana. Já foi bastante recomendada num contexto de um paciente com asma grave, por um possível efeito na broncoconstrição, mas saibam que o uso do medicamento como pré-tratamento é controverso. Não deve ser utilizada em pacientes com bloqueio atrioventricular de alto grau (Mobitz II ou BAVT) devido ao risco de agravamento e instabilização. B. Fentanil (1-3mcg/kg) Um opioide potente de curta duração poderá ser indicado somente se houver tempo suficiente para sua ação E o paciente estiver normotenso ou hipertenso E em um contexto clínico que o estímulo adrenérgico seja deletério (como uma emergência hipertensiva). Atenção: se administrado em altas doses e em curto período de tempo, o paciente poderá experimentar a “síndrome do tórax rígido”, caracterizada por apneia e importante dificuldade de ventilação com sistema bolsa-válvula-máscara decorrente de rigidez muscular idiossincrática. O quadro é resolvido ou minimizado com a administração de um bloqueador neuromuscular. #FicaDica: - Asmático grave - lidocaína - Hipertensão intracraniana ou emergência hipertensiva - fentanil (se normotenso OU hipertenso / NÃO REALIZAR no hipotenso). INICIANDO A SEQUÊNCIA DE INTUBAÇÃO: AGENTES INDUTORES • Ao indicar uma intubação, faz parte da etapa da preparação (P1) analisar qual é o cenário clínico e definir qual indutor de ação rápida e bloqueador neuromuscular serão utilizados. • Vejam as principais opções de agentes indutores (hipnóticos): A. Etomidato (0,3mg/kg) Uma das drogas que menos interfere na hemodinâmica, o etomidato apresenta início de ação entre 15 a 45 segundos e duração de sedação entre 3 a 12 minutos (é só pra dar uma noção de tempo, não precisa decorar!) Apesar de ser um bom sedativo, não apresenta adequado efeito analgésico. Indicação: -Bom para todas as intubações 2 Maria Luiza Fernandes - Medway -Pacientes com instabilidade hemodinâmica (sem efeito cardiovascular) Controvérsia: por ser um inibidor reversível de um precursor do cortisol, a utilização do etomidato (mesmo em dose única) pode provocar uma redução dos níveis séricos do hormônio entre 12 a 24 horas da utilização (mas não abaixo da faixa fisiológica). A despeito dessa propriedade, parece ser seguro a utilização em dose única nos pacientes sépticos (principalmente porque tem baixa interferência na hemodinâmica - o que não ocorre em muitos outros indutores). • A manutenção da sedação com etomidato não deve ser realizada - supressão adrenal iatrogênica! • Em caso de piora da hipotensão em pacientes sépticos após uso de droga, uma dose única de corticoide pode ser utilizada (100mg de hidrocortisona, por exemplo). B. Midazolam (0,2 a 0,3mg/kg) Com início de ação um pouco mais demorado (entre 30 a 60 segundos) e duração de ação entre 15 a 30 minutos, o midazolam é uma boa indicação para intubação do paciente com estado de mal epiléptico e que esteja normotenso. No contexto de emergência, tem indicação mais restrita pelo efeito hipotensor moderado (podendo reduzir em até 25% da pressão arterial sistêmica em pacientes saudáveis). Portanto, em um contexto de choque, prefiram utilizar cetamina ou etomidato devido melhor performance hemodinâmica. Indicações: - Estado de mal epiléptico C. Cetamina (1 a 2mg/kg, dose média: 1,5 mg/kg) Apresenta propriedade sedativa E analgésica, início de ação entre 45 a 60 segundos e duração de ação entre 10 a 20 minutos. É uma boa droga para sequência rápida e age promovendo ativação de diversos tipos de receptores e, com isso, causa diversos efeitos sistêmicos (analgesia, sedação e descarga catecolaminérgica [aumento da PA, FC, contratilidade e fluxo cerebral]). Indicações: -Intubação de paciente acordado (não suprime o drive respiratório). -Broncoespasmo (aparente efeito broncodilatador devido estímulo catecolaminérgico) Evitar: - Procedimentos (como cardioversão elétrica) - devido ao Fenômeno de Reemergência (ou Dissociação) - no qual o paciente experimenta sonhos desagradáveis e delirium conforme vai passando o efeito da droga. Esse efeito é bastante suprimido no paciente que é intubado e inicia com infusão contínua de benzodiazepínicos. - Evitado o uso em paciente com emergência hipertensiva e hipertensão intracraniana devido estímulo adrenérgico. D. Propofol (1,5 a 3,0mg/kg) Uma das melhores drogas para procedimentos devido seu rápido início de ação (15 a 45 segundos) e tempo reduzido de manutenção da sedação (5 a 10 minutos). Apresenta efeito de supressão da atividade simpática, causando depressão miocárdica e vasodilataçãoperiférica (tais efeitos promovem queda de cerca de 10mmHg na PAM). Atenção: por ser formado a partir de um lipídio altamente solúvel, pode provocar hipertrigliceridemia (inclusive, os níveis de triglicerídeos séricos devem ser regularmente monitorados naqueles pacientes que estão fazendo propofol em infusão contínua e em nutrição parenteral - por receber alto influxo lipídico na dieta). Indicações: - Procedimentos rápidos -Hemodinamicamente estáveis ou indivíduos que toleram redução da PA causada pela cardiodepressão + vasodilatação periférica. -Broncoespasmo -Estado de mal epiléptico PARALISANDO O PACIENTE • A utilização de bloqueadores neuromusculares aumenta o sucesso da intubação, sendo assim contemplada no protocolo de sequência rápida. Os agentes disponíveis podem ter propriedade despolarizante OU não-despolarizante. Confiram as duas principais opções de drogas dessa classe: • Agente despolarizante: Succinilcolina (1,5mg/kg) • Succinilcolina é o agente despolarizante mais comumente utilizado na emergência e age através da propriedade de análogo da acetilcolina - promovendo uma fasciculação inicial, seguida de paralisia; o efeito não é duradouro pois a substância é hidrolisada por uma enzima pseudocolinesterase. Apresenta início de ação entre 45 a 60 segundos e duração de ação entre 6 a 10 minutos. Pode ser utilizado com segurança na miastenia gravis, mas recomenda-se uma dose superior (2mg/kg inicialmente) para que consiga saturar os receptores de acetilcolina ainda viáveis no doente. Não utilizar em pacientes com: - Hipercalemia severa (e alterações no ECG) - principalmente nos pacientes agudos! Em paciente com doença renal crônica, parece ser seguro utilizar, mas deem preferência a um agente não- despolarizante - História pessoal ou familiar de hipertermia maligna - Paciente com distrofia muscular - Rabdomiólise - Doença neuromuscular que esteja relacionada a denervação (é segura na miastenia gravis) - Fase aguda do AVC e do grande queimado • Nesses pacientes, utilize… • Agentes não-despolarizantes: Rocurônio (1 a 1,2mg/kg) Indicado para pacientes em que a succinilcolina é contraindicada ou naqueles que necessitam de tempo mais prolongado de bloqueio neuromuscular. O rocurônio é o que tem melhor performance da classe dos não-despolarizantes, no contexto de emergência, devido menor meia-vida em relação aos demais. O tempo de início de ação é entre 45 a 60 segundos (pode ser diminuído através de flush de soro fisiológico) e duração de ação de 45 minutos (muito maior que as demais drogas utilizadas na sequência rápida). Atenção: antes de infundir um bloqueador neuromuscular, garanta que seu paciente esteja e persista adequadamente sedado durante o tempo de ação do bloqueador! NOÇÕES DE CAPNOGRAFIA • Solicitar a instalação do capnógrafo parece um absurdo porque geralmente não dispomos amplamente nos hospitais do SUS – é muito caro! Mas é interessante entender seu funcionamento, há 2 cenários principais que você solicitará a instalação do capnógrafo: I. Intubação orotraqueal - para ter um parâmetro fidedigno do correto posicionamento do tubo orotraqueal; II. Parada cardiorrespiratória - para ter um parâmetro da efetividade das compressões. MAS… O QUE EU QUERO COM ISSO? • A capnografia nada mais é do que uma medida não invasiva de medirmos a PCO2 expirada em um paciente intubado. Na realidade, é o método mais confiável de confirmarmos que o tubo está posicionado na via aérea - por isso é tão lembrado e importante. • A pressão parcial de CO2 terá uma representação gráfica (capnograma), que assumirá diferentes formas de acordo com o 3 Maria Luiza Fernandes - Medway contexto clínico. Por exemplo, se você intubar um esôfago, não formará curva; já, se estiver bem posicionado o tubo, a cada ventilação há formação de uma curva de PCO2 expirado. Algo interessante é que há estreita correlação entre a PCO2 obtida na capnografia com a PCO2 arterial. • Vejam como é uma curva de capnografia normal VS uma de intubação esofágica: • Na primeira figura vemos uma curva de capnografia normal, com PCO2 na expiração em torno de 35 a 40 mmHg, enquanto ao lado não vemos a formação de uma curva - compatível com intubação esofágica. • Outro contexto em que a capnografia é importante (principalmente quando falamos em prova prática), são em questões de ACLS, devido a correlação do débito cardíaco com o PCO2 expirado - portanto, é parâmetro para avaliarmos a efetividade de uma reanimação cardiopulmonar. O valor padrão que deve ser memorizado é 10mmHg - um estudo demonstrou que os pacientes que apresentaram retorno à circulação espontânea apresentaram, durante a RCP, um valor entre 10 a 20 mmHg na curva de capnografia. • De modo contrário, pacientes que passam mais de 20 minutos na reanimação e apresentam capnometria menor que 10 mmHg pouco provavelmente conseguirão retorno à circulação espontânea. É por isso que não devemos esquecer de solicitar!
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