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A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER DE PAULO FREIRE LEITURA AUTÊNTICA, RELEITURA DE MUNDO E CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS

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‘A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER’ DE PAULO FREIRE: LEITURA 
AUTÊNTICA, RELEITURA DE MUNDO E CONSTRUÇÃO DE 
SIGNIFICADOS. 
 
 
Prof
a
 Dra. Célia Maria Machado de Brito (UECE) 
 celiambrito@hotmail.com 
Prof
a
 Dra. Tânia Maria Leal Barbosa (UECE) 
leal.tania6@gmail.com 
Prof
a
 Dra. Maria Margarete Sampaio de Carvalho Braga (UECE) 
margaretesamp@yahoo.com.br 
 
 
RESUMO 
O objetivo desse trabalho foi analisar a compreensão e produção dos estudantes com e a 
partir da análise do texto A importância do Ato de Ler (FREIRE, 2001). Nosso interesse 
pelo ideário e pela práxis pedagógica de Paulo Freire nos conduziu à análise de uma 
experiência realizada com um grupo de alunos/as da disciplina de Metodologia do 
Trabalho Científico, do turno da noite, no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual 
do Estado do Ceará – UECE. A pesquisa foi de base qualitativa, constou da realização 
de leituras em duplas de estudantes e recriação do texto lido, no formato de resumo, 
contendo uma apreciação pessoal sobre o texto. Seguimos as recomendações de Bardin 
(2008), quanto à homogeneidade, exaustividade e adequação, chegamos ao mapeamento 
final, que constou da organização de blocos por temáticas: leitura autêntica, releitura 
de mundo e construção de significados. A leitura autêntica de texto, compreendida 
como o verdadeiro ato de estudar, ensaia a ruptura com o paradigma de que a condição 
de universitários é correspondente à condição de leitores proficientes, fato que nem 
sempre se conforma como correspondente. Esse entendimento é decorrente da 
compreensão de que o estudo do texto lhes permitiu situar-se na condição de 
“verdadeiros alfabetizados”. A leitura do texto de Paulo Freire suscitou renovações 
quanto ao modo dos estudantes se posicionarem diante do mundo e que a reinvenção de 
processos de leiturização do mundo passa pela construção de significados, também, do 
ato de escolher e propor leituras em sala de aula no ensino superior. 
 
Palavras chaves: Leitura autêntica, construção de significados, práxis pedagógica. 
 
A título de introdução: o anúncio de uma problemática 
Nosso interesse pelo ideário e pela práxis pedagógica de Paulo Freire nos 
conduziu à análise de uma experiência realizada com um grupo de alunos/as da 
disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, do turno da noite, no Curso de 
Pedagogia da Universidade Estadual do Estado do Ceará – UECE, no decorrer do 
primeiro semestre letivo de 2013. 
Reconhecido, por nós, como um objeto de estudo em construção, tal experiência 
encarna contingências próprias, decorrentes da compreensão de que a educação é uma 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 2
06270
mailto:leal.tania6@gmail.com
área interdisciplinar, em que se cruzam e circulam conceitos, saberes e práticas 
originários de campos disciplinares distintos, configurando uma espécie de mestiçagem 
de conhecimento, como quer Charlot (2006). 
Partimos do entendimento de que a ciência é uma forma de expressão e busca do 
conhecimento da realidade, imbricada nas relações sociais de produção. Referidas 
relações ganham vida na prática pedagógica, configurando-se como elementos 
constituidores da humanização, em conformidade com o pensamento de Paulo Freire. 
 As dimensões ou momentos do Ciclo do Conhecimento, ou Ciclo gnosiológico, 
de Paulo Freire, nos permitiram explicitar o conteúdo explicativo da prática pedagógica 
vivenciada na universidade. Segundo o autor, esses dois momentos se encontram 
dialeticamente articulados: o momento em que se ensina e se aprende o conhecimento já 
existente e o momento em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não 
existente (Shör; Freire, 1986). Paulo Freire (1999, p. 28) chama a atenção para o “... fato 
de que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que 
estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente”. 
Considerando os momentos que compõem o Ciclo do Conhecimento do qual nos 
fala Freire, e tomando como referência empírica a sala de aula, entendida aqui como 
espaço legítimo de produção de conhecimento, este estudo orienta-se pela seguinte 
problematização: Que conhecimentos podem ser construídos, reconstruídos, de maneira 
geral, e de modo particular, a partir do conhecimento produzido por Freire quando 
reflete sobre a importância do ato de ler? Que questões/situações emergiram dessa 
leitura? E, por último, qual a relevância do estudo do texto A importância do ato de Ler 
como elemento norteador da vida acadêmica de universitários em inicio de formação? 
A dinâmica posta pelo movimento do trabalho educativo na sala de aula nos 
permitiu inferir que a prática pedagógica mediatizada pelo diálogo palavramundo 
constitui elemento fundamental para a formação de uma consciência crítica, contributo 
fundamental para o processo de humanização. 
 A vivência profissional na disciplina em foco e a nossa adesão ao pressuposto 
freireano de que a leitura do mundo antecede a leitura da palavra e que esta é fruto da 
compreensão da realidade experienciada, nos conduziu à utilização do texto A 
importância do Ato de Ler (Freire, 2001), como um dos textos introdutórios da 
disciplina. Nosso objetivo inicial era perceber a compreensão e produção dos estudantes 
com e a partir da análise do texto supracitado. 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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Caracterizando-se como uma pesquisa de base qualitativa, a atividade constou da 
realização de leituras em duplas de estudantes e recriação do texto lido, no formato de 
resumo, contendo uma apreciação pessoal sobre o texto. Além da apropriação do 
conhecimento, a perspectiva era poder perceber os sentidos e as marcas pessoais que o 
texto imprimia nos estudantes, de modo a que pudéssemos avaliar as possíveis 
influências do ideário desse educador na formação dos futuros pedagogos. 
 
Desvelando caminhos: trajetória da pesquisa 
Em sua fase preparatória, a pesquisa constou de conversa com os alunos sobre 
como iríamos caminhar no sentido da produção escrita, construção de fichamento ou 
resumo crítico e posterior análise do texto. Inicialmente, selecionamos o texto de Leda 
Miranda HÜHNE (1992), autora que se referencia em Freire quando desenvolve uma 
reflexão sobre o ato de estudar. Em grupo, nos debruçamos, inicialmente, sobre esse 
texto, com uma leitura coletiva exploratória. Fomos artesanalmente lendo, fazendo 
pausas, refletindo, discutindo. 
 O texto nos apresentava várias veredas e nos deixamos guiar por ele. 
Percebemos que após essa leitura coletiva, seria fundamental, a leitura realizada de 
modo individual, em suas diferentes etapas. Sugerimos que após essa leitura fosse 
elaborado um esquema do texto “O Ato de estudar”. 
 O segundo momento dessa trajetória foi convidar os alunos a trabalharem em 
dupla, sendo que, o critério para formação dessa dupla, fosse pautado pelo princípio da 
efetiva colaboração, ou seja, os alunos que percebessem que não existiriam muitas 
dificuldades na escrita de um texto, esperassem ser convidados pelos colegas, que 
acreditassem apresentar muitas dificuldades de produzi-lo, e assim, os convidassem para 
trabalhar juntos. Neste momento trabalhamos com o texto A importância do Ato de Ler, 
de Paulo Freire, quando então se experenciou a vivência do diálogo com o autor. Para 
tanto, foram definidas a priori as unidades de escrita que deveriam ser construídas, a 
partir do texto sugerido, que seria objeto de leitura e posterior análise crítica. 
O resumo crítico ou fichamento do texto “A importância do ato de ler”, foi 
produzido pelos alunos do primeiro semestre da Pedagogia da UECE, em três diferentes 
momentos: primeiro em sala de aula, após à apresentação e discussão das possíveis 
unidades de escrita: com a (s) idéia (s) central (is) do autor do texto; as estratégias de 
apresentação dessa (s) ideia(s) central (is) pelo autor do texto; suas considerações finais 
do texto e à apreciação pessoal dos alunos sobre o texto lido. Nessa etapa, os alunos 
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realizaram as várias fases da leitura, sugeridas pelo texto da HÜHNE (1992), estudadas 
em sala de aula. O segundo momento foi caracterizado pelo trabalho continuado da 
dupla fora da sala de aula, pesquisando sobre quem foi e quem é Paulo Freire e o último 
momento, novamente em sala de aula, para iniciar, desenvolver e concluir suas 
produções textuais. 
No processo, tivemos o cuidado de consultar os/as estudantes sobre suas 
disponibilidades em conceder a produção textual para fins de análise e possível 
publicação, com o respectivo compromisso de não revelar os nomes dos autores. Para 
garantirmos o sigilo, pressuposto básico da ética na pesquisa acadêmica, utilizamos a 
letra Letra D, para designar dupla, seguida e de um número correspondente à ordem 
aleatória, a partir do qual nos apropriamos da (re)significação do texto de Freire, pelos 
sujeitos da pesquisa. 
A pesquisa sobre Paulo Freire gerou a compreensão de que conhecimento é algo 
que se cria, se reinventa, se apreende e não como algo que pode ser apenas informado, 
transmitido, memorizado; que o conhecimento contribui com a humanização do sujeito, 
em seu movimento de busca por Ser Mais. 
A partir das contribuições de Freire (2007), estudantes e professoras vivenciaram 
o movimento e dinâmica da análise, de modo que uma situação relatada num 
determinado trecho de um texto, por vezes, os levava a estabelecer uma relação com as 
situações precedentes e com as que a ela se seguiam, para que não viessem a perder a 
compreensão do todo. 
A etapa seguinte realizada pelas professoras que elaboraram esse artigo, constou 
da leitura e agrupamento das falas contidas na unidade de escrita “Apreciação Pessoal” 
produzidas por cada dupla. Esse agrupamento resultou na identificação de categorias de 
análise, trabalhadas, posteriormente, à luz do referencial teórico-metodológico trazido 
por Bardin (2008), no tocante à análise de conteúdo. 
Para efetivarmos a organização e tratamento dos dados, retomamos nossos 
objetivos, com vistas à realização de uma primeira leitura geral das produções dos 
estudantes, denominada por Bardin (2008) de leitura flutuante, cujo objetivo foi o de 
captar elementos essenciais do nosso objeto de pesquisa. 
A leitura global consistiu numa leitura fluida, sem nos preocuparmos, ainda, em 
fazer quaisquer delimitações. Afinal, como diria Paulo Freire “Um texto será tão mais 
bem estudado quanto, na medida em que dele se tenha uma visão global, a ele volte, 
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delimitando suas dimensões parciais. O retorno ao livro para esta delimitação aclara a 
significação de sua globalidade” (2007, p.11). 
O segundo procedimento consistiu na codificação dos parágrafos em que os 
estudantes apresentavam argumentos em relação às contribuições do texto de Paulo 
Freire para a unidade de escrita, denominada apreciação pessoal. Fizemos destaques 
nos textos, utilizando marcações e palavras-chave ou expressões, visando encontrar os 
feixes de sentidos. 
Seguindo as recomendações de Bardin (2008), quanto à homogeneidade, 
exaustividade e adequação, chegamos ao mapeamento final, que constou da organização 
de blocos por temáticas: leitura autêntica, releitura de mundo e sincronicidade. 
 
Leitura autêntica: busca de coerência entre o escrito e o compreendido 
 Toda e qualquer escrita, seja um texto acadêmico, carta ou um bilhete eletrônico, 
são escritos para dizer algo. O autor de qualquer tipo de escrita se expressa para 
anunciar pelo menos uma ideia, o que Hühne (1992) denomina de ideia(s) central(is). 
No diálogo com o texto de Paulo Freire “A importância do ato de ler”, uma 
primeira questão colocada pelos estudantes diz respeito ao fato de que somos 
recorrentemente levados a pensar que: “a nossa única missão é memorizar, o que é 
muito errado, pois a verdadeira leitura é aquela em que você ler e entende o que o autor 
quis dizer” (D9). Essa compreensão, defendida pelo educador pernambucano, se tornou 
aprendizagem consolidada pelos estudantes, a partir da leitura do texto, conforme dito 
por uma dupla: 
Esse texto foi importante para melhor aprendizado sobre a 
importância da leitura e de compreendê-la para ter um conhecimento 
de tudo o que estamos inseridos termos uma posição crítica (D2). 
 
 Ao debruçar-se sobre essa temática, Freire expressou sua repulsa ao trabalho 
alienador de memorização e, ao mesmo tempo, denunciou o perigo da eminente morte 
do humano, quando destituído de sua capacidade de criar. Acreditamos que Paulo Freire 
expressa essa ideia de modo veemente quando nos diz: 
... O intelectual memorizador, que lê horas a fio, domesticando-se ao 
texto, temeroso de arriscar-se, fala de suas leituras quase como se 
estivesse recitando-as de memória-não percebe, quando realmente 
existe, nenhuma relação entre o que leu e o que vem ocorrendo no seu 
país, na sua cidade, no seu bairro, Freire (1999, p.30) 
 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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 Freire (1999, p. 29) destaca a incoerência entre não se realizar uma leitura do 
mundo, uma leitura contextualizada, e a capacidade de desenvolver um professor 
crítico, pois segundo ele: “... tornar-se um professor crítico se (...) é muito mais um 
repetidor cadenciado de frases e ideias inertes do que um desafiador...”. Para o autor, 
não há como produzir conhecimento e desenvolver uma visão crítica, sem que possamos 
fazer a leitura do vivido, percebido como algo que nos move a ver, sentir, indagar, 
fazendo dessa inquietação uma produção de sentidos. 
 Embora possa nos parecer óbvio, é fundamental a compreensão autêntica do 
texto, pois não há como desprezar a necessidade do autor que se dispôs a dizer algo, a se 
expor, enfim se desvelar por meio de sua escrita. Seriamos realmente leitores se de nos 
deparar com um texto, não assumirmos a tarefa de investigar a mensagem desse autor? 
Afinal, que mensagem ele concebeu como significativa para revelá-la ao mundo? 
 Com Freire, compreendemos que realmente há a possibilidade de alguém 
mergulhar e se banhar nas águas profundas do texto, alcançar o propósito do lido sem 
fazer buscar atingir a autêntica compreensão do texto, conforme afirmam os estudantes 
acerca do texto lido: 
Concordamos com o autor, em sua conclusão, pois se não tivermos 
um entendimento certo do que o texto nos transmitiu, teremos uma 
falsa ideia do assunto que foi passado e ter um entendimento certo nos 
fará transmitir a compreensão correta ao grupo ao qual nos 
disponibilizamos a transmitir o conhecimento adquirido com o texto 
(D23). 
 
 A leitura foi também compreendida por outros estudantes como algo que 
desvela, desanuvia e revela o mundo. Mas é necessário, que essa leitura seja trabalhada 
com ênfase na curiosidade, pois haveria como ler o mundo (nossa realidade concreta) 
sem que nossa curiosidade participasse dessa leitura? 
Para a dupla D13, a leitura da palavra, a leitura contextualizada, a leitura do 
mundo será alcançada pela curiosidade, esteio do interesse dos alunos, que assim 
literalmente escreveram: 
A leitura da palavra revela um mundo que até então estava escondido, mas 
que a partir da leitura do mundo conseguimos ter uma compreensão 
verdadeira da palavra. A educação é um ato político e que devemos como 
futuros educadores desenvolver junto aos nossos alunos uma leitura crítica, 
sempre enfatizando a curiosidade e o interesse deles, ou seja, uma leitura 
contextualizada (D13). 
 
 O exceto da fala revela a compreensão de que educação é ato político, decorrente 
da busca curiosamente crítica e do interesse de que lê, numa perspectivaDidática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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contextualizada. Tal lógica de pensamento nos permite fazer relação com o registro 
feito por outra dupla, que concebe a leitura como fonte de prazer, a exemplo da opinião 
que possuem acerca do texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire: “... é um 
texto bem criativo com uma linguagem bem atual, o tema é abordado perfeitamente, é 
um tipo de leitura em que é criado o prazer pelo tema e leitura” (D17). 
 Isso colabora com a ideia de que quanto mais o aluno ouve, ver e sente a leitura 
alheia maior será seu repertório e a sua sensibilidade para compreender o que ler e ouve. 
Essas leituras sejam um poema, um conto, uma notícia de jornal, uma fala popular, são 
experiências fundamentais para a formação do leitor, que gosta e também sente a 
necessidade da leitura. Mesmo quando este leitor é uma criança que não domina a letra, 
a palavra escrita, é importante que esteja inserido em um ambiente cujo prazer pela 
leitura é apreciado, partilhado e usufruído em comum, para que desta forma, possam ser 
desenvolvidas as habilidades da leitura. 
 Neste sentido, o papel do educador surge como mediador dos avanços inerente 
ao processo de construção conhecimento, pois no caso da leitura, não basta oferecer 
livros. Eles, professor e alunos, precisam estar juntos no processo que envolve 
redescobertas, criações e recriações das inúmeras possibilidades trazidas pela leitura. 
Daí poder se afirmar com Freire (1999) que é por meio da linguagem que o indivíduo 
não só reconhece os significados da cultura em que vive, mas reconstrói e constrói 
sentido para si e para o mundo. 
 
Sincronicidade literária: a construção de significados a partir da leitura 
O papel social da leitura, na forma como os estudantes percebem, remete à 
compreensão de que sincronicidade entre o que se ler e o que se vive/u, gera prazer; que 
a leitura contribui para a transformação de pessoas, em termos da formação de sua 
autonomia e, numa perspectiva mais ampliada, a leitura contribui para a sociedade “dita 
do conhecimento”. 
A sincronicidade que a leitura proporciona se materializa pela “... significação 
do que está a nossa volta, [na medida em que inclui] experiências na interpretação no 
ato de ler” (D14). Este argumento dos estudantes encontra sustentação em Paulo Freire 
(1981) que compreende a formação pessoal numa estreita ligação com a leitura. Para o 
autor, o ato de ler demanda pela busca na memória de instantes que podem ser 
relacionados com o assunto, sem perder a singularidade de cada momento. 
A forma como o autor expõe suas ideias nos faz não só refletir sobre 
as mesmas, mas também faz nos colocarmos nestes cenários e cenas e 
percebermos a real importância de se fazer a leitura do mundo antes 
de fazer a leitura da palavra (D22). 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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Para a dupla D19, por vezes, para ler na perspectiva de pura e autêntica 
interpretação, leva ao uso do dicionário, quando a linguagem utilizada pelo autor é um 
tanto rebuscada, como relatam pelo próprio testemunho da leitura do texto de Freire. 
Em se tratando de um curso de formação de professores, como é o caso da Pedagogia, 
“... é essencial ter essa base de leitura do mundo, principalmente por ensinar crianças, 
para com isso transformar pessoas pelo poder da leitura”. 
O entendimento dos estudantes é de que Paulo Freire nos esclarece como as 
nossas etapas de aprendizagem estão sim, profundamente ligadas às nossas raízes da 
infância, desde as primeiras vivências em família. Com a escola não é diferente. O ato 
de ler, portanto, contribui com o desenvolvimento geral do educando; um ser 
vocacionado para Ser Mais. Para os estudantes envolvidos na pesquisa, 
... avançamos e vencemos etapas de construção, vivenciamos, 
buscamos e encontramos no mundo escolar a intenção do verdadeiro 
ato de aprender (D8). 
 
 Numa cultura letrada, como a nossa, ler é condição essencial para transitar 
como sujeitos culturais, aptos a transformar a realidade em que vivem. À luz de Paulo 
Freire, podemos concluir que a leitura transforma as pessoas e, por decorrência, pode 
contribuir com a transformação do mundo. É nessa direção que os estudantes assim se 
posicionaram: “O ato de ler é importante para a sociedade, pois a leitura nos torna seres 
mais críticos, e assim nos traz uma melhor visão do texto e do mundo” (D1). 
Desse modo, a leitura do texto de Paulo Freire possui uma grande riqueza de 
conhecimentos que servem para a vida, carreando valores para os dias atuais. Nas 
palavras dos estudantes ele “... traz grande recompensa para aqueles que realmente o 
aprenderam e irão por em prática o conhecimento adquirido, traz consigo uma 
linguagem de fácil compreensão e o assunto nos faz refletir sobre o verdadeiro conceito 
do ato de ler” (D11). 
O que os estudantes nomeiam como sendo “o verdadeiro conceito do ato de ler”, 
nós podemos considerar que seja equivalente ao papel da leitura na vida das pessoas; 
àquilo a que ela se propõe a fazer como desdobramento, em termos de sua função 
social: a releitura da realidade em que estão inseridas. 
 
A função social da leitura: a releitura de mundo pela proficiência e capacidade 
argumentativa 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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As ideias propostas no texto "A importância do Ato de Ler" encontrou 
ressonância nos estudantes que concordam com o autor, ao afirmar que "devemos fazer 
uma leitura do contexto vivido por nós, pois essa leitura transcende o significado da 
leitura mecânica da palavra" (D18). 
Uma dupla faz alusão ao fato de que o relacionamento professor-aluno permite a 
interação de ideias, elemento importante para a construção do senso critico, conforme 
consideram os estudantes: 
O senso crítico é construído desde o inicio da sua infância com a sua 
leitura de mundo e com a ajuda de um educador. A partir da leitura do 
texto podemos perceber o quanto a leitura tem importância em nossas 
vidas, seja ela a leitura de nossas vivências ou a leitura de um texto 
(D18). 
 
 A leitura se constitui em tema atual e, de forma instigante e objetiva o autor diz 
que "o ato de ler é mais do que [fazer] decodificações de palavras, é o ensino da leitura 
consciente, conforme as vivências de mundo de cada pessoa" (D20). A leitura do mundo 
é fundamental para a compreensão da importância do ato de ler e escrever, 
transformando-o numa prática consciente (Freire, 2001). 
 Os estudantes lembram que para o autor, nós educadores, não podemos nos 
esquecer da atividade política e sermos coerentes com ela. No caso da alfabetização de 
adultos e a pós-alfabetização recomenda o envidamento de esforços, no sentido da 
compreensão da palavra escrita, da linguagem, das relações do contexto, portanto, da 
relação entre leitura do mundo e leitura da palavra. Nessa direção, os estudantes 
consideram que o texto "A importância do Ato de Ler é um [texto] que nos faz refletir 
sobre a nossa prática pedagógica e a maneira de olhar a realidade que vivemos. Essa 
postura, segundo eles, pode contribuir para "... cada vez mais melhorar a condição dos 
nossos alunos e sua visão de mundo" (D15). 
 Outra dupla considera que o texto despertou para o fato de que a leitura agrega 
uma gama de conhecimentos para com o mundo, tornando as pessoas mais cultas, 
civilizadas e também impacta na melhoria da escrita. Em suas palavras: 
O presente trabalho (...) permite mostrar que a leitura nos traz vários 
conhecimentos para o mundo, nos tornando pessoas mais cultas e 
civilizadas. A mesma é importante, pois é com ela que abrangemos 
novas formas de pensar, agir e aperfeiçoar nossa linguagem escrita 
melhorando assim nossa ortografia" (D12). 
 
 Em tempos de reconhecimento dos avanços em relação à aprendizagem da lecto-escrita, uma dupla faz referência à atualidade do texto, assim se colocando: 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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O texto de Freire é muito atual pelo que estamos vivendo na nossa 
educação, pois muitos professores continuam pensando que na 
alfabetização precisa-se fazer repetições silábicas. 
 
Nós educadores e educandos devemos começar a avaliar que a 
importância de ler está na compreensão de como encaramos essa 
prática para que dessa maneira se transforme em uma prática 
consciente (D6). 
 
 A leitura do texto assumiu feições significativas para alguns estudantes que 
consideraram a possibilidade de estarem, finalmente, aptos a fazerem a leitura autêntica 
de texto, compreendida como o verdadeiro ato de estudar, ensaiando a ruptura com o 
paradigma de que a condição de universitários é correspondente à condição de leitores 
proficientes, fato que nem sempre se conforma como correspondente. Esse 
entendimento emergiu da compreensão de que o estudo do texto lhes permitiu situar-se 
na condição de alfabetizados. 
Palavras ressoaram em nossos corações. (...) Este texto transpirou em 
nosso ser. Uma quebra de orgulhos, nos tornamos alfabetizandas outra 
vez, início, renovar, aprender, um recomeçar, um novo [modo de] ver 
o mundo, deixar fluir novas concepções, começar do zero. 
 
É tão bonito quando nos colocamos a disposição do modificar, da 
humildade de estudantes que buscam o verdadeiro ato de estudar. 
Freire com suas vivências e com suas palavras singelas nos alcançou e 
nos tirou de um verdadeiro paradigma que trazíamos desde tempos, 
estamos abertas chegou a hora de ler! (D5). 
 
 A leitura, feita pelos estudantes, de que o texto de Paulo Freire ressoou em seus 
corpos e mentes, fazendo transbordar a renovação, a reinvenção, o recomeço de novos 
processos de leiturização do mundo, nos leva a considerar que escolher e propor leituras 
e metodologias de leitura na sala de aula no ensino superior, passa pela construção de 
significados na busca esperançosamente crítica por uma sociedade pautada na ética do 
bem comum. 
 
A título de considerações finais 
 
 Lançando mão das contribuições de Paulo Freire para iluminar futuras pesquisas, 
tomamos para nós a tarefa não de reproduzi-lo, mas de reiventá-lo. Assim, encontramos 
que busca de coerência entre o escrito e o compreendido se constitui como leitura 
autêntica; que a função social da leitura abarca a releitura de mundo, pela mediação da 
sincronicidade literária, entendida como construção de significados. 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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 O Ciclo do conhecimento de Paulo Freire foi utilizado como lente de leitura da 
prática: ensinar, aprender e pesquisar lidam com os dois momentos do ciclo do 
conhecimento – o momento da produção de um conhecimento novo e o momento em 
que o conhecimento produzido é conhecido ou percebido. 
Analisar a compreensão e produção dos estudantes com e a partir da análise do 
texto A importância do ato de Ler, de Paulo Freire, foi o objetivo geral deste estudo. 
Além disso, buscamos perceber os sentidos e as marcas pessoais que o texto imprimiu 
na formação de futuros pedagogos, a partir de seus posicionamentos. 
 Em diálogo com o autor, os/as estudantes expressaram na unidade de escrita 
“Apreciação Pessoal”, que a leitura autêntica se constitui como busca de coerência entre 
o escrito e o compreendido. Fazer uma leitura autêntica significa produzir conhecimento 
e desenvolver uma visão crítica, fazer a leitura do vivido, percebido como algo que nos 
move a ver, sentir, indagar, fazendo dessa inquietação uma produção de sentidos. 
 A compreensão autêntica do texto passa pela necessidade entender o que o autor 
do texto se dispôs a desvelar por meio de sua escrita. Significa investigar a mensagem 
que ele concebeu como significativa para revelá-la ao mundo. Nesse sentido, para os 
estudantes, leitura é ato de conhecimento, desvela, desanuvia e revela o mundo. Para 
tanto, reconhecem que essa leitura precisa ser trabalhada com ênfase na curiosidade, que 
a leitura da palavra revela um mundo que até então estava escondido e que a partir da 
leitura do mundo, conseguimos ter uma compreensão verdadeira da palavra. 
 A compreensão de que educação como ato político, é decorrente da busca 
curiosamente crítica e do interesse de quem lê, numa perspectiva contextualizada. Por 
decorrência, a leitura se constitui fonte de prazer, a exemplo da opinião revelada pelos 
estudantes acerca do texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire. 
O papel social da leitura, na forma como os estudantes percebem, remete à 
compreensão de que sincronicidade entre o que se ler e o que se vive/u; que a leitura 
contribui para a transformação de pessoas, em termos da formação de sua autonomia e, 
de forma mais ampliada, a leitura contribui para a sociedade “dita do conhecimento”. 
A sincronicidade que a leitura proporciona se materializa pela significação do 
que está à nossa volta, pois inclui experiências na interpretação no ato de ler. Este 
argumento dos estudantes encontra sustentação em Freire (2001), ao afirmar que a 
leitura pressupõe buscar na memória imagens relacionadas com o assunto. 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
EdUECE- Livro 2
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 A contemporaneidade do texto, segundo os estudantes, corrobora com a atual 
compreensão do processo de alfabetização para além de repetições silábicas; uma 
prática consciente, melhorando a condição dos alunos e sua visão de mundo. Para tanto, 
faz-se necessário compreender a palavra escrita, a linguagem, as relações do contexto, 
fazendo a relação entre leitura do mundo e leitura da palavra. 
 A leitura autêntica de texto, compreendida como o verdadeiro ato de estudar, 
ensaia a ruptura com o paradigma de que a condição de universitários é correspondente 
à condição de leitores proficientes, fato que nem sempre se conforma como 
correspondente. Esse entendimento é decorrente da compreensão de que o estudo do 
texto lhes permitiu situar-se na condição de “verdadeiros alfabetizados”. 
 A leitura do texto de Paulo Freire suscitou renovações quanto ao modo dos 
estudantes se posicionarem diante do mundo e que a reinvenção de processos de 
leiturização do mundo passa pela construção de significados, também, do ato de 
escolher e propor leituras em sala de aula no ensino superior. 
 
Referências 
 
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 19. ed. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2008. 
 
CHARLOT, Bernard. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e 
práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. Revista Brasileira de 
Educação. Rio de Janeiro, v. 11 n. 31 jan./abr. 2006. 
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed. 
São Paulo: Paz e Terra, 1999. 
_____. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 42.ed. São 
Paulo: Cortez, 2001. (Questões da nossa época, 13). 
_____. Educação Como Prática da Liberdade. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. 
HÜHNE, L. M. O ato de estudar. In: HÜHNE, Leda Miranda (Org.). Metodologia 
científica: cadernos de textos e técnicas. 5. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1992. p. 13-19. 
(Apresentação a partir do texto de Paulo Freire). 
 
SHÖR, Ira; FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1986. 
 
 
 Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores
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