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Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t HEMOSTASIA [haima, sangue + stasis, retenção] - Equilíbrio entre as proteínas pró-coagulantes e anticoagulantes, que mantém a fluidez do sangue pelos vasos, incluindo o controle da hemorragia e dissolução de coágulos - Dividida em: primaria (vasoconstrição), secundária (coagulação) e terciária (fibrinólise) - Sempre que um vaso é seccionado ou rompido, é provocada hemostasia por meio de diversos mecanismos: (1) constrição vascular, (2) formação de tampão de plaquetas, (3) formação de coágulo sanguíneo, como resultado da coagulação do sangue e (4) eventual crescimento de tecido fibroso no coágulo para o fechamento permanente no orifício do vaso - Coagulação refere-se ao processo que leva à formação de fibrina - Hemostasia refere-se à coagulação fisiológica que ocorre em resposta ao dano vascular - Trombose é o processo de coagulação patológica com formação de um coágulo localizado, que pode chegar a ocluir o vaso - Fibrinólise refere-se ao processo de dissolução do coágulo e atua sobre a fibrina formada HEMOSTASIA PRIMÁRIA Vaso se contrai (vasoconstrição), reduzindo o fluxo sanguíneo naquela região, e as plaquetas se agregam no local, formando um tampão plaquetário (inicial) Dividida em: lesão endotelial, exposição, adesão, ativação e agregação Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t 1. LESÃO ENDOTELIAL: - Imediatamente após o corte/ruptura, o trauma da própria parede vascular faz com que a musculatura lisa dessa parede se contraia, por substâncias parácrinas vasoconstritoras que são liberadas pelo endotélio, diminuindo o fluxo e a perda do sangue, como também a pressão - A contração resulta de (1) espasmo miogênico local, (2) fatores autacoides locais dos tecidos traumatizados e das plaquetas e (3) reflexos nervosos - Os reflexos nervosos são desencadeados por impulsos nervosos dolorosos ou por outros impulsos sensoriais, originados no vaso traumatizado ou nos tecidos vizinhos. Entretanto, grau maior de vasoconstrição provavelmente resulta da contração miogênica local dos vasos sanguíneos, iniciada pela lesão direta dos vasos sanguíneos. Além disso, para os vasos menores, as plaquetas são responsáveis por grande parte da vasoconstrição pela liberação da substância vasoconstritora tromboxano A2 - Quanto maior a gravidade do trauma = maior grau do espasmo vascular, podendo durar vários minutos ou mesmo horas, tempo onde ocorrem os processos de formação dos tampões plaquetários e de coagulação 2. EXPOSIÇÃO: quando a lesão endotelial expõe o colágeno. As células endoteliais lesadas liberam uma proteína (fator de von Willebrand —FvW) que se liga ao colágeno exposto 3. ADESÃO: quando as células endoteliais estão lesadas, as plaquetas (que circulam naturalmente na corrente sanguínea) entra em contato com o fator de von Willebrand e ligando-se ao fator pela proteína de sua superfície chamada GP1B *Características físicas e químicas das plaquetas - P l a q u e t a s ( t a m b é m chamadas trombócitos) são formadas na medula óssea a partir dos megacariócitos, c é l u l a s e x t re m a m e n t e g r a n d e s d a s s é r i e s hematopoiéticas na medula; estes se fragmentam em plaquetas na medula óssea ou em quando espremidos pelos capilares - A concentração normal de plaquetas fica entre 150.000 e 450.000 por microlitro - No citoplasma das plaquetas, existem fatores ativos como: moléculas de actina e miosina e trombostenina (proteínas contrateis); resíduos do retículo endoplasmático e do complexo de Golgi (sintetizam enzimas e armazenam grande quantidade de íons de cálcio); mitocôndrias e sistemas enzimáticos capazes de formar trifosfato de adenosina (ATP) e difosfato de adenosina (ADP); sistema enzimáticos que Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t sintetizam prostaglandinas, ou por hormônios locais que causam várias reações vasculares e outras reações teciduais locais; proteína chamada fator estabilizador de fibrina relacionada à coagulação; o fator de crescimento que faz com que as células do endotélio vascular, células da musculatura lisa vascular e fibroblastos se multipliquem e cresçam, produzindo crescimento celular que ajuda a reparar as paredes vasculares lesadas - Na superfície da membrana, existe camada de glicoproteínas que impede a aderência ao endotélio normal, enquanto favorece a aderência às áreas lesionadas da parede do vaso — assim explicando como o tampão não continue se formando e se espalhe além do local da lesão. O óxido nítrico (liberado pelo endotélio normal e íntegro) também inibe a adesão - Além disso, a membrana contém grande quantidade de fosfolipídios que ativam múltiplos estágios do processo de coagulação do sangue - Tem meia vida no sangue de 8 a 12 dias, de modo que seus processos funcionais têm duração de várias semanas. Elas estão sempre presentes, mas não são ativadas a menos que algum dano ocorra nas paredes de vasos - As plaquetas são retiradas da circulação principalmente por meio dos macrófagos, mas da metade pelos macrófagos no braço 4. ATIVAÇÃO: quando as plaquetas se ligam ao fvW, ela fica ativada. Estando ativada, a plaqueta: - Muda de forma (para conseguir posteriormente se ligar a outras plaquetas) - Libera mais fatores de von Willebrand e serotonina * Serotonina ajuda na vasoconstricção - Libera também cálcio (usado posteriormente na hemostasia secundária) - Libera ADP e tromboxano A2 — que são secretadas no sangue e ativa outras plaqueta que não entraram em contato com FvW. Quando ambas são ligadas, uma nova proteína de superfície é expressa, chamada GPIIB/IIIA * Esse feedback positivo para ativação de plaquetas é limitado para o local da lesão. Pois as células não lesadas secretam prostaglandina e oxido nítrico, que se ligam as plaquetas e as impede de ficar ativas 5. AGREGAÇÃO: O ADP e o tromboxano A2 faz com que as plaquetas se juntem ao colágeno e faz com que as plaquetas expressem o GPIIB/IIIA. Esta proteína de superfície se liga a fibrinogênio (proteína circulante no sangue), dessa forma ele faz o link entre duas plaquetas, fazendo uma agregação de plaquetas *Mecanismo do tampão plaquetário - O tampão se forma à medida que as plaquetas se aderem ao colágeno exposto (adesão plaquetária) e se tornam ativadas, liberando citocinas na área ao redor da lesão. Os fatores plaquetários reforçam a vasoconstrição local e ativam mais plaquetas, as quais aderem umas às outras (agregação plaquetária) para formar um tampão plaquetário frouxo Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t - As plaquetas aderem ao colágeno com a ajuda das integrinas, proteínas receptoras de membrana que estão ligadas ao citoesqueleto - A adesão ativa as plaquetas que liberam o conteúdo dos seus grânulos intracelulares, como a serotonina, ADP, e o fator de ativação plaquetária (PAF). PAF inicia uma alça de retroalimentação positiva ativando mais plaquetas. Ele também inicia rotas que convertem fosfolipídeos da membrana das plaquetas em tromboxana A2 - A serotonina e a tromboxana A2 são vasoconstritoras e também contribuem para a agregação plaquetária, junto com o ADP e o PAF - O resultado final é o crescimento de umtampão plaquetário que sela a parede do vaso danificado HEMOSTASIA SECUNDÁRIA Simultaneamente, o colágeno exposto e o fator tecidual (uma mistura proteína- fosfolipídeo) iniciam uma série de reações conhecida como cascata de coagulação A cascata é uma série de reações enzimáticas que termina na formação de uma rede fibrina, que estabiliza o tampão plaquetário. O tampão reforçado é chamado coágulo VIA EXTRÍNSECA - Começa com a exposição do fator tecidual (fator III) aos componentes do sangue - O fator VII é encontrado circulando no sangue, sendo alguns deles já ativos, chamado de VIIa - O fator III liga-se ao fator VII e a um Ca2+ (liberado das plaquetas ativadas), formando o complexo FVIIa-FT - Esse complexo cliva o fator X na sua forma ativa, o FXa - O fator Xa cliva o fator V em FVa. O fator Va e Xa com Ca2+ forma o complexo protrombinase - Esse complexo transforma a protrombina (fator II) em trombina (fator IIa) - Trombina usa Ca2+ como um cofator, tendo assim alguns efeitos pro-coagulantes: - Se liga a plaquetas e faz com que se ativem e mudem de forma — agregação - Ativa 3 cofatores: V (via comum) e VIII e IX (via intrínseca) - Cliva fibrinogênio (fator I) em fibrina (fator Ia) - Cliva o fator XIII em XIIIa (que junto ao Ca2+ ajuda na formação da rede de fibrina) Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t VIA INTRÍNSECA - Começa quando o fator XII (que está circulando no sangue) entra em contato com fosfatos negativos das plaquetas ativas ou pela exposição do colágeno da célula endotelial lesada, tornando-se assim, o fator XIIa - O fator XIIa cliva o fator XI em FXIa. O fator XIa junto com o Ca2+ cliva o fator IX em IXa - O fator IXa forma um complexo junto com Ca2+ e o fator VIIIa, que cliva o fator X em FXa * Para a formação dos fatores II,VII, IX e X maduros, eles necessitam de uma enzima que usa a vitamina K, ou seja, esses fatores são considerados vitamina K dependentes * Os fatores II, VII, VIII, IX, X, XI e XIII precisam do cálcio como cofator *Outro modelo da hemostasia secundária - O conceito baseado no modelo de superfícies celulares na hemostasia permite um melhor entendimento dos problemas clínicos observados em alguns distúrbios da coagulação, por enfatizar o papel central de superfícies celulares específicas no controle e direcionamento dos processos hemostáticos - Este modelo fornece uma representação potencialmente mais exata do processo hemostático, bem como facilita a interpretação dos testes da coagulação e dos mecanismos fisiopatológicos dos distúrbios da coagulação, tal como as hemofilias O fator XII, pré- c a l i c r e í n a , e cininogênio de a l t o p e s o m o l e c u l a r interagem com cálcio para gerar p e q u e n a s quantidades de fator XIIa Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t FASE DE INICIAÇÃO: - Ocorre desde a exposição do fator tecidual até a formação do complexo FVIIa/FT, que é responsável pela ativação de pequenas quantidades de FIX e FX - O FXa associado com o seu cofator, FVa, forma um complexo denominado protrombinase na superfície da célula que expressa o FT - O FV pode ser ativado pelo FXa ou por proteases não coagulantes, resultando em FVa necessário para o complexo protrombinase. Esse complexo transforma pequenas quantidades de protrombina (Fator II) em trombina, que são insuficientes para completar o processo de formação do coágulo de fibrina, mas são de fundamental importância para a fase de amplificação da coagulação - Acredita-se que as reações responsáveis pela iniciação da coagulação ocorram constantemente fora do espaço vascular em indivíduos saudáveis - Atualmente, está comprovado que fatores da coagulação, incluindo FVII, FX e protrombina, são capazes de percorrer espaços entre os tecidos, ou seja, podem deixar o espaço vascular. Com base nestas observações foi proposto que a via de iniciação permanece continuamente ativa, gerando pequenas quantidades de fatores ativados no estado basal. Assim, pequenas quantidades de trombina são produzidas continuamente fora do espaço vascular, independente de lesão vascular. Portanto, admite-se que pequena atividade da via do FT ocorre todo o tempo no espaço extravascular - O processo da coagulação segue para a fase de amplificação somente quando há dano vascular, permitindo que plaquetas e FVIII (ligado ao fator de von Willebrand) entrem em contato com o tecido extravascular onde se aderem às células que expressam FT FASE DE AMPLIFICAÇÃO: - Devido ao grande tamanho das plaquetas e do FVIII ligado ao fator de von Willebrand (FvW), esses somente passam para o compartimento extravascular quando há lesão vascular. Quando um vaso é lesado, plaquetas escapam de dentro dos vasos, se ligam ao colágeno e a outros componentes da matrix extracelular no sítio da lesão, onde são parcialmente ativadas, resultando em um tampão plaquetário responsável pela hemostasia primária - Neste ponto, pequenas quantidades de trombina produzidas pelas células que expressam o FT podem interagir com as plaquetas e o complexo FVIII/FvW. Assim, inicia-se o processo hemostático culminando na formação de fibrina estável, que consolida o tampão plaquetário inicial, resultando na hemostasia secundária Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t - Esta pequena quantidade de trombina gerada pelas células que expressam o FT possui funções importantes, sendo a principal a ativação máxima de plaquetas, que expõem receptores e sítios de ligação para os fatores da coagulação ativados - Como resultado dessa ativação, as plaquetas alteram a permeabilidade de suas membranas, permitindo a entrada de íons cálcio e saída de substâncias quimiotáticas que atraem os fatores da coagulação para sua superfície, além de liberarem FV parcialmente ativados - Outra função da trombina formada durante a fase de iniciação é a ativação de cofatores FV e FVIII na superfície das plaquetas ativadas - O complexo FVIII/FvW é dissociado, permitindo o FvW mediar a adesão e agregação plaquetárias no sítio da lesão. Além disso, pequenas quantidades de trombina ativam o FXI a FXIa na superfície da plaqueta durante essa fase. A ativação do FXI pela trombina na superfície das plaquetas explica porque o FXII não é necessário para a hemostasia normal. Simultaneamente, por mecanismos quimiotáticos, os fatores mencionados são atraídos à superfície das plaquetas onde se inícia rapidamente a fase de propagação FASE DE PROPAGAÇÃO: - Essa fase é caracterizada pelo recrutamento de um grande número de plaquetas para o sítio da lesão e pela produção dos complexos tenase e protrombinase na superfície das plaquetas ativadas - Primeiramente, o FIXa ativado durante a fase de iniciação pode agora se ligar ao FVIIIa na superfície das plaquetas formando o complexo tenase. Uma quantidade adicional de FIXa pode também ser produzida pelo FXIa ligado às plaquetas - Como o FXa não pode se mover efetivamente das células que expressam FT para a plaqueta ativada, maior quantidade de FXa deve ser produzida diretamente na superfície da plaqueta pelo complexo FIXa/FVIIIa - Finalmente, o FXa rapidamente se associa ao FVa ligado à plaqueta durante a fase de amplificação, resultando na formação do complexo protrombinase, o qual converte grande quantidade de protrombina em trombina. Esta é responsável pela clivagem do fibrinogênio em monômeros de fibrina, que polimerizampara consolidar o tampão plaquetário inicial FASE DE FINALIZAÇÃO: - Uma vez formado o coágulo de fibrina sobre a área lesada, o processo de coagulação deve se limitar ao sítio da lesão para se evitar a oclusão trombótica - Para controlar a disseminação da ativação da coagulação, intervêm quatro anticoagulantes naturais, o inibidor da via do fator tecidual (TFPI), a proteína C (PC), a proteína S (PS), e a antitrombina (AT) - O TFPI é uma proteína secretada pelo endotélio, que forma um complexo quaternário FT/FVIIa/FXa/TFPI inativando os fatores ativados e, portanto, limitando a coagulação - As proteínas C e S são dois outros anticoagulantes naturais, com capacidade de inativar os cofatores procoagulantes FVa e FVIIIa - A proteína C é uma glicoproteína plasmática dependente de vitamina K, cuja síntese, quando ativada, promove a proteólise dos cofatores Va e VIIIa - A proteína C (PC) é ativada pela trombina, que está ligada à proteína transmembrânica trombomodulina (TM) na superfície das células endoteliais intactas - A atividade da PC é aumentada por outro cofator inibidor, também vitamina K dependente, a proteína S (PS) - No plasma humano, aproximadamente 30% da PS circula como proteína livre, consistindo na fração que funciona como cofator da PC ativada - Um outro anticoagulante natural é a antitrombina (AT), a qual inibe a atividade da trombina e outras serino proteases, tais como FIXa, FXa, FXIa e FXIIa - As células endoteliais produzem uma variedade de glicosaminoglicanos, que funcionam como sítios de ligação, de alta afinidade, para a AT, que são cruciais para uma rápida inativação da trombina HEMOSTASIA TERCIÁRIA Ocorre a remodelação da rede de fibrina (fibrinólise), o que permite que o fluxo sanguíneo retorne ao seu normal. A fibrina é degradada pela plasmina, proveniente do plasminogênio ORGANIZAÇÃO FIBROSA OU DISSOLUÇÃO DO COÁGULO SANGUÍNEO - Assim que o coágulo se forma ele pode seguir um entre dois cursos: (1) pode ser invadido por fibroblastos, subsequentemente, formando tecido conjuntivo por todo o coágulo ou (2) pode se dissolver - O curso usual para o coágulo formado em pequeno orifício do vaso é a invasão por fibroblastos, começando algumas horas após a formação do coágulo (que é promovida, pelo menos em parte, pelo fator de crescimento liberado pelas plaquetas) Ádila Cristie Matos Martins Hematologia t - Essa invasão continua até a completa organização do coágulo, em tecido fibroso, no período de aproximadamente 1 a 2 semanas - De modo inverso, quando quantidade excessiva de sangue vazou para os tecidos e os coágulos teciduais ocorreram onde não eram necessários, substâncias especiais no interior do próprio coágulo são usualmente ativadas. Essas substâncias atuam como enzimas para a dissolução do coágulo REFERÊNCIAS 1.Tratado de Fisiologia - Guyton (12ª edição — pág. 475) 2.Fisiologia Humana — Silverthorn (5ª edição — pág. 558) 3.Tratado de Hematologia — Zago (pág. 571 e 627) 4.Platelet plug formation (primary hemostasis) e Coagulation (secondary hemostasis) — Osmosis 5.O novo modelo da cascata de coagulação baseado nas superfícies celulares e suas implicações — FERREIRA, C. N., et al. HEMOSTASIA PRIMÁRIA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA Principal ator Plaquetas Fatores de coagulação Função Faz PARAR de sangrar “Tampão plaquetário” Impede VOLTAR a sangrar “Rede de fibrina” Locais de sangramento Pele: petéquias, púrpuras e equimoses Mucosa: gengival e nasal Subcutâneo, SNC, hematoma pós-vacina, hemastrose Modo de sangramento quando há falha Não para de sangrar Para, mas depois volta a sangrar
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