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v Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem vi vii MARIA APARECIDA CAMPOS DINIZ DE CASTRO EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMETO E APRENDIZAGEM 1ª Edição Taubaté Universidade de Taubaté 2014 viii Copyright©2014.Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzi- da por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico e Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Me.Benedito Fulvio Manfredini Maria Aparecida Campos Diniz de Castro Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU C355e Castro, Maria Aparecida Campos Diniz de Educação, desenvolvimento e aprendizagem / Maria Aparecida Campos Diniz de Castro. Taubaté: UNITAU, 2010. 83p. : il. ISBN: 978-85-62326-40-0 Bibliografia 1. Educação. 2. Desenvolvimento humano. 3. Construção do conhecimento. 4. Processos psicológicos. 5. Influências sociais e culturais na infância e adolescência. I. Universidade de Tau- baté. II. Título. ix PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar cer- to, carece de relações saudáveis, tanto de or- dem afetiva quanto produtiva. Também, de es- tímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educati- vas, visto se apresentarem como máxima refe- rência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a uni- verso tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coe- rente à sua formação acadêmica e ao seu de- senvolvimento social. Cuidadosamente redigi- do e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, es- sencialmente, a orientações de ordem prático- formativa. Cientes de que pretendemos construir conhe- cimentos que se intercalem na tríade Gradua- ção, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor x xi Apresentação A finalidade deste livro-texto, que versa sobre o tema Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem, é dupla: contribuir para acentuar os efeitos da Psicologia na Educação, orientando as ações e os comportamentos próprios da situação educativa e identificar os aspectos gerais do desenvolvimento humano, especialmente no curso das experiências vividas entre a adolescência e a idade adulta. Tomaremos como base as contribuições traduzidas da área da Psicologia, numa pers- pectiva sociointeracionista e ecológica do desenvolvimento, analisado no conjunto dos fatores que o impulsionam, favorecendo a compreensão do “humano”, diante dos pro- cessos interativos e da aprendizagem presentes nos diferentes ambientes educativos. Necessariamente, buscaremos integrar as questões ligadas à Psicologia aos aspectos sociais e culturais vinculados a outras áreas da atividade humana, adotando a escola como espaço real de formação e interações, oferecendo oportunidades de conhecimento construídas e aplicadas na vida cotidiana. Defendemos a ideia de que os fundamentos teóricos aqui apresentados serão importan- tes para a compreensão e solução de problemas da área educacional, ressaltando que a aprendizagem e o desenvolvimento não serão aqui pensados ou trabalhados isoladamen- te, mas sim vinculados às ciências aplicadas à Educação. O enfoque adotado neste livro-texto é o de correlacionar os conteúdos aqui traduzidos com a prática escolar, de modo a orientar a leitura da realidade sob as bases teóricas de Piaget, Vygotsky, Wallon e Brofenbrenner, entre outros. Reconhecemos a notória contribuição da Psicologia no trato das questões sociais e cul- turais da atualidade, que influenciam o comportamento humano bem como os ambientes educativos. Ao colocarmos em destaque o protagonismo infanto-juvenil, evidenciam-se problemas sociais, tais como as drogas, o alcoolismo, a sexualidade e a violência, no xii sentindo de alertar os futuros educadores para o comprometimento necessário no trato com essas questões que atingem os jovens e, até mesmo, os adultos, comprometendo a qualidade da formação escolar e o percurso do desenvolvimento e da plena cidadania. Finalmente, tomando como referência a multiplicidade de caminhos de desenvolvimen- to possíveis de serem construídos na singularidade de cada vida humana, em constante transformação, nosso interesse neste manual de estudos se volta para as questões do afeto, das emoções e da formação de atitudes resilientes mediante a interatividade vivi- da nos diferentes contextos sociais, em especial, na escola. Daí convidarmos você, interessado na atividade educativa, a compartilhar desse mo- mento de estudo e reflexão, sistematizados nesse livro-texto. xiii Sobre a autora MARIA APARECIDA CAMPOS DINIZ DE CASTRO, em meados da década de 1970, iniciou sua trajetória profissional como professora de Educação Infantil. Dando continuidade à docência, lecionou no Ensino Fundamental (antigo curso do Magistério) e no Ensino Médio Profissionalizante (na rede educacional privada e pública, nesta permaneceu até se aposentar). Após graduar-se em Pedagogia (1982) na Universidade de Taubaté, atuou na gestão escolar por sete anos e, em 1988, iniciou sua experiência noEnsino Superior. Levando adiante os seus estudos, fez especialização em Psicopedago- gia (1991) e, em 1995, tornou-se mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia U- niversidade Católica de São Paulo. Nesta mesma universidade, recebeu o título de dou- tora em Psicologia da Educação em julho do ano 2000. Participou de grupos de pesqui- sas na mesma instituição de ensino, com o objetivo de investigar as formas de aprendi- zagem do adulto. Estimulada pelos estudos na área da constituição dos conhecimentos e das habilidades na gestão de pessoas, desenvolveu sua pesquisa de Pós-Doutorado em Educação entre os anos de 2004 e 2007 (PUC/SP), cujo título foi “A constituição dos saberes, o pensar e o agir mais resiliente na gestão: percursos de formação e desenvol- vimento profissional”. Entre suas principais atividades, sempre se interessou em contri- buir para a formação de profissionais, visando a orientá-los para as demandas da prática, além de investigar os processos de ensino e aprendizagem do adulto, os saberes e as habilidades inerentes às formas de gestão em contextos escolares e não escolares. Foi ao encontro da questão da resiliência, conceito significativo para a área da Educação e da Psicologia da Educação, no Brasil. Dessa experiência, resultou uma participação na obra intitulada Resiliência e Educação, organizada por José Tavares e publicada pela Cortez Editora em 2001. Também participou da obra Formação de Professores e Campos do Conhecimento, numa produção conjunta com outros autores, publicada pela Casa do Psicólogo em 2004. Sua obra mais recente, intitulada Aprendizagem do Adulto Professor, publicada pelas Edições Loyola, em 2006, com a qual colaborou discorrendo sobre a Metacognição: desvelando os caminhos do pensamento, firmando-se cada vez mais como pesquisadora das questões relativas ao desenvolvimento humano e profissional em diferentes contex- xiv tos. Atualmente, é professora assistente doutora vinculada ao Departamento de Pedago- gia e responsável pela coordenação pedagógica da Educação a Distância da Universida- de de Taubaté. Também é docente do curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano e de vários cursos de Especialização dessa mesma universidade. xv Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais di- versos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais prepa- rada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e ativi- dades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU xvi xvii Sumário Palavra do Reitor ............................................................................................................. ix Apresentação ................................................................................................................... xi Sobre a autora ................................................................................................................ xiii Caros(as) alunos(as) ....................................................................................................... xv Ementa .............................................................................................................................. 1 Objetivos ........................................................................................................................... 2 Introdução ......................................................................................................................... 3 Unidade 1. Aspectos gerais do desenvolvimento humano: da adolescência à idade adulta ................................................................................................................................ 5 1.1 O desenvolvimento da pessoa na perspectiva sociointeracionista.............................. 8 1.2 A linguagem e sua relevância no processo de desenvolvimento .............................. 12 1.3 A influência da linguagem no desenvolvimento humano segundo Vygotsky ......... 14 1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 19 1.5 Atividades ................................................................................................................. 19 1.6 Para saber mais ......................................................................................................... 20 Unidade 2. A construção do conhecimento: foco nos fatores e processos psicológicos envolvidos ...................................................................................................................... 25 2.1 Bases para a construção dos conhecimentos na concepção construtivista ............... 26 2.2 Apropriação dos conceitos na perspectiva de Vygotsky .......................................... 29 2.3 A constituição da pessoa na perspectiva de Wallon ................................................. 33 2.4 A escola: espaço de formação e desenvolvimento .................................................. 37 2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 41 2.6 Atividades ................................................................................................................. 42 2.7 Para saber mais ........................................................................................................ 43 Unidade 3. Questões sociais e culturais da atualidade influenciando o comportamento na infância e na adolescência: reflexos no contexto escolar .......................................... 45 3.1 Protagonismo infanto-juvenil: a violência e o bullying ............................................ 48 3.2 As drogas, o alcoolismo, a sexualidade e a violência ............................................... 53 3.3 E quanto à sexualidade na adolescência? O que temos a dizer? .............................. 58 3.4 Síntese da Unidade .................................................................................................. 61 3.5 Atividades ................................................................................................................. 62 3.6 Para saber mais .........................................................................................................63 Unidade 4. Contextos de desenvolvimento: o significado da família e da escola para crianças e adolescentes .................................................................................................. 65 4.1 O trabalho pedagógico na escola .............................................................................. 67 4.2. O Estatuto da criança e do adolescente – repercussões na escola ........................... 69 4.3 Os caminhos orientados para a vida adulta e a escolha profissional ........................ 72 4.4 Como as escolas se constituem em espaços significativos de desenvolvimento? .... 74 4.5 A família e a escola integradas como contextos de desenvolvimento ...................... 76 xviii 4.6 Síntese da Unidade ................................................................................................... 79 4.7 Atividades ................................................................................................................. 79 4.8 Para saber mais ......................................................................................................... 80 Referências ..................................................................................................................... 83 Referências complementares .......................................................................................... 85 11 ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem Ementa EMENTA Aspectos gerais do desenvolvimento humano: da adolescência à ida- de adulta. A linguagem e sua relevância no processo de desenvolvi- mento. A construção do conhecimento: fatores e processos psicológi- cos envolvidos no processo. Questões sociais e culturais da atualida- de influenciando o contexto escolar: efeitos no comportamento hu- mano na infância e na adolescência: reflexos na escola. Contextos de desenvolvimento: o significado da família e da escola para crianças e adolescentes. 22 Objetivo Geral Contribuir para uma compreensão interdisciplinar dos fenômenos da adoles- cência na contemporaneidade, propiciando o desenvolvimento de conhecimen- tos, refletindo sobre eles, enquanto fases do desenvolvimento humano; as rela- ções intrínsecas entre pensamento e linguagem, destacando a influência da mí- dia nesse processo; os desafios manifestados, individualmente, pelos referidos segmentos sociais, reconhecendo-os a partir de suas características cognitivas, biopsicossocioculturais. Obj eti vos Objetivos Específicos Identificar as diversas fases de construção do desenvolvimento humano; Estabelecer relações entre pensamento humano e a influência da mídia nesse processo; Caracterizar as etapas do desenvolvimento da infância e adolescência e as diferentes modalidades de aprendizagem; Identificar questões e desafios pertinentes à infância e à adolescência enquanto segmentos e/ou categorias sociais distintas, refletindo sobre a importância e o significado dos movimentos culturais da juventude, da complexidade da realidade e dos fenômenos sociais contemporâneos; Analisar as contradições e formas de exclusão social de crianças e ado- lescentes a partir do contexto socioeconômico; Refletir o papel do profissional educador da sociedade atual enquanto mediador de construção coletiva e significativa do conhecimento, pro- pondo estratégias de ações pedagógicas de forma a adequar a escola às expectativas e à realidade das crianças e dos adolescentes. 33 Introdução Há várias maneiras de se conceber o desenvolvimento e a aprendizagem enquanto pro- priedades fundamentais do homem; diferentes visões e explicações podem ser adotadas buscando interpretar a forma como o sujeito aprende e se desenvolve. Em especial, pre- valece a curiosidade e o interesse em identificar a multiplicidade de fatores que interfe- rem nesse processo, na presença de posturas teórico-metodológicas divergentes entre si. Ao mesmo tempo, muitas são as teorias que se propõem a explicar como se dá a cons- trução do conhecimento, mas poucas são as que se voltam para a interação sujei- to/objeto como elemento fundamental no âmbito desse processo. Isto, por si só, justifica a constante preocupação, em especial de psicólogos e educadores, bem como de pesqui- sadores comprometidos com a complexa natureza desses processos. O presente livro-texto, organizado em quatro unidades, de modo articulado, procurou abordar questões referentes ao desenvolvimento e à aprendizagem, especialmente na etapa intermediária entre a adolescência e a adultez. Focou os inter-relacionamentos entre as esferas físicas, cognitiva e psicossocial, os elementos que poderão influenciar o desenvolvimento, a construção do conhecimento e a personalidade humana. As reflexões trazidas nas Unidades 1 – Aspectos Gerais do Desenvolvimento Huma- no: da adolescência à idade adulta, teve como foco a pessoa e os fatores influentes na sua evolução, especialmente a linguagem, da cultura e dos diferentes contextos. Servi- ram de referências as abordagens teóricas construtivistas e sociointeracionistas. A Unidade 2, que tratou da Construção do Conhecimento: fatores e processos psico- lógicos envolvidos no processo, aqui oferece subsídios para se refletir sobre a apropria- ção dos conceitos e os fatores psicológicos envolvidos, guiando-se pelas ideias de Pia- get, Vygotsky. Para explicar “A constituição da pessoa”, foram trazidas as contribui- ções teóricas de Henri Wallon. Ressalta-se o especial papel da escola diante dessa ques- tão, constituindo-se em rico espaço de formação e desenvolvimento humano. 44 Na Unidade 3, a reflexão recai sobre as Questões sociais e culturais da atualidade influenciando o comportamento na infância e na adolescência, que focalizam os principais problemas sociais da atualidade afetando os desempenhos pessoal e escolar. Temas como violência, drogadição, bulling, sexualidade e moral são tratados nesta uni- dade, convidando educadores e pais a refletirem juntos sobre melhores alternativas para inibir os impactos de certos problemas sociais. A Unidade 4 evidencia os Contextos de desenvolvimento: o significado da família e da escola para crianças e adolescentes. A família e a escola foram aqui destacadas como espaços privilegiados para vivências relacionais e desenvolvimento de pessoas. Considerou-se a interseção entre esses dois cenários educacionais, respeitando-se as diferenças étnicas, sócio-culturais e os padrões de conduta ideal a serem adotados em cada um desses contextos. Daí destacar a importância das relações interativas entre os grupos que nela se abrigam – formadores, equipe gestora, alunos e familiares -, influ- enciando mutuamente os modos de pensamento, provocando avanços no desenvolvi- mento, culturalmente evoluído e compartilhado. Nesta edição, a proposta que se apresentou foi de auxiliar o futuro professor a entender melhor as nuances de comportamento entre etapas da vida, estimulando-o a conhecer os fatores e os processos que convergem para a evolução humana, imprescindível para dar conta dos processos de ensino e aprendizagem. 55 Unidade 1 Unidade 1 . Aspectos gerais do desenvolvimento hu- mano: da adolescência à idade adulta “Mire veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra, montão.” (Guimarães Rosa) Efetivamente, é difícil colocar em dúvida a contribuição da Psicologia como campo de conhecimento científico em relação às diversas áreas da ciência. Os conhecimentosdela advindos, com muita propriedade, interagem e se aplicam a outras áreas, seguindo pers- pectivas e interesses diversos, tendo como foco principal a compreensão e predição das ações humanas. Um dos ramos da Psicologia, a Psicologia Evolutiva, aborda as diferentes maneiras de entender e caracterizar o processo de desenvolvimento, os fatores que permitem explicá- lo e, finalmente, a diversidade de explicações em torno das relações entre desenvolvi- mento e educação. Na literatura atual, encontramos diferentes maneiras de definir e de caracterizar o de- senvolvimento e também modos distintos de identificar os fatores que o determinam. De um lado, deparamo-nos com a caracterização do desenvolvimento como seu processo que implica mudanças globais na conduta das pessoas, mudanças de caráter duradouras, comuns entre os membros da espécie humana, independente dos contextos físicos e so- ciais concretos em que os indivíduos se desenvolvem (SALVADOR, 1999). Nesse caso, o desenvolvimento psicológico também ocorre de modo natural, espontâneo, e evolui em paralelo ao processo de crescimento físico e orgânico. 66 Conhecer, para Piaget, implica sempre em atuar sobre a realidade de modo ativo e transformador, físico ou men- talmente. Jean Piaget (1896-1980) nasceu em Neuchâtel, Suíça. Biólogo de forma- ção, fez seus estudos de psicologia do desenvolvimento entrevistando mi- lhares de crianças e, inicialmente, observando a evolução dos seus pró- prios filhos, Epistemologia genética. Piaget é considerado um dos mais famosos epistemologistas da moderna Psicologia. Em sua obra procurou analisar, do ponto de vista de uma epistemologia genética, o estudo da formação e do desenvolvimento dos processos cognitivos. A Epistemologia genética defende que o indivíduo passa por várias etapas de desenvol- vimento ao longo da sua vida. O de- senvolvimento dá-se por meio do equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, resultando em adapta- ção. Fonte: http://pt.wikipedia.org/ wiki/Jean_Piaget Acesso em: 05 set. 2010 Mediante essa forma de conceber o desenvolvimento, destacam-se dois tipos de fatores responsáveis por tais mudanças, ou seja, fatores de natureza biológica, con- trolados pela herança genética do indivíduo (maturida- de orgânica) e fatores referentes às experiências gené- ricas e universais que ocorrem no ambiente físico, pelo simples fato das pessoas existirem e compartilharem de situações comuns. Não se valorizam, nem são assim tão relevantes ou mesmo determinantes, os fatores vin- culados à experiência social, ao intercâmbio e à comu- nicação entre pessoas no âmbito dessa interpretação inicialmente apresentada sobre o desenvolvimento. Como consequência do que acima se descreveu e, a partir desse ponto de vista, a educação não representa um fator relevante e decisivo para o crescimento e para a mudança evolutiva da pessoa. Nesse caso, observa- se que o desenvolvi- mento segue o seu curso natural, representado por níveis evolutivos que devem ser respeitados e aos quais as ações educativas deverão adaptar-se. É evidente que todos nós, adultos, já percorremos boa parte desse processo tomando como base as etapas do desenvolvimento apresentadas por Jean Piaget em estudos que você já realizou em outra etapa do curso. Ele é um dos mais importantes representantes da moderna Psicologia, dedicado ao estudo da formação e do desenvolvimento dos pro- cessos cognitivos (epistemologia genética). Antes de continuarmos, cabe lembrar o que já se sabe a respeito desse marco teórico. Vou ajudá-lo(a), destacando que o processo de desenvolvimento cognitivo, para Piaget, define-se como uma sucessão de estágios, nos quais os conhecimentos vão se construindo a partir da ação e dos intercâmbios entre sujeito e objeto. 77 Liev Semyonovitch Vygotsky (1896-1934) – Teoria históri- co cultural – Psicólogo nascido na Bielo-Rússia. Vygotsky é considerado um dos pioneiros dos estudos psicolinguís- ticos, em particular dos estudos que tratam das relações entre a atividade intelectiva e a verbal. Sua teoria tem por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, ressaltando o papel da linguagem e da aprendizagem neste processo. O pensa- mento e a linguagem são elementos básicos à compre- ensão da natureza humana, uma vez que as palavras exercem papel central no desenvolvimento do pensa- mento e no desenvolvimento histórico da consciência. Há convergências e divergências entre o pensamento de Piaget e Vigotsky, em decorrência da diferença de foco dos estudos teóricos. O principal interesse de Piaget era estudar o desenvolvimento das estruturas lógicas, en- quanto Vigotsky pretendia entender a relação do pensa- mento com a linguagem e suas implicações no processo de desenvolvimento intelectual. A grande divergência entre os dois estudiosos, no entan- to, se dá na relação entre linguagem e pensamento. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vigotsky Acesso em: 05 set. 2010 Que tal retomarmos aos estágios identificados na teoria genética piagetiana: - Estágio sensório-motor (relativo aos dois primeiros anos de vida aproximadamente); - Estágio das operações concretas (entre 2 e 10, ou 11 anos aproximadamente); - Estágio das operações formais (dos 10, 11 anos, até os 15, 16 anos aproximadamente); A teoria genética postula que tais estágios são comuns a todos os indivíduos da mesma espécie, que vivem um tipo comum de evolução, e às construções progressivas constitu- ídas por fatores básicos, tais como: a maturidade orgânica, a experiência com os objetos físicos, a experiência e a interação com outras pessoas e o mecanismo de equilibração. Mesmo situando o organismo como elemento determinante, Piaget se preocupou em descrever como os elementos internos determinam a organização do conhecimento. Po- rém, a ênfase é colocada no orga- nismo, no sujeito, no endógeno e é, a partir daí, que o conhecimento é construído. Para efeito de estudos dessa obra, definimos como foco de interesse o estágio que corresponde à adoles- cência, evoluindo para a idade adul- ta. Ainda levando em conta a questão do desenvolvimento, passaremos a analisá-la na perspectiva sociointe- 88 Materialismo dialético tem como pressuposto básico que a natureza, a história e o espírito se desencadeiam num constante processo de movimento, mudança e transformação. Nessa filosofia, as leis da matéria são as mesmas leis do pensamento; o histórico é anterior ao lógico. racionista, fundamentada nos postulados teóricos de Lev Vygotsky, que viveu na Rússia entre 1896 e 1934. 1.1 O desenvolvimento da pessoa na perspectiva sociointeracionista Levando em conta seus estudos anteriores, você poderá utilizar-se de alguns dos princi- pais conceitos de Vygotsky para buscar entender o modo como ele explica o desenvol- vimento e a evolução do conhecimento. A abordagem proposta por esse teórico e seus colaboradores para a psicologia visavam integrar, numa mesma perspectiva, o ser hu- mano enquanto corpo e mente, enquanto ser biológico e cultural, membro de uma espé- cie animal e participante de um processo da história. A fundamentação materialista (histórica e dialética de Marx e Engels) evidencia-se em vários postulados vygotskianos. Para Vygotsky, o ser humano é dotado de um cérebro que se constitui de um sistema aberto, de grande plasticidade, em constante transforma- ção. Sua estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da es- pécie e do desenvolvimento individual. O desenvolvimento do ser humano se fará pela contínua transformação resultante de sua interação com o meio. “A direção que tomará seu desenvolvimento é função do meio em que ele nasce, das práticas culturais, das instituições de que participa e das possibilidades de acesso às informações existentes em seucontexto” (LIMA, 1997, p. 1 e 2 ) O ser humano transforma-se, pois, de biológico em histórico, com a mediação da cultura e das relações vividas na sociedade da qual faz parte, cujo funcionamento é altamente dinâmico, mutável e em constante desenvolvimento. 99 Processos psicológicos superiores são aquelas funções que envolvem consciência, intenção, planejamento, ações voluntárias e deliberadas. A aprendizagem tem um papel central no que diz respeito a essas funções tipicamente humanas. No processo de evolução humana, o sujeito passa por experiências ativas, exerci- tando operações tantos materiais como intelectuais por meio de interações sociais; no caso de crianças, mediadas pelo adulto que as expõem aos objetos culturais e guiam seu comportamento (por meio da comunica- ção), as ações são cada vez mais complexas e adequadas. Assim, é por meio desse processo de apropriação da cultura que se de- senvolvem, internamente, os processos psicológicos superiores. Lembrando que na construção desses processos psicológicos, destacam-se as rela- ções interpessoais: a interação do sujeito com o mundo se dá pela mediação feita por outros sujeitos, sob influência das situações da aprendizagem e da cultura. No sentido amplo, entende-se por cultura a interpretação apresentada pelos antropólo- gos, a saber: representam formas de organização específicas do meio em função da experiência que os diferentes grupos sociais têm acumulado. Na relação entre o homem e o mundo, distinguem-se elementos mediadores- instrumentos, signos e demais elementos do ambiente humano carregados de signi- ficado cultural que, certamente, se constroem nas relações entre os homens. Vygotsky ressalta o valor do trabalho e das ferramentas utilizadas pelos homens como elementos mediadores, ao mesmo tempo em que enfatiza a importância da diferença qualitativa entre o homem e o animal. É quando exalta o valor da lingua- gem e suas relações com o funcionamento psicológico. Mas, sobre isso, será dado um espaço especial logo a seguir. Continue acompanhando a leitura e logo percebe- rá maiores esclarecimentos sobre os efeitos da linguagem no desenvolvimento hu- mano. Voltemos à questão trazida anteriormente – momento em que se deu um foco espe- cial à questão do trabalho na história da espécie humana, isto é, levou-se em conta a filiação marxista de Vygotsky – e ao trabalho – por meio do qual o homem exer- cita sua ação transformadora sobre a natureza, o que favorece uma união entre ser humano e natureza, ampliando, assim, a cultura e a história humanas. 1100 O trabalho exige planejamento e estimula a atividade coletiva, bem como fortalece as relações sociais entre os pares, que se favorecem na criação e utilização de ins- trumentos, renovando as possibilidades de transformação da natureza. Decorrente desse processo, há um aumento do nível de comunicação entre os sujeitos em ação, o que permite “troca de informações precisas e compartilhamento de significa- ções’’ (OLIVEIRA, 2005, p. 10). Dentro dessa estrutura, na nossa cultura, os sujeitos, quando deixam a adolescência e se formam adultos, ingressam no mundo do trabalho. Em geral, nesse caso, os mais experientes ajudam os novos membros do grupo a dominar os conhecimentos de modo a conduzi-los a participar ativamente das diversas práticas exercitadas nesse contexto. O que se vê, quase sempre, é um conjunto de formas de ajuda praticadas por um grupo social, buscando auxiliar os novos membros a adquirirem a experiência cul- tural e laboral do grupo. Esse é um dos contextos nos quais o ser humano, em determinada fase de sua vida, troca informações e compartilha significações. Cabe lembrar que o homem vai se constituindo a partir de sua herança genética, pela sua experiência individual e, no decorrer de sua vida, pela cultura e pelo trabalho. No entanto seu comportamento também será influenciado claramente pelas experiências históricas e sociais com as quais irá se defrontar, ampliando suas conquistas sob a forma de novos conheci- mentos, permitindo-lhe uma adaptação ativa ao meio, de modo tipicamente huma- no. Quanto ao fato de o homem operar no plano da consciência a partir de determinada fase de sua vida, Oliveira (2005) nos informa que aquele: conceitua o mundo, os outros e seus próprios estados interiores: vive e sabe que vive, pensa e sabe que pensa, se auto observa, age deliberadamente sobre seu próprio universo psicológico. A consciência que não é um estado interior preexistente, mas uma construção de natureza histórico-cultural, fortemente relacionada ao processo compartilhado de construção de signos e significa- 1111 ções, tem claro papel na auto-regulação dos sujeitos humanos (OLIVEIRA, 2005, p.10-11). Para Vygotsky, o mundo inferior do homem encontra-se em constante movimento. Também o autor se refere à existência de uma margem de controle do próprio su- jeito sobre sua vida psicológica, isto é o que garante sua autonomia enquanto sujei- to. Uma importante consequência é o fato de que é impossível controlar o fluxo da produção psicológica (o mundo interior do sujeito). Tanto é assim que situações de isolamento ou de proibição de ação, vividas por meio de um naufrágio ou de uma prisão, por exemplo, não impedem que o ser humano pense, reflita, tenha ideias, emita opiniões e elabore sua própria experiência. Quanto mais imerso na cultura e na história, pelo compartilhamento de signos e significados com seus pares, pela sua capacidade humana de ser, o indivíduo vai se construindo, cada vez mais, autônomo e sujeito de si, por essa dimensão chamada consciência. A consciência não é um estado interior pré-existente, mas uma cons- trução de natureza histórico-cultural, grandemente relacionada ao processo compar- tilhado de construção de signos e significações, e tem um papel relevante na autor- regulação dos sujeitos. A consciência, considerada por Vygotsky como objeto de estudo, em especial da Psicologia, tem mobilizado o interesse de muitos cientistas deste século. Represen- tantes da Biologia, da Matemática e da Física, entre outras áreas, têm se preocupa- do com a questão da consciência. Apesar das divergências teóricas, é unânime entre eles o consenso de que a base da “humanidade” é a consciência, estando ela inti- mamente relacionada à atividade simbólica, à memória e à emoção. Portanto, o conhecimento é entendido como função da atividade consciente do in- divíduo. Daí ser importante considerar, junto ao processo de aprendizagem huma- na, funções tais como a memória, a atenção, a imaginação e a percepção, todas elas consideradas por Vygotsky como funções centrais no processo de desenvolvimento humano (LIMA, 1997). 1122 Finalizando essa parte do estudo, podemos dizer que, no processo do seu desenvol- vimento, uma criança não apenas cresce, amadurece, mas também se torna reequi- pada, renovada. Esse movimento de reequipagem pode ser entendido como resulta- do daquilo que causa o maior desenvolvimento e a mudança na criança à medida que ela se transforma num adulto cultural. Tal processo nos coloca diante do que se constitui na principal diferença entre o desenvolvimento dos seres humanos e dos animais. 1.2 A linguagem e sua relevância no processo de desenvolvimento Nesta etapa do estudo, faremos uma breve incursão nas contribuições traduzidas por Piaget e Vygotsky quanto à importância da linguagem no processo de desen- volvimento. Em razão da sua posição epistemológica, Piaget assume a linguagem como secun- dária em relação ao pensamento lógico matemático, o que é motivo de crítica em torno de sua obra. Esse teórico distingue, com rigor, linguagem e pensamento des- de as primeiras etapas do desenvolvimento. Se, diante da modernidade, a linguagem veio sendo interpretada por diferentes es- tudiosos; para Piaget, a linguagem, apesarde importante, veio sendo assumida co- mo elemento diferencial para a definição de sujeito, de objeto e de homem. Já sabemos que o principal interesse de Piaget é dirigido à gênese e ao desenvolvi- mento do conhecimento, mais especificamente os conhecimentos advindos das ci- ências exatas, o conhecimento do mundo físico e suas possibilidades de sistemati- zação lógico-matemática. Mostrou a criança e o homem num processo ativo de continua interação, interessando-se pelos mecanismos mentais que o sujeito utiliza nas diferentes etapas da vida para poder entender o mundo. A adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento. 1133 Esquemas de ação representam o conjun- to estruturado das características genera- lizáveis da ação. Interessava a Piaget en- tender como e em função de que essas estruturas iniciais se transformam, sendo gradativamente substituídas por outras mais complexas Para ele, a linguagem era considerada “conhecimento arbitrário”. Deu destaque a ela em algumas de suas obras produzidas nas décadas de 20 e 30, nas quais a lin- guagem é apresentada como sinônimo de “linguagem falada”, decorrente não de traços inatos, mas sim de esquemas de ação que coordenam entre si. No entendimento de Piaget, não havia como desprender a linguagem falada das operações lógicas. Isso não significa que a linguagem, em especial a linguagem falada, não é importante, mas sim que ela não é necessária para o desenvolvimento do pensamento. De modo, entende-se que a linguagem é, pois, a condição necessária, mas não suficiente, para a construção das operações lógicas. Isso posto, fica em evidência que a teoria piagetiana não leva em conta que a lin- guagem é muito mais que a capacidade de associar um som a um sentido. A linguagem só se configura quando associada a uma emissão verbal. As ativida- des imitativas (que incluem as auditivas e vocais, as visuais e as manipulativas) favoreceram o processo de desenvolvimento, incluindo-se a própria linguagem. Os piagetianos, em geral, entendem que haveria que se desenvolver primeiro a inte- ligência para depois sofisticar a linguagem (falada ou escrita) num crescente pro- cesso evolutivo, considerando a complexidade presente em cada etapa do desen- volvimento. Cabe, então, perguntar: Por que a linguagem é tão importante? Qual é, de fato, o seu papel no desenvolvimento infantil? De um lado, pode-se afirmar que a lingua- gem é fator de interação social, favorecendo a comunicação entre as pessoas, a tro- ca de informações e de experiências. É fato que os seres humanos podem fazer uso da linguagem para se apropriarem das experiências significativas de gerações pre- cedentes. 1144 Faz-se necessário, ainda, mencionar outro aspecto essencial da linguagem. As pa- lavras não servem apenas para representar coisas e eventos. 1.3 A influência da linguagem no desenvolvimento humano segundo Vygotsky Diante da singularidade de cada vida humana, observa-se uma multiplicidade de caminhos de desenvolvimento passíveis de serem construídos, não de modo deter- minado, mas bastante dinâmico. Essa ideia relaciona-se ao postulado marxista ado- tado por Vygotsky de que a sociedade humana é uma totalidade em constante trans- formação. A postulação de que o ser humano transforma-se de biológico em histórico-social, considerando que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana, também está ancorada em bases materialistas dialéticas. Os elementos mediadores na relação entre o homem e o mundo (instrumentos, signos e todos os elementos do ambiente repletos de significado cultural) são construídos nas relações entre os homens. Entendam elementos mediadores como as diferentes manifestações sob a forma de costumes, de pensamentos, de crenças, de conhecimentos, de atitudes de relação social etc, que são a ponte ou o filtro entre os indivíduos do grupo e o seu ambiente. Buscando ajudá-los a compreender que a existência dessa mediação cultural tem importante papel no desenvolvimento humano, insistimos que a relevância atribuí- da aos elementos do tipo social e cultural não significa rejeitar o papel dos compo- nentes biológicos. Isso porque, efetivamente, é o nosso código genético que nos dá uma plasticidade e uma condição privilegiada sobre os outros animais quanto à abertura para a aprendizagem. Esse mesmo código genético nos permite acumular e organizar a experiência em um formato cultural e apresentá-lo às demais gerações. Como comenta Salvador (1999): 1155 dessa forma, o desenvolvimento inclui ao mesmo tempo uma dinâmica interna e alguns processos que vão “de fora para dentro”; vincula-se estritamente à interação e à ativi- dade conjunta com outras pessoas e pode ter, ao menos em parte, objetivos e caminhos potencialmente diversos alter- nativos (SALVADOR, 1999, p.85). Com base nas ideias de Vygotsky, a interação social, nas quais se efetivam as situ- ações interativas entre pessoas, favorecem o suporte e a ajuda de membros mais experientes e detentores de outras experiências, constituindo-se, assim, como fato- res relevantes no processo de desenvolvimento dos que se envolvem nessa relação. Desse modo, a educação (aqui entendida como um conjunto de práticas sociais por meio das quais os membros mais maduros orientam e auxiliam os mais jovens no domínio de certas capacidades e instrumentos, para que possam compartilhar do mundo social mais amplo) torna-se o principal vetor do desenvolvimento e da “transferência de competências culturais” entre grupos humanos. Podemos considerar as práticas educativas como contextos de desenvolvimento pessoal. Aproveitamos a oportunidade para, aqui, destacar o que se entende por contextos. Referem-se a determinados modelos organizados em atividades, papéis e relações interpessoais inscritas num determinado cenário físico, no qual participam as pessoas que se encontram em fase de desenvolvimento (BRONFENBRENNER, 1987). Acordamos com a ideia de que as práticas educativas (sejam elas exercidas na família, na escola, nos outros espaços de ação educativa) constituem-se em con- textos de desenvolvimento. Observa-se, portanto, que se trata do espaço onde as relações humanas acontecem, lembrando o pensamento de Vygotsky quanto à importância atribuída por ele à intermediação da relação das crianças e dos jovens com os adultos ou companhei- ros mais experientes. O autor considera que as formas mais elevadas do pensamen- to aparecem antes na vida coletiva e, só mais tarde, levam ao desenvolvimento da reflexão, na vida adulta. Se retomarmos a perspectiva de Piaget, veremos que o desenvolvimento caminha de patamares mais centrados no indivíduo para uma progressiva socialização do 1166 pensamento e do conhecimento. De modo inverso, Vygotsky insiste que, logo após o nascimento, o ser humano se torna parte de um mundo iminentemente social (DAVIS, 2005) Mesmo que apresentem pontos de vista diferentes, Piaget e Vygotsky partem do mesmo pressuposto: o desenvolvimento humano se dá em razão de sujeito e objeto (meio físico e social) manterem entre si relações recíprocas e contínuas, de modo que um constitui o outro continuamente. Com isso, prevalece a vinculação dos dois à corrente interacionista em Psicologia. E aqui vai um lembrete: Interacionismo é uma abordagem que, em Psicologia, estuda as trocas que se estabelecem entre o homem e a realidade em que vive, elu- cidando de um lado o impacto do sujeito sobre o meio físico e social e, de outro, o papel desse meio na construção do sujeito. Vale ressaltar que Vygotsky envereda pela questão sócio-histórica, na qual salienta as interações do sujeito com o objeto, destacando que a ação do primeiro sobre o segundo passa, necessariamente, pela mediação do social. Daí que o adjetivo “só- cio” qualifica a natureza do interacionismo adotado por Vygotsky(DAVIS, 2005). Como antes destacamos, Piaget parte do princípio de que a estrutura cognitiva da criança – o tipo da lógica que caracteriza seu pensamento - exprime-se na forma como usa a linguagem. Nesse sentido, a linguagem depende da cognição. Na evolução da criança, ela passa da linguagem egocêntrica (conversa consigo mesma) a uma fase na qual esse tipo de linguagem tende a fragmentar-se, tornan- do-se sussurrada, até que finalmente desaparece. A fala egocêntrica dos primeiros anos de vida submerge, dando origem à linguagem interior. Esse tipo de linguagem tem um caráter esquemático, pontual, sintético, que apenas indica o curso do pen- samento do sujeito, as articulações estabelecidas, as relações feitas, prestando-se a reter apenas o essencial. Em seu lugar, fica a linguagem socializada que, efetivamente, cumpre uma função comunicativa. Liberta-se, assim, do egocentrismo cognitivo, por meio das intera- 1177 ções sociais. Passa a reexaminar suas percepções, seus conceitos e suas ideias, con- siderando o que lhes apresentam aqueles com quem interage. A concepção de Vygotsky, quanto à relação entre linguagem e pensamento, diverge de Piaget. Preocupado com a questão da criação humana, Vygotsky elege a catego- ria “atividade” como a unidade de análise própria da Psicologia. Assim, enfatiza as atividades que se voltam mais para as pessoas do que para a natureza, ressaltando que as atividades, por causarem impacto nos outros seres humanos, transformam-se em significativas. Mas ele insiste que o processo de apropriação, que se dá pela intermediação da linguagem ao longo das atividades humanas, não pode ser considerado no indiví- duo como mera reprodução daquilo que se passa no plano social. Reforçamos a ideia de que a aquisição da linguagem é uma conquista importante do desenvolvi- mento. À medida que evolui, favorecendo a incorporação de signos à atividade prática, permite a transformação de funções psicológicas elementares, de origem biológica, em funções psicológicas superiores, de base sociocultural. É bom lembrar que é na e pela interação entre os homens que os signos se origi- nam, vindo a constituir-se como instrumentos que possibilitam a troca e a comuni- cação entre as pessoas. Assim, signos são palavras e a palavra é parte inerente da linguagem. Vygostky dá grande destaque à linguagem no âmbito de sua teoria. Nessa teoria, os signos são considerados instrumentos de interação. Além de propi- ciarem a comunicação, têm um papel central na regulação da conduta humana. De regulação externa, próxima aos estímulos e aos processos de condicionamento, passam para uma regulação de caráter interpessoal, até serem gradativamente inter- nalizados, convertendo-se em instrumentos internos e objetivos da relação que cada sujeito mantém consigo mesmo. Desse modo, para Vygotsky, por meio da internalização dos instrumentos de rela- ção entre as pessoas, origina-se a consciência humana (entendida enquanto experi- ência das muitas experiências). Com isso, a consciência tem origem e natureza so- cial, semanticamente estruturadas (DAVIS, 2005). 1188 A linguagem interna tem como base o plano semântico que também opera como função, ou seja, constitui, em grande parte, um pensamento que opera por signifi- cados puros, dinâmicos, que transitam entre a palavra e o pensamento. A passagem da linguagem interior para a linguagem externa (comunicativa) se faz de modo di- nâmico e complexo. O que se tem é a transformação da estrutura particular da lin- guagem interior em uma forma de linguagem articulada, organizada, coerente e, acima de tudo, compreensível aos demais. Finalmente, a linguagem permite a construção de conceitos (elementos centrais do pensamento) e se converte em ferramenta do pensamento. A despeito de terem ori- gens genéticas distintas, ao longo do desenvolvimento, pensamento e linguagem se fundem dialeticamente, ou seja, a linguagem converte-se em pensamento e o pen- samento em linguagem. Isso reforça o pensamento de Vygotsky sobre a íntima vinculação entre cognição e linguagem, “formando o que chama de pensamento verbal, que opera, basicamente, via puros significados” (DAVIS, 2005, p.47). Esperamos ter auxiliado você, caro leitor, a compreender melhor como Vygotsky concebe a articulação linguagem/pensamento. É importante lembrar que, para ele, o desenvolvimento que implica na construção de funções psicológicas superiores supõe a presença de processos de apropriação e internalização de instrumentos simbólicos, por meio da interação que se estabelece na e pela atividade. Com isso, a aprendizagem humana tem um caráter essencialmente social, favorecida pela for- ça das influências trazidas dos mais experientes para os mais jovens. O uso de sinais, símbolos e signos, considerados instrumentos que permitem a inte- ração, facilita a realização da atividade. Tais instrumentos de interação requerem, necessariamente, a presença de outros membros da espécie em uma determinada cultura, em um determinado tempo e espaço. Isso se confirma, especialmente, no contexto escolar, espaço interativo no qual a aprendizagem deverá estimular o de- senvolvimento, que possibilitará novas e sucessivas condições de aprendizagem. Chamo aqui a atenção dos educadores para a realidade da ação na qual se envolvem quando se comprometem com o desenvolvimento humano de crianças, adolescen- 1199 tes e jovens, já que são os responsáveis pela condução do processo e das formas de interlocução empreendidas durante a atividade educativa. É certo que há inúmeras situações, vividas neste contexto sociocultural, que expõem os sujeitos a uma di- nâmica intensa de troca, intensificando as possibilidades de aprendizagem e desen- volvimento mútuo – ensinantes e aprendizes alternam seus papéis na construção do conhecimento. Diferentemente das situações informais, nas quais os sujeitos aprendem por imer- são em ambientes culturalmente ricos e informadores, na escola, os agentes peda- gógicos têm o papel explícito de interferir no processo de aprendizagem (e portanto de desenvolvimento), provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. Daí ser necessariamente interessante a intervenção deliberada de outras pessoas no desenvolvimento, considerada como processo pedagógico privilegiado na escola. 1.4 Síntese da Unidade Nesta Unidade, foram enfatizadas as relações entre desenvolvimento e aprendizagem propostas por Piaget e Vygotsky, na perspectiva construtivista e sociointeracionista. Ressaltou-se o papel da linguagem no processo de desenvolvimento humano, buscando evidenciar elementos que forneçam subsídios para a reflexão na área da educação. Fina- lizou-se a Unidade destacando o papel do outro e as consequências das interações junto aos processos de desenvolvimento e as formas de aprendizagem empreeendidas. 1.5 Atividades 1 – Caro aluno, ao refletir sobre os principais fatores que promovem o desenvolvimento humano, analise dois deles que, nesta fase da sua vida, podem explicar as conquistas e os conhecimentos já alcançados por você ao longo de sua história pessoal. Destaque tais fatores e justifique a sua escolha. 2200 2 – Vamos verificar, agora, se ficou claro, para você, como a teoria genética de Piaget postula os estágios de desenvolvimento. Aliás, aproveite para descrever quais são esses estágios. 3 – Segundo Vygotsky, é no trabalho que o homem exercita sua ação transformadora sobre a natureza, o que favorece uma união entre o humano e a natureza. Reflita e faça um comentário descritivo sobre tal afirmação, associando a sua relação com o trabalho e como percebe sua intervenção junto à natureza (meio/comunidade). 4 – Após realizar uma boa leitura do texto sobre a “Linguagem e sua relevância no pro- cesso de desenvolvimento”, reúna suas ideias e expresse-as, de modo sucinto, a respeito da posiçãoepistemológica de Piaget e a sócio-histórica de Vygotsky sobre a importân- cia da linguagem no processo de desenvolvimento e aprendizagem humana. 5- Faça uma lista de outros fatores que, segundo as teorias e os autores aqui apresenta- dos, explicam como se produz o desenvolvimento psicológico das pessoas. Aproveite para se aprofundar no estudo, consultando as obras sugeridas no item 1.5 (Para saber mais). 1.6 Para saber mais Filmes Sugerimos que assistam aos filmes abaixo e observem a natureza humana diante das questões relativas ao desenvolvimento e aos fatores determinantes que o influenciam. É interessante que façam a leitura do texto (Unidade 1) e busquem aprofundamento nas obras sugeridas (Para saber mais). Só então, à luz dos princípios teóricos estudados, devem analisar, em especial, o enredo, os protagonistas dos filmes, diante da realidade da vida social, das formas de interação realizadas e das mudanças de comportamento desenvolvidas em função de uma nova realidade. 2211 Sinopse: 1942, Bruxelas. A menina Misha, de sete anos de idade, começa uma viagem desesperada para escapar dos nazistas e encontrar seus pais. Sozinha, traumatizada, terrivelmente vulnerável, sua salvação chega com a ajuda de uma família de lobos que a adota. Um amor único e poderoso se desenvolve gradualmente entre a menina e seus protetores. Misha passa por muitos episódios – alguns trágicos, alguns engraçados – mas todos intensamente comoventes. Os lobos vão ajudar a menina a sobreviver e ela se vê influenciada pelos condicionantes presentes na nova situação de vida, modificando o seu comportamento humano em função da natureza animal com a qual convive. Sinopse: Uma jovem é encontrada em uma casa na floresta, onde vivia com sua mãe eremita, totalmente reclusa e longe da realidade social. Um médico que a encontra, após a morte da mãe, constata que ela se expressa em um dialeto próprio, evidenciando que até aquele momento ela não havia tido contado com outras pessoas. Intrigado com a descoberta e, ao mesmo tempo, encantado com a inocência e a pureza da moça, ele tenta ajudá-la a se integrar à sociedade. Sinopse: Chuck Noland (Tom Hanks) é um inspetor da Federal Express (FedEx), uma multinacional encarregada de enviar cargas e correspondências. Sua função é checar vários escritórios da empresa pelo planeta. Porém, em uma de suas costumeiras viagens, ocorre Tempo de Duração: 115 minutos Ano de Lançamento: 2007 Gênero: Drama Fonte: <http:// www.filmeseseries online .com>. Acesso em 12 maio 2010. Tempo de Duração: 115 minutos Ano de Lançamento: 1994 Gênero: Drama Fonte:< http://www.adorocinema. com /filmes/nell/>. Acesso em 12 maio 2010. 2222 um acidente que o deixa preso em uma ilha completamente deserta por 4 anos. Sua noiva (Helen Hunt) e seus amigos acreditam que ele morreu no acidente. Chuck precisa lutar para sobreviver, tanto física quanto emocionalmente, a fim de que um dia consiga retornar à civilização. É interessante analisar a forma de comportamento adotada por Chuck diante da realidade, de total isolamento social, na qual se viu por tantos anos. Livros COLL, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Porto A- legre: Artmed, 1995. Os três volumes apresentam uma revisão geral das relações entre psicologia e edu- cação. O primeiro volume trata da psicologia do desenvolvimento; o segundo, da psicologia da aprendizagem; e o terceiro, da questão das necessidades educativas especiais. É uma obra atual, vasta e aprofundada, para ser consultada em diferentes ocasiões. LA TAILLE, Y. de et al. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. Escrito por professores da Universidade de São Paulo, especialistas no pensamento de Piaget, Vygotsky e Wallon, esse livro apresenta um diálogo entre os três princi- pais teóricos da psicologia, que buscam compreender o desenvolvimento psicológi- co humano. Os textos tratam das relações entre fatores biológicos e sociais no de- senvolvimento e entre aspectos afetivos e cognitivos no funcionamento psicológico. Tempo de Duração: 143 minutos Ano de Lançamento: 2000 Gênero: Drama Fonte: http://www.adorocinema. com/filmes/naufrago/. Acesso em 12 maio. 2010. 2233 OLIVEIRA, M. K. de. Aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio- histórico. São Paulo: Scipione, 1993. O livro apresenta uma síntese das ideias de Vygotsky, localizando o autor no con- texto em que viveu e produziu. Enfatiza especialmente a impotência dada por Vy- gotsky à cultura e à língua na constituição do ser humano, explorando as relações entre desenvolvimento e aprendizagem, pensamento e linguagem e aspectos biológi- cos e culturais do funcionamento psicológico. É um livro de fácil leitura, útil como uma iniciação ao pensamento de Vygotsky, servindo também para aprofundar ques- tões abordadas neste livro-texto. PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959. CASTORINA, J. A. et al. Piaget e Vygotsky: novas contribuições para o deba- te. São Paulo: Ática, 1995. 2244 2255 Unidade 2 Unidade 2 . A construção do conhecimento: foco nos fatores e processos psicológicos envolvidos Nesta Unidade, apresentaremos as formas sobre como se dá a construção do conheci- mento: fatores e processos psicológicos envolvidos no processo. Para além disso, pro- pomo-nos a encaminhar as reflexões sobre como a escola influencia e se constitui num espaço de formação e desenvolvimento. Introduzir os alunos no universo escolar, aproximando-se das propriedades e dos princí- pios teóricos tratados pelas diferentes ciências, é um dos grandes objetivos do ensino para a escola fundamental e média, em especial dos professores em seus projetos de ações pedagógicas. Mas alcançá-los tem sido uma tarefa bastante difícil, chegando mesmo a se constituir em desafio no contexto escolar. O que temos são alunos deparando-se com uma gama de fatos isolados, gerando com isso grande desinteresse pelas questões e pelos conceitos propostos nos âmbitos das ciências em geral. Isso se reflete nas práticas de ensino e no processo de aprendizagem, impossibilitando, por vezes, a introdução dos alunos no universo das ciências; muito pelo contrário, pode-se excluí-los de desvendar os tantos conhecimentos trazidos no bojo das diferentes ciências. Para nós, a ciência é mais do que uma coleção de conceitos ligados por uma teoria, co- mo ainda é tradicionalmente apresentada em grande parte dos currículos escolares. O ensino em geral deve apresentar-se de modo excitante, estimular o raciocínio dos alunos para encontrar explicação para os problemas ou fenômenos da natureza a serem desven- dados, levando-os a ultrapassarem as ações contemplativas e encaminhando-os à refle- 2266 xão e à busca de explicações que, em última análise, são metas de um trabalho científi- co. Apoiados nos trabalhos de Piaget e Vygotsky como referenciais teóricos, abordaremos a seguir como os indivíduos constroem os seus conhecimentos, com significado e com- preensão, por meio de ações sobre os objetos e de experiências com as coisas a serem conhecidas. 2.1 Bases para a construção dos conhecimentos na concepção construtivista Nas salas de aula não temos apenas um sujeito epistêmico. Na realidade, temos, em média, 30 alunos que se encontram em diferentes fases de desenvolvimento, com os quais devemos interagir e ensinar simultaneamente. Para tanto, ao planejarmos as ativi- dades de ensino, é conveniente conhecermos os procedimentos mais adequados, medi- ante os quais os alunos poderão, gradativamente, apropriar-sedos contentos escolares, para intervimos eficazmente em sua aquisição. Como já apresentamos na Unidade I, o objetivo de Piaget era explicar a gênese dos co- nhecimentos. Ele adotou uma posição que não coincide com o empirismo (ou ambienta- lismo) nem como o inatismo (ou nativismo ou racionalismo). Essa posição, denominada construtivista (anteriormente, interacionista), postula uma interação constante entre o sujeito e o objeto. Para Piaget, o sujeito e o objeto são indissociáveis e se constituem mutuamente. A imagem que nos oferece do ser humano é de um homo faber de si mesmo, que vai construindo a sua inteligência ao mesmo tempo em que estabelece re- presentações da realidade. Como bem sabemos, empirismo e inatismo são duas posições antagônicas sobre como é produzido o conhecimento. O empirismo sustenta que a mente é uma tabula rasa, uma folha em branco, na qual a experiência vai se imprimindo gradativamente. Nega, por- tanto, a existência de ideias inatas. O conhecimento é o resultado direto da experiência sobre um mundo determinado e externo a nós. 2277 O inatismo, numa posição oposta, afirma que a nossa mente tem conhecimentos a priori ou inatos, sem os quais seria impossível conhecer. Os inatistas aceitam a possibilidade de que se adquirem conhecimentos por meio da experiência, mas tais conhecimentos estariam sempre mediados por ideias inatas. A novidade trazida na posição construtivista, diferentemente das duas concepções ante- riores, faz a defesa sobre a unidade do sujeito e do objeto. Piaget não aceita que as es- truturas ou formas, nas quais o conhecimento se organiza, sejam inatas, mas procura, justamente, explicar como elas se formam. Segundo ele, todos os conteúdos e os co- nhecimentos concretos devem ser construídos. O conhecimento humano é essencialmente ativo e a construção se faz de maneira contí- nua. Em relação às formas como esses conhecimentos se organizam, Piaget admite du- as fases: a exógena, referente à constatação, à cópia, à repetição; e a endógena, fase da compreensão, das relações e combinações. Uma característica essencial da posição construtivista é que constitui uma teoria do su- jeito, em acordo com a posição assumida pela psicologia cognitiva. Para Piaget, o or- ganismo encontra-se num meio sobre o qual o sujeito age e transforma. As condições externas podem facilitar ou dificultar a formação de determinados conhecimentos, mas, de qualquer forma, não o produzem sem a atividade do sujeito. O conhecimento não é derivado diretamente da percepção. Para se conhecer um objeto ou um determinado fenômeno, é preciso manipulá-lo com os sentidos e a mente. Ao interagir com a realidade, o sujeito constrói as suas representações, tornando-as inde- pendentes dele, mas sempre a conhecerá a partir de seus instrumentos cognitivos e não em si mesma. A partir daí, o sujeito constrói a si mesmo, por meio da ação. Aqui cabe destacar o quanto é amplo o conceito de ação ou atividade. Na perspectiva piagetiana, a ação é transformação material da realidade, sobre a qual agimos por inter- médio de nossas capacidades motoras. O sujeito é ativo na percepção e não se limita a apenas receber informações por meio dos sentidos – procura-as e as relaciona. O sujei- to não copia, atua; não espera que se produzam transformações na realidade, mas as provoca e tira vantagens das modificações ocorridas. 2288 E surge aqui uma questão: Qual o lugar do processo epistêmico construtivo que implica a participação do aprendiz? Lembremos que a ação se pauta na interação, mais preci- samente, no seio das interações sociais produzidas no meio; daí dizer que os conheci- mentos habitam entre nós e são recriados na dimensão interativa e social do cotidiano. Em se tratando de Piaget (1970), é importante destacar o que para ele é conhecimento operativo e conhecimento figurativo, o que será feito por meio de um exemplo. Se uma pessoa olha para uma árvore, “vê” o objeto figurativamente. Porém, na sua mente, ela também o concebe como algo vivo que respira, que tem raízes, galhos e folhas, que é queimável e que pode ser reutilizável. Tais aspectos são concepções operativas que vão além dos limites dos conhecimentos figurativos. Os pensamentos figurativos se constituem de percepções, de imitações e de imagens mentais (imitações interiorizadas), aspectos do pensamento ligados aos sentidos. Nesse caso, ao olharmos um objeto, nosso pensamento imediatamente identifica tal objeto. Isso é pensamento figurativo ou reconhecimento figurativo de um acontecimento estáti- co (WADSWORTH, 1984). Pensando em ajudá-lo a entender tal processo, imagine que o conceito que uma criança tem de árvore desenvolve-se a partir de suas ações em relação à árvore, mas, evidente- mente, a sua concepção muda à medida que aumenta a experiência e o tipo de informa- ção que ela tem para desenvolver a ideia de árvore. Assim, o conceito é construído e, quase sempre, se reforça com o tempo e a experiência. Daí que, o funcionamento operativo é a organização, consolidação e integração do co- nhecimento figurativo. Entendemos, pois, que o pensamento operativo resulta em mu- danças nos esquemas e, como consequência disso, está ligado ao processo de assimila- ção e acomodação (lembram-se de tais processos defendidos por Piaget, apresentados na Unidade anterior? ). O desenvolvimento intelectual pode ser caracterizado como o crescimento do conheci- mento operativo. Reforçamos a ideia de que o conhecimento não deriva diretamente de percepções. Uma pessoa não conhece somente porque vê, mas sim porque vê, assimila e acomoda o que viu; e o resultado é o conhecimento. 2299 O cerne de sua teoria, ou seja, sua proposta metodoló- gica é decorrente da epistemologia dialético- materialista. O modelo teórico proposto por Vygotsky foi profunda- mente influenciado pelos pensamentos de Karl Marx (filosofo russo, que viveu entre 1818 e 1883) e Friedrich Engels (filósofo alemão, que viveu entre 1820 e 1895). Dialético-materialista: Marx utilizou o método dialético para explicar as mudanças importantes ocorridas na história da humanidade através dos tempos. Ao estudar determinado fato histórico, ele procurava seus elemen- tos contraditórios, buscando encontrar aquele elemen- to responsável pela sua transformação num novo fato, dando continuidade ao processo histórico. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo _dial%C3%A9tico. Acesso em: 10 ago.2010 Finalmente, o conhecimento envolve tanto a percepção (experiência) quanto a assimila- ção da experiência. Isso ocorre sob a forma de processo, em constante e dinâmica cons- trução. 2.2 Apropriação dos conceitos na perspectiva de Vygotsky Nascido numa família altamente letrada, com um rico acervo cultural a sua disposição na própria casa, Lev Vygotsky cresceu num ambiente de grande estimulação intelectual e, ainda muito jovem, interessou-se pelo estudo e pela reflexão em torno de várias áreas do conhecimento. Formado em Direito pela Universidade de Moscou (1917), Vygotsky também estudou História, Filosofia, Literatura, Psicologia e Medicina. Voraz como es- tudioso, mergulhou na produção acadêmica disponível no início do século XX e propôs mudanças significativas nas na Psicologia da época, recorrendo às bases do materialis- mo dialético marxista em vários de seus postulados. Leia o box ao lado e leia mais sobre as ideias de Marx. O desenvolvimento humano, o aprendiza- do e as relações entre desenvolvimento e aprendizado são temas centrais nos traba- lhos de Vygotsky. Em sua obra, é clara a preocupação com a origem e o desenvol- vimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual, numa forma de aborda- gem genética, comum em outras teorias psicológicas. Embora reconheçamos o va- lor de sua obra, é importante destacar queas teorias de Piaget e Wallon (1879-1962) são as mais completas e articuladas teorias genéticas do desenvolvimento. Vygotsky não nos oferece uma interpretação completa do percurso psicológico do ser humano, mas sim, reflexões e dados de pesquisa sobre vários aspectos do desenvolvi- mento, bem como dá especial importância aos processos de aprendizado. Para ele, o 3300 percurso do desenvolvimento é, em parte, definido pelo processo de maturação do orga- nismo individual, mas considera o aprendizado o fator que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento favorecidos pelas influências e interações pro- movidas no ambiente cultural. Nesse sentido, a relação do ser humano com o meio é sempre ativa e transformadora. Por sua ênfase nos processos sócio-históricos, Vygotsky defende a ideia de que o a- prendizado inclui interdependência dos indivíduos envolvidos no processo, ou seja, em se tratando do processo de ensino-aprendizagem, inclui-se sempre aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre essas pessoas. Para ele, o conceito de aprendizagem tem um significado mais abrangente, sempre envolvendo interação social. O desenvol- vimento deixa de ocorrer na falta de situações propícias ao aprendizado. Em Vygotsky, cada etapa no estágio de desenvolvimento significa um conjunto de fun- ções psíquicas que mantém relações específicas entre si e, também, um conjunto de princípios explicativos específicos, nos quais se incluem fatores biológicos, sociais e culturais. Devido à ênfase dada por esse teórico ao papel do outro social no desenvolvimento, surge a necessidade de esclarecer um conceito específico dentro de sua teoria, essencial para a compreensão de suas ideias sobre as relações entre desenvolvimento e aprendiza- do: o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Antes disso, porém, daremos ex- plicações sobre outros aspectos, básicos para Vygotsky, na constituição de tal conceito. Analisemos primeiro o que Vygotsky chama de nível de desenvolvimento real, ou seja, quando se refere às etapas já alcançadas, já conquistadas pelo indivíduo. As funções psicológicas que fazem parte desse nível são aquelas que se encontram estabelecidas no momento da ação, que se apresentam como resultado de processos de desenvolvimento já concluídos e consolidados. Já o nível de desenvolvimento potencial refere-se à capa- cidade do indivíduo de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou companheiros mais experientes. Vejamos, por meio de um exemplo, se conseguiremos melhorar o seu entendimento a respeito do assunto em pauta. Suponhamos que, numa determinada fase do desenvol- 3311 vimento, um menino não seja capaz de andar de bicicleta sem a ajuda das rodinhas de apoio. Se alguém lhe der instruções, fornecer pistas ou der assistência durante o proces- so, é possível que consiga um resultado melhor durante a experiência do que aquele que realizasse a tarefa sozinho. Nesse caso, verificamos o que Vygotsky caracteriza como nível de desenvolvimento potencial. Mais tarde, esse mesmo garoto poderá conseguir um resultado mais avançado ao tentar conduzir a bicicleta sozinho – um outro momento do desenvolvimento, quando certas etapas já foram alcançadas e a experiência se efetiva sem que seja necessário se benefi- ciar da ajuda de outro(s). Para Vygotsky, essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela in- terferência de outra é fundamental. Porém, cabe salientar que “não é qualquer indivíduo que pode, a partir de outro, realizar qualquer tarefa” (OLIVEIRA, 2005, p. 59). São pontos marcantes da sua teoria: que a interferência de outras pessoas afeta significati- vamente o resultado da ação individual e que o desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado. Tais situações impulsionam o processo de construção das funções psicológicas humanas. Segundo esse teórico, o processo de desenvolvimento não coincide com o de aprendiza- gem; tal processo ocorre depois da aprendizagem e do ensino, o que cria a Zona de De- senvolvimento Proximal (ZDP). “A zona de desenvolvimento proximal refere-se, assim, ao caminho que individuo vai percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas, estabelecidas no seu nível de desenvolvimento real. A zona de desenvolvimento proximal é, pois, um domínio psicológico em constante trans- formação” (OLIVEIRA, 2005, p. 60). Nesse sentido, aquilo que um indivíduo é capaz de fazer com a ajuda de alguém hoje, conseguirá fazer sozinho amanhã, observando que sempre os mais experientes contribu- irão para estimular os processos de desenvolvimento daqueles que são mais imaturos e inexperientes. 3322 Como já dissemos em outro momento desse estudo, na perspectiva de Vygotsky, a cons- tituição das funções complexas do pensamento é veiculada principalmente pelas trocas sociais e, nessa interação, o fator de maior peso é a linguagem, ou seja, a comunicação entre os homens. É da relação entre a fala e a inteligência prática, ou seja, da combina- ção entre o instrumento e o signo, que emergem as funções cognitivas superiores. Desse modo, a linguagem intervém no processo de desenvolvimento do ser humano desde o momento do nascimento. Nas situações da vida diária, quando os pais ou outras pessoas chamam a atenção de uma criança para objetos, pessoas ou fenômenos presen- tes no meio ambiente, estão auxiliando-a na construção de formas mais complexas e sofisticadas de conceber a realidade. Daí a importância da linguagem para o desenvol- vimento do pensamento: ela sistematiza a própria experiência e serve para orientar o comportamento, propiciando condições ao indivíduo de ser tanto sujeito como o objeto deste comportamento. Na concepção de Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem seve de base para explicar a formação de todas as demais operações mentais que envolvem o uso de signos. Cabe destacar que a linguagem, tal como a consciência humana, nasce e se desenvolve a par- tir do e no processo de trabalho. A linguagem é produto da atividade prática conjunta dos homens: é real, concreta, objetiva e enriquece a consciência individual. Em outras palavras, a linguagem tem um papel decisivo no processo de formação das funções psí- quicas do homem; é o meio pelo qual se generaliza e se transmite o conhecimento, a experiência acumulada na e pela prática social e histórica da Humanidade (PALAN- GANA, 2001) O conhecimento científico envolve “teoria e prática”, uma compreensão do mundo que implica uma prática, a qual depende desse mesmo conhecimento. Os conceitos vão se construindo pelas experiências individuais como também a partir dos conhecimentos transmitidos na interação social, em especial na escola. Os conceitos adquiridos pela experiência individual são chamados de espontâneos e relacionam-se a objetos ou situa- ções nas quais o sujeito observa, manipula e vivencia diretamente. 3333 Quando não diretamente acessíveis à observação ou ação imediata e dependem da atua- ção de outros ou mesmo das intervenções pedagógicas vividas no contexto escolar, constituem-se em conceitos denominados científicos. A funcionalidade e a utilização de cada conceito de forma deliberada e voluntária dependem da consciência do sujeito em relação a ele. Considerando essas relações necessárias, no contexto escolar, é mais proveitoso traba- lhar os conteúdos a partir dos conceitos espontâneos, tendo como base a experiência imediata dos alunos. Mediante as ideias de Vygotsky, a intervenção deliberada dos membros mais maduros da cultura no aprendizado dos menos experientes (crianças, jovens ou mesmo adultos) é essencial ao processo de desenvolvimento; considera-se a intervenção do professor como central na trajetória dos indivíduos que passam pela es- cola. Na escola, onde o aprendizado
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