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Psicopatologia: História e Conceitos

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1 
 
 
 
 
 
 
INSTITUTO EDUCACIONAL MARIS 
 
 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
 
 
 
DISCIPLINA 
 
PSICOPATOLOGIA 
 
2 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 1 - HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA .......................................................... 5 
 2 - NEUROSES ............................................................................................ 9 
 3 - HISTERIA ............................................................................................. 16 
4 - DEPRESSÃO ........................................................................................ 23 
5 - PSICOSES ............................................................................................. 28 
 6 - SOMATIZAÇÃO ....................................................................................... 32 
 7 - PERVERSÃO ........................................................................................... 39 
 8 - HOMOSSEXUALIDADE ............................................................................ 48 
 9 - PACIENTES DE DIFICIL ACESSO ........................................................... 79 
 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ........... 88
 
3 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
Esta é uma apostila teoricamente fundamentada a partir de um estudo que 
se pretende uma minuciosa e reflexiva revisão das contribuições de Freud para o 
campo da psicanálise. O tema que norteia essa obra tem sido objeto do estudo de 
diversos pesquisadores e estudiosos, tendo uma vasta literatura como referencial. 
De modo que, a pretensão de esgotar o assunto, mais do que arrogancia, 
representaria a completa comprovação de ingenuiadade acerca do tema aludido. 
Nosso objetivo é oferecer um material conciso que seja o ponto de partida 
para o interesse, a pesquisa e a reflexão do tema abordado, trazendo ao aluno, 
estudos da clínica psicanalítica, a teoria e a teoria da técnica, a associação livre e a 
transferência; a noção de estruturas clínicas e a constituição do psíquico. 
Bons estudos! 
 
4 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA 
 
 
De acordo com o pesquisador Ceccarelli (2003), "a palavra "Psico-pato-logia" é 
composta de três palavras gregas: "psychê": psique, psíquico, psiquismo, alma, espírito; 
pathos: paixão, passividade, sofrimento, doença e “logos": lógica, discurso, narrativa, 
conhecimento. Com isso, Ceccarelli (2003) demonstrou que essa ciência como e a área do 
conhecimento científico que estuda, avalia e desenvolve estratégias de tratamento para 
uma pessoa que padece de algo que ele desconhece e o faz sofrer. A psicopatologia 
segundo Ménéchal (2002) “é uma preocupação muito antiga do pensamento, que se 
confunde com a reflexão do homem sobre a estranheza dos seus semelhantes, e que 
remete para certa abordagem do enigmático, seja esta encarnada pelos deuses, pelo mal, 
pela sexualidade ou até pela ciência” (MÉNÉCHAL, 2002, p.16). 
Durande seculos buscou-se a doença mental em diferentes contextos sócio-
ambientais. Aristóteles (384 a.C.) atribuiu os males da mente à paixão, um elemento 
inerente ao ser humano. O homem deveria saber dosá-las para encontrar equilíbrio entre 
paixão e razão. Aristóteles não considerava a paixão um mal que leva a agir contra a 
vontade do indivíduo, mas sim, como uma força que justifica o agir desse indivíduo 
(ALMADA, 2005; MOSSO, 2010). 
Já Hipócrates (460 A.C.), filósofo grego, e considerado o pai da medicina moderna, 
separou a medicina da religião e da superstição. Graças a Hipócrates vieram a tona 
conceitos como humor, crise, metástase, recidiva e prognóstico. Ele defendeu que as 
doenças mentais tinham causas naturais e deveriam ser tratadas como outras doenças. 
Davidson (2003) relatou que Hipócrates associou o pensamento e comportamentos 
anormais a patologias cerebrais, foi “um dos proponentes mais antigos da somatogênese, a 
idéia de que alguma coisa anormal no soma ou corpo físico perturba o pensamento e a 
ação (DAVIDSON, 2003, p.7). 
Nesse período, foi inaugurada a clínica baseada na descrição das alterações 
cognitivas, volitivas, emocionais e orgânicas que passam a ser interpretadas como 
expressões das disfunções hormonais, resultando nos quadros clínicos de mania, 
melancolia e histeria. O pensamento dessa época era que o humor implicava nos humores 
do corpo humano, que por sequência influíam no caráter dos indivíduos, no seu 
temperamento (MARTINEZ, 2006). 
 
5 
 
 
Santa Clara (2009) exemplificou algumas conceituações, a melancolia, por exemplo, 
defendidas na Idade Média desenvolvidas por Hipócrates e Aristóteles, a melancolia foi 
“explicada pela presença de uma quantidade excessiva e fortuita de bile negra no corpo, e 
entre os religiosos da Idade Média é reconhecida como um adoecimento espiritual”(SANTA 
CLARA, 2009, p.2). 
Platão (427-348 a.C.) também se destacou no arcabouço teórico da Psicopatologia, 
na obra “Timeu”, Platão concebeu a psique (alma) como sendo constituída por três partes: 
racional, afetivo-espiritual e apetitiva. Platão considerava que a loucura era fruto da 
desarmonia entre as três partes do sistema psíquico, o que provocava o desvio na 
racionalidade de seguir as leis lógicas (MARTINEZ, 2006, p.21). 
Galeno (131-200 D.C.) se inspirou na observação clínica e na nosografia 
hipocráticas, mas o espírito de sistema o distanciou de Hipócrates e o levou ao dogmatismo 
que Pinel (1745-1826) pretendeu abolir ao priorizar o método clínico da psicopatologia 
(MARTINEZ, 2006, p.26). 
Pinel, em sua obra, constituiu um sistema descritivo, sem ser explicativo, das 
doenças mentais, ele enumerou quatro grandes classes de manifestações mórbidas: a 
mania, a melancolia, a demência e o idiotismo. A semiologia psicopatológica encontrada 
nos estudos de Pinel tratou dos distúrbios das faculdades do entendimento, como: 
sensibilidade ou sensação, percepção, emoções e afecções morais, imaginação, 
pensamento, julgamento, memória e caráter. Esse estudioso construiu uma doutrina 
aparentemente eclética e precisa, baseada numa concepção materialista 
psicofisiológica (MARTINEZ, 2006). 
 Pessotti (1996) indicou que Pinel afirmou em seus estudos sobre o tratamento 
clínico, que a loucura não era a desrazão que desumaniza, é, apenas, um desequilíbrio na 
razão ou nos afetos, assim era possível resgatar a identidade humana do alienado, 
colocando um fim a sua exclusão. Pinel defendia que a observação demorada da conduta 
dos pacientes era o método mais eficiente para diagnosticar, ordenar e catalogar os 
sintomas e os distúrbios mentais. 
Em 1793, Philippe Pinel foi nomeado responsável pelo sistema hospitalar parisiense 
e diretor de um grande asilo de Paris - o La Bicêtre, ali iniciou uma ampla reforma tanto nas 
condições de vida daqueles internados como no seu tratamento. As correntes foram 
retiradas e os doentes começaram a ser tratados como seres humanos, não mais de forma 
desumanizada. Muitos se tornaram calmos e passaram a andar livremente pelo hospital. 
Alguns que eram considerados “casos perdidos”, se recuperaram (DAVIDSON, 2003). 
 Kraeplin (1856-1926) reduziu a identificação de uma forma patológica aos seus 
sintomas, nem à sua etiologia, nem à sua terapêutica, ele empreendeu uma cartografia 
http://gracomparin.blogspot.com.br/2012/12/historia-da-psicopatologia.html
http://gracomparin.blogspot.com.br/2012/12/historia-da-psicopatologia.html
http://gracomparin.blogspot.com.br/2012/12/historia-da-psicopatologia.html
 
6 
 
 
ordenada da psicopatologia de que ainda vive a psiquiatria moderna (MÉNÉCHAL, 2002). 
 Outro grande expoente da Psiquiatria foi Griesinger (1817-1868), suas obras 
apresentavam as características de um manual prático, dividindo-se didaticamente em: 
considerações gerais, semiologia, etiopatogenia, formas clínicas, anatomo-patologia, 
prognóstico e terapêutica, tal como até hoje, no século XXI. A referência teórica de 
Griesingerseria retomada no século seguinte por Blondel, Guiraud, Jaspers e Freud, como, 
por exemplo, a teoria do “ego” e de sua metamorfose no delírio (MARTINEZ, 2006; 
DACKER, 2003). 
 Em 1913, Jaspers (1883-1969) fez uma crítica ao método empírico tradicional 
científico e propôs o método fenomenológico. Com o intuito de discutir questões relativas às 
doenças mentais, publicou Psicopatologia Geral.. Jaspers compreendia a psicopatologia 
como ciência cuja função seria observar e descrever os fenômenos psíquicos patológicos, 
diferentemente da psiquiatria que tem por objetivo diagnosticá-los e tratá-los (PESSSOTTI, 
2009) 
 Dalgalarrondo (2000) refletiu com baseado na avaliação de Jaspers que “não se 
pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos 
psicopatológicos, ao se diagnosticar Van Gogh e fazer uma análise psicopatológica de sua 
biografia, não se explicará totalmente a vida e a obra desse artista” e completa “sempre 
resta algo que transcende à psicopatologia, e, mesmo, à ciência, e que permanece no 
domínio do mistério” (DALGALLORRONDO, 2000, p.23). 
Freud (1856-1939), herdeiro dos filósofos alemães do espírito e neurologista, situou-
se na confluência de uma ciência médica preocupada com a classificação e de uma filosofia 
do tratamento moral da loucura (MÉNECHAL, 2002). 
 A história da psicanalíse de Freud desde Breuer, passando por Charcot, Liébault, 
Bernheim e Fliess, chegando a Jung, Bleuler, Adler, Rank e Ferenczi foi e é ainda nos dias 
atuais são difundidas. A psicanálise apareceu como uma teoria e uma nova técnica de 
tratamento de doenças mentais, a fim de preencher uma lacuna científica no âmbito da 
psicologia e da psicopatologia, ligando a medicina à filosofia da mente e à epistemologia da 
neurociência e da psicopatologia (MARTINEZ, 2006, p. 122) 
No cotidiano científico e pós-moderno algumas discussões incluem, o debate 
interdisciplinar. Um pesquisador ou profissional especialista irá agregar novos 
conhecimentos ao grupo e, assim a equipe poderá apreender, compreender e cuidar 
pessoas adoecidas com maior probabilidade de segurança e conforto, condições 
importantes para a boa saúde mental do trabalhador, revertida em estratégias com maior 
probabilidade de serem eficientes junto aos pacientes e familiares. 
De acordo Dalgalarrondo (2000), “Não se avança, em psicopatologia negando e 
 
7 
 
 
anulando diferenças conceituais e teóricas; avança-se, sim, por meio do esforço de 
esclarecimento e aprofundamento de tais diferenças, em um debate aberto, desmistificante e 
honesto” (DALGALARRONDO, 2000, p.28). Na produção de conhecimento ocorrem 
comumente discursos divergentes, a Psicopatologia tem diferentes tipos de escolas teóricas 
que analisam, avaliam e desenvolvem estratégias de tratamentos para as pessoas que se 
encontram com comportamentos anormais, desviantes ou divergentes de um determinado 
grupo.
 
8 
 
 
 
 
 
1- NEUROSES 
 
 
Durante muito tempo, a distinção neuroses e psicoses foi um divisor de águas no 
campo do sofrimento humano. Neurose é um termo que nasce e se desenvolve a partir da 
psicanálise. 
Uma período de hegemonia das ideologias no mundo levou esse termo, neurose, a ser 
intensamente utilizado para designar aquelas alterações e transtornos não marcados por uma 
ruptura radical com a normalidade. Com a revolução pragmática a psiquiatria decide banir 
todas as teorias (ideologias) não comprovadas; 
As neuroses são aquelas alterações caracterizadas por um aumento de intensidade 
das “estranhezas” próprias a todo ser humano, uma amplificação das reações que até certo 
grau são consideradas normais. 
Na CID ainda existe um grupo de transtornos sob o nome neurose. Justifica a não 
utilização do termo histeria pelas suas variações semânticas ao redor do mundo, preferindo 
dividi-la em transtornos dissociativos e somatoformes. 
O DSM elimina até mesmo o termo neurose não supondo nenhum mecanismo 
específico que reuniria os transtornos classicamente agrupados sob o termo neuroses. 
As psicoses, são assinaladas precisamente por uma estranheza radical em relação aos 
fenômenos das normalidades, enquanto as neuroses são “rastreáveis”, compreensíveis em 
seus sintomas. É possível entender como e por que os sintomas se desenvolveram, há uma 
familiaridade da normalidade em relação aos transtornos neuróticos. 
 
 Aspectos históricos 
 
 Ainda que seja quase intuitivo fazê-lo, não se trata, de hierarquizar neurose e psicose 
em termos de gravidade. É questão de caracterizar as neuroses como 
compreensivelmente graves, enquanto as psicoses seriam estranhamente graves. Freud 
retoma a distinção de Jaspers, entre as patologias do sentido e aquelas em ruptura 
com o sentido. 
Freud oferece uma explicação tanto para as neuroses (que ele chama de neuroses de 
transferência) quanto para as psicoses (que chama, por vezes, de neuroses narcísicas). Uma 
vez que esta explicação, que justificaria o grupo das neuroses, é de cunho psicanalítico e os 
manuais, especialmente o DSM, se pretendem a-teóricos, é compreensível que esse termo, 
 
9 
 
 
assim como outros termos tradicionais, como a histeria, seja excluídos da classificação. 
 
 Divisão da neurose 
 
De forma geral, a neurose foi dividida nos manuais da seguinte forma: 
transtornos dissociativos, somatoformes - antiga histeria -, 
transtorno obsessivo- compulsivo – antiga neurose obsessiva -, 
transtornos fóbicos e ansiosos e reação a estresse grave –antiga neurose de angústia. 
 
Angústia 
 
Esta é a marca fundamental das neuroses. A etiologia e o desenvolvimento desses 
transtornos tende a ser diretamente relacionada a uma certa forma de lidar com ela. 
Já na psicose, a angústia pode estar presente, e de fato está muitas vezes, mas ela 
não parece constituir a questão central, nem a origem nem o centro do problema; não se 
enlouquece verdadeiramente de angústia. 
Sobre as neuroses, é possível definir os transtornos a partir de alguns binômios, tais 
como: difusa ou concentrada em algum objeto, objeto socialmente aceito como angustiante ou 
não, objeto localizado dentro ou fora do corpo. 
Quanto mais localizado está o objeto, menor ou mais estruturada tende a ser a 
angústia. O ataque de pânico, por exemplo, marcado pela não localização da angustia, tende a 
ser mais angustiante que uma fobia de túneis – objeto localizado - ou um transtorno conversivo 
– objeto situado no corpo. A seguir, as características de cada transtorno. 
 
 Transtorno de ansiedade 
 
Dentre outras se destacam quatro manifestações principais: 
 
Fobia; 
Pânico; 
Ansiedade generalizada; 
Estresse pós-traumático. 
 
 
 
 Fobias 
 
 
10 
 
 
Das fobias, a agora fobia desponta como a principal. Outrora descrita como fobia de 
lugares abertos, seus traços foram ampliados incluindo atualmente medo de multidões, de se 
afastar de casa e outros. 
Neste caso, o objeto fóbico é muito pouco definido e angústia é muito pouco 
localizável, o que traz grandes desordens ao funcionamento social e leva, quase 
invariavelmente, o indivíduo aos médicos e psicologos. 
Na comunidade científica se debate sobre as relações entre agorafobia e transtorno 
de pânico. Atualmente, a CID considera a fobia como a alteração principal, servindo eventuais 
ataques de pânico como indicadores de sua gravidade. 
Segundo a CID os critérios diagnósticos são: 
ansiedade deve ser a alteração primária, sendo as demais alterações psicológicas e 
autonômicas dela decorrentes; 
a ansiedade deve estar restrita a pelo menos duas das seguintes situações: multidões, 
lugares públicos, viajar para longe de casa e viajar sozinho; 
a evitação da situação fóbica deve ser aspecto proeminente. 
 
Outras Fobias 
 
Fobias sociais: Concernentes a situações sociais, tais como falar ou comer em 
público ou expor-se ao sexo oposto. Tende a ser acompanhada de sentimentos de baixa auto-
estima e medo do julgamento alheio.Fobias específicas: Toda e qualquer possibilidade de objetos ou situações, desde que 
os critérios (a) e (c) mencionados acima estejam presentes. Alguns exemplos são: animais, 
altura, escuro, sangue, utilizar banheiros públicos, ser contaminado por doenças, voar. 
 
Transtorno de Pânico 
 
Se caracteriza por um forte sentimento de angústia acompanhado de diversas reações 
fisiológicas, como palpitações, sudorese, tontura, dores no peito e frequente sensação de 
morte iminente. Não se pode localizar um agente disparador dos ataques, o que os torna 
bastante imprevisíveis. 
Costumam ser repentinos, durando alguns minutos e melhorando. É bastante 
frequente que o medo persistente de ter outro ataque de pânico se instale. 
Para que seja caracterizado segundo a CID, o transtorno de pânico, é necessário que 
vários ataques de pânico tenham ocorrido ao longo de um mês, além de apresentar os 
seguintes traços: 
 
 
11 
 
 
Ocorrer em circunstancias onde não há perigo objetivo; 
Sem estar relacionado a situações conhecidas ou previsíveis; 
Relativa diminuição dos sintomas ansiosos entre os ataques, ainda que uma ansiedade 
antecipatória seja comum. 
 
 Transtorno de ansiedade generalizada 
 
A principal característica é a presença persistente e duradoura de sentimento de 
ansiedade não relacionado ou restrito a nenhuma situação específica. 
Sinais fisiológicos como sudorese, nervosismo, tremores, tensão muscular e falta de ar 
são bastante frequentes. Um sinal marcante desse transtorno é chamado socialmente de 
estresse. 
Os sintomas devem se apresentar quase todos os dias ao longo de algumas semanas 
ou meses além de terem as seguintes características: Apreensões, preocupações sobre 
desgraças futuras e dificuldade de concentração, tensão motora, e hiperatividade autonômica. 
 
 Estresse pós-traumático 
 
São revivências (flashback) ou sonhos intrusos e persistentes relativos à situação de 
grave estresse reconhecida socialmente como muito angustiante. 
São manifestações variadas, mas devem incluir um certo embotamento afetivo, 
retraimento social e evitação de situações que possam relembrar o trauma. 
Também são típicos a Hipervigilância e insônia, além de frequentes associação com 
sintomas de ansiedade e depressão. 
 
Transtorno obsessivo compulsivo 
 
Consiste na recorrência e atos ou pensamentos ditos ego- distônicos (cf. Vontade e 
psicomotricidade), visto que o indivíduo não consegue resistir a eles. 
O indivíduo os reconhece como próprios à sua pessoa, o que os diferencia, entre 
outros traços, de ideias delirantes. São irresistíveis, mas não reconhecidos como estranhos, 
são persistentes, mas não consistem em sensação de invasão do eu. 
Não é o grau de bizarrice do pensamento ou das possíveis consequências da não 
realização de atos compulsivos que os diferencia de ideias delirantes, mas o seu 
reconhecimento como sintônicos ao ego. 
Os atos ou pensamentos tendem a ser angustiantes, além de terem conteúdo 
frequentemente bizarro ou obsceno e trazerem prejuízo no funcionamento social. 
Os atos ou rituais compulsivos não são em si necessários nem agradáveis, mas 
 
12 
 
 
tendem a ser exercidos com o objetivo de reduzir a irresistível angústia causada pela sua não 
realização. 
 
Transtorno obsessivo compulsivo 
 
O indivíduo teme que sua não realização provocará eventos trágicos que não estão 
relacionados em nada aos atos em si. 
Um exemplo é o pensamento de que é necessário virar todos os sapatos de cabeça 
para baixo antes de sair de casa para evitar que familiares morram leva o indivíduo a, além de 
tomar esses cuidados bizarros, conferir sua devida realização diversas vezes, até que, no 
extremo, todo o tempo do indivíduo é dedicado à realização dos pensamentos e atos 
compulsivos. 
Os critérios diagnósticos da CID são os seguintes: 
Presença dos sintomas na maioria dos dias por pelo menos duas semanas 
consecutivas resultando em forte sentimento de angústia e interferência nas demais atividades 
individuais, 
Reconhecidos como pensamentos ou impulsos do próprio indivíduo, 
A realização do ato ou a ocorrência do pensamento não devem ser em si prazerosas, 
Atos e pensamentos devem ser desagradavelmente repetitivos. 
A CID observa ainda, a frequente ocorrência do transtorno depressivo paralela ao 
transtorno obsessivo compulsivo, o que pode eventualmente tornar difícil o estabelecimento do 
diagnóstico primário. 
 
 Transtornos Dissociativos 
 
Os transtornos dissociativos- ou conversivos – são prejudiciais ao funcionamento das 
funções mentais de integração do eu, tais como integração entre memórias, consciência da 
identidade e controle voluntário dos movimentos. 
Sua descrição varia, pois sob o nome dissociativos incluem-se as mais diversas 
alterações. Essa categoria e a histeria estão estreitamente. 
Porém o diagnóstico de histeria aponta para uma certa forma de estruturação 
subjetiva, sendo suas manifestações sintomáticas extremamente variáveis dificultando sua 
descrição e classificação a partir de traços e sintomas, além do que, é típico da histeria, como 
já visto, uma resistência a se encaixar em categorias objetivas. 
A manifestação dos sintomas contuma a estar fortemente relacionado a causas 
emocionais ou relacionais angustiantes ou insuportáveis, além de se caracterizarem pela 
 
13 
 
 
completa ausência de disfunções orgânicas que pudessem explicar os sintomas, o que leva as 
classificações dos manuais e reconhecerem esses transtornos como psicogênicos. 
 
Transtornos dissociativos 
 
São descritas na CID as seguintes categorias de transtornos dissociativos, revelando a 
dificuldade em classificá-los: 
amnésia dissociativa; 
fuga dissociativa; 
estupor dissociativo; 
transtorno de transe e possessão; 
transtornos motores dissociativos; 
convulsões dissociativas; 
anestesia e perda sensorial; 
transtornos dissociativos mistos; 
outros transtornos dissociativos. 
 
 Transtornos somatoformes 
 
Estes transtornos partilham da mesma constituição histéricas dos transtornos 
dissociativos. 
São caracterizados pela apresentação repetida de sintomas físicos seguidos de 
recorrentes tentativas de investigações médicas por parte dos pacientes que tendem a recusar 
a ideia de que não há qualquer disfunção orgânica que possa explicá-los. 
Suas categorias, segundo a CID são: 
transtorno de somatização, 
transtorno somatoforme indiferenciado, 
transtorno hipocondríaco, 
disfunção autonômica somatoforme, 
transtorno doloroso somatoforme indeferenciado, 
outros transtornos somatoformes 
transtorno somatoforme não especificado 
Outros Transtornos neuróticos Descritos pela CID são: 
 
Neurastenia 
 
Síndrome de despersonalização-desrealização, 
 
14 
 
 
Outros transtornos neuróticos especificados, 
Transtorno neurótico não especificado. 
 
 Neurastenia 
 
A neurastenia é mantida na CID sob a justificativa de acolher diversas manifestações 
consideradas patológicas que não se encaixa em qualquer outra categoria. É, por isso mesmo, 
uma categoria tradicional, marcada por variações culturais. 
A neurastenia, se mantém firme e, como confirma a CID, ainda é amplamente utilizada 
em muitos países. 
Seus sintomas são variados: 
queixas persistente e angustiante de fadiga após esforço mental, ou exaustão corporal 
após esforço mínimo, 
pelo menos dois dos seguintes: dores musculares, tonturas, cefaléias tensionais, 
perturbação do sono, incapacidade de relaxar, irritabilidade e dispepsia. 
 
 Classificações CID 10 
 
F40 Transtornos fóbicos-ansiosos; 
F41 Outros transtornos de ansiedade; 
F42 Transtorno obsessivo- compulsivo; 
F43 Reação a stress grave e transtorno de ajustamento; 
F44 Transtornos dissociativos (ou conversivos); 
F45 Transtornos somatoformes; 
 F48 Outros transtornos neuróticos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
 
 
2- HISTERIA 
 
Desde os primórdios da medicina, na Grécia Antiga comHipócrates a histeria é objeto de 
estudo . O diagnóstico para a pessoa histérica era conhecido como neurose histérica ou histeria 
de conversão. Hoje o diagnóstico é nomeado como transtorno dissociativo ou conversivo. As 
pessoas que manifestavam tais sintomas e comportamentos, expostos no decorrer do presente 
artigo, foram alvo de estudo não somente de médicos, mas de neurologistas, psiquiatras e até de 
padres e bispos da época. Foi através dos atendimentos às histéricas, que Sigmund Freud, no 
final do século XIX, descobriu o inconsciente, elaborando um método de tratamento, a 
Psicanálise. E desde a época de Freud que esse tratamento vem sendo utilizado em pacientes 
com o referido diagnóstico. 
Hipócrates, entendia a histeria como sendo uma doença orgânica de origem uterina e, 
especificamente feminina que afetava todo o corpo por sufocações da matriz. Ele supunha que a 
histeria se desenvolvia pela privação de relações sexuais, dessecando o útero, que perderia peso 
e se deslocaria pelo corpo em busca da umidade necessária. A paciente teria sua respiração 
afetada, desenvolvendo convulsões se o útero subisse até o hipocôndrio e estacionasse nesse 
órgão. Caso o útero prosseguisse sua subida e atingisse o coração, a paciente emitiria sinais de 
ansiedade, opressão e vômitos. 
A histeria deixou de ser abordada pela medicina ,a Idade Média, "período histórico 
compreendido entre o começo do séc. V e meados do séc. XV" (Ferreira, 1988, p. 348-349), e, 
sob a influência das idéias religiosas mais especificamente as concepções agostinianas, passou a 
ser objeto da Teologia. De acordo com as concepções religiosas da época: "O homem, dotado de 
uma alma imortal, seria sujeito a tentação pelo não cumprimento de seus deveres religiosos ou 
por não conduzir a sua vida dentro do espírito cristão" (Ramadam, 1985, p. 55). 
Segundo afirmam Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, "as convulsões e as famosas 
sufocações da matriz eram consideradas a expressão de um prazer sexual e, por conseguinte, de 
um pecado" (1998, p. 338). A mulher era vista como sendo possuída por um demônio, que a fazia 
agir involuntariamente, simulando doenças. 
Através da Inquisição, a Igreja Católica Romana, investigava e reconhecia os casos de 
bruxaria e mandava para a fogueira todos aqueles que se comportavam histericamente. Durante 
mais de dois séculos, a caça às bruxas fez muitas vítimas, mesmo a opinião médica se opondo 
contra essa concepção demoníaca da possessão. 
Ramadam afirma que no período clássico (século XVII até parte do século XVIII), a 
histeria era entendida como desenvolvida pelo efeito de "um calor interno que propagaria através 
 
16 
 
 
de todo o corpo uma efervescência, uma ebulição, manifestando-se sem cessar em convulsões e 
espasmos" (1985, p. 56). Esse calor seria representante da paixão, entusiasmo ou ardor 
amoroso. Sob essa perspectiva, a histeria é associada a moças que procuram namorados, jovens 
viúvas ou separadas. 
Na metade do século XVIII com as colaborações de Franz Anton Mesmer, as concepções 
demoníacas da histeria cederam às concepções científicas da mesma. A histeria deixa de ser 
objeto de investigação da Igreja para ser uma doença dos nervos, cabendo à medicina estudá-la 
e tratá-la. 
Mesmer sustentou que as doenças nervosas tinham como origem um desequilíbrio na 
destribuição de um fluído universal. Então bastava que o médico, transformado em magnetizador, 
provocasse crises nos pacientes, em geral mulheres, para curá-los mediante o restabelecimento 
do equilíbrio do fluído. (Roudinesco & Plon, 1998, p. 338) 
Em 1843, na Inglaterra, o médico escocês James Braid substituiu a teoria do fluído da 
histeria pela idéia de estimulação físico-químico-psicológica da histeria, mostrando a inutilidade 
das intervenções do tipo magnética. Braid evidencia a palavra hipnotismo2 nos seus estudos 
científicos. Ainda na segunda metade do século XVIII, com os estudos e pesquisas do 
neurologista francês Jean-Martin Charcot, a histeria é tratada como uma neurose. A moderna 
noção de uma neurose histérica subentendia uma causa traumática de ordem genital tornando-se 
uma doença funcional, de origem hereditária, afetando tanto os homens quanto as mulheres. 
Charcot utilizava a hipnose3 para demonstrar o fundamento de suas hipóteses. Ele hipnotizava as 
loucas do hospital parisiense Salpêtrière, fabricando sintomas histéricos para suprimi-los de 
imediato, comprovando o caráter neurótico da doença. 
Sigmund Freud, médico austríaco, entre 1888 a 1893, usufruindo dos achados de Charcot 
sobre os aspectos traumáticos da histeria, afirma com sua Teoria da Sedução que o trauma vivido 
pelo paciente histérico era de origem sexual, sublinhando que a histeria era fruto de um abuso 
sexual realmente vivido pelo sujeito na infância (sedução real). Num segundo momento, 
apresentando a noção de fantasia4, renuncia à teoria da sedução, introduzindo as idéias de um 
trauma, não de ordem física, mas sim de ordem psíquica. Na Comunicação Preliminar dos 
Estudos sobre a histeria, Freud nos alerta para o fato de que a conexão entre o acontecimento 
precipitante e o desenvolvimento da histeria freqüentemente é bem clara. E completa que "em 
outros casos, a conexão causal não é tão simples. Consiste somente no que poderia ser 
denominado uma relação simbólica entre a causa precipitante e o fenômeno patológico - uma 
relação tal como as pessoas saudáveis forma os sonhos" (Freud, 1895/1974, p. 45). 
Roudinesco e Plon (1998, p. 340) escrevem que foi nos Estudos sobre a histeria, que 
Freud propôs "os grandes conceitos de uma nova apreensão do inconsciente: o recalcamento, a 
ab-reação, a defesa, a resistência e, por fim, a conversão". Citam também que com a publicação, 
 
17 
 
 
em 1900, de A Interpretação dos Sonhos, "o conflito psíquico inconsciente é que foi reconhecido 
por Freud como a principal causa da histeria" (Roudinesco & Plon, 1998, p. 340). E continuam 
enfatizando os achados de Freud, que "ao lado da realidade material, existia uma realidade 
psíquica do sujeito", que era de igual importância na história do seu desenvolvimento. E afirmam 
que "em seguida, a teorização da sexualidade infantil permitiu a Freud identificar o conflito nuclear 
da neurose histérica, desenvolvendo os conceitos de Complexo de Édipo e Angústia de 
Castração" (Roudinesco & Plon, 1998, p. 340). 
As epidemias histéricas do fim do século XIX contribuíram de tal maneira para o 
nascimento e difusão do freudismo que a própria noção de histeria desapareceu do campo da 
clínica. A partir de 1914, ninguém mais ousou falar em histeria, a tal ponto que a palavra foi 
identificada com a própria psicanálise. 
O debate sobre histeria ressurge com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando as 
discussões geravam em torno de uma nova forma de etiologia traumática e da neurose de guerra. 
Por fim, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o desenvolvimento dos trabalhos 
da medicina psicossomática de inspiração psicanalítica, o termo histeria de conversão teve uma 
atenção especial. 
A partir da década de 1960, com os debates norte-americanos e ingleses sobre a Self 
Psychology e os borderlines, a idéia de personalidade múltipla, termo utilizado para caracterizar a 
personalidade do indivíduo histérico, é alvo de estudos de médicos, psiquiatras e psicanalistas. 
Até o século XIX, crises histéricas ou casos de dupla personalidade eram interpretados 
por padres católicos como possessões demoníacas. Com o avanço da ciência, varreu-se o 
obscurantismo. Na década de 60, o Concílio Vaticano II decretou que apenas alguns sacerdotes, 
nomeados pela Igreja, poderiam expulsar demônios. Para regulamentar os rituais quase 
clandestinos, o papa lançou em 2000 um manual oficial do exorcismo. Fez questão de destacar 
que casos suspeitos devem ser encaminhados primeiro a um psiquiatra. (2003, p. 72) 
No atual Manual de Classificação de Transtornos Mentaise de Comportamento da CID-
10, a histeria é citada na categoria dos transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e 
somatoformes, mais especificamente na subcategoria transtornos dissociativos (ou conversivos). 
Esse transtorno é caracterizado por uma perda parcial ou completa da integração normal entre as 
memórias do passado, consciência de identidade e sensações imediata, e controle dos 
movimentos corporais. "Nos transtornos dissociativos presume-se que essa capacidade de 
exercer um controle consciente e seletivo está comprometida em um grau que pode variar de dia 
para dia ou mesmo hora para hora". (CID-10, 1993, p. 149) 
Esses transtornos foram anteriormente classificados como tipos diversos de histeria de 
conversão, mas agora parece melhor evitar o termo histeria tanto quanto possível, em virtude de 
seus muitos e variados significados. 
 
18 
 
 
Para que o diagnóstico desse transtorno seja preciso e verdadeiro, é necessário que 
estejam presentes os seguintes critérios: 
a) os aspectos clínicos, que não são citados aqui para os transtornos pertencentes a essa 
categoria: amnésia dissociativa, fuga dissociativa, estupor dissociativo, transtorno de transe e 
possessão, transtornos motores dissociativos, convulsões dissociativas, anestesia e perda 
sensorial dissociativas, transtornos dissociativos (ou conversivos) mistos, outros transtornos 
dissociativos (ou conversivos) e transtorno dissociativo (ou conversivo) não especificado; 
b) nenhuma evidência de um transtorno físico que pudesse explicar os sintomas; 
c) evidência de causação psicológica na forma de clara associação no tempo a 
acontecimentos e problemas estressantes ou relacionamentos perturbados (ainda que negados 
pelo indivíduo). 
No Compêndio de psiquiatria de Kaplan, Sadock e Grebb (1997), o termo histeria é 
citados nos transtornos somatoformes, especificamente nos transtornos de somatização e nos 
transtornos dissociativos. 
Segundo Kaplan et al. (1997, p. 584): "O transtorno de somatização é caracterizado por 
múltiplos sintomas somáticos que não podem ser adequadamente explicados com base em 
exames físicos e laboratoriais." E continuam: "o nome anterior para este transtorno era histeria" 
(Kaplan et al., 1997, p.584). Os autores citam os processos psicológicos que contribuem para a 
formação dos sintomas como sendo "inconscientes, culturais e desenvolvimentais" e que a 
motivação para a produção dos sintomas são os "fatores psicológicos inconscientes" (Kaplan et 
al.,1997, p. 585). 
Os transtornos dissociativos são pela perda que o indivíduo tem de ser único, de ter uma 
única personalidade. Nesse caso, o indivíduo sente a falta dessa identidade ou uma confusão 
envolvendo sua identidade, ou tem múltiplas identidades. Estudos revelam que uma das causas 
para que se desenvolva o transtorno dissociativo são os eventos traumáticos ocorridos na vida do 
indivíduo, especialmente abuso físico e sexual na infância. 
Na maioria dos estados dissociativos, representações contraditórias do próprio indivíduo 
são mantidas em compartimentos mentais separados, porque estão em conflito umas com as 
outras. Na forma extrema de transtorno dissociativo de identidade (personalidade múltipla), essas 
representações separadas do self assumem uma existência metafórica de personalidades 
distintas, conhecidas como personalidades alternativas. (Kaplan et al., 1997, p. 603) 
O Manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais (DSM-IV) é citado por 
Kaplan et al. (1997, p. 603) para mostrar que existem critérios diagnósticos específicos para 
quatro transtornos dissociativos. Esses transtornos, anteriormente eram conhecidos como 
neurose histérica do tipo dissociativa: a amnésia dissociativa caracteriza-se pela "incapacidade 
para recordar informações, geralmente relacionadas com um evento estressante ou traumático, 
 
19 
 
 
ingestão de substâncias ou uma condição médica geral". A fuga dissociativa caracteriza-se por 
"viagens súbitas e inesperadas para longe de casa ou do trabalho, associada com uma 
incapacidade para recordar o próprio passado e confusão acerca da própria identidade pessoal 
ou adoção de uma nova identidade" (Kaplan et al., 1997, p. 603). O transtorno dissociativo de 
identidade é caracterizado pela "presença de duas ou mais personalidades distintas dentro de 
uma única pessoa" e o transtorno de despersonalização, caracterizado por "sensações 
recorrentes ou persistentes de distanciamento do próprio corpo ou mente". Os autores continuam 
citando o DSM-IV como também possuidor de uma categoria diagnóstica de transtorno 
dissociativo sem outra especificação para transtornos dissociativos que "não satisfaçam os 
critérios diagnósticos dos demais transtornos dissociativos". 
Freud, em 1895, publica seus Estudos sobre a histeria em que apresenta seus achados e 
conclusões a respeito da histeria. Essa obra é composta pelo relato de cinco casos clínicos, 
sendo que quatro deles foram atendidos pelo próprio Freud. As pacientes de Freud foram Frau 
Emmy von N., Miss Lucy R., Katharina e Fraülein Elisabeth von R. O caso Anna O. é o primeiro 
caso clínico citado na obra. Ela foi atendida por Josef Breuer, médico austríaco, que teve com 
Freud uma relação bastante significativa, tanto afetiva quanto profissional. 
Freud (1895/1974), nessa obra enfatiza a importância que suas pacientes tiveram para a 
construção da teoria e técnica psicanalítica. As histéricas ensinaram a Freud alguns dos 
principais rudimentos da Psicanálise. Emmy von N., por exemplo, se aborrecia quando Freud a 
questionava de onde veio isto ou aquilo e pedia para ele que a deixasse falar o que ela tinha a 
dizer. Então ouvir para Freud, "tornou-se mais do que uma arte, tornou-se um método, uma via 
privilegiada para o conhecimento, à qual os pacientes lhe davam acesso" (Gay, 1989, p. 80). A 
escuta do terapeuta e a fala do paciente foram ganhando reconhecimento de tal forma que a 
hipnose, como técnica terapêutica, foi perdendo seu valor, sua importância. Com a ajuda de 
Emmy von N., reconhece a hipnose como sendo um procedimento inútil e sem sentido. Ao 
abandonar gradualmente a hipnose, Freud adota um novo modelo de tratamento: a técnica da 
associação livre9. 
Elisabeth von R. mostrou-lhe a resistência, quando se negava a responder o que estava 
se passando pela sua mente nos momentos em que ele a interrogava. Ela foi a paciente 
responsável pela descoberta da necessidade de se elaborar os traumas recalcados com a ajuda 
da interpretação de Freud. 
Os sintomas de Elisabeth von R. começaram entrar na conversa, também: 
desencadeavam-se no momento em que ela falava da erupção deles, e amainavam quando 
terminava de contar toda a sua história. Mas Freud também precisava aprender a lição mais difícil 
de que a cura não era uma explosão melodramática de percepções. Apenas o relato raramente 
bastava; os traumas tinham de ser elaborados. O ingrediente final na recuperação de Elisabeth 
 
20 
 
 
von R. foi a interpretação dos indícios que Freud lhe apresentou e à qual ela resistiu 
veementemente por algum tempo: ela amava seu cunhado, e havia reprimido desejos perversos 
pela morte de sua irmã. O fato de aceitar esse desejo imoral pôs termo a seus sofrimentos. "Na 
primavera de 1894", contou Freud, "soube que ela ia a um baile exclusivo, ao qual tratei de 
conseguir acesso, e não deixei escapar a oportunidade de ver minha ex-paciente a voar numa 
dança ligeira" (Gay, 1989, p. 81-82). 
Enfim, Freud deve muito, não somente a Elisabeth von R. e a Emmy von N., mas também 
a Miss Lucy R. e a Katharina por elas terem contribuído tão ativamente na elaboração da técnica 
e teoria psicanalítica: observação atenta, passividade alerta o que Freud chamaria de atenção 
flutuante10, interpretação hábil, associação livre sem o recurso da hipnose e elaboração. 
Rothged, em referência aos Estudos sobre a histeria, afirma que "Freud originou os 
desenvolvimentos técnicos,juntamente com os conceitos teóricos primordiais de resistência, 
defesa e recalcamento provenientes daqueles" (2001, p. 119). Em seu artigo E o verbo se fez 
carne, Maria José Ceranto Garcia enfatiza que "o esclarecimento da etiologia da histeria se dá 
paralelo ao desenvolvimento da psicanálise" (2000, p. 30). 
Josef Breuer atendeu por um ano e meio, com início em dezembro de 1880, Anna O. 
(pseudônimo de Bertha Pappenheim). Caso este que seria reconhecido como o "caso fundador 
da psicanálise" (Gay, 1989, p. 74). 
Anna O., durante o seu tratamento, foi dando importantes contribuições para a formação 
da teoria psicanalítica. Ela realizou sozinha grande parte do trabalho de imaginação, ensinando 
Freud sobre a importância da escuta do analista. 
Anna O. adoeceu quando tinha 21 anos. Apresentava uma tendência para ficar em um 
devaneio sistemático, seu teatro particular como ela mesma definia. Tinha uma vida bastante 
monótona, totalmente restrita à família e, como relembrou Freud sobre o julgamento de Breuer a 
ela, "assombrosamente pouco desenvolvida em termos sexuais" (Gay, 1989, p. 75). A doença 
fatal do pai é entendida como sendo o acontecimento que precipitou sua histeria. Ela desenvolveu 
sintomas crescentes de incapacidade, durante os meses que cuidou do pai: fraqueza por não ter 
apetite, uma série de tosse nervosa e, após seis meses, foi atingida por um estrabismo 
convergente. Também apresentava dores de cabeça, acessos de agitação, perturbações da vista, 
paralisias parciais e perda de sensibilidade. Sua sintomatologia foi se modificando com o tempo, 
chegando a representar lapsos mentais, longos intervalos de sonolência, rápidas alterações de 
ânimo, alucinações com cobras cegas, caveiras e esqueletos, crescentes dificuldades de fala. 
Desenvolveu duas personalidades contrastantes, uma delas bastante rebelde. Ela era visitada por 
Breuer todos os dias. Durante suas consultas ela contava muitas histórias a ele, descobrindo 
juntos que seus sintomas se amenizavam devido essa liberdade para falar. Procedimento este 
que ficou conhecido como a cura pela fala, como função o processo de catarse11. Anna O. teve 
 
21 
 
 
seu momento de cura pela fala quando, passando por um período de hidrofobia12, ela se recorda 
que havia visto sua dama de companhia inglesa de quem não gostava, deixar que um cãozinho 
bebesse de um copo. Quando o nojo reprimido veio a tona, a hidrofobia desapareceu. Dessa 
forma, todos os sintomas, as contrações paralisantes, as várias alucinações, etc., foram expulsos 
pela fala. Seus sintomas revelaram ser resíduos de sentimentos e impulsos que ela se sentira 
obrigada a reprimir. Anna O. se tornou uma pioneira ativista social, líder de causas feministas e 
de organizações de mulheres judias. Mas Breuer omitiu a verdadeira causa que o fez interromper 
o tratamento com Anna O. Ele terminou a exposição do caso, apresentando a paciente como 
liberta de seus sintomas e afirmando que o término do tratamento ocorreu devido ao desejo de 
Anna O. de encerrá-lo por motivos de mudança. Não é o que afirma Luiz Alfredo Garcia-Rosa 
quando escreve que "o que motivou o término do tratamento foi um fenômeno que, apesar de ser 
hoje em dia bastante conhecido, impossibilitou Breuer de continuar a relação terapêutica com 
Anna O.: o fenômeno da transferência13e da contratransferência14" (1999, p. 39). 
Para Breuer, o fato de ele falar de sua paciente com uma freqüência acima do comum, 
não lhe parecia indício de nenhum envolvimento emocional. A mulher do médico se tornou triste e 
ciumenta por escutá-lo e percebê-lo empolgado com sua paciente. Breuer, porém, percebendo o 
que estava se passando, perturbou-se e resolveu encerrar o tratamento. Anna O., sabendo de 
sua decisão, desenvolve uma de suas piores crises. A paciente apresentava contrações 
abdominais de uma crise de parto histérica. Breuer foi chamado para consultá-la e quando ela o 
viu disse que seu filho estava chegando. Breuer atendeu Anna O. e a hipnotizou livrando-a da 
crise. No outro dia, Breuer viaja com sua esposa de férias para Veneza. 
Dessa forma, Freud conclui que a excitação emocional que se encontrava por trás dos 
sintomas neuróticos era de natureza sexual e conflitiva. No decorrer de suas pesquisas, Freud vai 
dando uma importância cada vez maior a sexualidade, tanto para a compreensão da neurose 
como para a compreensão do indivíduo normal. Ele escreve, em seu trabalho Um caso de 
histeria: 
Se é verdade que as causas das perturbações histéricas devem ser encontradas nas 
intimidades da vida psicossexual dos pacientes, e que os sintomas histéricos são a expressão de 
seus desejos mais secretos e reprimidos, então a elucidação completa de um caso de histeria 
implica certamente a revelação dessas intimidades e a divulgação desses segredos. (Freud, 
1972, pp. 5-6) 
Utilizando as técnicas da psicanálise, tais como a livre associação de idéias e a 
interpretação de sonhos, é possível ajudar o paciente a reviver experiências emocionais 
dolorosas e, com o analista, elaborá-las. 
 
 
22 
 
 
 
 
3- DEPRESSÃO 
 
Nos dias de Freud o conceito de depressão, tal como concebido hoje em dia, não existia. 
(RODRIGUES, 2000). Rodrigues (2000) afirma que, apesar de Freud ter identificado e descrito 
fenômenos depressivos nas diversas estruturas, não os reuniu à melancolia como os atuais 
manuais psiquiátricos, mas, os concebeu como inerentes aos sujeitos. 
FédidaapudRodrigues (2000) afirma que a depressão não deve ser caracterizada 
enquanto estrutura psíquica, mas, sim, como um estado próprio à constituição do aparelho 
psíquico, que caracteriza o humano e pode se manifestar em qualquer estrutura. 
Para Quinet (1997) a depressão no singular não existe, existem estados depressivos, 
sintomas que acontecem em algum momento na vida de um sujeito e que podem ser descritos, 
mas seus graus e variações dificultam a unificação do conceito. 
Para Freud trata-se de “um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que 
permaneceu em estado jacente; [o sintoma] é uma conseqüência do processo de recalcamento” 
(FREUD, 1926/1969, p. 112). 
Siqueira (2007) enfatiza que a depressão surge quando o sujeito se acovarda frente ao 
seu desejo. Este fica inibido, evitando seu próprio desejo e, por conseguinte, a sua 
determinação inconsciente. 
Para Soler (1997) a depressão é produzida pelas soluções singulares que cada sujeito 
encontra para lidar com a castração, com a falta, e que variam em razão das contingências. A 
autora conceitua depressão como: 
Algo que toca à própria animação do sujeito e que se repercute infalivelmente ao nível de 
seus empreendimentos em efeitos de inércia que, além da coloração dos sentimentos, tocam 
no próprio princípio do interesse e da ação (SOLER, 1997, p.173). 
Diversos autores entendem melancolia como formas graves de inibição motora e afetiva, 
assimbolia, dentro de uma cronicidade em que podem se alternar períodos de exaltação 
maníaca e de paralisia a denominada psicose maníaco-depressiva (PERES, 2010). 
SIQUEIRA, 2007 afirma que na depressão, o eu, para não correr o risco de se deparar 
com a falta, se entristece. Há uma perda da libido, que implica em perda de prazer, de 
investimento libidinal. Lidar com a falta deveria ter como efeito o entusiasmo e não a tristeza, 
tendo em vista que o desejo pode emergir. Sem falta, não há desejo possível, e, certamente, 
 
23 
 
 
sem desejo, não há sujeito. 
Conforme Coser (2003) pontua, o uso freudiano do termo “depressão” se restringe a duas 
definições: uma se refere à noção mecanicista da depressão como uma queda, um decréscimo 
numa função psíquica qualquer, queda explicada por uma insuficiência libidinal. A outra 
definição – que a psicanálise pós-freudiana utiliza bastante – está relacionada a um estado de 
sofrimento psíquico. 
Não se pode considera a depressão como uma das estruturas freudianas, como a psicose 
e a neurose. Mas, a sintomatologiadepressiva que atualmente induz psiquiatras e psicanalistas 
a diagnosticar casos específicos, era freqüentemente identificada nos pacientes de Freud. Essa 
sintomatologia, por mais intensa que fosse não o levava a esse diagnóstico e, muitas vezes, 
nem ao de melancolia (COSER, 2003). 
Mesmo não tendo estabelecido uma teoria sobre a depressão, Freud fala do tema no seu 
trabalho “Luto e Melancolia” (1915/1969) ao abordar a melancolia como algo da ordem de um 
estado depressivo. Neste mesmo artigo, Freud definiu luto como um afeto normal, afeto da dor 
com sua manifestação externa. O luto refere-se a uma perda relativa de um objeto e sabe-se, 
justificadamente, o motivo do luto. O luto não é considerado uma condição patológica, não há 
necessidade de tratamento médico, pois, o luto normalmente é superado após algum tempo. No 
luto há perda de interesse pelo mundo externo, que se torna pobre e vazio. A partir da 
inexistência do objeto amado, é necessário haver um desligamento, retirar toda a libido 
investida neste objeto e investir em outro. Porém, este processo não acontece sem resistências 
e não há perda de contato com a realidade (FREUD, 1915/1969). 
A definição de melancholia, entretanto, varia na psiquiatria descritiva, assumindo várias 
formas clínicas, cujo agrupamento numa única forma clínica parece não ter sido estabelecido 
com clareza. Inicialmente suspeita-se de afecções somáticas, posteriormente, é reafirmado o 
caráter psicogênico da melancolia. 
A psicanálise, na melancolia a perda ocorre no nível do ideal, pode não ter havido a morte 
do objeto. Embora o objeto possa ter sido perdido enquanto objeto de amor, mesmo que haja 
uma perda real, não é possível ver claramente o que foi perdido. Esta perda então produz algo 
patológico como: desânimo profundamente penoso, cessação de interesse pelo mundo externo, 
perda da capacidade de amar, inibição de toda e qualquer atividade, diminuição do sentimento 
de auto estima a ponto de auto-recriminar-se. O melancólico exibe um empobrecimento do Eu 
em larga escala, em que o Eu está desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e 
moralmente desprezível (FREUD, 1915/1969). 
Para Bentes (1997) a definição e o tratamento da depressão são abordados de maneira 
diferente pelo discurso analítico e pelo discurso psiquiátrico. Na psiquiatria o paciente faz a 
doença e o médico faz a cura, medicando-o, o tratamento psicanalítico está baseado na 
 
24 
 
 
singularidade do sujeito. 
Antes de fazer referência ao tratamento da depressão, especificamente, é importante 
ressaltar alguns conceitos fundamentais da psicanálise, dentre eles: inconsciente e 
transferência. Em “O inconsciente”, Freud (1915/1969) afirma que a essência do processo de 
recalque não está em eliminar a ideia que representa uma pulsão, mas, em evitar que se torne 
consciente, evitar o desprazer. Quando recalcamos, recalcamos a ideia em questão. Dizer que 
esta ideia se encontra num estado inconsciente e, mesmo quando inconsciente, ela pode 
produzir efeitos, incluindo alguns que enfim atingem a consciência. Todo material recalcado 
deve permanecer inconsciente; porém, o recalcado não abrange tudo que é inconsciente. O 
recalcado não se resume a uma parte do inconsciente, o seu alcance é mais amplo. O 
inconsciente só é conhecido como algo consciente depois de passar por tradução o conteúdo 
latente (inconsciente) só é elaborado sob análise, através da transferência, quando se atribui, 
por meio de associações livres, um significado ao que foi dito. Para que essa tradução 
aconteça, o paciente sob análise deve superar determinadas resistências que fizeram com que 
a ideia fosse recalcada. 
Quando um paciente que é tratado psicanaliticamente neurótico, surge nele o estranho 
fenômeno chamado “transferência”, o doente consagra ao médico uma série de sentimentos 
afetuosos, mesclados muitas vezes de hostilidade, não justificados em relações reais e que, 
pelas suas particularidades, deve provir de antigas fantasias tornadas inconscientes. Os 
momentos da vida sentimental cuja lembrança não alcança, o paciente torna a vivê-lo nas 
relações com o médico; e só por este ressurgimento na “transferência” é que o doente se 
convence da existência e do poder desses sentimentos sexuais inconscientes. Os sintomas, 
para usar uma comparação química, são os precipitados de anteriores eventos amorosos que 
só na elevada temperatura da transferência podem dissolver-se e transformar-se em outros 
produtos psíquicos (FREUD, 1910/1969, p. 61). 
Os sintomas precisam ser transferidos para a figura do analista, precisam ser revividos na 
relação terapêutica, para que possam ser eliminados pelo processo analítico (FREUD, 
1912/1969). 
Muitas vezes, o paciente apresenta uma falsa demanda e o médico, por sua vez, uma 
falsa resposta – a prescrição de medicamentos. Muitos destes pacientes, iludidos na aplacação 
do sintoma oferecido pelo medicamento, consomem de maneira ritualística quantidades diárias 
de remédios, tendo como consequência, a dependência. Contudo, a palavra do médico pode ter 
efeito terapêutico desde que possibilite um corte na relação de dependência com a medicação, 
permitindo uma mudança de discurso (BENTES, 1997). 
O objetivo do tratamento psiquiátrico é a eliminação dos sintomas que constituem o 
transtorno. Tal procedimento é passível de quantificação e padronização, numa perspectiva que 
 
25 
 
 
não considera a singularidade inerente à história do sujeito. Daí dizer, então, que o diagnóstico 
psiquiátrico anula o sujeito (BARRETO, s/d). 
O tratamento psicanalítico por sua vez situa-se numa perspectiva completamente diversa, 
o foco é o sujeito. O tratamento ocorre pela construção do caso clínico e está baseado na 
singularidade da relação do sujeito com seu desejo, no caso a caso. Se cada sujeito é diferente 
do outro, cada caso é diferente do outro e cada tratamento é diferente do outro. Em tratamento 
não existe uma lei universal, e sim uma construção que se faz de maneira individual 
(BARRETO, s/d). 
A depressão demonstrou-se como um fenômeno clínico, que aponta para uma estrutura – 
neurose ou psicose. Se a psiquiatria tende a responder quase que automaticamente, na maioria 
das vezes, com o medicamento que visa eliminar a dor e o mal-estar, a psicanálise, abre a 
possibilidade do sujeito remediar o próprio sofrimento através da fala (SIQUEIRA, 2007). 
Siqueira (2007) ressalta que o sujeito se depara com a falta a todo o momento, inclusive 
sob a forma de depressão, que diz tudo sem nada dizer. Operando pela via da palavra, a 
psicanálise propõe ao sujeito a ética de bem-dizer sobre o seu desejo. Deste modo, reinstaura 
a falta e permite que advenha o desejo. 
Soler (1997) afirma que os analistas só podem compreender a depressão a partir dos 
ditos do paciente. O analista só terá conhecimento do que lhe é confiado no modo atual ou 
retrospectivo. 
Freud não estabeleceu uma teoria sobre a depressão, assim como fez com a psicose e a 
neurose, porém fez referência a este tema em seu trabalho “Luto e Melancolia” (1915/1969) ao 
abordar a melancolia como algo da ordem de um estado depressivo. Siqueira (2006) aponta 
que na melancolia existe uma identificação que é narcísica com o objeto. A partir de Rodrigues 
(2000), podemos inferir que diferentemente dos manuais psiquiátricos, Freud não reuniu os 
fenômenos depressivos à melancolia, mas, os concebeu como inerentes aos sujeitos. 
Nos artigos que discutem a depressão sob a ótica psicanalista, percebe-se que a 
depressão não tem um estatutofixo, mas existem sim, estados depressivos, conforme apontado 
por Quinet (2007). Verifica-se de acordo com Dias (2006) que os sintomas depressivos podem 
ser uma satisfação de algum desejo sexual ou medidas de impedir tais satisfações. Sob este 
prisma, a depressão tem seu surgimento quando o sujeito se acovarda frente ao seu desejo 
(SIQUEIRA, 2006). Além disso, Soler (1997) ressalta queestes estados depressivos são 
soluções singulares encontradas pelos sujeitos para lidar com a castração e com a falta. 
Segundo Quinet (1997), Bentes (1997), Soler (1997) e Siqueira (2007) a piscanalise 
aborda que a depressão é produzida por soluções encontradas pelos sujeitos para lidar com a 
castração, que podem ser descritos, porém com graus e variações que não permitem a 
unificação de um conceito específico. Birman (1998) alega que a psicanálise no início do 
 
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percurso de Freud, e posteriormente a ele, prometeu realizar a ilusão das individualidades, 
visando minimizar o desamparo e dominar o mal-estar social. Ele afirma que a versão 
construída por Freud sobre as relações entre o sujeito e a civilização foram abandonadas. É 
importante para uma atuação psicanalítica coerente um retorno à Freud. 
Conforme exposto por Barreto (s/d) o tratamento da depressão se distingue no que se 
refere aos objetivos encontrados na atuação clínica psiquiátrica. A psiquiatria, apoiando-se em 
procedimentos passíveis de quantificação e padronização tratam os sintomas que constituem o 
transtorno, enquanto a psicanálise atua em um campo diferente, considerando a singularidade 
e a relação do sujeito com o seu desejo focando-se no sujeito e na construção de um caso 
clínico. Acrescenta-se aqui o exposto por Mendlowicz (2001, p.51) quando afirma que: "ouvir a 
queixa de um sujeito como legítima e traumática, se não resolve sua dor, pelo menos, não só 
ajuda o paciente a elaborar a perda, como dá ao analista a possibilidade de ser mais paciente e 
compartilhar o sofrimento do sujeito". 
Freud (1915/1969) afirma, em “O Inconsciente”, que a essência do processo de repressão 
não está em eliminar a ideia que representa uma pulsão, mas, em evitar que se torne 
consciente, evitar o desprazer. Dessa forma, àquilo que não é possível suportar acaba sendo 
recalcado, todavia, essa ideia retorna através do sintoma, que deve ser entendido na análise 
através do que é dito pelo sujeito. Lacan avança sobre esse tema e para ele, o sintoma é a 
própria repressão, dai sua fórmula: "... o recalque e a volta do recalcado, são a mesma coisa" 
(LACAN, 1953/1979, p. 222). 
Segundo Siqueira (2007) o tratamento psicanalítico busca remediar o sofrimento do sujeito 
através da fala. Durante a análise o sujeito se depara com a falta o tempo todo, e operando 
pela via da palavra e pela ética do bem-dizer reinstaura essa falta e permite o advento do 
desejo. Soler (1997) ressalta que só é possível compreender a depressão através do que é dito 
pelo sujeito. Mendlowicz (2001, p.51) encerra seu texto com uma frase que descreve a função 
da análise nos casos de depressão: "A análise pretende, lentamente, por meio da relação 
transferencial, restaurar o trabalho psíquico de ligações que foi rompido, permitindo que novos 
laços sejam construídos. É essa nossa aposta 
A psicanálise vê a depressão como um sintoma, que pode se manifestar em qualquer 
estrutura e ocorrer em algum momento da vida da pessoa, é inerente ao sujeito. 
Há diferenças na clínica psiquiátrica para a clínica psicanalítica no que se tange ao 
tratamento da depressão. A psicanálise baseia o tratamento com o foco no sujeito, priorizando 
a construção do caso clínico que considera a forma que o sujeito opera frente às 
transformações da contemporaneidade. O tratamento psicanalítico se baseia na singularidade 
da relação do sujeito com seu desejo, no caso a caso. 
 
27 
 
 
 
 
4- PSICOSES 
 
 
A psicose se caracteriza principalmente pela fuga da realidade, evidenciada na 
compreensão distorcida e fragmentada que o indivíduo possui em relação a si próprio e ao 
mundo que lhe cerca. O psicótico não estabelece uma barreira de contato entre a sua pessoa e 
o ambiente externo, e em seus sintomas podem residir delírios e alucinações. 
E psicótico é denominado popularmente como “louco”, sendo as palavras loucura e 
psicose empregadas com a mesma designação. Referindo-se ao quadro de insanidade mental; 
que é concebido como fora do comum, ou o que foge às normas; alienação e falta de bom 
senso. O significado de loucura define-se como: “Falta de discernimento; irreflexão, absurdo, 
insensatez, doidice, louquice” (FERREIRA, 1995, p. 401). 
O conceito de loucura está relacionado à psicose, quando se remetem à nomeação do 
prejuízo do contato com a realidade, e a palavra psicose, o termo para delimitar dentro da área 
da psicologia e da psiquiatria, a doença mental de forma específica (FERREIRA, 1995). 
Segundo Lowen (1982) aponta, na insanidade há falta de consciência do indivíduo 
perante seus sentimentos. Segundo o autor, essa privação acontece quando a mente se depara 
com sentimentos que não pode aceitar ou concentrar sua atenção. A percepção consciente de si 
mesmo (da realidade) é anulada e o indivíduo pode vir a tornar-se: “... uma pessoa 
despersonalizada, indisciplinada e sem presença de espírito” (LOWEN, 1982, p. 56). Refletindo 
o panorama do psicótico, que vive em um estado de alienação de si e do mundo, decorrente de 
sentimentos de profunda angústia vivenciados no início de sua história de vida. 
Estes sentimentos vivenciados pelo bebê desde o período de gestação até 
aproximadamente seus os dez primeiros dias de vida, são recebidos como uma ameaça à sua 
integridade – vida (NAVARRO, 1996; NAVARRO, 1991). Nesta etapa do desenvolvimento, até 
pela fragilidade do organismo o estresse vivido inscreve-se em seu padrão de funcionamento 
global e delimita seu jeito de ser. Impossibilitando-o de reconhecer a si mesmo plenamente e ao 
mundo, pois viver, e entrar em contato com a realidade, lhe traz a sensação de medo. 
Segundo Navarro (1996; 1991), é correto afirmar esta doença tem etiologia intrauterina. 
O autor faz referência a determinados fatores, tais como tentativas de aborto, uso de drogas, 
sentimentos de culpa ou hostilidade destinados ao bebê, etc. Que terminam por causar um 
estresse excessivo na história evolutiva do indivíduo, levando a contração de seu organismo 
como forma de defesa. Nesta situação, o fluxo de energia pelo corpo é prejudicado e seu 
 
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patrimônio energético reduzido, promovendo repercussões negativas no desenvolvimento 
neuropsicofisiológico. 
Navarro (1996) revela dois tipos diferentes de psicose: primeiramente as orgânicas, 
caracterizadas por prejuízos evolutivos do cérebro, causados por inflamações, intoxicações e 
processos degenerativos. O segundo as endógenas, desencadeadas por complicações na 
circulação e no patrimônio energético durante o desenvolvimento embrionário e/ou fetal, que se 
relacionam à vida intrauterina. 
Se o prejuízo evolutivo inscreve-se no período acontece na vida fetal, é proporcionado o 
desenvolvimento do núcleo psicótico esquizofrênico, que pode se manifestar ao longo da vida do 
indivíduo. As duas doenças conceituadas por Navarro (1996) como psicose. 
Winnicott (1967, apud, ARAÚJO, 2004) salienta a aversão inconsciente da mãe, 
camuflado por formações reativas – “o desejo de morte reprimido” em relação à criança – que 
lhe incapacita de suprir as demandas do bebê. Envolvendo sua sobrevivência com o suporte 
essencial para a estruturação de seu ego. Além disso, a falha também pode se inscrever no 
ambiente próximo que a mãe está inserida. O qual o pai ocupa lugar central, e no caso do 
autismo é incapaz de facilitar a promoção da tranquilidade (segurança) para que ela seja capaz e 
sinta-se confiante de desempenhar o seu papel satisfatoriamente. 
Uma situação hiperorgonótica (um grande fluxo de energia) observa-se no autismo no 
que tange ao desenvolvimento do cérebro reptiliano, referente aos centros nervosos viscerais 
vitais, com a finalidade de preservação da vida. Porém, pouca energia é destinada para os 
cérebros límbico, responsável pelo afeto, e para o neocórtex, sede da razão. Assim, a pessoa 
possui um funcionamento instintivo de modo bem desenvolvido, mas com prejuízos no âmbitoafetivo e da razão. O indivíduo psicótico autista age perante seus impulsos, e seu padrão de 
comportamento é regido pelos seus instintos (NAVARRO, 1996; NAVARRO, 1991). 
No núcleo psicótico esquizofrênico, de acordo com Navarro (1996;1991), por decorrência 
do estresse vivido na vida fetal, a energia do organismo também é destinada para o a base do 
cérebro – cérebro reptiliano, como também para o neocórtex e para os olhos – telerreceptores. 
Neste quadro clínico, é presente um bloqueio no primeiro nível do esquema corporal reichiano, 
composto pelos olhos, nariz e ouvidos, que ocasiona a falta de lucidez e o prejuízo de interpretar 
sua realidade. 
O indivíduo com esquizofrenia também age perante seus impulsos, possuindo grande 
dificuldade de reconhecer e entrar em contato com seus sentimentos. Comporta-se 
habitualmente de modo a só racionalizar, o que demonstra uma dissociação entre os três 
cérebros (NAVARRO, 1996; NAVARRO, 1991). 
Pela visão de Reich (1998), é possível entender a psicose como o resultado de uma 
excessiva frustração do indivíduo de suas exigências pulsionais, como acolhimento, afeto, 
 
29 
 
 
carinho, etc. Isto, situado em seu primeiro tempo de vida – etapa de sustentação (VOLPI; VOLPI, 
2008), que por sua vez lhe provoca angústia. Pela sensação do indivíduo de ter a sua 
integridade ameaçada, conceituado por Navarro (1991) como o “estresse do medo da morte”. 
Na psicose, são evidenciados os prejuízos na interpretação e atuação do indivíduo em 
sua realidade. O que a difere da neurose é poder haver um equilíbrio entre a força pulsional da 
pessoa em busca de gratificação do meio externo e a força frustrante exercida pelo segundo, 
geradoras da inibição. A falta de contato (consigo e com o mundo) do psicótico, pode ser 
compreendida como produto de uma resposta radical do organismo a angustia primitiva. Esta 
que foi vivenciada em um momento de fragilidade e significativa importância para o 
desenvolvimento neuropsicofisiológico (REICH, 1998; NAVARRO, 1996; NAVARRO, 1995; 
NAVARRO, 1991). 
Assim a psicose pode ser descrita como um estado de profunda insuportabilidade da 
pessoa a nível inconsciente em relação à sua realidade, o que é expresso em seu 
comportamento (NAVARRO, 1995). Este por sua vez é instável, com momentos de súbita 
regressão a estados primitivos da mente. Esses momentos são desencadeados sobretudo 
quando o indivíduo é privado de atingir o prazer e/ou submetido a situações de intensa angústia, 
revivendo a ameaça à sua integridade. 
Em situações de surto (desestruturação), é expresso o baixo limiar de frustração do 
psicótico, que está relacionado a sua impossibilidade da estruturação do caráter durante a sua 
história de vida. Pois este, conciliado aos diferentes bloqueios dos segmentos do corpo, segundo 
Navarro (1995), tem a função de proteção psíquica aos estresses provenientes do ambiente 
externo. 
O psicótico fixou-se em sua vivência frustrante na vida intrauterina e por isso não possui 
um caráter estruturado. Desta forma, somente desenvolve um temperamento, o qual é imutável e 
foi constituído ade suas etapas iniciais do desenvolvimento no útero materno. Sendo este 
formado pelas bases congênitas, características fisiológicas e morfológicas da pessoa, de 
maneira a influenciar em seu funcionamento mental e afetivo (NAVARRO, 1996; NAVARRO, 
1995). 
Lowen (1982) define o caráter como o padrão de conduta habitual de uma pessoa, 
estruturando-se tanto a nível psicológico, fisiológico como estético – envolvendo a postura, 
trejeitos e demais expressões corporais. Demonstrada em sua singularidade a personalidade da 
pessoa, e junto com a couraça caracterológica, delimitam o corpo e a forma de inteiração do 
sujeito com o meio externo. 
Na psicose o corpo não tem uma delimitação, resultado da frustração nas experiências 
que poderiam desenvolver a integração egóica. Para Winnicott (2000), isto envolve a técnica 
utilizada pelos cuidadores para aquecer a criança, segurá-la, dar banho e chamá-la pelo nome. 
 
30 
 
 
Como também, as experiências instintivas que ao longo do desenvolvimento influenciam para a 
construção da personalidade. 
Devido à falta de energia vital, o psicótico reside em si e no outro, desprovido de uma 
imagem própria reconhecida de forma madura. Navarro (1996, p. 43) afirma: “O esquizofrênico 
não “enxerga” o outro de si, porque “cria” uma realidade de acordo com as suas projeções...”. 
Esta realidade é criada como uma possibilidade de sobrevivência. Porque o seu primeiro contato 
com o mundo – o campo materno juntamente ao campo energético que envolveu esta mãe – lhe 
proporcionou a sensação de perigo, frieza e insegurança. 
Arrazoar sobre a psicose é ponderar sobre a inexistência subjetiva do indivíduo em 
alusão à sua auto percepção e auto expressão. Uma profunda contração do organismo, que se 
vê limitado em seu desenvolvimento, no qual eu e tu não foram possíveis de serem distintos. 
Este assunto instiga a conscientização de quão frágil é o ser humano no início de seu 
desenvolvimento e o quanto necessita de atenção à sua tranquilidade e segurança desde o 
momento de sua concepção no ventre materno. Para que consequentemente, a realidade na 
qual ele se encontra seja possível de ser incorporada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5- SOMATIZAÇÃO 
 
 
A memória é a capacidade de se representar o que foi vivido, sentido e aprendido no 
passado de uma pessoa. É uma função cerebral superior que “surge como um processo de 
retenção de informações no qual as experiências são arquivadas e recuperadas quando as 
chamamos” a memória forma a base para a aquisição de novos conhecimentos. Ou seja, a 
memória retém esses conhecimentos aprendidos (CARDOSO, 1997). 
Há diversos tipos de memória, que variam em sua complexidade: química, visual, 
olfativa, auditiva, tátil, etc. E que podem ser classificadas em dois grupos: 
a memória intelectual, localizada na mente ; 
a memória sensorial, localizada no corpo. 
A memória não fica armazenada em uma área específica do cérebro ou do corpo. Ela é 
um fenômeno celular, biológico e psicológico que envolve vários sistemas neuropsicofisiológicos 
que funcionam em conjunto. 
A mente e o corpo não são apenas um agrupamento de órgãos, músculos e ossos, 
regidos por leis da mecânica, da termodinâmica ou outra qualquer, mas são conjuntos de células 
e tecidos, regidos principalmente por leis energéticas e neuropsicofisiológicas. Mente e corpo 
são permeáveis às impressões físicas, cognitivas e psicológicas que interagem entre si. A mente 
reune as informações intelectuais e “mesmo em suas manifestações mais abstratas, não é 
separada do corpo, mas sim nascida dele e moldada por ele” (CAPRA, p. 79). O corpo, por sua 
vez, contém o histórico de uma pessoa de forma que mudanças na personalidade e no caráter, 
são condicionadas pelas mudanças nas funções corporais. 
Mesmo que Freud (1905) tenha afirmado que o ego é “antes de tudo e principalmente 
um ego corporal” (p. 98), afastou-se dos estudos do corpo e enveredou-se para o estudo da 
mente e seus conflitos psíquicos. Essas primeiras idéias induziu inquietos pesquisadores da 
época a buscarem a compreensão dos conflitos psíquicos relacionados ao corpo e das 
interferências deste sobre a mente. Wilhelm Reich, um impiedoso adversário do dualismo 
cartesiano, destaca-se dentre esses pesquisadores. 
O corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona e toda vez que isso acontece, as 
células do cérebro sofrem uma alteração e essa alteração irá refletir em no comportamento. 
Reich (1995) a percebeu – pela prática enquanto psicanalista – levou que o corpo retinha todos 
os conflitos emocionais e possuía uma linguagem própria, comunicada através de gestos, 
 
32 
 
 
postura, tom de voz, movimentos, vestimentas, etc, negligenciada pela psicanálise. Optou, por 
acreditar mais no que via do que no que ouviae passou a ler no corpo de seus pacientes as 
angústias, ansiedades, medos, desejos e repressões, encontrando a chave para a compreensão 
dos mecanismos psíquicos e das defesas com a qual a psicanálise ortodoxa se debatia. 
Na época em questão, a psicanálise estava em busca da solução do problema das 
resistências, porque era grande o número de pacientes que não conseguiam seguir com a regra 
básica psicanalítica da livre associação, sendo considerados resistentes ao tratamento e, 
impossíveis de serem analisados. Reich concluiu que essa resistência estava diretamente ligada 
ao caráter. Mas como a incursão do corpo dentro do processo psicanalítico não era permitida, 
Reich abandonou a psicanálise, deixando de lado o método tradicional de analisar apenas o 
sintoma isolado e passou a usar seu próprio método que chamou de técnica da análise do 
caráter, obtendo assim, resultados mais rápidos, profundos e eficazes. 
O conceito de caráter pode ser definido como “a expressão do funcionamento do 
indivíduo tanto no âmbito psíquico quanto no somático” (Lowen, 1977, p. 118). A teoria analítica 
do caráter havia demonstrado clinicamente que a formação do caráter nada mais era do que o 
produto do choque entre os impulsos naturais da criança e as frustrações impostas a ela pela 
educação. A análise do caráter revelava que essas atitudes demonstradas pela pessoa, como 
gestos, posturas, tom de voz, etc, haviam se formado durante as etapas do desenvolvimento. É 
o bloqueio na etapa do desenvolvimento que define o tipo de caráter de uma pessoa. 
As etapas do desenvolvimento emocional representam momentos de passagem que 
induzem à incorporação de experiências vividas pela criança. Cada uma dessas etapas é 
caracterizada por fenômenos específicos que desde o início trazem consigo, na bagagem 
genética da célula, valores biofisiológicos, emocionais-afetivos e intelectivos, que serão 
transmitidos para todas as demais células do corpo durante todo o processo de 
desenvolvimento. Completando-se as etapas do desenvolvimento emocional, na adolescência, o 
que sucede é o estabelecimento definitivo do caráter que é a forma do indivíduo agir e reagir 
perante todas as situações que o mundo lhe impõe. (VOLPI & VOLPI, 2002). 
Passando a criança por todas as etapas sem sofrer comprometimentos entre seus 
impulsos naturais e as frustrações impostas a ela por uma educação moralista e repressiva, será 
capaz de chegar ao que Reich (1995) denominou de caráter genital, autorregulado, sem 
bloqueios. Sendo, porem, os impulsos dessa criança forem frustrados, reprimidos de forma 
severa, sua energia permanecerá fixada, propiciando o aparecimento de um caráter neurótico, 
que irá se defender, agindo e reagindo de forma peculiar, em conformidade com a etapa em que 
o bloqueio ocorreu. 
A primeira etapa do desenvolvimento tem seu início na fecundação e término no 
momento do nascimento e recebe o nome de etapa ocular (BAKER, 1980) ou etapa de 
 
33 
 
 
sustentação (VOLPI & VOLPI, 2002). O útero é o primeiro ambiente em que se encontra o bebê 
durante seu desenvolvimento emocional, onde o contato se dá com a mãe por meio de suas 
paredes e do cordão umbilical, que irá sustentar e nutrir o bebê não apenas de forma fisiológica, 
mas também emocional e energética para que possa continuar sendo gestado. É um íntimo 
contato corporal de energia orgonótica entre a mãe e o bebê. 
Existem várias situações, decorrentes do estresse sofrido pela mãe e/ou pela criança 
que podem comprometer essa etapa do desenvolvimento. O que não significa, que todas as 
crianças que passam pelas mesmas situações terão os mesmos comprometimentos, porque 
tudo irá depender da intensidade do estresse, da frequência e de vários outros fatores. Mesmo 
porque cada criança tem um funcionamento fisiológico próprio, tem uma resistência ao estresse 
que é particular, é só dela havendo algumas que são mais resistentes que as outras. 
Não ocorrendo nenhum tipo de dano severo durante a gestação, o recém-nascido trará 
consigo “um sistema energético enormemente produtivo e adaptável que, por seus próprios 
recursos interagirá com seu meio ambiente dando forma a este meio ambiente de acordo com 
suas necessidades” (REICH, 1987, p. 30) e será capaz de demonstrar toda a riqueza da 
plasticidade e do desenvolvimento natural. Um estresse sofrido durante essa etapa do 
desenvolvimento, irá formar registros que serão responsáveis pela formação de uma estrutura de 
caráter denominada de esquizóide (LOWEN, 1977; REICH, 1995), ou de núcleo psicótico 
(NAVARRO, 1995). 
A segunda etapa é denominada oral (BAKER, 1980) ou de incorporação (VOLPI & 
VOLPI, 2002). Inicia-se logo após o nascimento e finaliza com o desmame, que deverá ocorrer 
por volta do nono mês de vida, quando o bebê já tem dentes suficientes para triturar seu próprio 
alimento. Nessa etapa, o bebê abandona o útero para se ligar ao seio da mãe, introjetando tudo 
o que vier do mundo externo, começando pelo bico do seio ereto e disponível, passando pelo 
sabor agradável do leite, pelo cheiro da mãe, pela disponibilidade da mãe em amamentá-lo, 
pelos olhos atentos e receptivos, pelas mãos quentes e acolhedoras e pelo contato epidérmico 
que envolve o bebê, da mesma forma que ele foi envolvido pelo útero e muito mais. Não se pode 
esquecer que “a pele é a ponte sensível do contato com o mundo... É o nosso órgão mais 
extenso, é o nosso código mais intenso, um lar de profundas memórias” (LELOUP, 1983, p. 9). 
O bebê regula suas próprias necessidades de fome, demonstrando-as através do choro, 
balbucios e agitação, mas uma mãe agitada e ansiosa é incapaz de sentir e perceber as 
necessidades de seu bebê (REICH, 1983). O desmame precoce, tardio ou brusco, provoca um 
estresse na criança e contribui, para a formação da estrutura de caráter denominada oral 
(LOWEN, 1977; REICH, 1995) ou borderline (NAVARRO, 1995). 
A terceira etapa, anal (BAKER, 1980) ou de produção (VOLPI & VOLPI, 2002) tem seu 
início com o desmame e se estende até o final do terceiro ano de vida. Nessa etapa, a energia 
 
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da criança está inteiramente voltada à construção de pensamentos, gestos brincadeiras, 
jogos, relacionamentos, etc, da mesma forma que produz sua urina e suas fezes. Acontece o 
desenvolvimento da autoconsciência, o que lhe permite desenvolver a capacidade de antecipar 
os acontecimentos, como, por exemplo, não se sentir abandonada pelos pais quando eles saem, 
porque ela – a criança - sabe que eles irão voltar. 
Nessa etapa a criança imita os pais em busca de modelos. Se mostra curiosa e procura 
descobrir tudo o que está à sua volta, recusando ajuda. As exigências para que a criança 
contenha suas necessidades fisiológicas de xixi e cocô antes de completar 18 meses e o treino 
precoce à toalete, são fatores que contribuem para o bloqueio da energia nessa etapa do 
desenvolvimento. A frustração e o medo da punição bloqueiam a espontaneidade da criança, 
deixa-a numa situação de submissão ao genitor que a frustra e confinada às rotinas diárias de 
seu cotidiano, propiciando a formação de uma estrutura de caráter masoquista (LOWEN, 1977; 
Reich, 1995) que pode ser chamado também de estrutura psiconeurótica (NAVARRO, 1995). 
Uma outra característica dessa etapa é a mudança do brincar simples e repetitivo para o 
brincar construtivo. A criança se interessa pelos jogos imaginativos e mais tarde, o interesse se 
volta para os jogos mais formais, com regras. É comum o surgimento de amigos imaginários, 
principalmente em primogênitos e filhos únicos. Preocupações excessivas, principalmente com a 
ordem e/ou limpeza trazem o bloqueio nessa etapa do desenvolvimento e permite o 
aparecimento da estrutura de caráter denominada de obsessivo-compulsivo (REICH, 1995) ou 
psiconeurótico (NAVARRO, 1995). 
A quarta etapa chamada de fálica se inicia a partir do quarto ano de vida (BAKER, 1980) 
(VOLPI & VOLPI, 2002), e se estende até o final do

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