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GESTÃO EDUCACIONAL Herbert Schutzer 2 SUMÁRIO 1 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO .................................................. 3 2 PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA ..21 3 O SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA ............................ 33 4 ORGANIZAÇÃO GERAL DO TRABALHO ESCOLAR .................................... 45 5 ESTRATÉGIAS DE COORDENAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR E DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DA ESCOLA ................................................... 56 6 GESTÃO DEMOCRÁTICA E OS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO ........... 67 3 1 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO Neste bloco iremos estudar sobre a gestão democrática e participativa, sobre as características do Conselho Escolar, a função da Associação de Pais, Mestres e Funcionários, bem como sua constituição e constituição, as competências, composição e função do Conselho de Classe e as tendências atuais da gestão da educação. ❖ Gestão Educacional No contexto atual da educação, alguns desafios se apresentam e, dentre eles, é bom apontar a necessidade de se superar a visão limitada de administração, pois os problemas educacionais são complexos e requerem uma ação com ampla visão para se operar uma ação articulada. Na perspectiva da gestão, a finalidade é estabelecer as diretrizes e a participação que proporcione a realização do funcionamento dos sistemas de ensino e das escolas, através de uma realização planejada que permita uma ação coletiva e articulada, buscando a qualidade do ensino (LÜCK, 2006). ❖ Gestão para superar as carências É necessário, no contexto da educação, buscar uma orientação e construir liderança que seja exercida pelos princípios democráticos e participativos, embasada por um referencial teórico-metodológico moderno, de forma que se possa superar as dificuldades que o sistema apresenta. A superação dos problemas que a educação apresenta requer que a gestão educacional atue de forma a inspirar e mobilizar as forças atuantes na educação, sendo enérgica e competente para manter o foco nos objetivos a serem alcançados. Procurando acompanhar as transformações socioeconômicas e culturais que a sociedade apresenta, através do aproveitamento das competências humanas e do desenvolvimento criativo que pode ser dinamizado pelo talento humano, favorecendo o desenvolvimento do trabalho competente e uso criativo dos recursos disponíveis. 4 Caso contrário, a gestão corre um sério risco de fracasso, pois a adoção de uma perspectiva burocrática pode direcionar para focos isolados e pontuais que limitam a realização dos objetivos avançados da educação (LÜCK, 2006). ❖ Ação Educacional A realização do processo de gestão educacional objetiva promover a organização, mobilização das condições estruturais, funcionais, materiais e humanas, tendo como fundamentos algumas medidas orientadas para a promoção da aprendizagem de maneira efetiva, enfrentando os desafios da sociedade globalizada e de uma economia dinâmica (LÜCK, 2006). ❖ Visualização das ações da gestão Segundo Lück (2006), é necessária uma visão de conjunto da educação para que a gestão possa atender às necessidades demandadas na atualidade. Para isso, propõe uma visão de conjunto que pode ser observada a partir de uma figura de quadrantes, que disponibiliza a observação das realizações e metas a serem atingidas através de um sistema de eixos, que especificam demandas da realização dos trabalhos da educação, como pode ser observado na Figura 1.1. Fonte: Lück (2006, p. 27). Figura 1.1 – Eixos de realização das áreas de trabalho de gestão escolar. 5 O gráfico da figura acima permite a observação do conjunto das ações educadoras, permitindo que se perceba a existências de pontos de atenção, que requerem orientações estratégicas e interligadas para reparar os desvios apresentados na implementação dos planos de ações. Ainda segundo a autora (LÜCK, 2006), a gestão deve buscar um equilíbrio das ações educacionais formadas pelos quatro eixos. Dessa forma, ao visualizar a predominância de um ou mais eixos sobre os outros, a gestão deve procurar corrigir as ações para que a perspectiva global de ação não seja desequilibrada e cause problemas e prejuízos para o desenvolvimento das ações que objetivam a qualidade da educação. ❖ Dinâmica da mudança e suas implicações A gestão educacional diante da realidade deve procurar evitar o autoritarismo, a centralização e a postura conservadora que, segundo Lück (2006), conduzem ao desperdício das ações da gestão e não permite que ela perceba as suas limitações diante dos paradigmas da atualidade, marcada pelas propostas interativas, participativas e democráticas da gestão. Isso ocorre, principalmente, num momento em que a escola encontra-se no centro das atenções sociais devido à perspectiva da construção de uma sociedade baseada no conhecimento, e por isso a atenção deve ser redobrada pela gestão, a fim de se garantir a formação plana dos alunos. 1.1 Gestão democrática e participativa A legislação educacional brasileira tem seus princípios na Constituição Federal de 1988, no artigo 206, inciso VI, que dispõe sobre como ensino público será ministrado e com base, entre outros princípios, na gestão democrática (BRASIL, 2014). A Lei nº 9.394/1996, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), que reforçou o princípio da gestão democrática, acrescentando como sua condição a participação dos profissionais da educação na elaboração do PPP (Projeto Político Pedagógico) e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares (Art. 14) e a garantia de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira às escolas públicas (Art. 15). 6 1.1.1 Que significa exatamente participação democrática? A participação democrática da comunidade escolar na gestão da escola ocorre de forma efetiva, quando se tem consciência e conhecimento da necessidade de se ter compromisso com os objetivos educacionais. Para se alcançar a efetiva democratização e autonomia da escola é preciso seguir alguns critérios fundamentais: • Acolhimento da norma. • Delegação efetivamente construída na escola. • Democracia e eleição – o que supõe participação dos iguais. • O direito a novos direitos – permanência do aluno na escola/acesso à educação básica e ensino de qualidade. • Formação comum para o exercício da cidadania. • Efetividade das normas legais e realização da justiça: participação e atribuição de responsabilidades. • Conhecer os seus alunos: um dos princípios da gestão democrática – que a equipe gestora precisa dar conta. • Direito à educação – supõe obrigatoriedade de frequência e permanência. Segundo Libâneo (2013), a representação gráfica da estrutura –, em certo sentido, expressa a concepção de organização e gestão. As escolas possuem um ordenamento de suas funções, onde estão definidas as funções que organizam as atribuições e competências de cada posto. 1.1.2 Como articular a ação de pessoas? • Articular ações no espaço público e construir ações: democráticas – acolhimento da lei participativas e atividades em equipe. • Promover processos de gestão: com autonomia – formulando objetivos com solidariedade e reconhecendo diferenças. 7 A interação da comunidade escolar constitui-se no princípio que fundamenta a gestão participativa. Os participantes são chamados a interagir no sentido de se alcançar os objetivos escolares, assim o grupo de estudantes, pais, professores e funcionários devem ter o compromisso e a disposição de buscar os objetivos da escola. É importante ressaltar que o profissional gestor não nasce pronto, mas é fruto de um processo de formação que requer compromisso pessoal para a aquisição e ampliação de conhecimentos gerais e habilidades específicas. Ele deve tercapacidade de construir as competências de: • Gestão de informação; • Gestão de processos; • Criatividade; • Resolução de problemas; • Comunicação; • Liderança. 1.2 Conselho escolar A gestão democrática inseriu a comunidade escolar na administração da escola, algo que anteriormente não era aceito na instituição, sendo um direito público vinculado à ideia de descentralização e autonomia da educação pública na busca do ensino de qualidade. A participação da comunidade em aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros, caracterizam a gestão democrática na escola, com a finalidade de interação da comunidade na construção do Projeto Político Pedagógico e nas decisões da gestão. Segundo Libâneo (2013), a gestão democrática da escola se configura também com a participação da comunidade nos órgãos colegiados da escola, dentre eles o Conselho Escolar. As decisões coletivas configuram a efetiva interação na tomada de decisão na escola e implica na realização da gestão democrática, cuja finalidade são os objetivos da educação de qualidade. 8 As decisões em conjunto configuram a interação da comunidade e garantem que se possa traçar metas e objetivos e, ao mesmo tempo, estreitar os laços da comunidade com os profissionais da escola, ensejando a realização da gestão democrática (LIBÂNEO, 2013). 1.2.1 Dimensões Legais do Conselho Escolar • A Constituição Federal, no art. 206, inciso VI, que delibera sobre o princípio da gestão democrática nas instituições públicas de ensino e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996). • Art. 206: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: inciso VI - gestão democrática do ensino público na forma da Lei. (BRASIL, 1988). • Art. 3º: O ensino será ministrado com base nos princípios do inciso VIII – gestão democrática do ensino público, na forma da Lei e da legislação dos sistemas de ensino (BRASIL, 1996). • Art. 14: Os sistemas de ensino definirão as normas de Gestão Democrática: inciso I – participação dos profissionais da educação na elaboração da proposta pedagógica; inciso II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996). • Como instrumento de gestão colegiada, o Conselho Escolar garante a participação da comunidade na gestão da escola, sendo um órgão para a democratização da escola pública, auxiliando a direção do estabelecimento. • No Conselho Escolar se reúnem os representantes de toda a comunidade escolar para discutir, acompanhar e definir os requisitos necessários para o funcionamento da escola. • O Conselho Escolar é um órgão com função burocrática para preencher exigências legais. De acordo com Lück (2006, p. 66), o colegiado escolar faz parte do mecanismo de gestão da escola, e tem como objetivo auxiliar na tomada de decisão em todas as suas áreas de atuação para o seu funcionamento. 9 Os princípios que norteiam o Conselho Escolar incorporam as esferas da deliberação e do controle social da escola. i) São eles que auxiliam os rumos que a escola deve tomar. ii) Eles também auxiliam na caminhada para a melhoria do processo de ensino- aprendizagem. iii) O primeiro deles está relacionado à tomada de decisão coletiva, mediante discussão e exame, quanto ao direcionamento das políticas públicas, desenvolvidas no âmbito escolar; e o segundo, à participação da sociedade na fiscalização da gestão dos recursos e dos gastos públicos, e ao acompanhamento das decisões e da execução das políticas públicas, avaliando objetivos, processo e resultados. De acordo com esses princípios, as funções que o Conselho Escolar exerce são: a) Deliberativas: quando decidem sobre o projeto político-pedagógico e outros assuntos da escola; aprovam encaminhamentos de problemas, garantem a elaboração de normas internas e o cumprimento das normas dos sistemas de ensino; decidem sobre a organização e o funcionamento geral das escolas, elaboram normas internas da escola sobre questões referentes ao seu funcionamento nos aspectos pedagógicos, administrativo ou financeiro. b) Consultivas: quando têm um caráter de assessoramento, analisando as questões ou soluções, que poderão ou não ser acatadas pelas direções das unidades escolares. c) Fiscais: quando acompanham a execução das ações pedagógicas, administrativas e financeiras, avaliando e garantido o cumprimento das normas das escolas e a qualidade social do cotidiano escolar. d) Mobilizadoras: quando promovem a participação, de forma integrada, dos segmentos representativos da escola e da comunidade local em diversas atividades, contribuindo assim para a efetivação da democracia participativa e para a melhoria da qualidade social da educação (BRASIL, 2004, p. 41). 10 1.2.2 Plano de Ação O estatuto e as normas do Conselho Escolar se constituem no caráter formal da organização e determina os limites e possibilidades da representação colegiada na escola. A formalização do Conselho Escolar permite que as metas a serem atingidas pela escola sejam entendidas e sirvam para se determinar os meios pelos quais a metas serão atingidas, como também se há necessidade de ajustes, por isso um conselho atuante é fundamental para se alcançar os objetivos. Para um bom funcionamento do conselho, é necessário que o plano de ação seja bem delineado. Assim, a organização do trabalho deve seguir alguns passos que garantam sua eficiência. Para alcançar um pleno funcionamento, é preciso organizar as reuniões do Conselho Escolar, podendo ordenar seu funcionamento a partir dos seguintes critérios: i) Temas a serem abordados: 1. A função social da escola; 2. O que é gestão democrática na escola pública; 3. A legislação que sustenta os conselhos escolares. ii) Temas a serem abordados e discutidos: ➢ O que é o Conselho Escolar e função dele na escola pública; ➢ Quem são os membros do Conselho Escolar e como participar deste colegiado; ➢ Propostas para a formação de um Conselho Escolar atuante na Comunidade Escolar. Os debates no Conselho Escolar ajudam a comunidade escolar a sistematizar suas ações, que são necessárias para a orientação da construção cidadã, de uma gestão democrática. A gestão da escola pode orientar as discussões intencionalmente, levando a comunidade escolar a sistematizar as ações que a escola necessita para atingir os objetivos. 11 A direção pode colocar algumas questões referentes à formação do entendimento dos objetivos educacionais e escolares, que serão discutidas para a uma compreensão mais adequada das necessidades escolares, como por exemplo: • Como você entende a função social da escola pública? • A escola que temos é igual à escola que queremos? • Como você pode definir a gestão democrática dentro da escola? • O que se entende por Conselho Escolar? • Como devem ser as atitudes de um membro do Conselho Escolar? • Quais as propostas para o fortalecimento do Conselho Escolar da nossa escola? As ações intencionais, na busca de resultados positivos, contribuem para o aperfeiçoamento das práticas do Conselho Escolar. Quanto mais conhecimentos teóricos, mais fundamentos ele terá para a aplicação prática do projeto da escola e dos meios para se alcançar os objetivos propostos. Um Conselho Escolar participativo e atuante é um órgão de transforma o espaço escolar, uma vez que todos estão envolvidos no processo educacional. De outro lado, a comunidade se transforma em agente de uma educação transformadora, podendo modificar a estrutura escolar da qual é parte integrante, exercendo a cidadania numa concepção participativa e transformadora. A conscientização da comunidade escolar é de fundamental importância, para que seu papel seja ativo na construção de uma gestão democrática de sucesso. 1.3 Associação de pais, mestres e funcionários APMF – Associação de Pais, Mestres e Funcionários,constitui-se numa entidade de pessoa jurídica de direito privado, que dá cumprimento ao fundamento da participação na gestão da escola e é constituído por representantes dos pais e funcionários do estabelecimento. Tem como princípios o caráter não político, ser laico, não ter distinção de gênero e raça, e não ter fins lucrativos, não existindo remuneração para os membros que compõe o órgão. 12 A APMF tem como finalidade colaborar com a gestão da escola, cujas metas são: os objetivos educacionais a serem atingidos pela escola. Além disso, o órgão deve: i) buscar representar os desejos da comunidade de pais e funcionários da escola; ii) procurar favorecer cooperação entre pais e professores para a melhoria do ensino e do aproveitamento pelo aluno; iii) ajudar na programação das atividades culturais e de lazer da escola; iv) colaborar para preservação e conservação do prédio; v) contribuir na assistência escolar em áreas socioeconômicas e de saúde; vi) procurar contribuir com a ideia de escola como centro de atividades culturais das comunidades. 1.3.1 Legislação A ideia de gestão escolar inseriu os princípios de promoção social, visando a construção de uma sociedade participativa a partir do desenvolvimento da cidadania e dos direitos de todos de colaborarem com o processo social. Para se concretizar esse princípio, foi fundamental a implantação dos órgãos colegiados nas escolas, que se tornaram imprescindíveis para o exercício da democracia, da participação, da liberdade de expressão e da conquista da autonomia pela escola (LÜCK, 1996). A gestão democrática implantada pelo governo só se efetiva a partir da participação da comunidade escolar, embora existam ainda obstáculos a serem superados, a legislação que organiza a escola com gestão democrática ainda enfrenta dificuldades preliminares para promover a participação, que necessitam do convencimento da importância da sua consolidação para alcançar os objetivos previstos na lei (PARO, 1997). 13 1.3.2 Administração da APMF A APMF é constituída pelas seguintes unidades: i) Assembleia Geral – constituída pela totalidade dos associados é convocada e presidida pelo Diretor da Escola. ii) Conselho Deliberativo – constituído de, no mínimo, onze membros, sendo o Diretor da Escola o seu presidente nato e os demais componentes distribuídos na seguinte proporção: 30% dos membros serão professores; 40% dos membros serão pais de alunos; 20% dos membros serão alunos maiores de 18 anos; 10% dos membros serão sócios admitidos, que elegem os membros da Diretoria Executiva e divulgam os nomes dos escolhidos a todos os associados. iii) Conselho Fiscal – constituído de 3 (três) elementos, sendo dois pais de alunos e um representante do quadro administrativo ou docente da Escola. iv) Diretoria Executiva – constituída por: Diretor Executivo, Vice-Diretor Executivo, Secretário, Diretor Financeiro, Vice-Diretor Financeiro, Diretor Cultural, Diretor de Esportes, Diretor Social, Diretor de Patrimônio. Observação: a APMF deverá ser constituída anualmente e o mandato dos conselheiros e dos Diretores será de um ano, sendo permitida a recondução por mais duas vezes. 1.3.3 Outras questões i) Como se deve proceder para participar da APMF? Como órgão aberto a todos os membros da comunidade escolar, a participação é voluntária em benefício da escola. O interessado deve dirigir-se à direção da escola e manifestar o seu interesse de participar. ii) A APMF deve ter registro em cartório? Sim, por ser uma entidade de pessoa jurídica de direito privado, seu estatuto e ata de eleição de seus membros deve ser registrado em cartório. 14 iii) É obrigatório o pagamento da taxa da APMF? Esta contribuição financeira é facultativa no início do ano letivo, sendo fixadas a forma e o período da arrecadação das contribuições. iv) É obrigatória a prestação de contas da APMF? Sim, os balanços devem ser fixados em lugares de fácil visualização pela comunidade escolar. Na atualidade, observa-se um certo desinteresse da comunidade escolar na participação da APMF, e isso se deve à má percepção e compreensão das suas funções, proveniente do baixo nível cultural e socioeconômico de grande parte da população. A falta de entendimento da função da escola atual e um certo comodismo de muitas famílias podem justificar a indiferença com relação a participação no quadro de gestão da escola (SANTOS, 2013). 1.4 Conselho de Classe Sua implantação se deu a partir de uma necessidade sentida pela comunidade escolar e por uma reivindicação pedagógica dos professores, ocasionada por essas características de fragmentação e isolamento presentes na organização da escola, não tendo conseguido, entretanto, cumprir o seu intento (DALBEN, 1992). Previa-se para os Conselhos de Classe uma função de cunho essencialmente pedagógico, na perspectiva de auxiliar o processo avaliativo. O Conselho de Classe é um órgão colegiado, presente na organização da escola, que reúne periodicamente os vários professores das diversas disciplinas, juntamente com os coordenadores pedagógicos, supervisores e orientadores educacionais, para refletirem conjuntamente e avaliarem o desempenho pedagógico dos alunos das diversas turmas, séries ou ciclos. Há algumas características básicas que o tornam diferente dos demais órgãos colegiados, conferindo-lhe especial importância no que tange ao desenvolvimento do projeto pedagógico da escola. São elas: a forma de participação direta, efetiva e entrelaçada dos profissionais que atuam no processo pedagógico; a organização 15 interdisciplinar; a centralidade da avaliação escolar como foco de trabalho da instância. Cada uma dessas características será abordada mais detalhadamente a seguir (DALBEN, 1992). 1.4.1 Conselho de Classe e Gestão Democrática Ao estabelecer relações com a sociedade, absorve-a e transforma-se, reproduzindo as características dela. Dessa forma, a escola passa a ser um polo concentrador das necessidades socioculturais do lugar onde está inserida. Nesse sentido, a dinâmica da escola se insere num processo dialético constante na tentativa de legitimar a sua cultura. Esse movimento de legitimação da sua institucionalidade mostra que ela busca se ressignificar a cada novo tempo, e essa dinâmica caracteriza sua importância concreta dentro da sociedade. As mudanças por que a escola passa exigem uma série de procedimentos reflexivos e críticos das práticas antigas e as novas, de forma a incorporar a novas demandas sociais (LUCKESI, 1995). A participação direta dos profissionais é uma característica prevista nas normas que disciplinam a constituição dos Conselhos de Classe, garantindo espaço na reunião a todos os professores que desenvolvem trabalho pedagógico com as turmas selecionadas para avaliação, de forma a possibilitar-lhes a oportunidade de analisarem e discutirem em sala de aula. O docente, ao participar do Conselho de Classe, coloca como objeto de reflexão sua própria prática pedagógica, tanto em termos de relação com o aluno como de conteúdo escolar nos processos de ensino e aprendizagem desenvolvidos (DALBEN, 1992). São características fundamentais de um Conselho de Classe: ser deliberativo, constituir-se num espaço interdisciplinar de estudo e tomada de decisões, sobre os aspectos pedagógicos da escola, o que delibera também sobre os objetivos da escola e aprecia os resultados finais dos alunos (DALBEN, 1992). A centralidade conferida aos objetivos de ensino e aprendizagem nos trabalhos do Conselho de Classe – Essa característica coloca em evidência o Conselho de Classe, em relação às demais instâncias colegiadas da escola (DALBEN, 1992). 16 As reuniões do Conselho de Classe estruturam-se a partir de objetivos organizados em função das necessidades emergentes, e serão tais objetivos que definirãoo tipo de organização mais adequada às reuniões, especialmente quanto à escolha dos participantes (DALBEN, 1992). O Conselho de Classe pode se aproveitar de suas características constitutivas e ser capaz de direcionar um projeto democrático de atuação pedagógica, pode reificar relações autoritárias e discriminatórias e hegemônicas na sociedade (DALBEN, 1992). 1.4.2 Conselho de Classe e Avalição Escolar Quando se discute o Conselho de Classe, discutem-se também as concepções de avaliação escolar presentes nas práticas dos professores e ainda a cultura escolar em geral e a cultura específica da escola que as vem produzindo. Nesse sentido, a importância dos Conselhos de Classe e dos processos avaliativos da escola derivam de sua capacidade de alterar as relações pedagógicas presentes nos diversos espaços da instituição, alterando-se, assim, a sua própria identidade (ROCHA, 1986). O papel aponta para a necessidade atual de construção de relações pedagógicas para se alcançar o conhecimento e, neste sentido, pode decidir sobre uma nova concepção de avaliação escolar, centrada na análise e reflexão da prática pedagógica como um todo e a necessidade da construção de uma nova identidade da escola (ROCHA, 1986). Sendo assim, o Conselho de Classe exerce um papel de dinamizador do projeto pedagógico da escola, sendo o espaço de produção de conhecimento e de busca da qualidade da escola. A reflexão/avaliação da prática pedagógica exercida pelo órgão contribui para estruturar os resultados da avaliação do desempenho do aluno, a partir da interdisciplinaridade: explora referenciais diversos, clarifica significados e sentidos pedagógicos, compara resultados reais e desejados, compartilha subjetividades e oferece uma dimensão qualitativa na medida do desempenho do aluno, do professor e da escola (ROCHA, 1986). 17 1.5 Gestão da Educação: tendências atuais Na atualidade a gestão escolar enfrenta alguns dilemas que exigem a necessidade de superar o enfoque limitado de administração; os problemas educacionais que são complexos; demandam uma visão global do contexto educacional; e necessita de uma ação articulada para enfrentar as demandas (LÜCK, 2009). Hoje em dia são muitas as dificuldades que a escola enfrenta, mas algumas são mais imprescindíveis de serem superadas, como: a) de orientação e de liderança, exercida a partir de princípios democráticos e participativos; b) de referencial teórico-metodológico avançado; c) de uma perspectiva de superação efetiva das dificuldades. 1.5.1 Formas de superação A gestão educacional deve atuar de forma decisiva buscando ser inspiradora, mobilizadora, enérgica e competente (LÜCK, 2009). Assim, a gestão deve-se orientar por algumas metas e metodologias para ser efetiva: a) realização de objetivos avançados, em acordo com novas necessidades de transformação sócio-econômica-cultural; b) desenvolvimento criativo e aberto de competências humanas; c) mediante a dinamização do talento humano; d) organização competente do trabalho e emprego criativo de recursos. Quando as orientações da gestão não atingem o sucesso esperado, as causas e soluções podem ser: a) perspectivas burocráticas isoladas e eventuais; b) focalizar projetos isolados e soluções pontuais e localizadas; c) realização de atividades sem orientação. 18 A gestão escolar também deve procurar promover e orientar as ações dentro da escola. Dessa forma, ela deve incentivar ações que objetivam promover organização, mobilização das condições estruturais, funcionais, materiais e humanas, com medidas orientadas para promoção efetiva da aprendizagem e contribuição para enfrentar os desafios da sociedade globalizada e econômica. 1.5.2 Dinâmica da mudança Como vemos a realidade e como participamos dela na atualidade: consciência de que autoritarismo, centralização, conservadorismo conduzem ao desperdício; o novo paradigma que emerge busca superar tais limitações; marcado pela forte tendência de práticas interativas, participativas e democráticas, a sociedade colocou a escola no centro de sua atenção, porque reconhece que a atualidade está centrada no conhecimento e isso passa a ser estratégico. Contudo, essa atenção vem sendo conduzida de maneira plena. Dessa forma, são demandadas mudanças urgentes na escola, a fim de que garanta a formação competente de seus alunos (PARO, 1997). Todo movimento no sentido de rever a concepção de educação e da relação escola- sociedade, tem demandado dos estabelecimentos de ensino um esforço especial de gestão, de organização dos processos socio educacionais e de articulação de seu talento e energia humana. De recursos e processos, com vista à promoção de experiências de formação de seus alunos, capazes de transformá-los em cidadãos participativos na sociedade. 19 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselhos Escolares: Uma estratégia de gestão democrática da educação pública, Brasília, 2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_gen.pdf>. Acesso em 22 mar. 2020. ______. Ministério da Educação. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Seção que pactua a educação como direito de todos. Da Educação, da Cultura e do Desporto. 1988. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf_legislacao/superior/legisla_superior_co nst.pdf>. Acesso em 20 mar. 2020. ______. Lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Brasília: 20 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 20 mar. 2020. DALBEN, A. I. L. de F. Trabalho escolar e Conselho de Classe. Campinas: Papirus, 1992. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Heccus Editora, 2013. LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo, 2009. ______. Gestão Educacional: Estratégia para a ação global e coletiva no ensino. In: FINGER, A. P.; PINTO, E. P.; LÜCK, H. Educação: Caminhos e Perspectivas. Curitiba: Champanhagnat, 1996. ______. Concepção e Processos Democráticos de Gestão Educacional. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2006. LUCKESI, C. C. Avaliação educacional escolar: para além do autoritarismo. In: Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1995. PARO, V. H. Gestão Democrática da Escola Pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 1997. 20 ROCHA, A. D. C. Conselho de Classe: burocratização ou participação? 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. SANTOS, C. R. dos. A Gestão Educacional e Escolar para a Modernidade. São Paulo: Cengage Learning, 2013. 21 2 PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DA GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA Neste bloco você poderá conhecer como a gestão escolar deve atuar e se comportar para garantir a democratização do espaço escolar, conhecendo o papel do gestor na articulação das ações escolares. Para isso, o gestor deve ter conhecimentos sólidos sobre a administração escolar e gestão de clima e cotidiano escolar. 2.1 Democratização da Gestão Escolar [...] na longa história da teoria democrática se entrecruzam motivos de métodos e motivos ideais que se encontram perfeitamente fundidos na teoria de Rousseau segundo a qual o ideal igualitário que a inspira (democracia como valor) se realiza somente na formação da vontade geral (democracia como método). (BOBBIO et al., 1994, p. 329). É preciso ressaltar que a gestão escolar faz parte de uma dimensão do sistema educacional, que tem por objetivo criar as condições necessárias para que os alunos construam uma aprendizagem significativa, dentro de um ambiente de vivência capaz de oportunizar o desenvolvimento das suas competências, conforme as demandas sociais de cada momento. Portanto, a possibilidade de desenvolver formas de pensar a criatividade, a visãocontextualizada da realidade, e a capacidade de expressar o pensamento de forma clara, oral e escrita – bem como fazer uso da aritmética para resolver problemas de natureza quantitativa, que o ajudem a tomar decisões que colaborem para a prática da cidadania –, a partir dos princípios democráticos, faz da gestão educacional um campo que concentra grande responsabilidade e que deve ser voltado para garantir todos os objetivos de formação dos alunos, como condição básica para sua vida em sociedades (LÜCK, 2009). 22 Fonte: Adaptado de SCHUTZER, 2020. Figura 2.1 – Relações da gestão participativa. 2.1.1 Fundamentos do Papel do Gestor Escolar na Administração Participativa No desempenho da gestão escolar, o profissional de ter em mente alguns objetivos principais que encaminhem para a educação qualitativa. Para isso, focar na aprendizagem dos alunos, na organização das atividades pedagógicas que atendam às necessidades dos professores para a execução de um bom trabalho escolar, tornando o processo educacional focado nos objetivos e com uma adesão do grupo de professores e alunos (SILVA JUNIOR, 2002). Os objetivos da escola estão sujeitos a diversos ajustes segundo o contexto em que ela está inserida, exigindo acompanhamento do gestor escolar. Por isso, é preciso ter compreensão dos diferentes papeis que na escola se desempenham os vários profissionais. Diante do atual cenário de constantes mudanças das funções escolares, o gestor precisar estar apto a enfrentar as diversas situações, muitas delas imprevisíveis. Isso requer uma postura comprometida com os objetivos de qualidade educacional e flexível para efetuar respostas rápidas, para o bom andamento do processo escolar (SILVA JUNIOR, 2002). Gestor Democrático Articulador Alunos Pais Funcionários Ambiente Físico ParceirosDireção Professores SEC Em torno da Escola 23 Assim, o gestor deve procurar realizar uma boa gestão, criando as condições necessárias de organização e operacionalidade da estrutura escolar. Deve assegurar as melhores condições para a realização do trabalho pedagógico, contribuindo para o bom desempenho das atividades docentes. Uma das preocupações do gestor, é procurar manter uma imagem diante da escola, que transmita confiança nos demais membros da comunidade escolar, mostrando coerência nas suas atitudes e decisões e passando confiança na competência da gestão para atender as demandas da escola (SILVA JUNIOR, 2002). As competências necessárias do gestor escolar são fundamentais para o bom funcionamento da escola e atendimento da comunidade escolar. Dessa forma, ele deve ajustar as questões escolares a execução da política educacional, relativas ao desenvolvimento pleno dos objetivos escolares (SILVA JUNIOR, 2002). As dimensões contextuais constituem preocupações do gestor para o bom andamento do processo escolar, dando atenção ao favorecimento do trabalho coletivo de todos os envolvidos, procurando sempre valorizar os agentes escolares e contribuindo para a criação e manutenção de um bom ambiente de trabalho. No desempenho das atividades de administração escolar, o gestor deve procurar mostrar transparência e veracidade da sua gestão. Criando um sistema de informações que atenda a difusão das informações entre a comunidade escolar e o diretor. De posse de informações, o gestor pode ajustar os processos ou alterar quando necessário, para recolar o funcionamento da escolar no caminho dos objetivos definidos. Isso é possível quando a capacidade de decisão do gestor é fundamentada em informações claras e constantes (SILVA JUNIOR, 2002). Na atualidade, são muitos os desafios enfrentados pela gestão escolar. Para que a comunidade escolar trabalhe em prol dos objetivos educacionais, o gestor deve atender às diferentes demandas, como a conciliação de interesses particulares ou de grupos relativos aos objetivos pedagógicos e sociais. As exigências da convivência humana dentro da escola devem estar vinculadas aos objetivos da educação de qualidade (HORA, 2007). 24 A participação da comunidade na tomada de decisões, envolve a organização dos instrumentos necessários a participação, como: Conselho de Classe, Conselho da Escola, APMF, Grêmio Estudantil, bem como a análise das participações dos órgãos no Projeto Político Pedagógico, nas metodologias de divulgação das ações e resultados e a socialização das informações. Decisões partilhadas requerem que o gestor procure fortalecer a participação estudantil, a progressiva luta pela autonomia da escola através da discussão e implementação de novas formas de gestão escolar. Além disso, o financiamento educacional deve ser garantido e progressivo, de forma a atender as diferentes necessidades das escolas. 2.2 Gestão de pessoas Na atualidade, o sistema produtivo e o mercado de trabalho passaram a demandar trabalhadores com um novo perfil, e, na era do conhecimento, esse perfil deve requerer a capacidade de inovar, de ser ágil e ser flexível, para se adaptar às constantes mudanças num trabalho cada vez mais complexo que demanda maior qualificação do trabalhador, principalmente na educação, responsável pela preparação desse trabalhador (BOXALL e PURCELL, 2008). Nesse sentido, a gestão de pessoas deve buscar acompanhar as tendências mundiais através da literatura, para procurar identificar os princípios, políticas, estratégias e práticas que ajudam a criar as condições para um melhor desempenho das instituições, diante dos desafios que a educação apresenta na atualidade (FISCHER, 2002). As novas formas de realização do trabalho educacional, principalmente as relativas ao uso das novas tecnologias, podem enfraquecer a hierarquia institucional, devido principalmente à descentralização das atividades e das práticas de gerenciamento da escola. As relações hierárquicas são uma dimensão que exige adaptação da gestão dentro do princípio participativo que a gestão escolar passou a adotar. 25 Nesse sentido, aspectos como remunerações variáveis e progressivas passaram a ter um peso considerável no desempenho profissional, a carreira do profissional da educação passou a ser uma questão fundamental para o bom ambiente educacional. Diante disso, a gestão educacional deve ter atenção quanto aos direitos de cada um dos profissionais que fizeram jus à evolução funcional (BRIEF; WEISS, 2002). Contudo, a gestão de pessoas envolve a gestão de talentos, que requer a percepção das características do trabalho educacional, de forma a utilizá-las de maneira mais eficaz em prol da busca dos resultados educacionais. Modernamente, as pessoas dentro de uma organização são vistas como fatores críticos para se alcançar objetivos. Por isso, hoje é importante que se considere a gestão de pessoas como parte de um processo administrativo, para se potencializar o desempenho dos colaboradores. Na gestão dos recursos humanos, os gestores não devem se limitar a que seus funcionários estejam satisfeitos e motivados, é preciso inserir outras matrizes na organização do trabalho escolar, como a busca pelo desenvolvimento, a capacitação e a humanização dos atores no desempenho das suas funções (PEREIRA, 2007). Nesse contexto, a gestão de pessoas nas organizações escolares e outras organizações deve diagnosticar o grau de satisfação da sua equipe e buscar melhores desempenhos. Ao final deste bloco, em “Saiba mais”, você terá uma sugestão de vídeo com o Prof. Mário Sérgio Cortella sobre Gestão de Pessoas. 2.3 Princípios da Gestão Administrativa da Escola A esfera administrativa da escola é responsável por cuidar da estrutura, das condições de uso do prédio e dos equipamentos, cuidando de questões relativas ao funcionamento legal da escola, bem como dos aspectos de finanças, receitas e despesas necessárias à manutenção normal das atividades escolares (SILVA JUNIOR, 2002).26 Na dimensão administrativa da escola, o gestor deve mobilizar os meios necessários para atingir os objetivos escolares; além da dimensão pedagógica, o gerenciamento exige a mobilização de meios e procedimentos, utilizando-se dos aspectos técnico- administrativos (LIBÂNEO, 2006). Na educação, gestão, administração e organização são termos com significados semelhantes. Eles caracterizam as formas dos procedimentos aplicados ao trabalho de planejar o trabalho escolar de forma racional, tanto os recursos materiais, financeiros e intelectuais, controlando e coordenado todos os processos (LIBÂNEO, 2006). A organização da gestão escolar envolve três dimensões sob a responsabilidade da gestão: a administrativa, que cuida das questões organizacionais para o funcionamento da escola; e a financeira, que é responsável pelas verbas disponíveis e os gastos realizados, além da dimensão pedagógica. Com relação aos aspectos legais, cabe à gestão escolar cuidar das questões legais e, para isso, é fundamental que ela tenha conhecimentos sobre as leis que organizam a educação, de forma a garantir que os objetivos prescritos pela legislação sejam cumpridos. Além disso, para a gestão da escola manter o bom funcionamento, é preciso controlar os recursos financeiros referentes às necessidades e gastos realizados ao longo do ano. Os recursos provenientes de repasses e os arrecadados na própria escola devem estar escriturados e publicados em lugar visível para o conhecimento da comunidade escolar. 2.3.1 Atribuições da gestão administrativa escolar Cabe ao gestor: • Organizar e administrar os bens físicos, materiais e financeiros da escola; • Organizar e tomar a decisão nas compras, consertos e manutenção dos bens de patrimônio; • Manter inventariado e atualizados os bens; • Cuidar da manutenção da limpeza e organização do ambiente escolar; • Zelar pela correta utilização dos materiais da escola; 27 • Garantir o cumprimento das leis e diretrizes do colégio; • Utilizar de tecnologias de informação para melhorar os processos da gestão escolar em todos os departamentos. É importante a comunidade escolar ter conhecimento de todas as estratégias de atuação das práticas escolares e demais informações administrativas, por isso elas devem estar presentes no Plano Político Pedagógico de Gestão Escolar e descritas no Regime Escolar. 2.3.2 Aspectos do exercício da gestão Para o exercício da gestão, segundo Rocha et al. (2007), é preciso ter os seguintes aspectos: 1) ter compromisso em se desenvolver para melhorar a qualidade do ensino; 2) aceitar desafios e saber gerenciar conflitos; 3) ter liderança; 4) saber e gostar de trabalhar e coordenar equipes; 5) ser organizado e cumpridor dos deveres como profissional e cidadão; 6) ser crítico, visando a melhoria do local de trabalho; 7) estar motivado com a profissão; 8) ter alguma experiência administrativa; 9) ser comunicativo e proativo; 10) ser um ótimo professor em sala de aula. 2.4 Gestão do clima e cultura escolar A organização escolar é composta por pessoas que se relacionam para desenvolver a aprendizagem, todos os agentes: gestores, professores, alunos, funcionários técnicos etc., que precisam interagir para que os objetivos sejam alcançados. A finalidade de educar da escola requer um certo comportamento das pessoas que estejam de acordo com as exigências funcionais (PEREIRA, 2007). Contudo, é preciso considerar que os indivíduos agem, também, segundo suas interpretações e convicções dentro dos padrões de relacionamento de uma instituição escolar, e isso configura sua dinâmica interna, formando um espaço social que se expande ou se contrai segundo o contexto dos acontecimentos. 28 A cultura organizacional é um termo extraído do setor empresarial, que significa o conjunto de valores, crenças, rituais e normas adotadas por uma organização. O conceito de cultura é retirado das Ciências Sociais e é bastante complexo. Mas, reduzindo a alguns termos, pode-se dizer que a cultura é formada por crenças e valores criados por um determinado grupo. Clima e cultura possuem uma relação de causalidade, com a primeira sendo a causa e a segunda a consequência. Regina Brito (2008) aborda as responsabilidades da gestão sobre a ação e interação da gestão, considerando-se a cultura e o clima da escola, e de vital importância para se atingir os objetivos escolares as ações da gestão escolar. Sendo assim, a gestão deve possuir saberes necessários para direcionar as ações e atitudes para os objetivos educacionais dentro do princípio da gestão democrática, considerando a cultura e o clima escolar. 2.5 Gestão do cotidiano escolar a partir dos princípios participativos O cotidiano escolar é constituído de um conjunto de práticas, relações e situações que se materializam na escola cotidianamente, são as rotinas que muitas vezes se inserem na cultura da escola e podem não observar o que foi planejado. Nesse dia a dia, estão inseridos os professores em interação com os diversos participantes da comunidade escolar (GALVÃO, 2004, p. 28). A realidade escolar se constrói a partir das ações do dia a dia e é interiorizado pelos indivíduos da comunidade. Segundo Freire (1996), a escola é um espaço de reflexão das práticas nela realizadas ontem e hoje. Os discursos teóricos são necessários à reflexão crítica sobre o modo adequado de conduta da prática escolar. Assim, cabe a gestão escolar criar as condições adequadas à solução dos problemas que surgem na construção do cotidiano escolar comprometido com a realização do planejamento, de forma a atingir os objetivos escolares. 29 A formação dos professores é um importante fator da qualidade da educação, nesse sentido, procurar estimular a formação contínua do profissional e articular com o processo educacional deve ser observado pela gestão, de forma a dinamizar uma postura que se realiza no cotidiano escolar. Dessa forma, o gestor bem preparado enquanto profissional, que saiba valorizar e respeitar os profissionais envolvidos no processo educacional, contribui para a construção dos valores e conhecimentos na escola. 2.5.1 Gestão e Cotidiano Escolar No cotidiano escolar existem muitos desafios, o contexto político e social em que a escola está inserida, de constantes mudanças, requerem o domínio de saberes em relação às diretrizes da educação para enfrentar os desafios do dia a dia da escola. No desempenho da função de gestor, o profissional procura articular as diversas variáveis existentes, garantindo o bem-estar da comunidade escolar. Devendo ser muito mais que um mero administrador, possibilitando a realização de um serviço de qualidade para a comunidade escolar, em função das práticas conhecidas e interiorizadas que conduzem a qualidade da aprendizagem. Segundo Heloísa Lück (2009), são responsabilidades do gestor na condução da escola: 1º. Que o cotidiano escolar apresenta regularidades que devem ser acompanhadas pelo gestor. 2º. Criar as condições para que as regularidades e rotinas maximizem as práticas dos processos educacionais. 3º. Ter proatividade na resolução de problemas para manutenção das rotinas e regularidades. 4º. Promover a formação de hábitos positivos para o bom desenvolvimento dos processos escolares em todos os ambientes da escola. 5º. Desenvolver a cultura do aproveitamento do tempo das aulas e do calendário escolar, de forma a maximizar a aprendizagem. 30 6º. Estimular a incorporação das tecnologias educacionais em favor da aprendizagem. 7º. Garantir que as rotinas de manutenção do prédio, da qualidade da alimentação e da segurança se reproduzam cotidianamente. 8º. Formar a cultura do uso adequado dos espaços e equipamentos escolares. 9º. Procurar estimular o uso dos horários de permanência na escola para uma efetiva preparação na melhoria das práticas educacionais.2.5.2 Contradições do cotidiano escolar Ao se verificar de forma criteriosa a escola, verifica-se que nem sempre o seu cotidiano se reproduz segundo as propostas oficiais e o planejamento escolar, fato que se deve às características de implantação da cultura escolar, pois na escola não ocorre a transposição simples das diretrizes educacionais. Formada por indivíduos com diferentes saberes, motivações e cultura, o entendimento das normas e processos educacionais não se dá de forma natural (GADOTTI, 1994). O cotidiano necessita de reflexões que construam um entendimento das regras e procedimentos, que consolidem no dia a dia rotinas direcionadas para a qualificação da aprendizagem. O gestor deve buscar intervir no embate entre as necessidades escolares e as diferentes visões individuais que interagem na escola, favorecendo uma atuação direcionada à formação da visão do papel da escola segundo os critérios educacionais normativos (GADOTTI, 1994). Nesse sentido, na escola ocorre um permanente embate entre as necessidades sociais e os interesses individuais que requerem a atenção constante da gestão escolar na orientação dos objetivos educacionais. 31 Saiba mais: Vídeo: O que é gestão de pessoas – Curso de Departamento Pessoal. https://www.youtube.com/watch?v=sPrpYF4UoZM. REFERÊNCIAS BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Brasília. UnB. 1994. BOXALL, P.; PURCELL, J. Strategy and Human Resource Management. New York: Palgrave Macmillan, 2008. BRIEF, A. P.; WEISS, H. M. Organizational Behavior: affect in the workplace. Annual Review of Psychology. 2002, v. 53, p. 279-307. BRITO, Regina Lucia Giffoni Luz de. Reorganização Curricular: gestão, cultura e clima da escola. 31ª Reunião Anual da Anped, 2008. Disponível em: <http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt12-4893-int.pdf>. Acesso em 12 abr. 2020. FISCHER, A. L. Um resgate conceitual e histórico dos modelos de gestão de pessoas. In: FLEURY, M. T. L. et al. As pessoas na organização. São Paulo: Editora Gente, 2002. GADOTTI, Moacir. Gestão Democrática e Qualidade do Ensino. Belo Horizonte: 1º Fórum Nacional Desafio da Qualidade Total no Ensino Público, jul. 1994. GALVÃO, Izabel. Cenas do cotidiano escolar: conflito sim, violência não. Petrópolis, Vozes, 2004. HORA, Dinair. L. Gestão democrática na escola: artes e ofícios da gestão colegiada. 14. ed. Campinas: Papirus, 2007. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2006. LÜCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2009. 32 PEREIRA, R. C. Funcionário motivado: um bem imensurável. R&H. com.br, Artigo, n. 4878, 2007. ROCHA, E. C. et al. A distância entre a formação inicial de um candidato a gestor escolar e o que se exige dele no efetivo exercício da função: Uma proposta de formação para gestores escolares na rede pública estadual no paraná. Monografia. SEED, 2007. SILVA JUNIOR, Celestino A.; O espaço da administração no tempo da gestão. In: MACELINO, Lourdes M.; FERREIRA, Naura Syria C. (orgs.). Política e gestão da educação: dois olhares. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 199-211. SÓ CURSOS. O que é gestão de pessoas – Curso de Departamento Pessoal. 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sPrpYF4UoZM>. Acesso em 20 mar. 2020. 33 3 O SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA ESCOLA Neste bloco você conhecerá algumas das características principais da organização da educação brasileira, como o conceito de administração escolar e a ideia de gestão que se introduziu na forma de gerir a escola, e as tipologias da gestão que podem ser desenvolvidas, com o trabalho da gestão para a organização das atividades escolares. Por fim, veremos as maneiras que a gestão escolar possui de verificar o desenvolvimento das práticas escolares com relação aos objetivos educacionais. 3.1 Conceito de administração escolar A Administração no mundo moderno teve origem na necessidade de organizar os trabalhos para atender as suas necessidades. O processo evolutivo socioeconômico gerou a administração científica, que se diferenciava das demais formas de organizações sociais, em função da natureza que o trabalho passou a adquirir. Assim, [...] a complexidade alcançada pela escola, exigindo-lhe cada vez mais unidade de objetivos e racionalização do seu funcionamento, levou-a a que ela se inspirasse nos estudos de Administração em que o Estado e as empresas privadas encontraram elementos para renovar suas dificuldades decorrentes do processo social. (RIBEIRO apud HORA, 2002, p. 59). A administração é um instrumento de mediação para a educação por contribuir com a organização de modo seletivo, priorizando o que é mais relevante para a formação do cidadão (PARO, 2007). A Administração Escolar sofreu grande influência da Administração Geral. Durante muito tempo se pensou que a escola não era lugar para inserção dos métodos administrativos, porque a escola não é um ambiente de produção capitalista. Na atualidade, administrar a educação – especificamente, as escolas –, significa estabelecer condições favoráveis à realização da humanidade de todos e de cada um. A administração é a parte burocrática a ser realizada na escola. Envolve a questões relativas à estrutura, condições e organização física e legal regem os direitos e deveres de cada cidadão. Deve oferecer suporte para aluno, professor e demais funcionários. 34 Para Teixeira (1961, p. 1), a “função de administrador é função que depende muito da pessoa que a exerce; o administrador depende de quem ele é, do que tenha aprendido e de uma longa experiência. Tudo isto é que faz o administrador”. A administração escolar, na atualidade, incorpora o enfoque político pedagógico, numa busca pela democracia, cidadania e participação popular, colocando lado a lado com o aspecto tecnocrático, que antes era enfatizado. Para se administrar de forma eficiente uma instituição escolar, deve-se considerar a sua composição e, em seguida, desmembrar sua gestão em seis esferas que se complementam, a saber: • Gestão Pedagógica • Gestão Administrativa • Gestão Financeira • Gestão de Recursos Humanos • Gestão da Comunicação • Gestão de tempo e eficiência dos processos 3.1.1 Correntes Importantes da Administração Escolar É preciso saber que a administração escolar está dividida em três grandes conceitos: ➢ gestão administrativa; ➢ gestão pedagógica; e ➢ gestão de recursos humanos. Para que os objetivos possam ser alcançados, as três correntes devem estar interligadas entre si. O conceito de administração mais comum, encontrado em qualquer dicionário, pode ser definido como a disponibilidade de recursos a servirem como insumos, que garantem a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Já o conceito de gestão, pode ser entendido como o uso que se faz dos recursos disponíveis na escola, portanto, a partir dos significados atribuídos pelos envolvidos no processo educacional e a forma como são utilizados (PARO, 2005). 35 3.2 Fundamentação e princípios da educação e da gestão escolar 3.2.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/1996) e a legitimação da Gestão Escolar Todas as unidades possuem completa autonomia para aplicar suas propostas pedagógicas de acordo com os seus métodos e objetivos. Neste sentido, a Gestão é de fundamental importância no processo de organização da escola. A partir da concepção de descentralização da educação, inserida na Constituição de 1988, a autonomia da escola permite que seus métodos e objetivos sejam próprios e a gestão adquire fundamental importância para se alcançar os objetivos educacionais, como se pode ver no artigo da LDB: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normascomuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - Elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - Prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - Informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola (Lei nº 12.013, de 2009). VIII – Notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (Lei nº 10.287, de 2001). (BRASIL, 1988). A legislação procurou prever as atribuições da gestão escolar na escola, dando a ela funções como de definir o planejamento e a execução da proposta pedagógica, que devem ser orientados pelos objetivos educacionais e envolver a comunidade escolar na busca desses objetivos. Cabendo a gestão o acompanhamento das práticas escolares e a verificação do alinhamento com os conceitos de administração da educação. Para monitorar o cumprimento dos objetivos, a gestão deve estar alinhada com os conceitos de administração aplicados à educação, de forma a corrigir o percurso, se necessário. 36 A gestão escolar necessita conceber na sua prática a concepção de escola como unidade e conduzir as atividades escolares dentro de um padrão capaz de garantir que os objetivos escolares possam ser atingidos. Disso se pressupõe que o gestor tenha capacidade de articular todas as esferas envolvidas no processo educacional. Nesse sentido, a gestão escolar adquire fundamental importância no funcionamento da escola, pois deve superar as limitações impostas às práticas educacionais, adotando estratégias e praticando ações que solucionem os problemas do cotidiano escolar (LÜCK, 2009). 3.2.2 Conceitos e Definições da Gestão escolar Os gestores e os órgãos colegiados da escola são os responsáveis pela gestão escolar (diretores, coordenadores e professores), tendo como metas: promover a organização da escola, cuidando da estrutura e do planejamento, mobilizando e articulando as condições materiais e humanas, cuja finalidade é a qualidade do ensino. O desenvolvimento e o avanço da qualidade do ensino da escola, se consolida pela atuação integral dos agentes escolares. Na organização da escola, a gestão escolar tem atribuídas as funções de comandar a comunidade escolar no sentido da organização da escola, monitorando e mediando os processos escolares, orientando e mediando o planejamento e sua execução, de forma ampla para garantir a formação integral do aluno segundo os objetivos educacionais. De acordo com Libâneo (2001), pode-se considerar três os tipos de gestão escolar: i) Técnico-científica ou funcionalista: a que segue os princípios e métodos da administração empresarial, com hierarquia de cargos e funções, com consequente divisão do trabalho escolar, com o poder centralizado no diretor, mais preocupada com o funcionamento da escola do que com os objetivos educacionais; ii) Autogestora: concepção onde não existe divisão do trabalho na gestão da escola, ou seja, quem planeja e quem executa decidem igualmente; iii) Democrática-participativa: gestão escolar que envolve a comunidade escolar através de órgãos colegiados na tomada de decisão. 37 3.2.3 A gestão escolar: três principais pilares Conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a autonomia das escolas na organização de suas respectivas gestões visa atender as especificidades locais e regionais de cada lugar (LÜCK, 1996). A realização da gestão escolar concebe três fundamentos principais para sua concretização: i) administrativo: organiza e monitora a estrutura física da escola, prédio, equipamentos e materiais, bem como a execução dos projetos propostos pela dimensão pedagógica; ii) financeiro: cuida do orçamento para a manutenção da instituição, procurando garantir o funcionamento dos diferentes setores da escola; iii) dos recursos humanos: organização da comunidade escolar, procurando garantir as condições necessárias para a boa realização das atividades escolares fundamentadas no Regimento Escolar. De acordo com a LDBEN, a gestão escolar deve se orientar pelos princípios da autonomia da escola, considerando o contexto local e regional em que está inserida. Nos estudos sobre as concepções da organização escolar, os conceitos sobre a instituição escolar pressupõem diferentes enfoques sobre os elementos que a constituem. Os elementos constitutivos do processo organizacional apresentam dois enfoques para o exercício da gestão escolar eficiente. O enfoque científico-racional, parte do princípio da racionalidade administrativa, tendo como objetivos, atuar de forma neutra, objetiva e fundamentada na técnica, planejando, organizando e controlando o trabalho escolar de forma a alcançar a maior eficiência e os melhores indicadores educacionais. Mantém uma estrutura organizacional que funciona a partir de um quadro de cargos e funções, normas e regras (LIBÂNEO, 2001). 38 O enfoque crítico tem características políticas, pois a organização escolar é considerada a partir de um conjunto de relações interpessoais, onde as intencionalidades e interações sociais se realizam de fora para dentro da escola. Assim, a organização da escola é uma construção coletiva atribuída à comunidade escolar, professores, educandos, pais e demais integrantes da comunidade (LIBÂNEO, 2001). As legislações federais, estaduais e municipais da educação balizam a organização da estrutura e funcionamento dos diferentes tipos de enfoque, que podem ser implantados na organização e funcionamento da escola. 3.3 Planejamento e organização do trabalho escolar Na atualidade a escola é compreendida como uma organização social, constituída por uma unidade social e administrativa. Enquanto unidade social, a escola identifica-se como um empreendimento humano cuja finalidade é alcançar objetivos qualitativos educacionais. A função administrativa, é responsável por organizar, estruturar e integrar recursos, dos departamentos que compõem a instituição escolar. As unidades escolares são constituídas por pessoas que exercem diferentes funções integradas, que buscam alcançar os objetivos educacionais. Para Libâneo (2001, p. 51), são objetivos que a escola deve buscar: i) a promoção do desenvolvimento das capacidades cognitivas, operacionais e sociais do aluno, através de métodos e conteúdos escolares; ii) criar as condições necessárias para a consolidação da subjetividade e da identidade cultural, bem como para o desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e imaginação dos educandos; iii) formar o aluno para a vida em sociedade, nos aspectos cultural e do trabalho, que implica na preparação tecnológica profissional, conforme prescreve a Constituição de 1988; iv) desenvolver a criticidade, a fim de dar as ferramentas necessárias a interpretação da realidade social, para transformá-la, se necessário; 39 v) favorecer o desenvolvimento dos valores éticos, a partir da perspectiva humanista e humanitária, com formação moral, de caráter, de atitude e convicções do princípio humano. A organização escolar tem como objetivo criar as condições para que os objetivos educacionais possam ser alcançados. Para isso, a administração deve ser organizada e sistematizada: • A escola deve estruturar-se social, administrativa e pedagogicamente. • São estruturadaspor organogramas aprovados no seu Regimento Escolar ou por Lei. • Os organogramas representam os diversos setores e procedimentos técnico, administrativo e pedagógico da instituição, como pode ser observado a seguir: Figura 3.1 – Organograma técnico, administrativo e pedagógico. De acordo com Libâneo (2001), a escola é uma organização cíclica e processual, que apresenta os elementos básicos da estrutura organizacional de toda escola, os quais representam os setores e suas respectivas funções. Planejam o processo de ensino aprendizagem: professores, coordenadores pedagógicos. Os professores implementam o planejamento pedagógico do processo de ensino aprendizagem juntos aos alunos. Viabilizam o processo de aprendizagem: Conselho Escolar, gestores e apoio técnico- administrativo 40 • Conselho ou colegiado escolar – consultivo e deliberativo • Direção – diretor e vicediretor, responsáveis pela organização da escola • Setor Pedagógico – coordenação e orientação, coordena, assessora, acompanha, avalia e planeja • Quadro de professores e alunos – professores, que organizam e promovem a aprendizagem, e alunos, que aprendem. • Setor Técnico-administrativo – responsável pelo funcionamento da escola, tanto administrativo, como da estrutura física da escola. • Órgãos auxiliares – associações que surgem das práticas escolares, como a APM (Associação de Pais e Mestres), o grêmio escolar e o caixa escolar. 3.4 Monitoramento de processos educacionais O monitoramento da educação consiste no acompanhamento do processo educacional de forma sistemática e periódica, e pode servir a gestão como meio para a promoção da qualidade da educação (FLETCHER, 1995; SOUZA, 2005). Esse é um dos motivos que levaram a União a adotar o monitoramento como uma das estratégias para a melhoria do ensino no país, bem como induzir sua prática nos âmbitos subnacionais (estados e municípios) e nas unidades de ensino (FREITAS, 2007; 2008). A ideia de monitoramento das atividades educacionais está vinculada ao acompanhamento sistemático e periódico do processo educacional, servindo como forma de acompanhar a busca da qualidade educacional (FLETCHER, 1995). O governo central adota o monitoramento como forma de acompanhamento do desenvolvimento das práticas educacionais que garantam a melhoria da qualidade do ensino, impondo as instâncias estatuais e municipais a realização das práticas legais (FLETCHER, 1995). A função de acompanhamento que o monitoramento educacional exerce, permite que se produza um conjunto de dados sistematizados fundamentais para as ações voltadas para a busca da qualidade da educação. No Brasil, a União estabelece as diretrizes 41 educacionais e impõe instrumentos de acompanhamento das práticas educacionais, que devem ser realizadas nos Estados e Municípios, com a finalidade de garantir o cumprimento dos preceitos constitucionais (FLETCHER, 1995). Fletcher (1995), aponta os principais instrumentos de monitoramento educacional: i) avalição dos agentes (professores e alunos), das ações escolares e das políticas educacionais; ii) levantamento de dados do rendimento escolar quanto a aprovação, reprovação e abandono, dos materiais de apoio, do desenvolvimento dos projetos escolares e da qualidade do ensino; iii) comparação dos indicadores oficiais e da escola. A escola está submetida a um monitoramento externo, mas também pode adotar um monitoramento interno das práticas escolares. A gestão pode escolher juntamente com a comunidade escolar as formas de realizar o monitoramento de suas práticas, indicando instrumentos para esse fim de acordo com suas características (GOMES; AZEVEDO, 2011). Ao definir o monitoramento interno, a escola deve incluir a prática, os instrumentos e momentos da ocorrência na seu PPP. Assim, o monitoramento irá contribuir para a realização de um diagnóstico periódico das práticas educacionais desenvolvidas e subsidiar a gestão quando da necessidade de reorientação dos programas, visando a melhoria da qualidade do ensino (GOMES; AZEVEDO, 2011). As atividades que servem para subsidiar a tomada de decisões visando o aprimoramento da escola devem ser sistemáticas, formalizadas e articuladas para produção, registro, monitoramento e análise crítica das informações levantadas, bem como o alinhamento com as políticas públicas educacionais, de forma que seus programas, produtos, serviços, agentes e alunos possam caminhar no sentido da busca da educação de qualidade. O monitoramento, segundo Jannuzzi (2009), tem como propósito apoiar a gestão escolar com informações sobre o funcionamento da escola e o alinhamento com os programas e normas que orientam e regem as atividades escolares. 42 A produção de um painel de monitoramento facilita o acompanhamento pela gestão das atividades escolares. Ele deve seguir as seguintes etapas (JANUZZI, 2009): 1ª. escolha do que monitorar, os objetivos, as ações e meios de intervenção; 2ª. Escolha e definição dos eixos e unidades de análise; 3ª. Levantamento dos dados do eixo escolhido; 4ª. Coleta dos dados dos indicadores oficiais; 5ª. Construção de um painel comparativo com os dados oficiais e os levantados na escola, preferencialmente na forma de gráficos. 3.4.1 Avaliação O propósito da avaliação dos processos escolares é fornecer à gestão escolar informações mais detalhadas sobre o desenvolvimento, estágio e resultados dos programas implementados na escola. A forma de se colher as informações ocorre através de pesquisa de avaliação, constituída de perguntas sobre a implantação, execução, resultados das atividades propostas, que vão subsidiar a melhoria dos programas em desenvolvimento. O momento de se avaliar depende do que está prescrito no planejamento do programa, ou do contexto de seu desenvolvimento. 3.4.2. Avaliação de resultados educacionais As avaliações aplicadas no sistema de ensino a partir de provas interfere no funcionamento das escolas, segundo alguns críticos, enquanto outros defendem a importância de se avaliar a eficiência do sistema educacional. Nessa linha de ação, a análise do sistema educacional é o primeiro passo para que a avaliação do sistema reflita a realidade das escolas. A avaliação do sistema de ensino atual não é capaz de medir corretamente a qualidade do ensino, devido ao seu caráter universal, não considerando as particularidades regionais e locais, que levam a uma leitura incorreta da qualidade da educação no Brasil. 43 A participação da família na discussão da avaliação do sistema permitiria mais uma forma de controle social da educação, principalmente devido ao interesse direto que ela tem em relação à qualidade do ensino. O alinhamento das metas, segundo o apresentado, é um dos aspectos primordiais, portanto, ampliar a avaliação, inserindo outros conhecimentos, que permitem mostrar as competências diversificadas, que são também objetivos de uma educação de qualidade. O envolvimento de outros conhecimentos no sistema de avaliação, contribui para resultados mais eficazes para a educação. 3.5 Conclusão Neste bloco, foi possível conhecer a relação administração/gestão adotada na direção da unidade escolar. Aprendemos que a gestão escolar possui várias propostas para o seu exercício, que podem ser adotadas em cada unidade, de acordo com o contexto em que a escola está inserida. Foi abordada no bloco a questão da orientação legal para o exercício da gestão escolar, que serve de orientação para o desenvolvimento das práticas escolares. Sendo as orientações e práticas submetidas a processos de monitoramento e avaliação de forma a garantir a qualidade da educação. 44 REFERÊNCIAS FLETCHER, P. R. Propósitos da avaliação educacional: uma análise das alternativas. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, FCC, n. 11, p. 93-112,jan./jun. 1995. GOMES, M. B., AZEVEDO, L. C. T. de. A prática do monitoramento da educação no município e na escola. 2011. Disponível em: <http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/5736_3231.pdf>. Data de acesso: 07 abr. 2020. HORA, D. L. Gestão democrática na escola: artes e ofícios da gestão colegiada. 9ª ed., Campinas: Papirus, 2002. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001. LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo, 2009. ______. Gestão educacional: estratégia, ação global e coletiva no ensino. In: FINGER, A. et al. Educação: caminhos e perspectivas. Curitiba: Champagnat, 1996. PARO, V. H. Administração escolar: introdução crítica. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2005. ______. Gestão Escolar, Democracia e Qualidade do Ensino. São Paulo: Ática. 2007. TEIXEIRA, A. Que é administração escolar? Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 36, n. 84, 1961. pp. 84-89. 45 4 ORGANIZAÇÃO GERAL DO TRABALHO ESCOLAR Neste bloco estudaremos sobre as funções dos responsáveis pela organização das atividades coletivas realizadas na escola. A organização da educação determina a existência de postos de trabalho, estes definem os responsáveis pelo bom andamento do processo educacional. Dessa forma, poderemos conhecer as características da gestão voltadas para a construção e organização do trabalho coletivo, que deve se realizar na escola para se alcançar os objetivos educacionais. 4.1 Trabalho coletivo e sua divisão na organização escolar As características das atividades administrativas e da gestão necessitam se fundir, para que ocorra uma soma de esforços no sentido do favorecimento das atividades coletivas na escola. Os processos de controle e verificação, características da dimensão administrativa, devem contribuir para fortalecer o relacionamento de pessoas e valorizar o fator humano como foco da gestão escolar, de forma a alcançar maior eficiência das atividades coletivas. As funções do gestor na condução das atividades coletivas se fundamentam em dois princípios: i) coordenar recursos e pessoas, a fim de alcançar um objetivo coletivo; ii) gerir e administrar – ações necessárias para que a o trabalho coletivo na escola possa alcançar os objetivos esperados. Cabe ao gestor escolar zelar pela construção de um projeto político-pedagógico, capaz de inserir as pessoas e favorecer o desenvolvimento das atividades coletivas. Isso é possível quando o PPP é coletivamente construído, conhecido e discutido por todos os participantes da comunidade escolar (LIBÂNEO, 1991). O gestor deve ter na organização do trabalho a percepção e a concepção de que as atividades escolares precisam seguir alguns procedimentos essenciais para a realização do trabalho, como: a necessidade de planejar, coordenar, estimular as metas escolares, delegar as tarefas, definir o orçamento, verificar o andamento e medir os resultados. 46 Na direção das atividades, o gestor deve seguir os procedimentos administrativos e da gestão escolar, conjugando os esforços, definindo a unidade de objetivos a serem alcançados, as bases científicas administrativas adequadas às atividades no ambiente escolar, garantir os padrões de eficiência necessários e racionalizar o funcionamento das atividades, de forma que as atividades possam ser realizadas de acordo com o planejado. 4.1.1 A escola tem sua função definida As ações escolares não devem ser improvisadas, o processo pedagógico e a educação escolar têm como propósito a formação para a cidadania. Dessa forma, os objetivos de uma escola vão muito além dos objetivos de uma empresa. Na escola, o enfoque é a preparação, a formação do sujeito para interagir e produzir em uma sociedade definida por suas relações (PARO, 1996). São competências do gestor, na organização e condução das atividades coletivas na escola, a capacidade de promover o bom relacionamento entre os membros da comunidade escolar, visando o objetivo da formação cidadã, um objetivo social de toda a comunidade escolar. No processo de gestão escolar, o gestor deve manter os funcionários motivados, incentivando o aprimoramento técnico e pessoal de acordo com as potencialidades de cada um e orientando cada envolvido nas atividades coletivas, para que possa atuar da melhor forma possível. Na condução e orientação das atividades coletivas, o gestor deve estar atento a algumas práticas de forma que o desenvolvimento dos trabalhos seja o mais adequado para se alcançar os resultados. Assim, o gestor deve aplicar treinamento, estimular o aprimoramento profissional, reconhecer os esforços, manter o engajamento de todos e mediar os possíveis conflitos (SAVIANI, 2008). 47 4.2 Regimento Escolar O regimento escolar é um documento que serve de norteador das atividades da escola. Se fundamenta no trabalho da equipe escolar, portanto, é um trabalho coletivo da comunidade escolar, pois ele materializa o que foi elencado no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. O Regimento Escolar define, estrutura e normatiza tudo o que acontece e deve acontecer na escola (BRASIL, 1988). A construção do Regimento Escolar deve ser pautada por uma natureza coletiva, com a participação de toda a comunidade escolar, devendo conter tudo que ocorre na prática, expresso e regulamentado por ele, seguindo os princípios definidos no Projeto Político Pedagógico (BRASIL, 1996). O Regimento Escolar é um documento dos mais importantes para a escola, pois é referência para o funcionamento da instituição. Nele estão concretizadas as aspirações da comunidade escolar colocadas no PPP, onde são registrados os procedimentos, funções, atribuições e composição de cada um dos diferentes segmentos e setores da escola (CALDIERARO, 2006). Todos os princípios e concepções levantadas junto à comunidade escolar vão ser regulamentados pelo Regimento Escolar, que cumpre o papel de garantir o funcionamento da escola, na medida que torna as regras explícitas e para o conhecimento de todos os participantes das atividades escolares (CALDIERARO, 2006). O regimento traz, em linhas gerais, todas as normas necessárias para orientar as atividades educacionais e administrativas, de forma que cada professor, funcionário de apoio e alunos por saber o que fazer. Ele deve procurar deixar o mais claro possível a filosofia da escolar, as finalidades e objetivos de cada um dos setores que compõem a escola (CALDIERARO, 2006). 4.2.1 Funcionamento e regras Finalidades, conforme o estabelecido no Art. 2° da LDB (BRASIL, 1996): • Objetivos do Estabelecimento (coerentes com a opção teórica) • Objetivos dos níveis e modalidades de ensino oferecidos. 48 • Organização pedagógica – direção, coordenação pedagógica, orientação educacional, conselho de classe e outros órgãos de natureza pedagógica. • Regime de matrícula – seriado, por disciplina, por blocos de disciplinas. • Organização didático-curricular do curso – projetos, outras formas de organização, duração e carga horária, critérios de organização e composição curricular. O Regimento Escolar deve conter os calendários – escolar e de matrículas –, os documentos que podem ser emitidos pela escola, diploma e histórico escolar entre eles. Medidas pedagógicas de caráter corretivo. Ano/período letivo e calendário escolar. Plano Global/Plano de direção/Plano Integrado de Escola. Acompanhamento e avaliação das normas regimentais. Essas regras que, com precisão, orientam atribuições, papéis e horários que cada um deve cumprir, em cada um dos setores da escola: na biblioteca, no laboratório de aprendizagem, nos serviços de orientação e de supervisão educacional, no conselho escolar, na direção, no exercício da docência, na secretaria, nos demais serviços auxiliares e na condição de aluno em sala de aula e nos
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