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MERCURIO - IMPLICAÇÕES PARA A SAÚDE E O MEIO AMBIENTE

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA 
 
MERCÚRIO: IMPLICAÇÕES PARA A SAÚDE E O MEIO 
AMBIENTE 
 
Maria Amélia Albergaria Estrela (1); Daniela Buosi Rohlfs (2) 
 
 (1) Autora. Doutora em Química - Universidade de Brasília – UnB; 
mariaameliaestrela@gmail.com 
 (2) Orientadora. Mestre em Ciências Florestais - Universidade de Brasília – UnB; 
Engenheira Florestal - Universidade de Brasília – UnB. Coordenadora Geral de Vigilância 
em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde; daniela.buosi@gmail.com 
 
RESUMO 
Mercúrio existe no ambiente como resultado do processo natural e de atividades humanas. É o único metal 
que é líquido em condições normais de temperatura e pressão. Ele evapora facilmente e pode permanecer na 
atmosfera por até um ano. Quando liberado no ar, ele é transportado e depositado globalmente. O mercúrio é 
altamente tóxico, especialmente quando metabolizado em metilmercúrio. Pode ser fatal se inalado e 
prejudicial se absorvido através da pele. Este estudo trata de uma revisão bibliográfica sobre as fontes de 
mercúrio no ambiente, os mecanismos de dispersão e acumulação, os principais usos deste metal e, 
principalmente, as medidas preventivas no sentido de atenuar a exposição da população. Os dados da 
literatura revelam o potencial tóxico do mercúrio, tanto para o ambiente quanto para a saúde humana. 
Palavras-chaves: mercúrio, saúde humana, meio ambiente. 
ABSTRACT 
Mercury exists in the environment as the result of natural process and human activities. It is the only metal 
that is liquid at standard conditions for temperature and pressure. It readily vaporize and may stay in the 
atmosphere for up to a year. When released into the air, it is transported and deposited globally. Mercury is 
highly toxic, especially when metabolized into methyl mercury. It may be fatal if inhaled and harmful if 
absorbed through the skin. This study is a bibliographic review about the sources of mercury in the 
environment, mechanisms of dispersion and accumulation, the main uses of this metal, and especially 
preventive measures to mitigate the exposure of the population. Literature data reveal the potential toxic 
effects of Mercury for both the environment and on human health. 
Key-words: Mercury, health, environment. 
mailto:mariaameliaestrela@gmail.com
mailto:daniela.buosi@gmail.com
1. INTRODUÇÃO 
O mercúrio ocorre naturalmente na crosta terrestre (LEE et al., 2009) nas formas 
orgânica e inorgânica, no estado sólido, dissolvido e na fase gasosa. Seu ciclo 
biogeoquímico, conseqüentemente, envolve processos que ocorrem no solo, na água e na 
atmosfera (TINÔCO et al., 2009). O mercúrio metálico volatiliza-se lentamente à 
temperatura ambiente (LEE et al., 2009) e seu vapor é estável na atmosfera, podendo ser 
transportado em escala global, afetando áreas remotas naturais longe de fontes pontuais de 
contaminação (LACERDA; MALM, 2008). Nas últimas décadas os níveis de mercúrio no 
ambiente global aumentaram consideravelmente como resultado da crescente poluição 
devido aos usos industriais, ocupacionais e medicinais. 
Entre os metais lançados no meio ambiente, o mercúrio é considerado o de maior 
potencial tóxico e o único que, comprovadamente, sofre biomagnificação ao longo da 
cadeia trófica, sofrendo ainda, organificação e atingindo sua forma mais tóxica 
(metilmercúrio) no sistema aquático (SIQUEIRA et al., 2005). O consumo de peixe 
contaminado é a principal via de exposição humana ao metilmercúrio (TRASANDE et al., 
2010). A mineração em pequena escala ou artesanal, que utiliza a amálgama ouro-mercúrio 
para extrair ouro do minério, é uma fonte significativa de exposição para os trabalhadores e 
as populações vizinhas. Mineiros queimam o amálgama ouro-mercúrio para vaporizar o 
mercúrio e recuperar o ouro, assim, os mineiros e as populações locais podem ter alta 
exposição aos vapores de mercúrio. Além disso, os resíduos de mercúrio metálico são 
geralmente despejados próximos ou em cursos de água, podendo levar a elevadas 
concentrações de metilmercúrio em peixes desses corpos d'água. O consumo desses peixes 
contaminados por moradores da comunidade pode resultar em ingestão de níveis elevados 
de metilmercúrio (WHO, 2008). 
Os alvos primários de toxicidade de mercúrio e seus compostos são o sistema 
nervoso, rins e sistema cardiovascular. Outros sistemas que podem ser afetados incluem o 
respiratório, gastrointestinal, hematológico, imunológico e reprodutivo. Os sistemas de 
órgãos em desenvolvimento, como o sistema nervoso do feto, são mais sensíveis aos 
efeitos tóxicos do mercúrio (UNEP, 2010). Segundo Martiniano et al. (2008), a principal 
fonte poluidora de mercúrio é o garimpo. Outros estudos, no entanto, relacionam a 
presença de mercúrio em áreas sem influência direta do garimpo aos processos de erosão e 
lixiviação das partículas que contém o metal, favorecidos pelos desmatamentos, que 
promovem a exposição dos solos (BARBIERI; GARDON, 2009). 
Recentemente, iniciou-se uma discussão sobre a importância da contribuição de 
outras fontes emissoras de mercúrio na região amazônica além do garimpo, todas elas 
conseqüentes da ação antrópica (BRABO, 2010). Estudos sobre a presença de mercúrio na 
bacia Amazônica, especialmente nas décadas de 1980 e 1990, evidenciaram a extensa 
contaminação por esse metal nas áreas de garimpo, além de questões relacionadas às vias 
de emissão, aos mecanismos de dispersão, à acumulação nos diversos compartimentos 
ambientais e aos efeitos à saúde da população exposta e não exposta. 
A questão relacionada à contaminação ambiental por mercúrio continua sendo 
assunto discutido em publicações científicas de circulação nacional e internacional. Diante 
disso, o presente trabalho tem o propósito de apresentar um levantamento do que vem 
sendo discutido em relação às fontes de mercúrio no ambiente, os mecanismos de 
dispersão e acumulação, os principais usos desse metal nos últimos 10 anos e, 
principalmente, as medidas de prevenção no sentido de atenuar a exposição da população. 
2. METODOLOGIA 
Para a construção desta revisão bibliográfica foram selecionados livros, artigos 
científicos, relatórios da Organização Mundial da Saúde e legislações, tendo como 
descritor de busca: mercúrio. Utilizou-se a base de dados da Bireme, por meio dos serviços 
da Medline, Scielo e Lilacs. Também foram acessadas as bibliotecas virtuais das 
Universidades Federais de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. A revisão foi 
realizada com artigos publicados a partir do ano 2001 ao ano de 2011. 
3. DISCUSSÃO 
O elemento químico mercúrio ocorre naturalmente no ambiente. Na forma 
elementar (ou metálica) é um líquido prateado, denso (13,534 g/cm
3
) e inodoro a 
temperatura ambiente (AZEVEDO, 2003; BRABBO, 2008). O seu símbolo, Hg, é 
derivado do latim hidrargyrum. Está situado no grupo 5 da tabela periódica, juntamente 
com os elementos cádmio e zinco. É o único elemento, além dos gases nobres, cujo vapor é 
monoatômico em temperatura ambiente (AZEVEDO, 2003). O mercúrio metálico possui 
uma pressão de vapor relativamente baixa (8,5.10
3
 mmHg a 25°C) e volatiliza-se 
lentamente a temperatura ambiente com ponto de ebulição abaixo de 65°C (LEE et al., 
2009). 
Além de seu estado elementar (mercúrio metálico), ele pode existir em duas formas 
oxidadas: íon mercuroso, 
 , e íon mercúrico, . As diferentes formas do mercúrio 
são designadas comumente por “espécies”, o que é conhecido pelo termo especiação 
(AZEVEDO, 2003). Esses íons formam vários compostos químicos orgânicos e 
inorgânicos (WHO, 2008). 
Os compostos inorgânicos de mercúrio podem ser encontrados na forma de 
cloretos, nitratos, fluoretos, iodetos, brometos, óxidos, sulfetos, hidretos, teluretos e 
selenitos (AZEVEDO, 2003). 
O mercúrio também forma uma importante classe de compostos chamados 
organomercuriais. Esses compostos caracterizam-sepela ligação do mercúrio a um ou dois 
átomos de carbono dando origem a moléculas do tipo RHgX e RHgR’ onde os grupos R e 
R’ representam radicais orgânicos (alquil, aril ou alcoxialquil) e X uma variedade de 
ânions dissociáveis (AZEVEDO, 2003). 
Os compostos organomercuriais são mais solúveis em água quando o ânion for um 
sulfato ou nitrato, pois se comportam como um sal. Já na forma de cloreto esses compostos 
apresentam maior lipossolubilidade (AZEVEDO, 2003; BRABBO, 2008). Esses 
compostos, por serem lipossolúveis, são muito bem absorvidos pelas membranas 
biológicas em geral, assim como pelos tratos digestivos de praticamente todas as cadeias 
alimentares. Esses processos facilitam a permanência e o transporte de mercúrio no meio 
aquático, assim como transferem a contaminação para ecossistemas bastante afastados da 
fonte de contaminação (LACERDA; MALM, 2008). 
O mercúrio pode ser encontrado na água, no solo e na atmosfera, no estado sólido, 
dissolvido e, também, na fase gasosa. Conseqüentemente, seu ciclo biogeoquímico envolve 
processos que ocorrem em todos esses meios (TINÔCO et al., 2010). À medida que circula 
entre a atmosfera, terra e água, o mercúrio sofre uma série de transformações químicas e 
físicas complexas, das quais várias não estão completamente esclarecidas (WHO, 2008). 
Ele pode ser liberado no ambiente através de uma série de processos naturais e antrópicos 
(LEE et al., 2009; FAO, 2011). 
A biogeoquímica do mercúrio é complexa: suas concentrações e fluxos não são 
somente altos, mas também muito variáveis e seu ciclo natural tem sido significativamente 
alterado por atividades antrópicas (WINDMÖLLER, 2007). 
É por meio dos ciclos biogeoquímicos que os elementos e os compostos químicos 
são transferidos entre os organismos e, globalmente, entre diferentes locais do planeta. O 
estudo e a compreensão dos ciclos podem ajudar a identificar potenciais impactos 
ambientais causados pela introdução de substâncias potencialmente perigosas nos diversos 
ecossistemas (ANVISA, 2010). 
O mercúrio está presente em diversas matérias-primas como carvão, petróleo, 
madeira e jazidas de minerais diversos, e pode ser liberado para o ar ou outros meios 
quando esses materiais são queimados, processados ou eliminados. Entre as atividades 
humanas, a queima de combustíveis fósseis é o mais importante em termos de volume e 
distribuição. Além disso, grandes quantidades de mercúrio que permanecem em rejeitos de 
mineração, aterros sanitários, sedimentos, e os estoques, constituem uma ameaça de futuras 
emissões (WHO, 2008). Ao longo do tempo geológico, foi distribuído por todo o ambiente 
por processos naturais como atividade vulcânica, incêndios, movimento de rios, lagos e 
córregos, ressurgência oceânica e processos biológicos (WHO, 2003). 
Desde o surgimento dos seres humanos, e mais fortemente a partir da Revolução 
Industrial, fontes antrópicas têm tido uma contribuição significativa para a distribuição do 
mercúrio e seus compostos no meio ambiente (WHO, 2003). 
Dentre as principais fontes antrópicas de mercúrio emitidas para a atmosfera 
encontram-se as indústrias químicas e eletro-eletrônico e a queima de combustíveis fósseis; 
esta última é a principal fonte antrópica de mercúrio para a atmosfera em nível global 
(LACERDA et al., 2007). 
No Brasil destacam-se como fontes de emissão de mercúrio para a atmosfera: 
garimpo de ouro, indústria de cloro-soda, indústria siderúrgica, queimadas, pirometalurgia, 
geração de energia por queima de combustíveis fósseis, entre outras, como as emissões de 
aterros sanitários, setor farmacêutico e de saúde, setor eletro-eletrônico e odontologia 
(LACERDA et al., 2007). 
Muito do mercúrio descartado no ambiente pelas atividades antrópicas está se 
incorporando aos ciclos geoquímicos e às cadeias tróficas, aumentando suas concentrações 
nos ecossistemas e passando a representar perigo aos vegetais, animais e ao homem 
(AZEVEDO, 2003). 
No Brasil, a questão da contaminação do meio ambiente é mais preocupante nas 
áreas de garimpo de ouro, atividade que representa uma das fontes emissoras de mercúrio 
antrópicas mais impactantes (TINÔCO et al., 2010). 
Os primeiros registros de garimpagem de ouro na Amazônia, segundo Sá (2006), 
são do século XVIII, tendo um aumento significativo na década de 70 do século passado 
devido ao valor recorde do preço do ouro no mercado internacional. A partir do final dos 
anos 70, as atividades de mineração contribuíram para elevadas emissões de mercúrio no 
ambiente (SANTOS et al., 2003). 
A amalgamação com mercúrio metálico era o processo utilizado na pré-
concentração e extração do ouro. Como resultado, grandes quantidades de mercúrio foram 
lançadas nos principais rios e na atmosfera do ecossistema amazônico (LACERDA; 
MALM, 2008). 
Sabe-se que o garimpo não é a única fonte de poluição mercurial na Amazônia. 
Altos níveis de mercúrio são observados em peixes em locais a centenas de quilômetros 
distantes de garimpos e por isso, muitos autores têm investigado outras fontes de emissão e 
mobilização do mercúrio, tais como intemperismo, erosão dos solos, evaporação de 
mercúrio das águas, solos e plantas, deposição de mercúrio de mineração de prata e ouro 
no século passado em países vizinhos, atividades industriais, queima de florestas e 
combustíveis fósseis, além de outras fontes difusas (VEIGA, 2002). 
No ambiente, o mercúrio metálico pode se oxidar e se complexar com ácidos 
húmicos nos solos. A poluição do meio aquático pode estar associada à possibilidade de 
complexação do mercúrio inorgânico com compostos orgânicos dissolvidos, possibilitando 
a manutenção de concentração relativamente elevada nos corpos d’água e acesso 
preferencial à biota (TINÔCO et al., 2010). A principal via de bioacumulação de 
metilmercúrio é pela dieta. Sendo bioacumulado rapidamente e eliminado muito 
lentamente (meia vida de 70 a 84 dias), o metilmercúrio é biomagnificado na cadeia 
alimentar (VEIGA, 2002). Por esse motivo, os peixes carnívoros apresentam as maiores 
concentrações de metilmercúrio. O metilmercúrio é facilmente absorvido por peixes e 
outros animais aquáticos, o que leva à deposição dessa substância nos tecidos, 
acumulando-se ao longo do tempo e atingindo, na cadeia biológica, concentrações bem 
maiores do que as encontradas nas águas e nos sedimentos (TINÔCO et al., 2010). 
O consumo de peixe contaminado é a principal via de exposição humana ao 
metilmercúrio (TRASANDE et al., 2010). 
A presença de mercúrio no corpo humano pode ocasionar grandes danos à saúde. 
Devido à sua acumulação progressiva e irreversível, esse elemento fica retido nos tecidos, 
causando lesões graves, principalmente aos rins, fígado, aparelho digestivo e sistema 
nervoso central (TINÔCO et al., 2010). 
Um caso clássico de intoxicação por mercúrio ocorreu por volta de 1953 na cidade 
de Minamata, no sudoeste do Japão, quando várias pessoas morreram em consequência 
direta da intoxicação por mercúrio. Minamata é uma região de pesca, e a maioria da 
população vivia dessa atividade, consumindo peixes regularmente. Com o passar do tempo, 
começaram a sentir sintomas como perda de visão, perda de coordenação motora e 
muscular. Mais tarde, descobriu-se que as deficiências eram causadas pela destruição dos 
tecidos do cérebro, em razão da contaminação por mercúrio. Até então, não se sabia de que 
maneira a contaminação havia ocorrido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Somente em 
1959, cientistas atribuíram os sintomas aos peixes e frutos do mar consumidos 
contaminados por metilmercúrio. A Companhia Chisso, nos anos de 1932 a 1968, produziu 
acetaldeído, utilizando óxido de mercúrio como catalisador. Cerca de 400 toneladas de 
metilmercúrio era formado na reação e descarregado com os efluentes na baía de 
Minamata. Moradores e vizinhança de Minamata que viviam da pesca e consumiam 
extensivamente peixes e frutos do mar sofreram as piores consequênciasdesse desastre 
(VEIGA, 2002). 
Sá et al. (2006) analisaram os estudos existentes sobre contaminação por mercúrio 
na região amazônica e classificaram as populações estudadas. Segundo os autores, as 
populações expostas ao mercúrio são aquelas que vivem em áreas de garimpo onde a 
principal via de intoxicação é a ocupacional pela inalação de vapores de mercúrio. Essa 
população é composta principalmente por garimpeiros queimadores de amálgama e pelos 
residentes de casas situadas próximas dos locais de onde o ouro é queimado. Além disso, 
as casas de compra e venda de ouro, normalmente, estão situadas em cidades, levando o 
risco de contaminação pelo metal até os moradores urbanos (SANTOS et al., 2003). 
As populações sob influência do mercúrio são aquelas que vivem às margens dos 
rios próximos a grandes garimpos onde a principal via de incorporação do mercúrio é a 
alimentação. Populações residentes em áreas de risco vivem às margens de rios afluentes 
de outros rios que banham garimpos e a via de incorporação do mercúrio também é a 
alimentação. E as regiões controle são caracterizadas por populações culturalmente 
parecidas e com mesmo padrão de vida, sem, no entanto, possuírem contato com o 
mercúrio, nem por exposição ocupacional nem alimentar (SÁ et al., 2006). 
Certas medidas podem minimizar os efeitos da contaminação por mercúrio. Passos 
et al apud Sá et al. (2006), demonstraram que a ingestão de frutas pode ajudar a reduzir os 
efeitos da intoxicação por este metal. Outra medida é evitar o consumo de peixes 
carnívoros, privilegiando a alimentação a base de peixes herbívoros. Também priorizar o 
consumo de água de poço e cisternas evitando tomar água dos rios (SÁ et al., 2006). 
Pequenas medidas associadas ao esclarecimento dos mecanismos de ação do metal e o 
monitoramento das populações ribeirinhas são de extrema importância para a redução do 
efeito do mercúrio na saúde da população. 
Informações sobre o consumo de peixes é uma forma importante para controlar a 
exposição ao metilmercúrio, e essa preocupação deve fazer parte de programas de 
promoção da saúde para comunidades de subsistência. Segundo Dórea (2010), enquanto 
moradores urbanos, em sociedades ricas, podem escolher uma dieta alternativa nutritiva, 
comunidades tradicionais de subsistência são apanhadas em questões polêmicas, com 
mudanças de estilo de vida e consequências para a saúde. A proteína do peixe é bem 
digerida e tem um alto valor biológico; contém iodo, selênio e ácidos graxos 
poliinsaturados essenciais para o neurodesenvolvimento infantil. Por isso, o autor enfatiza 
a importância de distinção entre os efeitos adversos atribuídos ao metilmercúrio em peixes 
e os resultados positivos de desenvolvimento atribuídos ao consumo de peixes. 
O autor mostrou que as comunidades de subsistência da Amazônia estão ameaçadas 
mais por problemas de saúde relacionados com a nutrição (anemia) e doenças infecciosas 
(diarréia, malária, dengue, febre amarela) do que por déficits neuro-comportamentais 
atribuídos ao consumo de peixes contaminados por metilmercúrio. Fillion et al. apud 
Dórea (2010) mostraram que, apesar da exposição elevada ao mercúrio, ribeirinhos da 
Amazônia (13 aldeias), relataram a percepção de qualidade de vida e saúde, associadas 
principalmente com a ausência de doenças crônicas; e Muniz et al. relataram que a anemia 
e parasitas intestinais ainda são um problema de saúde pública para crianças da Amazônia 
(DÓREA, 2010). 
Segundo Lacerda e Malm (2008), após 1998, o garimpo de ouro decresceu ou 
mesmo desapareceu na maior parte das áreas garimpeiras; entretanto, concentrações 
elevadas de mercúrio continuam sendo medidas em peixes e na população humana 
consumidora, sugerindo uma extensa remobilização do mercúrio depositado nos 
ecossistemas da região. Segundo os autores, alguns trabalhos têm relatado a remobilização 
de mercúrio de solos submetidos a mudanças de uso, particularmente pela retirada da 
floresta por queimada e sua conversão para pastos e/ou atividades agrícolas. Portanto, a 
expansão do desmatamento para aumentar a área agropecuária poderia ser responsável pela 
manutenção das elevadas concentrações de mercúrio verificadas. 
A erosão e lixiviação do mercúrio presente nos solos e a sua reemissão para a 
atmosfera mantêm elevadas concentrações do metal no ecossistema amazônico, mesmo 
após a diminuição do garimpo de ouro. Outro fator que também favorece a mobilização do 
mercúrio, e possivelmente a produção de metilmercúrio na região, é a formação de grandes 
lagos para geração de energia hidroelétrica, resultando na inundação de extensas áreas 
florestadas (LACERDA; MALM, 2008). 
Segundo Azevedo (2003), o mercúrio apresenta duas características que o torna 
único como agente tóxico e contaminante para o ambiente. Sua volatilidade, por apresentar 
uma espécie química estável na atmosfera, o vapor de mercúrio pode ser transformado em 
escala global, afetando áreas remotas longe de fontes pontuais de contaminação; e a 
capacidade de sofrer transformações processadas por bactérias para compostos 
alquilmercuriais de cadeia curta, que são lipossolúveis e muito bem absorvidos pelas 
membranas biológicas de praticamente todas as cadeias alimentares (AZEVEDO, 2003; 
LACERDA; MALM, 2008). 
A complexação com compostos orgânicos dissolvidos possibilita a manutenção de 
concentração relativamente elevadas na coluna d’água e acesso preferencial à biota. 
Segundo Lacerda e Malm (2008), alguns ambientes e condições ambientais contribuem 
para aumentar os mecanismos de metilação e complexação orgânica do mercúrio levando a 
processos diferenciados de contaminação. A existência de uma elevada quantidade de 
plantas macrófitas nos corpos de água, o desmatamento para a agricultura, a criação de 
reservatórios de água para as hidroelétricas, a característica levemente ácida das águas e o 
transbordo dos rios em épocas de chuva contribuem para que os ambientes aquáticos 
tropicais sejam considerados um lugar propício para a existência de elevadas taxas de 
metilação, produzindo um aumento da disponibilidade do mercúrio para a biota aquática. 
Isso facilita a permanência e o transporte de mercúrio no meio aquático, transferindo a 
contaminação para ecossistemas afastados da fonte de contaminação (VERA et al., 2007). 
O mercúrio é usado principalmente como catalisador na produção eletrolítica do 
cloro e da soda cáustica na indústria cloro-álcali. A soda assim produzida pode ser 
contaminada e, com isso, contaminar certos alimentos preparados industrialmente como é 
o caso do ácido cítrico, benzoato de sódio e o xarope de alto teor de frutose (High Fructose 
Corn Syrup) utilizados como conservantes em diversos produtos alimentares (DUFAULT 
et al., 2009). 
O mercúrio também pode ser emitido a partir da produção de cimento originado do 
carvão e outros combustíveis utilizados e das matérias-primas como calcário e outros 
aditivos (AZEVEDO, 2003). 
A produção de metais não ferrosos é um processo industrial altamente complexo 
com configurações diferentes dependendo de quais metais são extraídos, das características 
do minério e que processo básico é usado. O teor de mercúrio no minério pode variar 
muito e na primeira etapa do processamento pirometalúrgico desses minérios algum 
mercúrio pode ser liberado com outros gases (AZEVEDO, 2003). 
O mercúrio é usado na produção de instrumentos ou aparelhos científicos precisos 
de pressão, medição, calibração, usados em laboratórios analíticos de pesquisa, 
termômetros, esfignomanômetros e barômetros, devido às propriedades desse metal de se 
expandir e se contrair em função da variação da temperatura e de sofrer compressão e 
transmiti-la a outro ponto (AZEVEDO, 2003). 
Na indústria elétrica, é usado em vários tipos de lâmpadas como as fluorescentes e 
as de descarga de alta densidade, tubos de raios-X, interruptores de corrente, instrumentos 
de controle industrial,termostatos automáticos, medidores, retificadores, baterias secas e 
domésticas, válvulas de rádio (GRIGOLETTO et al., 2008; AZEVEDO, 2003). 
Na preparação de amálgamas dentários é usado há mais de 150 anos. O mercúrio, 
segundo Campos e Steagall apud Grigoletto et al. (2008) tem influência nas propriedades 
do amálgama dentário e, por esse motivo, é um dos elementos essenciais para sua 
preparação. O amálgama contém, em média, 53% de mercúrio, e é preparado através da 
reação do mercúrio com uma liga de prata, cobre e estanho (na forma de pó). 
Destaca-se aqui o perigo que representa para a saúde dos profissionais e seus 
auxiliares, já que a contaminação pode ocorrer pelo contato direto com a pele ou pela 
inalação de seus vapores. Há também a exposição de pacientes por mercúrio: o metal 
derivado do amálgama dentário se espalha pelo corpo. As restaurações de amálgama são 
fontes potenciais de contaminação pelo mercúrio através de seus vapores liberados no ar e 
na cavidade oral e ainda por meio de absorção pela mucosa bucal (GRIGOLETTO et al., 
2008). Ele é liberado como vapor, íons ou partículas finas e podem ser inalados ou 
ingeridos. Além disso, pode causar a liberação de mercúrio para a atmosfera pela cremação 
de cadáveres (WHO, 2007). Segundo Grigoletto et al., a contaminação ambiental por 
mercúrio proveniente dos serviços odontológicos é de 3 a 4 % comparados à industrial e à 
de combustíveis fósseis. 
O amálgama ainda é um material muito utilizado. Não há outro material com as 
mesmas propriedades como fácil manipulação, alta durabilidade e baixo custo, que seja 
compatível (CLARKSON et al., 2003). No Brasil, cerca de 16 toneladas de mercúrio são 
empregados, anualmente, em serviços odontológicos. Deve-se destacar a importância da 
conscientização da população e principalmente dos profissionais da saúde bucal sobre os 
danos à saúde humana e ao meio ambiente. É importante também promover trabalhos 
educativos sobre as formas adequadas de gerenciamento de resíduos. 
O Timerosal, cujo componente principal é o mercúrio, passou a ser adicionado às 
vacinas desde a década de 30 para proteger o produto contra contaminação bacteriana. É 
metabolizado pelo organismo para etilmercúrio e tiosalicilato. Embora a toxicidade do 
etilmercúrio ainda seja desconhecida, sua composição é muito parecida com a do 
metilmercúrio (AZEVEDO, 2003). 
O cloreto mercuroso, Hg2Cl2 (calomelano), já foi usado como fungicida na 
agricultura e, na medicina, como anti-sifilítico, diurético e purgativo. Em alguns países 
ainda é empregado em certos cremes como anti-séptico. O cloreto mercúrico é amplamente 
empregado como catalisador na indústria química. O mesmo já foi empregado como anti-
séptico externo. O nitrato de mercúrio, Hg(NO3)2, é empregado, há mais de 400 anos, na 
fabricação de chapéus de feltro. Outros compostos inorgânicos de mercúrio são utilizados 
como corantes e na produção de tintas (AZEVEDO, 2003). 
Os derivados orgânicos, em pequena escala, foram, e ainda são utilizados na prática 
médica e agrícola. Assim, foram usados como diuréticos, anti-sépticos, germicidas, 
contraceptivos, praguicidas, herbicidas e antitraças. Também como conservantes em 
pinturas, ceras e pastas, antimofos em tintas, fungicidas em tecidos, papel, borracha e 
madeira (AZEVEDO, 2003). 
O armazenamento e o descarte inadequados dos resíduos que contenham mercúrio 
contribuem para a contaminação dos compartimentos ambientais possibilitando tanto uma 
exposição ocupacional quanto ambiental pelo mercúrio. 
Nos serviços de saúde, o mercúrio pode ser liberado no ambiente pela quebra ou 
dano a termômetros, esfigmomanômetros, dispositivos gastrintestinais, termostatos, 
interruptores e outros produtos médicos que o contém. O mercúrio pode estar presente 
também em vacinas, kits de diagnóstico, fixadores, conservantes e produtos químicos de 
laboratório. Além desses, um setor particular na área da saúde, o odontológico, se utiliza 
largamente de amálgamas de mercúrio para reparações dentárias. Todos esses usos do 
mercúrio no setor saúde citados, quando são descartados com resíduos, contribuem para a 
contaminação ambiental (ANVISA, 2010). O potencial prejuízo ambiental, toxicidade 
humana e custos para o descarte de mercúrio têm levado a uma crescente demanda por 
instrumentos não contendo mercúrio. 
Uma preocupação pela exposição de crianças ao mercúrio estimulou a Agência para 
Substâncias Tóxicas e Registros de Doenças (ATSDR) e os Centros para Controle e 
Prevenção de Doenças (CDC) a rever as fontes de exposição a este metal por crianças, 
descrever a localização e proporção de crianças afetadas e fazer recomendações de como 
prevenir essas exposições (LEE et al., 2009). Nesta análise excluíram-se a exposição a 
mercúrio em instalações de queima de carvão, amálgamas dentários, consumo de peixes, 
incineradores de lixo hospitalar ou vacinas contendo timerosal. As principais localidades 
de exposição consideradas pelos pesquisadores foram em casa, na escola e outras como 
indústrias não adequadas ou instalações médicas. A exposição a pequenos derramamentos 
de termômetros quebrados foram o cenário mais comum, todavia, segundo o autor, relatos 
de tais exposições estão diminuindo. 
A prevenção primária deve incluir educação em saúde e iniciativas de políticas: 
proporcionar locais devidamente apropriados de descarte de mercúrio pode reduzir 
potencialmente a probabilidade de que as crianças virão a estar em contato com o mercúrio 
armazenado. Desenvolver materiais educativos apropriados aos pais, às crianças e aos 
profissionais de saúde, sobre os riscos de exposição ao mercúrio e as formas de evitar a 
exposição são outras formas de prevenção. 
Aos pais, esclarecê-los quanto aos riscos associados com a utilização indevida, os 
danos e descarte adequado de dispositivos que contenham mercúrio e instruí-los em 
relação aos procedimentos de limpeza em casos de pequenos derramamentos de mercúrio. 
Para as crianças, as mensagens devem incluir as fontes de exposição ao mercúrio em casa e 
na escola, como identificá-lo, os riscos que pode trazer à saúde ao brincar com este metal e 
o que fazer se o mercúrio for encontrado. Aos profissionais de saúde, deve-se deixar clara 
a importância de eliminar a exposição para todos em risco, evidenciando os sinais, 
sintomas e efeitos sobre a exposição ao metal e os recursos disponíveis para obter 
informações. 
Os resíduos de mercúrio devem estar contemplados no Plano de Gerenciamento de 
Resíduos de Serviços de Saúde que deve obedecer a critérios técnicos que conduzam à 
minimização do risco à saúde pública e à promoção da qualidade ambiental (ANVISA, 
2010). 
Nos serviços de saúde, o mercúrio pode ser encontrado em termômetros clínicos e 
de estufas, em esfigmomanômetros, em amálgamas odontológicos e nas lâmpadas 
fluorescentes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 
De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04, os resíduos contendo mercúrio devem 
ser acondicionados em recipientes sob selo d’água e encaminhados para recuperação. 
Como recuperação geral, os materiais contaminados devem ser mantidos em recipientes 
bem fechados, armazenados em local fresco, seco e em área ventilada (MINISTÉRIO DA 
SAÚDE, 2006). 
A coleta do resíduo de mercúrio resultante do preparo de amálgama odontológico 
deve ser em recipiente rígido e inquebrável dotado de boca larga e de material inerte; deve 
ser deixada uma lâmina de água sobre o resíduo acondicionado no coletor. Os vidros dos 
termômetros clínicos quebrados devem ser tratados como resíduos perfurocortantes do 
grupo E; e para o mercúrio devem-se observar as recomendações feitas para os resíduos de 
amálgamas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 
Em relação às lâmpadas fluorescentes, é recomendável que o armazenamento das 
mesmas a serem descartadas seja feito em local seco, preferencialmente nas caixas da 
embalagem original que protegem as lâmpadas contra eventuais choquesque possam 
provocar sua ruptura. As lâmpadas que se quebrarem acidentalmente deverão ser separadas 
das demais e acondicionadas em recipiente com tampa que possibilite vedação adequada 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 
O descarte inadequado de mercúrio e remobilização de fontes naturais coloca em 
risco e comprometem os recursos naturais e a qualidade de vida das populações. Os 
Resíduos de Serviços de Saúde se inserem dentro desta problemática e vêm assumindo 
grande importância nos últimos anos. 
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Conselho 
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) têm assumido papel de orientar, definir regras e 
regular a conduta dos diferentes agentes, no que se refere à geração e ao manejo dos 
resíduos de serviços de saúde, com o propósito de preservar a saúde e o meio ambiente. A 
resolução CONAMA nº 358/93 definiu a obrigatoriedade dos serviços de saúde em 
elaborar o Plano de Gerenciamento de seus resíduos visando à redução dos riscos 
sanitários e ambientais, à melhoria da qualidade de vida e da saúde das populações e ao 
desenvolvimento sustentável (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Essa resolução dispõe 
sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e a Resolução da 
Diretoria Colegiada, RDC nº 306, de 07 de dezembro de 2004, dispõe sobre o regulamento 
técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. 
O mercúrio é o único metal que reconhecidamente causou óbitos em humanos em 
razão de contaminação pela via ambiental, particularmente via ingestão de organismos 
aquáticos contaminados (LACERDA; MALM, 2008). 
A propriedade química mais importante que explica grande parte dos danos 
biológicos causados pelo mercúrio é a elevada afinidade que esse metal possui pelo grupo 
sulfidrila das proteínas, causando inativação enzimática e desestruturação protéica 
(GIOVANELLA; BENTO, 2011). Segundo De Souza e Barbosa (2000), os efeitos tóxicos 
causados pelo mercúrio metálico são produzidos após sua oxidação no organismo e devido 
a sua grande afinidade pelos grupos sulfidrilas das proteínas e, em menor grau, por grupos 
fosforilas, carboxílicos, amidas e aminas. Nas células, o mercúrio é um potente 
desnaturador protéico, interferindo nas funções metabólicas celulares. Ele causa também 
sérios danos à membrana celular ao interferir em suas funções e no transporte através da 
membrana, especialmente nos neurotransmissores cerebrais. Por outro lado, estudos 
citogenéticos já realizados em pessoas contaminadas por mercúrio, em níveis considerados 
toleráveis pela Organização Mundial de Saúde (OMS), revelaram aumento significativo de 
quebras cromatídicas, com a possível interferência nos mecanismos de reparo do DNA. 
Este efeito pode resultar em quebras cromossômicas e em morte celular, o que justificaria 
o quadro progressivo de deterioração mental nos indivíduos mais altamente contaminados. 
As principais formas de entrada de mercúrio nos seres humanos são por inalação 
dos vapores do metal e ingestão de peixes. O vapor inalado é absorvido pelos pulmões e 
transportado pelo sangue acumulando-se principalmente nos rins, podendo atravessar a 
barreira hemato-encefálica causando danos ao sistema nervoso central. Os sintomas são 
semelhantes aos da malária: febre, tosse, fadiga, tremores, distúrbios digestivos, e 
distúrbios nervosos (BASTOS; LACERDA, 2004). 
O metilmercúrio, lipossolúvel, atravessa muito facilmente as membranas celulares 
danificando principalmente o sistema nervoso central (BASTOS; LACERDA, 2004). 
O diagnóstico da intoxicação mercurial é dificultado pela semelhança dos sintomas 
desta intoxicação com outros sinais e sintomas, atribuídos a outras causas, principalmente a 
malária, endêmica nas regiões de garimpo. Outra dificuldade neste diagnóstico é a falta de 
condições para que os profissionais de saúde local possam estabelecer um diagnóstico 
diferencial para a intoxicação mercurial (exames clínicos, bioquímicos e toxicológicos), 
em relação a outras patologias da região (HACON; AZEVEDO, 2006). 
4. CONCLUSÃO 
Pelo exposto neste trabalho foi constatado que a questão relacionada à 
contaminação ambiental por mercúrio continua sendo assunto discutido em publicações 
científicas. Pelos estudos levantados, o mercúrio continua sendo um grave componente de 
degradação ambiental especialmente na região Amazônica, cenário de intensa atividade 
garimpeira desde a década de 70 do século passado. No entanto, as altas concentrações de 
mercúrio encontradas no ecossistema amazônico são atribuídas não só à mineração de 
ouro, mas também à presença de solos com concentrações relativamente elevadas de 
mercúrio de origem natural, ao transporte atmosférico e à deposição de mercúrio de origem 
antrópica. 
As principais fontes de emissão de mercúrio para a atmosfera são o garimpo de 
ouro, indústria de cloro-soda, indústria siderúrgica e pirometalurgia, queimadas, queima de 
combustíveis fósseis, emissões de aterros sanitários, setor farmacêutico e de saúde, setor 
eletro-eletrônico e odontologia. Liberado para atmosfera, o mercúrio causa intoxicação da 
população por via alimentar ou respiratória. 
A presença de mercúrio no corpo humano pode ocasionar importantes danos à 
saúde. Devido à sua acumulação progressiva e irreversível, esse elemento fica retido nos 
tecidos, causando lesões graves, principalmente aos rins, fígado, aparelho digestivo e 
sistema nervoso central. 
O descarte inadequado dos resíduos de mercúrio e a remobilização das fontes 
naturais colocam em risco e comprometem os recursos naturais e a qualidade de vida das 
populações. São necessários estudos para avaliar os riscos ao ambiente e à saúde humana, 
esclarecer dúvidas dos segmentos envolvidos e orientar as possíveis populações expostas. 
Em produtos e processos, o mercúrio deve ser substituído por outras substâncias ou ter sua 
utilização reduzida e monitorada. 
O mercúrio é um problema ambiental e um risco à saúde humana. Diante disso, 
vários países estão pondo em prática uma série de medidas de gerenciamento e, até mesmo, 
o banimento do mercúrio. A conscientização da população, por meio de campanhas 
educativas, é um ponto fundamental para a realização de políticas sociais, ambientais e de 
saúde. 
Os Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e outros órgãos do governo federal 
compõem um Grupo de Trabalho para Assuntos de Saúde e Meio-Ambiente no âmbito do 
Ministério das Relações Exteriores, que está encarregado de negociar junto ao Conselho 
Diretivo do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA) um novo 
protocolo vinculante para o uso de mercúrio e seus subprodutos. Esse grupo participa dessa 
discussão apresentando sugestões, estabelecendo metas, propondo alternativas e, 
sobretudo, internalizando as principais discussões em pauta, de forma a oferecer subsídios 
para a decisão brasileira com embasamento técnico e político. A idéia, no âmbito do 
Comitê Internacional de Negociação (INC) é realizar uma ampla consulta aos países e à 
sociedade civil de forma a preparar para 2013 um documento que possibilite o 
encerramento da comercialização internacional do mercúrio e o controle de estoques por 
países que continuem a sua utilização. 
 
 
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