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Educação em Direitos Humanos UNIDADE 2 1 Para início de conversa Prezado(a) aluno(a), como vai? É com satisfação que continuamos os estudos na disciplina Educação em Direitos Humanos, neste mo- mento em sua segunda unidade. Inicialmente, gostaria de saudá-lo (a) e lhe dar boas-vindas! Como você já deve estar acostumado(a), este será nosso guia de estudos. Ele servirá como auxílio em suas aprendizagens. É um material montado de forma dinâmica e interativa para tornar mais prático o seu estudo e facilitar a sua absorção de conteúdos, apresentando de forma clara e objetiva os conceitos e assuntos trabalhados durante a disciplina. Palavras do Professor Ao longo deste material você irá se deparar com vários tópicos que têm função de separar e organizar o conteúdo trabalhado de forma mais prática e interativa. Gostaria também de lembrá-lo(a) que este não é o único meio que pode ser usado como material para estudos; juntamente a ele você deve acompanhar à disciplina em seu livro-texto, consultar a vasta bibliografia disponibilizada em nossa biblioteca on-line, bem como utilizar de consultas e buscas em outras plataformas que lhe for convenientes e seguras. Como você verá, caro(a) aluno(a), este guia de estudos é montado da forma mais lúdica, criativa e intera- tiva possível para que seu estudo não se torne algo cansativo e chato, e sim algo prazeroso e agradável de se fazer. Nosso objetivo é não apenas fazer com que você aprenda, mas que esse aprendizado seja de fato absorvido e levado com você ao longo de toda a sua vida. Antes de iniciarmos a unidade, quero lembrá-lo(a) que o conhecimento é construído de diversas formas e a leitura deste guia é apenas uma delas. Para que você possa absorver o conteúdo da melhor maneira possível, é essencial ler também, como já lembrado, o livro-texto, os materiais de apoio, como os textos sugeridos ao longo deste guia, além da participação nos fóruns e debates no Ambiente Virtual de Apren- dizagem. Estas últimas sendo de fundamental importância, pois são formas de você interagir com colegas de turma que estão em um mesmo estágio de aprendizagem, podendo assim trocar ideias e opiniões sobre os estudos. Para qualquer dúvida, o seu tutor ou tutora está à sua disposição para melhor compre- ensão do assunto trabalhado. Seja bem-vindo(a) e aproveite este material, porque ele é feito especialmente para você! orientações da disciPlina Antes de iniciar os assuntos da unidade II, faremos um pequeno refresco de memória, e revisaremos os principais temas abordados na/nas unidades anteriores. 2 Você perceberá que esta será uma prática em nossos estudos, pois além de ser um ótimo artifício para não perdermos as conexões existentes entre os assuntos, nos ajudará sempre a manter atenção em cada novo conceito, em cada nova aprendizagem que aparecem e algumas vezes são esquecidas, deixadas longe. Enfim, é um artifício que nos permite trafegar entre os assuntos, as unidades. Em nosso caso do momento, por exemplo, as unidades são a separação didática pensada para facilitar e otimizar sua aprendizagem, e um espaço destinado ao diálogo entre elas é uma ferramenta bastante útil para que ocorra um aprendi- zado contextualizado, pleno. Para revisar Vamos rever com o que nos divertimos em nossos estudos na primeira unidade. De certo, você deve lembrar que Educação em Direitos Humanos é uma expressão, uma disciplina, que agrega dois grandes conceitos que, separados, já são bastante diversos e dinâmicos. Portanto, inicialmente tomamos como caminho o estudo de cada conceito – educação e direitos – separadamente. Aprendemos que a educação está presente em vários, se não em todos os ambientes, em todas as esferas da vida, pois, como vimos nas palavras do professor Carlos Rodrigues Brandão “...da família à comuni- dade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas do mistério do aprender...” (Brandão 1981, p.10). Mas, no entanto, nos dedicamos à análise nos ambientes formais de educação: as escolas. Descobrimos que conceitualmente podemos dividir a educação em 03 (três) princi- pais linhas de pensamento metodológico: a tradicional, a cognitivista e a sociocultural. Na linha educacional tradicionalista, o(a) educando(a) é visto(a) como inacabado(a), passivo(a) e inexpe- riente, e o professor é tido como a autoridade não apenas intelectual, mais também moral. As escolas que utilizam esta abordagem têm como características ser um ambiente austero. Já a linha cognitivista, que tem Jean Piaget como principal representante, está ligada à análise e organização das capacidades mentais, baseadas na aptidão de interação do indivíduo (estudante) com o meio; a prática do interacionismo é considerada indispensável para a aprendizagem. Por fim, vimos à abordagem sociocultural, cujos elementos sociais, políticos, econômicos e culturais são levados em consideração e os currículos são alicerçados em experiências reais do cotidiano dos(as) educandos(as), para que alcancem a chamada autonomia moral. O maior ícone deste modelo pedagógico é o recifense Paulo Freire. Vistos os diferentes tipos de abordagens educacionais, passamos a estudar o conceito de direitos, sobre- tudo os seus fundamentos. Descobrimos que, assim como a educação, os direitos também têm perspecti- vas metodológicas variadas, das quais estudamos: a naturalista e a culturalista. 3 Prezado(a) estudante, a concepção naturalista encara o direito como algo inerente – natural - ao homem, a partir do primeiro momento de sua existência. O ser humano é visto como igual, o indivíduo passa a existir enquanto proprietário de direitos em igualdade aos demais, porém particularidades como raça/ cor, opção sexual ou costumes socioculturais não são levadas em consideração, o que, aprendemos isto, leva alguns autores a considerá-la limitada. O próprio Norberto Bobbio nos ensinou que: “os direitos do homem, por mais naturais que sejam, são direitos históricos”. Ou seja, é a concepção que não considera os habtus históricos e sociais que os indivíduos estão inseridos. Já a concepção culturalista, complementar e antagonicamente à naturalista, propõem que estes acon- tecimentos sociais, culturais, econômicos e políticos (os habitus) façam parte da estruturação dos direi- tos; pois eles devem emergir dos acontecimentos históricos. Aprendemos com isso, você certamente se lembra, que os fundamentos dos direitos vistos pela ótica culturalista nunca parecem completados, pelo contrário, ao considerar as movimentações socioculturais torna a procura por tais fundamentos inacaba- da, sempre a se concluir ou rever. Depois de fazer esta importante e necessária divisão didática e metodológica dos conceitos de educa- ção e direito, bem como explorar algumas de suas principais concepções e correntes de pensamento, propomos na unidade anterior, a junção desses dois termos e suas potencialidades enquanto elementos fomentadores de uma cultura cidadã, uma cultura de paz. Usamos como referencial os ambientes formais de ensino/aprendizagem, ou seja, as escolas para, assim poder identificar melhor os atores envolvidos diretamente no processo educacional nestes ambientes: estudantes e professores. Porém, aprendemos também, e este é um aprendizado que devemos levar por toda vida, que a educação, sobretudo a educa- ção em DH, pode e deve ser executada em todas as esferas da vida. Feita mais este recorte didático, passamos a estudar alguns dos principais documentos que regulam ou orientam às práticas em direitos humanos, educação e na educação em Direitos Humanos - DH. Fomos apresentados à Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH de 1948, que é o documento que preconiza diversos direitos a partir de uma instituição, mesmo que recém-criada, representativa. Aprendemos que a Carta da ONU (1945), da qual posteriormente a DUDH fará parte, é o conjunto de todos esses vários documentos de garantia dos DH. Além da Declaração Universal fomos apresentados(as) a alguns outrospactos, tratados e declarações, como por exemplo, o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); a Convenção dos Direitos da Criança de 1989, cuja influência é enorme em nosso Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a Declaração e Programa de Viena (1993). visite as Páginas Todos estes documentos podem ser encontrados on-line clique aqui para acessar. http://www.dudh.org.br/declaracao/ 4 Depois desta apresentação aos principais pactos e declarações internacionais sobre os DH, aprendemos um pouco acerca das principais diretrizes legais e orientações que o estado brasileiro sugere para a pro- moção e garantia dos direitos humanos, bem com em relação à educação em direitos humanos. Desta forma, aprendemos que o órgão máximo de coordenação/gestão da educação no Brasil é o Minis- tério da Educação – MEC, e que a partir dele outras instituições, como fundos e conselhos, bem como legislações, são quem promovem a inclusão das temáticas pertinentes aos direitos humanos, tornando possível assim uma educação efetiva nesses termos. Clique aqui para acessar. Fomos apresentados inicialmente aos PCN’s – Parâmetros Curriculares Nacionais, que são os documen- tos que indicam os conteúdos e temáticas utilizados em cada ciclo. Eles servem para orientar escolas e docentes na concepção dos seus planos pedagógicos e de aulas, respectivamente. Posteriormente, fomos apresentados a algumas leis, aprendemos, por exemplo, que a lei 9.394, Lei de Diretrizes e Bases – LDB da educação nacional, é quem regulamenta toda a atividade educacional do Brasil e que a partir da lei 13005/2014, é regulamentado o PNE – Plano Nacional de Educação, que é fruto de prolongados diálogos na esfera política, sobretudo acerca da divergência existente em torno da abordagem de alguns conteú- dos, muitos deles ligados aos DH. Aprendemos com isso que esta é uma pauta bastante atual, pois a partir da regulamentação desta le- gislação, os estados da federação ficam obrigados a também apresentarem os seus planos estaduais de educação, o que ainda está em tramitação em alguns territórios políticos brasileiros e em outros, mesmo já tendo sido executado (regulamentado), apresentam muitas falhas e negligencias a cumprimentos de alguns dos direitos preconizados pelos mais importantes documentos internacionais de garantia destes, os quais alguns já estudamos aqui. Assim, caro(a) aluno(a), terminamos nesse momento o nosso “refresco de memória”, que como falei mais acima, será corriqueiro em nossas jornadas de estudo. Espero que você tenha relembrado algumas ques- tões e, se tiver sido o caso, suprimido alguma dúvida. Portanto, é como terminamos a nossa primeira unidade que iniciaremos a segunda. Continuaremos es- tudando a educação em direitos humanos no contexto brasileiro, com ênfase na configuração contempo- rânea, sobretudo acerca dos debates mais efetivos, que tratam de temas de caráter complexo, como a educação sexual, a educação étnica ou a religiosa, por exemplo. Posteriormente, abordaremos com um pouco mais de profundidade as perspectivas legais e os desafios enfrentados para a realização da edu- cação em direitos humanos. Por fim, passaremos por mais alguns temas já explorados anteriormente, e exploraremos com maior afin- co as diretrizes nacionais para a educação em DH. Destacaremos as dimensões e princípios existentes nas legislações e planos orientadores da educação nacional, tais quais as DCNEB e os Planos Estaduais de Educação. edUcaçÃo eM direitos HUManos: a configUraçÃo conteMPorÂnea Olá, caro(a) aluno(a), nesta seção inicial da nossa segunda unidade da disciplina Educação em Direitos Humanos, iremos dialogar e aprender um pouco sobre os rumos, as diretrizes que os DH, especialmente a educação nestes, tem seguido na atualidade, contemporaneidade. http://www.mec.gov.br/ 5 Destacamos a pouco em nossa introdução um bom espaço para relembrar estudos da(s) unidade(s) pretérita(s), tendo em vista que esta prática ajuda na fixação do aprendizado, mas que também, como em nosso caso no momento, ajuda a integrar e complementar informações e/aos conteúdos. Isto porque, você já deve ter percebido, os assuntos os quais estamos estudando são conexos e estão imbricados entre si. Estou destacando isto antes de iniciar de fato os assuntos para lhe lembrar que toda a disciplina será fluida, ou seja, os temas abordados serão praticamente os mesmos, porém com focos de atenção diferenciados. Outro alerta a ser feito, querido(a) estudante, é em relação ao termo contemporaneidade quando utili- zado para definir linhas de pensamento ou aspectos técnicos e legais em relação aos direitos humanos. Lembre-se que chamamos atenção para o período histórico em que os primeiros grandes acordos – cartas, declarações, pactos – para promoção e garantia dos DH; aprendemos que os desdobramentos desas- trosos das duas grandes guerras mundiais caracterizam-se como momento chave para, em tom quase que de clemência, a comunidade internacional (agora com a alcunha da ONU) iniciar a consolidação dos termos ideológicos e legais para a convivência social universal sobre as bases do respeito às diferenças, da dignidade humana, da solidariedade, etc. Ou seja, é quase ao fim da primeira metade do século XX (criação da ONU em 1945 e DUDH em 1948) que grandes movimentações são feitas para garantir legal, e internacionalmente, os DH. O que é muito tarde, e para os parâmetros históricos, são nossos objetos de estudo ainda hoje. Estão presentes em nossa contemporaneidade. Feitos tais alertas podemos partir agora para a conferência de alguns aspectos que estão permeando não apenas a disciplina, mas a educação em direitos humanos como um todo, na atualidade. Para tanto, continuaremos a estudar os principais documentos e leis que regulamentam e direcionam as plataformas curriculares educacionais dos direitos humanos no Brasil. Na unidade 01, fomos apresentados(as) aos Parâmetros Curriculares Nacionais e é acerca deles que va- mos nos debruçar agora. Como aprendemos, os PCN’s são, como o próprio nome sugere, os documentos que norteiam mestres e instituições em relação aos conteúdos abordados nas diferentes séries (ciclos) do ensino. Porém, antes de começarmos a destrinchar um pouco mais esse assunto, teremos de fazer uma ressalva sobre o desenvolvimento ético em que estão envolvidos os direitos humanos; que tem como grande pressuposto a universalização destes e que nenhuma outra ética particular pode superar. Ou seja, ao falarmos e estudarmos as nuanças que permeiam a fomentação dos Parâmetros Curriculares devemos ter em mente que para contemplar os DH em sua plenitude, concepções éticas individuais devem ser consideradas, porém não devem sobrepor-se umas às outras ou aos direitos universais do homem. Sabendo disto, entendemos que os PCN’s, bem como os conteúdos sugeridos por eles têm que contemplar as diversidades: étnicas, religiosas, sexuais, econômicas e culturais existentes na sociedade; tarefa de extrema dificuldade, sobretudo em países como o Brasil, tendo em vista que é um lugar multifacetado em todos esses segmentos. Desde a unidade 01, estamos referenciando os PCN’s como o documento que rege as diretrizes do ensino/ aprendizagem em nosso país, porém, desde o ano de 2013, estes parâmetros não têm mais esta nomen- clatura. Atualmente, o documento que orienta às bases curriculares e de conteúdo no Brasil são as diretrizes curriculares nacionais gerais da educação. 6 Certamente, nesse momento você está se perguntando qual o motivo de termos lhe alertado apenas agora? Estou certo? Pois bem, é por uma causa muito simples a qual, inclusive, já fizemos alusão nessas unidades: é para exemplificar quanto o contexto sócio-histórico que as sociedades atravessam estão diretamente ligados ao processo de fomentação das bases educacionais de uma nação. Neste caso o país – Brasil - já estava sob bases curriculares vigentes desde meados dos anos 1990 (os PCN’s de 1998), as quais, a partir de maisde uma década de governos ditos populares, que proporcionaram mudanças e aprimoramentos sig- nificativos em outras áreas da educação, como ENEM e SISU, por exemplo, tiveram de agregar novos con- ceitos e contemplar áreas entendidas como prioritárias para sobrevivência humana digna, como os DH. visite a Página Com esta “correção” efetuada, podemos agora navegar acerca das Diretrizes Curricu- lares Nacionais de Educação. Estruturalmente estas diretrizes estão contempladas no documento Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (2013), que você pode encontrar on-line clicando aqui. neste documento, teremos oportunidade de encontrar todo o direcionamento para escolas e professores(as) elaborarem seus materiais e metodologias pedagógicas da maneira mais con- templativa possível, sendo divididos a partir dos níveis, ou ciclos de aprendizagem, bem como das respectivas disciplinas as quais são estudadas em cada série. Dentro deste documento poderemos encontrar as sugestões curriculares para todos os níveis da educação básica, bem como as orientações acerca de temas com apelo socioeducativo pertinente ao momento his- tórico. Ao contrário dos PCN’s, que tem os seus temas transversais, como vimos, as DCNE são colocadas em um mesmo patamar, pois temos as Diretrizes Gerais e diversas variáveis, como as da Educação de Jovens e Adultos – EJA, as diretrizes para educação indígena ou quilombola e as diretrizes para o ensino da cultura afro-brasileira e africana, dentre outras. É neste documento que aparecem, pela primeira vez no contexto educacional brasileiro, orientações específicas para a Educação em Direitos Humanos. Entendido isto, podemos verificar que a educação em direitos humanos pode permear o ensino/aprendi- zagem desde os primeiros momentos da vida escolar. Contudo, nossa tarefa neste momento é identificar onde, e em quais matérias, estão presentes os preceitos (ensinamentos) a respeito deste tema. Como você já aprendeu, muitas são as áreas que os direitos dos homens estão inseridos. Vimos que direi- tos como a vida, moradia, água, comunicação, dentre outros, são inerentes a qualquer humano, indepen- dentemente de sua raça/cor, crença religiosa, localização geográfica ou opção sexual. Por isto, devemos ter a consciência que seja qual for o nível educacional que se esteja lecionando, particularidades como estas devem ser consideradas, mas nunca sobrepostas (classificadas) e a convivência no grupo (turma) seja lastreada em preceitos como o do respeito, da solidariedade e do bem-estar comum entre todos(as), para que assim se obtenha uma educação voltada para a formação do(a) cidadão(ã). http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao-basica/apresentacao 7 Sempre é importante lembrar que as DCNGE não são obrigatórias, são, como já falamos, sugestões e orientações para que instituições e docentes desenvolvam suas linhas de ensino em termos de conteúdo e metodologia. Para efeito ilustrativo, trazemos um trecho referente às Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação em Direitos Humanos - DCNEDH argumentando que “a construção de concepções e práti- cas que compõem os Direitos Humanos e seus processos de promoção, proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana, se destina a formar crianças, jovens e adultos para participar ativamente da vida demo- crática e exercitar seus direitos e responsabilidades na sociedade, também respeitando e promovendo os direitos das demais pessoas. É uma educação integral que visa o respeito mútuo, pelo outro e pelas diferentes culturas e tradições” (DCNEDH, p.518). Portanto, como podemos aprender nesta unidade, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação estão orientando os conteúdos e metodologias brasileiras no momento. Estudamos também, só que ainda na unidade 01, que estes não são os únicos artifícios que sugerem/garantem a educação em direitos huma- nos. Vimos que algumas determinações legais, que diferentemente das DCNGE, são obrigatórias, e estão responsáveis pela orientação e determinação dos modelos e estruturação da educação nacional. Agora é o momento de você conhecer as perspectivas legais e os desafios da educação em DH. Vamos começar! PersPectivas legais e os desafios da edUcaçÃo eM direitos HUManos Desde o início da disciplina estamos sendo apresentados(as) a diversos documentos, cartas, tratados e di- retrizes que articulam, promovem, garantem e aplicam os DH e a educação voltada para efetivação deles. Vimos, por exemplo, ao estudarmos na unidade 01, os principais tratados internacionais acerca do tema, que a “costura” política para elaboração desses documentos é algo complexo e que pode levar alguns anos ou até décadas. Por isto, achamos pertinente inserir em nosso guia uma seção direcionada à análise dos desafios que o conceito de DH atravessa para elencar o hall das garantias legais, ou seja, vamos verificar quais as principais perspectivas para os direitos humanos na atualidade, bem como os seus mais acentuados desafios. Mais uma vez nos deparamos com o termo atualidade (contemporaneidade) em nossos estudos. Porém, o que poderia ser um problema, é na verdade mais um grande atrativo aos estudos, pois estamos nos debruçando neste assunto não apenas pela sua conjuntura atual, mas também por ser um tema surgido e desenvolvido nos tempos contemporâneos. regras e legislações na educação em dH: as particularidades do Brasil Anteriormente fomos apresentados a alguns documentos que regulamentam, sugerem e norteiam os acontecimentos em torno dos direitos humanos no mundo. Aprendemos que a Declaração Universal dos Direitos do Humanos (1948) é o primeiro documento que congrega toda a carga de demandas em torno dos direitos humanos; e que junto a outros tratados e cartas, forma a chamada Carta da ONU. Quando passamos a estudar os documentos regulatórios dos DH e da educação neles no Brasil, devemos considerar poucos, mas contundentes documentos, onde estão os caminhos legais para a educação como um todo e, consequentemente para a educação em direitos humanos em nosso país: 8 • Constituição de 1988; • LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira, Lei nº 9.394/1996; • Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; • Plano Nacional de Educação – PNE; • Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação em Direitos Humanos – DCNEDH. Caro(a) aluno(a), ainda na primeira unidade nos remetemos à Carta Magna (Constituição de 1988) bra- sileira como a constituição cidadã; alcunha que lhe é dada devido ao seu caráter contemplativo no que concerne à garantia dos direitos do homem. Sendo assim, como não poderia deixar de ser, já em seu Capítulo II, onde são previstos os direitos sociais, ela prevê no art. 6º que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança. Além dessa garantia constitucional, a educação tem no mesmo documento, em seu título VIII que versa sobre a ordem social, uma seção especifica à temática educacional, cujo art. 205º declara que a educa- ção, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação profissional. Portanto, é nesta seção, entre os artigos 205º e 214º que estão previstos constitucionalmente todos os preceitos norteadores da educação, incluindo aí a importante EC – Emenda Constitucional 53/2006, que regulamenta os repasses financeiros de base tributária para a educação básica, bem como para manuten- ção dos proventos auferidos pelos seus trabalhadores, tudo a partir do Fundo de Manutenção e Desenvol- vimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). leitUra coMPleMentar Para que você tenha um aprendizado ainda mais completo, sugiro que adquira uma Constituição Federal. Nossa Carta Magna pode ser conseguida clicando aqui. Ou, caso seja do seu interesse, você pode solicitá-la a qualquerparlamentar através de carta ou correio eletrônico a seus respectivos gabinetes. É um bom exercício de cidadania! Exerça-o! Em consonância com a Constituição de 1988, e em andamento com o processo de abertura e/ou amplia- ção de novos horizontes não apenas educacionais, mas para a garantia dos direitos como um todo, é promulgada em 20 de dezembro de 1996 a Lei 9.394, a chamada LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional. Nela, que é o mais importante dispositivo regulatório da educação em nosso país, estão apresentados os dispositivos legais os quais a educação brasileira está submetida. Na LDB não temos uma consideração direta, seja em título ou artigo, à educação em direitos humanos, porém, os DH apresentam-se representados quando a referida lei determina, por exemplo, que “os princí- pios básicos da educação no Brasil devem ter condições igualitárias de acesso e permanência na escola, pluralismo de ideias e concepções pedagógicas e o respeito à liberdade e apreço à tolerância; ou quando prevê a garantia de educação em nível especial e/ou profissionalizante, dialogando nitidamente com documentos norteadores dos DH, como a DUDH”. http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html 9 É importante lembrá-lo(a), que a LDB é uma legislação, e como aprendemos na unidade anterior ao estu- darmos os conceitos dos fundamentos dos direitos, leis são mutáveis e estão sujeitas aos desdobramen- tos derivados dos processos sociais, econômicos e culturais das sociedades. Ou seja, nunca podem ser consideradas acabadas, findas. Nela temos as determinações da composição educacional brasileira. A lei 9.394/1996 determina que a educação escolar nacional esteja dividida em educação básica, que é formada pela educação infantil, os ensinos fundamental e médio e a educação superior (graduações e licenciaturas). É também na LDB que encontramos a determinação para criação por parte da união, em consonância com estados e municípios, dos Conselhos de Educação e dos Planos de Educação, ambos nos três níveis administrativos: federal, estadual e municipal. o Plano nacional de educação é o documento que orienta, em cumprimento à determinação constitucional, os rumos da educação nacional durante um determinado período, que em nosso caso são 10 (dez) anos. Atualmente, estamos sob a égide do PNE regulamentado pela Lei 13.005 de 25 de junho de 2014, que terá vigência até 2024. Ele, dentre muitas outras coisas, chama atenção para o “momento fecundo de possibilidades, com bases legais mais avançadas” (p.6) que vivemos, podendo consolidar um alinhamento entre os planos e assim viabilizar um Sistema Nacional de Educação – SNE integrado e coeso mesmo com as diversas demandas existentes no Brasil. Tarefa esta que não é fácil, tendo em vista a dimensão e a pluralidade cultural brasileira, incluindo aí a dificuldade de organização coletiva para o desenvolvimento comum (comunitário), cuja educação é o um bom exemplo. No entanto, como o próprio PNE salienta, “se as diferentes esferas de governo têm compromissos comuns, terão resultados mais efetivos e recursos otimizados se planejarem suas ações de maneira integrada e colaborativa” (p. 9). O PNE decênio 2014-2024, propõem 20 (vinte) metas, as quais são orientadas para a superação de todas as desigualdades historicamente arraigadas em nosso país; e devem ser algo que não podem deixar de abranger e ter incorporados os “princípios do respeito aos direitos humanos, à sustentabilidade socio- ambiental, à valorização da diversidade e inclusão...” (p. 9). Fomentando um bom convívio e promovendo exercícios de cidadania. Atualmente, o SNE está por ter seu prazo de implementação acabado, pois o ano base estipulado pela lei para colocá-lo em ação é o corrente ano de 2016. Donde o prazo para as formulações dos Planos Estaduais de Educação – PEE está vinculado e é condição importante para o cumprimento desta etapa e ainda não estão todos preparados, e alguns dos que já passaram pelo processo político-burocrático, deixam a desejar, inclusive com flagrantes ausências das garantias aos DH, e à educação nestes, motiva- das, sobretudo, por concepções morais individuais, ou de grupos político-religiosos mais conservadores. Episódio que pode ilustrar isso a você, é a subtração (ou não contemplação) da educação de gênero nas bases curriculares da educação básica em estados como Alagoas e Pernambuco, quando da fomentação dos seus PEE. Dentre as metas do PNE, podemos destacar a que pretende universalizar a educação infantil e o ensino fundamental dentro de um prazo de 03 (três anos) a partir da sua promulgação, garantindo ao menos que 50% dos(as) educandos(as) entre quatro e dezessete anos sejam contemplados nos diferentes níveis da educação básica; bem como a meta que prevê valorizar os(as) profissionais do magistério da rede pública. 10 leitUras coMPleMentares Para que você possa se aprofundar mais no assunto e ter contato total com os docu- mentos aqui explorados, o que é fundamental para seu aprendizado, sugiro que visua- lize o PNE clicando aqui. Também leia o material que indica as 20 (vinte) metas do PNE, bem como todo o cami- nho de debates e argumentações que o fomentaram. Clique aqui para acessar. Agora que já falamos um pouco sobre algumas nuanças da Constituição, da LDB e do PNE nos resta abor- dar características do Estatuto da Criança e do Adolescente e das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica – DCNEB, sendo estas últimas nosso foco de estudo a partir de agora. Como estudamos anteriormente, prezado(a) aluno(a), as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação são as orientações para professores e instituições direcionarem seus conteúdos curriculares, assim como modelos e metodologias pedagógicas. Instituídas no ano de 2013, as atuais DCNEB vieram ficar no lugar anteriormente ocupado pelos PCN’s. No tocante às diretrizes acerca da educação em DH ocorre um avan- ço daqueles em relação a estes; pois o que antes era tratado como temas transversais nos PCN’s, onde apenas alguns seguimentos eram contemplados, agora são uma linha específica de orientação. Ou seja, a partir da reformulação das DCNGEB em 2013, passamos a ter um documento que apresenta diretamente Diretrizes Nacionais da Educação em Direitos Humanos, texto presente nas Diretrizes Curriculares Nacio- nais Gerais da Educação, que você pode ter acesso através do endereço a seguir: visite a Página Clique aqui para acessar. As Diretrizes Nacionais para a Educação em DH é um documente tecido a partir de debates e oitivas dos principais atores responsáveis pela fomentação da educação nacional, bem como importantes entidades da sociedade civil organizada e pesquisadores que trabalham com o tema. Tudo com o intuito de ampliar “o reconhecimento de direitos face às transformações ocorridas nos diferentes contextos sociais, histó- ricos e políticos” (p. 515). exeMPlos São exemplos: o Conselho Nacional de Educação – CNE grande coordenador das atividades que gestaram o documento; a hoje desativada, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a SEB - Secretaria de Educação Básica, como exemplos dos representantes governamentais, a Escola de Direito da FGV e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero (GEPSEX) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, como apoio teórico (e por que também não, técnico?), além das institui- ções ancoradas na chamada sociedade civil, como o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos Carmem Bascarán de Açailândia, Maranhão. http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12907:legislacoes http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12907:legislacoes http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=15548-d-c-n-educacao-basica-nova-pdf&category_slug=abril-2014-pdf&Itemid=30192 11 Portanto, entendendo que a educaçãoé um direito humano e que a Educação em Direitos Humanos “emerge como uma forte necessidade capaz de reposicionar os compromissos nacionais com a formação de sujeitos de direitos e de responsabilidades” (p. 516), as DNEDH são o caminho para formulação de uma cultura de paz, onde todos e todas, indiscriminadamente de cor, etnia, credo, opinião política ou situação financeira estejam providos de cidadania. Este documento apresenta-se dividido em 05 (cinco) blocos, ou tópicos, como você preferir. O primeiro aborda os contextos históricos dos DH e da educação nestes no mundo e no Brasil; posteriormente passa- -se a contextualizar os fundamentos da educação em DH, onde podemos aprender, por exemplo, que além de proporcionar a cultura de paz, “a educação em direitos humanos tem por escopo principal uma forma- ção ética, crítica e política” (p. 522). É nesta parte que vimos os princípios e objetivos da educação em DH sugeridos; no bloco 03 (três), descortina-se o ambiente educacional como espaço e tempo dos DH e da EDH; em seguida, temos a oportunidade de estudar como deve ser a EDH nas instituições dos diferentes níveis educacionais: o básico e o superior e, por fim, na parte 05 (cinco) são elencados alguns desafios. Como você pode perceber, muitos desses assuntos contemplados nas Diretrizes Nacionais já foram ou ainda serão tratados em nossos estudos nesta disciplina. Contudo, é imprescindível que você remeta algum tempo dos seus estudos para ler a integra deste documento, certamente isto potencializará seu aprendizado. Para finalizar esta seção em que visualizamos algumas características dos principais documentos que orientam a educação em direitos humanos no Brasil, conversaremos um pouco acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente – o ECA. Amado por uns e odiado por outros, o ECA é o documento que garante a esta determinada parcela da sociedade brasileira a proteção dos DH, donde estão contempladas a Educação, e especificamente a Educação em Direitos Humanos. Datado de 1990, este estatuto recebe criticas desde sua regulamentação pela Lei 8.069, de 13 de julho deste mesmo ano. Tais análises negativas ocorrem, sobretudo, pelo fato de o acusarem de não puni- tivo, ou não garantidor dos efeitos punitivos como, por exemplo, a garantia de equipamentos públicos qualificados que promova a reabilitação plena do individuo. Esta é uma crítica válida, porém, quando se argumenta que este é um documento marco, ícone das políticas públicas para garantia dos direitos não apenas das crianças e adolescentes, mas dos DH em geral, devido a sua contemporaneidade e força po- tencial para deixar legados em torno da garantia e proteção as DH, a visão progressiva, otimista, sempre nos atrai mais. Sendo assim, temos um belo artifício de promoção e garantia dos direitos humanos para uma parcela importantíssima da população brasileira, cujo futuro alicerçado nos preceitos dos DH é o grande objetivo, mas o presente, as configurações e situações cotidianas estão também em foco. Para isto, dentro dos seus artigos, o ECA prevê a criação, montagem e efetivo funcionamento dos Conselhos de Direitos: os Conselhos Municipais de Direitos da Criança e Adolescente - CMDCA e os Conselhos Tutelares – CT. Dois órgãos estratégicos para a efetiva garantia e promoção dos direitos infanto-juvenis. 12 Palavras do finais Portanto, caro(a) aluno(a), terminamos aqui esta nossa segunda unidade. Nela revisitamos alguns as- suntos tratados na(s) unidade(s) anterior(es), como os conceitos de educação e de direitos, aprendemos que eles tem diferenças conceituais e que podem ser mutáveis de acordo com os acontecimentos sócio- -históricos. Posteriormente, passamos a estudar as perspectivas legais e norteadoras da EDH no Brasil; vimos que são basicamente cinco os documentos reguladores desta modalidade educacional em nosso país: a Cons- tituição de 1988, a lei 9.394/1996 - LDB, o PNE, as DNEDH de 2013 e o ECA. E finalmente, elencamos algumas propriedades desses documentos para identificar suas dimensões e princípios. Por fim, lhe saúdo e agradeço a atenção, bem como mais uma vez lembro que este guia não é o único meio de estudos que você pode lançar mão; é imprescindível que você busque outras fontes de informação para aperfeiçoar seu aprendizado. acesse o aMBiente virtUal Não se esqueça de realizar as atividades, pois elas são imprescindíveis para seu bom rendimento no curso; além de terem caráter avaliativo! Bons estudos e até a próxima unidade! referências BiBliográficas BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. — 7ª reimpressão. BRANDÃO, Carlos. R. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 2007. DUGUIT, Leon. Fundamentos do direito: São Paulo - Martin Claret, 2009. LEVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo Ed. 34, 1996. SILVA, Tiago E. R. Promoção e garantias de direitos a crianças e adolescentes no semiárido pernambuca- no. Onde encontramos? In: Juventudes e modos de vida no semiárido pernambucano: relatos de pesquisa com jovens de Caruaru e Serra Talhada / org. SPENILLO, Giuseppa M. D. – Recife: Ed. Universitária UFPE. ZENAIDE, Mª de Nazaré T., DIAS, Lúcia Lemos, TOSI, Giuseppe e MOURA, Paulo V. de organizadores. A formação em direitos humanos na universidade: ensino, pesquisa e extensão – João Pessoa: Ed. Univer- sitária/UFPB, 2006.