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Josué Silvio Dutra NOV/2015 2 A474 Alves, Silvio Dutra Josué./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 233p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Conquista. 3. Canaã. 4. 6. Comentário Bíblico. I. Título. CDD 230.222 3 Sumário Josué 1.......................................................... 4 Josué 2.......................................................... 21 Josué 3.......................................................... 30 Josué 4.......................................................... 38 Josué 5.......................................................... 44 Josué 6.......................................................... 61 Josué 7.......................................................... 76 Josué 8.......................................................... 86 Josué 9.......................................................... 97 Josué 10........................................................ 115 Josué 11........................................................ 127 Josué 12........................................................ 136 Josué 13........................................................ 140 Josué 14........................................................ 147 Josué 15........................................................ 153 Josué 16........................................................ 160 Josué 17........................................................ 174 Josué 18........................................................ 180 Josué 19........................................................ 184 Josué 20........................................................ 192 Josué 21........................................................ 196 Josué 22........................................................ 205 Josué 23........................................................ 215 Josué 24........................................................ 223 4 Josué 1 Caso lêssemos a Bíblia a partir do livro de Josué, desconsiderando tudo o que está escrito nos cinco livros que o precedem, poderíamos pensar que todas as ações que se desenrolarão com os israelitas sob Josué, e a maneira como ele foi extraordinariamente capacitado por Deus para a tarefa que realizou, se deram exclusivamente em razão das promessas feitas a ele e também pelo motivo da sua determinação em obter bênçãos de Deus, para si, e para todo o povo de Israel. Não podemos esquecer que Abraão, Moisés e Josué, dentre outros, foram os personagens escolhidos pelo Senhor, para levar a cabo o plano de redenção da humanidade, que ele estabeleceu antes mesmo da criação de todas as coisas, e que passaria antes pela formação de uma nação (Israel), através da qual ele se revelaria ao mundo. Eles não eram, portanto, homens tentando fazer prevalecer a própria vontade e ministérios diante de Deus. Não estavam agindo por conta própria e de acordo com os seus próprios planos. Eles estavam debaixo do cumprimento de uma diretriz que o Senhor traçou nos seus conselhos eternos. Os israelitas deveriam conquistar e tomar posse de Canaã com Josué, porque isto fora determinado pelo Senhor, e revelado e 5 prometido a Abraão, cerca de seiscentos anos antes dos dias de Josué. Assim, este livro não começa com a história da vida de Josué (há muitas passagens que se referem a ele no Pentateuco), mas com o seu governo, dando seguimento ao cumprimento do desígnio de Deus, que havia começado desde os patriarcas. Por isso se destaca logo no primeiro versículo do livro, que Moisés era servo do Senhor, e que Josué era servidor de Moisés; indicando que Josué deveria dar sequência ao que Deus havia começado com Moisés, e indica-se também que tudo o que Moisés havia feito, foi realizado pelo mandado e pela vontade de Deus. Embora as palavras usadas neste primeiro versículo, para indicarem a condição de serviço de Moisés a Deus, e de Josué a Moisés, serem de raízes diferentes no hebraico (ebed, servo, para Moisés, em relação a Deus, e sharath, servidor, para Josué, em relação a Moisés) ambas indicam a condição de estar a serviço de alguém. De igual modo, os verdadeiros ministros do evangelho, que têm sido chamados por Deus para o ministério, não estão fazendo uma obra que é propriamente deles, mas estão cumprindo algo que ele havia determinado fazer antes dos tempos eternos. Eles foram chamados para cumprirem o ministério que o Senhor designou para cada um deles, antes mesmo que lhes tivesse formado no ventre, tal como se deu com Jeremias, com Paulo, João Batista, e todos os que são chamados 6 para serem os guias do rebanho do Senhor, em sua caminhada rumo à Canaã celestial. Um ministro autêntico deve ter sido, portanto, chamado a partir do céu. Ninguém que tenha sido feito líder pela mera vontade dos homens estará fazendo de fato o que se pode chamar de a obra de Deus, porque os que a conduzem devem ter sido chamados, obrigatoriamente, do alto, e cumprirem fielmente as ordens do grande General ao qual estão servindo. “Ora, ninguém toma para si esta honra, senão quando é chamado por Deus, como o foi Arão.” (Hb 5.4). “E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,” (Ef 4.11). “Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.” (At 20.28). A propósito, cabe destacar que em razão da natureza terrena, sujeita ao pecado, e especialmente ao do orgulho, tem-se perdido de vista o verdadeiro significado da chamada ao ministério, que não é para dominar, senão para servir. O próprio Senhor Jesus Cristo deu o exemplo máximo de serviço a Deus e aos homens, tendo tomado a forma de um servo. E ele se colocou também debaixo da Lei de Moisés e a cumpriu como um servo completamente obediente a Deus. 7 Foi por conhecer perfeitamente esta realidade relativa ao Senhor e à sua Igreja, que o apóstolo Pedro disse o seguinte aos presbíteros da Igreja: “Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.1-3). Assim, quando Deus falou com Josué para lhe dar instruções e palavras de encorajamento, para cumprir a missão de ser sucessor de Moisés, da qual havia sido encarregado antes mesmo da sua morte, Ele chamou Moisés de “meu servo” (v. 2), indicando assim a Josué que ele também estaria a seu serviço, tanto quanto estivera Moisés. Haveria uma tarefa grandiosa a ser cumprida, e Josué deveria se cuidar, e guardar-se principalmente do espírito de exaltação, permanecendo todo o tempo em humildade diante do Senhor, para poder conhecer e cumprir a sua vontade. Esta é uma tentação à qual estão sujeitos todos os que estão investidos de posição de autoridade, seja em seus próprios lares como cabeças de família, seja na Igreja, como oficiais e obreiros; pois não podemos esquecer o exemplo que nos foi deixado por Jesus e pelos 8 apóstolos, e tudo quanto o Senhor nos tem ordenado em sua Palavra, acerca deste assunto. “Jesus, pois, chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seusgrandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mt 20.25-28). Este ensino de Jesus foi ensejado pelo pedido equivocado da mãe de Tiago e de João, que desejava que seus filhos ocupassem uma posição de mando e de destaque em relação aos demais apóstolos. O Senhor ensinou que há uma posição de autoridade em seu corpo que é determinada previamente por Deus Pai, mas que esta posição não é de dominação, mas de serviço em amor e humildade àqueles sobre os quais Deus nos tenha constituído como ministros. A propósito, a palavra para ministério, no original grego, na maior parte de suas ocorrências, vem de diakonia, que significa serviço (At 1.17; Rm 11.13; II Cor 6.3 etc). Assim, até mesmo o ministério de governo da Igreja, é um ministério de liderança com o caráter de serviço debaixo do governo de Deus, a quem todos os ministros terão que prestar contas da sua fidelidade. 9 “Obedecei a vossos guias, sendo-lhes submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (Hb 13.17) Josué foi dado por Deus como guia do povo de Israel, no lugar de Moisés, e os israelitas deveriam obedecê-lo em tudo, porque lhes estaria servindo, para fazerem não a sua própria vontade pessoal, mas a de Deus, a quem ele estava servindo, e a quem ele prestaria contas de todos os seus atos. É exatamente a colocação destas verdades da parte do Senhor a Josué que nós encontramos neste primeiro capítulo até o nono versículo. No final do livro de Deuteronômio nós vimos que o povo se encontrava acampado nas campinas de Moabe, na Transjordânia, e que Moisés morreu no monte Nebo, que ficava situado naquela região. E agora, talvez logo depois do luto de trinta dias que os israelitas guardaram pela sua morte, é ordenado pelo Senhor a Josué que atravessasse o rio Jordão (v. 2), e esta ordem, em si mesma, era um desafio à fé de Josué, porque não havia como atravessar o Jordão, pelo menos não naquela época, conforme se descreve em Js 3.15, quando eles atravessaram o rio: “e quando os que levavam a arca chegaram ao Jordão, e os seus pés mergulharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava todas as suas ribanceiras durante todos os dias da sega),”. 10 Não restava pois a Josué a alternativa de crer que Deus proveria para eles um modo de atravessar o rio, assim como havia feito nos dias de Moisés, para atravessarem o Mar Vermelho. Eles poderiam ter passado para o outro lado do Jordão, contornando o Mar Morto ao Sul, mas teriam que empreender uma grande viagem, e retornando para o local de onde haviam partido. Todavia, a ordem de Deus indicava que eles deveriam seguir adiante e vencer, com o seu auxílio, os obstáculos que estavam diante deles, de modo que isto serviria para fortalecer a sua fé no Senhor, especialmente quanto a que estaria com eles nas batalhas que teriam que empreender em Canaã. Nos versos 2 e 3 Deus fala a Josué da terra que deu aos filhos de Israel, e que lhes daria todo lugar que pisasse a planta dos pés deles. Deus dá porque é a ele que pertencem todas as coisas. Deus dá bens, saúde, alegria, paz, enfim, todas as coisas boas, sejam elas materiais ou espirituais. Ninguém entraria na posse de cousa alguma se não lhe fosse concedida ou permitida a posse por Deus. É neste sentido que ele disse ao primeiro casal que lhes estava dando o governo sobre todos os seres da terra que ele havia criado. É muito fácil esquecermos que até mesmo o ar que respiramos nos foi dado por Deus, assim como a capacidade de respiração, e deveríamos ser-lhes gratos por isto e por tudo o mais. 11 Os males que deixamos de receber porque ele nos concedeu livramento pela sua bondade e misericórdia, deveria ser motivo para uma permanente gratidão e adoração. O homem racionalista excluiu Deus daquilo que chama de mundo material e natural, na criação, como que se Deus não se ocupasse em cuidar e governar tudo aquilo que criou. Muitos destes vêm a se converter depois, e por isso o Senhor se ri do endurecimento deles, não por forma de escarnecimento, mas de compaixão por sua cegueira, endurecimento e ignorância, que perdurariam caso não tivesse misericórdia de se lhes revelar, pelo Espírito. Até mesmo sobre os pássaros do céu ele mantém permanente vigilância, não permitindo que nenhum deles caia sem a sua permissão. Até os cabelos das nossas cabeças estão contados, e Jesus disse isto para revelar o cuidado minucioso que Deus tem relativamente à sua criação. A posse de Canaã foi dada aos israelitas por promessa de Deus aos patriarcas, e assim, ele mesmo se empenharia em lhes dar o que havia prometido (v.2 a 6). É um grande erro tomar as promessas feitas nestes versículos a Josué como sendo aplicáveis particularmente a ele. Muito se tem pregado sobre estes versículos do primeiro capítulo de Josué como exemplo de uma vida particular bem-sucedida. 12 As pessoas são encorajadas a serem como Josué, simplesmente para obterem as mesmas bênçãos que ele recebeu, como por exemplo: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo dei, como eu disse a Moisés.” (v.3). Veja que aqui a promessa seria cumprida conforme foi dito a Moisés, isto é, a posse da terra de Canaã, nos limites que foram determinados por Deus, e que estão descritos no verso 4. Deus não lhes dera o mundo todo. Não temos, portanto, diante de nós, nenhuma promessa para alguém em particular, ou mesmo grupo de pessoas, que aleguem que pela fé em Deus, todo o lugar em que pisarem, passa a ser do domínio delas. Veja que a promessa do verso 3 é específica e se referia à ocupação de Canaã pelos israelitas. Aquilo que Deus tiver designado como nossa possessão é nosso de fato, por direito divino, mas veja bem: aquilo que Deus tiver designado, e não aquilo que nós tivermos simplesmente desejado. Isto se aplica inclusive a áreas de abrangência ministerial, pois até mesmo para os seus ministros, Deus tem delimitado as áreas de atuação dos respectivos ministérios. Paulo tinha um pleno conhecimento desta verdade e faz referência a ela em suas epístolas, como vemos por exemplo em Rm 15.20: “deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio;”. 13 Ainda, quando Deus está falando com Josué, quanto às promessas e encorajamentos que lhe fizera, nos versos 5 a 9, o que estava em vista não era, primariamente, o sucesso pessoal de Josué na vida, senão o que seria necessário para que fosse cumprida a sua vontade em relação ao que havia determinado fazer em Israel. Consequentemente, ninguém poderia resistir a Josué todos os dias da sua vida (v. 5a), porque o Senhor confirmaria a sua liderança, não somente entre os opositores que se levantassem dentre os próprios israelitas, como venceria através dele todas as nações inimigas em Canaã. Deus prometeu que nunca lhe deixaria e desampararia, tal como agira em relação a Moisés (v. 5b). E não podemos olhar para esta promessa fora do seu contexto de aplicação, porque isto seria uma condição necessária para que Josué pudesse cumprir a missão gigantesca da qual estava sendo incumbido por Deus. A parte dele seria, portanto, esforçar-se e ter bom ânimo em meio a todas as grandes dificuldades com que se depararia, porque o propósito de Deus não poderia ser frustrado de modo algum. Josué e todo o povo de Israel veriam a poderosa mão de Deus lutando a seu favor e realizando milagres tremendos para que pudessem entrarna posse da terra prometida, mas teriam que permanecer debaixo das ordens do Senhor, especialmente observando e cumprindo os seus mandamentos, que lhes havia dado através de Moisés (v. 6, 7, 9). 14 Daí ter sido ordenado a Josué que não deixasse de ensinar a Lei ao povo, e nem de meditar no livro da Lei dia e noite, para que tivesse o cuidado diligente de dirigir os israelitas seguindo estritamente tudo o que era ordenado a Israel na Palavra de Deus dada a Moisés. Então, não seria apenas Josué que seria bem- sucedido nas suas realizações, mas toda a nação israelita, porque o sucesso de Josué seria medido pelo sucesso de Israel em cumprir o que foi ordenado pelo Senhor. Portanto, a promessa de ser bem-sucedido por onde quer que andasse (v. 7b), porque Deus seria com ele em sua caminhada (v. 9), era uma promessa cujo cumprimento estava associado à obediência da nação aos seus mandamentos, e ela se dirigia particularmente às muitas jornadas e campanhas de guerra que os israelitas teriam em Canaã, até conquistarem a terra por completo. Precisamos da presença de Deus não somente quando estamos começando o nosso trabalho, mas também quando este está progredindo, para ter uma ajuda ininterrupta. Muitos fracassam no ministério porque buscaram a ajuda de Deus somente para ingressarem nele, e não fizeram como Paulo, que sempre pedia oração à Igreja, e orava muito, para que nunca ficasse privado da presença poderosa e abençoadora do Senhor, que faz a sua obra através dos seus ministros. Se Deus é por nós, quem será contra nós? Se ele vai conosco, quem poderá nos resistir? Se a obra 15 que fazemos não é propriamente nossa, mas dele, quem poderá impedi-la? Nos versos 1 a 9, lemos as palavras que foram ditas por Deus a Josué, e dos versos 10 a 15, as que foram ditas por Josué aos oficiais de Israel, e especialmente aos rubenitas, gaditas e manassitas, que haviam ocupado a Transjordânia nos dias de Moisés, e dos versos 16 a 18 as palavras que os israelitas disseram a Josué. Vejamos então agora o que Josué disse aos israelitas depois de ter ouvido o Senhor ter lhe falado o que está contido nos versos 1 a 9. Josué falou aos oficiais do povo, isto é, aos seus supervisores, que haviam sido constituídos sobre eles desde os dias de Moisés. Deus sempre levantou e continuará levantando supervisores para a sua obra, especialmente para o encargo de guiar o seu povo (I Tim 3.1). Portanto, não é bíblica a ideia de que todos são livres na Igreja para fazerem o que seja da sua própria vontade, sem estarem em submissão a um governo eclesiástico formalmente constituído por Deus. Ainda que os oficiais sejam levantados, como já dissemos, para servirem à Igreja, e pelo reconhecimento da própria Igreja da sua chamada por Deus, elegendo-os e empossando- os em seus cargos, no entanto, eles são servos num sentido elevado por causa da chamada divina. A excelência e suficiência dos oficiais não é propriamente deles, porque são vasos de barro, 16 mas, é, no entanto, uma excelência e suficiência elevadamente superior à do homem e proveniente da própria autoridade e poder do homem, porque ela tem a sua origem em Deus. Pastores são servos da Igreja e não empregados dos homens. Eles prestam um serviço em humildade, mas não para serem humilhados por aqueles aos quais estão servindo. Vejam isto no exemplo de Jesus. Ele diz que veio servir e não ser servido, e, no entanto, lembrou aos apóstolos que ele era o Mestre e Senhor deles. Isto não lhe impediu de lavar os pés deles, mas jamais tiveram a insensatez de que ele estava abaixo deles, pelo que lhes fizera. Deste modo, os oficiais estavam sujeitos a Josué (v. 10), assim como o povo estava sujeito aos oficiais e ao próprio Josué (v. 11). Por conseguinte, a palavra de Josué aos oficiais, quanto à ordem que recebera de Deus não foi: “consultai ao povo se eles desejam fazer o que Deus mandou”, mas, “ordenai ao povo” (v. 11) que se provessem de mantimentos porque dentro de três dias atravessariam o Jordão, para tomarem posse da terra que Deus lhes havia dado por herança. Nesta ocasião, os guerreiros rubenitas, gaditas e manassitas foram lembrados do seu dever de seguirem com as demais tribos para lutarem em Canaã, deixando na Transjordânia suas mulheres, filhos e gado, e até que Canaã fosse totalmente conquistada, não poderiam retornar para as suas casas (v. 12-15). 17 A tarefa de conduzir o povo de Deus é muito mais difícil e delicada do que a de dirigir qualquer empresa terrena, porque um empresário escolhe por processo seletivo as pessoas com as quais deseja trabalhar e pode dispensá-las segundo a sua própria conveniência; mas os ministros de Deus têm que trabalhar com as pessoas que lhes foram dadas por Deus, e terão que se empenharem muito para mantê-las firmes na fé e em unidade no meio do povo do Senhor. O que poderiam fazer os ministros quanto ao rebanho que está sob a respectiva supervisão, se não tivessem os oficiais que são também levantados por Deus para auxiliá-los no cumprimento do seu ministério? É preciso ter este reconhecimento, a saber, do quão valiosos são estes oficiais, para que o rebanho do Senhor possa ser apascentado de modo adequado, e a Igreja deve ser ensinada a honrá-los e a lhes obedecer, para que as promessas e bênçãos de Deus possam ser derramadas sobre todo o corpo de fiéis. Assim, por terem aprendido especialmente pelo exemplo do que sucedera há quarenta anos atrás com os seus pais, que pela sua incredulidade haviam morrido no deserto e deixaram de entrar em Canaã, porque o Senhor já não era com eles, esta nova geração de israelitas sabia muito bem que a bênção de Deus está condicionada à obediência à sua vontade e Palavra, e por isso, os oficiais de Israel deram como resposta às palavras de Josué, o seguinte: 18 “Então responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos, e aonde quer que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão- somente seja o Senhor teu Deus contigo, como foi com Moisés. Quem quer que se rebelar contra as tuas ordens, e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares, será morto. Tão-somente esforça-te, e tem bom ânimo.” (v. 16 a 18). Veja que condicionaram a sua obediência irrestrita a Josué à comunhão de Josué com Deus, ou seja, na medida em que vissem que a liderança de Josué era em conformidade com a vontade do Senhor, obedeceriam tudo o que lhes fosse ordenado. De igual modo a liderança dos ministros na Igreja de Cristo é confirmada e atendida pelo próprio povo que dirigem, na medida que é observado que fazem um trabalho segundo a Palavra e vontade do Senhor. Jesus é o capitão da nossa salvação e nós temos que estar unidos a ele e fazer tudo o que nos tem ordenado em sua Palavra, e ir aonde quer que ele nos envie, pela sua vontade. “1 Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, falou o Senhor a Josué, filho de Num, servidor de Moisés, dizendo: 2 Moisés, meu servo, é morto; levanta-te pois agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, para a terra que eu dou aos filhos de Israel. 19 3 Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo- lo dei, como eu disse a Moisés. 4 Desde o deserto e este Líbano, até o grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo. 5 Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida. Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei. 6 Esforça-te, e tem bom ânimo, porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria. 7 Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, a fimde que sejas bem sucedido por onde quer que andares. 8 Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. 9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não te atemorizes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus está contigo, por onde quer que andares. 10 Então Josué deu esta ordem aos oficiais do povo: 11 Passai pelo meio do arraial, e ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de mantimentos, porque dentro de três dias haveis de atravessar este Jordão, a fim de que entreis para tomar posse da 20 terra que o Senhor vosso Deus vos dá para a possuirdes. 12 E disse Josué aos rubenitas, aos gaditas, e à meia tribo de Manassés: 13 Lembrai-vos da palavra que vos mandou Moisés, servo do Senhor, dizendo: O Senhor vosso Deus vos dá descanso, e vos dá esta terra. 14 Vossas mulheres, vossos pequeninos e vosso gado fiquem na terra que Moisés vos deu desta banda do Jordão; porém vós, todos os homens valorosos, passareis armados adiante de vossos irmãos e os ajudareis; 15 até que o Senhor tenha dado descanso: a vossos irmãos, assim como vo-lo deu a vós, e eles também tenham possuído a terra que o Senhor vosso Deus lhes dá; então tornareis para a terra da vossa herança, e a possuireis, terra que Moisés, servo do Senhor, vos deu além do Jordão, para o nascente do sol. 16 Então responderam a Josué, dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos, e aonde quer que nos enviares iremos. 17 Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente seja o Senhor teu Deus contigo, como foi com Moisés. 18 Quem quer que se rebelar contra as tuas ordens, e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares, será morto. Tão-somente esforça-te, e tem bom ânimo.” (Js 1.1-18). 21 Josué 2 Neste capítulo nós temos a narrativa dos espias que foram designados para trazer um relatório a Josué sobre a cidade de Jericó. É destacado o modo como Josué os enviou; como Raabe os recebeu e protegeu, e como relatou a eles o pânico que estava sobre os habitantes de Jericó, por causa de Israel; e o pedido que lhes fez para a sua segurança e de seus familiares. Consta também neste capítulo o retorno seguro dos espias e o relatório que fizeram a Josué das coisas que viram e ouviram. A fé nas promessas de Deus não deve substituir, mas encorajar nossa diligência no uso dos meios apropriados para a sua realização, assim como Noé se esforçou para construir a arca; como Isaque orou para que Rebeca engravidasse, e em tantos outros exemplos que encontramos na Bíblia. E aqui também nós vemos Josué enviando os espias a Jericó, certamente por inspiração divina, não propriamente para estabelecer o plano de guerra contra aquela cidade, pois este, como veremos adiante, foi-lhe dado pelo próprio Senhor, que lhe apareceu numa teofania como o capitão do exército de Deus. Os espias não foram enviados, portanto, para avaliar se valeria ou não a pena atacar a cidade, pois atacá-la já era uma questão decidida e determinada pelo próprio Deus, que ordenou 22 que atravessassem o Jordão, para iniciarem a conquista de Canaã. Os espias não estavam somente a serviço de Josué e de Israel, mas do próprio Deus, que tomou providências para guardá-los em sua missão, enviando-lhes à casa de Raabe, pois sabia que ela os preservaria com o risco da própria vida, por temê-lo, e saber que aqueles que se convertessem a Deus, estariam verdadeiramente abrigados do mal e em perfeita segurança. O envio daqueles espias faria com que, pela providência divina, Raabe e os seus fossem poupados da destruição total de Jericó. O Senhor é benigno e sabe livrar o justo no dia do juízo. E caso aqueles espias não tivessem ido a Jericó, como se saberia que havia uma mulher de fé entre todas aquelas pessoas ímpias? Mas Deus tudo sabe e vê, e não permitirá que o justo seja condenado juntamente com o ímpio, e esta foi uma das razões dos espias terem sido enviados a Jericó. Por que os espias foram ter justamente com uma ex-prostituta em Jericó? Certamente Deus os conduziu para lá para livrar esta mulher de fé e os seus, da destruição que traria sobre Jericó. Ele sabe livrar o piedoso da provação, e reservar para o castigo os injustos, do dia do juízo, como diz Pedro em II Pe 2.9. Ao fazer a afirmação do verso 9, dizendo que tinha certeza que Deus havia dado a terra de Canaã aos israelitas, onde Raabe alcançou esta 23 certeza senão na fé que lhe fora dada pelo Senhor? Raabe demonstrou o seu conhecimento pessoal do Senhor na confissão de fé que encontramos no verso 11: “o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra.”. E assim, o Espírito Santo, através do autor de Hebreus deu testemunho da fé salvífica que habitava em Raabe, pelo fato de ter acolhido e escondido os dois espias de Israel, que vieram ter com ela, pois com isso demonstrou que sabia e confiava, pela fé, que o Senhor haveria de cumprir cabalmente a promessa que fizera aos israelitas de lhes dar a terra de Canaã, e que isto seria feito, a par de todo o poderio militar das nações que habitavam naquela terra. Os olhos espirituais de Raabe foram abertos para que pudesse enxergar a mão poderosa do Senhor, nos milagres que realizara no Egito, e na destruição dos dois reis amorreus. Assim, a evidência da sua fé, conforme se destaca em Hb 11.31, que acolheu em paz os espias, não consistiu no ato isolado de simplesmente tê-los acolhido, mas em tudo o que se evidenciou da fé que nela havia, através daquela acolhida. Nós temos então aqui uma segunda razão para o envio dos espias a Jericó: a fé de Raabe e o testemunho que ela dera acerca do temor dos israelitas, que havia sobrevindo aos moradores de Canaã, em muito os encorajaria às batalhas que teriam que empreender. 24 As canas de linho que Raabe havia disposto em ordem no eirado, para que secassem e pudesse trabalhar com elas em tecelagem, bem evidenciam o caráter de uma mulher virtuosa, como a citada em Pv 31 (v. 13), que havia se convertido da sua prostituição, em face do conhecimento que tivera dos feitos de Deus, tendo o Senhor tido misericórdia e se manifestado a ela. Quando ainda mantinha os espias escondidos no eirado de sua casa, Raabe teve que usar do expediente de mentir àqueles que lhe foram enviados pelo rei de Jericó, para não colocar em risco a sua própria vida, dos de sua casa e dos espias (v. 4,5). Ela habilmente admitiu que os espias haviam de fato vindo a ela, pois se o tivesse negado, estaria contradizendo aqueles que os haviam visto em sua casa e que haviam notificado o fato ao rei (v.2), e isto ensejaria no mínimo uma confrontação dela com os seus delatores, que acabaria conduzindo a um avanço na investigação e a uma provável revista minuciosa da sua casa, que acabaria levando à descoberta dos espias. Mas ela foi bastante convincente ao dizer a verdade que eles tinham vindo ter com ela. E assim, também deram crédito à mentira de que os espias haviam ido embora sem que ela soubesse de onde eram e para onde haviam ido (v. 4,5). Como a sua casa ficava em cima do muro da cidade de Jericó, ela os fez descer por uma corda 25 para o lado de fora da cidade e lhes orientou que se escondessem no monte por três dias, até que os seus perseguidores desistissem de procurá- los (v. 15,16, 22, 23). A fúria com que o rei de Jericó mandou empreender a caça aos espias israelitas demonstra o quanto eles não estavam dispostos a se renderem e nem a tratarem de negociações de paz, e por isso a única conclusão a que os israelitas poderiam chegar foi a citada no verso 24 de que certamente o Senhor lhes havia dado toda aquela terra nas suas mãos, e não tinham nada que fazer senão tomarposse do que lhes fora dado por Deus. Nós vemos nisto uma estratégia de contra informação usada em guerras, que foi bem- sucedida, da parte de Raabe, para confundir o inimigo, tal como haviam agido as duas parteiras, que se negaram a matar os recém- nascidos israelitas do sexo masculino, a mando de faraó, porque temeram antes a Deus do que os homens, e que também enganaram faraó com a mentira delas. E o que se aprende disto? Que a mentira é aprovada por Deus? Que se deve fazer disso uma regra? De modo nenhum! Pois estamos diante de duas situações excepcionais em que o uso de informações que não correspondiam à realidade dos fatos impediu que os inimigos de Deus triunfassem em seus projetos malignos dirigidos contra o seu povo. Não se pode, portanto, a partir de situações excepcionais criar regras gerais contra a 26 verdade revelada de que convém a todo o crente dizer somente a verdade. Não se deve sequer pensar como regra em que exista algo como mentira “branca” ou que há fins que justifiquem meios falsos e enganosos. Davi se fingiu de louco para escapar do rei filisteu. Obadias escondeu profetas de Deus das vistas de Jesabel, estando a serviço dela em sua própria casa. O relato de Raabe de que todos em Jericó estavam apavorados por causa do que Deus fizera aos egípcios no Mar Vermelho e aos dois reis amorreus, Ogue e Seom, em muito animou os israelitas à batalha (v.24), quando os espias relataram tal informação a Josué. Deus é quem pode manter a alma em paz, ou em desassossego e terror (Dt 12.25). Por isso os de Jericó estavam aterrorizados. “1 De Sitim Josué, filho de Num, enviou secretamente dois homens como espias, dizendo-lhes: Ide reconhecer a terra, particularmente a Jericó. Foram pois, e entraram na casa duma prostituta, que se chamava Raabe, e pousaram ali. 2 Então deu-se notícia ao rei de Jericó, dizendo: Eis que esta noite vieram aqui uns homens dos filhos de Israel, para espiar a terra. 3 Pelo que o rei de Jericó mandou dizer a Raabe: Faze sair os homens que vieram a ti e entraram na tua casa, porque vieram espiar toda a terra. 27 4 Mas aquela mulher, tomando os dois homens, os escondeu, e disse: é verdade que os homens vieram a mim, porém eu não sabia donde eram; 5 e aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram. Não sei para onde foram; ide após eles depressa, porque os alcançareis. 6 Ela, porém, os tinha feito subir ao eirado, e os tinha escondido entre as canas do linho que pusera em ordem sobre o eirado. 7 Assim foram esses homens após eles pelo caminho do Jordão, até os vaus; e, logo que saíram, fechou-se a porta. 8 E, antes que os espias se deitassem, ela subiu ao eirado a ter com eles, 9 e disse-lhes: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra se derretem diante de vós. 10 Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saístes do Egito, e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Siom e Ogue, que estavam além de Jordão, os quais destruístes totalmente. 11 Quando ouvimos isso, derreteram-se os nossos corações, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra. 12 Agora pois, peço-vos, jurai-me pelo Senhor que, como usei de bondade para convosco, vós também usareis de bondade para com a casa e meu pai; e dai-me um sinal seguro 28 13 de que conservareis em vida meu pai e minha mãe, como também meus irmãos e minhas irmãs, com todos os que lhes pertencem, e de que livrareis da morte as nossas vidas. 14 Então eles lhe responderam: A nossa vida responderá pela vossa, se não denunciardes este nosso negócio; e, quando o Senhor nos entregar esta terra, usaremos para contigo de bondade e de fidelidade. 15 Ela então os fez descer por uma corda pela janela, porquanto a sua casa estava sobre o muro da cidade, de sorte que morava sobre o muro; 16 e disse-lhes: Ide-vos ao monte, para que não vos encontrem os perseguidores, e escondei- vos lá três dias, até que eles voltem; depois podereis tomar o vosso caminho. 17 Disseram-lhe os homens: Nós seremos inocentes no tocante a este juramento que nos fizeste jurar. 18 Eis que, quando nós entrarmos na terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela pela qual nos fizeste descer; e recolherás em casa contigo teu pai, tua mãe, teus irmãos e toda a família de teu pai. 19 Qualquer que sair fora das portas da tua casa, o seu sangue cairá sobre a sua cabeça, e nós seremos inocentes; mas qualquer que estiver contigo em casa, o seu sangue cairá sobre a nossa cabeça se nele se puser mão. 20 Se, porém, tu denunciares este nosso negócio, seremos desobrigados do juramento que nos fizeste jurar. 29 21 Ao que ela disse: Conforme as vossas palavras, assim seja. Então os despediu, e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela. 22 Foram-se, pois, e chegaram ao monte, onde ficaram três dias, até que voltaram os perseguidores; pois estes os buscaram por todo o caminho, porém, não os acharam. 23 Então os dois homens, tornando a descer do monte, passaram o rio, chegaram a Josué, filho de Num, e lhe contaram tudo quanto lhes acontecera. 24 E disseram a Josué: Certamente o Senhor nos tem entregue nas mãos toda esta terra, pois todos os moradores se derretem diante de nós.” (Js 2.1-24). 30 Josué 3 Antes de atravessar o Jordão o povo de Israel estava acampado em Sitim (v. 1), e no verso 19 do capítulo seguinte (quarto) nós vemos que, depois de atravessarem o Jordão, os israelitas se acamparam em Gilgal, de onde partiriam para lutar contra Jericó. Quando eles saíram de Sitim e chegaram ao rio Jordão, não lhes foi dito como fariam para atravessar o rio, contudo nós vemos que depois de o Senhor ter falado com Josué, como vimos no início do primeiro capítulo, Josué deu ordens para que o povo se preparasse porque dentro de três dias atravessariam o Jordão (1.11). Esta caminhada em direção ao Jordão para que fosse atravessado no prazo de três dias seria uma caminhada de fé, porque conforme se descreve no verso 15, o rio transbordava em todas as suas ribanceiras naqueles dias. Esta vida está repleta de Jordões que devemos atravessar, representados nos problemas que temos que ultrapassar, mas não devemos ficar desanimados porque Deus nos ordena a ter ânimo nas aflições, porque ele mesmo será a nossa ajuda e proverá os meios necessários para que possamos prosseguir na nossa jornada, rumo à conquista definitiva da Canaã celestial. Tão somente devemos nos esforçar tal como Deus ordenou a Josué, o qual acordava de madrugada (3.1; 6.12; 7.16; 8.10) para estimular e 31 preparar o povo para cumprir as ordenanças do Senhor. Aqueles que têm grandes coisas para realizar devem acordar cedo. Não devem amar o sono, e devem imitar Josué, que dava um bom exemplo para os seus oficiais. Nesta ocasião específica, em vez de ir no meio das tribos, conforme se vê no livro de Números, a arca iria à sua frente, e foi determinado por Deus que houvesse uma distância de cerca de um quilômetro, entre os sacerdotes que a conduziriam, e o povo. A arca continha as tábuas com os dez mandamentos. As pessoas devem seguir a arca, de modo que onde estejam as ordenações de Deus nós devemos estar, e segui-las de forma temente e reverente. Nós devemos seguir os nossos ministros, que nos trazem a Palavra, assim como eles seguem a Cristo (Hb 13.7). Então havia esta figura para a Igreja no ato de a arca estar sendo conduzida pelos sacerdotes adiante do povo. Naquela dispensação da Antiga Aliança, com vistas a criar a devida reverência e temor no povo, se determinava que houvesse taldistância entre o povo e a arca, que simbolizava a presença de Deus, de modo que a familiaridade poderia criar desprezo. Por isso não poderiam se achegar ao símbolo da presença divina, naquela dispensação de sombras, condenação e terror, mas nós temos 32 agora na Nova Aliança livre acesso por meio de Cristo, e não precisamos, na condição de povo da Nova Aliança, ter uma tal recomendação de afastamento, porque jamais abusaríamos da santa presença do Senhor, porque o Espírito Santo tem sido derramado no coração de todos aqueles que estão aliançados com Cristo, de modo que o temor de Deus habita nos nossos corações. A presença do Senhor é digna de toda consideração, temor, reverência e respeito, e todos os verdadeiros crentes são instruídos acerca disto pelo Espírito Santo, que os regenerou, transformando-os em novas criaturas, mas naquela dispensação antiga, nem todos tinham o verdadeiro conhecimento de Deus, e então se fazia necessário se tomar providências como esta, para que o povo não ultrapassasse os limites, que não são permitidos a nenhum crente ultrapassar. Assim como nos dias de Moisés, que foi ordenado ao povo que se santificasse, para receber os dez mandamentos ao pé do monte Sinai, de igual modo, foi ordenado aos israelitas naquela ocasião, por Josué, para que se santificassem, porque o Senhor faria maravilhas no meio deles (v.5). Veja que preparação temos que fazer para receber as revelações e comunicações da glória e da graça de Deus, quando está a ponto de fazer maravilhas no meio de nós. Temos que nos separar de todos os demais cuidados e nos dedicar a honrá-lo, e nos 33 purificarmos de toda imundície da carne e do espírito. Deus declarou a Josué que começaria a engrandecê-lo perante os israelitas, para que o respeitassem e soubessem que assim como havia sido com Moisés também seria com ele (v.7). É Deus quem engrandece a quem quer, e quando quer, e sempre para um propósito necessário e proveitoso, assim como fizera com Josué, depois da morte de Moisés, fazendo com que as águas do Jordão fossem cortadas para que o povo passasse a pé enxuto. Isto demonstra o quão impróprio foi o pedido que a mãe de Tiago e João, havia feito a Jesus. Deus havia prometido a Josué que seria com ele (1.5), e isso o confortou, mas agora todo o Israel veria que o Senhor estava honrando Josué e confirmando a sua liderança sobre todo o povo, para que os israelitas honrassem a Josué por virem que Deus era com ele. De igual modo, os ministros piedosos devem ser altamente honrados e estimados, porque, quanto mais nós vemos que Deus é com eles, mais nós devemos honrá-los, porque com isto estaremos honrando o próprio Deus, que foi quem colocou tal honra neles. É a presença do Senhor entre o seu povo que faz toda a diferença e quem de fato o dirige. A Josué foi dito que seguiriam por um caminho pelo qual nunca haviam passado antes (v.4). Isto é uma grande verdade para todos os crentes neste mundo, porque devem esperar e estar 34 preparados para passarem por eventos incomuns, passar por situações que nunca haviam experimentado antes, mas ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, desde que tenhamos a garantia da presença do Senhor conosco, não precisamos temer mal algum, porque nos dará a força necessária de um modo também que nunca tivemos antes, para fazer aquilo que for necessário. Sendo uma nação teocrática, na Antiga Aliança, os sacerdotes estavam debaixo da autoridade dos governantes de Israel, sendo estes Moisés, Josué, e depois deste os juízes, e posteriormente os reis. Mas era vedado a tais governantes realizarem as funções exclusivas dos sacerdotes, conforme prescritas na lei, mas deveriam cumprir as ordenações de Deus determinadas àqueles que tivessem sob o seu cuidado o governo de toda a nação. Aqui nós vemos Josué ordenando aos sacerdotes que levassem a arca até à beira do Jordão, conforme mandado que havia recebido do Senhor (v.8). Assim que os pés dos sacerdotes tocaram na margem do rio, o fluxo parou imediatamente, como que se uma represa invisível tivesse sido levantada impedindo as águas de prosseguirem o seu curso. E elas se amontoaram ao norte do rio até que os israelitas passassem, enquanto os sacerdotes permaneciam no meio do leito do rio com a arca, até que todos tivessem passado. 35 Este evento serviria para aumentar ainda mais o pavor dos habitantes de Jericó (5.1; 6.1), de modo que eles sitiaram a si mesmos naquela cidade fortificada, pensando que estariam bem protegidos pelos seus muros gigantescos. “1 Levantou-se, pois, Josué de madrugada e, partindo de Sitim ele e todos os filhos de Israel, vieram ao Jordão; e pousaram ali, antes de atravessá-lo. 2 E sucedeu, ao fim de três dias, que os oficiais passaram pelo meio do arraial, 3 e ordenaram ao povo, dizendo: Quando virdes a arca da pacto do Senhor vosso Deus sendo levada pelos levitas sacerdotes, partireis vós também do vosso lugar, e a seguireis 4 (haja, contudo, entre vós e ela, uma distância de dois mil côvados, e não vos chegueis a ela), para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir, porquanto por este caminho nunca dantes passastes. 5 Disse Josué também ao povo: Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós. 6 E falou Josué aos sacerdotes, dizendo: Levantai a arca do pacto, e passai adiante do povo. Levantaram, pois, a arca do pacto, e foram andando adiante do povo. 7 Então disse o Senhor a Josué: Hoje começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que, assim como fui com Moisés, serei contigo. 36 8 Tu, pois, ordenarás aos sacerdotes que levam a arca do pacto, dizendo: Quando chegardes à beira das águas de Jordão, aí parareis. 9 Disse então Josué aos filhos de Israel: Aproximai-vos, e ouvi as palavras do Senhor vosso Deus. 10 E acrescentou: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós, e que certamente expulsará de diante de vós os cananeus, os heteus, os heveus, os perizeus, os girgaseus, os amorreus e os jebuseus. 11 Eis que a arca do pacto do Senhor de toda a terra passará adiante de vós para o meio do Jordão. 12 Tomai, pois, agora doze homens das tribos de Israel, de cada tribo um homem; 13 porque assim que as plantas dos pés dos sacerdotes que levam a arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, pousarem nas águas do Jordão, estas serão cortadas, isto é, as águas que vêm de cima, e, amontoadas, pararão. 14 Quando, pois, o povo partiu das suas tendas para atravessar o Jordão, levando os sacerdotes a arca do pacto adiante do povo, 15 e quando os que levavam a arca chegaram ao Jordão, e os seus pés se mergulharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava todas as suas ribanceiras durante todos os dias da sega), 16 as águas que vinham de cima, parando, levantaram-se num montão, mui longe, à altura de Adã, cidade que está junto a Zaretã; e as que desciam ao mar da Arabá, que é o Mar Salgado, 37 foram de todo cortadas. Então o povo passou bem em frente de Jericó. 17 Os sacerdotes que levavam a arca do pacto do Senhor pararam firmes em seco no meio do Jordão, e todo o Israel foi passando a pé enxuto, até que todo o povo acabou de passar o Jordão.” (Js 3.1-17). 38 Josué 4 Nós continuamos vendo neste capítulo Josué debaixo dos comandos de Deus, tal como estivera Moisés, porque o Senhor lhe ordenou que doze homens, um de cada tribo de Israel, carregassem doze pedras, para com elas erigir um memorial no lugar em que Israel acampasse, para que as gerações futuras tivessem sempre em memória que Deus havia aberto o Jordão para que o seu povo passasse a pé enxuto, e para o mesmo propósito também ordenou a Josué que fossem colocadas outras doze pedras no lugar ondeos sacerdotes haviam ficado parados com a arca no meio do Jordão. Cabe destacar que até mesmo o momento da saída da arca com os sacerdotes do meio do leito do rio foi ordenado pelo Senhor. Seria natural de se esperar que o fizessem por sua própria conta, assim que a última pessoa do povo passasse para o outro lado, mas não, eles tiveram que esperar a ordem de Deus quanto ao momento de fazê-lo, e foi somente depois que a ordem foi expedida que as águas do rio voltaram a correr no seu curso normal. Isto indica em figura, de modo muito claro, que devemos continuar esperando em Deus e lhe obedecendo, mesmo depois dele ter resolvido os nossos problemas. Especialmente os seus ministros que têm o santo encargo de pregarem a sua Palavra. 39 E cabe destacar ainda que a ordem expedida por Deus não foi dirigida diretamente aos sacerdotes, mas a Josué, que a transmitiu a eles. Isto demonstra que ainda que os sacerdotes compusessem um ministério designado e honrado por Deus, deveriam, no entanto, se submeter àquele que havia sido levantado para governar o povo, de modo que houvesse ordem na casa de Deus, pela estrita observância da cadeia de comando estabelecida pelo próprio Deus. De igual modo, todos os ministérios existentes na Igreja devem estar subordinados àqueles que os presidem em o nome do Senhor. E este memorial da misericórdia e do favor, cuidado e providência de Deus para com o seu povo eleito e aliançado com ele, ilustra de modo muito claro que apesar de os crentes da Igreja de Cristo serem ainda pecadores e imperfeitos, tanto quanto eram os israelitas, estão debaixo da mesma misericórdia e do mesmo favor, cuidado e providência, por causa da sua eleição e aliança com Deus, e não por qualquer mérito deles. Eles desfrutam de privilégios em relação a isto, não em razão da própria justiça, mas pela graça com que foram eleitos, antes da fundação do mundo, para serem filhos de Deus. Aquelas doze pedras eram muito mais do que um simples memorial dos grandes feitos do Senhor, pois testemunhavam a sua graça, misericórdia, e cuidado especial para com o seu povo, ainda que composto de pecadores. 40 Quanta ousadia de fé e constrangimento à gratidão, serviço, santidade e obediência a Deus não deveriam ser produzidos em todos os crentes, por estarem devidamente inteirados deste amor do Senhor por eles? Tal como fora afirmado pelo apóstolo Paulo: “Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram;” (II Cor 5.14). Na referência a Moisés, no verso 10, que os sacerdotes pararam no meio do Jordão até que se cumpriu tudo o que o Senhor mandara Josué dizer ao povo, conforme tudo o que Moisés havia ordenado a Josué, certamente estas ordens de Moisés se referiam ao fato de o povo atender ao mandado de Deus em serem obedientes a Josué, para a conquista de Canaã, e não à retirada das pedras do Jordão, para levantar um memorial, pois Moisés já havia morrido, não muito tempo antes, pois como é afirmado que os discursos de Deuteronômio foram proferidos a partir do primeiro dia, do décimo primeiro mês do quadragésimo ano (Dt 1.3); a travessia do Jordão ocorreu no décimo dia do primeiro mês (v. 19), certamente do quadragésimo primeiro ano, cerca de 40 dias após Moisés ter iniciado os discursos de Deuteronômio, que foram as suas últimas palavras para Israel, da parte de Deus, antes da sua morte. Como Dt 34.8 nos dá conta que houve um luto de 30 dias pela morte de Moisés, então nós vemos que tão logo acabou o luto, foram expedidas 41 ordens de Deus para que se iniciasse a conquista de Canaã. Para confirmar que de fato era uma referência ao cumprimento das ordens que haviam sido expedidas por Moisés antes da sua morte, nos é dito nos versos 12 e 13 que as duas tribos e meia (Rúben, Gade e Manassés), que haviam se apossado de territórios na Transjordânia, tinham marchado adiante das demais tribos, conforme havia sido ordenado por Moisés, de modo que somente retornassem às suas terras depois que lutassem em Canaã com as demais tribos. “1 Quando todo o povo acabara de passar o Jordão, falou o Senhor a Josué, dizendo: 2 Tomai dentre o povo doze homens, de cada tribo um homem; 3 e mandai-lhes, dizendo: Tirai daqui, do meio do Jordão, do lugar em que estiveram parados os pés dos sacerdotes, doze pedras, levai-as convosco para a outra banda e depositai-as no lugar em que haveis de passar esta noite. 4 Chamou, pois, Josué os doze homens que escolhera dos filhos de Israel, de cada tribo um homem; 5 e disse-lhes: Passai adiante da arca do Senhor vosso Deus, ao meio do Jordão, e cada um levante uma pedra sobre o ombro, segundo o número das tribos dos filhos de Israel; 6 para que isto seja por sinal entre vós; e quando vossos filhos no futuro perguntarem: Que significam estas pedras? 42 7 direis a eles que as águas do Jordão foram cortadas diante da arca do pacto de Senhor; quando ela passou pelo Jordão, as águas foram cortadas; e estas pedras serão para sempre por memorial aos filhos de Israel. 8 Fizeram, pois, os filhos de Israel assim como Josué tinha ordenado, e levantaram doze pedras do meio do Jordão como o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos dos filhos de Israel; e levaram-nas consigo ao lugar em que pousaram, e as depositaram ali. 9 Amontoou Josué também doze pedras no meio do Jordão, no lugar em que pararam os pés dos sacerdotes que levavam a arca do pacto; e ali estão até o dia de hoje. 10 Pois os sacerdotes que levavam a arca pararam no meio do Jordão, até que se cumpriu tudo quanto o Senhor mandara Josué dizer ao povo, conforme tudo o que Moisés tinha ordenado a Josué. E o povo apressou-se, e passou. 11 Assim que todo o povo acabara de passar, então passaram a arca do Senhor e os sacerdotes, à vista do povo. 12 E passaram os filhos de Rúben e os filhos de Gade, e a meia tribo de Manassés, armados, adiante dos filhos de Israel, como Moisés lhes tinha dito; 13 uns quarenta mil homens em pé de guerra passaram diante do Senhor para a batalha, às planícies de Jericó. 14 Naquele dia e Senhor engrandeceu a Josué aos olhos de todo o Israel; e temiam-no, como 43 haviam temido a Moisés, por todos os dias da sua vida. 15 Depois falou o Senhor a Josué, dizendo: 16 Dá ordem aos sacerdotes que levam a arca do testemunho, que subam do Jordão. 17 Pelo que Josué deu ordem aos sacerdotes, dizendo: Subi do Jordão. 18 E aconteceu que, quando os sacerdotes que levavam a arca do pacto do Senhor subiram do meio do Jordão, e as plantas dos seus pés se puseram em terra seca, as águas do Jordão voltaram ao seu lugar, e trasbordavam todas as suas ribanceiras, como dantes. 19 O povo, pois, subiu do Jordão no dia dez do primeiro mês, e acampou-se em Gilgal, ao oriente de Jericó. 20 E as doze pedras, que tinham tirado do Jordão, levantou-as Josué em Gilgal; 21 e falou aos filhos de Israel, dizendo: Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais: Que significam estas pedras? 22 fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou a pé enxuto este Jordão. 23 Porque o Senhor vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, assim como fizera ao Mar Vermelho, ao qual fez secar perante nós, até que passássemos; 24 para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor é forte; a fim de que vós também temais ao Senhor vosso Deus para sempre.” (Js 4.1-24). 44 Josué 5 Este capítulo relata basicamente a renovação do favor de Deus para os israelitas, com a retirada do opróbrio (anátema, infâmia, vergonha, desonra, ignomínia, mancha) que estava sobre o povo, em razão da incredulidade de trinta e oito anos atrás, em Cades Barneia. Deste modo, foi ordenado a Josué que todos os israelitas que tinham deixado de ser circuncidadosnaquele período de peregrinação no deserto, fossem agora circuncidados, quando entraram em Canaã, acampando-se no lugar que se chamou Gibeáte-Haaralote, que significa no hebraico “monte dos prepúcios”, e que passou a se chamar Gilgal exatamente em razão da remoção do opróbrio de sobre eles por parte do Senhor, pois Gilgal, no hebraico significa “lançar fora”, “rodar”, isto é, Deus fez com que a vergonha que estava sobre eles rodasse para bem longe. O ato da circuncisão ficou associado à remoção do opróbrio, de modo que temos aqui uma forte ilustração relativa ao que é necessário para ter comunhão e intimidade com Deus, a saber, a circuncisão do prepúcio do coração, que simboliza a mortificação da carne, isto é, do pecado. É uma operação dolorosa, mas necessária para que o opróbrio seja removido de sobre o povo de Deus, pois ele é inteiramente santo, e exige santidade daqueles que dele se aproximam. 45 Como ele próprio afirma em sua Palavra, sempre se santificará naqueles que se aproximarem dele: “Serei santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo.” (Lev 10.3). Eles celebraram também a páscoa no dia 14 daquele mesmo mês (primeiro – Abib), no quadragésimo primeiro ano depois da saída do Egito, apenas quatro dias após terem atravessado o Jordão. O cronograma, o relógio do povo de Deus, estão nas suas mãos, porque ao que tudo indica, foi ele mesmo quem determinou o tempo de todas as ações dos israelitas, com a determinação da morte de Moisés, numa data em que o luto de trinta dias que fizeram por ele não atrapalharia os planos divinos de fazer o povo entrar em Canaã com Josué, antes da data de celebração da páscoa no dia quatorze do primeiro mês, pois foi neste dia que eles haviam saído do Egito. É por isso que Jesus afirma que não devemos estar ansiosos com o futuro: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.” (Mt 6.34), porque o nosso futuro está nas mãos de Deus, e não propriamente nas nossas mãos. É por isso também que Tiago nos exorta sabiamente a não fazer projetos presunçosos, sem levar em conta este governo de Deus: “E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um 46 vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.” (Tg 4.13-15). O primeiro verso deste capítulo de Josué relata que os reis dos amorreus e dos cananeus ficaram com os seus corações derretidos e sem ânimo, quando souberam que o Senhor havia secado as águas do Jordão diante dos israelitas. Eles já estavam amedrontados com o temor que veio da parte de Deus sobre eles, conforme o relato de Raabe aos espias (2.9), e por este evento Deus trouxe um maior terror a eles. O Senhor havia feito esta promessa aos israelitas da primeira geração, quando haviam saído do Egito, conforme se vê em Êx 23.27: “Enviarei o meu terror adiante de ti, pondo em confusão todo povo em cujas terras entrares, e farei que todos os teus inimigos te voltem as costas.”, mas não se valeram do seu cumprimento em sua própria geração, por causa da sua incredulidade. E mais do que infundir terror sobre os nossos inimigos, Deus prepara uma mesa para nós, quando cremos nele, na presença dos nossos inimigos, pois ele não somente ordenou que fosse celebrada a páscoa naquele território estranho, como também ordenou que os israelitas fossem circuncidados, dando uma grande mostra do seu poder em livrar e proteger, pois, chegando isto ao conhecimento dos inimigos de Israel, eles possivelmente se aventurariam em atacar os israelitas, enquanto 47 estes estavam se curando das dores da circuncisão, assim como Simeão e Levi fizeram nos dias de Jacó contra os siquemitas. Todavia, ainda que o tentassem, o poder de Deus não permitiria que Israel fosse destruído pelos seus inimigos, porque a sua poderosa mão era com eles. Estes atos da renovação do favor de Deus, demonstrados na abertura do Jordão, na circuncisão, na celebração da páscoa, e na declaração da remoção do opróbrio, fortaleceram grandemente a fé e confiança dos israelitas nele. E eles necessitariam de firmeza de fé para a realização de todas as campanhas militares que teriam que empreender em Canaã, de modo que não sucedesse com eles o que havia ocorrido com os seus pais no passado, em razão da incredulidade. O opróbrio de todos os pecadores crentes, que virão a fazer parte do povo de Deus, de modo que possam entrar em Canaã, é removido deles por causa da sua fé em Jesus, e em razão da obra que Jesus fez em favor deles. A guerra que Deus tinha contra eles acabou porque a sua iniquidade foi perdoada, em razão da morte de Jesus (Is 40.2). Esta passagem de Isaías é uma ordem de Deus que se console o seu povo com estas palavras consoladoras de que o opróbrio que estava sobre eles foi inteiramente removido por Jesus na cruz. 48 Que coisa maravilhosa é saber e crer nesta boa nova com o coração! Mas todo aquele que permanece em sua incredulidade permanece com este opróbrio, que é resultante da ira de Deus contra o pecador que não lavou as suas vestes no sangue de Jesus, que é o único modo de ser justificado e reconciliado com ele, para viver numa união eterna, com e por meio de Cristo. Entretanto, é oportuno lembrarmos que assim como Josué protestou contra os israelitas, como veremos no último capítulo deste seu livro, que não poderiam servir ao Deus santo e verdadeiro caso não vivessem em santidade diante dele, de igual modo os crentes na Nova Aliança estão sujeitos à mesma regra espiritual do dever de não viverem na prática deliberada do pecado, para que possam ser objeto da consolação do Espírito Santo, que foi enviado por Cristo para o propósito de fortificar o seu povo, santificá-lo, auxiliá-lo no entendimento e prática das coisas de Deus, e tudo o mais que se refira à vida cristã. Sem a atuação do Espírito Santo não há nenhuma vida espiritual autêntica. Spurgeon se referiu a isto de modo sucinto no seu famoso sermão O Parácleto: “O Espírito de Deus nunca conforta um homem no seu pecado. Cristãos desobedientes não devem esperar consolação; pois o Espírito Santo primeiro santifica, e então consola.”. E ainda são suas palavras no mesmo sermão: “Tenha medo daquele conforto que não é 49 baseado na verdade. Odeie o conforto que não vem de Cristo.” Assim, há condições para que o povo de Deus seja alvo das bênçãos do Espírito Santo prometido, que habita no coração dos crentes. Ele é designado como outro parácleto em Jo 14.16, 26, isto é, alguém que se coloca ao nosso lado para nos conduzir, ensinar, ajudar, fortificar, enfim, cumprir todo o propósito de Deus em relação a nós, mas isto se cumpre na santificação que Deus exige do seu povo. Por que o apóstolo Paulo chama a Nova Aliança de ministério do Espírito em II Cor 3.7? Certamente ele quis estabelecer um contraste entre o Antigo e o Novo Pacto, especialmente neste sentido particular. Porque se é certo que o Espírito atuava no Antigo Testamento sobre os israelitas, no entanto, ele não habitou em todos eles, como ocorre com todos os aliançados com Cristo na Nova Aliança, porque nem todos os israelitas, que eram considerados integrantes da aliança feita com Deus, por meio de promessa aos patriarcas, eram de fato pessoas de fé, e, portanto, não podiam ter o Espírito Santo em razão desta condição. Contudo, todos os crentes, na Nova Aliança, conhecem de fato a Deus, por terem esta habitação do Espírito, sendo todos participantes da mesma fé comum em Jesus Cristo. Por isso Paulo diz “ministério do Espírito” em II Cor 3.7. 50 É o Espírito Santo quem conduz todosos assuntos dos crentes e da Igreja, no que respeita aos interesses de Deus. Ele é um consolador amoroso, fiel e incansável, que nos conhece e que por nos amar e ser fiel a nós, nunca se cansa em nos ajudar e completar a boa obra que Deus começou em nós por meio por próprio Espírito, que nos regenerou em novas criaturas. Ele sempre faz os diagnósticos corretos em relação às necessidades de nossas almas, e nos ministra o medicamento adequado, capacitando-nos a viver de modo agradável a Deus e a fazer a sua vontade. Em Gên 1.2 nós vemos que O Espírito Santo pairava sobre as profundezas vazias, desérticas, sem utilidade, da terra, que se encontravam em trevas absolutas, aguardando os comandos pela Palavra do Pai para que ele, Espírito Santo, gerasse todas as coisas visíveis. Foi ele, portanto, o agente ativo da criação relatada nos primeiros capítulos de Gênesis. De igual modo, o Espírito habita nos crentes para o ato da nova criação em Cristo Jesus, transformando as profundezas do deserto vazio e inútil de suas almas num pomar espiritual no qual são produzidos preciosos frutos para Deus. Assim, a presença do Espírito Santo nos crentes não é ocasional e nem acidental, mas absolutamente essencial para entrarem no reino dos céus e serem transformados de glória em glória à imagem de Jesus. 51 Por isso ele é o outro grande Consolador enviado por Jesus, em cumprimento de uma promessa, já que Jesus é o primeiro Consolador da Igreja. O Espírito Santo é, portanto, a grande promessa da Nova Aliança feita a Abraão e aos profetas (Gál 3.14; Ez 11.19,20; 36.25-27; 37.14; 39.29; Is 4.2- 4). Os israelitas entristeciam constantemente o Espírito Santo (Is 63.10,11), que atuava entre eles. O Antigo Pacto, que era constantemente violado nas sucessivas gerações de Israel, demonstrou que de fato havia a necessidade de um Parácleto que estivesse não apenas conosco, mas habitando em nós, de modo a nos transformar e ajudar a viver o que nos é exigido por Deus (Ez 36.27; 37.14; Ag 2.5; Jo 14.17). Por isso ele foi enviado, conforme Deus havia prometido em sua Palavra, especialmente através do ministério dos profetas, para habitar em todos os crentes do Novo Pacto (Is 44.3; Joel 2.28, 29; Ez 39.29). E o Espírito Santo habitando nos crentes na Nova Aliança é um Consolador muito amoroso. Ele não consola somente por palavras, mas principalmente por ações, pois age com poder e graça transformando a nossa tristeza e dor em alegria e exultação. Ele conhece perfeitamente a nossa estrutura e age por um grande amor por nós, e por isso a sua consolação é sempre eficaz, pois não são as meras palavras de um profissional, de um 52 conselheiro humano, mas o próprio Deus habitando e operando em nós. Esta consolação do Espírito é um conforto que sempre está disponível. Os confortos do Espírito Santo não dependem de saúde, força, riqueza, posição, ou amizade; o Espírito Santo nos conforta pela verdade, e a verdade não muda. Esta consolação não significa necessariamente que sempre nos deixará alegres, mas que será o nosso amparo nos chamados períodos noturnos da nossa alma, em que somos abatidos pela correção da potente mão do Senhor, nos disciplinando, transformando e conduzindo ao arrependimento e ao crescimento espiritual. Ele nos conforta por Jesus, e ele é o "sim e amém"; então, nossos confortos podem ser plenos, quer quando estivermos desfrutando de plena saúde, quer quando doentes, quer quando em prosperidade financeira, quer quando a bolsa estiver vazia. Entretanto, sem o jugo de Jesus não é possível experimentar a consolação do Espírito Santo, que dá descanso à alma, como se lê em M 11.28- 30, e onde a conclusão do verso 30 aponta para a verdade de que sem o jugo e o fardo de Cristo, não se pode achar descanso para as nossas almas. Além disso, no verso 29, Cristo destaca o dever da atitude da mansidão e da humildade, para o mesmo propósito. É assim que os que estão cansados e oprimidos são aliviados (v. 28). 53 Assim como o jugo colocado sobre um animal, que trabalha em arar a terra, o mantém preso à tarefa que deve realizar, de igual modo, é a presença desta impulsão sobre a vontade e o nosso espírito em desejar servir a Cristo e a fazer a sua vontade, acima de qualquer outro interesse, que nos habilita a fazer de fato a obra de Deus. Caso falte o jugo, a tarefa de agradar a Deus não será cumprida. Em Mateus 11.30 Jesus ordena à Igreja que tome o seu jugo e fardo, e estas palavras são plenas de significado quanto ao mesmo dever que foi imposto aos israelitas de guardarem os mandamentos de Deus. A palavra “jugo”, no grego, é dzugós, que significa lei de obrigação, servidão, ou par de balanças que eram colocadas sobre os animais de carga. Nós encontramos esta mesma palavra grega em textos como Mt 11.29, At 15.10; II Cor 6.14, Gál 5.1, I Tim 6.1 e Apo 6.5. A palavra “fardo”, no grego, é fortíon, que significa tarefa, trabalho, dever, missão. Nós encontramos esta palavra grega também em Mt 23.4, Lc 11.46 e Gál 6.5. O nosso trabalho e dever (fortíon) para com Deus somente poderão ser cumpridos se mantivermos o jugo (dzugós) de Jesus sobre nós, e este jugo consiste naquilo que pesa sobre nós e que nos mantém dentro dos limites de nossa obrigação e dever. 54 Há um dever imposto à Igreja de pregar o evangelho, fazer discípulos e ensinar-lhes a guardarem tudo o que Jesus ordenou (Mt 28,19,20). Este é o jugo. Mas muitos não querem o jugo de Jesus, que consiste em guardar seus mandamentos, e procuram sacudi-lo do pescoço, para imporem à Igreja o seu próprio jugo, segundo o seu modo de pensar e de agir, contra as coisas que nos foram ordenadas pelo Senhor. Isto se aplica especialmente às formas de culto e de adoração, e ao nosso procedimento pessoal. O caminho estreito da salvação é o trilho no qual devemos caminhar, restringidos pelo jugo de Jesus, às coisas que são por ele ordenadas e aprovadas. Assim, nós podemos então entender porque havia tanta idolatria entre os israelitas e tantas dificuldades em viverem de modo agradável a Deus. Aquele pacto que Deus fizera com eles por meio de Moisés não era ainda o pacto do Espírito, que seria feito somente depois da morte e ressurreição de Jesus, com os israelitas de fé e todas as pessoas de fé das demais nações da terra. Mas, o Antigo Pacto, em muitos sentidos, segundo o propósito estabelecido por Deus, nos ajuda nesta nova dispensação a entender muitas coisas relacionadas à vontade de Deus, por meio de tudo o que ele nos revelou na antiga dispensação. 55 Especialmente, sobre o nosso dever de guardarmos os seus mandamentos com toda a diligência e seriedade, para que sejamos verdadeiramente prósperos em todos os sentidos que se possa considerar em relação à vontade de Deus. Depois de os israelitas terem celebrado a páscoa, e comerem do fruto da terra naquele mesmo ano, o maná cessou de cair (v.12). Enquanto eles precisaram do maná, a sabedoria e a bondade de Deus os proveu deste alimento sobrenatural, mas uma vez tendo cessado a necessidade porque poderiam agora produzir seus próprios alimentos nos territórios conquistados, a provisão do maná também cessou. Isto nos ensina a não esperar socorros extraordinários quando o que necessitamos pode ser obtido de modo ordinário. No final deste capítulo nós temos o relato maravilhoso, que nos dá conta que Josué estava no seu posto de general de Israel, quando o Senhor se fez conhecido a ele como o Generalíssimo de seu povo. O Senhor lhe apareceu como um varão de guerra, com uma espada desembainhada, e como Josué não discerniu de pronto a pessoa divina, que estava diante dele, perguntou de modo corajoso se ele havia vindo como amigo ou inimigo, pois que Josué em sua coragem e fé estaria disposto também a desembainhar a sua espada paratravar um combate com ele, mas quando seus olhos foram abertos, e seus 56 ouvidos espirituais entenderam quem era aquele que estava diante dele, especialmente quando o ouviu proferir que era o capitão do exército de Jeová, Josué lhe prestou honras e reverência devidas somente a Deus, prostrando seu rosto em terra e o adorou. E quando humildemente se dispôs a obedecer suas ordens, perguntando o que o seu Senhor tinha a dizer ao seu servo, foi-lhe ordenado que tirasse as sandálias dos pés porque o lugar em que estava era santo, e Josué assim fez (v. 13-15). É muito importante saber que esta aparição do Senhor como guerreiro e Generalíssimo tanto do exército celestial quando do de Israel teve por propósito encorajar e dar a Josué instruções específicas quanto ao que deveria ser feito para a conquista da cidade de Jericó, como veremos no capítulo seguinte a este. A palavra para príncipe, no verso 14, no hebraico, é sar, que significa o comandante em chefe, o capitão, o general, sendo que nas versões inglesas é traduzida por capitão, e assim temos “capitão do exército do Senhor”, em vez de “príncipe do exército do Senhor”. Sendo que a palavra traduzida por Senhor é vertida do hebraico YHWH, que significa Jeová, e que geralmente é traduzida por Senhor, porque os israelitas ao lerem a Bíblia não pronunciam o nome sagrado de Deus, e em seu lugar dizem Adonai, que no hebraico, significa Senhor. Assim, teríamos então: “capitão do exército de Jeová”. 57 É bem provável que o autor de Hebreus tenha retirado daqui a referência a Jesus como sendo o “capitão da salvação do seu povo” (Hb 2.10), que é também traduzido por “autor da salvação do seu povo”. Pois toda vez que Jesus se levanta com a espada afiada da sua língua, que é a sua Palavra, Ele o faz para salvar os filhos de Deus, assim como aparecera a Josué para revistar as tropas de Israel, animá-los e conduzi-los à vitória contra os seus inimigos. Jesus não é somente o autor de todo o sistema da nossa salvação (fé), como também o consumador dele (Hb 12.2), pois ele mantém o que iniciou e também o conclui. Ele não é um Salvador distante, mas sempre presente, e é por isso que deixou o Espírito Santo em seu lugar para conduzir o seu povo, quando subiu em glória aos céus, depois da sua morte e ressurreição. É nesta condição de príncipe e governante, de todo o povo de Deus, espalhado na face da terra, que a profecia de Is 55.4,5 se dirige a Jesus: “Eis que eu o dei como testemunha aos povos, como príncipe e governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu a ti correrá, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque ele te glorificou.”. O Salmo 72.10,11 se refere a Jesus como o Rei dos reis da terra: “Inclinem-se diante dele os seus adversários, e os seus inimigos lambam o pó. Paguem-lhe tributo os reis de Társis e das ilhas; 58 os reis de Sabá e de Seba ofereçam-lhe dons. Todos os reis se prostrem perante ele; todas as nações o sirvam.”. E Apo 19.16 o afirma expressamente: “No manto, sobre a sua coxa tem escrito o nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores.”. Assim, Josué reconheceu que estava debaixo do comando do Senhor, que lhe aparecera daquela forma, e tirando as sandálias de seus pés, o adorou. “1 Quando, pois, todos os reis dos amorreus que estavam ao oeste do Jordão, e todos os reis dos cananeus que estavam ao lado do mar, ouviram que o Senhor tinha secado as águas do Jordão de diante dos filhos de Israel, até que passassem, derreteu-se-lhes o coração, e não houve mais ânimo neles, por causa dos filhos de Israel. 2 Naquele tempo disse o Senhor a Josué: Faze facas de pederneira, e circuncida segunda vez aos filhos de Israel. 3 Então Josué fez facas de pederneira, e circuncidou aos filhos de Israel em Gibeáte- Haaralote. 4 Esta é a razão por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os homens, todos os homens de guerra, já haviam morrido no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egito. 5 Todos estes que saíram estavam circuncidados, mas nenhum dos que nasceram no deserto, pelo caminho, depois de terem saído do Egito, havia sido circuncidado. 59 6 Pois quarenta anos andaram os filhos de Israel pelo deserto, até se acabar toda a nação, isto é, todos os homens de guerra que saíram do Egito, e isso porque não obedeceram à voz do Senhor; aos quais o Senhor tinha jurado que não lhes havia de deixar ver a terra que, com juramento, prometera a seus pais nos daria, terra que mana leite e mel. 7 Mas em lugar deles levantou seus filhos; a estes Josué circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque não os haviam circuncidado pelo caminho. 8 E depois que foram todos circuncidados, permaneceram no seu lugar no arraial, até que sararam. 9 Disse então o Senhor a Josué: Hoje revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito; pelo que se chama aquele lugar: Gilgal, até o dia de hoje. 10 Estando, pois, os filhos de Israel acampados em Gilgal, celebraram a páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas planícies de Jericó. 11 E, ao outro dia depois da páscoa, nesse mesmo dia, comeram, do produto da terra, pães ázimos e espigas tostadas. 12 E no dia depois de terem comido do produto da terra, cessou o maná, e os filhos de Israel não o tiveram mais; porém nesse ano comeram dos produtos da terra de Canaã. 13 Ora, estando Josué perto de Jericó, levantou os olhos, e olhou; e eis que estava em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua. Chegou-se Josué a ele, e perguntou-lhe: És tu por nós, ou pelos nossos adversários? 60 14 Respondeu ele: Não; mas venho agora como príncipe do exército do Senhor. Então Josué, prostrando-se com o rosto em terra, o adorou e perguntou-lhe: Que diz meu Senhor ao seu servo? 15 Então respondeu o príncipe do exército do Senhor a Josué: Tira os sapatos dos pés, porque o lugar em que estás é santo. E Josué assim fez.” (Js 5.1-15). 61 Josué 6 Este sexto capítulo bem demonstra que aqueles que não se ajuntam a Jesus pela fé, espalham-se como a poeira que é levada pelo vento. Pois o ímpio não prevalecerá no dia do juízo. E a vida de Raabe e de sua família foi levantada como um monumento à fé no meio daquela cidade pagã, que se recusava a dar glória a Deus e a se converter de seus pecados. A Antiga Aliança teve assim também este propósito de servir de figura e ilustração do grande juízo contra aqueles que se opõem ao Senhor, no dia da volta de Jesus. Ele certamente trará os juízos que são prometidos na Bíblia, porque já o fizera por diversas vezes no passado, e ordenou que tais juízos fossem registrados nas páginas do Velho Testamento para advertência de todas as gerações da humanidade, de modo que os homens se arrependam de seus pecados e consagrem suas vidas a Deus, por meio da fé em Jesus. Todos os habitantes de Jericó, com exceção de Raabe e seus familiares, foram mortos pelo juízo determinado de Deus, para servir de advertência àqueles que se opõem ao Senhor, quanto ao que lhes sucederá se continuarem deliberadamente na posição de rejeitarem a vida eterna, que lhes está sendo oferecida gratuitamente, por meio da simples fé em Cristo. 62 A missão de Jesus, até que ele volte, não é de condenação e destruição do mundo, mas de salvação. Todavia, foi necessário que, especialmente, por amor daqueles que viveriam em dias posteriores aos dos juízos que trouxe sobre o mundo, no Antigo Testamento, que revelasse de modo muito claro que ele está irado contra aqueles que vivem no pecado, porque é Deus santo e justo, e não pode inocentar o culpado, que não se arrepender, de modo que estes poderão ser apenas salvos por meio do perdão que Deus lhes concederá por causa da justiça
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