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Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 1 Daniela Rodrigues Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 2 Daniela Rodrigues Prezado aluno, Nesta primeira unidade, apresentaremos alguns dos principais conceitos em ergonomia, suas implicações práticas, meios e formas de atuação. Você conhecerá os princípios em ergonomia e o Papel do designer em uma área de atuação tão vasta e múltipla. Conhecerá a História da ergonomia e como ela se desenvolveu, no Brasil, até os contextos mais recentes de sua prática profissional. Começaremos a aprofundar nossos estudos no campo da ergonomia sob o ponto de vista do corpo do usuário e também em uma das abordagens mais ricas da sua prática científica, a Ergonomia Física. Além disso, falaremos também sobre os princípios das relações do ser humano com outros elementos e sistemas, e como a ergonomia articula seus saberes com o contexto cultural, ambiental, social e global para otimizar a ação e realidade prática. Fatores antropológicos, ecológicos, sociais, econômicos, ergonômicos, filosóficos, geométricos, mercadológicos, psicológicos, tecnológicos e culturais, como promover o desenvolvimento sustentável em ergonomia, também será aprofundado e porquê a Ergonomia é uma área de conhecimentos tão múltipla, abrangendo um grande leque de disciplinas e saberes. Ergonomia é a ciência dedicada à interação do ser humano aos elementos e sistemas do trabalho. Tem como principais objetivos a melhoria dos processos envolvidos e a otimização das relações desenvolvidas nas relações homem x máquina x tarefa, visando o bem-estar humano e o melhor desempenho dos sistemas produtivos. A palavra Ergonomia é originária das definições gregas Ergon (trabalho) e Nomos (regras, normas) e, comumente, considera-se Ergonomia de forma mais Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 3 Daniela Rodrigues diretamente relacionada às atividades laborais. Porém, reconhece-se que uma vez que falamos de trabalho, falamos sobre atividades humanas, sobre as ações, atos, obras. Ou seja, há muita coisa envolvida aí! Ergonomia faz parte de nossa rotina diária. É a prática da funcionalidade, do conforto, do uso e da vivência, é a adequação do meio ambiente às necessidades humanas. Desde as atividades cotidianas até as grandes criações humanas, de um jeito ou de outro, tudo está relacionado à Ergonomia. Por isso, vamos considerar, também, sempre pensar em ergonomia sob dois importantes aspectos: o global e universal; e o pessoal e subjetivo, entendendo e valorizando o ser humano e suas necessidades. Vamos lá! A Ergonomia, como ciência da otimização, que busca condições e práticas em função do melhor bem-estar humano, naturalmente, deve considerar sempre, e a priori, a experiência do usuário, o ser humano envolvido. O fator humano é parte constitutiva, atuante e determinante na eficiência em ergonomia. Diversas áreas criativas, científicas, biológicas, econômicas, sociológicas, sociais e culturais estão diretamente ligadas à ergonomia. Temas como anatomia, fisiologia, biomecânica, antropometria, psicologia, comportamento humano, arquitetura, design, engenharia, desenho industrial, informática e administração fazem parte direta na missão de proporcionar ao homem mais conforto, mais segurança e mais eficiência no desempenho das mais diversas atividades. Para melhor qualidade ao usuário na execução de suas tarefas, a ergonomia busca assegurar pleno funcionamento dos aspectos físicos, biológicos e psicológicos nos processos e meios de interação com o usuário. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 4 Daniela Rodrigues Figura 1 - Interdisciplinaridade da Ergonomia. Fonte: HUBAULT (1992), modificado por VIDAL, (1998). Veja este breve vídeo explicativo sobre “O que seria a ergonomia!” Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ccaXnRQhD_U Em ergonomia, as áreas de Antropometria, Fisiologia e Biomecânica são as que fornecem as informações diretas e mensuráveis sobre as dimensões e os movimentos do corpo humano, no desempenho do trabalho e nas relações com as ferramentas e ações deste. A partir do estudo desses aspectos e suas relações com o trabalho, é possível reconhecer posturas, movimentos, esforços físicos, funcionamento de postos de https://www.youtube.com/watch?v=ccaXnRQhD_U Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 5 Daniela Rodrigues trabalho, o uso e manuseio de equipamentos e ferramentas, materiais e outros elementos que possam gerar sobrecargas, dificuldades, incômodos, prejuízos ou lesões osteomusculares no ser humano, bem como buscar evitar que estes se sucedam. A garantia da integridade mental em ergonomia se dá a partir do entendimento e de considerações sobre: 1) Processos mentais, como percepção, cognição, memorização, capacidade de concentração, raciocínio e tomada de decisão; e 2) Sobre interações entre pessoas e outras informações envolvidas em um sistema, representações e interação com sistemas, carga mental, tomada de decisões, níveis de estresse, treinamentos, etc. Para boa análise, avaliação e soluções no campo da Ergonomia Cognitiva, é importante conhecer a realidade do trabalho através do funcionamento e das disposições psicofisiológicas do trabalhador em ação. Ergonomia atua diretamente e faz grande diferença em termos de qualidade de vida, produtividade e bem-estar. Bem-estar pode ser considerado o equilíbrio entre as demandas e exigências do corpo e do espírito e também diz respeito às formas como somos e estamos no mundo, como desempenhamos nossas tarefas e desenvolvemos nossas ações e trabalhos. Da mesma forma, bem-estar também está diretamente relacionado a valores e critérios pessoais. Em ergonomia, é possível aprimorar todos esses fatores juntos! Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 6 Daniela Rodrigues É comum dizer que quem está feliz produz mais e melhor, que bons trabalhos são feitos através de bons processos e procedimentos e, até mesmo, que ambientes agradáveis favorecem ações mais agradáveis. Verdade. Produtividade e bem-estar falam todas essas línguas, traduzem todas essas ações, a partir do grau de realização e satisfação do ser. Considerar a atuação da ergonomia, como propulsora da produtividade, é abordagem atual, presente em boa parte dos ambientes de trabalho. Cuidado e atenção em temas como organização e gestão do trabalho, qualidade de vida, saúde mental, acessibilidade (de gênero, idade, necessidades especiais) se fazem cada vez mais presentes. Fatores ergonômicos refletem-se em ações, posturas e mecanismos de diferentes âmbitos, na perspectiva da garantia da produtividade, assegurando a qualidade de vida laboral do trabalhador. Espaço, ambiente e condições físicas e espaciais adequadas e favoráveis são uma dessas formas de atuação. Áreas como Medicina e Segurança do Trabalho prezam, também, em função da ergonomia, pelas boas práticas e condições de trabalho. Boas considerações e questões ergonômicas atuam em diferentes frentes e áreas de diferentes domínios, como físico, psicológico, social, coletivo, individual e até pessoal. Estas podem ser desde prezar pela ausência de dor e desconforto durante o desenvolvimento ou em função da atividade de trabalho, até a oportunidade de desenvolvimento intelectual, a garantia de mobilidade e acessibilidade, até a possibilidade de manutenção de atividades da vida cotidiana e o respeito às necessidades ou limitações individuais. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 7 Daniela Rodrigues No estudo e na prática da ergonomia, veremos frequentemente, se não quase sempre, ergonomia e design andando juntos! Afinal, são duas áreas de conhecimentoque se completam. Ergonomia é fundamental para o design, o design é extremamente importante para a ergonomia. Design, enquanto criação de determinado peça sob princípios e valores estéticos e funcionais, se apresenta em múltiplas modalidades e concepções. Conhecemos e reconhecemos a presença atual do design em diversas áreas e aplicações – design de produto, design gráfico, design cênico, web design, design de vitrines, design de moda, brand design, character design, game design, motion design, design thinking, design de interiores, design de interface, UX/ UI design. Mas qual ponto comum além do nome? Que variações todas são essas? Design é a capacidade de resolver problemas e criar novas soluções, equilibrando a simples equação “forma + conteúdo”. Seus desdobramentos são diversos, tanto quanto a variação de seus nomes e termos. Suas linguagens e necessidades, idem. Mas design é arte e expressão com um propósito, e este é o uso, a interação, a aplicação na experiência final do ser humano. “Forma e conteúdo” podem ser vistos como a experiência plástica ou estética, e a experiência funcional, o “para que serve, qual seu uso, finalidade e função”. Mas tem mais ainda, - E para quem serve? Eis a ergonomia, chegando de mão dadas com o design. A ergonomia deve estar presente em todas as etapas de desenvolvimento de determinado produto, projeto, obra. É parte imperativa, ponto inicial e ponto de apoio nos processos e na gestão do design. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 8 Daniela Rodrigues Ergonomia é a garantia para um design ser capaz de proporcionar produtos versáteis, seguros, funcionais, úteis e utilizáveis. Ao levar em conta os preceitos ergonômicos, o designer tem a possibilidade de melhorar as condições de conforto, de segurança, de uso e manuseio, desde a sua produção até as relações com públicos finais. Design e ergonomia estão presentes em nossas vidas talvez mais do que nos demos conta. Pare por alguns segundos e olhe à sua volta. Quais objetos o rodeiam? Para que servem? Servem bem? Cumprem sua função? Você está satisfeito com seu uso? Seguro e confortável com isso? Pode-se dizer que o design e a ergonomia facilitam nossa relação com o mundo. Estão intrínsecos à nossa sociedade, mas estão congruentes com as nossas necessidades nesta? Este é o ponto marcante onde o papel do designer se torna diferencial, quando bem desenvolve algo que atenda as demandas de uma situação ou de um cliente (resolução de um problema), que sirva a determinado público (usuário final), e que colabore para melhores condições de um ambiente (efetivação, funcionalidade, tempo, recursos, soluções). Duas vertentes contemporâneas em design merecem especial atenção por lidarem mais diretamente com a existência do usuário e por abraçar as necessidades deste. A primeira, o Design Thinking, uma vez que considera, em essência, a pessoa que irá usufruir de determinado produto/ projeto final. É a empatia! O ato de se colocar no lugar do outro para quem se pensa e executa o projeto. O designer pensa em soluções de forma mais focada no ser humano. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 9 Daniela Rodrigues A outra é UX/ UI Design que, já por definição, coloca a experiência do usuário como foco principal. Pesquisa, projeto, planejamento, testes, protótipos já nascem focados em atender o usuário. Tudo pensado para a experiência de uma pessoa com alguma coisa. Um exemplo interessante da boa combinação entre projeto x produto x pessoas x funcionalidade, que podemos ilustrar aqui, é o Museu Guggenhein de Nova Iorque, projeto de Frank Lloyd Wright, inaugurado em 1959. Você já foi a alguma exposição, entrou e saiu de salas e espaços, andou para lá e para cá e saiu com a sensação de não ter visto tudo? No Guggenhein, é possível chegar até o último andar do edifício de elevador, e ir descendo por suas rampas circulares, passando por seus andares e vendo todas as obras que estão expostas durante esse percurso até chegar no térreo! Bacana, né? Podemos contar de uma outra forma: na experiência do usuário (público final), o arquiteto (designer) considerou design e ergonomia (ferramentas) com maestria no projeto. Este projeto/produto contempla confortáveis e suaves rampas que atendem várias necessidades de seus visitantes, tais como plena acessibilidade, circulação eficiente e visibilidade garantida de suas obras. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 10 Daniela Rodrigues Figura 2 - Museu Guggenhein. Fonte: Guggehiem, 2020. A primeira definição de Ergonomia foi feita pelo cientista Jastrzebowski, em seu artigo intitulado Ensaios de ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza, no qual ele aponta a ergonomia como uma ciência natural, estabelecida como uma ciência do trabalho, e coloca a atividade humana relacionada nos termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação. Já se apresentam os quatros aspectos que guiam a Ergonomia como conhecemos até hoje: físico-motor, estético-sensorial, mental-intelectual e espiritual-moral. Durante a Revolução Industrial, muita coisa acontecia na organização das formas de divisão do trabalho e também das formas de interação entre pessoas x trabalho x equipamentos. Velocidade, ritmo e padronizações são conceitos dessa época, quando já se fazia necessário estudar a saúde dos trabalhadores. A ergonomia se fortaleceu como área própria de atuação multidisciplinar, se estabeleceu com maior aprovação e reconhecimento, a partir da Segunda Guerra Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 11 Daniela Rodrigues Mundial (1939-45), quando, por força das circunstâncias e necessidades, houve a união sistemática de diferentes saberes científicos – Tecnologia, Ciências Humanas e Biológicas. Foram formados grupos, trabalhos, projetos e pesquisas sob a junção interdisciplinar de saberes, com a participação de engenheiros, médicos, psicólogos, projetistas e fisiologistas, a fim de aprimorar o repertório e a atuação militar em função das características físicas e psicofisiológicas dos soldados, e melhorar ou resolver problemas operacionais. No pós-guerra, essa empreitada seguiu, mas, mais fortemente voltada para a produção civil, para a indústria e para o período de reconstrução europeu. Nessa época, começam a surgir as primeiras sociedades de pesquisa, desenvolvimento e atuação em “Fatores Humanos”. Essa corrente em ergonomia passa também a considerar o estudo das condições de trabalho, sob os novos ventos e políticas desenvolvimentistas que se instauravam. Ou seja, passou a haver uma abordagem sistêmica entre todos aspectos da atividade humana, observando os fatores humanos em toda sua essência, com a proposta de intervir positivamente também focada na otimização do trabalho. A partir dos anos 60 até os 80, em todo o mundo novas associações, pesquisas e atuações, focadas nos modos de operação homem x trabalho, crescem gradualmente. Desde então, também diferentes termos, conceitos e expressões foram e vão surgindo, como intervenção ergonômica, macroergonomia, etc. E cada vez se faz mais necessário um olhar cuidadoso e evolutivo sobre a ergonomia. Em 1959, foi fundada a International Ergonomic Association (IEA), na Suíça. A associação hoje agrega 52 países em todos os continentes e, dentre outras atividades, preocupa-se também em agregar conceitos, critérios e convenções, para melhorar questões ergonômicas próprias de cada país/associação, afiliada bem como questões universais, globais. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 12 Daniela Rodrigues Internacionalmente, a Ergonomia passou a ser definida como: “ Uma disciplina científica relacionada ao entendimentodas interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”. (International Ergonomic Association, IEA, 2000) Cabe aqui, destacar alguns pontos: 1) A definição da IEA é um conceito amplo, que coloca a ergonomia como ciência própria; 2) Como ciência própria, e de caráter transdisciplinar, é múltipla e diversificada por natureza; 3) Da mesma forma, a ergonomia tem suas metodologias próprias, diversas e diferentes entre si; e 4) Tem também seus domínios de especialização definidos - Ergonomia Física, Ergonomia Cognitiva e Ergonomia Organizacional. São válidas todas as reflexões possíveis sobre como gerir e gerar parâmetros globais que são tão próximos, similares, ou universais e, ao mesmo tempo, tão particulares e próprios! No Brasil, a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, foi fundada em 1983, e tem sede na cidade do Rio de Janeiro. Destacam-se, especialmente, às áreas de saúde, com forte abordagem ergonômica, tanto acadêmica como profissionalmente. Desde o final dos anos 80, associações de classe e instituições públicas de regulamentação e regularização de trabalho buscam estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, visando proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente, além de proposições de melhoria. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 13 Daniela Rodrigues No contexto histórico do Brasil, destaca-se a Norma Regulamentadora NR- 17, que foi promulgada em 1990, estabelecendo parâmetros para a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores. Inicialmente, voltada à proteção em atividades de serviços que envolviam o uso de computadores, a NR-17 apresentou alguns avanços ao introduzir na legislação brasileira critérios organizacionais, a fim de prevenir agravos à saúde, como os decorrentes de tarefas repetitivas e, em especial, também ao exigir a realização da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) nas empresas. A NR-17 é o instrumento regulatório frente aos mecanismos de intensificação do trabalho e se constitui em importante ferramenta para a ação do Estado na prevenção de agravos em várias categorias de trabalho. São parâmetros como conforto, saúde e desempenho eficiente estabelecidos pela legislação, com normas e regulamentações que embasam as questões mínimas para garantia e controle de boas práticas em ergonomia nas condições de trabalho, visando a produtividade, saúde, segurança e conforto na forma com que as pessoas enxergam em seu trabalho. Dentre estes, consideram-se desde condições climáticas e ambientais dos postos de trabalho, características psicofisiológicas dos trabalhadores e natureza do trabalho a ser executado, transporte e descarga de materiais, mobiliário, equipamentos, critérios mínimos para organização do trabalho, normas de produção, modos operatórios, exigências de tempo, como pausas, folgas, escalas laborais e carga-horária de trabalho, determinação do conteúdo de tempo, ritmo de trabalho, conteúdo das tarefas, critérios de iluminação dos locais de trabalho, parâmetros para mobiliário, ambiência térmica, níveis de ruído, etc. Apesar disso, a NR ainda está sob interpretação de tópicos controversos como quais atividades profissionais envolvidas, funções e situações de trabalho se enquadram, e como, nessa regulamentação, quais parâmetros mais corretos e como estabelecê-los corretamente para cada situação ou contexto, e não define qual categoria profissional pode realizar uma AET. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 14 Daniela Rodrigues Atualmente, a formação em Ergonomia no Brasil se dá ao nível de especialização, pós-graduação Lato Sensu. De acordo com a IEA, os programas dos cursos devem incluir conhecimentos básicos dos princípios fundamentais em Ergonomia, com disciplinas como Psicologia, Anatomia e Fisiologia, Organização do Trabalho, Design, Métodos de Avaliação e Tecnologia da Informação. A ergonomia vem ganhando cada vez mais espaço nas empresas como uma abordagem estratégica de prevenção, com mais força e vigor do que como estratégia de adequação, recuperação ou manutenção. Isso se dá graças a um maior grau de desenvolvimento empresarial com olhos abertos para os diferentes fatores envolvidos em si. É a máxima do “prevenir é melhor que remediar”, reinando junto com a consciência sobre projeto e planejamento que se expandiu na última década. Leva-se em conta com isso também que, à medida que os empresários reconhecem que muito se gasta com indenizações, afastamentos médicos, rotatividade de funcionários e perdas de produtividade, também encontraram, na ergonomia, uma busca em melhorar o trabalho como forma a reduzir esses custos e melhorar o desempenho estratégico da empresa. Ainda assim, há também crescente demanda de empresas que reconhecem que a satisfação e a qualidade de vida dos funcionários, boa parte em função de implementações ergonômicas no ambiente de trabalho, são ponto importante, tanto quanto ou mais, não apenas para preservar a saúde das pessoas, mas também para assegurar a saúde do próprio negócio. Essa mudança de paradigma é fundamental para a sociedade contemporânea, para fazer uma real construção social no mundo do trabalho, onde as pessoas sejam mais valorizadas e não apenas os processos. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 15 Daniela Rodrigues Contemplando as três grandes áreas que dão suporte à ergonomia – antropometria, biomecânica e fisiologia – é o estudo de meios e formas que o homem, através de seu corpo, empenha para desenvolver suas tarefas. Sua aplicação sobre as condições de trabalho visa aprimorar o conforto, a prevenção de doenças ocupacionais e de acidentes de trabalho, além de primar pela eficiência e qualidade de vida e condições laborais do homem. É a área responsável por estudos que vão desde a postura humana, o manuseio de materiais e equipamentos, até a repetição de movimentos e possíveis distúrbios por eles causados. A ergonomia física classifica biotipos e, a partir deles, desenvolve máquinas e ferramentas que permitem maior e melhor desempenho de e para o trabalhador. A antropometria trata das medidas físicas do corpo humano, aplica as leis físicas à mecânica do corpo. Em ergonomia, a importância das medidas ganhou impulso no século passado, a partir das considerações sobre dimensionamento de peças em função da possibilidade de produção em massa e, consequentemente, a economia de materiais e de despesas e custos. Ressalta-se também o planejamento, a partir do dimensionamento humano em estudos e ações, que analisam como as leis físicas interagem no corpo no ambiente de trabalho, visando melhores performances. Muitas vezes, também se consideram as medidas antropométricas de determinada população como subsídio para projetos que atendam certas Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 16 Daniela Rodrigues características dos usuários. Outras vezes também, essas medidas são determinadas pela média e desvio “padrão”. Na normatização brasileira, há uma faixa de padronização de medidas entre a mínima de 5% e máxima de 95%. Não dá para projetar uma cadeira que atenda a todos, então, por exemplo, o design de uma cadeira pode ter altura que atende 95% da população e 5% com altura menor para atender idosos. Dentre as mais usuais aplicações das medidas antropométricas em ergonomia, está o dimensionamento de mobiliário e o de espaços de trabalho. Neste, necessário sempre considerar os movimentos requeridos pelo trabalho e as medidasnecessárias para ser possível realizá-los, respeitando suas zonas de alcance e a visualização da tarefa. Além, claro, as dimensões corporais estáticas e, também em movimento. Em ambientes e situações de trabalho, há ainda notável preocupação com a postura, com movimentos repetitivos e em tarefas com carga manual – fatores cada vez mais salientados para evitar estresses desnecessários, vícios de uso e de aplicação, lesões e até acidentes. Como medidas e recomendações usuais, há a adoção de mobiliário adequado ou planejado, de acessórios ergonomicamente funcionais, como suporte para os pés e apoio de punho. Em linhas gerais, a antropometria considera as medidas do homem, lida com as respostas do corpo humano às cargas física e psicológica. Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 17 Daniela Rodrigues Figura 3 - Posições corretas e incorretas na ergonomia. Fonte: Youtube, 2020. É o ramo da biologia que se ocupa da aplicação das leis físicas da mecânica às estruturas do corpo humano e seus movimentos, em especial ao sistema locomotor do corpo humano. A biomecânica estuda a ação de forças físicas sobre o corpo humano – notadamente, nos ossos, músculos e articulações. É difícil precisar historicamente sua atuação, pois há indicativos de trabalhos que tenham sido desenvolvidos na área desde registros de pesquisa de Galileu Galilei, Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 18 Daniela Rodrigues Leonardo da Vinci e Borelli, até observações e menções do interesse por parte dos filósofos gregos antigos – notadamente Sócrates e Aristóteles. Nos últimos séculos, porém, é inegável a grande abrangência desta ciência, desde a era das locomoções até o exponencial crescimento, a partir do século XX. Em ergonomia, produtos e postos de trabalho costumam ser os piores vilões sobre o corpo humano, trazendo prejuízos ao desempenho do trabalho e do trabalhador. A biomecânica atenta que os principais fatores de risco sob aspectos biomecânicos do trabalho são decorrentes das forças aplicadas sobre o corpo humano, a repetitividade de movimentos, compressões mecânicas e posturas incorretas. Preventivamente, medidas ergonômicas sugerem atenção às posturas certas e erradas, intervalos entre movimentos repetitivos, revezamento entre posições neutras e de movimentação das articulações, evitar movimentos bruscos e ginástica laboral. A Fisiologia é o estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas (nervoso, muscular, endócrino, cardiovascular, respiratório, digestório e urinário), bem como suas interações entre si e com o meio ambiente. Aborda assuntos correlatos à nutrição, circulação, respiração, excreção, aos sistemas de integração e de suporte dos movimentos corporais, controle imunitário e reprodução, ao longo de sua história. Resumidamente, a Fisiologia estima demandas energéticas, como o corpo responde aos gastos energéticos, aos fluxos de empenho de energia. Em ergonomia, trata-se da linha de estudo que permite calcular e oferecer níveis adequados de gastos energéticos para determinado ambiente ou função de Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 19 Daniela Rodrigues trabalho. Consideram-se limites estimados, mínimos ou extremos, tabelas de referência para aplicação de metodologias de cálculo e de quantificação como suporte para a ergonomia adequar balizas energéticas e aprimorar ajustes nos ambientes de trabalho. Levantamentos ergométricos, em fisiologia, são capazes de apontar excessos e sobrecargas, como, por exemplo, em situações que o trabalho demanda movimentos humanos constantes – andar, subir e descer, pedalar, etc. Da mesma forma, aponta dados e informações para a redução de esforços, compensação ou equilíbrio, como pausas ou intervalos regulares, movimentos orientados, ginástica laboral. Em ergonomia, o conhecimento de fisiologia corrobora para a melhoria da qualidade de vida e para a maior longevidade do ser humano. Parabéns! Chegamos ao fim da unidade 1, na qual falamos sobre o ser humano e suas relações com o meio em que insere, e sobre meios e formas que este desenvolve e desempenha seus trabalhos e suas ações, falamos mesmo sobre muita coisa! Vimos a ergonomia sob a necessidade de um enfoque sistêmico para ser possível dar conta dos seus vários campos de ação. E levamos em consideração o aprimoramento das relações do homem ao meio em que se insere - físico, espacial, psicológico e até emocional. Na próxima unidade, aprofundaremos nossos estudos em Ergonomia Cognitiva e Organizacional, e também conheceremos melhor os critérios e contextos de usabilidade em ergonomia. Portanto, nessa unidade foi possível compreender a ergonomia sobre os seguintes aspectos: Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 20 Daniela Rodrigues Seus valores contemporâneos implicados no campo dos estudos ergonômicos; A atuação profissional do designer em relação à ergonomia; Conhecer o surgimento do campo da ergonomia e as transformações de seus paradigmas histórica e socialmente; e Compreender o campo da ergonomia sob o ponto de vista do corpo do usuário. ABRAHÃO, Júlia; SZNELWAR, Laerte; SILVINO, Alexandre; SARMET, Maurício; PINHO, Diana. Introdução à Ergonomia da prática à teoria. São Paulo: Blucher, 2009. CORRÊA, V. M.; BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. 144 p. MARTINS, E. ; PIZARRO, C. V. ; SILVA, J. C. P. ; PASCHOARELLI, L. C. O papel do designer contemporâneo a partir das contribuicções europeias na formação profissional. Arcos Design. Rio de Janeiro: PPD ESDI - UERJ. Volume 7 Número 1 Junho 2013. pp. 138-156. Disponível em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/ arcosdesign> PASCHOARELLI, Luís Carlos (Org) Evolução histórica da ergonomia no mundo e seus pioneiros [e-book]. São Paulo: SciELO - Editora UNESP, 1 de jan de 2010. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=47R3Q2Khg2kC&dq=Evolu%C3%A7%C3% A3o+hist%C3%B3rica+da+ergonomia+no+mundo+e+seus+pioneiros&hl=pt- BR&source=gbs_navlinks_s ULBRICHT, Vania Ribas; FADEL, Luciane Maria; BATISTA, Claudia Regina. Design para acessibilidade e inclusão. São Paulo: Blucher, 2017. https://books.google.com.br/books?id=47R3Q2Khg2kC&dq=Evolu%C3%A7%C3%A3o+hist%C3%B3rica+da+ergonomia+no+mundo+e+seus+pioneiros&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s https://books.google.com.br/books?id=47R3Q2Khg2kC&dq=Evolu%C3%A7%C3%A3o+hist%C3%B3rica+da+ergonomia+no+mundo+e+seus+pioneiros&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s https://books.google.com.br/books?id=47R3Q2Khg2kC&dq=Evolu%C3%A7%C3%A3o+hist%C3%B3rica+da+ergonomia+no+mundo+e+seus+pioneiros&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 21 Daniela Rodrigues VIDAL, Mario Cesar et al. Introdução à ergonomia. Apostila do Curso de Especialização em Ergonomia Contemporânea/ CESERG. Rio de Janeiro: COPPE/GENTE/UFRJ, 2011. Vídeos: O que é ergonomia? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ccaXnRQhD_U. Acesso em 30/01/2020. Ergonomia e Design. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=A6VUW- EqOSA Acesso em 30/01/2020. Animação Ergonomia en el Trabajo. Disponível em: < https://youtube/a5pXLcGkvjY> . Acesso em 30/01/2020. Animação Ergonomia no uso do computador. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zOqjKU4qcJY&feature=youtu.be>. Acesso em 30/01/2020. Filme: Tempos Modernos e a ergonomia. Disponível em: <https://youtube/FpdtN- 9NdMc> Acesso em 30/01/2020. Vídeo: Isto é Matemática T04E11. A Angústia dos Percentis. Disponível em: <https://youtube/u4wMrVL_YsM> Acesso em 30/01/2020. JUNIOR, Moacir Pereira. Domínios da ergonomiae áreas de estudo. 2018. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=7GZzB6VH4ek&t=202s>. Acesso em 30/01/2020. JUNIOR, Moacir Pereira. Ergonomia Física: Biomecânica, Fisiologia e Antropometria. 2018. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=NEFkgzBApJk>. Acesso em 30/01/2020. https://www.youtube.com/watch?v=ccaXnRQhD_U https://www.youtube.com/watch?v=A6VUW-EqOSA https://www.youtube.com/watch?v=A6VUW-EqOSA https://youtube/a5pXLcGkvjY https://www.youtube.com/watch?v=zOqjKU4qcJY&feature=youtu.be https://youtube/FpdtN-9NdMc https://youtube/FpdtN-9NdMc https://www.youtube.com/watch?v=u4wMrVL_YsM https://youtube/u4wMrVL_YsM https://www.youtube.com/watch?v=7GZzB6VH4ek&t=202s https://www.youtube.com/watch?v=NEFkgzBApJk Ergonomia visual - Unidade 1 - Entendendo a ergonomia 22 Daniela Rodrigues JUNIOR, Moacir Pereira. História, conceitos e aplicabilidade. 2018. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=6P6If4NS3eQ>. Acesso em 30/01/2020. Links: Associação Brasileira de Ergonomia | ABERGO. Disponível em: http://www.abergo.org.br Acesso em 30/01/2020. International Ergonomic Association (IEA). Disponível em: https://www.iea.cc/index.php. Acesso em 30/01/2020. Museu de Ciências da Vida | Universidade Federal do Espírito Santo Disponível em: http://www.mcv.ufes.br/fisiologia. Acesso em 30/01/2020. Referências Imagéticas: Figura 1. Interdisciplinaridade da Ergonomia (Hubault 1992, modificado por VIDAL, 1998). Figura 2. Museu Guggenheim. Fonte: Guggenheim. Disponível em: https://www.guggenheim.org/history. Acesso em 30/01/2020. Figuras 3. 4. 5. e 6. Posições corretas e incorretas na ergonomia. Fonte: Youtube Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zOqjKU4qcJY&feature=youtu.be> . Acesso em 30/01/2020. https://www.youtube.com/watch?v=6P6If4NS3eQ http://www.abergo.org.br/ https://www.iea.cc/index.php http://www.mcv.ufes.br/fisiologia.%20Acesso%20em%2030/01/2020 https://www.guggenheim.org/history https://www.youtube.com/watch?v=zOqjKU4qcJY&feature=youtu.be
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