Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prevenção e Combate a Incêndio 12.1 Introdução Desde os primórdios do surgimento do homem, até́ hoje em dia, o fogo sempre foi motivo de fascinação, curiosidade e temor em nossa sociedade. Fenômeno natural descoberto por nossos ancestrais, o fogo tem a finalidade de atender necessidades básicas do ser humano (cozimento de alimentos, aquecedor natural de ambiente etc.) até́ atividades de desenvolvimento do mundo moderno, sejam nas áreas industriais de bens de consumo ou em instrumento bélico. Para o devido aproveitamento dos benefícios concretos que o fogo pode oferecer, é importante observar também os riscos que podem ocorrer quando não se conhecem os potenciais perigos, características e seus efeitos em nosso habitat. Quando não há um mínimo de conhecimento na prevenção e na manipulação desse recurso natural, as chamas do fogo podem sair de controle, ocasionando o evento adverso chamado incêndio. Por isso é necessário adquirir orientações seguras para a não ocorrência desse tipo de sinistro, seja na etapa de prevenção com o aparelhamento de equipamentos indicadores e procedimentos de segurança, seja no combate do incêndio propriamente dito em sua fase inicial, estudando os melhores meios de sua extinção dentro das normas técnicas disponíveis, visando evitar o máximo possível de danos ao patrimônio, mas principalmente res- guardar o maior bem universal que é a vida. 12.2 Teoria do Fogo O fogo é um processo de transformação chamado combustão, em que materiais ou substâncias combustíveis sofrem reação química de oxidação de suas propriedades, com liberação de gases, fumaça, calor e luz. A quantidade de calor em combinação com o oxigênio será́ determinante para iniciar o processo de combustão, dando condições ao fogo para autossustentar-se. 12.3 Tetraedro do Fogo Os elementos necessários para o surgimento do fogo são combustível, comburente, calor e reação em cadeia, FIGURA 12.1. Esses quatro elementos dispostos de forma conjunta constituem o Tetraedro do Fogo, e são responsáveis pela origem do processo de combustão. As particularidades de cada elemento do tetraedro e suas funções básicas nessa reação química são as seguintes: a. Combustível: é todo material em seu estado sólido, líquido ou gasoso com capacidade para queimar e assim alimentar a combustão; cada material combustível deve ser analisado, para verificar o seu potencial de periculosidade e velocidade em um incêndio. A quantidade de oxigênio e sua capacidade de reagir com o combustível podem acelerar a queima mediante a ação do calor (gasolina, álcool e acetona), assim como se o material combustível também estiver em fragmentos menores. O tipo de material também determina a periculosidade que ele pode oferecer; exemplo: incêndio causado pela explosão de materiais pirotécnicos. b. Comburente: é o elemento que possibilita vida às chamas, através do consumo do oxigênio no ambiente. A atmosfera é composta de 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio e 1% de outros gases, e quando há́ uma queda da quantidade desse comburente, ocorre uma diminuição no processo de queima dos combustíveis, ou seja, em vez de exposição de chamas, verifica-se a visualização de brasas, em uma etapa de decomposição química da matéria ou substâncias de forma mais lenta. c. Calor: é uma forma de energia na qual as moléculas aumentam sua velocidade e vibração, com completa expansão, ou seja, na sua totalidade máxima, em um determinado material ou substância através de um processo físico ou químico, elevando assim sua temperatura ou sua variação. A presença do calor é importante, pois vai ocorrendo mudança nas propriedades do combustível que está́ exposto, e combinado com o oxigênio leva à combustão. Mas para isso há́ necessidade de uma exposição contínua dos combustíveis para alcançar uma temperatura que autossustente o fogo, sendo os pontos de temperatura, em suas três fases: Ponto de fulgor: é a temperatura mínima que o combustível alcança para começar a liberar vapores, porém as chamas não ocorrem devido à pequena quantidade desses vapores e à ausência de fonte externa de calor. Ponto de combustão: é quando os gases desprendidos dos combustíveis são alimentados por uma fonte externa de calor, ocorrendo assim a queima, e o processo da combustão não é interrompido mesmo se não houver mais o auxílio da fonte de calor que o iniciou. Ponto de ignição: o combustível exposto no ar alcança seu estágio de inflamabilidade máxima para queima total e contínua, sem necessidade de qualquer fonte externa de calor. d. Reação em cadeia: finalmente, nesse processo, a combustão libera de forma intermitente mais calor por meio das chamas, atingindo os combustíveis originados dessa queima contínua, que são os gases inflamáveis, fumaça e partículas menores, os quais, combinados com o oxigênio no ambiente, inflamam-se e queimam, portanto haverá́ mais radiação de calor e assim sucessivamente, formando um ciclo constante. 12.4 Norma Regulamentadora 23 A Norma Regulamentadora 23 (Prevenção contra Incêndios) trata da obrigatoriedade dos empregadores em adotar as medidas adequadas de prevenção contra incêndios, determinando os principais pontos a serem observados para o cumprimento dos aspectos legais; sem especificar, porém, as instruções técnicas e outras diretrizes como era, o que deixou o texto mais reduzido e superficial. Sendo assim, a liberação das instruções técnicas fica sob o encargo do Corpo de Bombeiros e das legislações locais, o que não configura uma novidade, uma vez que a própria NR 23 sempre foi fundamentada nas principais normas técnicas nacionais e internacionais de prevenção contra incêndios; a diferença é que agora os profissionais de segurança do trabalho devem consultar diretamente os especialistas em questão. A nova redação dada pela Portaria SIT no 221, de 6 de maio de 2011, determina: 23.1 Todos os empregadores devem adotar medidas de prevenção de incêndios, em conformidade com a legislação estadual e as normas técnicas aplicáveis. 23.1.1 O empregador deve providenciar para todos os trabalhadores informações sobre: a) Utilização dos equipamentos de combate ao incêndio; b) Procedimentos para evacuação dos locais de trabalho com segurança; c) Dispositivos de alarme existentes. 23.2 os locais de trabalho devem dispor de saídas, em número suficiente e dispostas de modo que aqueles que se encontrem nesses locais possam abandoná-los com rapidez e segurança, em caso de emergência. 23.3 as aberturas, saídas e vias de passagem devem ser claramente assinaladas por meio de placas ou sinais luminosos, indicando a direção da saída. 23.4. Nenhuma saída de emergência deve ser trancada à chave durante a jornada de trabalho. 23.5. As saídas de emergência podem ser equipadas com dispositivos de travamento que permitam fácil destravamento e abertura do interior do estabelecimento. 12.4.1 Classes de Incêndio A classificação de incêndio tem como finalidade avaliar a periculosidade dos materiais envolvidos em possíveis ocorrências de incêndios e suas propriedades, e com isso utilizar o agente extintor adequado em seu combate, conforme as particularidades específicas de cada sinistro. Essa classificação foi elaborada pela NFPA (National Fire Protection Association, EUA) e é aceita internacionalmente pelos Corpos de Bombeiros, inclusive nas corporações do Brasil e nas instruções técnicas vigente do país, sendo as quais: A. Classe A: são materiais de fácil combustão com a propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixam resíduos, como: tecidos, madeira, papel, fibra etc. B. Classe B: são considerados inflamáveis os produtos que queimem somente em sua superfície, não deixando resíduos, como óleos, graxas, vernizes, tintas, gasolina etc. C. Classe C: quando ocorrem em equipamentos elétricos energizados como motores, transformadores, quadros de distribuição, fios etc. D. Classe D: elementos pirofóricoscomo magnésio, zircônio, titânio. Nota Apesar de pouco divulgadas, existem mais duas classes de incêndio reconhecidas internacionalmente no combate a dois tipos de incêndios específicos: Classe E: que trata de fogo em materiais radioativos e nucleares. Classe K: que trata de fogo em cozinhas industriais e similares (banha, gordura e óleo). 12.4.2 Métodos de Extinção de Incêndios Para a inibição do princípio de chamas, que durante sua propagação descontrolada não atinja o estágio de um incêndio generalizado em todo o ambiente, deve-se utilizar métodos e equipamentos adequados para a extinção do fogo. Sendo assim, é importante anular um ou mais dos elementos que compõem o Tetraedro do Fogo, “quebrando” o ciclo de alimentação do fogo. O procedimento correto para a interrupção desse ciclo constante é a utilização dos métodos de extinção de incêndio, adotando agentes extintores adequados, obedecendo às características de cada classe de incêndio e deste modo, oferecer um combate com maior eficiência e sem riscos adicionais ao combatente na hora da ocorrência. São métodos eficientes para a extinção do fogo: Isolamento: trata-se da retirada do material combustível que ainda não foi atingido, evitando assim o aumento da área incendiada. Resfriamento: consiste na retirada do calor do material combustível, diminuindo sua temperatura com a utilização de água. Abafamento: é a retirada do comburente (oxigênio), eliminando o elemento que intensifica a propagação do fogo, utilizando agentes extintores de origens naturais (areia/ terra) ou químicas (bicarbonato de sódio, sulfato de alumínio, grafite em pó etc.). Quebra da reação em cadeia: consiste na interrupção da reação em cadeia, bloqueando o seu ciclo contínuo diretamente na área das chamas, com agentes extintores que reajam ao contato com o fogo e eliminem o comburente. 12.4.3 Extintores de Incêndio A melhor opção para o combate de princípios de incêndio são os extintores portáteis, ou sobre rodas, e têm como finalidade extinguir pequenos focos em ambientes pequenos ou outras situações em que o fogo não saiu do controle, porém deve ser utilizado com agilidade e manuseio correto, pois suas cargas são suficientes para ocorrências rápidas e podem esvaziar em pouco tempo. Como qualquer equipamento de segurança, os extintores só́ devem ser utilizados se obedecerem às normas brasileiras ou aos regulamentos técnicos do Instituto Nacional de Me- trologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO). Além disso, para o melhor aproveitamento dos extintores em situações de emergência, é preciso observar as diretrizes de instruções técnicas e normas vigentes em relação ao seu uso e acondicionamento no dia a dia, como, por exemplo: Ficha de controle de inspeção individual; Inspeção do aspecto externo de cada extintor para verificação de avarias; Operações de recarga, pressurização e pesagem de acordo com a classe de incêndio específica do extintor e conforme as normas técnicas oficiais; Com etiquetas, rótulos, lacres, registros e selos de garantia protegidos para a conservação dos dados dos extintores; Localizados e sinalizados de forma que garanta fácil visualização e acesso; Que atendam em quantidade suficiente aos estabelecimentos, pavimentos e outros, verificando também a capacidade de carga e a classe de incêndio, seguindo os critérios técnicos estabelecidos nas Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho, Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros e outras normas técnicas vigentes. 12.4.4 Tipos de Extintores Portáteis São classificados os extintores de incêndios e suas aplicações de acordo com a classe de fogo a extinguir, da seguinte forma: A. Extintor de espuma: usado nos fogos das Classes A e B (abafamento e resfriamento). B. Extintor de gás carbônico (CO2): indicado nos fogos das Classes B e C, e na Classe A em seu início (abafamento). C. Extintor de pó́ químico seco: usado nos fogos das Classes B e C (abafamento). D. Extintor de água pressurizada: indicado em fogos da Classe A (resfriamento). Importante Os fogos de Classe D requerem um extintor com pó́ químico específico para o material em combustão, mas na ausência deste, poderão ser utilizados, em alguns casos, os extintores PQS ou CO2. Incêndios em Classe E: em quaisquer procedimentos de segurança relativos a mate- riais radioativos e nucleares devem ser verificadas as normas técnicas específicas da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Incêndios em Classe K: ainda não há normatização específica no país para consulta. 12.5 Sistemas de Alarmes Em qualquer ocorrência que possa causar algum evento adverso, que venha colocar em risco o patrimônio, o meio ambiente e, principalmente, a vida humana, devem ser adotados procedimentos técnicos de prevenção. Em relação à proteção contra incêndios não poderia ser diferente, e a utilização de um sistema provido de alarmes e detecção de incêndios é importante para uma antecipação do surgimento desses sinistros. Para a maior eficiência em um trabalho preventivo, nesse aspecto, é necessária a implantação de equipamentos que atendam as principais normas, instruções técnicas e legislações vigentes para se obter um aparelhamento de segurança de forma criteriosa e ampla, que alcance todo o ambiente a ser protegido. Um sistema de alarme e detecção de incêndio, dependendo do porte físico da área a ser instalada, deve conter: Detectores térmicos, de fumaça e gases; Alarmes de emergência; Dispositivos de pronta resposta; Central de alarme (controle e supervisão). 12.5.1 Tipos de Detectores de Incêndio Detectores de incêndio são dispositivos de segurança com a finalidade de registrar e analisar a presença ou variação de fenômenos físicos (calor) ou químicos (GLP, gases inflamáveis etc.), transmitindo essas informações a uma central de controle e acionando outros dispositivos de segurança. Os principais detectores de incêndio são: a. Detectores de temperatura: quando há alteração de temperatura no ambiente, ultrapassando um valor preestabelecido. Podem ser classificados como: Detectores térmicos: detectam a ultrapassagem de temperaturas predetermina- das em áreas que indiquem de forma convicta o princípio de incêndio. Detectores termovelocimétricos: detectam a elevação rápida da temperatura em ambientes com presença de calor, fumaça e gases e que poderiam indicar falsamente os princípios de incêndios em locais como saunas e cozinhas industriais, FIGURA 12.5. Detectores lineares: detectam variações de temperatura por meio de cabos com pequenos sensores, e são indicados para grandes áreas e longas distâncias como túneis de metrô, linhas de gás e refinarias. b. Detectores de fumaça: são dispositivos para detecção de fumaça, gases e partículas, e são classificados como: Detectores iônicos: são dispositivos que detectam gases ou partículas, visíveis ou não, ainda na fase de pré-combustão, antes que se inflamem e se transformem em chamas. Detectores óticos: detectam sinais visíveis, indicando a presença de fumaça. Detectores por aspiração: detectam partículas de fumaça suspensas no ar em pré-combustão, as quais são aspiradas através de dutos para uma câmara sensível, onde são analisadas suas variações de temperatura. c. Chuveiros automáticos (sprinklers): são detectores providos de bico com ampola que se estilhaçam a uma temperatura preestabelecida. Ao detectarem elevação de temperatura e/ou presença de fumaça e gases, liberam água pressurizada canalizada e iniciam o combate ao fogo. 12.5.2 Acionadores Manuais Acionadores manuais são alarmes que devem ser utilizados com a finalidade de aviso de emergência para a população de uma determinada área, na ocorrência de um sinistro de grande porte e que venha oferecer risco iminente a todos, necessitando assim de rápida retirada para um local seguro.Seu acionamento depende de ação humana e serve como aviso nos mais variados desastres (incêndios, inundações, perigo de desabamentos etc.), por isso deve ser utilizado em casos de máxima urgência ou em exercícios simulados de plano de abandono. Conforme as orientações dos requerimentos legais, os acionadores manuais devem obedecer à seguinte padronização: Ser instalados em áreas com grande trânsito de pessoas (corredores, saídas principais, áreas de lazer etc.); Possuir dispositivo que impeça o acionamento acidental; Ser instalados em locais visíveis; Os botões acionadores devem estar acondicionados em caixas lacradas, com tampa de vidro ou plástico quebrável e pintados nas cores padronizadas (geralmente vermelho); A caixa deve conter a inscrição “Quebrar em caso de emergência”. 12.5.3 Alarmes Todos os detectores de incêndio, chuveiros automáticos e acionadores manuais devem ser instalados em número suficiente e que atenda as necessidades das áreas a serem protegidas. As campainhas devem emitir som e tonalidade diferentes dos estabelecimentos, pavimentos ou edificações locais, para distinguir de alarmes sonoros destinados para outros fins. 12.5.4 Central de Alarme Todos os dispositivos de detecção de incêndio e alarmes devem estar conectados a uma central de alarme. Figura 12.6, em local seguro, de preferência em setores afastados do prédio principal, como portarias ou em áreas com pouca probabilidade de serem atingidas por um incêndio ou outros sinistros de grande porte. Dependendo do porte das instalações físicas do empreendimento e do grau de risco, é importante que essa central tenha interligação com outros dispositivos de segurança para controle e supervisão, como: Verificação dos níveis das caixas-d’água; Pressurização das linhas de hidrantes e chuveiros sprinklers; Desenergização de áreas e setores; Monitoramento de todas as áreas, inclusive saídas de emergência, escadarias e portas corta-fogo; Sistema de comunicação direta com o Corpo de Bombeiros e a brigada de incêndio. 12.6 Riscos de Explosões Outra preocupação são os incêndios causados por explosões provenientes de armazenamento inadequado de produtos perigosos. É de suma importância o conhecimento das características e dos perigos de produtos utilizados nas dependências específicas de cada área de atuação (como os setores produtivos), para servir como parâmetro na adoção de medidas de prevenção, emergência e treinamento. Quaisquer procedimentos de prevenção devem ser baseados em medidas técnicas, elaboradas por profissionais com conhecimento em segurança do trabalho, prevenção em combate a incêndios, profissionais da área ambiental e outros que estejam familiarizados com as normas técnicas vigentes quanto ao assunto em questão, como: Normas regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho; Normas brasileiras da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas); Instruções técnicas dos Corpos de Bombeiros; Legislações ambientais; E outras leis e normas regulamentadas. 12.6.1 GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) O GLP ou gás de cozinha, como é mais popularmente conhecido, é um líquido inflamável derivado do petróleo, confinado sob pressão em recipiente metálico (botijão). Esse material é composto por propano e butano, não é tóxico, é asfixiante, mais pesado que o ar e inodoro (seu cheiro é devido a um produto chamado “mercaptan” que é adicionado ao GLP). Em áreas industriais e edificações residenciais é obrigatório seu armazenamento em locais externos (baterias de gás) com fornecimento canalizado. É importante a instalação de detectores desses gases em cozinhas industriais, refinarias e outros que se façam necessários para a inibição de vazamentos, e no caso de residências particulares, onde o histórico de acidentes é muito alto e geralmente os botijões encontram-se em locais confinados, são necessários alguns cuidados em caso de vazamentos: Nunca acionar interruptores de luz; Abrir portas e janelas; Fazer ventilação manual; Isolar a área e acionar o Corpo de Bombeiros. 12.7 Características do Incêndio O fogo, apesar de ser um fenômeno natural, age com particularidades que dão a impressão de agir por vontade própria, como se tivesse vida, mas trata-se de uma reação química oxidante de alta destruição, que deve ser estudada para evitar desastres sem proporções e para combatê-la de forma a diminuir danos à comunidade, ao patrimônio e ao meio ambiente. Como o incêndio se comporta em ambientes fechados, se locomove e é influencia- do por agentes externos, é de vital importância adotar procedimentos corretos no combate para resguardar a segurança física dos brigadistas e do Corpo de Bombeiros. 12.7.1 Propagação do Fogo Um incêndio em um local pode se estender de forma contínua e progressiva para outros setores, pavimentos e edificações vizinhas através do calor, propagando-se de três diferentes maneiras: a. Convecção: é a transferência de calor através de camadas de ar quente (gases) de forma ascendente (subida). b. Condução: é a transferência de calor, de molécula a molécula, multiplicando-se em um mesmo corpo sólido, aquecendo-o em toda a sua extensão. c. Irradiação: é a transferência de calor através de ondas caloríficas, irradiando em todas as direções, possibilitando o surgimento de focos no que estiver ao redor. 12.7.2 Desenvolvimento do Fogo Existem situações em que o fogo não é detectado em virtude da ausência de pessoas na área atingida, e nessas condições o incêndio aumentará, causando danos ao patrimônio e oferecendo mais riscos no combate. Na fase inicial, existe oxigênio suficiente para a alimentação do fogo, que vai se intensificando com o decorrer do tempo, e o calor presente vai elevando a temperatura ambiente e aquecendo os combustíveis. 12.7.3 Flash Over Conforme o processo de queima tem prosseguimento, a quantidade de oxigênio diminui e o fogo vai produzindo dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO) e outros gases, e o aquecimento vai ocorrendo de forma generalizada até todos os materiais combustíveis atingirem seu ponto de ignição e queimarem de forma instantânea e simultânea, aumentando a pressão in- terna do local. Essa queima de todos os combustíveis simultaneamente é chamada Flash Over. Figura 12.10. 12.7.4 Backdraft A combustão incompleta é um processo em que há queima lenta de partículas combustíveis presentes no ambiente, com a diferença de que não há mais oxigênio que possa alimentar as chamas, predominando brasas e altíssima temperatura sob pressão interna; os gases e as partículas combustíveis incendiam-se imediatamente se houver entrada repentina e abrupta de oxigênio, causando uma explosão ambiental, ou o fenômeno chamado Backdraft. Entre outros meios de reconhecer uma situação de Backdraft, pode-se verificar de forma preventiva: Fumaça sob pressão no ambiente fechado; Saída pequena de fumaça, em forma de lufadas; Janelas impregnadas de fumaça; Calor excessivo e pouco ruído; Movimento do ar para o interior do ambiente, com ruído de assovio ao passar pelas frestas. Figura 12.6. O procedimento correto para evitar uma explosão ambiental por Backdraft é a entrada do ar através de ventilação adequada, controlada e dosada, além de providenciar a saída das camadas de ar quente que se encontram nas partes superiores do ambiente, trabalho que requer o auxílio especializado do Corpo de Bombeiros, o qual, usando técnicas apropriadas para esse tipo de ocorrência, dispersa a fumaça, os gases e outros produtos de combustão por meio de aberturas em telhados e outros pontos altos disponíveis da edificação, pavimento, estabelecimento etc. 12.8 Brigada de Incêndio O incêndio é um evento de emergência. Se não houver uma preparação do contingente de pessoas envolvido no combate ao fogo, pode gerar pânico e, consequentemente, mais vítimas, o que pode serevitado com os exercícios de alerta, para que não ocorram danos maiores por falta de conhecimento técnico e operacional do fogo, seus equipamentos de combate e rotas de fugas. É necessário o apoio de pessoas treinadas para exercer a função de controlar a situação e ditar comandos e orientações, até a chegada do Corpo de Bombeiros. Por isso, é importante a implantação de uma brigada de incêndio, pois ela vai tomar as primeiras ações de combate ao fogo no seu início e fará o atendimento às primeiras vítimas, até a chegada de ajuda especializada. Mais que uma necessidade, a formação da brigada é obrigatória, como é determinado pela Instrução Técnica no 17/2011 do Corpo de Bombeiros do Estado de SP e em outras corporações, e pela Norma Regulamentadora no 23, de Segurança e Medicina do Trabalho, que determina ao empregador a incorporação de grupos de pessoas que possam atender a essa finalidade. Com o intuito de alcançar uma preparação adequada, os candidatos a brigadistas devem passar por um curso de formação de brigada de incêndio para atender os requisitos mínimos de treinamento e ter aproveitamento satisfatório tanto na aplicação prática quanto na teórica. Conforme IT no 17 /SP, o profissional habilitado para a formação e reciclagem da brigada de incêndio deve ter: (...) Formação em Higiene, Segurança e Medicina do Trabalho, devidamente registrado nos conselhos regionais competentes ou no Ministério do Trabalho. (...) O médico e o enfermeiro do trabalho só podem responsabilizar-se pelo treinamento de primeiros socorros. (...) Ensino médio completo e especialização em Prevenção e Combate a Incêndio (carga mínima de 120 horas-aula para risco baixo ou médio e 160 horas-aula para risco alto) e técnicas de emergências médicas (carga horária mínima de 100 horas-aula para risco baixo, médio ou alto) para os componentes das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. 12.8.1 Atribuições da Brigada de Incêndio As principais atribuições da brigada de incêndio são: a. Ações de prevenção: análise de riscos, notificações de irregularidades, orientação à população fixa e flutuante, participação nos exercícios simulados e conhecimento do plano de emergência. b. Ações de emergência: alarme, abandono de área, acionamento do Corpo de Bombeiros e/ou ajuda externa, corte de energia, primeiros socorros, combate ao princípio de incêndio, recepção e orientação ao Corpo de Bombeiros. Figura 12.12. 12.8.2 Composição da Brigada A composição da brigada também deve obedecer a uma hierarquia organizada na delegação das atribuições e em quantidade de componentes, conforme as orientações deter- minadas pelas instruções técnicas, normas e outras leis às quais o empreendimento estiver subordinado. Em caso de dimensionamento máximo, ficaria assim a composição: Brigadistas: membros que executam diretamente as tarefas operacionais de prevenção e emergência. Líder: responsável pela coordenação e execução das ações em um determinado setor/pavimento/compartimento. Chefe de edificação ou do turno: responsável pela coordenação e execução das ações de uma edificação da planta. Coordenador geral: responsável pela coordenação e execução das ações de todas as edificações que compõem uma planta. 12.8.3 Plano de Abandono Para maior eficiência na retirada da população local em caso de ocorrência de incêndio, um plano de abandono deve ser feito e treinado por meio de exercícios simulados envolvendo todas as pessoas pertencentes à área de interesse (setores, pavimentos, edificações etc.). Esses exercícios devem atender a certos requisitos para um plano de abandono correto e bem preparado, sendo: Realizados periodicamente; De preferência, sem aviso; O mais próximo da realidade; Realizados sob a direção de grupos de pessoas capazes de prepará-los e dirigi- los. Tais exercícios têm a finalidade de averiguar a eficiência do que foi planejado e executa- do, como: O tempo gasto no abandono; O tempo gasto no atendimento de primeiros socorros; A atuação da brigada; O comportamento da população; O tempo gasto até́ a chegada do Corpo de Bombeiros; Falhas operacionais e de equipamentos; Ponto de encontro. O plano de abandono é parte integrante do conteúdo de formação da brigada de incêndio e, sempre que possível, deve ser trabalhado em conjunto com integrantes de outras áreas, como os colaboradores envolvidos na segurança do trabalho (SESMT e a CIPA), e de outros setores da empresa (segurança patrimonial, manutenção e outros), com a intenção de melhorias no planejamento dos exercícios e de participação na parte preventiva. É importante, para uma melhoria contínua, que se atente a outros detalhes que possam ser úteis nos planos de emergência, como deixar em local visível e acessível telefones de emergência (Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Civil e Militar, Hospitais etc.), mapas dos arredores para possível locomoção de transporte das vítimas e planos de ajuda mútua com empresas e edificações vizinhas, em caso de necessidade. 12.9 Resumo O fogo é um processo de transformação chamado combustão, em que materiais ou substâncias combustíveis sofrem reação química de oxidação de suas propriedades, com liberação de gases, fumaça, calor e luz. A quantidade de calor em combinação com o oxigênio será determinante para iniciar o processo de combustão, dando condições ao fogo para autossustentar-se. Os elementos necessários para o surgimento do fogo são combustível, comburente, calor e reação em cadeia. Esses quatro elementos dispostos de forma conjunta constituem o Tetraedro do Fogo, e são responsáveis pela origem do processo de combustão. Existem três pontos de temperatura: Ponto de fulgor: é a temperatura mínima que o combustível alcança para começar a liberar vapores, porém as chamas não ocorrem devido à pequena quantidade desses vapores e à ausência de fonte externa de calor. Ponto de combustão: é quando os gases desprendidos dos combustíveis são ali- mentados por uma fonte externa de calor, ocorrendo assim a queima, e o processo da combustão não é interrompido mesmo se não houver mais o auxílio da fonte de calor que o iniciou. Ponto de ignição: o combustível exposto no ar alcança seu estágio de inflamabilidade máxima para queima total e contínua, sem necessidade de qualquer fonte externa de calor. Foram adotadas as seguintes definições para a classificação de fogo: Classe A: são materiais de fácil combustão com a propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixam resíduos, como: tecidos, madeira, papel, fibra etc. Classe B: são considerados inflamáveis os produtos que queimem somente em sua superfície, não deixando resíduos, como óleos, graxas, vernizes, tintas, gasolina etc. Classe C: quando ocorrem em equipamentos elétricos energizados como motores, transformadores, quadros de distribuição, fios etc. Classe D: elementos pirofóricos como magnésio, zircônio, titânio. São métodos eficientes para a extinção do fogo: Isolamento: trata-se da retirada do material combustível que ainda não foi atingido, evitando assim o aumento da área incendiada. Resfriamento: consiste na retirada do calor do material combustível, diminuindo sua temperatura com a utilização de água. Abafamento: é a retirada do comburente (oxigênio), eliminando o elemento que intensifica a propagação do fogo, utilizando agentes extintores de origens naturais (areia/ terra) ou químicas (bicarbonato de sódio, sulfato de alumínio, grafite em pó etc.). Quebra da reação em cadeia: consiste na interrupção da reação em cadeia, bloqueando o seu ciclo contínuo diretamente na área das chamas, com agentes extintores que reajam ao contato com o fogo e eliminem o comburente. São classificados os extintores de incêndios e suas aplicações de acordo com a classe de fogo a extinguir, da seguinte forma: A. Extintor de espuma:usado nos fogos das Classes A e B (abafamento e resfriamento). B. Extintor de gás carbônico (CO2): indicado nos fogos das Classes B e C, e na Classe A em seu início (abafamento). C. Extintor de pó químico seco: usado nos fogos das Classes B e C (abafamento). D. Extintor de água pressurizada: indicado em fogos da Classe A (resfriamento). Todos os detectores de incêndio, chuveiros automáticos e acionadores manuais devem ser instalados em número suficiente e que atenda às necessidades das áreas a serem protegidas. As campainhas devem emitir som e tonalidade diferentes dos estabelecimentos, pavimentos ou edificações locais, para distinguir de alarmes sonoros destinados para outros fins. Um incêndio em um local pode se estender de forma contínua e progressiva para outros setores, pavimentos e edificações vizinhas através do calor, propagando-se de três diferentes maneiras: Convecção: é a transferência de calor através de camadas de ar quente (gases) de forma ascendente (subida). Condução: é a transferência de calor, de molécula a molécula, multiplicando-se em um mesmo corpo sólido, aquecendo-o em toda a sua extensão. Irradiação: é a transferência de calor através de ondas caloríficas, irradiando em todas as direções, possibilitando o surgimento de focos no que estiver ao redor. A composição da brigada deve obedecer a uma hierarquia organizada na delegação das atribuições e em quantidade de componentes, conforme as orientações determinadas pelas instruções técnicas, normas e outras leis às quais o empreendimento estiver subordinado. Em caso de dimensionamento máximo, ficaria assim a composição: Brigadistas: membros que executam diretamente as tarefas operacionais de prevenção e emergência. Líder: responsável pela coordenação e execução das ações em um determinado setor/pavimento/compartimento. Chefe de edificação ou do turno: responsável pela coordenação e execução das ações de uma edificação da planta. Coordenador geral: responsável pela coordenação e execução das ações de todas as edificações que compõem uma planta. 12.10.1 Exercícios de Revisão 1. O que é fogo? 2. Quais são os elementos essenciais que compõem o fogo? 3. O que é comburente? 4. Quais são os pontos de temperatura do fogo? 5. Defina as classes de incêndio. 6. Quais são as formas de propagação do fogo? Explique-as. 7. O que é Flash Over? 8. O que é Backdraft? 9. Quais são as principais atribuições de uma brigada de incêndio? 10. Quais são os métodos de extinção do incêndio? Explique-os. 12.10.2 Exercícios de Fixação 1. O fogo é classificado em quatro classes. Quais são os materiais enquadrados na Classe A? A. Equipamentos elétricos energizados como motores, transformadores, quadros de distribuição, fios. B. Elementos pirofóricos como magnésio, zircônio e titânio. C. São considerados inflamáveis os produtos que queimem somente em sua superfície, não deixando resíduos, como óleo, graxas, vernizes, tintas, gasolina. D. São materiais de fácil combustão aqueles com a propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixem resíduos, como tecidos, madeira, papel, fibra. 2. O fogo é classificado em quatro classes. Quais são os materiais enquadrados na Classe B? A. Equipamentos elétricos energizados como motores, transformadores, quadros de distribuição, fios. B. Elementos pirofóricos como magnésio, zircônio e titânio. C. São considerados inflamáveis os produtos que queimem somente em sua superfície, não deixando resíduos, como óleo, graxas, vernizes, tintas, gasolina. D. São materiais de fácil combustão aqueles com a propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixem resíduos, como tecidos, madeira, papel, fibra. (PREFEITURA DE RIBEIRÃO PIRES/SP - TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO/2011) 3. Segundo as normas do Ministério do Trabalho, todas as empresas deverão possuir, EXCETO: A. Proteção contra incêndio. B. Saídas suficientes para a rápida retirada do pessoal em serviço, em caso de incêndio. C. Equipamento suficiente e específico para combater fogos de Classe B. D. Pessoas adestradas no uso correto desses equipamentos. 4. Quando o fogo ocorre em equipamentos elétricos energizados como motores, ele recebe a denominação de: A. Classe A B. Classe B C. Classe C D. Classe D 5. Para combater o fogo descrito na questão anterior, devemos fazer uso de que tipo de extintor? A. Água pressurizada B. Espuma C. Químico seco D. Água pressurizada e/ou espuma 6. Assinale a alternativa incorreta quanto à propagação do fogo: A. Convecção: é a transferência de calor através de camadas de ar quente (gases) de forma ascendente (subida). B. Condução: é a transferência de calor, de molécula a molécula, multiplicando- se em um mesmo corpo sólido, aquecendo-o em toda a sua extensão. C. Irradiação: é a transferência de calor através de ondas caloríficas, irradiando em todas as direções, possibilitando o surgimento de focos no que estiver ao redor. D. Ascensão: é a transferência de calor, de molécula a molécula, multiplicando- se em um mesmo corpo sólido, aquecendo-o em toda a sua extensão. (PETROBRÁS - ENGENHEIRO DE SEGURANÇA JÚNIOR/2010) 7. Em relação aos agentes extintores e aos extintores portáteis utilizados no combate ao fogo, afirma-se que a (o): A. Espuma mecânica age apenas por abafamento, devido à ação da própria espuma. B. Espuma mecânica deve ser aplicada contra um anteparo para ir cobrindo lentamente a superfície dá área em chamas. C. Gás carbônico é mantido no cilindro no estado gasoso, sob pressão de 50 a 60 bar à temperatura ambiente. D. Gás carbônico é indicado para a cobertura de riscos em equipamentos elétricos devido à sua capacidade condutora. E. Extintor de gás carbônico, ao ser utilizado, faz o gás expandir-se, formando uma névoa que age exclusivamente por abafamento. (PETROBRÁS - ENGENHEIRO DE SEGURANÇA JÚNIOR/2010) 8. O extintor de incêndio cujo procedimento de uso consiste em retirar o pino de segurança, empunhar e apertar o gatilho, e dirigir o difusor por toda a extensão do fogo, é o de: A. Espuma mecânica pressurizada. B. PQS com pressão injetável. C. Água com pressão injetada. D. Água pressurizada. E. Gás carbônico.
Compartilhar