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IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 58 6. POTENCIOMETRIA Técnica: potenciométrica Equipamento: potenciômetro ou peagâmetro Determinação: pH, potencial elétrico (mV) A química eletroanalítica compreende um grupo de métodos analíticos baseado nas propriedades elétricas das soluções: corrente, resistência e diferença de potencial. Em alguns casos as propriedades elétricas são medidas em função do tempo. As características desses métodos são: baixos limites de detecção, possibilidade de especiação química e instrumentação relativamente barata. A Potenciometria é um dos métodos analíticos mais utilizados na determinação de um constituinte da amostra, tanto pelo baixo custo quanto pela baixa complexidade. A análise potenciométrica permite determinação de substâncias ácidas e básicas muito fracas, além dos ácidos e bases mais fortes, o que torna o método amplamente utilizado. A potenciometria, além de apresentar um baixo custo, dispõe de equipamentos comerciais (eletrodos) com ótimo desempenho técnico e durabilidade, além da grande variedade de medidores de íons e de pH, disponíveis no mercado. Devido à grande diversidade de eletrodos existente e à fácil incorporação em sistemas de fluxo automático, a análise potenciométrica tem sido aplicada nas mais diversas áreas, tais como controle químico de águas e alimentos, amostras biológicas (sangue, soro, urina, saliva, etc), produtos farmacêuticos, assim como na área ambiental: IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 59 6.1 Noções de eletroquímica: Reações de oxidação-redução são aquelas em ocorrem transferência de elétrons entre as espécies participantes, de modo que sempre existe pelo menos uma espécie doando e outra recebendo elétrons. É o que ocorre quando uma barra de cobre metálico fica recoberta de prata metálica ao ser imersa numa solução de íon Ag+ . Essa mesma reação de oxidação-redução pode ser estudada em uma célula eletroquímica, denominada célula galvânica, na qual o fluxo de elétrons percorre um condutor, gerando uma diferença de potencial que pode ser utilizada para produzir trabalho mecânico. Na figura a seguir tem-se uma célula eletroquímica envolvendo eletrodos de cobre e prata mergulhados nas soluções de seus cátions. Os componentes de uma célula eletroquímica são em geral: dois condutores imersos em uma solução contendo eletrólitos (eletrodos); um condutor eletrônico externo para permitir o fluxo de elétrons e um condutor iônico, a ponte salina, para evitar o contato direto dos reagentes e permitir o fluxo de íons. A diferença de potencial é a medida da tendência da reação ocorrer em direção ao equilíbrio. Note-se que elétrons migram do eletrodo de cobre metálico para o eletrodo de prata metálico. O íon Ag+2 se reduz a prata metálica e o cobre metálico se oxida a íon cúprico. Uma ponte salina, contendo um sal como KCl e conectando os dois recipientes, é necessária para garantir a eletro neutralidade das soluções que formas o sistema. Ela contrabalança a deficiência de cargas positivas decorrentes do consumo de íons Ag+ no recipiente da direita, liberando ali íons K+. No frasco da esquerda, a liberação de íons Cl- contrabalança o excesso de cargas positivas, decorrentes da formação de íon Cu+2. As espécies químicas envolvidas nesse sistema, estão representadas nas semi- reações indicadas a seguir, ambas escritas por convenção como redução: IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 60 Experimentalmente sabe-se que as reações que ocorrem são: A reação completa é: O cobre metálico doou 2 elétrons e se oxidou, dando origem ao íon Cu2+, enquanto que o íon prata Ag+ recebeu 1 elétron por íon e se reduziu, produzindo prata metálica. O cobre metálico atua, portanto como redutor, pois reduziu o íon prata, enquanto que o íon prata é o oxidante. Essa reação que ocorre na pilha eletroquímica é espontânea, sendo que os elétrons caminham do eletrodo de cobre para o eletrodo de prata. O eletrodo onde ocorre a oxidação é chamado anodo enquanto que aquele em que ocorre a redução é chamado catodo. No caso da célula eletroquímica exemplificada, esse as concentrações das soluções de Ag+ e de Cu+2 for 1 mol L-1, a diferença de potencial medida é E = 0,462 Volts. Se no circuito externo for inserida uma fonte de potencial de 0,462 Volts em oposição ao fluxo de elétrons a reação é paralisada. Se a diferença de potencial for superior a 0,46 Volts o sentido da reação se inverte, ocorre então uma eletrólise e a célula eletroquímica será denominada de célula eletrolítica. Na célula galvânica o trabalho químico gera uma diferença de potencial, enquanto que na célula eletrolítica uma diferença de potencial aplicada à mesma gera trabalho químico. A representação esquemática da célula galvânica citada é: Para qualquer célula: Se o eletrodo de prata fosse substituído por outro de zinco ocorreria uma mudança no processo, pois o zinco que passaria a atuar como doador de elétrons e o cobre como receptor. Nota-se, portanto, que uma espécie atua como agente oxidante ou agente redutor, dependendo de como se relaciona com a outra espécie envolvida no sistema. As reações de oxidação-redução podem ser desmembradas em semi-reações, referentes aos processos de oxidação e de redução. Assim, a célula eletroquímica é composta de 2 reações de meia-cela e cada reação de meia-cela possui um potencial de eletrodo, associado, medido em relação a um padrão de referência. IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 61 6.2 Princípio do método potenciométrico: Hoje em dia, praticamente não se encontra na indústria, ensino ou pesquisa, um só laboratório que prescinda do medidor de pH. Isto se deve à excepcional importância do controle da atividade do íon H+ em soluções. O processo comumente usado é a medida com o eletrodo de membrana de vidro, que é altamente seletivo e tem boa sensibilidade na detecção desse íon. A potenciometria é uma técnica instrumental baseada no princípio que o potencial eletroquímico estabelecido entre a solução amostra e o eletrodo pode estar diretamente relacionado à concentração de uma espécie iônica. O potenciômetro mede o potencial eletroquímico da solução e transforma em concentração (de íons H+ = pH; de outros íons como Cl-, F-, K+ = concentração) O que é potencial eletroquímico de uma solução? Potencial eletroquímico, potencial de redução, potencial redox, potencial de oxidação/redução, potencial de eletrodo é a espontaneidade ou a tendência de uma espécie química adquirir elétrons e, desse modo, ser reduzido (sofrer redução). Cada espécie tem seu potencial intrínseco de redução. O que a Potenciometria tem a ver com os conceitos de eletroquímica tratados anteriormente? A Potenciometria (ou o método potenciométrico de análise) baseia-se na medida do potencial de uma cela eletroquímica na ausência de corrente O potencial de um eletrodo não pode ser definido isoladamente, devendo sempre estar associado a um outro eletrodo numa célula galvânica. Como é medido o potencial eletroquímico de uma solução? Através de ELETRODOS sensíveis às variações de potencial, chamadoEletrodo Indicador que é colocado junto a outro eletrodo de potencial constante (eletrodo de referência). Esses eletrodos funcionam como cátodo (Indicador) e como ânodo (Referência), de acordo com a convenção da IUPAC. Ânodo Cátodo IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 62 O potencial dessa célula será: Ecélula = Eindicador – Ereferência Onde: Ecélula = diferença de potencial da célula eletroquímica (leitura do potenciômetro). Eindicador = potencial eletroquímico calculado (o que estamos procurando para calcular a concentração do analito) Ereferência = potencial eletroquímico de valor constante. Como o potencial eletroquímico medido é convertido em concentração? Isso se dá através da Equação de Nernst, um químico alemão que relacionou essas duas variáveis quantitativamente: o potencial eletroquímico (ou potencial do eletrodo) com a concentração da espécie química que está sofrendo redução no cátodo. A equação de Nernst fornece uma relação simples entre o potencial de eletrodo e concentração de espécies iônicas em solução, evidenciando a possibilidade de uso analítico das medidas de potencial. Veja o exemplo abaixo: Considerando-se a reação: Figura 2. Uma célula para determinações potenciométricas IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 63 Onde: Mn+ = espécie metálica oxidada M0 = espécie metálica reduzida ne´ = nºde elétrons envolvidos na reação a = atividade iônica (semelhante à concentração) Eº = potencial padrão do eletrodo (tabelado) E = potencial do eletrodo (calculado) 0,0592 = nº derivado da constante de Faraday (96500 C), da constante dos gases (R = 8,316 J/mol), da temperatura (25ºC = 298 K) e da transformação de ln para log (ln = 2,3031.log) (RT.ln/F) Para que seja possível efetuar a medida de concentração, deve-se associar ao eletrodo em que se mede efetivamente a concentração da espécie de interesse (Eletrodo Indicador, que age como um cátodo) um outro eletrodo de potencial constante (Eletrodo de Referencia, que age como um ânodo), e o potencial medido no potenciômetro (ddp ou Ecélula): Epotenciômetro = Eindicador – Ereferência EXEMPLO: Suponha-se que um fio de prata está imerso em uma solução de íons prata, cuja, atividade ou concentração deseja-se avaliar e que este eletrodo de prata esteja ligado a outro eletrodo de potencial constante 0,246 V (Eletrodo de referência). Verifica-se experimentalmente que, nessa situação o eletrodo de prata é o eletrodo positivo, para onde se dirige o fluxo de elétrons, ou seja o catodo, e o eletrodo de referência é o ânodo. Assim, sendo a medida do potencial da célula 0,400 V (Ecélula), tem-se que o potencial do eletrodo cátodo (EAg) é: Calculando a concentração da espécie química (Ag+) pela Equação de Nernst: IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 64 Na verdade esse procedimento se aplica a determinações potenciométricas de concentrações de espécies químicas, que não seja o hidrogênio (pH), em eletrodos indicadores seletivos a essas espécies. Portanto, o problema essencial da potenciometria é a determinação da concentração de uma espécie iônica através da medida do potencial. A base teórica para a relação entre potencial e concentração é a equação de Nernst. Através dessa equação, com algumas modificações, calcula-se a concentração. 6.3 Instrumentação analítica: O equipamento empregado nos métodos potenciométricos é simples e barato e inclui um eletrodo de referência, um eletrodo indicador e um dispositivo de medida do potencial (potenciômetro). Eletrodo – É um dispositivo que se destina à medição da concentração de uma espécie química (íons H+ por exemplo) por meio de uma ou mais propriedade elétrica (a voltagem ou ddp – diferença de potencial). Essa propriedade elétrica é depois convertida em uma leitura de pH ou concentração do íon de interesse. O eletrodo mais comum que se toma como referência para tabular os potenciais de eletrodo é o par H+(1M)/H2 (1 atm), que se denomina eletrodo de referência ou normal de hidrogênio, o qual possui valor de potencial = 0 Volt. Um eletrodo de referência é uma meia-célula que tem um potencial de eletrodo conhecido, que permanece constante sob temperatura constante, independente da composição da solução do analito. O eletrodo cujo potencial é dependente da concentração do íon a ser determinado é chamado de eletrodo indicador. Se for o caso de determinar o pH, o íon indicador é o H+ e o eletrodo chama-se eletrodo indicador de pH. Se o íon for outro, o Cl- por exemplo, o eletrodo chama-se eletrodo indicador de íons Cl-, ou eletrodo seletivo para Cl- Figura 3. Potenciômetro digital de bancada IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 65 O terceiro componente de uma célula potenciométrica é uma ponte salina que previne os componentes da solução do analito de se misturarem com aqueles do eletrodo de referência. O cloreto de potássio é um eletrólito praticamente ideal para a ponte salina porque as mobilidades do íon K+ e do íon Cl+ são quase idênticas. 6.3.1 Eletrodos de Referência: O objetivo de uma medição potenciométrica é obter informações sobre a composição de uma solução mediante ao potencial que aparece entre dois eletrodos. Esses eletrodos são chamados Eletrodo Indicador e Eletrodo de Referencia. Para obter medições analíticas válidas em potenciometria, um dos eletrodos deverá ser de potencial constante e não pode haver mudanças entre um e outro experimento. O eletrodo que satisfaz esta condição é o eletrodo de referência. Em razão da estabilidade do eletrodo de referência, qualquer mudança no potencial do sistema será ocasionada pela contribuição do outro eletrodo, chamado eletrodo indicador ou de trabalho. O potencial registrado é na realidade a soma de todos os potenciais individuais, com seu sinal correspondente, produzido pelos eletrodos indicador e referência. Eletrodo de Referência: Eletrodo com potencial constante, isto é, o seu potencial é função de uma espécie cuja concentração permanece inalterada durante toda a determinação. Para que um eletrodo seja empregado como eletrodo de referência deve apresentar as seguintes características: - Invariabilidade do potencial durante o processo; - Rápido ajustamento a um determinado e exato potencial; - O potencial do eletrodo deve responder prontamente a uma variação de temperatura, mas assim que a temperatura inicial é restabelecida, o seu potencial deve voltar ao valor inicial; A necessidade de contar com o eletrodo de referência, além do eletrodo indicador, deve-se à impossibilidade de medir diretamente o potencial do eletrodo indicador. O Eletrodo de referência em medidas potenciométricas é sempre tratado como um ânodo. O Eletrodo de Referência Ideal apresenta reação reversível, obedece a equação de Nernst, tem potencial constante com o tempo, exibe pouca histerese à variação de temperatura e retorna o potencial após ser sujeito a pequenos valores de corrente. Tipos de eletrodos de referência maisutilizados: - Eletrodo de calomelano - Eletrodo de prata/cloreto de prata IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 66 Potencial padrão de eletrodos de Referência: 6.3.2 Eletrodo Indicador: Eletrodo sensível à espécie a ser determinada, isto é, o seu potencial será função da concentração dessa espécie. É o eletrodo, portanto, onde efetivamente se determina espécie química de interesse. Para que um eletrodo seja empregado como eletrodo indicador deve apresentar as seguintes características: - Grande sensibilidade à espécie a ser determinada; - Alto grau de reprodutibilidade; - Resposta rápida à variação de concentração da espécie em determinação. Um eletrodo indicador ideal responde de forma rápida e reprodutível a variações na concentração de um analito. Embora nenhum eletrodo indicador seja absolutamente IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 67 específico em sua resposta, alguns disponíveis nos dias atuais são extraordinariamente seletivos. Os eletrodos indicadores são dos tipos: metálicos e de membrana. Nos eletrodos indicadores de metal (baseados em sistema de oxidação- redução), se desenvolve-se um potencial determinado por uma semi-reação de oxidação-redução na superfície do eletrodo. Nos eletrodos indicadores de membrana, o potencial é determinado por diferença de concentração entre os dois lados de uma membrana especial. Veja mais diferenças entre esses eletrodos abaixo: - Eletrodos Indicadores Metálicos: É conveniente classificar os eletrodos indicadores metálicos como eletrodos do primeiro tipo, eletrodos do segundo tipo ou eletrodos redox inertes. - Eletrodos de Membrana: Por muitos anos, o método mais conveniente para determinar o pH tem envolvido medidas do potencial que se desenvolve através de uma fina membrana de vidro que separa duas soluções com diferentes concentrações do íon hidrogênio. Os eletrodos de membrana são os mais comuns. Este eletrodo desenvolve potencial através de uma membrana que se interpõe entre a sua solução interna e a solução que se quer medir. Essa membrana é seletiva ao íon que se quer medir e idealmente possui a capacidade de ter uma interação físico-química com a espécie iônica de interesse e com nenhuma outra. Têm sido desenvolvidos eletrodos de membrana de vidro que permitem medidas potenciométricas diretas de espécies monovalentes, como Na+, K+, NH4 +, Rb+, Cs+, Li+ e Ag+. Eletrodos de membrana têm sido desenvolvidos para as medidas potenciométricas diretas de inúmeros cátions polivalentes (Ca2+, Mg2+, Cd2+, Pb2+, Cu2+) assim como para certos ânions (Cl-, NO3 -, CN-, I-, Br-). O eletrodo de membrana mais comum é o eletrodo de vidro, utilizado para medidas do pH. Por muitos anos, o método mais conveniente para determinar o pH tem envolvido medidas do potencial que se desenvolve através de uma fina membrana de vidro que separa duas soluções com diferentes concentrações do íon hidrogênio. IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 68 Como se mede o pH de uma solução? O medidor de pH mede a diferença de potencial entre o lado interno do eletrodo de pH e o lado externo – amostra. Portanto, a medida de pH é efetuada com base na medida da diferença de potencial através de uma membrana de vidro que separa a solução desconhecida de uma solução de referência cuja [H+] é conhecida: O eletrodo de pH é sensível aos íons hidrogênio, fabricado em vidro cuja composição é um fator muito importante, pois deve ser permeável aos íons H+ da solução amostra e solução padrão interna do eletrodo. Observe-se que para medir a diferença de potencial que ocorre na membrana é necessário se dispor de um eletrodo interno denominado eletrodo de referência interno, que no exemplo é um eletrodo Ag/AgCl. Por isso, podemos dizer que o eletrodo de pH tem um eletrodo de referência interna (Ag/AgCl) submerso num tampão com sais de Cl- (pH=7), com uma membrana de vidro. Na rotina da determinação do pH em soluções aquosas, se emprega geralmente um eletrodo de vidro combinado, onde eletrodo indicador e eletrodo de referência são montados em uma mesma estrutura. O esquema de célula é: IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 69 Neste exemplo, a célula tem-se um eletrodo de Ag/AgCl como eletrodo de referência interno e um eletrodo de referência externo de calomelano. Para trabalhos de precisão recomenda-se a utilização de eletrodos de vidro simples, separados do eletrodo de referência externo. Como funciona o eletrodo combinado de pH? Por difusão iônica passagem de íons de uma solução para outra através do eletrodo de vidro. A difusão de íons H+ ocorre porque o eletrodo é feito de um vidro poroso, sensível à passagem dos íons H+ entre as soluções padrão (interna do eletrodo, de concentração conhecida de H+) e a solução amostra (com concentração de H+ desconhecida). Ele age como um voltímetro e converte o potencial elétrico medido (mV) em pH. Veja abaixo como ocorre a difusão dos íons H+ entre o eletrodo e a solução amostra: O eletrodo indicador de pH é composto por uma fina membrana de vidro sensível ao pH selada na ponta de um tubo de vidro ou de plástico. Um pequeno volume de ácido clorídrico diluído saturado com cloreto de prata está contido dentro do tubo. (Em alguns eletrodos a solução interna é um tampão contendo o íon cloreto.) Nessa solução, um fio de prata forma um eletrodo de referência de prata/cloreto de prata, que está conectado a um dos terminais do dispositivo de medida de potencial. É a membrana fina do bulbo de vidro na ponta do eletrodo que responde ao pH. No caso do eletrodo de vidro, a concentração de prótons do lado de dentro da membrana é constante e a concentração do lado de fora é determinada pela concentração, Imagine 2 soluções de HCl separadas por uma membrana permeável Concentração tende a ser a mesma dos 2 lados Membrana permeável somente para íons H+ (eletrodo de vidro) O movimento de íons cria um potencial (ddp) que impede a continuidade desse movimento IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 70 ou atividade, dos prótons presentes na solução. Essa diferença de concentração produz a diferença de potencial que medimos com um pHmetro. Do que é feita a membrana de vidro do eletrodo? O vidro Corning 015, que tem sido amplamente utilizado em membranas, consiste em aproximadamente 22% de Na2O, 6% de CaO e 72% de SiO2. Essa membrana apresenta uma excelente especificidade perante os íons hidrogênio até um pH de cerca de 9. Sob valores mais elevados de pH, entretanto, o vidro se torna de alguma forma sensível ao sódio assim como a outros cátions monovalentes. As duas superfícies da membrana de vidro precisam ser hidratadas antes de ela funcionar como um eletrodo de pH. Os vidros não higroscópicos não mostram sensibilidade ao pH. Mesmo vidros higroscópicos perdem sua sensibilidade aopH após a desidratação pelo armazenamento em um dessecador. Entretanto, o efeito é reversível e a resposta de um eletrodo de vidro pode ser restaurada quando mergulhado em água. A hidratação de uma membrana sensível ao pH envolve uma reação de troca iônica entre os cátions monovalentes presentes na interface da matriz de vidro e prótons da solução. 6.3.3 O peagâmetro / potenciômetro: O peagâmetro - ou mais apropriadamente o medidor de pH - lê a concentração de íons hidrogênio em unidades de pH. O aparelho consiste de um eletrodo de vidro e uma escala de leitura. O eletrodo é feito de um vidro muito fino, que estabelece e mede a diferença de potencial entre a solução a ser medida, e a solução interna do eletrodo, que serve de referência. O potencial elétrico é então convertido para uma escala de valores de pH, que são os valores apresentados na escala de leitura. IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 71 A resposta do peagâmetro é diretamente relacionada à concentração de íons hidrogênio, o que significa que um gráfico do tipo pH x [concentração] será linear, e a equação que descreverá tal gráfico será a de uma reta. Na prática, essa condição "constante" depende da temperatura do ambiente em que se faz a medida, e da condição física do eletrodo. Dessa forma, o peagâmetro - ou o eletrodo - deve ser recalibrado constantemente. Se o seu uso for contínuo, o ideal é que o eletrodo seja recalibrado a cada duas horas. O eletrodo de vidro é preparado para leituras quando imerso em um banho de água por várias horas. Se ele estiver desidratado (seco) ele não irá funcionar de acordo. Sempre que o eletrodo tiver sido utilizado para medir soluções ricas em íons sódio, ele terá de ser deixado em um banho levemente ácido por algumas horas. O eletrodo deve ser lavado cuidadosamente com água destilada ANTES e DEPOIS de cada medida feita. As soluções de lavagem devem ser descartadas. Os peagâmetros modernos são instrumentos digitais e são capazes de atingir precisão da ordem de 0,001 a 0,005 unidades de pH. Raramente se torna possível medir- se o pH com um grau de exatidão comparável. 6.4 Calibração: Nos pH-metros emprega-se uma escala em unidades de pH estabelecida segundo a equação de Nernst que é calibrada antes das medidas das amostras. Emprega-se para tanto como padrão uma solução tampão na qual a atividade de íons H+ é conhecida, 10-7 mol L-1, por exemplo, e através de um controle converte- se a medida de potencial em milivolts para 7,00. Nos equipamentos modernos, executa-se uma segunda calibração com outra solução tampão, 10-4 mol L-1 H+ por exemplo, acertando-se na escala do aparelho o valor de pH 4,00. Desta forma, podemos dizer que existem duas técnicas comuns de calibragem do eletrodo de um peagâmetro: a calibração "um ponto" e a "dois pontos". pH-metro ESC eletrodo de vidro agitador magnético fio de prata HCl O,1 M saturado c/ AgCl solução de pH desconhecido Fina membrana de vidro (responsável pela resposta ao pH) IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 72 CALIBRAÇÃO A UM PONTO: se faz colocando-se o eletrodo em uma solução tampão a pH = 7, e então, ajustando-se a escala de leitura do equipamento para que ela leia exatamente o valor = 7. O procedimento experimental deve seguir algumas etapas básicas: 1. Lave o eletrodo com água destilada, utilizando uma pisseta; descarte a água de lavagem, que foi coletada em um béquer, ou outro container apropriado. Repita a operação algumas vezes. 2. Coloque o eletrodo em uma solução tampão de pH = 7,00 3. Aguarde até o aparelho estabilizar a leitura, e então ajuste a escala até que ela leia exatamente 7,00. 4. Retire o eletrodo da solução tampão, e lave-o cuidadosamente com água destilada, novamente utilizando a pisseta e descartando o produto da lavagem. 5. Retorne o eletrodo para a solução tampão de pH = 7,00. A escala do aparelho deve ler o valor 7,00; caso contrário, recalibre o equipamento, começando pela etapa 1. CALIBRAÇÃO A DOIS PONTOS: essa forma de se calibrar o peagâmetro é muito mais efetiva que a anterior, pois ajusta o medidor a dois diferentes valores de pH, de formas que a escala terá sido ajustada para dar respostas mais acuradas ao longo de pelo menos dois pontos da equação linear pH x [H+]. O segundo ponto de calibração é sempre escolhido de acordo com o tipo de solução que se deseja analisar - ácida, ou básica. Quando se deseja medir uma solução ácida (pH < 7), uma solução tampão de pH = 4 é tipicamente utilizado. Em medidas de pH de soluções básicas, geralmente emprega- se uma solução tampão de pH = 10 para a segunda calibração. O procedimento para se efetuar a calibração tipo "dois pontos" é a mesma da calibração "um ponto", porém acrescida do segundo ajuste, exatamente aquele que se fará à partir da calibração do aparelho utilizando-se a segunda solução tampão: 1. Lave o eletrodo com água destilada. 2. Coloque o eletrodo no tampão de pH = 7,00. 3. Aguarde o peagâmetro estabilizar-se. Ajuste então a escala para o valor 7,00. 4. Remova o eletrodo do tampão. Lave-o criteriosamente com água destilada. 5. Coloque o eletrodo na solução tampão de pH = 4,00 (ou pH = 10 se analisando uma solução básica). 6. Aguarde o aparelho estabilizar. Quando isso ocorrer, ajuste a escala para que ela leia o valor do tampão que está sendo utilizado. 7. Retire o eletrodo do tampão, lave-o criteriosamente com água destilada. 8. Retorne o eletrodo para o tampão de pH = 7,00. Caso a escala do aparelho não leia exatamente 7,00 após a estabilização do equipamento, faça uma re-calibração, começando pela etapa 1, utilizando os dois tampões. IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 73 6.5 Erros que Afetam as Medidas de pH: 1. O erro alcalino. O eletrodo de vidro comum torna-se de alguma forma sensível a íons de metais alcalinos e fornece leituras mais baixas em valores de pH superiores a 9. 2. O erro ácido. Valores registrados pelo eletrodo de vidro tendem a ser mais elevados quando o pH é menor que 0,5. 3. Desidratação. A desidratação pode provocar o desempenho errático do eletrodo. 4. Erros em soluções com baixa força iônica. Tem sido observado que erros significativos (da ordem de uma ou duas unidades de pH) podem ocorrer quando o pH de amostras de baixa força iônica, como de lagos ou de riachos, é medido com um sistema de eletrodos vidro/calomelano. 5. Erro no pH da solução padrão do tampão. Qualquer inexatidão na preparação do tampão utilizado para a calibração ou qualquer variação em sua composição durante o armazenamento provocam erros nas medidas de pH subseqüentes. A ação de bactérias sobre os componentes orgânicos do tampão é uma causa comum de deterioração 6.6 Tipos de potenciometria: 6.6.1 Potenciometria direta: A potenciometria pode ser direta quando o objetivo é medir somente o pH da amostra ou a concentração do analito. É um método rápido e conveniente para determinar a concentração (atividade) de vários cátions e ânions, e requer a comparação do potencial desenvolvido na célula quando o eletrodo indicador é imerso na solução do analito com seu potencial quando imerso em uma ou mais soluções padrão de concentrações conhecidas do analito. HALOGENETOS (Cl -, Br -, I -) ÂNIONS MOLECULARES (NO3-,ClO3-) CÁTIONS MONOVALENTES (H +, Na +, Li + e K +) CÁTIONS DIVALENTES (Ca 2+, Mg 2+, Cu 2+ e Pb 2+) 6.6.2 Potenciometria indireta ou titulação potenciométrica: Uma titulação potenciométrica envolve medidas do potencial de um eletrodo indicador adequado em função do volume do titulante. Na potenciometria indireta ou titulação potenciométrica, mede-se a ddp da célula no curso da titulação. As titulações, como sabemos, são acompanhadas de variações bruscas de concentração nas imediações do ponto de equivalência, o que provoca uma variação brusca no potencial do eletrodo indicador e, portanto, também na f.e.m. da célula. IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 74 Como se faz uma titulação potenciométrica? São feitas sucessivas medições do potencial eletroquímico da célula, sendo cada uma delas após a adição de certo volume de solução titulante adequada. A seguir relacionam- se esses potenciais medidos com o volume de solução titulante consumida, e plota-se em um gráfico, como o gráfico abaixo: Através do gráfico, pode-se estabelecer com precisão o ponto de equivalência que determinará a concentração da espécie sob análise. As titulações potenciométricas fornecem dados que são mais confiáveis que aqueles gerados por titulações que empregam indicadores químicos e elas são particularmente úteis com soluções coloridas ou turvas e na detecção da presença de espécies insuspeitas. As titulações potenciométricas têm sido automatizadas em uma variedade de diferentes maneiras e tituladores comerciais estão disponíveis no mercado. As titulações potenciométricas manuais, entretanto, sofrem da desvantagem de consumirem mais tempo que aquelas envolvendo indicadores. A titulação potenciométrica é mais trabalhosa do que a técnica volumétrica com indicadores visuais e requer equipamento especial, mas ela apresenta uma série de vantagens sobre a técnica convencional: Maior sensibilidade pode ser aplicada a soluções bem diluídas; Pode ser empregada para soluções coloridas ou turvas, pois dispensa o uso de indicadores visuais; Pode ser aplicada para certas reações que não disponham de indicadores visuais adequados; Podem-se determinar sucessivamente vários componentes; Pode ser aplicada em meio não aquoso; Pode ser adaptada a instrumentos automáticos. IFMT – campus Cuiabá Bela Vista Curso de Engenharia de Alimentos Apostila de Análise Instrumental Aplicada a alimentos Profª Elaine Coringa 75 Em 1955, surgiram as primeiras buretas de pistão motorizadas, permitindo a automatização das titulações, acima de tudo com maior precisão na dosagem. As titulações potenciométricas, hoje em dia, podem ser executadas manual ou automaticamente, com ou sem registro da curva. Na titulação potenciométrica manual, trabalha-se com um pH-metro e um grupo de titulação, que compreende uma bureta montada junto com um agitador. Esse tipo de titulação potenciométrica requer o controle constante das diversas etapas, anotando o volume de reagente dosado e o respectivo potencial, dados que posteriormente são utilizados para construir a curva de titulação, de onde é calculado o volume de reagente gasto até o ponto de equivalência e a concentração da espécie analisada. O ponto de equivalência da reação será revelado por uma súbita mudança do potencial medido no gráfico das leituras versus volume da solução titulante. 6.7 Aplicações da potenciometria em análise de alimentos: A medida do pH é importante para as seguintes determinações: 1.Deterioração do alimento 2.Atividade das enzimas. 3.Textura de geléias e gelatinas. 4.Retenção do sabor-odor de produtos de frutas. 5.Estabilidade de corantes artificiais em produtos de frutas. 6.Verificação do estado de maturação de frutas.
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