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Psicologia Humanista norte americana 
A “Terceira Força”
Reunimos sob o nome de “Psicologias Humanistas” vários modelos de compreensão de homem que, embora divirjam entre si, convergem na ênfase dada ao sentido das vivências humanas e na liberdade como condição ontológica. 
Tomaremos como foco de nossos estudos a Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers a partir da década de 1950, a Gestalt-Terapia, por Fritz Perls na mesma época e a Psicologia Existencial-Humanista, desenvolvida por Carl Rogers.
   
 As Psicologias Humanistas florescem nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Esse período que seguiu a Segunda Guerra Mundial estava marcado pelos horrores provocados pela humanidade, assim como pelo temor constante da autodestruição atômica na Guerra Fria. 
Nas décadas seguintes cresceram as tensões e disputas raciais em busca do fim da discriminação e os Estados Unidos se envolveram com a Guerra do Vietnã, que resultou na morte de milhares de jovens soldados e na mobilização de parcela considerável da sociedade pela paz.
   
 Nesse momento histórico, a Psicologia estava dividida entre duas “forças”: 
a Psicanálise freudiana, que apresenta o homem como um organismo determinado por impulsos inconscientes que buscam a satisfação do prazer ou a evitação do desprazer, e 
o Behaviorismo, que é a aplicação do modelo científico-natural de conhecimento, apresentando o homem como um organismo determinado por sua história de modelagem e pelo ambiente.
Assim a Psicologia Humanista surge como a Terceira Força na psicologia. A Terceira Força considera as psicologias de sua época deterministas, pois buscam determinar a causa dos comportamentos humanos. 
Para isso, recorrem a modelos explicativos que não abarcam aquilo que o humano tem de mais peculiar: a liberdade. Ao posicionar a questão do sentido da vida como a mais importante, estão afirmando que a existência humana é livre e capaz de fazer escolhas em direção ao que é significativo em sua vida. 
Proclamam também que o ser humano é animado por uma força vital, que o impulsiona ao crescimento e à complexificação da existência. (Figueiredo, 2012)
A Psicologia Humanista é crítica em relação à hegemonia do conhecimento científico na investigação sobre o humano. 
Coloca como questão para a Psicologia se não há outras formas de conhecimento sobre o seu “objeto”, o humano.
O conhecimento científico trabalha com fatos, que são mensuráveis. Segue regras precisas de observação e investigação, que recebem o nome de ‘método’, para assegurar a veracidade do conhecimento produzido. Apesar da pretensa objetividade, há um pressuposto que fundamenta esse modelo de investigação. 
A ciência pressupõe que a natureza funciona de acordo com leis gerais e que o homem pode descobrí-las através de rigoroso método de investigação. 
Opera sobre a cisão Sujeito – Objeto; os objetos são as partes da natureza e o Sujeito é o pesquisador, aquele que é capaz de investigar e explicar o funcionamento da natureza.
 A cisão Sujeito - Objeto pode ser retraçada à obra do filósofo René Descartes (1596 – 1650). Ele propõe à filosofia que supere o conhecimento vago e especulativo que a dominou por séculos, buscando uma fundamentação sólida e certa. 
Encontra-a no conhecimento preciso da matemática, para a qual 2 + 2 sempre serão igual a 4. No início do Discurso do Método (1637), ele aponta a insuficiência do senso comum para o conhecimento certo. Escreve:
... a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que os outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam. (p.41)
A partir da consideração de um método preciso de conhecimento racional, Descartes formula a divisão da natureza em dois tipos de substâncias: res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa). 
Podemos identificar nessa dualidade a divisão presente no nosso modelo científico entre Sujeito (res cogitans) e Objeto (res extensa).
A Psicologia enquanto ciência padece de um difícil problema. O “objeto” de suas pesquisas é também o sujeito que investiga. 
Para a Psicologia Humanista está claro que o “objeto” de pesquisa da Psicologia é o Ser Humano. Sendo assim, a investigação não pode seguir os mesmos métodos e critérios de investigação de objetos naturais, mensuráveis.
No fragmento abaixo, o filósofo explica o percurso que o levou à descoberta do cogito (a certeza que o sujeito pensante tem de sua própria existência) - base todo seu pensamento filosófico.... 
“A partir do momento em que desejava dedicar-me exclusivamente à pesquisa da verdade, pensei que deveria rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida, com a intenção de verificar se, depois disso, não restaria algo em minha educação que fosse inteiramente indubitável. Desse modo, considerando que nossos sentidos às vezes nos enganam, quis supor que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. Por haver homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria (...), rejeitei como falsas, julgando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por ... 
René Descartes
Assim, as Psicologias Humanistas surgem como um novo caminho – uma mudança de paradigma – na investigação sobre o humano. No início, desenvolvem-se a partir da prática de psicólogos norte americanos. 
Carl Rogers é o maior exemplo disso. Mas são vários autores com contribuições às vezes divergentes entre si, que converge na compreensão do humano como livre e responsável. 
Num segundo momento, esses psicólogos humanistas encontram nas filosofias fenomenológicas e existenciais alguns fundamentos para esta abordagem vanguardista. Resume Holanda (2015, p.166):
O movimento humanista foi sendo enriquecido com contribuições de um pensamento “fenomenológico-existencial” , que confere um “aplicativo-existencial” ao movimento. (Gonzalez, 1988). 
Um ilustrativo do significado do movimento humanista e do que representou, podemos encontrar nas palavras de Matson (1978):“A Psicologia Humanista não é apenas o estudo do ‘ser humano’; é um compromisso com o devir humano” (p.69). 
Isto demonstra o que realmente “unia” a diversidade desse autores.
Como já visto, a Psicologia Humanista do século XX encontra no Renascimento, movimento artístico e filosófico iniciado no século XV de revalorização do humano, em oposição ao Escolasticismo. 
Escolástica ou Escolasticismo foi o método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. 
Colocava uma forte ênfase na dialética para ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica, é frequentemente vista como exemplo maior da escolástica. 
Os filósofos Humanistas introduziram a noção de livre-arbítrio, pois acreditavam no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcioná-lo para a liberdade, a justiça e a paz. Além do Humanismo filosófico, a Psicologia Humanista encontra fundamentação teórica no Existencialismo (Kierkegaard, Sartre).
Sob a categoria “Psicologia Humanista” encontraremos o pensamento de autores diversos, como Kurt Goldstein, Abraham Maslow, Thomas Greening, Karen Horney e Erich Fromm. 
Além destas influências, Holanda (2015) indica a fenomenologia de Husserl e a fenomenologia-existencial de Heidegger como asmais importantes fundamentações teóricas. 
Os humanistas compartilham, portanto, da ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento.
Em todos os autores mencionados acima também encontramos a ênfase na liberdade para fazer escolhas e na responsabilidade pela própria vida. Também compartilham a ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento. 
Por exemplo, Maslow ficou conhecido pela Pirâmide das Necessidades, na qual expõe que estamos sempre em direção a experiências e realizações mais complexas, pois o ser humano, diferentemente dos animais, não vive apenas em função da realização das necessidades.
   
 Nós fazemos escolhas em nome de nossa realização existencial. Quanto maior o nosso grau de liberdade, mais criativos serão nossos recursos para lançarmo-nos em direção ao nosso futuro. 
Como afirma Holanda (2015, p.169), “As propostas das psicologias humanista (americana) e existencial (europeia) foram reações aos reducionismos vigentes; ambas valoram as dimensões ‘superiores’ da personalidade – coo razão, liberdade, autonomia, criatividade, responsabilidade, dentre outras [...]”

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