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Morfologia Portuguesa Aula 6: Processos de formação de palavras II Apresentação Como já vimos em outras aulas, as pessoas comunicam-se por meio das palavras ao utilizarem a linguagem verbal. Certamente, tal a�rmação parece simples, mas aparências enganam! Vamos estudar dois processos muito úteis para a formação das palavras em nossa língua. São tão produtivos que, ao criarmos uma palavra qualquer, geralmente o fazemos por meio desses dois processos, derivação e composição. Objetivos Identi�car e analisar os dois processos básicos de formação de palavras: a derivação e a composição; Diferenciar a derivação e a composição e depreender suas subdivisões. "São dois os processos principais de formação de palavras em português: a composição, onde se agrupam radicais diferentes na formação de um novo vocábulo, e a derivação, onde ao radical da forma primitiva se acrescenta um a�xo qualquer.”" - Henriques (2007, p.113). Basílio (2007, p. 33-34) a�rma que o que caracteriza o processo da composição é a sua estrutura, uma vez que as bases, ou seja, os radicais que se unem para formar a nova palavra têm seu papel de�nido pela estrutura. Observe: Palavras formadoras Palavra composta formada Significado amor + perfeito amor-perfeito nome de uma flor amor e perfeito amor perfeito um sentimento amoroso COMPOSIÇÃO consiste em produzir palavras compostas a partir de palavras simples. Palavras simples são aquelas em que existe um único radical como AMOR e PERFEITO. Para produzir uma palavra composta, é necessário estabelecer o signi�cado das palavras formadoras isoladamente e desvinculá-lo das palavras simples da nova palavra formada para surgir um novo signi�cado. A noção de palavra composta surge do fato de termos mais de uma base, ou seja, mais de um radical na formação da nova palavra. Isso é observável, segundo a autora, quando a palavra composta é formada por dois substantivos ou por um verbo + substantivo. No primeiro caso, o segundo substantivo será um modi�cador do primeiro, cabendo a ele uma função adjetiva. Já no caso verbo + substantivo, a classe nominal parece funcionar como objeto direto do verbo. Vejamos: 1 Sofá-cama (cama é a função do sofá, sua característica) 2 Mata-mosquito (mosquito é o complemento do verbo matar, que é transitivo direto) Já Azeredo (2010, p. 99-98), em seu livro Fundamentos de Gramática Portuguesa, acrescenta-nos as características gramaticais e semânticas da composição, a saber: CARACTERÍSTICAS GRAMATICAIS “Uma palavra composta é vista como uma estrutura �xa, um sintagma bloqueado gramaticalmente reinterpretado como uma unidade lexical nova. Seus componentes não sofrem elipse.” CARACTERÍSTICAS SEMÂNTICAS “Uma palavra composta é interpretada como uma nova unidade de signi�cado. Este signi�cado novo pode ser entendido, muitas vezes, como a soma dos signi�cados particulares dos lexemas componentes.” Composição Existem dois tipos de composição: Clique nos botões para ver as informações. consiste em formar palavras compostas que �cam lado a lado, ou seja, juntam-se dois ou mais radicais, justapostos, sem perda de letras ou sons. Em outras palavras, não há redução alguma dos morfemas que formam a nova palavra. Henrique (2007, p. 113) advoga que ocorre supercomposição “quando se reúne num único vocábulo formal um verdadeiro conglomerado de radicais, como vemos em três substantivos que servem de nome para uma ave da Amazônia (adivinhe-quem-vem-hoje, gente-de-fora-já-chegou, gente-de-fora-vem), no nome da planta “comigo- ninguém-pode” ou em neologismos ocasionais (…)” Outro aspecto importante da composição por justaposição decorre do fato de as palavras poderem ser formadas com ou sem hífen. Muitas pessoas pensam que todas as palavras formadas por esse processo possuem hífen, o que NÃO é verdade! Podemos a�rmar que todas as palavras compostas com hífen são por justaposição, mas o oposto não é verdadeiro, ou seja, nem todas as palavras formadas por justaposição são com hífen. Nos exemplos a seguir, TODAS as palavras são formadas por JUSTAPOSIÇÃO: mandachuva, passatempo, guarda-pó, pé-de-galinha, cachorro-quente. Composição por JUSTAPOSIÇÃO consiste em formar palavras compostas nas quais pelo menos uma das palavras (radical/base) perde a sua integridade sonora, ou seja, pelo menos um dos vocábulos formadores sofre alterações de ordem fonética ou fonológica. Observe os exemplos abaixo: planalto = plano + alto vinagre = vinho + acre Composição por AGLUTINAÇÃO Derivação DERIVAÇÃO é a formação de vocábulos por meio do acréscimo de pre�xos e su�xos ao radical. Convém, neste caso, falarmos em palavra primitiva e palavras derivadas. Na aula 5, vimos a diferença entre �exão e derivação. A �exão é fruto de uma necessidade gramatical (derivatio naturlais). Já a derivação é fruto da criação do falante atendendo à determinada necessidade comunicativa, mas não gramatical (derivatio voluntaria). Trata-se de um processo muito produtivo na língua, pois muitas novas palavras podem ser criadas. Fonte: Sandrachile . on Unsplash Leitura Leia a pesquisa Morfológica e Castilhamente: um Estudo das Construções X-mente no Português do Brasil acerca da produtividade da derivação. Que trata da produtividade do su�xo –mente formador de advérbio. Observe: Palavras primitivas (aquelas que na língua portuguesa não provém de outras palavras) Palavras derivadas (aquelas que na língua portuguesa provém de outras palavras) pedra pedreiro, pedraria, pedregulho flor florido, florescer, aflorado A derivação pode ser classi�cada em: javascript:void(0); Derivação pre�xal (pre�xação): a palavra nova é formada pelo acréscimo de um pre�xo ao radical. In + comum= incomum Des + leal = desleal Derivação su�xal (su�xação): a palavra nova é formada pelo acréscimo de um su�xo ao radical. Feliz + mente = felizmente Leal + dade = lealdade Derivação pre�xal e su�xal (pre�xação e su�xação): a palavra é formada por acréscimo de pre�xo e su�xo à palavra base, com a possibilidade de retirar esses a�xos e, ainda assim, teremos uma palavra. Observe que se retirarmos o pre�xo in, a palavra felizmente continua com o seu signi�cado e se retirarmos o su�xo mente, a palavra infeliz também mantém o seu signi�cado. Derivação parassintética (parassíntese): a palavra nova é obtida pelo acréscimo simultâneo de pre�xo e su�xo, que não podem ser retirados, pois a palavra perderia o seu signi�cado. Por parassíntese geralmente formam-se verbos. 1 Derivação regressiva: A palavra nova é obtida pela redução da palavra primitiva, ou seja, consiste na subtração de elementos. Geralmente, esse processo forma nomes oriundos de verbos. 2 Derivação imprópria: A palavra nova é obtida pela mudança de categoria gramatical da palavra primitiva. Não ocorre alteração da forma, só da classe gramatical. Trata-se de um caso especial de derivação, uma vez que não há acréscimo ou supressão de morfemas. Homem-aranha → o adjetivo aranha deriva do substantivo aranha. Outros exemplos: • substantivo comum a próprio: Figueira, Ribeiro, Fontes; • de substantivo/adjetivo/verbo a interjeição: Silêncio! Bravo! Viva! • de adjetivo a substantivo: circular - ouvinte. Derivação regressiva e derivação imprópria: Atrasar - atraso → Embarcar - embarque → Regressão Estrutura das palavras Em termos de estrutura das palavras, ocorre que algumas possuem estrutura mais complexa, conforme exempli�ca Kehdi (2007): Segmentação da palavra DESRESPEITOSAMENTE des respeit osa mente Para que esta análise da formação seja realizada, recorre-se a uma análise em constituintes imediatos .1 Seguindo o critério de superposição de camadas, veremos, de acordo com Kehdi (2007), que a palavra em questão não é mera sequência de morfemas, pois: http://estacio.webaula.com.br/cursos/morf02/aula6.html O substantivo forma recebe o su�xo al para formar o adjetivo formal que, por sua vez, recebe o su�xo izar para formar o verbo formalizar. Para a formação do substantivo formalização, temos o acréscimo do su�xo ção ao verboformalizar. Temos, então, que esse substantivo só poderia ser formado a partir dessa forma verbal, con�rmando o entendimento de superposição de camadas ao invés de sequência de morfemas de uma só vez, em que não poderíamos ter o substantivo forma sendo acrescido dos su�xos al, izar e ção ao mesmo tempo, considerando que cada um desses su�xos necessita de uma base (palavra) adequada para formar outras. Dica Acesse os exercícios e teste seus conhecimentos sobre o conteúdo estudado. Notas constituintes imediatos 1 São SUPERPOSIÇÃO DE CAMADAS, ou seja, combinação de construções que formam uma palavra ou frase. Tomemos como exemplo a palavra formalização, que segmentada �caria: {forma(a)} + {al} + {iz} + {a} + {ção} Referências AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. Publifolha Houaiss, SP, 2008. BASILIO, Margarida. Teoria lexical. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.CAMARA Jr. J.M. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. CARONE, Flávia. de Barros. Morfossintaxe. 9. ed. São Paulo: Ática, 2000.KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. 4.ed. São Paulo: Ática, 2007. RIBEIRO, M.P. Gramática Aplicada da Língua Portuguesa: uma comunicação interativa., RJ: Metáfora, 2005.ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2003. VILELA, Mario; KOCH, Ingedore Villaça. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Almedina, 2001. javascript:void(0); Próxima aula Você conhecerá um pouco mais acerca das classes gramaticais da nossa língua e verá a classe dos substantivos, dos adjetivos, dos numerais, dos pronomes e dos artigos. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
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