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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 INICIANDO O PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ...... 4 2.1 Os caminhos da Educação Especial brasileira .................................... 9 3 legislação e documentos que embasam a Política de Educação Inclusiva no Brasil .........................................................................................................................13 3.1 1988- Constituição da República Federativa do Brasil ....................... 13 3.2 1989- Lei nº 7.853/89 ......................................................................... 13 3.3 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90 ...... 13 3.4 1990 – Declaração Mundial de Educação para Todos ....................... 13 3.5 1994 – Declaração de Salamanca ..................................................... 14 3.6 Dispõe sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educacionais especiais. ......................................................................................... 14 3.7 1994 – Política Nacional de Educação Especial ................................ 14 3.8 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96 14 3.9 1999 – Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853/89 ............. 15 3.10 2001 – Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica 15 3.11 2001 – Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001 ... 15 2001 – Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001 → .................................................................................................... 15 3.12 2002 – Resolução CNE/CP nº1/2002 .............................................. 16 3.13 2002 – Lei nº 10.436/02 .................................................................. 16 3.14 2003 – Portaria nº 2.678/02 ............................................................ 17 3.15 2004 – Cartilha – O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular ........................................................................ 17 3.16 2004 – Decreto nº 5.296/04 ............................................................ 17 2 3.17 2005 – Decreto nº 5.626/05 ............................................................ 17 3.18 2006 – Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos ........... 17 3.19 2007 – Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE ................ 18 3.20 2007 – Decreto nº 6.094/07 ............................................................ 18 3.21 2008 – Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva ................................................................................................ 18 3.22 2009 – Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência 18 3.23 2008 – Decreto nº 6.571 ................................................................. 18 3.24 2009 – Decreto nº 6.949 ................................................................. 19 3.25 2009 – Resolução No. 4 CNE/CEB ................................................. 19 3.26 2011 – Plano Nacional de Educação (PNE).................................... 19 3.27 2012 – Lei nº 12.764 ....................................................................... 20 4 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .......................................................................................... 20 5 DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ........................................... 21 6 IV – OBJETIVO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .......................................................... 22 7 ESTUDANTES ATENDIDOS PELA EDUCAÇÃO ESPECIAL .................. 23 8 DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .......................................................... 25 9 INCLUSÃO ESCOLAR.............................................................................. 28 10 OS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ............................. 31 10.1 Os fundamentos filosóficos ............................................................. 31 10.2 Os fundamentos psicológicos ......................................................... 32 11 AS DIFERENTES NECESSIDADES ESPECIAIS ................................. 35 11.1 Deficiências sensoriais .................................................................... 38 11.2 Deficiência visual ............................................................................ 38 3 11.3 Cegueira.......................................................................................... 39 11.4 Visão Subnormal ou Baixa Visão .................................................... 39 11.5 Deficiência auditiva ......................................................................... 40 11.6 Condutiva ........................................................................................ 41 11.7 Sensório-Neural .............................................................................. 41 11.8 Mista ............................................................................................... 42 11.9 Central ou Surdez Central ............................................................... 42 11.10 Deficiências físicas ......................................................................... 42 11.11 Deficiências mentais ....................................................................... 45 12 DEFICIENTES FÍSICOS E A ACESSIBILIDADE NO DIA A DIA ........... 49 12.1 Necessidades especiais .................................................................. 49 12.2 Melhorias e adaptações .................................................................. 50 BIBLIOGRAFIAS ............................................................................................ 52 4 1 INTRODUÇÃO Fonte: www.adachiodontologia.com.br Mediante a análise do processo histórico é possível verificar que a forma como a sociedade relaciona-se com as pessoas com necessidades especiais está vinculada às conquistas dessa mesma sociedade. Várias foram as concepções de deficiência que permearam o debate sobre as pessoas com necessidades especiais dentro da sociedade e, principalmente, seu acesso à educação, sendo que as atitudes sociais estão atreladas aos conceitos e atributos da saúde, da doença e da deficiência. Ao se pensar na educação da pessoa com deficiência na perspectiva da inclusão parece-nos que seria importante contextualizar as raízes históricas desse movimento. Embora a história de qualquer fenômeno não possa ser traçada de forma linear e com etapas bem delimitadas, optamos por fazer um breve relato histórico da educação das pessoas com deficiência acreditando que o acesso a informação apenas não garantirá mudanças de paradigmas, porém pensar na educação dessa população implica também em conhece-la, para compreender o movimento atual contra qualquer tipo de discriminação. 2 INICIANDO O PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL É a partir do século XVIII que se encontram as primeiras iniciativas visando evitar o isolamento dos cegos e dos demais excepcionais, numa tentativa de desenvolver as potencialidades que eles ainda dispunham (LEMOS, 1981, apud BUENO, 1993, p.56). 5 Diversos autores como (Jönsson, 1994; Mendes 1995) afirmam que até o século XVIII, a exclusão acontecia amplamente, ou seja, pessoas com necessidades especiais eram excluídas da sociedade para qualquer tipo de atividade, pois eram consideradas inválidas, sem utilidade e incapazes para trabalhar,características estas atribuídas indistintamente a todos que tivessem alguma deficiência. Nesta fase, nenhuma atenção educacional era promovida. Fonte: www.quatrocantosdomundo.wordpress.com A partir do século XIX, tempo de grandes descobertas no campo da medicina, da biologia e da saúde, passou-se a estudar os deficientes de modo a procurar respostas para seus problemas. O período da segregação nasceu, como nos lembra Pessotti (1984), com o objetivo de oferecer tratamento médico e aliviar a sobrecarga familiar e social, não propriamente para oferecer educação. Neste sentido a educabilidade de tais pessoas ficava reduzida a iniciativa da área médica e, geralmente acontecia em instituições religiosas ou filantrópicas, com o consentimento governamental, mas sem qualquer tipo de envolvimento do poder público. Nesta época esperava-se que as práticas educativas especiais curariam as deficiências, gerando comportamentos normalizados. No final do século XIX e meados do século XX, de acordo com Mendes (1995), foram surgindo algumas escolas especiais e centros de reabilitação, pois a sociedade 6 começava a admitir que pessoas com necessidades especiais, poderiam ser produtivas se recebessem escolarização e treinamento adequado. Stainback e Stainback (1997) lembram que, ao mesmo tempo, outra tendência se desenvolvia nos Estados Unidos: a criação de “escolas comuns” públicas, onde a maioria das crianças era educada. Desta forma neste país, entre 1842 e 1918, todos os estados legislaram o ensino obrigatório e as escolas públicas receberam muitos recursos para seu desenvolvimento. Nos Estados Unidos, nos anos pós-guerra, segundo Aranha (1994), vários aspectos do meio social, econômico e político trouxeram transformações nas diferentes diretrizes que norteavam a atenção à pessoa com necessidades especiais. A pressão social representada pelos movimentos de defesa dos direitos das minorias (negros, latino-americanos, pessoas com necessidades especiais, entre outros), obrigou o governo a tomar medidas concretas no sentido de minimizar a discriminação e segregação dessas minorias. Naquela época, de acordo com Canziani (1995), o homem passou da concepção de invalidez para uma visão de pessoa útil ou inútil, apto ou inapto, baseado no modelo do capitalismo. Santos (1995) afirma também que a escassez de mão-de-obra, causada pelo curto espaço entre as duas Guerras Mundiais e, obviamente pela perda de soldados, influenciou também o movimento integracionista de pessoas com necessidades educacionais especiais. No final da década de 1950, na Dinamarca, o conceito de normalização é idealizado por Bank-Mikkelsen e Nirje almejando colocar ao alcance dos deficientes mentais modos e condições de vida diários os mais parecidos possíveis com as formas de vida do restante da sociedade (CARVALHO,1997). A ideia da integração surgiu para derrubar a prática da exclusão social que percorreu vários séculos. As instituições foram se especializando para atender pessoas com necessidades educacionais especiais. Todavia a segregação continuou sendo praticada. A ideia era prover serviços possíveis já que a sociedade não aceitava receber tais pessoas nos serviços existentes na comunidade. A década de 1960, foi marcada nos Estados Unidos por um aumento significativo de instituições especializadas, tais como: escolas especiais, clínicas de habilitação, oficinas protegidas de trabalho, clubes sociais especiais, associações desportivas especiais (ARANHA, 2000). 7 Fonte: www.afepunesp.blogspot.com.br A crise mundial do petróleo, segundo Mendes (1995) que atingiu diversos países e culminou em cortes de gastos com programas sociais, produzindo também mudança na filosofia de serviços, nas décadas de 60 e 70 do século anterior, em função do alto custo dos programas de atendimento segregados nos países desenvolvidos. Assim programas educacionais com práticas integradoras que significavam também, economia para os cofres públicos, passaram a ser defendidos. De acordo com Canziani (1995), a partir dos anos setenta, inicia-se nos Estados Unidos e atingindo outros países, o movimento de “vida independente”; por parte de 5 portadores de deficiências, dos pais e dos profissionais. Tal movimento defendia a eliminação da dependência e ressaltava o direito das pessoas com necessidades educacionais especiais, de construírem a sua autonomia, sendo sujeitos e não mais objetos de decisões tomadas sobre elas. Nesse contexto surge, em 1975, nos Estados Unidos a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (RIO DE JANEIRO, 1981) e o Programa de Ação das Nações Unidas (NAÇÕES UNIDAS, 1982) visando implementar tais direitos, amparados legalmente pela lei PL. 94.142/75 (EUA, 1978) que regulamentou oficialmente a colocação de pessoas com necessidades educacionais especiais em ambientes o menos restritivos possíveis, nos Estados Unidos. Impulsionada pelo lema do Ano Internacional das Pessoas Deficientes "Participação Plena e Igualdade", lançado em 1981 pela ONU, uma parcela da 8 população em muitos países começou a constatar que haveria uma necessidade de mudança também da sociedade, para se fazer valer esse direito, conforme relata Regen (1998) e, assim, se intensificaram em âmbito mundial, as discussões sobre a fusão do ensino especial com o regular. De acordo com Sailor, Gee e Karasolft (1993) duas ondas de reformas políticas no sistema educacional norte-americano, também influenciaram este movimento. A primeira, marcada pela busca de excelência escolar, destinava às escolas, fundos para enfrentar o desafio de melhorar a qualidade do ensino americano; a outra, a da restruturação escolar, visava uma revisão do currículo, avaliação do desempenho, instrução descentralizada, autonomia, orçamento, decisão compartilhada, fusão e coordenação dos recursos e envolvimento com a comunidade. Jönsson (1994) afirma que estes fatos citados acima deram início nos Estados Unidos e na Europa, seguidos por outros países, a uma nova caminhada em direção à conquista do direito à vida digna e integral, favorecendo o surgimento do conceito de inclusão no final da década de oitenta. Este autor enfatiza que: “para que as pessoas com deficiência realmente pudessem ter participação plena e igualdade de oportunidades, seria necessário que não se pensasse tanto em adaptar as pessoas à sociedade e sim adaptar a sociedade às pessoas (p.63)”. A busca da ciência por mecanismos para a libertação do homem de suas próprias condições da natureza tem sido contínua. Todavia o avanço tecnológico, não resultou, efetivamente em alteração das práticas vigentes. A história da Educação Especial no mundo percorreu então, segundo Aranha (2000) três paradigmas, o da Institucionalização, o dos Serviços e o de Suportes, estando esse último fundamentado técnico-cientificamente no conhecimento sobre os ganhos em desenvolvimento pessoal e social provenientes da convivência na diversidade e, sócio-politicamente, no princípio da igualdade, que aponta para a inclusão, entendida como “o processo de garantia do acesso imediato e contínuo da pessoa com necessidades especiais ao espaço comum da vida em sociedade, independentemente do tipo de deficiência e do grau de comprometimento apresentado (ARANHA, 2000, p.13)”. 9 Fonte: www.noticias.universia.com.br 2.1 Os caminhos da Educação Especial brasileira 1 O desenvolvimento histórico da educação especial no Brasil inicia-se no século 19, quando os serviços dedicados a esse segmento de nossa população, inspirados por experiências norte-americanas e europeias, foram trazidos por algunsbrasileiros que se dispunham a organizar e a implementar ações isoladas e particulares para atender a pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais. Essas iniciativas não estavam integradas às políticas públicas de educação e foi preciso o passar de um século, aproximadamente, para que a educação especial passasse a ser uma das componentes de nosso sistema educacional. De fato, no início dos anos 60 é que essa modalidade de ensino foi instituída oficialmente, com a denominação de "educação dos excepcionais". Podemos, pois, afirmar que a história da educação de pessoas com deficiência no Brasil está dividida entre três grandes períodos: De 1854 a 1956 - marcado por iniciativas de caráter privado; De 1957 a 1993 – definido por ações oficiais de âmbito nacional; De 1993.... – caracterizado pelos movimentos em favor da inclusão escolar. No primeiro período enfatizou-se o atendimento clínico especializado, mas incluindo a educação escolar e nesse tempo foram fundadas as instituições mais 11 Texto extraído do artigo: A educação especial no Brasil – da exclusão à inclusão escolar. 10 tradicionais de assistência às pessoas com deficiências mental, físicas e sensoriais que seguiram o exemplo e o pioneirismo do Instituto dos Meninos Cegos, fundado na cidade do Rio de Janeiro, em fins de 1854. Entre a fundação desse Instituto e os dias de hoje, a história da educação especial no Brasil foi se estruturando, seguindo quase sempre modelos que primam pelo assistencialismo, pela visão segregativa e por uma segmentação das deficiências, fato que contribui ainda mais para que a formação escolar e a vida social das crianças e jovens com deficiência aconteçam em um mundo à parte. A educação especial foi assumida pelo poder público em 1957 com a criação das "Campanhas", que eram destinadas especificamente para atender a cada uma das deficiências. Nesse mesmo ano, instituiu-se a Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro – CESB, seguida da instalação do Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, que até agora existe, no Rio de Janeiro/RJ. Outras Campanhas similares foram criadas posteriormente, para atender à outras deficiências. Em 1972 foi constituído pelo Ministério de Educação e Cultura – MEC o Grupo- Tarefa de Educação Especial e juntamente com o especialista James Gallagher, que veio ao Brasil a convite desse Grupo, foi apresentada a primeira proposta de estruturação da educação especial brasileira, tendo sido criado um órgão central para geri-la, sediado no próprio Ministério e denominado Centro Nacional de Educação Especial - CENESP. Esse Centro, hoje, é a Secretaria de Educação Especial - SEESP, que manteve basicamente as mesmas competências e estrutura organizacional de seu antecessor, no MEC. A condução das políticas brasileiras de educação especial, estiveram por muito tempo nas mesmas mãos, ou seja, foram mantidas por um grupo que se envolveu a fundo com essa tarefa. Essas pessoas, entre outras, estavam ligadas a movimentos particulares e beneficentes de assistência aos deficientes que até hoje têm muito poder sobre a orientação das grandes linhas da educação especial. Na época do regime militar eram generais e coronéis que lideravam as instituições especializadas de maior porte e, atualmente, alguns deles se elegeram deputados, após assumirem a coordenação geral de associações e continuam pressionando a opinião pública e o próprio governo na direção de suas conveniências. 11 Fonte: www.marluscosta.com.br Foram muitos os políticos, educadores, pais, personalidades brasileiras que se identificaram com a educação de pessoas com deficiência e que protagonizaram a história dessa modalidade de ensino. Todos tiveram papéis relevantes em todos os períodos desse caminhar e não podem ser ignorados, pois atuaram em quadros político-situacionais que de alguma forma afetaram a educação de pessoas com deficiência, seja avançando, ousando, transformando as propostas, seja retardando- as, impedindo a sua evolução para novos alvos educacionais. Os pais de pessoas com deficiência estão entre os que compõem essa liderança e a maioria deles têm sido uma grande força, mais para manter, do que para mudar as concepções e condições de atendimento clínico e escolar de seus filhos com deficiência. Não podemos, pois, desconsiderar as iniciativas de caráter privado e beneficente lideradas pelos pais no atendimento clínico e escolar de pessoas com deficiência assim como na formação para o trabalho (protegido), apesar de suas intenções serem na maioria das vezes, respaldadas pela discriminação e pelo forte protecionismo. Temos de destacar grupo os pais de crianças com deficiência mental, que são os mais numerosos e que fundaram mais de 1000 APAE em todo o Brasil. A tendência do movimento de pais é ainda a de se organizarem em associações especializadas, gerenciadas por eles próprios, que buscam parcerias com a 12 sociedade civil e o governo para atingir suas metas, sendo basicamente financiados pelos poderes públicos municipal, estadual e federal. Contrariamente a outros países, os pais brasileiros, na sua maioria, ainda não se posicionaram em favor da inclusão escolar de seus filhos. Apesar de figurar essa preferência na nossa Constituição Federal, observa-se uma tendência dos pais se organizarem em associações especializadas para garantir o direito à educação de seus filhos com deficiência. Só muito recentemente, a partir da última década de 80 e início dos anos 90 as pessoas com deficiência, elas mesmas, têm se organizado, participando de Comissões, de Coordenações, Fóruns e movimentos, visando assegurar, de alguma forma os direitos que conquistaram de serem reconhecidos e respeitados em suas necessidades básicas de convívio com as demais pessoas. Esses movimentos estão se infiltrando em todos os ambientes relacionados ao trabalho, transporte, arquitetura, urbanismo, segurança previdência social, acessibilidade em geral. As pessoas buscam afirmação e querem ser ouvidos, como outras vozes das minorias, que precisam ser consideradas em uma sociedade democrática, como a que hoje vivemos neste país. Mas, infelizmente, apesar de estarem presentes e terem mostrado suas atuações em vários aspectos da vida social, os referidos movimentos não são ainda fortes no que diz respeito às prerrogativas educacionais, aos processos escolares, notadamente os inclusivos. Fonte: www.blog.temonibus.com 13 3 LEGISLAÇÃO E DOCUMENTOS QUE EMBASAM A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL 2 3.1 1988- Constituição da República Federativa do Brasil Estabelece “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV). Define, ainda, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). 3.2 1989- Lei nº 7.853/89 Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de um a quatro anos de prisão, mais multa. 3.31990 – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº. 8.069/90 O artigo 55 reforça os dispositivos legais supracitados ao determinar que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. 3.4 1990 – Declaração Mundial de Educação para Todos Documentos internacionais passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. 2 Texto extraído do site: www.inclusaoja.com.br 14 3.5 1994 – Declaração de Salamanca 3.6 Dispõe sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educacionais especiais. 3.7 1994 – Política Nacional de Educação Especial Em movimento contrário ao da inclusão, demarca retrocesso das políticas pública ao orientar o processo de “integração instrucional” que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que “(…) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”. Fonte: www.vicentedopt.blogspot.com.br 3.8 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/96 No artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do 15 aprendizado” (art. 24, inciso V) e “(…) oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). Em seu trecho mais controverso (art. 58 e seguintes), diz que “o atendimento educacional especializado será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular”. 3.9 1999 – Decreto nº 3.298 que regulamenta a Lei nº 7.853/89 Dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. 3.10 2001 – Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica Determinam que os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais (art. 2º), o que contempla, portanto, o atendimento educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização. Porém, ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, acaba por não potencializar a educação inclusiva prevista no seu artigo 2º. 3.11 2001 – Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001 Destaca que “o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”. 2001 – Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001 → Afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa 16 impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. 3.12 2002 – Resolução CNE/CP nº1/2002 Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. Fonte: www.cpt.com.br 3.13 2002 – Lei nº 10.436/02 Reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia. 17 3.14 2003 – Portaria nº 2.678/02 Aprova diretriz e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional. 3.15 2004 – Cartilha – O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular O Ministério Público Federal divulga o documento com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão. 3.16 2004 – Decreto nº 5.296/04 Regulamenta as leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida (implementação do Programa Brasil Acessível). 3.17 2005 – Decreto nº 5.626/05 Regulamenta a Lei nº 10.436/02, visando à inclusão dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular. 3.18 2006 – Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos Lançado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, pelo Ministério da Educação, pelo Ministério da Justiça e pela UNESCO. Objetiva, dentre as suas ações, fomentar, no currículo da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na educação superior. 18 3.19 2007 – Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE Traz como eixos a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a implantação de salas de recursos multifuncionais e a formação docente para o atendimento educacional especializado. 3.20 2007 – Decreto nº 6.094/07 Estabelece dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas. 3.21 2008 – Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva Traz as diretrizes que fundamentam uma política pública voltada à inclusão escolar, consolidando o movimento histórico brasileiro. 3.22 2009 – Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Aprovada pela ONU e da qual o Brasil é signatário. Estabelece que os Estados Parte devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino. Determina que as pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório; e que elas tenham acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem. 3.23 2008 – Decreto nº 6.571 Dá diretrizes para o estabelecimento do atendimento educacional especializado no sistema regular de ensino (escolas públicas ou privadas).19 3.24 2009 – Decreto nº 6.949 Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Esse decreto dá ao texto da Convenção caráter de norma constitucional brasileira. 3.25 2009 – Resolução No. 4 CNE/CEB Institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, que deve ser oferecido no turno inverso da escolarização, prioritariamente nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular. O AEE pode ser realizado também em centros de atendimento educacional especializado públicos e em instituições de caráter comunitário, confessional ou filantrópico sem fins lucrativos conveniados com a Secretaria de Educação (art.5º). Fonte: www.ideiacriativa.org 3.26 2011 – Plano Nacional de Educação (PNE) Projeto de lei ainda em tramitação. A Meta 4 pretende “Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, 20 transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.”. Dentre as estratégias, está garantir repasses duplos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) a estudantes incluídos; implantar mais salas de recursos multifuncionais; fomentar a formação de professores de AEE; ampliar a oferta do AEE; manter e aprofundar o programa nacional de acessibilidade nas escolas públicas; promover a articulação entre o ensino regular e o AEE; acompanhar e monitorar o acesso à escola de quem recebe o benefício de prestação continuada. 3.27 2012 – Lei nº 12.764 Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. 4 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA3 O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os estudantes de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, 3 Texto extraído do site: www.portal.mec.gov.br 21 implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os estudantes tenham suas especificidades atendidas. Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os estudantes. 5 DIAGNÓSTICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL O Censo Escolar/MEC/INEP, realizado anualmente em todas as escolas de educação básica, possibilita o acompanhamento dos indicadores da educação especial: acesso à educação básica, matrícula na rede pública, ingresso nas classes comuns, oferta do atendimento educacional especializado, acessibilidade nos prédios escolares, municípios com matrícula de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, escolas com acesso ao ensino regular e formação docente para o atendimento às necessidades educacionais específicas dos estudantes. Para compor esses indicadores no âmbito da educação especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados referentes ao número geral de matrículas; à oferta da matrícula nas escolas públicas, escolas privadas e comunitárias sem fins lucrativos; às matrículas em classes especiais, escola especial e classes comuns de ensino regular; ao número de estudantes do ensino regular com atendimento educacional especializado; às matrículas, conforme tipos de deficiência, transtornos do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; à infraestrutura das escolas quanto à acessibilidade arquitetônica, à sala de recursos ou aos equipamentos específicos; e à formação dos professores que atuam no atendimento educacional especializado. A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instrumento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a série ou ciclo escolar dos estudantes identificados na área da educação especial, possibilitando monitorar o percurso escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar foi transformado em um sistema de informações on-line, o Censo Web, que qualifica o processo de coleta e tratamento 22 das informações, permite atualização dos dados dentro do mesmo ano escolar, bem como possibilita o cruzamento com outros bancos de dados, tais como os das áreas de saúde, assistência e previdência social. Também são realizadas alterações que ampliam o universo da pesquisa, agregando informações individualizadas dos estudantes, das turmas, dos professores e da escola. Fonte: www.ipodine.pt 6 IV – OBJETIVO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais, garantindo: Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; Atendimento educacional especializado; Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; 23 Participação da família e da comunidade; Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e Articulação Inter setorial na implementação das políticas públicas. Fonte: www.topgesto.com.br 7 ESTUDANTES ATENDIDOS PELA EDUCAÇÃO ESPECIAL Por muito tempo perdurou o entendimento de que a educação especial, organizada de forma paralela à educação comum, seria a forma mais apropriada para o atendimento de estudantes que apresentavam deficiência ou que não se adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino. Essa concepção exerceu impacto duradouro na história da educação especial, resultando em práticas que enfatizavam os aspectos relacionados à deficiência, em contraposição à sua dimensão pedagógica. O desenvolvimento de estudos no campo da educação e dos direitos humanos vêm modificando os conceitos, a legislação, as práticas educacionais e de gestão, indicando a necessidade de se promover uma reestruturação das escolas de ensinoregular e da educação especial. Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as escolas regulares com orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias e que estudantes com deficiência e altas habilidades/superdotação 24 devem ter acesso à escola regular, tendo como princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 2006, p.330). O conceito de necessidades educacionais especiais, que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa Declaração, ressalta a interação das características individuais dos estudantes com o ambiente educacional e social. No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para a organização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta o acesso de todos os estudantes e os apoios necessários para sua participação e aprendizagem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não alcançaram esse objetivo. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e em outros, como os transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento desses estudantes. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses estudantes no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. Os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam que as definições e uso de classificações devem ser contextualizados, não se esgotando na mera especificação ou categorização atribuída a um quadro de deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as pessoas se modificam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os estudantes. A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. 25 Os estudantes com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo estudantes com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Estudantes com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. Fonte: www.todostemosdiferencas.blogspot.com.br 8 DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam- se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à 26 escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos estudantes com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. Dentre as atividades de atendimento educacional especializado são disponibilizados programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O atendimento educacional especializado é acompanhado por meio de instrumentos que possibilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas escolas da rede pública e nos centros de atendimento educacional especializados públicos ou conveniados. O acesso à educação tem início na educação infantil, na qual se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos estudantes, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional. Desse modo, na modalidade de educação de jovens e adultos e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, formação para ingresso no mundo do trabalho e efetiva participação social. A interface da educação especial na educação indígena, do campo e quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento educacional especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos. 27 Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos estudantes. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. Para o ingresso dos estudantes surdos nas escolas comuns, a educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para estudantes surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais estudantes da escola. O atendimento educacional especializado para esses estudantes é ofertado tanto na modalidade oral e escrita quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros surdos em turmascomuns na escola regular. O atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. No processo de avaliação, o professor deve criar estratégias considerando que alguns estudantes podem demandar ampliação do tempo para a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de textos em Braille, de informática ou de tecnologia assistiva como uma prática cotidiana. 28 Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia-intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos estudantes com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. Para assegurar a intersetorialidade na implementação das políticas públicas a formação deve contemplar conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os estudantes. A acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliários – e nos transportes escolares, bem como as barreiras nas comunicações e informações. 9 INCLUSÃO ESCOLAR4 Inclusão escolar é acolher todas as pessoas, sem exceção, no sistema de ensino, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. O termo é associado mais comumente à inclusão educacional de pessoas com deficiência física e mental. 4 Texto extraído do site: www.portaleducacao.com.br 29 Fonte: www.acessibilidademeudireito.com.br Recusar-se a ensinar crianças e jovens com necessidades educacionais especiais (NEE) é crime: todas as instituições devem oferecer atendimento especializado, chamado de Educação Especial. No entanto, o termo não deve ser confundido com escolarização especial, que atende os portadores de deficiência em uma sala de aula ou escola separada, apenas formadas de crianças com NEE. Isso também é ilegal. O artigo 208 da Constituição brasileira especifica que é dever do Estado garantir "atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino", condição que também consta no artigo 54 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). A legislação também obriga as escolas a terem professores de ensino regular preparados para ajudar alunos com necessidades especiais a se integrarem nas classes comuns. Ou seja, uma criança portadora de deficiência não deve ter de procurar uma escola especializada. Ela tem direito a cursar instituições comuns, e é dever dos professores elaborar e aplicar atividades que levem em conta as necessidades específicas dela. 30 Fonte: www.phileodontologia.com.br No caso da alfabetização para cegos, por exemplo, o aluno tem direito a usar materiais adaptados ao letramento especial, como livros didáticos transcritos em braille para escrever durante as aulas. De acordo com o decreto 6.571, de 17 de setembro de 2008, o Estado deve oferecer apoio técnico e financeiro para que o atendimento especializado esteja presente em toda a rede pública de ensino. Mas o gestor da escola e as Secretarias de Educação e administração é que precisam requerer os recursos para isso. Às vezes o atendimento escolar especial (AEE) deve ser feito com um profissional auxiliar, em caso de paralisia cerebral, por exemplo. Esse profissional auxilia na execução das atividades, na alimentação e na higiene pessoal. O professor e o responsável pelo AEE devem coordenar o trabalho e planejar as atividades. O auxiliar não foge do tema da aula, que é comum a todos os alunos, mas o adapta da melhor forma possível para que o aluno consiga acompanhar o resto da classe. Mas a preparação da escola não deve ser apenas dentro da sala de aula: alunos com deficiência física necessitam de espaços modificados, como rampas, elevadores (se necessário), corrimões e banheiros adaptados. Engrossadores de lápis, apoio para braços, tesouras especiais e quadros magnéticos são algumas tecnologias assistivas que podem ajudar o desempenho das crianças e jovens com dificuldades motoras. 31 10 OS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5 Mas afinal, por que a pessoa com deficiência tem direito a frequentar a escola comum? Por que ela tem direito a apreender? Quais são os fundamentos filosóficos e psicológicos dos que defendem a inclusão escolar das pessoas com deficiências? 10.1 Os fundamentos filosóficos Fonte: www.cultura.culturamix.com O fundamento filosófico mais radical para a defesa da inclusão escolar de pessoas com deficiências é, sem dúvida, o fato de que todos nascemos iguais e com os mesmos direitos, entre eles o direito de convivermos com os nossos semelhantes. Não importam as diferenças, não importam as deficiências: o ser humano tem direito de viver e conviver com outros seres humanos, sem discriminação e sem segregações odiosas. E quanto mais “diferente” o ser humano, quanto mais deficiências ele tem, mais esse direito se impõe. E este é um direito natural, que nem precisaria estar positivado em lei. Não precisava constar na Constituição. Assim, o direito de estar numa sala de aula, junto com crianças da mesma idade, com ou sem deficiência, é anterior ao direito do professor de dar aula. O direito da criança e do adolescente de estar numa sala de aula é um direito que decorre do fato de ele ser cidadão, é um 5 Texto extraído do site: www.assistiva.com.br 32 direito natural. O direito do professorde dar aula decorre de uma portaria, que, em certos casos, pode ser revogada a qualquer momento. Ninguém pode revogar o direito à convivência e à educação. Em certo sentido, a escola é a continuação e a amplificação da família. A segregação, a discriminação, a exclusão é odiosa, tanto na família quanto na escola. No dizer de BOAVENTURA DE SOUZA SANTOS: “Temos o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”. O direito à educação, o direito de frequentar a escola comum (junto com os ditos “normais”), o direito a aprender nos “limites” das próprias possibilidades e capacidades, são decorrentes do direito primordial à convivência, até porque é na convivência com seres humanos - “normais” ou diferentes - que o ser humano mais aprende. Nesse sentido, o professor precisa perder a ilusão de que é com ele que a criança vai aprender as coisas mais importantes para a vida, aquelas das quais ele mais vai precisar. A maior parte do que o ser humano aprende, o aprende na convivência, na interação, através dos mecanismos que Piaget denomina de acomodação e adaptação, enfrentando os problemas do dia-a-dia. A boa escola é aquela que, ombreando com a escola da vida, oferece ao aluno bons “cardápios”, com produtos de boa qualidade, através de situações-problema, de questões bem elaboradas, de roteiros de trabalho, de projetos, de aulas onde o ator principal é o aluno e não o professor. 10.2 Os fundamentos psicológicos Do ponto de vista psicológico e afetivo, não há dúvida de que é na interação com o grupo e com as diferenças de sexo, de cor, de idade, de condição social e com as diferenças de aptidões e de capacidades físicas e intelectuais existentes no grupo que a criança vai construindo sua identidade, vai testando seus limites, desafiando suas possibilidades e, consequentemente, aprendendo. Este é o mundo real. E quanto mais diversificadas forem essas experiências, quanto mais instigantes esses desafios, mais a criança aprende. Segregar a pessoa com deficiência é negar-lhe o direito a viver num mundo real, é negar-lhe o direito a aprender pela convivência com pessoas ditas não deficientes. 33 CRSTIANE T. SAMPAIO e SÔNIA R. SAMPAIO, na sua obra Educação Inclusiva - o professor mediando para a vida, escrevem: “Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de repertórios, de visões de mundo, confrontos, ajuda mútua e consequente ampliação das capacidades individuais.” Fonte: www.neurokinder.com.br As mesmas autoras, com base na teoria de VIGOTSKY (A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo. Martins Fontes.1998), ressaltam: “Se construir conhecimentos implica uma ação compartilhada, já que é através dos outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são estabelecidas, a diversidade de níveis de conhecimento de cada criança pode propiciar uma rica oportunidade de troca de experiências, questionamentos e cooperação. A aceitação da criança deficiente pelos colegas vai depender muito do professor colocar em prática uma pedagogia inclusiva que não pretenda a correção do aluno com deficiência, mas a manifestação do seu potencial. A escola, nesta perspectiva, deve buscar consolidar o respeito às diferenças, vistas não como um obstáculo para o cumprimento da ação educativa, mas como fator de enriquecimento e melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos, tanto para alunos com deficiência quanto para aqueles sem deficiência.” Por isso, numa perspectiva de escola inclusiva, o ambiente escolar deve representar, com a maior fidelidade possível, a diversidade dos indivíduos que 34 compõem a sociedade. São as diferenças que possibilitam enriquecer as experiências curriculares e que ajudam a melhor assimilar o conhecimento que se materializa nas disciplinas do currículo. Somente numa escola em que a sociedade, sempre plural e heterogênea, esteja equitativamente representada, com alunos com deficiências ou não, é que o currículo escolar pode cumprir sua função: construir a cidadania e preparar os alunos para viverem em harmonia fora da escola, dotados de habilidades e competências que a experiência de escola e o conhecimento nela construído os ajudou a desenvolver. Fonte: www.turmadamonica.uol.com.br Nessa concepção de escola que não exclui ninguém, em que a deficiência, seja ela qual for, não deve constituir barreira para a criança permanecer na escola e aprender, vem assumindo particular importância e papel decisivo o atendimento educacional especializado, que tem como pressuposto fundamental o direito da criança com deficiência a frequentar a escola comum e de nela progredir, dentro de seus limites e possibilidades. 35 11 AS DIFERENTES NECESSIDADES ESPECIAIS6 Fonte: www.inclusaoaprendiz.wordpress.com Para falarmos das diferentes necessidades especiais, faz-se necessário uma breve introdução aos nossos sistemas sensoriais com os quais conhecemos e nos relacionamos com o mundo que são: a gustação; o olfato; o tato; a audição; a visão e a propriocepção. Legarda e Miketta (2008, p. 20) destacam três aspectos importantes e que estão relacionados aos sistemas sensoriais: 1. O uso integrado que fazemos dos sentidos em nossos primeiros anos de vida vai decrescendo com o passar dos tempos, devido à desvalorização da acuidade sensorial em nossa cultura e sistema educativo. Lamentavelmente, os currículos de estudo de crianças com mais de seis anos, descuidam, quase que completamente, desse importante aspecto do desenvolvimento que não se restringe apenas a uma forma de conhecer o meio ambiente, mas é também uma maneira de conhecermos a nós mesmos; 2. Os sentidos são nossa primeira fonte de conhecimento. No nascimento, não há o pensamento simbólico e nem o raciocínio lógico, somente o mundo sensorial e perceptivo. Assim sendo, estímulos variados são fundamentais nos primeiros anos de vida; 3. Nós, humanos, mostramos diferenças em nossos padrões sensoriais e em nossa capacidade de aprender por meio de um ou outro sentido, ou seja, alguns utilizam melhor a visão, outro a audição. 66 Texto extraído do artigo: Educação Especial e os Diferentes Tipos de Necessidades Especiais 36 O sentido do paladar ou gustação encontra-se nos receptores localizados na língua, as papilas gustativas. Esse sentido distingue quatro sabores básicos: amargo (parte posterior da língua); azedo e salgado (bordas da língua) e doce (ponta da língua). A gustação é nosso sentido mais fraco, devido a língua ter de cumprir outras funções como articular a fala, por exemplo. Fonte: www.inclusaoescolaraprendizagem.blogspot.com.br O sentido do olfato funciona com quimiorreceptores localizados no nariz e que captam as substâncias voláteis dispersas no ar. Há uma estreita relação entre gustação e olfato, o que pode ser experimentado cheirando e degustando ao mesmo tempo um pedaço de bolo. Os mesmos autores destacam que existe uma associação entre olfato e as lembranças e que essa relação pode ter um fundo adaptativo para nos proteger de perigos como alimentos venenosos, por exemplo, mas é uma associação pouco explorada no contexto pedagógico. O tato é um dos primeiros sentidos a amadurecer, tendo seus receptores na pele, onde há células especializadas para a percepção do calor, do frio e da dor. É importante no desenvolvimento emocional, no conhecimento do corpo e na formação de vínculosafetivos (Legarda e Miketta, 2008). A sensibilidade auditiva proporciona não só o reconhecimento objetivo dos sons ambientais (chuva, sons de instrumentos musicais, entre outros), mas participa efetivamente no processo de comunicação entre os indivíduos e, deste modo, constitui um importante elemento da linguagem. A perda da sensibilidade auditiva ou a surdez dificulta esse aspecto da relação humana, pois o nosso principal meio de comunicação é através da linguagem falada. O próprio 37 mecanismo de aprendizado da linguagem falada depende da audição (NISHIDA, 2007). Nabuco e Cortez (2005) esclarecem que, no início, os recém-nascidos enxergam apenas borrões. Entre a 4ª e 6ª semana de vida, passam a fixar o olharem objetos, uma vez que se completa a formação da região da retina que permite visualizar detalhes. A partir dos dois meses, as imagens que eram acinzentadas ganham matizes de vermelho, branco e azul. A visão evolui rápido, de modo que ao completar quatro meses a criança já distingue as demais cores e segue os objetos com os olhinhos. O passo seguinte é apanhar os objetos que vê. Posteriormente, passa a reconhecer as pessoas e estranham rostos e locais diferentes. Geralmente, até os cinco anos a criança atinge o desenvolvimento total da visão. A propriocepção é definida por Legarda e Miketta (2008, p. 19) como “aquele sentido que informa sobre a localização de uma parte móvel do corpo, a mão, por exemplo, em relação a outra de posição fixa, o tronco”. A propriocepção acontece por meio de diversos sensores específicos espalhados pelo corpo que reconhecem as mudanças de posição e de movimento. A propriocepção nos ajuda a manter a posição adequada em uma cadeira, segurar utensílios tais como uma caneta ou um garfo de maneira adequada, a julgar a distância que estamos de um objeto para não bater nele, quanta pressão precisamos fazer para evitar quebrar um lápis (Dutra, 2007). Apresentados os sentidos, vamos partir para as deficiências que podem acometer o ser humano. Fonte: www.centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com.br 38 11.1 Deficiências sensoriais Várias são as deficiências que um ser humano pode apresentar. Dentre elas temos as deficiências sensoriais, que serão nosso ponto de partida para refletirmos sobre a relação existente entre elas e práticas pedagógicas para promover a educação inclusiva. Outro objetivo deste capítulo é refletir sobre a utilização dos sentidos para conhecimento e relacionamento com o mundo, além de valorizarmos o desenvolvimento da acuidade sensorial no sistema educativo. Dentre as deficiências sensoriais analisaremos a deficiência auditiva e a visual, mas também há a múltipla deficiência sensorial onde acontece a associação entre surdez e/ou deficiência visual a outras deficiências (intelectual e/ou física), bem como distúrbios (neurológico, emocional de linguagem ou no desenvolvimento global) que podem acarretar atrasos no desenvolvimento, devido às dificuldades de interação com o meio. Fonte: www02.madeira-edu.pt 11.2 Deficiência visual Um primeiro contato com uma pessoa cega, geralmente, é suficiente para que ela retenha na memória a sua voz, reconheça-lhe pelo toque ou talvez pelo seu perfume. Não que ela seja um ser extraordinário, mas por necessidade esses sentidos 39 lhe são estimulados e favorecem sua interação com o meio. Em relação às pessoas com baixa visão, aquelas com visão reduzida e cuja deficiência é corrigível por lentes, cirurgias ou tratamento, inúmeras pesquisas comprovam que a estimulação da visão residual favorece o ganho de eficiência na utilização da visão preservada. A deficiência visual é uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou hereditárias, mesmo após tratamento clínico e/ ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. A deficiência visual inclui dois grupos: cegueira, visão subnormal (FIOCRUZ, 2009). 11.3 Cegueira Têm somente a percepção da luz ou que não têm nenhuma visão e precisam aprender através do método Braille e de meios de comunicação que não estejam relacionados com o uso da visão. Deverá, no entanto, ser incentivado a usar seu resíduo visual nas atividades de vida diária sempre que possível. 11.4 Visão Subnormal ou Baixa Visão É considerado portador de baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limita seu desempenho. Sua aprendizagem se dará através dos meios visuais, mesmo que sejam necessários recursos especiais. Tanto a cegueira total quanto a visão subnormal pode afetar a pessoas em qualquer idade. Bebês podem nascer sem visão e outras pessoas podem tornar-se deficientes visuais em qualquer fase da vida (FIOCRUZ, 2009). Ela também ocorre independentemente de sexo, religião, crenças, grupo étnico, raça, ancestrais, educação, cultura, saúde, posição social, condições de residência ou qualquer outra condição específica. A deficiência visual interfere em habilidades e capacidades e afeta não somente a vida da pessoa que perdeu a visão, mas também dos membros da família, amigos, colegas, professores, empregadores e outros. O mais importante é criar o ambiente propício para a criança com deficiência visual conseguir alcançar um desenvolvimento compatível com o estágio de vida que se encontrar até que possa ter a capacidade de se tornar independente e ativa socialmente. Para tanto, é extremamente importante 40 que pais, amigos, professores e profissionais de saúde formem uma "equipe humana", onde cada um terá seu papel na estimulação precoce da criança, inserindo-a verdadeiramente na circunstância social em que se encontre (HADDAD, SEI, BRAGA, 2009). Fonte: www.capitalteresina.com.br 11.5 Deficiência auditiva As pessoas com surdez, por sua vez, são extremamente visuais, o que favorece o domínio de uma linguagem visual-espacial. Também é importante considerar as pessoas que apresentam resíduo auditivo e que, portanto, carecem de estímulos dessa natureza (FIOCRUZ, 2009). Deficiência auditiva é considerada como a diferença existente entre o desempenho do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora de acordo com padrões estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI -1989). Considera-se, em geral, que a audição normal corresponde à habilidade para detecção de sons até 20 dB N.A (decibéis, nível de audição). A audição desempenha um papel principal e decisivo no desenvolvimento e na manutenção da comunicação por meio da linguagem falada, além de funcionar como um mecanismo de defesa e alerta contra o perigo que funciona 24 horas por dia, pois nossos ouvidos não descansam nem quando dormimos. 41 Dentre os tipos de deficiência auditiva temos a condutiva, sensório-neural, mista, central ou surdez central. 11.6 Condutiva Quando ocorre qualquer interferência na transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna. A grande maioria das deficiências auditivas condutivas pode ser corrigida através de tratamento clínico ou cirúrgico. Essa deficiência pode ter várias causas, entre elas podem-se citar: corpos estranhos no conduto auditivo externo; tampões de cera; otite externa e média; mal formação congênita do conduto auditivo; inflamação da membrana timpânica; perfuração do tímpano; obstrução da tuba auditiva; entre outras. Fonte: www.deficienciaauditiva.com.br 11.7 Sensório-Neural Quando há uma impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da orelha interna ou do nervo auditivo. Esse tipo de deficiência auditiva éirreversível. A deficiência auditiva sensório-neural pode ser de origem hereditária, como problemas da mãe no pré-natal tais como a rubéola, sífilis, herpes, toxoplasmose, alcoolismo, toxemia, diabetes, entre outros. Também podem ser 42 causadas por traumas físicos, prematuridade, baixo peso ao nascimento, trauma departo, meningite, encefalite, caxumba, sarampo, entre outros. 11.8 Mista Quando há uma alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo. O audiograma mostra geralmente limiares de condução óssea abaixo dos níveis normais, embora com comprometimento menos intenso do que nos limiares de condução aérea. 11.9 Central ou Surdez Central Este tipo de deficiência auditiva não é, necessariamente, acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral (SNC). Entre os muitos instrumentos usados para comunicação não oral, figura a linguagem dos sinais, criada por um monge beneditino francês, morador de um mosteiro onde imperava a lei do silêncio. Adotada há mais de cem anos, no Brasil é chamada de Libras. Segundo a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS, um indivíduo que já tenha nascido com deficiência auditiva pode levar uma no para aprender a linguagem. Já alguém que ouve bem ou que perdeu a capacidade auditiva depois de adulto, pode levar um pouco mais de tempo para aprender, por ter se habituado à linguagem oral (FIOCRUZ, 2009). 11.10 Deficiências físicas Encontramos na literatura diferentes conceitos para deficiência física, mas vamos tomar como base o conceito explicitado no art. 4º do Decreto nº 3.298/99 da Legislação Brasileira. Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, 43 paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho das funções. Fonte: www.umbanda24horas.com.br Essa definição nos leva a entender que a função física pode ficar comprometida quando faltar algum membro (quando houver amputação), sua má-formação ou deformação (alterações que comprometam o sistema muscular e esquelético). Quanto às lesões motoras decorrentes de lesão do sistema nervoso, estas podem ser de diferentes tipos, como alterações de: • ordem muscular – hipertonias, hipotonias, atividades reflexas, movimentos descoordenados e involuntários; • ordem nervosa, no que diz respeito à sensibilidade e à força muscular – hemiparesias, paraparesia, monoparesia e tetraparesia (BRASIL, 1999). Ainda encontraremos alterações funcionais motoras decorrentes de lesão do Sistema Nervoso e, nesses casos, observaremos principalmente a alteração do tônus muscular (hipertonia, hipotonia, atividades tônicas reflexas, movimentos involuntários e incoordenados). As terminologias “para, mono, tetra, tri e hemi”, diz respeito à determinação da parte do corpo envolvida, significando respectivamente, “somente os membros inferiores, somente um membro, os quatro membros, três membros ou um lado do corpo” (BRASIL, 1999). A deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema 44 Nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir grandes limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida (BRASIL, 2006, p. 28). Dentre as causas da deficiência física temos: • Lesão cerebral (paralisia cerebral); • Lesão medular; • Miopatias (distrofias musculares); • Patologias degenerativas do sistema nervoso central (esclerose múltipla); • Lesões nervosas periféricas; • Amputações; • Malformações congênitas; • Distúrbios posturais da coluna; • Reumatismos inflamatórios; • Acidentes; • Traumatismos crânio-encefálico. A paralisia cerebral é uma das causas mais frequentes que encontramos como deficiência física e que chega até a escola, portanto, faz-se necessário dar uma atenção especial ao seu estudo. Fonte: www.revistahcsm.coc.fiocruz.br 45 As crianças que sofrem dessa patologia são motivo de grande preconceito e discriminação na escola, principalmente porque as pessoas pensam que é uma deficiência mental, o que é um grande equívoco. Muitas dessas crianças têm dificuldades de se comunicar e expressar devido às suas limitações motoras e não cognitivas e demonstram um comportamento alheio à realidade, por falta de oportunidades e de mediações que lhes auxiliem na expressão de toda sua vontade. A principal característica da paralisia cerebral é o déficit motor, entretanto, quase sempre se pode encontrar um ou outro distúrbio decorrente da lesão neurológica como: convulsões que podem levar ao déficit cognitivo, alterações oculares e visuais, distúrbios de deglutição, comprometimento auditivo, alterações nas funções corticais superiores, distúrbios do comportamento (BRASIL, 2007). Importante ressaltar que esses distúrbios que acompanham a paralisia cerebral podem ser decorrentes também do meio em que a criança vive, suas condições de higiene, nutrição, tratamentos e oportunidades em geral. Como causas da paralisia cerebral que podem ocorrer isoladas ou associadas, Braga (1995 apud Brasil, 2007) sintetiza assim: • Pré-natais – infecções intrauterinas (rubéola, toxoplasmose, citomegalia, herpes e sífilis), anóxia fetal, exposição à radiação ou a drogas, erros de migração neuronal e outras malformações cerebrais; • Peri-natais – complicações durante o parto (traumatismo cerebral ou anóxia em trabalho de parto difícil ou demorado), prematuridade, nascimento com baixo peso, entre outros; • Pós-natais – traumatismos crânio-encefálicos, infecções do sistema nervoso central (encefálicos e meningites), anóxia cerebral (devido a asfixias, afogamentos, convulsões ou paradas cardíacas) e acidente vascular cerebral. 11.11 Deficiências mentais Na procura de uma compreensão mais global das deficiências em geral, em1980, a Organização Mundial de Saúde propôs três níveis para esclarecer todas as deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvantagem social. 46 • Deficiência – refere-se a uma perda ou anormalidade de estrutura ou função. É relativa a toda alteração do corpo ou aparência física, de um órgão ou de uma função, qualquer que seja sua causa. • Incapacidade – refere-se à restrição de atividades em decorrência de uma deficiência. Incapacidades refletem às consequências das deficiências em termos de desempenho e atividade funcional do indivíduo. • Desvantagem – refere-se à condição social ou prejuízo resultante de deficiência e/ou incapacidade. As desvantagens dizem respeito aos prejuízos que o indivíduo experimenta devido à sua deficiência. Sua deficiência e incapacidade refletem, pois, a adaptação do indivíduo e a interação dele como seu meio. Fonte: www.educamundo.com.br Em 2001, essa proposta, revista e reeditada, introduziu o funcionamento global da pessoa com deficiência em relação aos fatores contextuais e do meio, (re)situando- a entre as demais e rompendo o seu isolamento. Ela chegou a motivara proposta de substituição
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