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Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte I

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10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 1/35
HISTÓRIA DO ENSINO DA
ARTE
Tópico 1
ENSINO DA ARTE NO
BRASIL
Tópico 2
LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA E O ENSINO
DA ARTE
A partir do estudo desta unidade você será capaz de:
• re�etir sobre Arte e Arte/Educação;
• conhecer a trajetória do ensino da Arte no Brasil;
• compreender a legislação educacional brasileira para o ensino da
Arte.
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 2/35
Tópico 3
PCN - PARÂMETROS
CURRICULARES
NACIONAIS PARA O
ENSINO FUNDAMENTAL:
ARTE
Tópico 4
RCN - REFERENCIAL
CURRICULAR NACIONAL
PARA A EDUCAÇÃO
INFANTIL
ENSINO DA ARTE NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Estamos iniciando uma disciplina de grande importância para a educação social e
cultural do nosso país. Porém, antes de discutirmos a história do Ensino da Arte no
Brasil propriamente dita, precisamos re�etir sobre o sentido de Arte e
Arte/Educação.
Compreender o sentido de Arte e Arte/Educação permitirá re�etir sobre as
questões referentes a metodologias do ensino que in�uenciaram e marcaram a
identidade de nossos professores.
Durante esta disciplina, vamos compreender muitas das atitudes que emergem
nas aulas de Arte, caracterizando esta área de conhecimento com a real
importância da qual é merecedora. É muito importante que você, acadêmico/a,
enquanto educador/a, re�ita sobre o papel da Arte na vida das pessoas e na
sociedade como um todo.
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 3/35
Neste tópico dedicaremos nossos estudos para a caracterização de Arte e
Arte/Educação e grandes nomes relacionados à pesquisa sobre o ensino da Arte
no Brasil e no mundo.
2 CARACTERIZANDO ARTE E ARTE/EDUCAÇÃO
A Arte está presente na vida das pessoas desde o início da humanidade como uma
maneira de comunicação e expressão. Desde a Pré-História o homem já se
comunicava através de desenhos e códigos impressos na rocha. Por meio das
expressões artísticas é possível, além de manifestar sentimentos, perceber o
mundo de forma poética, sensível e contextualizada.
A de�nição de Arte, na época em que vivemos é tarefa complexa, destinada ao
campo da Filoso�a em meio a discussões de estética, semiótica e do “Belo”.
A�nal, o que é belo?
Poderíamos passar a disciplina inteira discutindo a resposta a esta pergunta! No
entanto, convido você, acadêmico/a, a re�etir sobre as linguagens da Arte e as
características que esta área de conhecimento pode apresentar em diferentes
tempos, marcando a história da humanidade de forma inteligente e poética.
Ouvir uma música, uma poesia, apreciar um quadro, uma fotogra�a, uma
apresentação de teatro ou dança são modos de fruir e sentir Arte. Fruir Arte é um
processo pelo qual o ser humano conhece a respeito da obra, do artista que a
criou, de si próprio e do mundo onde está inserido. Assim, o trabalho com a Arte
está relacionado à percepção, à emoção, à intuição e à sensibilidade. “A arte é, por
conseguinte, uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior
atenção ao seu próprio processo de sentir”. (DUARTE JÚNIOR, 1988, p. 65).
Muito bem!!! Agora que estamos envolvidos nesta proposta de estudos,
quero ajudá-lo/a a vencer mais este desa�o... Pesquisei no Dicionário
Houaiss da língua portuguesa (2009, p. 932) o signi�cado da palavra fruir.
FRUIR signi�ca: 1 desfrutar, gozar, utilizar (vantagens, benefícios etc.)
1.1 Rubrica: direito civil, desfrutar (as vantagens ou das vantagens de
determinado bem); usufruir.
2 Derivação: por extensão de sentido (da acp. 1) desfrutar
prazerosamente (algo ou de algo).
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 4/35
Leonardo
da Vinci
“A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível”.
Fernando
Pessoa
“A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em
os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade
para especial libertação”.
Pablo
Picasso
“A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade”.
Então podemos concluir que fruir quer dizer apreciar, aproveitar,
desfrutar, sentir, ler obra de arte.
Vamos re�etir sobre os dizeres de grandes artistas, referentes à Arte:
Após ler as frases desses grandes artistas convidamos você, acadêmico/a, a re�etir
sobre a seguinte obra: o poema de Cruz e Souza, sobre “Arte”.
ARTE
Como eu vibro este verso, esgrimo e torço,
Tu, o poeta moderno, esgrime e torce;
Emprega apenas um pequeno esforço,
Mas sem que nada a pura ideia force.
Para que saia vigoroso o verso,
Como organismo que palpita e vibra,
É mister um sistema altivo e terso
De nervos, sangue e músculos e �bra.
Que o verso parta e gire como a �echa
Que do alto do ar, aves, além, derruba
E como um leão ruja feroz na brecha
Da estrofe, alvoroçando a cauda e a juba.
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 5/35
Para que tenhas toda a envergadura
De asa, o teu verso, como a cimitarra
Turca apresente a lâmina segura,
Poeta, é mister como um leão, ter garra.
Essa bravura atlética e leonina
Só podem ter artistas deslumbrados
Que sorveram com lábios e retina
A luz do amor que os fez iluminados.
Nem é preciso, poeta, que te esbofes
Para ferir um verso que fuzile;
Põe a alma e muitas almas nas estrofes
E deixa, en�m, que o verve tamborile.
Busca palavras límpidas e novas,
Resplandecentes como sóis radiosos
E sentirás como te surgem trovas
Belas de madrigais deliciosos.
Busca também palavras velhas, busca,
Limpa-as, dá-lhes o brilho necessário
E então verás que cada qual corusca,
Com dobrado fulgor extraordinário.
Que as frases velhas são como as espadas
Cheias de nódoas de ferrugem, velhas,
Mas que assim mesmo estando enferrujadas
Tu, grande artista, as brunes e as espelhas.
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 6/35
Que toda a vida e sensação de estilo
Está na frase, quando se coloca,
Antiga ou nova, mas trazendo aquilo
Que soa como um tímpano que toca.
Como o escultor que apenas fez de um bloco
A estátua - com supremo e nobre a�nco
Estuda a natureza num só foco:
A prata, o bronze, o cobre, o ferro, o zinco.
Estuda dos rubins, estuda do ouro
E dos corais, da pérola e sa�ra,
Todo esse íris febril radiante e louro
Que e a centelha de sol em toda a lira.
Estuda todos os metais, estuda,
Desce a matéria prodigiosa e vasta,
Estuda nela a natureza muda,
Os veios de cristal da origem casta.
Estuda toda a intensa natureza
Feita de aromas, de canções e de asas
E sente a luz da cor e da beleza
Rir, �amejar e arder, iriar em brasas.
Faz dos teus pensamentos argonautas
Rasgando as largas amplidões marinhas
Soprando, a lua, peregrinas �autas,
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 7/35
Como os pagãos sob o dossel das vinhas.
Assim, pois, saberás tudo o que sabe
Quem anda por alturas mais serenas
E aprenderás então como é que cabe
A natureza numa estrofe apenas.
Assim terás o culto pela forma,
Culto que prende os belos gregos da arte
E levarás no teu ginete, a norma
Dessa transformação por toda a parte.
Enche de alegres vibrações sonoras
A tua ideia pródiga e valente,
Põe nela todo o incêndio das auroras
Para torná-la emocional e ardente.
Derrama luz e cânticos e poemasNo verso e fá-lo musical e doce
Como se o coração, nessas supremas
Estrofes, puro e diluído fosse.
Que a abelha de ouro do teu verso esvoace,
Fulja como um fuzil numa borrasca.
Que o verso quando é bom por qualquer face
Lembra um fruto saudável desde a casca.
Com arte, forma, cor, tudo isso em jogo,
Engrinaldado e rútilo de crenças
O sonho cresce - o pássaro de fogo
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
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Que habita as altas regiões imensas.
E canta o amor, o sol, o mar e o vinho,
As esperanças e o luar e os beijos
E o corpo da mulher – esse carinho –
Canta melhor, vibra com mais desejo.
Canta-lhe a sinfonia dos olhares
A cálida magnólia austral das pomas,
E quando então tudo isso en�m cantares
Em tudo põe a �uidez de aromas.
Vibra toda essa luz que do ar transborda
Como todo o ar nos seres vai vibrando
E da harpa do teu sonho, corda a corda,
Deixa que as ilusões passem cantando.
Na alma do artista, alma que trina e arrulha,
Que adora e anseia, que deseja e ama,
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama.
Pois essa chama que a fagulha gera,
Que enche e que acende o espírito de força,
Sobe pela alma como primavera
De rosas sobe por coluna torsa.
Faz estrofes assim, de asas de rima,
Depois de fecundá-las e acendê-las
Unidade 1 - Tópico 1 
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
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De amor, de luz - põe lágrimas em cima,
Como as e�orescências das estrelas.
FONTE: Adaptado de: <
http://bit.ly/2xIa0IQ
>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Convidamos você a ler Cruz e Souza com o objetivo de conhecer sua obra e
também com a �nalidade de contextualizá-la na busca de re�exões acerca da
palavra “Arte”.
Você já se perguntou qual a real importância da Arte na vida das pessoas?
Barbosa (2002) atenta que é impossível conhecer a cultura de um país, sem
conhecer sua arte, pois é importante compreender que a Arte é a representação
do país por seus próprios membros. É por meio da Arte que podemos conhecer e
entender a cultura do nosso tempo, sendo este um processo fundamental para a
construção humana sensível.
Quando falamos de “construção humana sensível”, não estamos generalizando a
Arte como forma de despertar apenas sentimentos, pois desta forma estaríamos
reduzindo seu real papel enquanto área de conhecimento presente na vida das
pessoas. Estamos aqui nos referindo a todos os elementos que permeiam esta
construção de conhecimento cultural e histórico através da Arte, pois “[...] a arte
como linguagem, expressão e comunicação, trata da percepção, da emoção, da
imaginação, da intuição, da criação, elementos fundamentais para a construção
humana sensível”. (PILLOTTO, 2004, p. 38). Como vetor de construção humana
sensível, a Arte possibilita contato com o mundo e consigo mesmo. Permite que,
por meio dela, a criança conheça e compreenda o contexto onde está inserida,
bem como desenvolva conhecimentos artísticos, culturais e históricos.
Já o valor da arte para Ferraz e Fusari (2009, p. 18), “[...] está em ser um meio pelo
qual as pessoas expressam, representam e comunicam conhecimentos e
experiências”.
No que se refere à Arte/Educação, esta proporciona aos alunos o contato direto
com imagens e objetos artísticos. Este contato e o trabalho com as produções
artísticas desenvolvido por professores de Arte no contexto escolar permitem,
além do contato com a Arte, momentos de criação e de expressão individuais e
coletivos. Permitem ao aluno conhecer a realidade do seu tempo, a sua cultura e a
sua história.
Se pretendemos de fato uma educação para a cidadania, que entenda os sujeitos
como construtores de suas histórias, temos que garantir a educação estética e
artística nos espaços das instituições educacionais, talvez o único para a maioria
Unidade 1 - Tópico 1 
http://bit.ly/2xIa0IQ
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das crianças, a única possibilidade para adentrarem no universo poético e estético.
(PILLOTTO, 2004, p. 59).
A escola é o espaço institucional no qual o aluno tem a oportunidade de conhecer,
de forma intencional ou não, os conhecimentos históricos e culturais construídos
pela sociedade no decorrer dos tempos. É o espaço que permite uma relação
entre história, cultura e Arte. “Ao conhecer a arte produzida em diversos locais, por
diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as outras produções do
campo artístico (artesanato, objetos, design, audiovisual etc.), o educando amplia
sua concepção da própria arte e aprende dar sentido a ela.” (FERRAZ; FUSARI,
2009, p. 19).
Mas a�nal, qual a função da arte na escola?
Pesquisas indicam que a Arte desenvolve a cognição de crianças e adolescentes,
proporcionando conhecimento e expressão não apenas racional, mas também
afetivo e emocional. Barbosa (2002) pontua que a função da Arte na Educação é
essa, desenvolver as diferentes inteligências.
Ana Mae Barbosa foi uma das pioneiras da Arte/Educação no Brasil.
Para a autora, “[...] através das artes temos a representação simbólica dos
traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a
sociedade ou o grupo social, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas
tradições e crenças. A arte, como uma linguagem presentacional dos
sentidos, transmite signi�cados que não podem ser transmitidos através de
nenhum outro tipo de linguagem, tais como as linguagens discursiva e
cientí�ca. Não podemos entender a cultura de um país sem conhecer sua
arte. Sem conhecer as artes de uma sociedade, só podemos ter
conhecimento parcial de sua cultura. Aqueles que estão engajados na tarefa
vital de fundar a identi�cação cultural, não podem alcançar um resultado
signi�cativo sem o conhecimento das artes. Através da poesia, dos gestos, da
imagem, as artes falam aquilo que a história, a sociologia, a antropologia etc.
não podem dizer porque elas usam um outro tipo de linguagem, a
discursiva, a cientí�ca, que sozinhas não são capazes de decodi�car nuances
culturais. Dentre as artes, a arte visual, tendo a imagem como matéria-prima,
torna possível a visualização de quem somos, onde estamos e como
sentimos. A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um
importante instrumento para a identi�cação cultural e o desenvolvimento.
Através das artes é possível desenvolver a percepção e a imaginação,
apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica,
Unidade 1 - Tópico 1 
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https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 11/35
permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de
maneira a mudar a realidade que foi analisada”.
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2WfZ9zV>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Diante dos dizeres de Ana Mae Barbosa, perguntamos:
• Como iniciou a trajetória do ensino da Arte no Brasil?
• Quais foram as in�uências históricas, sociais e pedagógicas que marcam o ensino
da Arte até os dias de hoje?
• Quais os nomes que marcaram esta trajetória?
É muito importante que você, acadêmico/a, re�ita sobre essas questões
para compreender a sua prática pedagógica. Juntos, no próximo tópico,
vamos re�etir sobre esta trajetória.
3 ARTE E A EDUCAÇÃO JESUÍTICA
Os primeiros registros relacionados ao ensino da Arte no Brasil são datados
aproximadamente entre os anos de 1549 e 1808, período em que a educação
estava voltada para os nobres, sob a responsabilidade de grupos religiosos,
principalmente os jesuítas. Neste período no Brasil a Educação dominada pela
missão jesuítica era dividida em dois projetos: um para a catequização dos índios e
outro para a elite dominante.
Como, nesta época,a formação era destinada à elite e à catequização dos nativos,
entre os donos de terras desenvolveu-se um desejo de demonstrar a hierarquia
através de suas riquezas e, dentre elas, os títulos acadêmicos.
Unidade 1 - Tópico 1 
http://bit.ly/2WfZ9zV
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 12/35
Segundo Barbosa (2002), durante o império objetivava-se formar uma elite que
pudesse defender a colônia dos invasores, uma elite que pudesse governar o país
e que motivasse culturalmente a corte.
FIGURA 1 – EDUCAÇÃO JESUÍTICA
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2WjtwWu>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Segundo Ferraz e Fusari (2009), no Brasil fundaram-se as escolas de ler/escrever e
de doutrina em locais diferentes. O método utilizado pelos jesuítas era atrativo,
pois aproveitavam a música, o canto coral e o teatro, para �nalidade de formação
religiosa.
Com relação aos nativos, eram educados nas missões e nos sistemas de “reduções”
destinadas à catequese. As reduções, assim como as residências e os colégios,
tornaram-se verdadeiras “escolas-o�cinas” que formavam artesãos e pessoas para
trabalhar em todas as áreas fabris. Nesses locais, os “irmãos o�cinas” exerciam e
ensinavam vários ofícios, tais como pintura, carpintaria, instrumentos musicais,
tecelagem etc. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 41).
Ainda, segundo Ferraz e Fusari, 2009, os índios aprenderam a tocar e construir
instrumentos, como também a composição musical. Neste período os poetas e
escritores tinham grande prestígio, diferente dos artistas que não eram tão
valorizados.
Foi por volta de 1808, através das reformas do Marquês de Pombal, que a
educação jesuítica perdeu sua força. Os jesuítas perderam o poder de atuar junto
às escolas, porém os professores aptos a atuar eram os formados pelos próprios
jesuítas.
Este período foi marcado por mudanças no cenário político, educacional e cultural
do Brasil. O sistema educacional foi dividido em uma estrutura de três níveis de
ensino, primário, secundário e superior, além de cursos pro�ssionalizantes.
Este momento pedia uma reestruturação cultural no país, que �cou marcada pela
vinda da Missão Artística Francesa para o Brasil, ação de D. João VI, com o objetivo
de “[...] reformular os padrões estéticos vigentes”. (FERRAZ e FUSARI, 2009, p. 42).
Unidade 1 - Tópico 1 
http://bit.ly/2WjtwWu
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 13/35
4 A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA
A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil, che�ada por Joachim Lebreton, com
um grupo de artistas importados da França no ano de 1816, encarregados de
substituir a concepção popular de arte, assim como o Barroco Brasileiro, pelo
Neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, pintura, escultura e moda europeia.
Dois dos principais artistas desta missão foram: Taunay e Debret.
FIGURA 2 – NICOLAS TAUNAY – (1755-1830)
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/39VKIVQ>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Taunay foi pintor francês de grande destaque na corte de Napoleão Bonaparte e
considerado um dos mais importantes da Missão Francesa. Ficou no Brasil por
cinco anos e retratou paisagens do Rio de Janeiro.
FIGURA 3 – LARGO DA CARIOCA, 1816, DE NICOLAS TAUNAY
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/38FllGb>. Acesso em: 24 ago. 2010.
FIGURA 4 – JEAN-BAPTISTE DEBRET – (1768-1848)
Unidade 1 - Tópico 1 
http://bit.ly/38FllGb
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 14/35
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/33kEQmq>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Debret é conhecido como a alma da Missão Francesa. Ele foi desenhista,
aquarelista, pintor cenográ�co, decorador, professor de pintura e organizador da
primeira exposição de arte no Brasil (1829). Em 1818 trabalhou no projeto de
ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para os festejos da aclamação de D.João
VI como rei de Portugal, Brasil e Algarve. Mas é em “Viagem pitoresca ao Brasil”,
coleção composta de três volumes, com um total de 150 ilustrações, que ele
retrata e descreve a sociedade brasileira. Seus temas preferidos são a nobreza e as
cenas do cotidiano brasileiro e suas obras nos dão uma excelente ideia da
sociedade brasileira do século XIX.
FIGURA 5 – ENGENHO MANUAL QUE FAZ CALDO DE CANA, 1822, DEBRET
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/38FllGb>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Acadêmico/a, para que você aprofunde seus conhecimentos sobre Taunay
e Debret, recomendamos os seguintes livros:
O SOL DO BRASIL – Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas
franceses na corte de D. João . Lilia Moritz Schwarcz.
A historiadora Lilia Moritz Schwarcz se debruça sobre a vida e a obra do
pintor francês Nicolas-Antoine Taunay. Um ensaio agudo a respeito do
imaginário francês sobre os trópicos, da arte neoclássica, da vinda da família
Unidade 1 - Tópico 1 
http://bit.ly/38FllGb
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 15/35
real portuguesa e do grupo que a historiogra�a batizou de "Missão Artística
Francesa".
DEBRET E O BRASIL – Pedro Correa do Lago e Julio Bandeira, Editora:
Capivara.
Com 708 páginas e mais de 1.300 imagens, este volume ilustra a
totalidade dos trabalhos do artista que os autores conseguiram identi�car e
descrever como resultado de uma pesquisa. As centenas de óleos, aquarelas,
desenhos e gravuras, produzidas por Debret nos 15 anos passados no Brasil
(1816-1831), estão reunidos neste volume, para permitir uma visão da obra
do pintor.
Foi com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil que, em 1816, foi criada a
Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, que após dez anos foi
transformada em Imperial Academia e Escola de Belas Artes. Foi a instituição
o�cial do ensino da Arte no Brasil, porém ainda com orientações de institutos
similares na Europa.
Segundo Barbosa (2002), a Academia de Belas Artes esteve a serviço do reinado e
império, além de contribuir para a estruturação de um preconceito contra o ensino
da Arte. Os artistas responsáveis pelo ensino nesta instituição eram nomeados e
seguiam os modelos artísticos europeus, a arte neoclássica, “[...] valorizando
categorias como harmonia, o equilíbrio e o domínio de materiais”. (FERRAZ e
FUSARI, 2009, p. 42).
FIGURA 6 – ACADEMIA DAS BELAS ARTES – LITOGRAFIA – MUSEU HISTÓRICO
DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2ISyDF3>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Unidade 1 - Tópico 1 
http://bit.ly/2ISyDF3
10/09/2020 Livro Digital - Metodologia do Ensino da Arte
https://livrodigital.uniasselvi.com.br/ART19_metodologia_do_ensino_da_arte/unidade1.html?topico=1 16/35
Academia Imperial de Belas Artes ou Academia Imperial das Belas Artes
(1822-1889) é o antigo nome da atual Escola de Belas Artes, hoje unidade da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Foi inicialmente denominada como Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios,
quando da sua fundação por D. João VI (1816-1826), em 12 de agosto de
1816, ao �m do período colonial brasileiro. O soberano teria sido
in�uenciado, nesse gesto, por António de Araújo e Azevedo, o 1.º conde da
Barca.
Após a Independência do Brasil, em 1822, a escola passou a ser conhecida
como Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, como Academia
Imperial de Belas Artes. A instituição foi de�nitivamente instalada em 5 de
novembro de 1826, em edifício próprio à altura da Travessa do Sacramento
(atual Avenida Passos), inaugurada por D. Pedro I (1822-1831).
Em 1938 o seu edifício histórico foi demolido, tendo sido preservado o
portal em granito e mármore, onde se destacam os ornamentos em
terracota, de autoria de Zéphyrin Ferrez. Este, por sua vez, foi transportado
em 1940 para o JardimBotânico do Rio de Janeiro, onde se encontra na
atualidade.
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2waFYwT>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Como nesta época a Missão Artística Francesa adotou o estilo neoclássico, acabou
por gerar certo preconceito em relação à Arte praticada pelas camadas populares,
o Barroco-Rococó. Este caráter elitista era marcado pela oposição ao estilo
barroco-rococó existente, o que também gerou um conceito de arte como algo
supér�uo e sem importância para a educação, que tinha serventia para o lazer e o
luxo.
A Academia Imperial de Belas Artes teve nomes importantes como alunos e
posteriormente como professores. Fazem parte desses alunos os artistas: Victor
Meireles, Pedro Américo, Almeida Júnior.
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Victor Meireles foi o autor de A Primeira Missa no Brasil.
FIGURA 7 – PRIMEIRA MISSA NO BRASIL
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/38FllGb>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Pedro Américo foi o autor da obra Independência ou morte, conhecida também
como O grito do Ipiranga.
FIGURA 8 – INDEPENDÊNCIA OU MORTE
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/38FllGb>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Almeida Júnior foi o autor da Cena da Família de Adolfo Augusto Pinto.
FIGURA 9 – CENA DA FAMÍLIA DE ADOLFO AUGUSTO PINTO
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2waFYwT>. Acesso em: 24 ago. 2010.
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Dentre esses três artistas, Victor Meireles e Pedro Américo destacaram-se na
Academia Imperial de Belas Artes, recebendo como prêmio a oportunidade de
aprofundar seus estudos na Europa. Os dois artistas também se tornaram
professores na própria Academia.
Ainda nesta época o ensino da arte baseava-se nos ensinamentos acerca do
desenho, que era ensinado nas escolas primárias e secundárias. Criaram-se
também as escolas normais, destinadas ao ensino para a formação de professores
e os “liceus de artes e ofícios” ou “escolas de artes e ofícios”. Esses espaços eram
destinados à educação voltada à necessidade de técnicas e mão de obra
especializada para atender a demanda da expansão da indústria nacional.
No Brasil como na Europa, o desenho era considerado a base de todas as artes,
tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais de estudo da Academia Imperial.
No ensino primário e secundário, o desenho também tinha por objetivo ser útil a
desenvolver habilidades grá�cas, técnicas e domínio da racionalidade. Com isso, os
professores preparavam os alunos para serem, no futuro, bons pro�ssionais e com
formação regida por regras fundamentais no pensamento dominante, como a
estética da “beleza e do bom gosto”. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 44).
Como você pôde ler, caro/a acadêmico/a, a valorização do desenho no
Ensino da Arte era muito forte nesta época. Segundo Barbosa (2002), nas
escolas secundárias desta época predominavam o retrato e a cópia.
Perguntamos a você:
A cópia não é atividade que predomina em sala de aula?
Você poderá perceber ao longo da história do Ensino da Arte que muitas
técnicas ainda utilizadas nas aulas de Arte, encontram-se enraizadas até
mesmo nos séculos passados.
Aproveite esta leitura que volta às raízes do ensino da Arte no Brasil, para
re�etir sobre sua prática em sala de aula.
Além do ensino da matéria de desenho, nesta época, foi estabelecido o ensino da
música nas escolas brasileiras, pois esta era a manifestação artística preferida da
corte portuguesa. No entanto, as formas e temas a serem seguidos eram os
europeus.
Entre os anos de 1888 e 1890, com a abolição dos escravos e com a Proclamação
da República, várias reformas, provocadas pelas correntes liberais e positivistas,
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acontecem em diferentes esferas da sociedade brasileira.
Uma discussão acirrada, referente ao ensino da Arte, acontece na Escola Imperial
de Belas Artes entre as correntes positivista e liberal.
O grupo dos liberais consegue manter a Escola Imperial de Belas Artes, mudando a
denominação para Escola Nacional de Belas Artes, porém não alteram seus
moldes arcaicos.
Nesta época, os positivistas acreditavam que a importância da Arte estava nas
contribuições proporcionadas para o estudo da ciência, para o desenvolvimento
do raciocínio e da emoção, desde que ensinada através do método positivo, que
subordinava a imaginação à observação.
Já para os liberalistas, defendiam a implementação do desenho no currículo
escolar, com a �nalidade de preparar o povo para o trabalho.
Segundo Barbosa (2002, p. 30), a arte então começa a desempenhar um
importante papel, através do desenho como linguagem da técnica e da ciência,
sendo “[...] valorizadas como meio de redenção econômica do país e da classe
obreira, que engrossara suas �leiras com os recém-libertos”.
5 O ENSINO DA ARTE NO BRASIL NO SÉCULO XX
Entre os anos de 1901 e 1914, os positivistas continuaram a orientar a educação
em geral, no entanto iniciou-se a implementação de modelos educacionais por
missionários americanos que in�uenciaram a legislação brasileira.
Por volta do ano de 1914, iniciou-se a preocupação com a expressão da criança,
através da pedagogia experimental. A criança gradativamente passa a ser vista
com características próprias e não mais como um adulto em miniatura.
Segundo Barbosa (2002, p. 42), a in�uência da pedagogia experimental propiciou
as “[...] primeiras investigações sobre as características da expressão da criança
através do desenho”. O desenho começa a ser utilizado como teste mental e passa
a ser considerado fator interno que re�ete a organização mental. Valoriza-se a livre
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expressão da criança, partindo da imaginação e condenando os modelos impostos
pela observação.
Em 1917, junto com uma exposição de seus trabalhos em São Paulo, Anita Malfatti
expôs desenhos infantis. Apoiada por Mário de Andrade, ela continuou com este
trabalho apesar da sociedade, que ainda vivia sob o princípio de que a criança é um
adulto em miniatura, desvalorizando o signi�cado de uma expressão infantil. (ROSA,
2005, p. 27-28).
A exposição de Anita foi muito criticada na época, inclusive pelo escritor Monteiro
Lobato que também era crítico de arte. Porém, toda esta crítica serviu como ponto
de partida para o Movimento da Semana de Arte Moderna de 1922.
Caro/a acadêmico/a! Leia a seguir trechos da crítica de Monteiro Lobato...
A CRÍTICA DEMOLIDORA DE MONTEIRO LOBATO
Recém-chegada da Europa e dos Estados Unidos, onde foi estudar
pintura, Anita Malfatti, resolveu, com o apoio dos amigos, organizar a sua
exposição de pintura moderna nos meses de dezembro de 1917 e janeiro de
1918. Ela e um grupo de vanguardistas de São Paulo acreditavam que havia
chegado a hora de a arte no Brasil abandonar os modelos tradicionais e
buscar novos rumos.
No acanhado meio artístico paulistano, a exposição provocou comentários
contra e a favor. No entanto um artigo da “Folha de São Paulo”, de autoria de
Monteiro Lobato, que também era crítico de arte, ultrapassou os limites da
sua conhecida lucidez.
Leia, a seguir, fragmentos do artigo denominado “Paranoia ou
Misti�cação?”, de autoria de Monteiro Lobato, sobre a Exposição de Anita
Malfatti:
“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente
as coisas [...] A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a
natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão
estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá comofurúnculos da cultura
excessiva. [...] Embora eles se deem como novos, precursores de uma arte a
vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a
paranoia e com a misti�cação. [...] Essas considerações são provocadas pela
exposição da senhora Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências
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para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e
companhia”.
A reação da elite paulistana, que con�ava cegamente nas opiniões e
gostos pessoais do autor de Urupês, é imediata: escândalo, quadros
devolvidos, uma tentativa de agressão à pintora, a mostra é fechada antes
do tempo.
O artigo demolidor e as suas consequências serviram para que os jovens
"vanguardistas" brasileiros, até então dispersos, isolados em pequenos
agrupamentos, se unissem em torno de um ideal comum: destruir as
manifestações artísticas que remontavam ao século XIX, especi�camente, no
caso da literatura, o parnasianismo poético, medíocre e superado.
Neste sentido, a exposição de Anita Malfatti funciona como estopim de
um movimento que explodiria na Semana de Arte Moderna de 1922.
DJAHY LIMA
Publicado no Recanto das Letras em 30/06/2008
Código do texto: T1058764
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/33n0nuG>. Acesso em: 24 ago. 2010.
5.1 A SEMANA DE ARTE MODERNA
A Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922,
no Teatro Municipal de São Paulo, reuniu um grupo de artistas, entre eles músicos,
artistas plásticos, arquitetos e escritores que defendiam a arte com estilo próprio
brasileiro, negando as vanguardas europeias, principalmente o academicismo.
FIGURA 10 – CATÁLOGO DA SEMANA DA ARTE MODERNA
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/3b0ET9Q>. Acesso em: 24 ago. 2010.
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http://bit.ly/3b0ET9Q
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Participaram deste movimento diversos artistas, que relacionaremos a seguir.
FIGURA 15 – ORGANIZADORES DA SEMANA DE ARTE MODERNA
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FONTE: <https://glo.bo/2QjUDNb>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Caro/a acadêmico/a, para saber um pouco mais sobre a importância da
Semana de Arte Moderna, sugerimos que acesse o site:
<http://bit.ly/2xFIeMZ>, Semana de Arte Moderna, minissérie “Um só
Coração”.
Este movimento in�uenciou diretamente a expressão artística brasileira, bem
como o ensino da arte no Brasil. Após este movimento iniciaram-se as atividades
de investigação sobre a arte da criança e incentivos ao próprio ensino da Arte.
No Rio de Janeiro, em 1948, é criada a Primeira Escolinha de Artes do Brasil, por
iniciativa do artista pernambucano Augusto Rodrigues, da artista gaúcha Lúcia
Alencastro Valentim e da escultora norte-americana Margareth Spencer. As
escolinhas de artes tinham a �nalidade de trabalhar as expressões artísticas e
eram voltadas ao público infantil. Valorizavam a livre-expressão.
Nas escolas primárias e secundárias, por volta da metade do século XX, houve uma
valorização do desenho, trabalhos manuais, música e canto orfeônico.
Valorizavam-se os chamados “dons artísticos”, onde o professor era o transmissor
de técnicas e conceitos ligados aos padrões estéticos como a reprodução de
modelos.
Nesta época a disciplina de desenho enfocava o desenho geométrico. O desenho
natural, o teatro e a dança eram reconhecidos apenas para as apresentações
escolares em virtude das datas comemorativas.
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http://bit.ly/2xFIeMZ
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Caro/a acadêmico/a, perguntamos a você:
Será que a reprodução de modelos ainda existe em nossas escolas?
Será que o teatro e a dança, ou a própria �gura do professor de artes
ainda não recebe esta valoração de organizador de apresentações e murais
para datas comemorativas?
Na música o principal representante do canto orfeônico no Brasil, por volta da
década de 30, foi o compositor Heitor Villa-Lobos, que “[...] acabou transformando
a aula de música numa teoria musical baseada nos aspectos matemáticos e visuais
do código musical com a memorização de peças orfeônicas [...]”. (PCN, 1997, p. 26).
MAESTRO E COMPOSITOR BRASILEIRO
HEITOR VILLA-LOBOS
Rio de Janeiro-RJ 05/03/1887 - 17/11/1959
Heitor Villa-Lobos se tornou conhecido como um revolucionário que provocava um
rompimento com a música acadêmica no Brasil. As viagens que fez pelo interior do
país in�uenciaram suas composições. Entre elas, destacam-se: “Cair da Tarde”,
“Evocação”, “Miudinho”, “Remeiro do São Francisco”, “Canção de Amor”, “Melodia
Sentimental”, “Quadrilha”, “Xangô”, “Bachianas Brasileiras”, “O Canto do Uirapuru”,
“Trenzinho Caipira”.
Em 1903, Villa-Lobos terminou os estudos básicos no Mosteiro de São Bento.
Costumava juntar-se aos grupos de choro, tocando violão em festas e em
serenatas. Conheceu músicos famosos como Catulo da Paixão Cearense, Ernesto
Nazareth, Anacleto de Medeiros e João Pernambuco.
No período de 1905 a 1912, Villa-Lobos realizou suas famosas viagens pelo norte e
nordeste do país. Ficou impressionado com os instrumentos musicais, as cantigas
de roda e os repentistas. Suas experiências resultaram, mais tarde, em "O Guia
Prático", uma coletânea de canções folclóricas destinadas à educação musical nas
escolas.
Em 1915, Villa-Lobos realizou o primeiro concerto com suas composições. Nessa
época, já havia composto suas primeiras peças para violão “Suíte Popular
Brasileira”, peças para música de câmara, sinfonias e os bailados “Amazonas” e
“Uirapuru”. A crítica considerava seus concertos modernos demais. Mas à medida
que se apresentava no Rio e São Paulo, ganhava notoriedade.
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Em 1919, apresentou-se em Buenos Aires, com o Quarteto de Cordas no 2. Na
semana da Arte Moderna de 1922, aceitou participar dos três espetáculos no
Teatro Municpal de São Paulo, apresentando, entre outras obras, “Danças
Características Africanas” e “Impressões da Vida Mundana”.
Em 30 de junho de 1923, Villa-Lobos viajou para Paris �nanciado pelos amigos e
pelos irmãos Guinle. Com o apoio do pianista Arthur Rubinstein e da soprano Vera
Janacópulus, Villa-Lobos foi apresentado ao meio artístico parisiense e suas
apresentações �zeram sucesso.
Retornou ao Brasil em �nal de 1924. Em 1927, voltou a Paris com sua esposa
Lucília Guimarães, para fazer novos concertos e iniciar negociações com o editor
Max Eschig. Três anos depois, voltou ao Brasil para realizar um concerto em São
Paulo. Acabou por apresentar seu plano de Educação Musical à Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo.
Em 1931, o maestro organizou uma concentração orfeônica chamada “Exortação
Cívica”, com 12 mil vozes. Após dois anos assumiu a direção da Superintendência
de Educação Musical e Artística. A partir de então, a maioria de suas composições
se voltou para a educação musical.
Em 1932, o presidente Vargas tornou obrigatório o ensino de canto nas escolas e
criou o Curso de Pedagogia de Música e Canto. Em 1933, foi organizada a
Orquestra Villa-Lobos. Villa-Lobos apresentou seu plano educacional, em 1936, em
Praga e depois em Berlim, Paris e Barcelona. Escreveu à sua esposa Lucília
pedindo a separação, e assumiu seu romance com Arminda Neves de Almeida,
que se tornou sua companheira. De volta ao Brasil, regeu a ópera “Colombo” no
Centenário de Carlos Gomes e compôs o “CicloBrasileiro” e o “Descobrimento do
Brasil” para o �lme do mesmo nome produzido por Humberto Mauro, a pedido de
Getúlio Vargas.
Em 1942, quando o maestro Leopold Stokowski e a The American Youth Orchestra
foram designados pelo presidente Roosevelt para visitar o Brasil, o maestro
Stokowski realizou concertos no Rio de Janeiro e solicitou a Villa-Lobos que
selecionasse os melhores músicos e sambistas, a �m de gravar a Coleção Brazilian
Native Music. Villa-Lobos reuniu Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola e
outros, que, sob sua batuta, realizaram apresentações e gravaram a coletânea de
discos, pela Columbia Records.
Em 1944/45, Villa-Lobos viajou aos Estados Unidos para reger as orquestras de
Boston e de Nova York, onde foi homenageado. Em 1945 fundou a Academia
Brasileira de Música. Dois anos antes de sua morte, o maestro compôs “Floresta
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do Amazonas” para a trilha de um �lme da Metro Goldwyn Mayer. Realizou
concertos em Roma, Lisboa, Paris, Israel, além de marcar importante presença no
cenário musical latino-americano.
Praticamente residindo nos EUA entre 1957 e 1959, Villa-Lobos retornou ao Brasil
para as comemorações do aniversário do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Com
a saúde abalada, foi internado para tratamento e veio a falecer em novembro de
1959.
FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/3d56CI4>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Como você pôde ler, o maestro Heitor Villa-Lobos é um grande representante do
Ensino da Música na história da Música brasileira, o canto orfeônico foi substituído
pela Educação Musical no Brasil, através da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Brasileira) de 1961, passando a vigorar de forma efetiva por volta da
década de 70.
Até a década de 70, o ensino da arte baseava-se nos ideais modernistas e nas
tendências escolanovistas, voltando-se para o “desenvolvimento natural da
criança”. (PCN, 1997, p. 26). A partir desta data, iniciamos uma trajetória acerca da
Legislação da Educação Brasileira, em que o ensino da Arte foi conquistando
espaço com o passar do tempo, de forma lenta, como você poderá constatar a
partir do próximo tópico.
LEITURA COMPLEMENTAR
O JORNALISMO E A CRÍTICA DA SEMANA DE 22
Claudia Cruz de Souza
A Semana de Arte Moderna no Brasil, um dos eventos mais importantes para a
cultura nacional, aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro
Municipal de São Paulo. O movimento foi um marco importante no século XX, pois
originou a modernização das artes, da imprensa e da cultura, sendo referência
estética e cultural até os dias de hoje.
O modernismo brasileiro não nasce com o nome de ‘Moderno’. Seu primeiro
nome, futurismo paulista, dado por Oswald, foi confundido com o futurismo
italiano.
No entanto, nada tinham em comum, pois o paulista tinha como signi�cado
somente a ‘tendência para o futuro’, diferentemente do italiano que já era um
movimento que estava em pleno acontecimento na Itália.
A Semana de Arte Moderna foi o momento da festa de apresentação pública do
movimento que já tinha nascido por volta de 1917, com a exposição de Anita
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Malfatti, criticada por espectadores e pelo crítico Monteiro Lobato, e só se
consolidou efetivamente após 1929, quando os grupos pós-semana começaram a
se formar e proliferar o pensamento modernista.
Para fazer a abertura do evento no Teatro Municipal paulista foi convidado
Monteiro Lobato, que não aceitou o convite, alegando motivos pessoais, dando
lugar ao carioca Graça Aranha, que aceitou de pronto, pois tinha interesses
culturais e particulares em São Paulo.
Todo esse movimento e os acontecimentos em torno da semana serviram para
a�rmar e consolidar os objetivos da semana, que eram transformar o Brasil em
um país independente na sua criação e produção artística, além de livrá-lo da
in�uência social e da herança cultural europeias, criando assim a Renascença
Paulista.
A imprensa
Durante todo esse processo de modernização cultural e artística nacional, não
poderíamos deixar de destacar uma classe que tem um papel fundamental na
formação de opinião da sociedade: a imprensa. O per�l da imprensa desse
período, no Brasil, era muito diferente do que se conhece hoje.
Jornais, revistas, cinema e folhetins eram os únicos meios de comunicação para
que a população pudesse se inteirar das notícias do mundo todo. O rádio surgiria
no �nal do ano de 1922, ainda com uma transmissão e programações bastante
precárias, e a televisão somente 30 anos depois.
Os jornais, revistas e folhetins tinham linguagem bastante conservadora e davam
bastante destaque aos acontecimentos internacionais. O conservadorismo estava
presente até no projeto grá�co das publicações, que eram bastante blocadas e
com uma grande massa de texto, e estavam mais próximas da literatura do que da
imprensa que entendemos.
O per�l do leitor era de�nido por sua classe social, já que as classes mais pobres
tinham alto grau de analfabetismo e ainda amargavam uma pobreza da mesma
escala.
Esse conservadorismo exacerbado foi um entrave para que o modernismo paulista
fosse divulgado e acompanhado por mais pessoas. Dentro da própria imprensa se
têm distinções de todos os tipos. Mais especi�camente sobre 22, a imprensa não
estava de acordo com o que estava acontecendo. Cada veículo relatou o fato de
maneira que melhor lhe convinha.
Dentro desse quadro podemos analisar dois ângulos de visão da imprensa sobre a
Semana de Arte Moderna. A primeira visão era extremamente positiva, pois
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conhecia o projeto de tornar o Brasil um país independente da cultura europeia e
apoiava essa primeira tentativa.
A segunda encarou a Semana de uma forma bastante negativa, por ser formada
por um grupo social bastante conservador, que antes mesmo de conhecer a
proposta que os modernistas traziam, já rotulavam-na como ruim. Ainda devemos
destacar uma outra parcela da imprensa que simplesmente não formou sua visão
sobre o modernismo, pois fechou os olhos e �ngiu que nada estava acontecendo.
Mas este posicionamento era creditado a uma imprensa nada imparcial, que
conduzia as posições da sociedade. Apesar de tudo, foi esta imprensa a
responsável por registrar o grau de preconceito, ingenuidade e provincianismo
que regiam os debates por toda parte da cidade; em contraponto, mostrou que
graças àquele pequeno grupo que quis romper com o conservadorismo foi
possível o Brasil produzir arte própria.
Citamos aqui alguns poucos veículos de comunicação que circulavam na época
como: O Estado de SP (imparcial); Klaxon (maio de 1922 – repercussão); A Garoa; O
Mundo Literário; A Gazeta Il Piccolo (internacional); Jornal do Commercio; A
Cigarra; Correio Paulistano; Folha da Noite; Fanfulla; A Vila Moderna; Le Messager
de São Paulo; Vida Paulista; A Careta (RJ) – contra; Revista do Brasil (RJ) – somente
em 1924. As revistas Fon Fon, Revista do Brasil e O Malho não cobriram o
movimento, pois achavam que seria mais uma bagunça dos ‘almofadinhas’ da
época.
Antes de 1922
Em 1917, Monteiro Lobato faz a primeira grande crítica à exposição de Anita
Malfatti, na cidade de São Paulo, gerando um grande mal-estar entre a sociedade e
formando uma opinião coletiva bastante distorcida do trabalho da pintora e dos
modernistas, que já vinham se movimentando em torno das modi�cações na arte
brasileira.
Nesta época, chegou a se falar que Anita, apesar de ter estudado tanto nos
Estados Unidos como na Europa, não tinha noções de cor, forma e perspectiva,
pois apresentava uma representação artística diferente daque a arte clássica
brasileira produzia.
Durante os quase cinco anos que se seguiram até a Semana de Arte Moderna
foram feitos muitos outros artigos pelos pensadores do movimento, Oswald e
Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Hélios e outros, e esses espaços
jornalísticos serviam de arena para as discussões entre os dois lados. Todas as
acusações, as defesas e os julgamentos eram feitos nas páginas dos jornais e
revistas que circulavam.
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Como grandes opositores destacam-se o veemente Cândido (pseudônimo do
jornalista Galeão Coutinho – redator-chefe de A Gazeta –, que debochou e
diminuiu a importância da Semana pela proximidade do Carnaval); Plínio Salgado,
que dizia querer pensar sozinho, mas que se colocava ora contra o movimento e
ora a favor, mais tarde se tornando integralista; e Mário Pinto Serva, servindo
esses três nomes como uma pequena amostra do que se vivia na oposição ao
movimento.
A Semana aconteceu em 1922 propositalmente, pois aproveitariam a
oportunidade para comemorar o primeiro centenário de Independência política do
país, e em alusão ao acontecimento criar também uma data para a independência
artística.
Existem muitas dúvidas sobre o movimento, no entanto, há documentos valiosos
escondidos em muitos arquivos, muitos deles de propriedade das famílias dos
artistas, que podem nos contar detalhes desse período histórico nacional,
desvendando muitos mistérios, quebrando tabus e quem sabe responsáveis por
reescrever um momento histórico nacional de tamanha importância.
Mesmo antes da Semana, Oswald já sabia que as apresentações seriam um
estardalhaço, mas tinha consciência de que era necessário e já sonhava com a
calmaria que iria começar somente por volta de 1924, quando o movimento
realmente passou a ser entendido e aceito pela sociedade paulista.
As críticas, as vaias e a chuva de batatas (em alusão aos legumes e frutas que
realmente foram atirados no palco durante algumas apresentações modernistas
no Teatro Municipal) recebidas por todos os participantes da Semana já estavam
sendo esquecidas, mas na memória de quem esteve lá os acontecimentos estavam
ainda frescos, como a�rmaria Menotti anos mais tarde: “tratam-nos como
criminosos, como réus, como se tivéssemos feito algo de errado com aquele
barulho todo”.
Uma pequena amostra
Alguns artigos publicados em jornais podem mostrar claramente esses
posicionamentos tomados pela imprensa.
A favor da Semana estiveram jornais como: Jornal do Commercio, Correio
Paulistano e A Garoa. Em um dos artigos de Oswald de Andrade – Boxeurs na
Arena, de 13 de fevereiro de 1922 – podemos perceber como ele se posicionava e
como sabia, de antemão, tudo o que poderia acontecer no Teatro Municipal
paulista. “[...] Nós, pelo acolhimento da plateia de hoje, julgaremos da cultura de
nosso povo. Pois, sabemos, com Jean Cocteau, que quando uma obra de arte
parece avançada sobre o seu tempo, ele é que de fato anda atrasado”, escreveu
Oswald.
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Assim também se posicionou Hélios em dois artigos escritos ‘A Segunda Batalha’,
sobre o segundo dia de apresentações, que contava como correu a primeira noite
da Semana e suas expectativas para o segundo dia da “Batalha”, que São Paulo
testemunharia, e ‘O Combate’, no qual ressalta o interesse da sociedade em ver o
que acontecia no Municipal e ainda a guerra e a glória da noite anterior, onde
muitos aplaudiram Guiomar Novais por achar que ela tocava música clássica, no
entanto muitos outros aplaudiram entendendo que a arte nova estava ali.
Mas nem tudo eram �ores para os modernistas.
Muitos artigos contrários às apresentações e principalmente às intenções da
Semana foram escritos e publicados em jornais como Folha da Noite e A Gazeta.
Um artigo que mostra esse combate ao modernismo foi escrito por O 3º Andrade
(pseudônimo, como muitos, desconhecido o verdadeiro nome). Escreveu em ‘Os
Futuristas e a Personalidade’, de 15 de fevereiro de 1922:
Apregoa-se por aí que os gênios podem criar as belas-artes sem os estudos dos
conservatórios como se as artes, para chegarem ao seu apogeu, não precisassem de
alguns que lhes esclarecessem os conhecimentos de sua estrutura!... Os
revolucionários de hoje dizem: clássico é o que atinge a perfeição de um momento
humano e o universaliza. Acadêmico, não. É cópia, é imitação, é falta de
personalidade e de força própria...
Sérgio Milliet, o crítico de Arte
Diante do quadro já exposto sobre a Semana de 22, também temos que destacar a
crítica feita às obras que compuseram o cenário dos espetáculos modernistas, não
somente os três dias de apresentações como acontecimento social. Para tanto,
não podemos deixar de citar Sérgio Milliet, o mais importante crítico da Semana
até os dias de hoje.
O crítico nasceu em São Paulo, em 1898, e com apenas 14 anos foi morar na Suíça,
onde permaneceu até o início do ano de 1922. De volta ao Brasil, alguns anos mais
tarde, já encontrara todo o cenário pronto para o acontecimento da arte brasileira.
Na bagagem trouxe uma formação política ligada ao socialismo e um gosto
estético apurado.
Milliet foi considerado um homem ponte para o Modernismo nacional. O primeiro
motivo para ser considerado assim era por ser o contato brasileiro na Europa, a
pessoa responsável por difundir as ideias modernistas brasileiras e mostrar ao
mundo o que se [fazia] nas artes nacionais e os movimentos artísticos/culturais,
utilizando um espaço na revista belga Lumière.
O outro motivo de ser este homem ponte foi que o crítico disseminou os
propósitos modernistas para as décadas seguintes, de 1930 e 1940, em seus
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artigos e críticas. Aliás, críticas essas que eram �rmes, no entanto tendiam ao
reconhecimento do propósito e do espírito do artista, antes do fazer da arte.
A sua obra mais importante são os dez volumes de ‘Diário Crítico’, pelos quais se
tornou especialmente conhecido. E são esses volumes que contam a sua trajetória,
já que Milliet quase não deixou arquivo pessoal.
Durante todo o trabalho que desenvolveu sobre o modernismo brasileiro,
merecem destaque os esforços que o crítico despendeu para a �xação dos
propósitos modernistas, assim como seu papel fundamental na formação de uma
nova “comunidade de gosto”, pois era polo de divulgação, colaborador importante
na estruturação da intelectualidade artística, que tinha pouca formação cultural, e
seu trabalho de favorecimento da formulação e a difusão de valores.
Além de todos os trabalhos prestados para a imprensa nacional, ainda creditamos
a Sérgio Milliet a sistematização da divulgação da arte, com suas ideias que
variavam de acordo com o sentimento e os estudos que desenvolvia nos
diferentes momentos de sua vida.
Tinha uma tônica bastante explicativa e interpretativa, sem objetivar o acadêmico,
mas fazia questão de organizar suas ideias e expô-las de forma genérica, para que
nenhum artista se sentisse ofendido e embotasse sua criatividade.
Sobre as apresentações durante os três dias no palco paulista, Sérgio escreveu
para sua amiga Marthe, que vivia em Paris e dividia os ideais com o crítico. Duas
cartas merecem destaque: a primeira, escrita em abril de 22, destacava as obras e
os artistas que tinham exposto no Teatro Municipal e lhe rendeu críticas como “Há
apenas um ano alguns artistas trabalhavam na calma dos ateliês... Alguns
artistas!... E eis que de repente, esses artistas fazer [sic] um apelo aos outros
desconhecidos do Brasil: das a São Paulo, noitadas de arte moderna”.
Ainda citando as apresentações da Semana, destacou a importância dosprincipais
artistas que ali estavam pessoalmente, um a um, com o maior rigor, para que não
houvesse mal-entendidos.
Algumas passagens eternizam a impressão do crítico. “Penetremos juntos ao hall
do Grande Teatro e admiremos um pouco esta exposição. Eis, da esquerda para a
direita, John Graz, que nos apresenta telas de um colorido vigoroso e de um
simbolismo místico simples, puro e ingênuo... Anita Malfatti, vigorosa e ousada, e
inteligente.
A escultura admiravelmente representada pelo gênio de Brecheret, cujo estilo
lembra Mestrovic, dava-nos a ocasião de apreciar as estatuetas de Haarberg, um
escultor bastante jovem e a quem não falta talento...
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Brecheret se revela um grande escultor, um gênio da raça latina, digno de suceder
a Rodin e a Boudelle, e também um admirável poeta por sua extraordinária
imaginação. Marthe, gostaria de lhe mostrar seu Monumento das Bandeiras que é,
por assim dizer, a epopeia da arte brasileira e o mais belo canto de sua poesia.
É o quadro poderoso da conquista do Brasil pelo povo aventureiro dos paulistas, a
procura do ouro e dos escravos indígenas, a ambição desmesurada e nostálgica
dos descendentes dos gloriosos portugueses da grande época, a necessidade de
conquistas e de dominação.
Imagina você, para traduzir esta grande ideia, um impulso formidável de corpos
torcidos, de músculos, de sofrimentos, de desesperos e de entusiasmos através da
�oresta virgem, apesar das febres e das guerras e da natureza hostil. Tudo isso
sem uma frase, sem um artifício, sem uma imagem envelhecida. “Imagine isso e
você terá uma ideia da arte de Brecheret”, comentou Milliet à amiga.
Também não podemos deixar de destacar aqui que o crítico também citou outros
grandes nomes como Di Cavalcanti, Zina Aita, Villa-Lobos, Ferrigna, entre outros
tantos.
A literatura ganhou uma carta especial, escrita em novembro de 1922, onde frisava
a importância e a qualidade da literatura produzida no país tupiniquim. O
destaque �cou para os Andrades (Mário e Oswald), como segue “Oswald de
Andrade: é um romancista. Mas é sobretudo um poeta”.
Uma imaginação amazônica que do romance faz um poema, transformando os
mínimos feitos psicológicos em verdadeiras tragédias íntimas... E se uma imagem
basta para nos revelar um mundo de sensações e de sugestões, Mário de Andrade é
um grande poeta, pois não há nas suas obras quase nenhum verso que não seja
metáfora ousada e sugestiva. É o nosso futurista, ressalta.
O crítico Sérgio Milliet desenvolveu com tamanha maestria a crítica no Brasil, que
até hoje se utiliza da sistematização criada por ele para se fazer uma crítica
coerente. A pesquisadora Lisbeth Rebollo Gonçalves, em seu livro “Sérgio Milliet,
crítico de arte”, destaca: “pode-se chegar a dizer que muito mais que uma estética,
Sérgio Milliet adere a uma ética”, perfeita de�nição para um grande nome
modernista nacional.
Referências bibliográ�cas
Almeida, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu. São Paulo: Editora Perspectiva.
Coleção Debates/Arte, 1976.
Boaventura, Maria Eugênia. 22 por 22 – A Semana de Arte Moderna Vista pelos
Seus Contemporâneos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
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Resumo do Tópico
Gonçalves. Lisbeth Rebollo. Sérgio Milliet, Crítico de Arte. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1992.
Kawall, Luiz Ernesto Machado. Artes Reportagem. São Paulo: Editora Martins
Fontes, 1927.
Hemeroteca do Arquivo O�cial do Estado de São Paulo, micro�lmes códigos
01.02.047 e 01.02.019, do Jornal O Estado de S.Paulo.
FONTE: Adaptado de: <http://bit.ly/3b0ET9Q>. Acesso em: 24 ago. 2010.
Neste tópico você viu que:
• A Arte desenvolve a cognição de crianças e adolescentes, proporcionando
conhecimento e expressão não apenas racional, mas também afetivo e
emocional.
• A função da Arte na escola é desenvolver as múltiplas inteligências.
• Os primeiros registros relacionados ao ensino da Arte no Brasil são
datados, aproximadamente, entre os anos de 1549 e 1808, período em que a
educação era dominada pela missão jesuítica.
• A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil, che�ada por Joachim
Lebreton, com um grupo de artistas importados da França no ano de 1816,
encarregados de substituir a concepção popular de arte, assim como o
Barroco Brasileiro, pelo Neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, pintura,
escultura e moda europeia.
• Foi com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil que, em 1816, foi
criada a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, que após
dez anos foi transformada em Imperial Academia e Escola de Belas Artes.
• Em 1917, junto com uma exposição de seus trabalhos em São Paulo, Anita
Malfatti expôs desenhos infantis.
• A exposição de Anita foi muito criticada na época, inclusive pelo escritor
Monteiro Lobato, que também era crítico de arte, porém toda esta crítica
serviu como ponto de partida para o Movimento da Semana de Arte
Moderna de 1922.
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Apresentação  Tópico 2
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• A Semana de Arte Moderna, realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro de
1922, no Teatro Municipal de São Paulo, reuniu um grupo de artistas; entre
eles, músicos, artistas plásticos, arquitetos e escritores que defendiam a arte
com estilo próprio brasileiro, negando as vanguardas europeias,
principalmente o academicismo.
UNIDADE 1 - TÓPICO 1
Agora que você já estudou um pouco sobre a Semana de Arte Moderna de
1922, sua atividade de estudos será elaborar um plano de aula, que trabalhe
com as crianças a obra de Anita Malfatti, já que foi ela a primeira artista
brasileira a se preocupar com a representação artística das crianças. Não se
esqueça de elaborar seus objetivos e os procedimentos metodológicos.
Unidade 1 - Tópico 1 
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