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• O termo miíase tem a seguinte etimologia: myie = mosca + ase = doença; • É uma afecção parasitária devido a infestação de larvas de moscas de diversas espécies nos tecidos ou cavidades do corpos; Características • As larvas se alimentam dos tecidos vivos ou mortos do hospedeiro, de suas substâncias corporais líquidas ou do alimento por ele ingerido; • Elas completam seu ciclo ou pelo menos parte do seu desenvolvimento normal dentro ou sobre o corpo de hospedeiros vertebrados; • É uma zoodermatose; • Frequente na área rural e por lá é conhecida como “bicheira”; • Predileção por ambientes úmidos de clima quente; • Regiões tropicais e subtropicais que apresentam condições de clima quente e úmido favorecem a presença de dípteros causadores de miíases. Patogênese • Deposição de larvas de determinadas moscas em ferimentos na pele, cavidades naturais (como nariz e orelhas) ou as larvas são ingeridas por meio de alimentos ou bebidas contaminadas; • As larvas podem ser de dois tipos: o Larvas biontófagas: larvas que penetram na pele íntegra; o Larvas necrobiontófagas: larvas que proliferam em tecidos mortos, necrosados ou em matéria orgânica em decomposição; • As larvas se desenvolvem por um período de 30 a 60 dias. Nutrem-se e evoluem como parasitos nos órgãos e tecidos dos vertebrados; Classificação e formas clínicas Primária • Mosca invasora (biontófaga), de parasitismo obrigatório, encontradas em tecidos íntegros do tegumento cutâneo ou nas mucosas de cavidades naturais; são exemplos: o Mosca varejeira (Cochliomya homivorax) de corpo azul ou verde metálico; o Mosca berneira (Dermatobia hominis); • Esse grupo inclui duas formas clínicas: furunculóide e cavitária. Sendo que, a cavitária só é causada apenas pela C. hominivorax, enquanto a furunculóide pode ser causada pelas duas espécies citadas acimas; • Elas colocam seus ovos sobre a pele sadia, íntegra de homens, animais ou no corpo de outros insetos que servem de vetores para disseminar a infestação; • Posteriormente (12 a 24h), os ovos eclodem em contato com a temperatura alta do corpo e surgem as larvas que invadem o tecido da pele pelo folículo piloso ou por escoriações; Mosca varejeira Mosca berneira • As alterações mórbidas por elas produzidas nas mucosas basal, oral, auditiva e urogenital são mais graves do que aquelas verificadas nas infestações por larvas necrobiontófagas, visto que as larvas se nutrem de tecidos sadios, causando processos destrutivos muitas vezes irreparáveis e mesmo letais. Berne: • Também chamada de tapuru ou dermatobiose; • É o nome dado à infestação pela larva da mosca berneira Dermatobia hominis, que infecta diversos animais, principalmente bovinos; • Lesão nodular avermelhada semelhante a um furúnculo com um orifício central onde sai secreção e por onde a larva respira; • As áreas mais afetadas são as pernas, braços e couros cabeludos; • Os bernes se nutrem do tecido subcutâneo; • A mosca berneira procura uma outra mosca (inseto forético), transportadora, para ser o hospedeiro de seus ovos; • Após 8 dias, o forético com a massa dos ovos em seu abdome, pousa no animal e transfere os ovos que viram larvas rapidamente e penetram pelos folículos pilosos, provocando processo inflamatório no local, semelhante ao furúnculo; • As larvas se desenvolvem no tecido subcutâneo do hospedeiro, através de feridas ou arranhões, causando coceira, dor e ferida; • As larvas permanecem por 25 a 30 dias no hospedeiro e caem no solo após esse período. • Sintomas: Além do nódulo, o paciente tem uma sensação de fisgada, ferroada ou de movimentos na lesão; Secundária • São miíases determinadas por larvas necrobiontófagas, de parasitismo facultativo porque geralmente se alimentam de matéria orgânica em decomposição; • Podem ser de dois tipos: cutânea ou cavitária. Sendo que na cutânea, as larvas podem ser vistas na superfície de feridas na pele e a cavitária quando grandes quantidades de larvas habitam orifícios como ânus, vagina, nariz etc.; • Sempre se desenvolvem sobre lesões preexistentes, no tegumento cutâneo ou mucoso, produzindo formas clínicas representadas pelas miíases das ulcerações e cavitárias; • Geralmente, ocorre em pessoas em precárias condições de higiene ou que possuem a série de alterações nos pés de pessoas diabéticas, conhecido como pé diabético; • As moscais de várias espécies do gênero Lucilia depositam seus ovos/suas larvas na pele não sadia, mucosas não sadias, feridas e ulcerações; • As larvas se desenvolvem pela necrose tecidual. Pode ser cutânea, cavitária (nariz, seios da face, boca, ouvido, ânus, vagina etc.) ou intestinal; • Quando as larvas se proliferam em cavidades, provocam hemorragias graves; • As larvas são vistas movimentando-se na superfície das feridas e são comumente chamadas de “bicheira” na área rural; Pseudomiíases • Sõo também chamadas de miíases intestinais ou acidentais; • São ocasionadas pela ingestão de alimentos ou bebidas contaminadas com ovos ou larvas de certos dípteros; • O quadro clínico não apresenta gravidade, podendo apresentar os seguintes sintomas clínicos: o Vômitos; o Dores abdominais; o Náuseas; o Diarreias. • Não é comum no ser humano; Tratamento • Depende da forma clínica apresentada; • Na miíase furunculoide, o tratamento é cirúrgico; • Nas miíases das ulcerações e nas cavitárias, recomenda-se extração cirúrgica das larvas com anestesia local e posterior tratamento da lesão • É feito com a retirada manual das larvas com a devida assepsia; • Para facilitar a remoção, pode-se fechar o orifício com vaselina, esparadrapo por 24h em média e pinça-las quando vierem à superfície respirar; • Éter iodoformado e cobertura da lesão, para que as larvas morram para depois serem removidas cirurgicamente; • No tratamento das formas intestinais, pode ser empregado um anti-hemíntico de largo espectro como ivermectina, pirantel ou mebendazol; • Vacina antitetânica. Prevenção • Consiste em evitar a penetração das larvas, protegendo áreas descobertas da pele, principalmente feridas abertas, em especial nos locais onde existem muitas moscas; • Combate às moscas; • Higiene pessoal e do ambiente; • Saneamento básico adequado; • Telas nas janelas; • Mosquiteiros nas camas; • Passar ferro quente nas roupas que secaram no varal; • Manter lixo doméstico em sacos bem fechados; • Evitar exposição de ferimentos. Caso 1 Paciente, sexo feminino, leucoderma (vitiligo), dez anos de idade, com queixa de prurido intenso e dor acentuada por toda a região tóraco-lombar, nuca e cabeça, que se apresentavam eritematosas e cavitadas. Atendida em plantão hospitalar, foi realizada a tricotomia de couro cabeludo para melhor evidenciar e demarcar a área afetada, observando-se quatro lesões cavitárias bem delimitadas, na região occipital, apresentando ligeiro abaulamento com edema e exsudato seroso. As larvas eram claramente visíveis. Utilizou-se água oxigenada (10 volumes) seguida de éter etílico para obstruir o orifício respiratório e facilitar a remoção das larvas. As larvas foram removidas vivas das cavidades com pinça e apresentavam coloração branco amarelada e frente escura. Foram removidas onze larvas, com tamanho médio de 10 a 12mm de comprimento. Caso 2 Paciente do sexo masculino, leucoderma, divorciado, 67 anos, portador de demência do tipo Alzheimer em fase avançada, totalmente dependente para as atividades de vida diária (AVD), afásico (distúrbio na comunicação), residente em uma instituição de longa permanência (ILP). Solicitou-se ao cirurgião- dentista avaliação do paciente após cuidadoras observaram sangramento naregião do palato duro e halitose (mau-hálito). Ao exame clínico, observou-se que a gengiva e o mucoperiósteo apresentavam-se separados do tecido ósseo, com presença de sangramento e larvas. Foi diagnosticada miíase bucal, prescrevendo-se ivermectina e cefalexina no momento do diagnóstico, sendo o paciente hospitalizado para curetagem e remoção das larvas. Após sete meses, o paciente foi novamente diagnosticado com miíase bucal. Foi feita novamente a prescrição de ivermectina, irrigação com nitrofurazona e remoção de larvas. A irrigação com nitrofurazona e a remoção de larvas mostraram-se insuficientes para a resolução do caso, devido a localização e quantidade de larvas presentes. O paciente foi então hospitalizado por uma semana, sendo medicado com amoxicilina e clavulanato de potássio, além de ivermectina. Durante esse período, foi feita diariamente a remoção das larvas. Após estas condutas, o paciente recebeu alta, sendo indicado o uso de levofloxacina 500mg por uma semana pelo médico infectologista que acompanhou o caso. Se você está tendo acesso a esse resumo e ainda não me segue no instagram, siga e valorize meu trabalho! @
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