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146 Unidade III Unidade III 7 PROJETO NEOLIBERAL O neoliberalismo demarca suas origens e as orientações políticas estabelecidas a partir da consolidação desse projeto, que tem como marco o Acordo de Bretton Woods, em 1944. O desprestígio das fórmulas keynesianas leva à articulação de novas propostas para o controle dos países em desenvolvimento. “A premissa subjacente era que o protecionismo comercial (proporcionado pelo estado de bem‑estar social) havia sido o grande culpado das tragédias ocorridas nos convulsionados trinta anos que se seguiram à eclosão da Primeira Guerra Mundial” (BORÓN, 1995, p. 92). O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, criados a partir do referido acordo, têm função disciplinadora dentro da economia capitalista internacional, cujo papel consiste em dar suporte ideológico ao neoliberalismo e disciplinar a economia nos países periféricos (ibidem). É, entretanto, na década de 1970 que o mundo começa a sentir concretamente os efeitos do projeto neoliberal. A reestruturação produtiva de acumulação flexível, já estudada no item anterior, constitui a grave crise estrutural do capital e de seu sistema de produção, que ocorreu no final da referida década, trazendo profundas transformações nas últimas décadas para a sociedade contemporânea. Como consequência, tivemos mutações econômicas complexas, bem como sociais, políticas e ideológicas, sobretudo, no mundo do trabalho. Antunes (2005) afirma que o impacto da doutrina neoliberal na classe trabalhadora se deu a partir da experiência dos trabalhadores ingleses. O sindicalismo inglês, ao longo de sua história, sempre esteve “[...] associado à ideia de força e estabilidade. Seu nível de sindicalização era amplo e extensivo” (ibidem, p. 63). Mas a chegada ao poder do conservadorismo de Margareth Thatcher altera a trajetória de participação do movimento dos trabalhadores e do partido dos trabalhadores. E “a conversão do sindicalismo em inimigo central do neoliberalismo trouxe consequências diretas no relacionamento entre Estado e classe trabalhadora” (ANTUNES, 1995, p. 67). Com o thatcherismo, há uma redução da ação sindical e a criação de condições para a introdução de novas técnicas produtivas. Antunes (2005, p. 89), ao analisar os efeitos da reestruturação produtiva do capital na classe trabalhadora, afirma que se pode: [...] destacar a ausência de regulamentação da força de trabalho, a amplissíssima flexibilização do mercado de trabalho e a consequente precarização dos trabalhadores, particularmente no que concerne aos direitos sociais. 147 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL Talvez você esteja se perguntando: por que estamos nos referindo à classe trabalhadora inglesa? Acontece que os fatos ocorridos na Inglaterra ilustram muito bem o que ocorreu com o coletivo de trabalhadores da economia capitalista em todo o mundo. A mudança na forma de produção e na gestão do trabalho aliada aos postulados da doutrina neoliberal, pautados na ideia de que a história, que havia acabado e o capitalismo que era o modo de produção cabal, abalaram as conquistas da classe trabalhadora. O desemprego estrutural ocasionado pelo fechamento de postos de trabalho em função da revolução tecnológica, da microeletrônica e da robótica e a necessidade de qualificação para ocupação dos novos postos de trabalho que surgem trazem para a classe trabalhadora um desalento em lutar por direitos já conquistados, pois o que está posto é a luta pela sobrevivência. Faleiros (1999), ao analisar a crise contemporânea em nível mundial, destaca que o processo de acumulação atual rompe com as barreiras dos Estados nacionais com base na circulação financeira, nas megafusões, na formação dos monopólios e no crescente aumento da desigualdade. Adverte que essa crise se manifesta de forma diferenciada na Europa, nos EUA e nos países periféricos. Faleiros (ibidem, pp. 156‑157) acrescenta que: Nos Estados Unidos há mais oferta de emprego e menos proteção social, enquanto na Europa há muito desemprego e mais proteção social. Nos países periféricos, com pouca oferta de emprego e com mínima proteção social, a crise se condensa num processo perverso de fabricação de miséria, tanto pela redução do Estado como pela recessão econômica impostas para o pagamento de juros da dívida e obtenção de superávits nas exportações. Na correlação de forças atual há um claro predomínio da hegemonia norte‑americana no mundo e uma legitimação de sua política de desproteção social [...] que se estrutura não só econômica, mas também política e militarmente, desenvolvendo sua hegemonia em nível mundial através de uma rede de empresas, do comércio, do controle de organismos internacionais, de meios de comunicação e da tecnologia, para citar os pontos mais visíveis dessa hegemonia, com capacidade de articular e até de impor regras que favorecem a economia do dólar. [...] O contraponto do euro não modificou essa dominação e essa concentração de capital. Um aspecto que vale relembrar é que, no Brasil e demais países latino‑americanos, o Estado de bem‑estar social não chegou a vigorar. Sobre a consequência disso, Faleiros (ibidem, p. 157) afirma que [...] é na solidariedade familiar, nas redes primárias ou no trabalho informal que os sujeitos se apoiam para garantir o mínimo da sobrevivência, baseado no trabalho precário, instável, sujo, usando muitas vezes como matéria‑prima as migalhas e os dejetos da sociedade do consumo, como o lixo das ruas e dos entulhos. 148 Unidade III O autor conclui sua análise fazendo as seguintes considerações: “o capitalismo se recicla em nível mundial exigindo a quebra das unidades inadequadas para o novo processo de acumulação em nível planetário”. Quanto ao Brasil, Faleiros (ibidem, p. 157) argumenta ainda que: Os países periféricos se obrigam ao receituário do FMI, privatizando o patrimônio estatal nacional, realizando um ajuste fiscal que impõe redução de salário do Funcionalismo e de verbas dos programas governamentais, com forte incidência nos programas sociais. E, sobre o ajuste fiscal, esclarece que: [...] fiscal passa a ser o único horizonte da política oficial para poder atender ao pagamento dos juros da dívida, que causam, na maior parte, o déficit fiscal, numa sangria das condições sociais do povo, que é quem paga impostos, paga mais pelos serviços privatizados, perde empregos e fica sem os serviços públicos (ibidem, p. 157). No que se refere à busca de alternativas para dar respostas à crise mundial contemporânea, Silva (2006) destaca que, a partir da década de 1980, com o Consenso de Washington, as agências financeiras internacionais BM, FMI, BID e OMC propõem programas de ajuste estrutural, com vistas a superar os desequilíbrios macroeconômicos, financeiros e produtivos emergidos no cenário internacional. Tais programas são implementados de forma diferenciada, conforme contextos distintos das diferentes nações, tendo fortes impactos e graves consequências na década de 1990, em especial nos países periféricos. No caso da América Latina, a implementação desse programa de ajuste ocorre de forma diferenciada, de acordo com o estágio de desenvolvimento capitalista de cada país, sua trajetória histórica sociopolítico‑econômica, bem como sua inserção no cenário internacional. Nessa perspectiva, segundo Silva (2006), a orientação dos organismos internacionais está voltada para as reformas, sobretudo, a reforma do Estado, isto é, a contrarreforma do Estado, expresso por meio do Estado mínimo, descompromissado quanto às suas responsabilidades, especialmente no âmbito social. Evidencia‑se, portanto, a transferência de grande parte das responsabilidades estatais para o mercado e para a sociedade civil, que tem sido substituída pelo terceiro setor. E todas essas “mutações intensas econômicas, sociais, políticas e ideológicas, com fortes repercussões no ideário, na subjetividade e nos valores constitutivos da ‘classe que vive do trabalho’” (ANTUNES, 2005, p. 35) passaram aser decisivas na constituição das bases de organização do trabalho, como veremos a seguir. 7.1 As bases de organização do trabalho A crise do mundo do trabalho envolve uma discussão ampla e complexa que engloba um conjunto de questões. Antunes (ibidem, p. 35) destaca alguns elementos afirmando que fazem parte desse rol: 149 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL A crise do movimento operário, além da crise estrutural do capital, bem como das respostas dadas pelo neoliberalismo e pela reestruturação produtiva do capital, o desmoronamento do Leste Europeu no pós‑89, assim como suas consequências nos partidos e sindicatos, e também a crise do projeto socialdemocrata e suas repercussões no interior da classe trabalhadora. De acordo com Silva (2007, p. 110), a chamada reestruturação produtiva do capital – da qual o toyotismo ou modelo japonês, a flexibilização e a desregulamentação são expressões –, afetou fortemente o movimento operário a partir do cooptação dos trabalhadores para assumir o projeto do capital, chamado por Antunes (1995, p. 133) de “envolvimento manipulatório levado ao limite”. Antunes (2005, pp. 190‑191) afirma que foram as seguintes consequências para o mundo do trabalho: • diminuição do operariado manual, fabril, concentrado, típico do fordismo e da fase de expansão daquilo que se chamou de regulação socialdemocrata; • aumento acentuado das inúmeras formas de subproletarização ou precarização do trabalho, decorrentes da expansão do trabalho parcial, temporário, subcontratado, terceirizado, e que tem intensificado em escala mundial, tanto nos países do Terceiro Mundo, como também nos países centrais; • aumento expressivo do trabalho feminino no interior da classe trabalhadora, em escala mundial. [...] principalmente no universo do trabalho precarizado, subcontratado, terceirizado, part‑time, com salários geralmente mais baixos; • enorme expansão dos assalariados médios, especialmente no “setor de serviços”, que inicialmente aumentou em ampla escala, mas vem presenciando também níveis de desemprego tecnológico; • exclusão dos trabalhadores jovens e dos trabalhadores “velhos” (em torno de 45 anos) do mercado de trabalho dos países centrais; • intensificação e superexploração do trabalho, com a utilização do trabalho dos imigrantes e expansão dos níveis de trabalho infantil, sob condições criminosas, em tantas partes do mundo, como Ásia, América Latina etc.; • há, em níveis explosivos, um processo de desemprego estrutural que, junto com o trabalho precarizado, atinge cerca de 1 bilhão de trabalhadores, o que corresponde a aproximadamente um terço da força humana mundial que trabalha; • há uma expansão do que Marx chamou de trabalho social combinado no processo de criação de valores de troca [...], no qual trabalhadores de diversas partes do mundo participam do processo produtivo [...] (grifos do autor). 150 Unidade III A acumulação flexível conforma um padrão produtivo que é organizacional e tecnologicamente avançado, pelo resultado da introdução de técnicas de gestão da força produtiva próprias da fase informacional, introdução ampliada dos computadores do processo produtivo e de serviços, com a utilização da terceirização (ANTUNES, 2005). Exemplo de aplicação Os efeitos do projeto neoliberal e as mudanças nas bases de organização do trabalho começam a se configurar de forma mais intensa na realidade brasileira nas décadas de 1980 e 1990. Como a sociedade brasileira viveu esse processo? Faça uma pesquisa em jornais e revistas dessa época ou consulte uma biblioteca ou alguma pessoa conhecida que tenha vivenciado essas mudanças (quem sabe você mesmo as tenha vivenciado). Consulte também artigos científicos que analisam esse período e busque verificar, principalmente, os efeitos desse processo na classe trabalhadora brasileira. Faça essa pesquisa e registre suas descobertas. Cabe ainda destacar que o contingente de desempregados manifesta‑se em determinados estágios ou estruturas. Esse processo agravou‑se ainda mais na pós‑reestruturação produtiva, em que o desemprego constituiu‑se a manifestação visível das alterações na conjuntura internacional do trabalho. O item a seguir aborda esse contexto. 7.2 A classe trabalhadora no contexto pós‑reestruturação produtiva Com o intuito de enriquecer nossa discussão sobre a referida temática, Silva (2007) ressalta que também é fundamental saber quem são os trabalhadores do início do século XXI, ou como sugere Antunes (2005), “a classe‑que‑vive‑do‑trabalho”. Silva (2007) esclarece que não são os mesmos proletários de Marx do século XIX; essa classe ampliou‑se consideravelmente. Antunes (2005, p. 209) destaca que houve “uma diminuição da classe operária industrial tradicional”, mas, ao mesmo tempo, “efetivou‑se uma significativa subproletarização do trabalho, decorrência das formas diversas de trabalho parcial, precário, terceirizado, subcontratado, vinculado à economia informal, ao setor de serviços etc.”, desencadeando uma “significativa heterogeneização, complexificação e fragmentação do trabalho”. Em suma, houve uma “diminuição do operariado industrial tradicional e aumento da classe‑que‑vive‑do‑trabalho” (ibidem, p. 211). Compreender a “classe‑que‑vive‑do‑trabalho” ou a classe trabalhadora atual em uma visão ampla, segundo Antunes (ibidem, p. 200), “implica entender esse conjunto de seres sociais que vivem da venda da sua força de trabalho, que são assalariados e são desprovidos dos meios de produção”. Assim a “classe‑que‑vive‑do‑trabalho” atual, para o autor, refere‑se a todos aqueles que vendem sua força de trabalho, incluindo o proletariado rural (chamados boias frias) e o precarizado. Antunes (ibidem, p. 200; 235) conclui que “a versão ‘moderna’ do proletariado do século XIX” é composta por: 1. todos aqueles/as que vendem sua força de trabalho; 151 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL 2. os assalariados do setor de serviços e também o proletariado rural; 3. o subproletariado, proletariado precarizado, sem direitos, e também trabalhadores desempregados, que compreendem o exército industrial de reserva e são postos em disponibilidade crescente pelo capital, nesta fase de desemprego estrutural. Antunes (ibidem) ressalta que estão excluídos dessa classe trabalhadora atual os altos funcionários, com altíssimos salários e que detêm o controle central de gestão do capital, os quais constituem parte fundamental da classe dominante. Segundo Antunes (ibidem, p. 201), eles “são parte fundamental do sistema social do capital”, e acrescenta citando Mészáros que “os gestores do capital, ao certo, não são assalariados e evidentemente estão excluídos da classe trabalhadora”. Nesse atual contexto complexo e adverso, ressaltamos ainda, segundo Silva (2007), que a centralidade da categoria trabalho tem sido questionada, sobretudo, em função da grave crise da sociedade do trabalho, evidenciada principalmente pelo desemprego estrutural, pela precarização das condições de trabalho, pela flexibilização e pela desregulamentação das leis trabalhistas e pela crescente degradação da relação metabólica entre homem e natureza. Em meio a essa grande polêmica, a autora afirma que, de um lado, defendendo a perda dessa centralidade, encontram‑se alguns autores tais como Habermas, Krisis, Gorz e Claus Offe e, de outro lado, defendendo a centralidade, Lukács e Antunes. Nessa perspectiva, Antunes (2005, p. 204) afirma que “o que se vê não é o fim do trabalho, e sim a retomada de níveis explosivos de exploração do trabalho, de intensificação do tempo e do ritmo de trabalho”. Ressalta que “a jornada pode até reduzir‑se, enquanto o ritmo se intensifica”. Discordando da tese do fim do trabalho e do fim da revolução do trabalho, conclui que “a emancipação dos nossos dias é centralmente uma revolução no trabalho, do trabalho e pelo trabalho”. Entretanto admite ser “um empreendimento societal mais difícil, uma vez que não é fácil resgatar o sentido de pertencimento de classe, que o capital esuas formas de dominação (inclusive a decisiva esfera da cultura) procuram mascarar e nublar” (ibidem, p. 205). Assim, ainda conforme Antunes (ibidem, p. 192), o desafio maior da classe‑que‑vive‑do‑trabalho atual é: [...] soldar os laços de pertencimento de classe existentes entre os diversos segmentos que compreendem o mundo do trabalho, procurando articular desde aqueles segmentos que exercem um papel central no processo de criação de valores de troca até aqueles segmentos que estão mais à margem do processo produtivo, mas que, pelas condições precárias em que se encontram, constituem‑se em contingentes sociais potencialmente rebeldes [em face d]o capital e suas formas de (des)socialização. Condição imprescindível para se opor, hoje, ao brutal desemprego estrutural que atinge o mundo em escala global e que se constitui no exemplo mais evidente do caráter destrutivo e nefasto do capitalismo contemporâneo. 152 Unidade III O autor destaca ainda as múltiplas lutas emancipatórias, considera a “questão da emancipação humana e da luta central contra o capital”, sendo fundamental nesse processo “a emancipação do gênero humano em relação às formas de opressão ao capital”, bem como outras formas de opressão: “de classe, dadas pelo sistema do capital, e a opressão de gênero que tem uma existência que é pré‑capitalista”. Assim conclui que “a emancipação em face do capital e da emancipação do gênero são momentos constitutivos do processo de emancipação do gênero humano diante de todas as formas de opressão e dominação” (ibidem, pp. 202‑203). Referindo‑se ao atual sistema de produção, em época de reestruturação produtiva de acumulação flexível, Antunes (ibidem, p. 53) esclarece que se trata: [...] de um processo de organização do trabalho cuja finalidade essencial, real, é a intensificação das condições de exploração da força de trabalho, reduzindo muito ou eliminando tanto o trabalho improdutivo, que não cria valor, quanto suas formas assemelhadas, especialmente nas atividades de manutenção, acompanhamento, e inspeção de qualidade. Para o autor, essas funções foram incorporadas ao trabalhador produtivo. Quanto ao ideário e à prática cotidiana da “fábrica moderna”, Antunes (ibidem, p. 53) destaca: a “reengenharia, lean production, team work, eliminação de postos de trabalho, aumento da produtividade, qualidade total”. Essas mutações no processo produtivo tiveram repercussões imediatas no mundo do trabalho, tais como: a enorme desregulamentação dos direitos trabalhistas, o aumento da fragmentação da classe trabalhadora, a precarização e a terceirização da força humana trabalhadora, a destruição do sindicalismo de classe que é convertido em um sindicalismo dócil ou um “sindicalismo de empresa” (ibidem). Referindo‑se ao processo de reorganização das formas de dominação societal, Antunes (ibidem, p. 48) ressalta, além do processo produtivo, a busca de um projeto de recuperação da hegemonia em diversas esferas, a exemplo do plano ideológico, que “por meio do culto de um subjetivismo e de um ideário fragmentador faz apologia ao individualismo exacerbado contra as formas de solidariedade e de atuação coletiva e social”. E complementa, ainda, citando Ellen Wood, que essas transformações econômicas, pressupondo mudanças na produção, nos mercados e na esfera culturais, geralmente associadas ao “pós‑modernismo”, na verdade, estariam “conformando um momento de maturação e universalização do capitalismo, muito mais do que um trânsito da “modernidade” para a “pós‑modernidade” (ibidem, p. 48). O autor adverte que isso tem gerado mais dissenso que consenso no plano teórico, sendo que alguns até demonstram um “novo otimismo”. Antunes (ibidem, p. 50) conclui que “essas mutações em curso são expressão da reorganização do capital com vistas à retomada do seu patamar de acumulação e ao seu projeto global de dominação”. Silva (2007, p. 118) ressalta que “o sistema capitalista não é obra de Deus e sim dos seres humanos”. E, baseada nisso, afirma que: O sistema de metabolismo social do capital não é consequência de nenhuma determinação ontológica inalterável, ao contrário, é o resultado de um processo 153 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL historicamente constituído, [em que] prevalece a divisão social hierárquica que subsume o trabalho ao capital, sendo, portanto, possível sua alteração. Dessa forma, a autora aponta para a possibilidade de emancipação social em face do capital, que deve ser construída coletivamente, sendo imprescindível resgatar o sentido de pertencimento de classe. O capital, em suas várias estratégias de dominação, faz tudo com o intuito de mascarar e inviabilizar tal pertencimento, sobretudo na égide da barbárie neoliberal e de reestruturação produtiva de acumulação flexível. O trabalhador não se reconhece mais como trabalhador e sim como um “colaborador”, portanto, não se sente mais pertencente à classe trabalhadora. Silva (2007, p. 118) afirma que “essa é a tragédia atual que perverte e desmobiliza a classe trabalhadora, sendo uma das estratégias do projeto neoliberal em curso, no sentido de cooptação dos trabalhadores para assumirem o projeto do capital”, chamado por Antunes (1995) de “envolvimento manipulatório levado ao limite”. Por fim, vislumbrando uma perspectiva emancipatória, Silva (2007) resgata Marx em O manifesto comunista, que postula: “no lugar da sociedade burguesa antiga, com suas classes e antagonismos de classes, teremos uma associação na qual o desenvolvimento livre de cada um é a condição para o desenvolvimento livre de todos”. E complementa: “Proletários de todos os países, uni‑vos” (MARX apud SILVA, 2007, p. 118). Saiba mais Para aprofundar a discussão sobre o debate da categoria trabalho no âmbito do Serviço Social, sugerimos que você leia o capítulo 2 do livro de Marilda Iamamoto O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional (constante da bibliografia deste livro‑texto). A partir dos estudos abordados neste capítulo, podemos concluir que a hegemonia do projeto neoliberal traz novas exigências às bases de organização do trabalho que refletem sobre as mudanças que ocorreram a partir do fim da década de 1970. 7.3 Hegemonia do projeto neoliberal: Estado‑sociedade Para você caracterizar as relações entre Estado e sociedade a partir da hegemonia do projeto neoliberal e diferenciar as lógicas do Estado e da sociedade civil, é imprescindível que tenha tido um bom entendimento do conteúdo abordado sobre a hegemonia do projeto neoliberal e a base de organização do trabalho. A partir da década de 1980, com o Consenso de Washington, as agências financeiras internacionais BM, FMI, BID e OMC propõem as diretrizes de ajustes estruturais, com o intuito de superar os desequilíbrios macroeconômicos, financeiros e produtivos emergidos no cenário internacional (SILVA, 2006). Essa diretriz está centrada, principalmente, na “reforma” do Estado, que denominamos contrarreforma em razão desses ajustes terem provocado um retrocesso nas conquistas da sociedade civil. 154 Unidade III De acordo com Behring (2003, p. 23), reforma é um termo que ganhou visibilidade “[...] no debate do movimento operário socialista, melhor dizendo, de suas estratégias revolucionárias, tendo sempre em perspectiva a equidade. Portanto o reformismo, entre outros é um patrimônio de esquerda”. Vamos então compreender a contrarreforma do Estado. 7.4 A (contra)reforma do Estado No contexto da supremacia da ideologia neoliberal, ao Estado é atribuída grande parte da crise estrutural do capital da década de 1970, o qual passa a ser o grande vilão da história, visto como ineficaz, ineficiente, responsável pela hegemonia do projeto neoliberal: as relações Estado‑sociedade pelo déficit público evidenciam então a distorção e o mascaramento da real situação. Nesse contexto, Silva (2006, p. 3) esclarece que o Estado‑sociedade: [...] fortalece a cultura histórica da dicotomia entre público e privado, quando se atribuiao público o caráter da ineficiência, aliada à corrupção constante e inadmissível, e ao privado, o oposto, o polo das virtudes, a esfera da eficiência e da qualidade, depositando‑lhe, então, todas as esperanças de dias melhores. Percebe‑se, portanto, que no bojo dessas reformas impostas pelos referidos organismos internacionais, os atores principais são: o Estado, o mercado e a sociedade civil, sendo a reforma do Estado orientada para o mercado. Para justificar a necessidade de uma “reforma” do Estado brasileiro, analisemos, em linhas gerais, o plano diretor da reforma do Estado, junto ao Ministério da Administração e da Reforma do Estado – MARE –, elaborado por uma equipe liderada por Bresser Pereira e inspirado no Consenso de Washington. O plano diretor foi aprovado em setembro de 1995 pela Câmara da Reforma do Estado, órgão interministerial criado para esse fim e que, segundo Behring (2003, p. 177), orienta “[...] entre outros processos legislações, a Emenda Constitucional n. 19 de 19/6/1998, que trata da ‘reforma’ da administração pública”. Nesse documento, o então presidente Fernando Henrique Cardoso reforça a ideia de que a crise brasileira da última década foi uma crise do Estado, que, ao desviar‑se de suas funções básicas, evidencia a deterioração dos serviços públicos, somado ao agravamento da crise fiscal e a inflação. O Estado brasileiro, segundo Fernando Henrique Cardoso, estaria “rígido, lento, ineficiente e sem memória administrativa”, justificando, portanto, a necessidade da reforma gerencial, voltada ao controle dos resultados e pautada na descentralização, “visando à qualidade e à produtividade do serviço público” (BEHRING, 2003, p. 177). Na análise de Bresser Pereira e Grau (1999), o Brasil e a América Latina foram atingidos por uma grave crise fiscal na década de 1980, acirrada pela crise da dívida externa e pelas práticas de populismo econômico, o que, segundo eles, justificaria a necessidade de forma imperiosa de uma disciplina fiscal, a privatização e a liberalização comercial. Bresser Pereira e Grau (ibidem) apresentam 155 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL a proposta autointitulada social‑liberal, buscam diferenciá‑la da neoliberal, entretanto assumem como necessária a crítica neoliberal do Estado, afirmando que as causas da crise estariam localizadas no Estado desenvolvimentista, no Estado comunista e no welfare state. Bresser Pereira e Grau (ibidem, p. 21) afirmam que: É um Estado social‑liberal porque está comprometido com a defesa e a implementação dos direitos sociais definidos no século XIX, mas é também liberal porque acredita no mercado, porque se integra no processo de globalização em curso, com o qual a competição internacional ganhou uma amplitude e uma intensidade historicamente novas, porque é resultado de reformas orientadas para o mercado. Em suma, sob o pretenso peso excessivo da máquina estatal, nessa “reforma” do Estado brasileiro, a ordem é delimitá‑lo, reduzi‑lo ao mínimo possível, deixando‑o “mais barato, mais eficiente, na realização de suas tarefas, para aliviar o seu custo sobre as empresas nacionais que concorrem internacionalmente” (ibidem, p. 14). Com a privatização do Estado, suas atribuições e suas responsabilidades no âmbito social são transferidas ao mercado, ao qual é atribuída a expectativa da garantia da eficácia e da eficiência não obtidas com a esfera pública. Nessa perspectiva, justificam Bresser Pereira e Grau (1999, p. 26) que “o mercado é o melhor dos mecanismos de controle, já que por meio da concorrência obtêm‑se, em princípio, os melhores resultados com os menores custos”. Behring (2003, p. 171) refuta essa tese e apresenta uma crítica veemente e bem formulada e mostra como a reforma defendida por Bresser Pereira e Grau (1999) configurava‑se na verdade como uma “contrarreforma conservadora e regressiva, diferente do que postulam os que a projetaram entre as paredes dos gabinetes tecnocráticos e inspirados nas orientações das agências multilaterais”. Behring (2003, p. 212‑213) acrescenta que: [...] há uma forte tendência de desresponsabilização pela política social – em nome da qual se faria a “reforma” – acompanhada do desprezo pelo padrão constitucional de seguridade social. Isso ocorre vis a vis a um crescimento da demanda, associado ao aumento do desemprego e da pobreza, aprofundadas pela macroeconomia do Plano Real. O trinômio do neoliberalismo para as políticas sócias – privatização, focalização e descentralização – tendeu a se expandir por meio do “Programa de Publicização”. Outro aspecto importante apontado por Behring (ibidem) foi a forma tecnocrática e antidemocrática de condução expressa na dificuldade de convivência entre o debate e a crítica, evidente nas arenas onde estavam presentes sujeitos coletivos e organizados. A autora ressalta ainda que “o recurso reiterado às medidas provisórias criou um ambiente onde a democracia foi quase retórica”. E complementa afirmando categoricamente: “tratou‑se de uma verdadeira contrarreforma, dada sua natureza destrutiva e regressiva” (ibidem, p. 212). 156 Unidade III Nessa perspectiva, segundo Silva (2006), percebe‑se que, na busca da redução do gasto público, o alvo preferido tem sido as políticas sociais públicas, tidas como causa principal do déficit público. Assim há um expressivo consenso de que, a partir da (contra)reforma do Estado, as principais diretrizes para as políticas sociais passam a ser as seguintes: 1. privatização: transferência das atribuições da esfera pública para o mercado; 2. focalização: redução dos gastos públicos, direcionados apenas aos setores de extrema pobreza; 3. descentralização: busca combater a burocratização e ineficiência do gasto social, através da transferência das decisões da esfera federal para estados e municípios (ibidem, p. 4). Na prática, entretanto, segundo a autora, evidencia‑se o fortalecimento do caráter compensatório das políticas sociais públicas, em uma perspectiva focalista, de cunho reducionista e minimista, extirpando o seu caráter universal (evidenciado no Estado do bem‑estar social), sendo orientado apenas aos segmentos mais vulneráveis, de extrema pobreza da população. No Brasil, essa situação é ainda mais perversa, sobretudo, em virtude de não termos tido de fato um Estado de bem‑estar social e também pelas características peculiares brasileiras no aspecto político, social, econômico e cultural. Segundo Silva (ibidem), a história brasileira, desde o Período Colonial aos regimes ditatoriais, populistas e democráticos elitistas, sempre foi marcada pelo autoritarismo e pela relação de total subserviência da grande maioria da população. Para Florestan Fernandes (1975), isso é fruto do congelamento do processo de descolonização que excluiu grande parte do país, permanecendo as classes dominantes com mentalidade senhoril e colonial. Nesse prisma, segundo Silva (2006), é igualmente importante ressaltar que o Brasil vive uma crise discursiva, resultante de uma “confluência perversa” entre o projeto neoliberal a partir do Consenso de Washington, e o projeto democratizante e participativo que emerge na década de 1980, com a crise do regime ditatorial, expressa pela disputa político‑cultural entre esses dois projetos e pelos deslocamentos de significados sobre as noções de sociedade civil, participação e cidadania (DAGNINO, 2004). A perversidade estaria “no fato de que, apontando para direções opostas e até antagônicas, ambos os projetos requerem uma sociedade civil ativa e propositiva”, culminando na inflexão político‑cultural e na despolitização da sociedade brasileira (ibidem, p. 140). Em relação à descentralização proposta no processo democratizante em curso, Silva (2007, p. 30) expõe que se percebe que: [...] a sociedade civil que deveria controlar e fiscalizar as ações governamentais, por meio da participação, tem sido substituída pelo “terceiro setor”, que é constituído predominantemente pelas ONGs – Organização Não Governamental,OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – e organizações filantrópicas sem fins lucrativos, as quais, em sua grande maioria, na verdade representam apenas seus próprios interesses. 157 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL Silva (ibidem, p. 20) esclarece ainda que “o termo ONG não existe juridicamente no ordenamento brasileiro, entretanto, a legislação brasileira preconiza as OSCIP, que se caracterizam por sua finalidade pública, mas não governamental”. Saiba mais O amplo conhecimento do Estado é fundamental para que o assistente social desenvolva sua ação profissional. Para saber mais sobre a reforma do Estado, visite o sítio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: <http://www.planejamento.gov.br/gestao/conteudo/publicacoes/ cadernso_mare/cadernos_mare.htm>. Consulte também os Cadernos MARE da Reforma do Estado. 8 O TERCEIRO SETOR Inicialmente, é fundamental situarmos o entendimento de Carlos Montaño (2005, p. 267‑268) sobre o projeto neoliberal em curso que, segundo o autor, está alicerçado em três estratégias – o chamado tripé neoliberal: a) a reestruturação produtiva (gerando precarização das condições de trabalho e aumento do desemprego), b) a (contra)reforma do Estado (particularmente na desresponsabilização estatal e do capital nas respostas à “questão social”), c) a transformação ideológica da sociedade civil (como arena de lutas) em “terceiro setor” (como espaço que assume harmonicamente as autorrespostas isoladas à “questão social” abandonadas/ precarizadas pelo Estado). De acordo com Montaño (2005), o termo terceiro setor é carente de rigor teórico e desarticulador do social, pressupondo a existência de um primeiro, um segundo e um terceiro setor, o que divide a realidade social em três esferas autônomas: o Estado, o mercado e a sociedade civil, tese defendida pelos teóricos do terceiro setor. Entretanto, em uma perspectiva crítica e de totalidade, adverte que esse conceito é puramente ideológico e inadequado ao real. O autor critica de forma veemente a divisão em três setores, pois “consiste num artifício positivista, institucionalista ou estruturalista” e refuta essa tese ressaltando que, para explorar essa categoria, é fundamental fazer uma análise do real como totalidade histórica, considerando que, [...] a partir das mudanças da realidade contemporânea, promovidas pelo embate desigual entre o projeto neoliberal e as lutas dos trabalhadores, verdadeiras transformações estão se processando nas respostas da sociedade à chamada ‘questão social’ e suas refrações (ibidem, p. 182). 158 Unidade III O crescimento do terceiro setor não é um fenômeno isolado e tampouco uma forma de compensação do afastamento estatal das respostas às sequelas da questão social. Ao contrário, Montaño (ibidem, pp. 197‑198) afirma que: [...] ele é um fenômeno integrado, complementar, parte do mesmo projeto neoliberal que, por um lado, reduz o papel do Estado na intervenção social, redirecionando sua modalidade de ação [...], por outro lado, cria uma demanda lucrativa para os serviços privados e que, finalmente, estimula a ação voluntária e filantrópica de um “terceiro setor” dócil e supostamente substitutivo da ação estatal. São três formas de intervenção social que fazem parte do mesmo projeto neoliberal: o desmonte do padrão de respostas sociais típicas do Welfare State e da Constituição Federal brasileira de 1988. Segundo Montaño (ibidem), a partir do tripé constitucional da seguridade social – previdência, saúde e assistência social –, evidencia‑se a divisão das atribuições. O setor empresarial se predispõe a atender às demandas nas áreas da previdência social e da saúde, enquanto o terceiro setor orienta‑se principalmente para a assistência social. Dessa forma, Montaño (ibidem, p. 198) afirma que: Esse triplo processo de precária intervenção estatal, de re‑filantropização da “questão social” no âmbito do “terceiro setor” para os despossuídos (sem cidadania), acompanhada de uma re‑mercantilização, possibilitam três modalidades de serviços com qualidades distintas: o privado/mercantil, de boa qualidade, o estatal/”gratuito”, precário e o filantrópico/voluntário, geralmente também de qualidade duvidosa, constituindo‑se também três categorias de cidadãos: os “integrados”/consumidores de serviços mercantilizados, os “excluídos”/usuários de serviços estatais precários, focalizados e descentralizados e os “excluídos”/ assistidos pela caridade e filantropia do “terceiro setor”. Essa tríplice modalidade de resposta à “questão social” – estatal, filantrópica e mercantil – necessita de um processo que cumpra uma função ideológica e de viabilidade econômica. Montaño (ibidem) adverte que as organizações do terceiro setor geralmente não têm condições de autofinanciamento e dependem da transferência dos recursos públicos para seu funcionamento. Essa transferência “é chamada, ideologicamente, de ‘parceria’ entre o Estado e a sociedade civil, haja vista que o Estado está supostamente contribuindo, financeira e legalmente, para propiciar a participação da sociedade civil” (ibidem, p. 199). Para Montaño (ibidem, p. 199), essa parceria pauta‑se na real redução relativa de gastos sociais, pois: [...] é mais barato que as ONGs prestem serviços precários e pontuais/locais, do que o Estado, pressionado por demandas populares e com as necessidades/ 159 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL condições da “lógica democrática”, desenvolva políticas sociais universais permanentes e de qualidade. É evidente que o objetivo principal dessa parceria é, sobretudo, ideológico, visa mascarar a realidade, quanto ao ocultamento do processo de desresponsabilização do Estado diante das expressões da questão social, a perda do direito a serviços sociais de qualidade e universais, com vistas a fazer parecer “um processo de transferência desta função e atividades, de uma esfera supostamente ineficiente, burocrática, não especializada (o Estado), para outra supostamente mais democrática e participativa e mais eficiente (‘terceiro setor’)” (ibidem, pp. 199‑200). Nessa perspectiva, adverte Montaño (ibidem, p. 200), que a emergência e o fortalecimento do terceiro setor no processo de desresponsabilização social do Estado causam alguns deslocamentos: [...] de lutas sociais para a negociação/parceria; de direitos por serviços sociais para a atividade voluntária/filantrópica; da solidariedade social/compulsória para a solidariedade voluntária; do âmbito público para o privado; da ética para a moral; do universal/estrutural/permanente para o local/focalizado/fortuito. Quanto à parceria entre o Estado e as ONGs, cuja função, segundo Montaño (ibidem, p. 224), “não é a de ‘compensar’, mas a de encobrir e a de gerar a aceitação da população a um processo que, como vimos, tem clara participação na estratégia atual de reestruturação do capital. É uma função ideológica”. Assim a transferência da ação social para o terceiro setor configura‑se uma estratégia neoliberal. O autor adverte que a referida desresponsabilização do Estado quanto às expressões da questão social “só é possível de ser compreendida na sua articulação com a autorresponsabilização dos sujeitos carenciados e com a desoneração do capital na intervenção social, no contexto do novo projeto neoliberal” (ibidem, p. 235). Nessa perspectiva, adverte Silva (2007, p. 38), que com o atual retraimento do impacto das lutas das classes trabalhadoras sob a égide neoliberal e no processo de reestruturação flexível em curso, o capital visa se desfazer de todas as conquistas trabalhistas, as quais ele nunca quis, todavia teve de aceitar em um contexto de elevada luta de classes: direitos trabalhistas, políticas e serviços sociais e assistenciais, direitos democráticos. Nesse sentido, Montaño (2005, p. 225) aponta um triplo caminho para retirar do Estado aquelas conquistas sem provocar um processo de convulsão social. São eles: a) para encobrir a desregulamentação dos direitos trabalhistas:a “terceirização” e a “flexibilização” do contrato de trabalho [...]. b) para ocultar o esvaziamento dos direitos democráticos: a chamada “globalização” política – mundialização do capital, via expansão de organizações transnacionais: BID, FMI, OMC, G7, BM, OTAN [...]. c) para legitimar o esvaziamento dos direitos sociais e particularmente o recorte das políticas sociais: fomenta‑se, a partir das “parcerias”, o crescimento [...] da atividade do chamado “terceiro setor”, essa miscelânea de indivíduos, empresas, ONGs. 160 Unidade III Diante do exposto, Silva (2007) ressalta a dificuldade de se desvelar a real face do terceiro setor e determinar sua conceituação, abrangendo as organizações não governamentais (conceito impreciso), as organizações sem fins lucrativos (desconsiderando os altos salários de suas autoridades como lucro), as fundações empresariais, a chamada empresa cidadã, as instituições filantrópicas e a imensurável atividade voluntária (conceito impreciso e quase impossível de se determinar). Silva (ibidem, p. 41) assevera que: Essa flexibilidade de conceitos oculta dados estatísticos relevantes, demonstrando a abrangência e importância numérica do “terceiro setor”, bem como sua significação econômica e política, que são imprescindíveis e bastante oportunas ao projeto neoliberal em curso. Por outro lado, é igualmente importante ressaltar que, com o Estado mínimo, há uma evidente redução de campo de trabalho para o assistente social no âmbito estatal. Por outro lado, apesar da polêmica dificuldade em se desvelar o terceiro setor, tanto no âmbito teórico, jurídico e político, bem como as ambiguidades decorrentes já enumeradas anteriormente, entendemos que se trata de um espaço real na atualidade complexa e adversa, configurando‑se uma possibilidade atual de intervenção profissional para o assistente social, com vistas à efetivação do projeto ético‑político da categoria. Isso desde que o profissional esteja devidamente habilitado e qualificado no sentido de transcender a imediaticidade do cotidiano e dar respostas qualificadas que realmente respondam a essas novas demandas societárias emergentes (NETTO, 1996). Lembrete O terceiro setor tem se constituído em um espaço da ação profissional do Serviço Social, mas não podemos ocupar esse espaço sem uma análise crítica de como a figura desse setor se institui na vida social pautando as relações entre Estado e sociedade. Exemplo de aplicação Na sua região, existem organizações do terceiro setor? Faça uma pesquisa buscando saber: como essas organizações se mantêm. A que expressão da questão social atendem? Há assistente social em seus quadros de funcionários? Após a pesquisa, elabore um texto refletindo sobre como você compreende o espaço de ação profissional do terceiro setor. 8.1 Concepção histórica do terceiro setor O estudo da história da humanidade e das nações por ela constituídas, das relações internacionais e, por extensão, dos interesses políticos e econômicos que emanam a partir do modo de produção e acumulação capitalista, apontam para o surgimento de estratos sociais marginalizados. Essa população se concretiza como expressões da questão social que precisa de atendimento e atenção especial para se incorporar ao processo produtivo e então a sua autossustentação. Essas pessoas, 161 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL famílias, comunidades e mesmo nações inteiras experimentaram marcas históricas que fortaleceram a importância de sua organização social. Esse fortalecimento se deu no sentido da conquista ou defesa de seus direitos ou na satisfação de necessidades básicas da condição humana, como o acesso à água e ao alimento, por exemplo. Assim o estudo da concepção do terceiro setor aborda a viagem humana pelo tempo, sob as diversas circunstâncias históricas que, por sua vez, tonificarão ou minimizarão as experiências sociocomunitárias. Experiências que, embora de caráter público, não são desenvolvidas dentro da lógica e da órbita de gestão do Estado. Sendo assim, estudaremos o trabalho desenvolvido fora do aparato estatal, mas mantendo‑se a finalidade do bem‑estar coletivo. 8.1.1 Primórdios da ação pública não estatal Dentro do desenho de uma sociedade piramidal, cujo modelo de democracia é o representativo (tendo‑se à base os trabalhadores, depois os detentores do capital, os partidos e o Estado), a humanidade sempre buscou a superação de suas dificuldades e demandas (necessidades), principalmente por meio do Estado. Mas não se obtendo a supressão de todas as necessidades, passa‑se a fortalecer novas alternativas, como o associativismo, por exemplo. Nesse ínterim de busca de atendimento às necessidades das comunidades, deve‑se destacar o papel histórico da Igreja, complementar ao do Estado, no desenvolvimento de ações emergenciais ou sistematizadas de atendimento às necessidades da humanidade. Na busca de atendimento das demandas, as pessoas passaram a participar de ações caritativas, sendo que a Igreja se tornara o caminho para esse tipo de atuação. Vale ressaltar que as damas de caridade passaram a se apoiar na estrutura da Igreja para a promoção de ações caritativas. O aumento da participação dos cidadãos, principalmente dos trabalhadores e estudantes em ações planejadas, expressou destacadamente no século XIX e XX, o aumento da atividade cidadã voluntária. Sobre isso, Fernandes (1994, p. 16) assevera que: Assistimos a uma formidável expansão das iniciativas civis. O fenômeno não é novo, com certeza. A tese do “sacerdócio universal”, proclamada pela reforma protestante do século XVI, abriu as hierarquias sagradas para a participação dos fiéis. O ingresso dos trabalhadores na vida pública é tema constante da modernidade e compõe um capítulo obrigatório das histórias sociais a partir do século XIX. O tema é clássico. Nem por isto, no entanto, deixa de apresentar novidades. Com muitos indícios e algumas boas razões, pode‑se dizer com segurança que a atividade cidadã expande‑se atualmente em números e formas sem precedentes. Um paralelo histórico interessante de se estabelecer é o de que as sociedades das nações, entre o século XVI e o início do século XX, eram regidas pela liberdade de expressão, pensamento e de ação econômica. Dentro do liberalismo (tema que você estudou na disciplina Contexto Histórico das Políticas 162 Unidade III Sociais) e nesse ínterim, muito embora o interesse central fosse o acúmulo financeiro, o Associativismo era uma prática possível, principalmente implementada e fortalecida junto aos trabalhos da Igreja, em suas sociedades de caridade e ajuda social. Com a ruptura do modelo econômico liberal, a humanidade sente a ausência de um modelo de Estado mais forte que possa interferir nas relações econômicas e sociais estabelecidas pelos detentores do Capital, pois o episódio deixa um lastro de milhões de famílias sem renda e sem atendimento público. A situação, literalmente de guerra, impele as sociedades, sob regência política e econômica dos Estados Unidos e Inglaterra, a planejarem um novo modelo econômico, adotando‑se o keynesianismo. Nesse modelo, o chamado Estado‑nação, imbuído de caráter e características nacionalistas, irá investir em três áreas principais: a) logística e indústria de base (construção de ferrovias, portos, sistemas viários, pesquisa e produção de petróleo, aço e energia), b) defesa da economia nacional (o Estado prioriza a compra de produtos nacionais e adota tarifas alfandegárias compensatórias que minimizam a importação) e c) welfare‑state (políticas sociais universalistas planejadas, financiadas e executadas pelo Estado e que atenderiam a todos indistintamente). 8.1.2 Redução do Associativismo no ápice do welfare‑state O fato central, a ser observado nesse modelo, é que a histórica adoção do modelo keynesiano e implementação de proposituras de políticas sociais universalistas impeliram a sociedade ao atenuamento de suas experiências e ações de microssolidariedade, reduzindo significativamenteas iniciativas associativistas nas décadas de 1930 a 1960. Tal polarização de ações e atendimento das demandas públicas pelo Estado, ao mesmo tempo em que propunha universalismo e equidade, levava a sociedade da maioria das nações do mundo a uma situação de dependência das políticas sociais controladas pelo governo. Esta situação traduziu‑se por maior fragilidade social e menor empoderamento das comunidades no que tange à sua participação política e comunitária. Ao final da década de 1960 e início da década de 1970, a maioria das nações do mundo que optaram pelo welfare state já não possuíam condições financeiras e de gestão para operacionalizar políticas sociais universalistas, recuando em seus projetos sociais e propostas previdenciárias. O novo cenário, com o recuo das ações públicas do Estado, mais uma vez expusera a população à falta ou redução (quantitativa e qualitativa) do atendimento de suas demandas. 8.1.3 Fortalecimento do terceiro setor O cenário político e social da década de 1970, resguardadas as proporções, foi o mesmo para países europeus e asiáticos, norte ou latino‑americanos sendo, de maneira geral, caracterizado pelos seguintes aspectos: políticas sociais compensatórias e não mais universalistas; políticas públicas, ações governamentais e mesmo estruturas físicas públicas ineficientes; ausência de atendimento às demandas da sociedade; Estados centralizadores e muitas vezes militarizados; aumento da pressão de organismos internacionais de financiamento sobre as nações endividadas; aumento das ações caritativas e principalmente socioeducativas da Igreja; destacado fortalecimento dos movimentos sociais, principalmente ligados às causas operárias, estudantis e de movimentos pela posse da terra. 163 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL Observa‑se que a redução do papel do Estado aumentou a participação da sociedade civil, inclusive redesenhando a inserção de suas organizações associativas sem finalidades lucrativas (naquele período denominadas de ONG – organizações não governamentais), que passaram a assumir novas proposituras e maior relevância no cenário político, econômico e social. Observação Neste livro‑texto está sendo utilizada a abreviatura OTS – Organização do Terceiro Setor – para se fazer referência, de maneira geral, às instituições do terceiro setor brasileiro (associações, igrejas, cooperativas, sindicatos) e a outras denominações utilizadas (ONG, OSC, ISFL). A história do terceiro setor está correlacionada com os períodos em que regimes políticos e modelos econômicos aumentaram ou diminuíram o atendimento às demandas sociais. Desta análise, a percepção de que quanto maior o grau de atendimento às necessidades sociais pelo poder público, menor será o engajamento das pessoas em OTS, encontra fundamentação histórica. Por outro lado, após a fragilização das políticas sociais universalistas do chamado welfare state, a sociedade planetária passou a viver um período de revalorização de suas experiências associativas dentro do terceiro setor. Assim, para concluir esta aula, é importante relacionar este contexto ao momento em que os movimentos sociais ganham força, inclusive com sua institucionalização (transformação em associações, fundações ou sindicatos). 8.2 Definição do terceiro setor Seguindo Fernandes (1994), define‑se como sendo primeiro setor o formado pelo Estado, ou seja, o setor público é o governo, representando o uso de bens públicos para fins públicos. O segundo setor refere‑se ao mercado e é ocupado pelas empresas privadas com fins lucrativos. O terceiro é formado por organizações privadas, sem fins lucrativos, desempenhando ações de caráter público. Quadro 1 – Os três setores da sociedade Origem dos recursos Destinação dos recursos Denominação setor Recursos públicos (originados em impostos, multas e tarifas públicas) Bem‑estar coletivo (gestão e atendimento público gratuito) Estado – 1º setor Recursos particulares (fontes privadas) Negócios particulares que visam ao lucro. Mercado Empresas privadas – 2º setor Recursos particulares (fontes privadas, assim como repasses públicos para execução de serviço de atendimento gratuito às demandas) Bem‑estar coletivo (gestão e atendimento público gratuito) ONGs, OSCIPs – 3º setor Por analogia e interpretação do quadro, o mercado (1º setor) é composto por empresas, o Estado (2º setor) pelas instituições públicas da União, Estados e Municípios, enquanto o terceiro setor (3º setor) é composto pelas OTS (associações, fundações, sindicatos, cooperativas populares e igrejas). Define‑se então o terceiro setor como um conjunto de grupos sociais primários e organizações que atuam no 164 Unidade III atendimento de demandas sociais não supridas pelo Estado. Essas OTS, que constituídas sobre interesses coletivos e altruístas, sempre sem finalidades lucrativas, estruturam seu atendimento sobre um expressivo esforço voluntário, parcerias comunitárias locais e com os demais setores. 8.3 As Leis e o terceiro setor São diversas as legislações incidentes sobre as OTS e suas ações, todas sob a égide da Constituição Federal. A seguir, vamos desenvolver as principais delas. 8.3.1 Criação de uma organização do terceiro setor Tal qual cada tipo de sociedade empresarial ou cada categoria de empresa (micro, pequena ou média) possui especificidades jurídicas, também no âmbito do terceiro setor, existe um considerável número de especificidades que indicam a sua matriz e ordenamento jurídico. No caso das associações (principal categoria de organização do terceiro setor), a legislação tributária brasileira concede número de CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – às organizações que possuam seus atos constitutivos (atas de assembleias gerais de criação, de aprovação de estatuto social, eleição e posse de diretoria e conselho fiscal) devidamente lavrados em livro A1 de Pessoas Jurídicas, assentado em Cartório de Notas. Na situação específica das fundações (considerando que serão criadas a partir da destinação de um patrimônio a consecução de objetivos altruísticos), caracterizando‑se então a administração pública de interesses privados, de acordo com os Arts. 24 e 27 do Código Civil e art. 1.199 do Código do Processo Civil, cabe ao instituidor (doador ou pessoa designada) redigir o estatuto da entidade. Devendo ainda este, juntamente com a dotação (bem patrimonial doado) e com as atas de criação, ser submetido ao Ministério Público, cabendo a este órgão total poder de aprovação ou indicação de mudanças estatutárias ou documentais. Castro (1995, p. 15) afirma que: [...] na constituição de uma fundação identificamos as seguintes fases: a formalização do ato constitutivo, mediante escritura pública ou testamento, consubstanciando os atos de instituir e de dotação e ainda o Estatuto; a aprovação do ato constitutivo pelo Ministério Público ou, se for o caso, pelo juiz; o registro do testamento ou da escritura pública. As cooperativas, por sua vez, devem ter seus atos constitutivos (atas de criação, aprovação de estatuto social, eleição e posse de diretoria), após registro no Livro A1 de Pessoas Jurídicas (junto ao Cartório de Notas), devidamente aprovados e registrados na Junta Comercial do Estado, seguindo‑se o expediente estabelecido por esta casa. A Lei 9.790/99 – Lei do Terceiro Setor Brasileiro A partir do Decreto nº 3.100, de 30 de junho de 1999, o Presidente da República regulamentou a Lei 9.790, chamada de nova Lei do Terceiro Setor por alguns, mas, na verdade, a primeira legislação 165 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL específica sobre o terceiro setor no Brasil. A legislação abriu a possibilidade da obtenção do título de OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – pelas OTS, sistematizando juridicamente o estabelecimento de convênio destas com o poder público, dentro do modelo de Termo de Parceria. Camargo e outros (2001, p. 155) destacam, além da modernidade dessa legislação, que ela representa o primeiro reconhecimentopúblico, por parte do Estado, de um setor público não estatal e acrescenta que: [...] cabe destacar que a nova lei abre às entidades do terceiro setor um caminho institucional mais moderno, condizente com as necessidades atuais da sociedade, já que rompe com velhas amarras regulamentadoras. Pela primeira vez, o Estado reconhece publicamente a existência de uma esfera que é pública, não pela sua origem, mas pela sua finalidade: é pública, embora não seja estatal. 8.4 Principais tipos de organizações do terceiro setor no Brasil O Brasil possui um imenso número de OTS, juridicamente constituídas, sendo que em 2001 eram mais de 220 mil instituições, segundo levantamento da Revista Veja (2001, p. 12), que juntas expressam um grande percentual do atendimento das demandas de nossa sociedade. A miscelânea de projetos e ações é afunilada em alguns tipos de organizações, com destaque quantitativo para as fundações e especialmente associações sem finalidades lucrativas, como você poderá estudar agora. 8.4.1 A face do terceiro setor no Brasil No Brasil, o terceiro setor ainda se confunde com apenas uma das nomenclaturas de suas organizações: organizações não governamentais, mais conhecidas pela sua forma abreviada ONG. De acordo com a Revista Veja (2001), o terceiro setor cresce em número e em qualidade de trabalhos, somando mais de 220 mil OTS, de diversas estruturas funcionais e caracterizações jurídicas. Camargo e outros (2001), em relação às organizações que compõem o terceiro setor, destacam os seus principais tipos de entidades, de acordo as características jurídicas e estatutárias: associação, fundação, sindicato, cooperativa e Igreja. Vamos agora aprofundar nossos estudos em cada uma dessas classificações jurídicas. 8.4.2 As igrejas Historicamente, desde o Brasil Colonial, a Igreja mantém um papel paralelo e complementar ao do Estado no atendimento das demandas das comunidades, o que torna a gênese do terceiro setor no Brasil bastante semelhante ao europeu: pautado sobre a colaboração e o voluntarismo promovido pela Igreja. Com o desenvolvimento gradativo das políticas públicas (da proclamação da república à era Vargas) a Igreja manteve seus trabalhos filantrópicos e humanitários. 166 Unidade III Camargo e outros (2001, p. 52) destacam que, com a implementação do Código Civil Brasileiro de 1916, as atividades sociais da Igreja passaram a se legitimar com a criação de associações. Os autores nos expõem que, [...] no ano de 1916, tem início a legitimação dessa função complementar nas políticas públicas sociais, e não apenas da Igreja como também das demais organizações sociais sem fins lucrativos, com o Código Civil brasileiro (Lei n. 3.107). Fortemente questionada por sua presença como instituição do terceiro setor, sua classificação é muito simples: não se constitui em Estado (por não ter seus recursos em fontes públicas) e também não é mercado, por não objetivar o lucro, mas o bem‑estar das pessoas que buscam valores como solidariedade, amor ao próximo e ética. 8.4.3 Os sindicatos Os sindicatos são instituições de direito privado que exercem atividades de interesse público com uma autonomia que varia de acordo com a estrutura política nacional, atuando sempre em representação (constitucionalmente livre dos trabalhadores ou outras categorias). Camargo e outros (2001, p. 42) afirmam que, [...] conceitualmente, o sindicato é uma associação de caráter profissional, que congrega empregados e empregadores, trabalhadores autônomos e profissionais liberais que exercem uma mesma atividade ou outra similar, com o intuito de defender, estudar e coordenar seus interesses individuais e profissionais. Ao se organizarem, os sindicatos de uma mesma categoria constituem as federações que representam os trabalhadores dos sindicatos a elas filiados, nos âmbitos: nacional e dos Estados. Por definição, os sindicatos e as federações de trabalhadores são instituições sem finalidades lucrativas, que atuam sob autorização e fiscalização direta do Ministério do Trabalho. 8.4.4 As cooperativas Cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações econômicas, sociais e culturais comuns, por meio da criação de uma sociedade democrática e coletiva. A liberdade de associação, para fazer das fragilidades isoladas possibilidades grupais de superação de desafios, faz da cooperativa (destacadamente de base popular ou produtiva) uma instituição genuinamente inserida no terceiro setor. Cançado e outros (2007, p. 59) destacam a importância da cooperativa para a superação de dificuldades sociais e traz uma definição de cooperativa da ACI (Aliança Cooperativa Internacional): Os autores asseveram que: 167 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL [...] uma cooperativa é uma associação de pessoas que se unem voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, através de uma empresa de propriedade comum e democraticamente gerida. O gestor do terceiro setor deve atentar para o fato de que grandes cooperativas comerciais ou com grande participação financeira de seus quotistas não se constituem (por sua gênese) como terceiro setor, mas mercado (origem privada do investimento e voltada a obtenção do lucro). Assim, devem integrar o terceiro setor as cooperativas de base colaborativa entre pequenos produtores ou de base popular (como a Cooperativa dos Pequenos Produtores de Mel de Pequizeiro e a Cooperativa Cultural do Capim Dourado). 8.4.5 As fundações As fundações são instituições sem finalidades lucrativas, constituídas a partir de um patrimônio, que associado à ideia do instituidor é especificamente utilizado na consecução de um objetivo altruísta, ou, conforme Castro (1995, p. 20),“a fundação é uma pessoa jurídica de direito privado, com patrimônio próprio, atividade altruística e fim não lucrativo”. No Brasil, a fundação tem sua criação condicionada à autorização do Ministério Público, a quem cabe a sua contínua fiscalização. A maioria das organizações brasileiras, criadas por empresas com o intuito de desenvolverem suas ações sociais são fundações, como é o caso da Fundação Bradesco, Roberto Marinho, O Boticário, Odebresch e Fundação Banco do Brasil. 8.4.6 As associações Associação é uma congregação de pessoas que possuem conhecimentos e serviços voltados a um mesmo ideal e movidos por um mesmo objetivo, seja a associação econômica ou não, com capital ou sem, mas jamais com o intuito lucrativo. As associações que possuem finalidades que vão além dos interesses diretos dos associados (caso de associação de moradores) podem ser chamadas de altruístas (associações comunitárias, beneficentes, ambientais, etc.). No Brasil, convencionou‑se chamar de ONG (organização não governamental) a esse tipo de associação, especialmente na década de 1970 e no início dos anos da década de 1980. 8.4.7 Qualificações das OTS: Título de Utilidade Pública e Certificado de Filantropia As associações, os seus gestores e também os profissionais envolvidos em sua dinâmica de funcionamento podem iniciar suas atividades práticas sem que sejam obrigados a buscar qualificações para a entidade. Neste sentido, apenas a caracterização jurídica da organização, expressada por seu número de CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, já é suficiente para a emissão de talonário de recibos, de notas fiscais (de prestação de serviços), busca de alvará de funcionamento, entre outras atividades administrativas. 168 Unidade III Por outro lado, a crescente busca de transparência e legitimidade social tem impelido as organizações a buscarem títulos complementares a sua caracterização jurídica e que expressem (documentalmente) sua representatividade e idoneidade. 8.4.8 O Título de Utilidade Pública Com o intuito de credenciar as entidades que atuavam no atendimento às demandas sociais, em 1935, o Presidente Getúlio Vargas instituiu a Lei nº 91 (18/8/1935), determinando as regras para queassociações e fundações passassem a utilizar o termo Título de Utilidade Pública. Naqueles termos, somente pessoas jurídicas, com finalidades altruísticas e com seus cargos diretivos não remunerados, poderiam solicitar tal titulação. A Lei 91 deixava claro em seu artigo 3º que as instituições qualificadas com o Título de Utilidade Pública Federal não receberiam, por efeito desta titulação, nenhum tipo de auxílio do Estado. Consta do Art. 3º que: nenhum favor do Estado decorrerá do Título de Utilidade Pública, salvo a garantia do uso exclusivo pela sociedade, associação ou fundação, de emblemas, flâmulas, bandeiras, devidamente registrados no Ministério da Justiça e da menção do título concedido. O Decreto 50.517, de 1961, destacou ainda que para efetivar o pedido, a instituição deverá comprovar idoneidade e três anos de funcionamento, devendo encaminhar o expediente ao Ministério da Justiça. Outra obrigação estabelecida às organizações com Título de Utilidade Pública é o de publicar semestralmente a demonstração da receita obtida e da despesa realizada no período. A Lei 6.639, de 8 de maio de 1979, estendeu a proibição de remuneração (anteriormente restrita aos integrantes da diretoria) também aos membros dos Conselhos Fiscal, Deliberativo e Consultivo. As associações e fundações que desejarem a obtenção do Título de Utilidade Pública devem encaminhar solicitação formal ao Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça. O expediente de solicitação deve estar acompanhado da seguinte documentação: ficha de cadastramento da entidade e requerimento; cópia autenticada do Estatuto Social (observando a existência de cláusula indicativa de inexistência de remuneração de seus dirigentes); documento comprobatório de que a instituição existe há, no mínimo, três anos (inclusive provando que neste período não houve remuneração de seus dirigentes); cartão do CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas; atestado de autoridade local (Prefeito, Juiz de Direito ou Delegado de Polícia), sobre o legítimo funcionamento da instituição nos três anos anteriores; cópia autenticada da Ata de Eleição e Posse do atual quadro de diretoria e conselhos; qualificação completa do atual quadro de diretoria e conselhos, com respectivos atestados de idoneidade moral, a ser assinado por autoridade; declaração da instituição requerente, se obrigando a publicar, anualmente, o demonstrativo de receitas e despesas realizadas no período anterior (quando esta receber recursos do Governo Federal); relatório das atividades desenvolvidas nos três anos anteriores, acompanhados dos demonstrativos contábeis daqueles exercícios. 169 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL Observação As fundações devem apresentar ainda: cópia autenticada da escritura pública de instituição da Fundação, cópia autenticada da aprovação do Estatuto Social (pela Curadoria de Fundações – Ministério Público) e cópia autenticada da aprovação dos demonstrativos financeiros dos últimos três anos (pela Curadoria de Fundações – Ministério Público). No caso da requerente ser uma APAE, então esta deverá enviar também uma cópia autenticada do Certificado de Registro, fornecido pela Federação Nacional das APAEs. Saiba mais Para saber mais sobre a obtenção do Título de Utilidade Pública, bem como ter acesso aos diversos modelos de documentos requeridos, acesse: <http:// www.mj.gov.br>. As instituições são obrigadas a apresentar (anualmente), ao Ministério da Justiça, até o dia 30 de abril, relatório de atividades do ano anterior, juntamente com os demonstrativos contábeis, sob pena de cassação do título. No âmbito dos municípios e Estados, são concedidos os Títulos de Utilidade Pública Municipal e Estadual, obedecendo a suas legislações específicas. 8.4.9 Qualificações de OTS: Título de OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público As OSCIPs gozam de alguns benefícios que as diferenciam de outras OTS, facilitando o desenvolvimento de parcerias com o poder público e com outras organizações privadas, com ou sem finalidades lucrativas. As OSCIPs podem estabelecer relações de cooperação com o poder público (municipal, estadual ou federal) por meio do Termo de Parceria (criado pela Lei 9.790/99 e regulamentado pelo Decreto n. 3.100, de 30 de junho de 1999), que é uma versão simplificada dos convênios. Por outro lado, exige‑se que sejam publicados em Diário Oficial os seguintes documentos: Extrato de Termo de Parceria (pelo poder público), Regulamento de Execução Financeira – procedimento para as compras (pela OSCIP) e Extrato da Execução Física e Financeira – relatório final (pela OSCIP). Também se exige o cumprimento da Lei das Licitações (Lei 8.666, de 21/6/1993). As OSCIPs são isentas do Imposto de Renda para Pessoas Jurídicas, mas não lhes é concedida isenção de alíquota patronal do INSS, como no caso das OTS qualificadas como filantrópicas (Entidade Beneficente de Assistência Social). 170 Unidade III A Lei 9.790/99 instituiu a possibilidade de intervenção do Ministério Público nos bens patrimoniais e financeiros dos dirigentes de OSCIPs que incorram em crimes de apropriação indevida ou falta de prestação de contas de recursos oriundos do poder público. 8.4.10 Procedimentos para a qualificação Para a qualificação como OSCIP, a OTS deverá encaminhar requerimento por escrito ao Ministério da Justiça, instruído com cópias autenticadas dos documentos: Ata de Criação, Eleição e Posse da Primeira Diretoria e Conselho Fiscal; Estatuto Social, devidamente registrado; Ata de eleição e posse da atual Diretoria e Conselho Fiscal; inscrição no CNPJ; balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício; declaração de isenção do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas; qualificação da atual Diretoria e Conselho Fiscal. De acordo com a lei, o Ministério da Justiça decidirá sobre a qualificação da OTS, no prazo de trinta dias (contados do recebimento do requerimento), sendo que nos próximos 15 dias haverá a publicação em Diário Oficial do processo de deferimento ou indeferimento da referida qualificação. Pode‑se concluir que a qualificação de OSCIP é muito importante e garante maior credibilidade às associações, fator que se traduz em maior facilidade de gestão, mas também em maiores responsabilidades. 8.5 Certificado de Entidade Beneficente da Assistência Social (CEBAS) A Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993 (Lei Orgânica da Assistência Social), no seu Capítulo III, detalha a organização das ações de assistência social no Brasil, deixando claro que o terceiro setor faz parte da rede de atendimento social brasileira. O Art. 6.º afirma que: [...] as ações na área de assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores da sociedade. Para que as OTS possam atuar de maneira legítima no âmbito da assistência social, se faz necessária sua prévia inscrição no Conselho Municipal de Assistência Social (de acordo com o Art. 9º da Lei 8.742, de 1993), sendo que esta inscrição é condição básica para o encaminhamento de solicitação de certificado de fins filantrópicos junto ao Conselho Nacional de Assistência Social. O Decreto 2.536, de 6 de abril de 1998, destaca que são consideradas entidades beneficentes de assistência social as pessoas jurídicas de direito privado, sem finalidades lucrativas, que atuem com o objetivo de: I. proteger a família, a maternidade, a infância, a adolescência e a velhice; II. amparar crianças e adolescentes carentes; 171 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL III. promover ações de prevenção, habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de deficiências; IV. promover, gratuitamente, assistência educacional ou de saúde; V. promover a integração ao mercado de trabalho. O CNAS expede o Certificadode Entidade Beneficente de Assistência Social (Certificado de Fins Filantrópicos), com validade de três anos, às organizações que demonstrarem, em expediente de requerimento: estar legalmente constituída funcionando há no mínimo três anos; estar previamente inscrita no Conselho Municipal de Assistência Social, ou no Conselho Estadual de Assistência Social; estar previamente registrada no CNAS; aplicar seus recursos exclusivamente em atividades no território nacional; dar a correta aplicação de seus recursos (aos fins previstos); aplicar anualmente, em atendimentos gratuitos, no mínimo 20% de sua receita bruta; não distribuir resultados financeiros nem remunerar seus dirigentes; seja declarada de utilidade pública federal. A entidade deverá apresentar juntamente com a documentação descrita: balanço patrimonial, demonstração de resultado do exercício, demonstração de mutação do patrimônio, demonstração das origens e aplicações de recursos e notas explicativas. É importante destacar, ao final desta aula, que embora burocratizadas pela necessidade de se documentar muito bem o processo de solicitação (junto aos órgãos competentes), as qualificações são mecanismos públicos amparados por ampla legislação, e referendados pela Constituição Federal. Esses procedimentos trazem maior transparência e legitimidade às organizações do terceiro setor que atuam no atendimento às demandas da sociedade. 8.6 Gestão de organizações do terceiro setor A história da sociedade, ao final do período do liberalismo econômico e nos desenhos keynesianos que se seguiram, apontam para uma convergência de métodos de gestão, tanto para empresas quanto para instituições sem finalidades lucrativas, pois da mesma forma precisam administrar recursos com o máximo de economia e eficiência, para que sejam suficientes ao alcance das metas estabelecidas. A competitividade entre as empresas sempre as impeliu a buscar elevados níveis de eficiência de gestão. Da mesma forma, o Estado tem trilhado caminhos para a maximização de níveis de eficácia, eficiência e efetividade e isso se expressa pela Lei de Responsabilidade Fiscal. No terceiro setor, um composto de diferentes motivos leva as suas organizações a buscar qualidade na sua administração, entre eles: o idealismo, a competitividade na busca de parcerias, a manutenção do quadro de usuários de seus projetos e a responsabilidade civil atribuída aos dirigentes. 172 Unidade III 8.6.1 Funções administrativas As funções administrativas descritas por Henry Fayol (1841‑1925) permanecem sendo seguidas pela moderna administração, sendo composta pelo planejamento, organização, execução e controle. Ao planejamento cabe o estabelecimento de objetivos, atividades e recursos necessários à execução das ações. Como principais técnicas, são utilizados o Plano de Trabalho, o Cronograma e o Gráfico de Gant. A organização é o estabelecimento de procedimentos para a execução de ações que levem às metas e objetivos estabelecidos no planejamento. A execução é a realização das atividades (na prática), devendo ser dividida em outras ações como direção, participação, comunicação e coordenação. O controle é o mecanismo que propicia a comparação entre o que está sendo executado e produzido com o que havia sido planejado anteriormente. 8.6.2 Instrumentos de gestão no terceiro setor Para que a gestão das organizações do terceiro setor seja efetivada com sucesso, faz se necessária a observância de alguns elementos comumente estudados no âmbito da administração, mas que devem instrumentalizar também outras áreas do conhecimento. O perfil da administração O gestor ou administrador de uma organização do terceiro setor deverá zelar sempre pela conduta profissional de suas tarefas, o que equivale a dizer que deverá reduzir ao máximo o improviso, pautando‑se na função planejamento, já descrita. O gestor deve sempre priorizar a atuação ética e de acordo com as legislações brasileiras, em especial a tributária, a previdenciária, a trabalhista e as específicas do terceiro setor. Também deverá potencializar a atuação dos associados para que a organização se fortaleça pela vontade de todos e não de pequenos grupos ou da diretoria, lembrando‑se de que à diretoria cabe a execução das decisões e vontade da assembleia geral de associados. Nesse sentido, Costa (1992, p. 18) destaca que: [...] o gerente é o centralizador das atividades e do relacionamento da entidade com os associados e vice‑versa e funciona como o ponto de equilíbrio entre a diretoria e os funcionários. Como se pode ver, faz o papel da ostra na luta entre o mar e o rochedo. Entre as características do gestor de organizações do terceiro setor, deve‑se destacar: ter ética e postura profissional; saber o que está fazendo e atualizar‑se sempre; evitar negociações ou fechamento de parcerias sozinho; prestar contas de suas ações e utilizações de recursos (independentemente do cargo que ocupa); agir sempre na legalidade. 173 TEORIAS PARA O SERVIÇO SOCIAL Livros‑ata Os livros de registro de deliberações dos grupos constituídos devem estar rigorosamente cuidados, isto é, as reuniões de diretoria, de conselho fiscal e de assembleias gerais devem ser registradas em livro‑ata específico (com paginação numerada e contínua) ou em folhas avulsas com texto digitado e impresso. É importantíssimo salientar que as decisões registradas em atas somente passam a ter validade efetiva após a lavratura da mesma no Livro A1 de Pessoas Jurídicas, no Cartório de Notas da cidade sede da OTS. Toda ata deve iniciar‑se com a descrição do motivo (pauta que constou da convocatória), local, data e horário (inclusive se foi realizada em segunda chamada, por falta de quórum no horário marcado). As atas devem ser redigidas de maneira clara e objetiva, sem omissões de falas importantes, mesmo que estas não sejam interessantes à atual gestão. Também não deve ser omitida, em hipótese alguma, a relação nominal dos presentes. Recomenda‑se que a ata de criação, aprovação do estatuto, bem como de eleição e posse da diretoria e conselhos seja assinada por todos os presentes, tendo posteriormente suas assinaturas reconhecidas em cartório. As demais atas podem ser assinadas apenas pelo Presidente e Secretário (ou cargos similares). É necessário o atendimento a algumas especificidades, como a contratação de assessoria de um advogado para que este acompanhe todo o procedimento de criação de uma OTS e de um contador para o acompanhamento administrativo. Certidões Negativas de Débito – CND Várias obrigações legais precisam ser observadas, a princípio, as OTS são obrigadas ao recolhimento de FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o que gera a necessidade de encaminhamento de documentos mensais à Caixa Econômica Federal (hoje, por meio do Programa de Conectividade Social), assim como da RAIS – Relação Anual de Informações Sociais. A correta gestão desse sistema permitirá a emissão (pela internet – em qualquer local do mundo) do CRF – Certidão de Regularidade do FGTS. Saiba mais Para mais detalhes e consultas, acesse: <http://www.caixa.gov.br>. Junto ao INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social, havendo pagamento das contribuições previdenciárias devidas e atualização documental (por exemplo, entrega de cópia de ata de posse da nova diretoria, quando o mandato anterior vencer), poderá ser expedido (também pela internet) a CND – Certidão Negativa de Débitos. 174 Unidade III Saiba mais Para mais detalhes e consultas, acesse: <http://www.inss.gov.br>. Lembrete O Ministério da Fazenda, por meio da Receita Federal, é quem expedirá a Certidão Conjunta de Inexistência de Débitos da União, condicionada à correta condução documental junto àquele ministério, bem como à Declaração Anual de Imposto de Renda. Saiba mais Para mais detalhes e consultas a respeito da expedição da Certidão Conjunta de Inexistência de Débitos da União, acesse: <http://www.receita. fazenda.gov.br>. Nos âmbitos estadual e municipal,
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