Buscar

TrabalhosSuplementos_Proteção Incêndios TEXTO RESENHA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Perguntas técnicas ainda sem respostas que envolvem o incêndio no CT do Flamengo. 
Artigo publicado em 11/02/2019 
Márcio Jorge Gomes Vicente é Engenheiro de Segurança do Trabalho formado pela Universidade 
Federal Fluminense, Professor Universitário e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Engenharia 
de Segurança. A pedido do blog, ele escreveu o artigo abaixo após o incêndio que matou dez 
adolescentes que eram jogadores das divisões de base do Flamengo, no Centro de Treinamentos do 
clube, no Rio de Janeiro. 
Muito se tem comentado sobre o lamentável ocorrido nas instalações das divisões de base do 
Flamengo que vitimou dez jovens promissores do clube, causando uma consternação geral. 
O foco tem sido basicamente se o Clube possui ou não alvarás emitidos pela Prefeitura do Rio, 
certificação do Corpo de Bombeiros e etc, mas outras abordagens, de natureza mais técnica e que 
podem nos levar a causa raiz deste ocorrido, devem merecer maior avaliação. 
Inicialmente é fundamental destacar que este acidente, com ou sem alvará e demais documentos, não 
ocorreria se medidas preventivas (e até mesmo preditivas) tivessem sido tomadas por parte de todos 
os envolvidos. Somente uma perícia técnica acurada e totalmente imparcial poderá garantir as 
respostas quanto à "causa raiz" deste acidente. Vejamos: 
1. O Rio de Janeiro passou, durante a semana do acidente, por alterações climáticas com ventos fortes 
(considerados tornados e não tufões como equivocadamente vem sendo informado) que geraram 
variações de energia em todo o município, especialmente na região do Recreio e adjacências. Os 
aparelhos de ar refrigerado possuem termostato, que é um dispositivo de equilíbrio do equipamento, 
e sua variação poderá gerar, sem dúvida alguma, um curto circuito em todo o sistema, mas somente 
uma perícia poderá avaliar este cenário. A concessionária se pronunciou negando tais variações de 
energia, mas não apresentou um relatório técnico da região para sustentar esta constatação. 
2. O sistema de contêineres, como os módulos utilizado pelo clube para os referidos alojamentos, é 
bem comum hoje em dia, não apenas para este fim. Sua utilização vem ganhando espaço pela 
facilidade de instalação e manutenção. Ocorre que para este objetivo, assemelhado ao uso residencial, 
são utilizadas placas duplas de aço, com preenchimento de poliuretano em seu interior, incluindo 
tratamento anticorrosivo e antichamas. Reitero que apenas uma perícia em todo o ambiente poderá 
nos responder se a empresa fornecedora destes equipamentos promoveu estes recursos nos 
contêineres. Estas informações serão fundamentais e decisivas quanto ao fator da propagação 
do incêndio. 
3. Até o momento o tema "Norma Regulamentadora", Portaria 3.214 de 08 de junho de 1978, não foi 
abordado. Este é mais um tema fundamental, ou seja: onde estão os profissionais de Engenharia de 
Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT do Clube para se pronunciarem sobre os programas 
preventivos, tais como: Análise Preliminar de Riscos (APR), ordens de serviços, planos de abandono, 
rotas de fuga, treinamentos e simulados específicos? O local estava sinalizado? Pela dimensão dos 
alojamentos e quantidade de "população flutuante" deveria ser dotado de saídas de emergências sem 
bloqueio de passagens. 
4. Ainda sobre o SESMT, de acordo com a Norma Regulamentadora NR 4, se o clube tiver mais de mil 
funcionários sobre o regime de CLT, deverá ser constituído de: um engenheiro de segurança do 
trabalho; um médico do trabalho; um técnico em segurança do trabalho e um auxiliar de enfermagem 
do trabalho. Caso tenha menos que este quantitativo, deverá ter um técnico em segurança do trabalho. 
Onde estão estes profissionais e quais suas atividades diárias na empresa? Suas atribuições foram 
efetivamente cumpridas conforme o item anterior? 
 
5. Outra questão que é "cerne" deste tema, mas que não vem sendo tratada, refere-se à Brigada de 
Emergência. O clube, por sua área construída e população ativa, deverá ter em todos os turnos uma 
brigada de plantão. Este brigadistas são responsáveis por verificarem (o tempo todo) possíveis 
intercorrências e não conformidades de todas as naturezas. Estes são responsáveis por verificarem se 
os extintores estão em locais apropriados, em cumprimento à Norma Regulamentadora NR 23, que 
trata de prevenção e combate a incêndios e explosões, além da NR 26, que trata de sinalizações de 
segurança. Onde estava a brigada no momento do ocorrido? Os simulados de abandono foram 
realizados corretamente? Sinalizações bem evidenciadas? Precisamos destas explicações e a perícia 
técnica poderá dar tais respostas. 
6. Outro tema tão fundamental quanto aos anteriores refere-se à Comissão Interna de Prevenção de 
Acidentes – CIPA em conformidade com a Norma Regulamentadora NR 5. O Clube tem a CIPA ativa? 
Foram realizadas reuniões mensais abordando os principais riscos? Como estão suas atas? Após o 
acidente a CIPA em vigor se reuniu para analisar o evento e solicitar a todos os envolvidos as medidas 
imediatas (não relacionadas a alvarás e demais documentos e sim as de natureza corretiva)? Bem, 
estamos diante de mais um trágico acidente com vítimas fatais, numa semana em que ainda choramos 
por Brumadinho, e que não tivemos nem tempo de sofrer pelas vítimas na Cidade do Rio de Janeiro 
decorrentes do descaso público, do mesmo município que recebeu alguns atletas amadores do 
Flamengo no Hospital Lourenço Jorge e que até hoje não apresentou as causas reais do incêndio que 
vitimou alguns pacientes há alguns meses. O Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, 
instituição na qual tive a honra de atuar como professor da Escola de Formação de Oficiais, em 
momento algum considerou que a estrutura dos alojamentos eram inapropriadas, apresentando 
algumas solicitações de ajustes (inacreditável um processo estar tramitando desde 2010 sem solução 
final), fato que o clube precisa responder imediatamente, se foram ou não cumpridas. 
Da mesma forma, a Light – concessionária de energia para a cidade do Rio de Janeiro, necessita 
apresentar, tecnicamente, suas análises sobre as variações de energia local, pois, como sabemos, este 
evento pode ser o real causador de um curto circuito no sistema de ar refrigerado. 
Por sua vez, a empresa fornecedora dos contêineres necessita apresentar seus certificados de 
conformidades e segurança, devidamente em dia, e dentro de todas as especificações técnicas 
pertinentes sobre este tema. E o clube precisa apresentar os documentos comprobatórios referentes 
aos itens de segurança que acima apresentamos. 
Reafirmo que, neste momento, o mais importante será a realização de uma Perícia Técnica o quanto 
antes, devendo a mesma ser solicitada pelo Ministério Público para garantir a integridade de todos os 
itens no pós acidente, com vistas a respostas bem objetivas, especialmente: levar para um laboratório 
amostras do poliuretano dos contêineres para verificar se estavam em conformidade com as 
especificações de segurança; verificar o estado final da estrutura de aço; avaliar o sistema de 
fornecimento da concessionária quanto à possibilidade de curto pela possível variação de energia; 
avaliar as constituições do SESMT, CIPA e Brigada do Clube, dentre outras informações 
complementares, para responder aos diversos quesitos técnicos, e elucidar tais ocorrências 
lamentáveis.

Outros materiais