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INCLUSÃO-ESCOLAR

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1 
 
INCLUSÃO ESCOLAR: 
COMO SAIR DO SONHO PARA A REALIDADE? 
 
 
Andréa de Carvalho Tikhomiroff 
Curso de Pós Graduação em Educação Inclusiva 
Pólo de Pedreira, SP 
Orientador: Prof. Mario Nishikawa 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre a situação atual da inclusão escolar, analisando o 
que precisa ser mudado na educação, de modo geral, a fim de torná-la realidade em nosso 
país. Partiu-se de um envolvimento próprio com a questão, onde uma série de fatores 
propiciaram um incômodo crescente com situações recorrentes de exclusão e uma 
consequente tomada de consciência acerca do assunto. Utilizou-se, para tanto, pesquisa 
bibliográfica e discussões realizadas em grupos de discussão virtuais. Como resultado, é 
possível perceber que, apesar de muita coisa ainda precisar ser alterada na postura dos 
educadores e das escolas, a inclusão escolar é algo viável. 
 
Palavras- chave: Educação Inclusiva, inclusão, deficiência 
 
 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
O objetivo do presente artigo é levar o leitor à reflexão acerca de um tema ainda tão 
contraditório, a Inclusão Escolar, a partir da apresentação dos resultados obtidos em estudos 
realizados acerca deste tema. Creio, entretanto, que antes de começar a discorrer sobre este, 
devo me apresentar e explicar como me envolvi com a questão inclusiva. 
Formei-me em Pedagogia no final de 2010, com quase 40 anos. Escolhi Pedagogia por 
acreditar na inclusão, como diz um grande amigo, ampla, total e irrestrita. Abracei esta causa 
há alguns anos, ainda como leiga, mas sentia que precisava poder atuar mais seriamente, 
precisava ser ouvida de fato, precisava de uma formação. Como sempre gostei (e atuei 
informalmente) na Educação, não tinha como escolher outra área. 
“Inclusão? Mas o que você tem a ver com isso?” Essa é uma pergunta que algumas 
pessoas me fazem. Afinal, não tenho nenhuma pessoa com deficiência na família, até pouco 
tempo atrás não tinha formação em nenhuma área que pudesse ter a ver com isso, além do 
quê, quem me conhece sabe que sempre gostei de informática, mexo com computadores 
desde criança. E como essa mudança de foco aconteceu? 
Não é fácil explicar, mas às vezes penso que tem alguma coisa até a ver com genética, 
uma vez que minha mãe (já falecida) se formou em professora pré-primária visando uma 
especialização em educação especial. Anos depois, o grupo espiritualista do qual nós 
fazíamos parte, iniciou um trabalho com crianças e jovens com Down. Não é difícil imaginar 
que no dia em que abriram as inscrições, minha mãe era a primeira da fila. Eu a segui, sem 
ainda saber muito bem o porquê, mas foi algo que me marcou para sempre, a ponto de jamais 
conseguir me afastar dessas pessoas e até mesmo manter contato com algumas daquelas 
crianças, que hoje são jovens ou adultos. 
Desde então, eu estava sempre envolvida com o assunto, mas de forma ainda contida. 
Na verdade era muito estranho, porque o assunto caía em minhas mãos de forma contínua. Eu 
ligava a tv, entrava num site, abria uma revista, e dava de cara com alguma matéria. Saía e 
encontrava alguma pessoa com Down. Uma amiga chegou a brincar comigo dizendo que não 
era possível, que eu devia ter um imã para Down! Tudo isso foi fazendo com que eu sentisse 
que devia fazer algo, mas não sabia o quê. 
A partir de 2005, com o crescimento das redes sociais, minha aproximação com a 
questão inclusiva se acentuou. Passei a fazer parte de algumas comunidades sobre síndrome 
de Down, até reencontrei algumas das crianças que havia trabalhado anteriormente, só era 
difícil me apresentar. Afinal, se não era mãe, tia, irmã, nem fono, TO, médica, professora... o 
3 
 
que estava fazendo ali? Fazer as pessoas entenderem que era por puro amor foi complicado no 
começo, mas aos poucos fui rompendo as barreiras, indo a encontros reais dos grupos, 
tornando-me “madrinha virtual” de algumas crianças. 
No começo, então, minha atuação era à distância. Eu tentava ajudar em alguns tópicos 
postados, levando uma palavra amiga quando havia alguma criança doente, ou passando 
experiências vivenciadas com minhas sobrinhas, que não têm Down, mas eram crianças, ou 
simplesmente dando minha opinião. Mas foi participando destes grupos que eu comecei a me 
inteirar, a me interessar mais pelo tema "inclusão" propriamente dito, em especial a partir do 
grupo Síndrome de Down, do Yahoo, onde além dos pais e familiares participam também 
profissionais de várias áreas. Então eu passei a ler mais a respeito, a refletir, a perceber o 
quanto a gente age errado, muitas vezes sem perceber e, principalmente, comecei a tomar 
consciência de quanta coisa tem que ser feita ainda para que as pessoas com deficiência (e aí 
eu falo de qualquer deficiência) tenham direito a uma vida digna. 
Como era leiga no assunto, percebia que em diversos momentos minha opinião não era 
levada tão a sério, e senti que precisava de uma formação. Foi neste momento que decidi 
ingressar na faculdade. Entretanto, apesar de ter me formado ainda não atuo, diretamente, na 
área. Ainda assim, já fiz algumas coisas em prol das pessoas com deficiência, como ajudar na 
organização de um fórum sobre o tema na região onde moro, ou na elaboração de uma cartilha 
para a hora da notícia, quando os pais descobrem que o filho que nasceu ou está sendo gerado 
tem síndrome de Down. Pretendo fazer muito mais, ainda. Foi para isso que escolhi me pós 
graduar em Educação Inclusiva. E, também por isso, escolhi o tema deste artigo (Inclusão 
Escolar – como sair do sonho para a realidade?) para o meu trabalho de conclusão de curso. 
O estudo partiu de diversas discussões em grupos da internet, em especial o já citado 
“Síndrome de Down”, do Yahoo, pela diversidade de pessoas que dele participam. Nestas 
discussões tornou-se bastante claro que apesar de a inclusão escolar ser defendida por muitos, 
e apesar de ter todo o amparo legal, ainda é algo muito distante da realidade de inúmeras 
crianças, jovens e adultos com deficiência. 
A partir destas discussões, buscando a base teórica em autores sérios e renomados da 
área, recorreu-se uma pesquisa bibliográfica, além de entrevistas, de forma a obter relatos 
reais de pessoas que vivenciam a árdua batalha da inclusão escolar em seu cotidiano, o estudo 
para o qual apresento agora os resultados foi desenvolvido. 
 
 
4 
 
INCLUSÃO E EDUCAÇÃO INCLUSIVA 
 
O que vem a ser uma Educação Inclusiva? Normalmente se ouve falar em inclusão 
quando há alguma pessoa com deficiência inserida em algum contexto. Mas a Educação 
Inclusiva não é uma Educação para inserir alunos com deficiência nas escolas, é uma 
Educação para fazer valer o preceito constitucional que diz em seu artigo 205: “A educação, 
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a 
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988, p.34). 
Direito de TODOS. Mas quem são estes “todos”? Pobres e ricos? Brancos, negros, 
orientais, índios? Hetero, homo, bi ou transexuais? Pessoas de qualquer canto do mundo, de 
qualquer religião, com qualquer aparência, tendo ou não alguma deficiência? TODOS sem 
exceção ou todos que se enquadrem no padrão e, preferencialmente, que possam ser 
considerados “aptos a aprender”? A resposta, é óbvio, deveria ser a primeira opção, afinal é o 
que determina a Constituição Federal de 1988 e, diga-se de passagem, é a opção mais 
coerente, humana, racional. Mas, infelizmente, a realidade é bem outra. 
São inúmeros os exemplos encontrados em nosso cotidiano, de pais que tentam 
matricular seus filhos e encontram as portas das escolas fechadas sob os mais diversos 
pretextos. Desde a falta de preparo (seja de professores, seja da estrutura física da escola que 
não é acessível), a uma limitação do número de “alunos de inclusão” à escola, passandopelo 
preconceito velado ou, até mesmo, direto. Q uando as portas se abrem, ao contrário de uma 
inclusão de fato, muitas vezes temos apenas um aluno dentro de uma escola, sem ser 
desafiado. Colocado à margem, enquanto os professores se ocupam daqueles que “valem a 
pena”. Basta uma pesquisa simples em qualquer grupo ou comunidade voltada para a inclusão 
para repararmos que esta ainda é sonho em muitos lugares. 
Em matéria divulgada no site Bengala Legal (Vasconcelos, 2011) temos o depoimento 
de Narjara Cristina Cardoso Pessoa, mãe de Iago, sete anos, autista: 
Aos quatro anos, matriculado no jardim 1, em escola da rede privada, Iago 
foi vítima de maus tratos pela professora que perdia a paciência quando ele 
não a obedecia. O que era considerado ‘desobediência’, na verdade, se trata 
de uma característica do autismo: a dificuldade em atender comandos. 
Narjara lembra que era comum ele voltar sujo de terra, porque era deixado 
no jardim enquanto outras crianças assistiam à aula. O menino chegou uma 
vez com o rosto arranhado na altura das orelhas, outra com hematomas nos 
braços e até picado por formigas. “Eu perguntava a ‘tia’ o que estava 
acontecendo e ela dizia que tinha sido brincadeira de criança. Frisava que 
meu filho era diferente dos outros. Não sabia o que era autismo e o tratava 
assim”, lembra Narjara. 
5 
 
 
Conforme o depoimento citado na matéria de Vasconcelos (2011), 
 
Foi uma coleguinha de classe quem revelou que a professora o forçava a 
sentar, puxava as orelhas, o castigava. “Foi um choque. Não levei o caso à 
justiça porque não queria expô-lo mais”. O abandono e a negligência já na 
primeira experiência de interação social geraram um bloqueio para 
atividades de desenhar e escrever. 
Na busca por outra instituição, enfrentou uma seqüência de “nãos”. Em uma 
escola, a lista de material chegou a ser tirada das mãos da mãe, após 
mencionar a necessidade do filho. Há três anos, Iago está matriculado em 
escola, em Macaíba, para onde a família precisou se mudar, e tem aulas com 
horário reduzido e somente três vezes na semana, na turma de 2º ano do 
ensino fundamental. Com acompanhamento psicológico paralelo, a interação 
e comunicação de Iago, que se mostrou bem receptivo à câmera fotográfica, 
apresentam melhoras. 
 
O que vemos diariamente nas escolas é uma seleção que vai do sutil ao escancarado. 
Apesar de todos admitirem que as salas de aula são heterogêneas, que os alunos são diferentes 
desde suas características mais básicas, ainda se busca a homogeneidade, o padrão, como 
afirma Marta Wolak Grosbaum (2001, p. 78): 
Em geral, as escolas optam por dois caminhos: um deles é tentar formar 
classes homogêneas em termos de conhecimentos, esquecendo-se de que 
esse procedimento tem forte impacto no autoconceito do aluno. Sempre se 
sabe em que "classe" se está: se na dos fortes, na dos médios ou na dos 
fracos. Se o aluno estiver na sala dos "bons", ele vai se achar o máximo e 
fazer de tudo para continuar assim. Mas se estiver na dos "fracos" e, pior, se 
tiver sido remanejado, ou seja, sistematicamente despejado de uma classe 
para outra, sucessivas vezes (como é frequente acontecer), o resultado é só 
um: descrença na própria competência para aprender, desânimo, nenhuma 
vontade de estudar. O autoconceito fica destroçado. Além disso, formar 
classes homogêneas implica desconsideração pelo fator idade, que determina 
grande parte dos interesses e motivações dos alunos. Colocar alunos mais 
velhos com mais novos cria, geralmente, dificuldade para os dois lados. 
Resumindo: organizar classes homogêneas é impossível, porque as crianças 
ou os jovens são sempre diferentes. 
 
A esse respeito, lembro-me de um caso que nada tem a ver com deficiência, 
vivenciado por conhecidos meus anos atrás, quando tentaram matricular a filha adotiva em 
uma escola particular de São Paulo e foram surpreendidos pela pergunta: “mas ela não é de 
cor, é?” Eles viraram as costas e saíram sem nem responder. A filha, no caso, era branca, mas 
não era aquele o ambiente que queriam para ela. Por que seria preterida se fosse negra? Outra 
amiga, ao reclamar do aumento abusivo da mensalidade ouviu que estavam “selecionando por 
poder aquisitivo”! Eu mesma ouvi de uma coordenadora que seria “persona non grata” na 
escola porque ousei questionar uma nota injusta. E ainda hoje encontramos situações 
semelhantes, ainda que mais veladas. No caso dos alunos com deficiência a coisa se torna 
6 
 
ainda mais séria, porque as desculpas para não aceitar a matrícula são as mais diversificadas: 
falta de preparo, de estrutura, de aceitação dos outros pais. 
Então, a Educação Inclusiva não defende apenas o direito da criança com deficiência, 
mas de TODAS as crianças, pois TODAS, sem exceção de nenhuma espécie, têm direito a um 
ensino de qualidade, ao respeito, à dignidade, à felicidade, a se desenvolver plenamente para 
se tornar uma pessoa autônoma, independente. Educação Inclusiva, portanto, não deveria 
sequer existir. Deveria ser, apenas, Educação. Um dia chegaremos lá, mas o caminho a ser 
percorrido é longo. No que se refere às crianças com deficiência, maior ainda, e por isso que a 
luta inclusiva se confunde com a luta pelos direitos da pessoa com deficiência. 
O aluno com deficiência desafia o professor, pois suas características são visíveis, não 
há como escondê-las, disfarçá-las. E, como normalmente se parte do pressuposto de que os 
alunos da mesma série têm o mesmo ritmo, aprendem do mesmo modo (alguém consegue 
MESMO acreditar nisso?), ter alguém diferente naquele espaço tumultua. Não passa 
despercebido, não tem como. Mas quando o professor enxerga o aluno, qualquer um deles, em 
sua individualidade, em seu ritmo próprio, sua maneira particular de aprender, todos saem 
ganhando, alunos e professor, como afirma Celina Camargo Bartalotti (2003): 
E quem ganha com a inclusão? Ganham todos. Ganham as crianças com 
deficiência, que têm a oportunidade de usufruir de um recurso de sua 
comunidade, de vivenciar a riqueza do espaço escolar, de conviver com 
parceiros que lhes oferecem modelos de ação e aprendizado impensáveis em 
uma educação segregada. (se for citação, formatar conforme mencionado 
acima) 
Ganham também as outras crianças, que aprendem a conviver com a 
diversidade, aprendem a respeitar e a conviver com a diferença. Serão, 
certamente, adultos muito melhores, muito mais flexíveis. 
Ganham os educadores, que enriquecem sua formação e sua prática, pelo 
crescimento que o desafio de educar a todos lhes proporciona. 
Ganham as famílias, que passam a ver seu filho como um cidadão que tem 
direito de partilhar dos recursos de sua comunidade. 
Ganha, em última instância, a comunidade como um todo, que se torna um 
espaço mais democrático, que entende que todos os seus membros são 
igualmente dignos. 
 
Para citar um exemplo rápido, meu amigo Fábio Adiron, fazendo palestra em uma 
escola no ano de 2008, ouviu o seguinte relato de uma professora: disse que era professora de 
matemática, e que na 8ª série recebeu um aluno com síndrome de Down. Sentiu-se perdida, 
afinal sempre ouviu dizer que pessoas com Down não têm raciocínio abstrato, então como ela 
poderia ensiná-lo? No entanto, ao invés de entregar os pontos, resolveu tentar. Continuou 
dando suas aulas normalmente, passava matéria, exercícios, e enquanto a sala trabalhava, 
dedicava-se a explicar de outra forma àquele aluno em especial. Até que um dia, outra aluna, 
7 
 
que não possuía nenhuma deficiência, disse à professora que adorava quando ela explicava 
para aquele aluno, porque era naquele momento que ELA, aluna, entendia a matéria. 
Percebem o que aconteceu ali? Não fosse a presença daquele aluno, talvez a professora nunca 
tivesse percebido que outros alunos precisavam de atenção diferenciada, ou que ela buscasse 
explicar de maneira variada. Talvez aquela aluna fosse mais uma entre as muitas “com 
problemasem matemática”, que passam a vida detestando a disciplina por não entendê-la. 
É isso que a Educação Inclusiva busca. Que se ofereça condições de aprendizagem 
para todos os alunos, que todos sejam desafiados, estimulados, levados em consideração. 
Entretanto, quando se fala em condições de aprendizagem para todos os alunos temos, muitas 
vezes, um “todos” que na verdade se refere a “todos aqueles aptos a aprender”, como 
exemplificado na matéria do Bengala Legal (Vasconcelos, 2011), citada acima. Surge, então, 
a questão: como determinar quem é ou não apto? Através de provas, notas, reprovações, que 
são métodos sabidamente excludentes, seletivos? No caso de haver um aluno com deficiência 
na sala, ele será tratado como os demais ou como “café-com-leite”, por não ter condições de 
“acompanhar”? Volta-se aí à mesma questão anterior: como determinar quem pode 
acompanhar o quê? 
Inclusão não é favor, não é uma boa ação que deve ser feita pelos coitadinhos, é lei! 
Mas apesar de termos hoje diversas leis que garantem o acesso de todos às escolas regulares, 
sabemos também que muitas escolas não as cumprem ou, quando muito, aceitam os alunos 
com deficiência sem, no entanto, realmente se preocupar em ensiná-los, apenas para mostrar 
que as estão cumprindo. Como nos diz Mantoan (2007, p. 23): 
Um dos argumentos sobre a impossibilidade prática da inclusão total aponta 
os casos de alunos com deficiências severas, múltiplas, notadamente a 
deficiência mental, os casos de autismo. 
A Constituição, contudo, garante a educação para todos e isso significa que é 
para todos mesmo e, para atingir o pleno desenvolvimento humano e o 
preparo para a cidadania, entende-se que essa educação não pode realizar-se 
em ambientes segregados. 
 
Claro que não se pode generalizar, há diversas escolas que realmente abraçaram a 
causa da inclusão, e temos também pais que realmente batalham pelos direitos de seus filhos, 
sem se contentar com “migalhas”. Não fosse assim não assistiríamos a tantas vitórias obtidas 
por pessoas com deficiência, seja autismo, Down, paralisia cerebral, que conseguem, hoje, 
concluir faculdade e trabalhar nas áreas que escolheram. Apenas para fins de exemplo, temos 
Daniel Jansen, autista, que concluiu seu mestrado em Zoologia no ano de 2007 na 
Universidade de Campinas (Campinas, 2008). Em 2008 tivemos a Flavia Cristiane Fuga e 
8 
 
Silva, que apesar de sua paralisia cerebral obteve a carteira da OAB que tantos advogados 
sem deficiência tanto sonham em obter, como foi publicado na matéria do Portal G1 (2008). 
Temos também o João Vitor Mancini Silvério, que se formou em 2009 em Educação Física, 
tornando-se o primeiro brasileiro com síndrome de Down a ter curso superior, como destacou 
o Jornal O Estado de São Paulo, em seu artigo online (2009). À época da matéria, já cursava 
licenciatura em Educação Física (concluída em 2011) e pensava no mestrado e no doutorado. 
 Já disse e repito: não defendo uma escola que apenas aceite e ensine alunos com 
deficiência, mas que aceite e ensine todo e qualquer aluno, que entenda que um ritmo 
diferente não é sinal de incapacidade. Mas a inclusão é uma batalha recente. Até meados do 
século XX a escola existia apenas para a classe dominante e, muitas vezes, apenas para os 
meninos. No caso de uma criança com deficiência era ainda mais grave, porque causava 
vergonha à família, que preferia escondê-la, às vezes até internando em instituições, como 
retratado no filme “Rain Man”. Como nos dizem Ana Maria Farias da Silva e Ivonete T. S. 
Buss Heidemann (2002, p. 82), citando Alves (2007) e Pessoti (1984): 
 
Portanto, agora a ética cristã reprime a tendência a livrar-se do deficiente 
através do assassinato ou da exposição, como confortavelmente se procedia 
Ana Antiguidade. Os deficientes passam a ser acolhidos em conventos e;ou 
igrejas sob a ambivalência castigo versus caridade. Merecem o asilo, cujas 
paredes convenientemente isolam e escondem o incômodo ou inútil. 
 
Apenas na segunda metade do século passado começaram a surgir as primeiras escolas 
para atender estas crianças, e a partir da década de 70 começou-se a falar em integração, ou 
seja, crianças que se preparassem (ou se normalizassem) poderiam frequentar as escolas 
regulares. A inclusão propriamente dita começou a surgir no final da década de 80, 
defendendo que não é a criança que deve se preparar para ser aceita na escola, é a escola 
quem deve se preparar para atendê-la e, portanto, todas deveriam estudar em escolas 
regulares. Peter Mittler (2003 apud MARTINS, 2006) afirma que, enquanto na perspectiva da 
integração não há pressuposição de mudança da escola e, consequentemente do ensino, diante 
da inclusão esta estabelece que a mudança é necessária, a partir da reformulação dos 
currículos, das formas de avaliar, da formação dos professores e de uma política educacional 
mais democrática. 
Desde então, diversos documentos surgiram, ratificando o conceito de inclusão: 
Constituição Federal (1988), Declaração de Salamanca (1994), LDB (1996), Convenção de 
Guatemala (1999), Declaração dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU (ratificada 
pelo Brasil em 2008, com peso de Constituição Federal). 
9 
 
Os movimentos pela inclusão, entretanto, esbarram muitas vezes em “desculpas” para 
não incluir, dentre as quais se destaca a inclusão responsável, ou seja, “não é que eu não 
aceite a inclusão, mas ela deve ser feita com responsabilidade para evitar problemas”, 
transformando aqueles que defendem a inclusão ampla, total e irrestrita em irresponsáveis. 
Inclusão responsável. Como diz Fábio Adiron (2008) em seu texto “Criando um 
irresponsável”: 
Irresponsabilidade civil é a das pessoas que insistem em não cumprir as leis 
do país. Pessoas que se perpetuam causando prejuízo a milhares de outras 
pessoas que não são alfabetizadas (em nome de uma suposição de que não 
tem capacidade para isso), que não são qualificadas para o trabalho e não 
terão como se sustentar, que não são preparadas para a autonomia e onerarão 
seus familiares ou o estado, ou ambos. Pessoas que deveriam ser 
responsabilizadas civilmente e pagar todos os danos que causam às pessoas 
que excluem e ressarcir o estado pelos danos futuros. 
Irresponsabilidade penal dos pais por cometerem o crime de deixar seus 
filhos sem escolaridade regular e comum é crime de abandono intelectual 
(Artigo 246 do Código Penal). 
 
Conforme o autor (2008), 
 
Irresponsabilidade penal das escolas (Lei 7.853/89), que recusem, 
suspendam, adiem, cancelem a inscrição de aluno....por motivos derivados 
da deficiência que tem. Se todos os pais de pessoas com deficiência 
estivessem realmente lutassem pelo futuro dos seus filhos, muitos diretores 
de escola estariam respondendo por processos criminais e, quiçá, na cadeia(o 
crime é punível com reclusão de 1 a 4 anos). 
Eu prefiro manter a minha "irresponsabilidade" de levar meu filho todos os 
dias para a escola "irresponsável" que o educa, onde ele já foi alfabetizado, 
está aprendendo os mesmos conteúdos que os colegas (afinal, é tão gente 
quanto as outras crianças), tem os mesmos direitos e os deveres 
"irresponsáveis" de todas as pessoas.” 
 
Alguém já parou para pensar quais os argumentos em que ela se pauta? Mais do que 
isso, já parou para pensar na validade destes argumentos? Podemos destacar aqui quatro 
pontos fundamentais. O primeiro diz que a criança pode ser incluída, desde que esteja 
preparada para isso e não atrapalhe os demais, ou seja, ao invés de defenderem a inclusão 
defendem um retorno ao conceito de integração. Como nos diz Mantoan (2007, p.11): 
 
A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em 
modalidades de ensino, tipos de serviços, grades curriculares, burocracia. 
Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propõe a 
inclusão, é uma saída para que ela possa fluir, novamente, espalhando sua 
ação formadora por todosos que dela participam. 
A inclusão, portanto, implica em mudança desse atual paradigma 
educacional para que se encaixe no mapa da educação escolar que estamos 
retraçando. 
 
10 
 
O segundo ponto afirma que o professor deve estar capacitado para isso, mas o 
governo não oferece esta capacitação. No entanto é sabido que o professor deve ser 
responsável por sua formação continuada, buscando manter-se atualizado através de livros, 
revistas, cursos, simpósios, etc., nem sempre oferecidos pelo governo, mas que estão ao 
alcance de todos. Apenas como exemplo, temos há mais de dois anos uma publicação mensal 
chamada “Ciranda da Inclusão”, revista séria, cheia de ideias para os professores, editada pela 
Ciranda Cultural, editora que conta ainda com inúmeros títulos sempre voltados à inclusão, 
um mais interessante que o outro. Segundo Libâneo (2004, p. 207), 
 
O termo formação continuada vem acompanhado de outro, a formação 
inicial. A formação inicial refere-se ao ensino de conhecimentos teóricos e 
práticos destinados à formação profissional, completados por estágios. A 
formação continuada é o prolongamento da formação inicial, visando o 
perfeiçoamento profissional teórico e prático no próprio contexto de trabalho 
e o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, para além do 
exercício profissional.” 
 
Em terceiro lugar, afirma-se que as escolas devem estar preparadas, o que muitas 
vezes acarreta custos e adaptações (muitas vezes consideradas supérfluas, diga-se de 
passagem). Entretanto, se não é possível termos uma escola “ideal”, totalmente adaptada, 
deve-se buscar minimizar as barreiras de forma a atender aos alunos. Há várias maneiras de 
fazer isso, muitas delas a custos baixíssimos. Basta que haja boa vontade e criatividade. Basta 
nos informarmos a respeito das chamadas “terapias assistivas” para percebermos que muito 
pode ser feito sem precisar estourar o orçamento. As escolas têm, à disposição e de forma 
gratuita, o acesso ao “Manual de Acessibilidade Especial para Escolas: o direito à escola 
acessível” no site do Portal Nacional de Tecnologia Assistiva (Dischinger, 2009). 
Por fim, afirma-se que a LDB diz em seu texto que os alunos devem ser incluídos 
preferencialmente na rede regular de ensino, entretanto no artigo 4°, inciso III temos o 
seguinte: “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades 
especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” (Brasil, 2006). Ou seja, refere-se ao 
atendimento especializado: fono, TO, fisioterapia, etc., e não ao ensino de português, 
matemática... Este atendimento especializado deve ser feito no contraturno, como 
complemento à educação regular, como suporte aos alunos que precisam deste suporte. 
Nenhuma das justificativas, portanto, pode ser aceita como barreira à inclusão. 
Outro ponto importante é o fato de que o ser humano, e a escola reflete isso, 
acostumou-se a valorizar as falhas ao invés das conquistas, o déficit em prejuízo das 
competências. Em uma reunião de pais é comum ouvirmos queixa do aluno que não faz as 
11 
 
tarefas, não obedece, não vai bem em determinada disciplina, e uma infinidade de “nãos”. 
Raro é ouvir comentários positivos sobre os alunos. Se o aluno tem deficiência, a situação é 
ainda pior, pois tudo é culpa da deficiência, como se o aluno não fosse um indivíduo como 
qualquer outro. Tomemos por exemplo uma situação corriqueira, como uma criança que 
morde a outra na Educação Infantil. Normalmente é algo encarado como algo do dia-a-dia da 
escola, que as professoras tentam coibir, mas que vira e mexe acontece. Se tivermos aqui 
pessoas que já atuam em escola, podem confirmar que, por mais que fiquem de olho, vez ou 
outra aparece uma criança mordida por outra. Os pais entendem, chegam a achar até divertido 
muitas vezes, pois sabem que ora o filho é mordido ora é ele quem morde, faz parte. Mas se a 
criança que mordeu tem alguma deficiência, a história muda. A mordida ocorreu não porque 
isso acontece entre crianças pequenas, mas porque AQUELA criança tem Down, ou autismo, 
ou PC. Já vi uma escola chegar ao cúmulo de sugerir que o “mordedor” voltasse um ano 
porque não estava “maduro” para aquela turma. Será que se ele tivesse recebido a mordida ele 
avançaria um ano? 
O foco no déficit é esquecer que existem qualidades, é ser preconceituoso, segregar, 
rotular, determinar o fracasso, ao passo que o foco nas competências reconhece as qualidades 
e as usa para superar eventuais pontos falhos levando o indivíduo ao sucesso. É preciso 
acreditar no potencial do aluno. Todos podem aprender! Apenas cada um tem um ritmo e um 
modo próprio de fazer isso. Se o professor não acredita no aluno, como será capaz de ensiná-
lo, de desafiá-lo? Se acredita que o aluno não vai aprender será trabalho perdido, não? Mas eu 
garanto que se ele der oportunidade àquela criança, se acreditar em seu potencial, terá, sim, 
gratas surpresas. 
É hora de entender que incluir não é só matricular, é oferecer a todos acesso, 
permanência e aproveitamento nos estudos. O aluno com deficiência não pode mais ser visto 
como problema, mas sim como desafio à capacidade do professor em buscar recursos para 
ensiná-lo. O fracasso escolar não é, portanto, um fracasso do aluno, mas sim da família, da 
escola e da sociedade em atender às suas necessidades. 
Hoje é discurso recorrente que cada aluno tem seu ritmo próprio de aprender, mas as 
mesmas pessoas que afirmam isso querem, ao final do ano, todos os alunos no mesmo 
patamar pré-estabelecido. Não há uma incoerência aí? Para que o ritmo de cada aluno seja 
respeitado, é preciso que se mude a forma de avaliar, que passe a se usar a avaliação 
formativa, onde o aluno é comparado com ele mesmo para que se saiba o quanto ele 
caminhou desde o ponto de partida até o de chegada, e não com os outros. 
12 
 
Outra questão bastante discutida é a necessidade de especialização do professor que 
lida com inclusão, como se fosse possível agir de outra forma. Aliás, é hora de entender que 
não existe um “aluno de inclusão”, uma “sala de inclusão”, uma “professora que trabalha com 
inclusão”, uma “escola que aceita inclusão”. Porque ao aceitar estes conceitos, aceita-se que 
existem alunos de exclusão, salas de exclusão, professoras que trabalham apenas com a 
exclusão, escolas que defendem a exclusão. Já dizia a mestra Maria Tereza Eglér Mantoan 
(2007, p. 42), 
Inclusão não é: 
Você sabe que não é inclusão.... 
Quando há uma classe de inclusão. 
Quando há uma escola de inclusão. 
Quando há uma professora de inclusão. 
Quando há “as crianças da inclusão”. 
“Quando você fala para o seu filho que ele não precisa mais voltar para 
aquela escola ou outro lugar novamente e ele responde:” - Graças a Deus!” 
Quando seu filho está incluindo numa escola comum em um período e no 
outro turno freqüenta uma outra escola, para que possa “acompanhar” a 
turma. 
Quando você vive o sentimento de não pertencer ao grupo de pais da escola. 
Quando seu filho é o único que não sai para o recreio. 
Quando sua criança é a que vai para o recreio sozinha com um assistente. 
Quando ninguém deixa de ir a um passeio, exceto a sua criança. 
Quando o pátio da escola é dividido, justamente por causa de seu filho. 
Quando seu filho é incluído no Jardim de Infância, mesmo tendo 11 anos de 
idade. 
Quando todo mundo pensa que está fazendo inclusão. 
Quando você passa todo o tempo tentando defender a inclusão e dizendo a 
eles que é a melhor solução para seu filho. 
Quando você paga por um serviço e/ou um professor extras para a inclusão 
de seu filho na escola comum. 
Quando a inclusão começa às 9 horas da manhã e termina às 4 horas da tarde 
Quando você arrepia os cabelos ao caminhar pela escola. 
Quando “a classe de inclusão” é mais um tópico no Projeto Pedagógico da 
escola e não o seu fundamento. 
Quando os companheiros de atividades das crianças são as outrascrianças e 
o de seu filho é sempre o professor itinerante/assistente. 
Quando o professor itinerante/assistente vive colado a sua criança o tempo 
todo na sala de aula da escola comum. 
Quando ninguém nunca, jamais ouviu falar sobre amizade e acolhimento na 
escola. 
 
Voltando ao ponto “especialização”, se fosse verdade que apenas professores 
especializados poderiam ensinar determinados alunos, então voltaríamos às escolas especiais, 
onde teríamos uma sala para crianças com Down, uma para crianças com autismo, uma para 
crianças com paralisia cerebral, uma para crianças com dislexia. Mas será que todas as 
crianças com Down aprendem da mesma forma? Todas as crianças com autismo aprendem da 
13 
 
mesma forma? Todas as... É evidente que não! Não há como generalizar, nunca. Um professor 
especializado é interessante para a sala de recursos, para fazer o contraturno, para dar o 
suporte necessário àqueles alunos que realmente precisam deste suporte. Um professor 
especializado é interessante para auxiliar o professor regente da sala, para que este encontre 
mais facilmente os meios para ensinar os alunos que estão com alguma dificuldade, tenham 
eles deficiência ou não. Mas o fato de ter um aluno com deficiência em sala não exige ou 
torna indispensável a presença de um professor especializado! 
 
PROJETO ROMA 
 
Em meio às pesquisas para o TCC da faculdade, busquei ler mais a respeito de um 
projeto desenvolvido na Espanha por Miguel Lopez Melero (2003) nas décadas de 70 e 80, 
que eu já conhecia por alto mas ainda não havia me aprofundado. Achava interessante sua 
visão, mas quis entender melhor seu pensamento. Melero não aceitava os rótulos de 
excepcionais e deficientes mentais que seus alunos com síndrome de Down recebiam. Ele 
percebia que estes alunos eram tão capazes quanto quaisquer outros de aprender e se tornar 
autônomos. O projeto leva o nome de Projeto Roma, porque tempos depois do início de suas 
pesquisas ele descobriu a existência de um projeto similar na Itália, o que resultou em um 
trabalho cooperativo entre os dois países. Na Itália o projeto chama-se Málaga em 
homenagem aos espanhóis. Ficou claro para mim, nestas pesquisas, que o pensamento de 
Melero vem de encontro a tudo aquilo em que acredito no que se refere a Educação. 
É um tema bastante amplo, mas para que tenham alguma noção da sua profundidade e 
seriedade, posso dizer que Melero afirma que os rótulos são colocados porque a inteligência é 
vista ainda como algo inato, ao invés de algo que se adquire e constrói, como afirmavam 
Piaget e Vygotsky. Assim, o Projeto Roma se propôs a determinar um novo conceito de 
inteligência, que partisse das diferenças e fosse favorável à diversidade, permitindo a 
existência da “imperfeição”, em contraponto ao conceito atual, de padronização, exclusão, 
seleção e de uma perfeição que acarreta inúmeros preconceitos. 
O Projeto Roma fundamenta-se nos estudos de Habermas, com a sua teoria da ação 
comunicativa, Luria, e sua concepção de inteligência, Vygotsky, e seus estudos na área da 
Psicologia, Bruner, numa síntese de Luria e Vygotsky na área da Pedagogia, Maturana, com 
sua biologia do conhecimento, e Kemmis, através de sua concepção de investigação-ação. 
Busca, com isso, o desenvolvimento global da criança, atuando em quatro dimensões 
interrelacionadas: cognição, linguagem, afetividade e autonomia. 
14 
 
Para que isso seja possível, trabalha com projetos de investigação, que partem de 
questionamentos das próprias crianças, onde família, escola e mediadores participam. Cada 
qual tem sua responsabilidade no projeto e todos, sem exceção, têm voz para dar suas 
opiniões. Os projetos de investigação partem sempre de uma das quatro dimensões, mas 
atuam em todas elas. 
O interessante é perceber que não é algo assim tão desconhecido para os educadores. 
Hoje é comum vermos professores defendendo o uso de projetos interdisciplinares. Na 
faculdade somos estimulados a fazer uso deles, por terem uma abrangência muito maior e por 
permitirem uma avaliação formativa. A diferença para o Projeto Roma está na forma como é 
feito, e o envolvimento que se busca de família e escola trabalhando juntas, da presença de 
um mediador fazendo a ponte entre todos, bem como na inexistência de uma cobrança para 
que todos atinjam um patamar. Todos os relatos, todas as etapas, todas as conquistas, tudo é 
valorizado. O tamanho do passo é mais valorizado do que o ponto atingido. Porque um 
projeto pode ter chegado em um ponto atrás de outro, mas dependendo de onde cada um 
partiu, o primeiro pode ter dado um passo bem maior do que o segundo. E não é isso que a 
avaliação formativa nos mostra? Ou seja, temos todas as ferramentas nas mãos, basta apenas 
que comecemos a fazer uso delas da forma correta. 
 
CONCLUSÃO 
 
Por tudo o que expus, acredito que possam entender minha confiança de que a 
Educação Inclusiva, ou melhor, oferecer condições de aprendizagem a todos é um desafio 
possível sim. Difícil, é verdade, mas educar é algo realmente complexo. É hora de entender 
que a exclusão vem do preconceito, dos rótulos que estamos acostumados a colocar. O 
desconhecido assusta, então torna-se preferível recusar do que buscar aprender, adaptar. O 
aluno com deficiência requer criatividade, pois suas necessidades são visíveis, mas na verdade 
todos os alunos requerem criatividade, afinal cada um tem características próprias. 
Está na hora de pararmos de pensar que é fundamental uma formação especializada 
para lidar com este ou aquele aluno. Ninguém nunca estará preparado para todas as variantes 
que podem surgir em sala de aula. O professor, então, deve se empenhar em sua formação 
continuada, para ensinar melhor a todos. E, quando surgir um desafio, ao invés de se fechar, 
amedrontado, deve encará-lo, entendendo que é sua função ensinar àquele aluno, e conseguir 
fazer isso não vai ser bom apenas para aquele aluno em especial, mas para todos que cruzarem 
seu caminho dali por diante. Vai ser bom para a sua própria formação, profissional e pessoal. 
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Está na hora de pararmos de falar em Educação Inclusiva como algo à parte da 
Educação. Educação é Educação e ponto. Para todos, sem exceção. 
 
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