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Definição - É uma das infecções clássicas da infância, de distribuição global, sem predileção por raça ou gênero. O vírus do sarampo tem oito classes (A-H), que podem ser subdivididas em 24 genótipos. - A distribuição de cada genótipo é contínua e geograficamente modelada. - O sarampo representa uma importante causa de hospitalização, morbidade e mortalidade na infância. - O desfecho fatal está intimamente relacionado com grau de desenvolvimento socioeconômico dos indivíduos afetados, padrões de higiene, nutrição e cuidados de saúde apropriados. - Um problema mundial decisivo na eliminação dessa doença é a inabilidade de imunizar a população inteira. Portanto, indivíduos que são suscetíveis ao vírus podem transmitir a doença e causar um surto regional. Agente Etiológico - O sarampo é uma doença febril exantematosa aguda, altamente transmissível, causada por vírus da família Paramyxoviridae do gênero Morbillivirus. - O vírion do sarampo é composto por uma porção interna, o nucleocapsídeo, contendo um único genoma RNA, envolvido por uma camada externa de material lipídico-glicoprotéico. O nucleocapsídeo livre não é infectante, sendo necessário para isso, a substância lipoprotéica constituinte da camada externa. - Do mesmo modo, está camada é responsável pela especificidade sorológica do vírion, com antígenos contra os quais são produzidos anticorpos neutralizantes e fixadores do complemento. - A proteína do nucleocapsídeo também age como antígeno para a produção de anticorpos, mas com especificidade diferente daquela do envelope. - O vírus do sarampo é frágil. Fora do organismo, sua sobrevida é restrita. - Perde 60% de sua infectividade em três a cinco dias, em temperatura ambiente; a 37ºC, sua meia-vida é de duas horas. - Sobrevive bem ao frio. Forma de Transmissão - A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, por secreções nasofaríngeas expelidas na fala, tosse, espirro ou respiração. - O vírus pode ser transmitido quatro a seis dias antes ou quatro dias depois do surgimento do exantema. - Embora possa acometer recém-nascidos de mães suscetíveis, o sarampo é relativamente raro nos primeiros seis meses, graças à transferência transplacentária de anticorpos maternos. - O vírus sobrevive 36 horas, em média, no núcleo da gota à temperatura ambiente, fato que limita a transmissão indireta ou aérea. - As secreções no sarampo são mais fluidas, o que facilita seu raio de distribuição, sendo elas disseminadas a maiores distâncias e sedimentadas com maior lentidão; isto resulta na propagação rápida e maciça do vírus. - O contágio ocorre a partir do final do período de incubação até cinco dias após o aparecimento do exantema. Considera-se o período pré-exantemático como o de maior contagiosidade. Epidemiologia - O sarampo tem fases distintas: a de incubação, a prodrômica e a exantemática. - Sua transmissão é possível cinco dias antes e quatro dias depois do surgimento do exantema, e mais de 90% das pessoas expostas desenvolverão a doença. - O sarampo pode apresentar complicações comuns, principalmente pneumonia primária ou secundária, especialmente em jovens malnutridos e imunocomprometidos e em crianças com deficiência de vitamina A. Outras complicações são otite média, ceratoconjuntivite e diarreia. - O sarampo é uma importante causa de morbidade e mortalidade em gestantes, que são mais propensas a ser hospitalizadas, ter complicações de pneumonia e morrer do que as gestantes não infectadas. - Também se relaciona com morbidade e mortalidade fetais mais altas, levando a risco mais alto de aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, prematuridade, necessidade de internação em unidade de tratamento intensivo (UTI) neonatal em relação a fetos de gestantes não infectadas. Clínica - Após o período de incubação de cerca de onze dias, a doença se manifesta com pródromos de três a quatro dias de duração. - Estes se iniciam com febre, mal-estar, coriza seromucosa e, depois, mucopurulenta, tosse seca, conjuntivite com fotofobia e epífora, sendo ocasionalmente observada na conjuntiva palpebral inferior uma linha marginal transversal. - A febre eleva-se gradualmente, com pico máximo no início do período exantemático; a curva térmica pode ainda ser bifásica, com elevação inicial, declínio após 24 horas e posterior exacerbação, sendo também máxima no início de exantema (38,5 a 40,5°C). - No final do período prodrômico e antecedendo em 24 a 48 horas, às vezes 72 horas, ao período exantemático, podem ser visualizadas as manchas de Koplik; estas são pontos brancos-azulados localizados na mucosa bucal na região próxima aos molares, que às vezes se estendem a toda mucosa oral. - Durante o quarto dia de período prodrômico inicia-se o exantema maculopapular de tonalidade avermelhada, começando pelo rosto, regiões retroauricular e cervical. - Como apresenta caráter descendente, atinge o tronco e membros superiores no segundo dia e estende-se aos membros inferiores no terceiro dia, quando pode ocorrer sua confluência no tronco e rosto. - A doença chega ao seu clímax no primeiro e segundo dia do exantema, quando o quadro clínico se exterioriza mais florido: a febre eleva-se ao máximo, o exantema torna-se exuberante, as manchas de Koplik ainda estão presentes, as conjuntivas congestas com fotofobia e lacrimejamento, coriza abundante e tosse produtiva. Estes achados configuram a fácies "sarampenta", já observada no final do período prodrômico. Nas 24 horas seguintes há queda da temperatura, melhora da coriza, da conjuntivite e da tosse. Esta, porém, persiste por cinco a dezesseis dias após o exantema. - O sarampo hemorrágico, embora raro, é a forma clínica mais grave com que o sarampo se manifesta. Caracteriza-se por intensa toxemia, de início súbito com febre alta, convulsão, delírio, podendo chegar ao coma e resultar em graves distúrbios respiratórios. Além do exantema hemorrágico surge sangramento na boca, nariz e tubo digestivo. - A coagulação intravascular disseminada parece estar envolvida nesse processo, que se caracteriza por ser frequentemente fatal. Diagnóstico - Diagnósticos laboratoriais específicos de sarampo podem ser feitos sorologicamente, nos quais o ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) é usado para detectar a presença de imunoglobulina da classe M (IgM) específica para vírus no plasma, tendo maior sensibilidade cerca de quatro dias após o surgimento do exantema. - Na fase aguda, a detecção de anticorpos da classe IgM pode ser feita por outras técnicas que não a ELISA, como imunofluorescência direta e inibição da hemaglutinação. - O imunoensaio padrão-ouro no diagnóstico laboratorial é o teste de neutralização por redução de placas (PRNT) para detecção de IgG específica. Em relação à ELISA, tem maior sensibilidade e a mesma especificidade (100%), mas é mais caro. - O uso de um laboratório clínico no diagnóstico de infecção por sarampo pode ser feito pela análise das secreções nasofaríngeas, orofaríngeas e urina, sangue, líquido cefalorraquidiano e tecidos, pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), de preferência nos primeiros dias de aparecimento dos sintomas, antes que os anticorpos IgM sejam detectáveis. - O material a ser coletado para análise sorológica é o sangue venoso. - Para análise da urina, de preferência a primeira urina do dia, se não for possível, coletar a urina em outro momento. Vacinação - A profilaxia do sarampo se dá por vacinação. - No Brasil, a vacina oferecida pelo Sistema Único de Saúde é feita com vírus. - Duas doses são recomendadas: a segunda, três meses após a primeira. Somente aqueles com registro de duas doses aplicadas depois dos 12 meses de idade são considerados adequadamente tratados. - Os efeitos colaterais incluem: Urticária; falta de apetite; dor; sensação de queimação ou agulhadas; vermelhidão; inchaço ou sensibilidade no local da injeção;artrite; dor nas juntas; convulsão febril; dor de cabeça; mal-estar; sensação de formigamento. - É contraindicado a vacinação de crianças com histórico de hipersensibilidade aos componentes da vacina; incluindo gelatina ou neomicina; imunodeficiência primária; AIDS; discrasias sanguíneas; leucemia; linfoma ou qualquer tipo de neoplasma maligno que afete a medula óssea ou sistema linfático; tratamento imunossupressor; doença respiratória febril ou outras infecções febris; tuberculose ativa; e crianças menores de 6 meses de idade. - A vacinação é contraindicada em casos de imunossupressão, crianças com menos de 6 meses de idade, gestação e história conhecida de reações de hipersensibilidade. Tratamento - Não há terapêutica específica contra o vírus do sarampo e tampouco drogas capazes de prevenir ou interromper os sintomas da doença uma vez instalados. - Entretanto, vários estudos têm observado que o uso de vitamina A em crianças com sarampo tem se associado à redução de mortalidade e da morbidade. - Os antimicrobianos não possuem qualquer efeito no curso do sarampo, nem qualquer capacidade de alterar o quadro inflamatório causado pelo vírus. - Não devem, pois, ser utilizados, a não ser nos casos com complicação bacteriana. -Prescrever antibióticos sistematicamente, visando prevenir complicações, é inútil e até mesmo desvantajoso, pois estes são capazes de mascarar certas complicações, como a otite, e de alterar o equilíbrio bacteriológico das vias aéreas. - Por outro lado, os antibióticos podem condicionar o surgimento de infecções graves, por germes de tratamento mais difícil. Referências Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Folha informativa – Sarampo. 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