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PNEUMONIA DEFINIÇÃO GERAL *Infecção do parênquima pulmonar. *Pneumonias adquiridas na comunidade (PAC) *Pneumonias adquiridas no hospital (PAH) *Pneumonias associadas à ventilação mecânica (PAV) *Pneumonia associada aos serviços de saúde (PASS) - patógenos resistentes a múltiplos fármacos (multidrug-resistant ou MDR). FISIOPATOLOGIA GERAL *Resulta da proliferação dos patógenos microbianos nos espaços alveolares e da resposta do hospedeiro a esses agentes patogênicos. *Os microrganismos chegam às vias respiratórias inferiores por vários mecanismos. O mais comum é a aspiração das secreções orofaríngeas. A aspiração de volumes pequenos ocorre frequentemente durante o sono (especialmente nos idosos) e nos pacientes com níveis deprimidos de consciência. Alguns patógenos são inalados na forma de gotículas contaminadas. Em casos raros, a pneumonia ocorre por disseminação hematogênica (p. ex., por endocardite da valva tricúspide) ou por extensão contígua dos espaços pleural ou mediastinal infectados. *Os fatores mecânicos são extremamente importantes para a defesa do hospedeiro. Os pelos e as conchas nasais das narinas retêm as partículas maiores inaladas antes que elas possam chegar às vias respiratórias inferiores. A arquitetura ramificada da árvore traqueobrônquica retém microrganismos no revestimento das vias respiratórias, onde a atividade mucociliar e os fatores antibacterianos locais eliminam ou destroem os patógenos potenciais. O reflexo de engasgo e o mecanismo da tosse conferem proteção essencial contra aspiração. Além disso, a flora normal aderida às células da mucosa da orofaringe, cujos componentes são notavelmente constantes, impede que as bactérias patogênicas se liguem e, dessa forma, reduz o risco de pneumonia causada por bactérias mais patogênicas. *Quando essas barreiras são superadas ou quando os microrganismos são suficientemente pequenos para serem inalados até os alvéolos, os macrófagos alveolares residentes são extremamente eficientes na eliminação e destruição dos patógenos. Os macrófagos são auxiliados por proteínas produzidas pelas células epiteliais locais (p. ex., proteínas A e D do surfactante) e têm propriedades intrínsecas de opsonização ou atividade antibacteriana ou antiviral. Depois de serem fagocitados, os patógenos – mesmo que não sejam destruídos – são eliminados pelo sistema elevatório mucociliar ou pelos vasos linfáticos e não causam mais risco de infecção. A pneumonia evidencia-se apenas quando a capacidade dos macrófagos alveolares ingerirem ou destruírem os microrganismos é suplantada. Nessa condição, os macrófagos alveolares ativam a resposta inflamatória para reforçar as defesas das vias respiratórias inferiores. *A resposta inflamatória do hospedeiro, mais do que a proliferação dos microrganismos, desencadeia a síndrome clínica da pneumonia. A liberação de mediadores inflamatórios como a interleucina (IL) 1 e o fator de necrose tumoral (TNF) provoca febre. As quimiocinas como a IL-8 e o fator de estimulação das colônias de granulócitos estimulam a liberação dos neutrófilos e sua atração ao pulmão e isso causa leucocitose periférica e secreções purulentas aumentadas. Os mediadores inflamatórios liberados pelos macrófagos e pelos neutrófilos recém-recrutados acarretam extravasamento alveolocapilar semelhante ao que é observado na síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), embora na pneumonia esse processo fique localizado (ao menos inicialmente). Até mesmo os eritrócitos conseguem atravessar a membrana alveolocapilar, e isso causa hemoptise. O extravasamento capilar é responsável pelos infiltrados radiográficos e pelos estertores detectáveis à ausculta, enquanto a hipoxemia é atribuída ao preenchimento dos espaços alveolares. Além disso, alguns patógenos bacterianos parecem interferir na vasoconstrição hipoxêmica, que normalmente ocorreria se os alvéolos fossem preenchidos por líquidos; essa interferência pode causar hipoxemia grave. O aumento do drive respiratório na síndrome da resposta inflamatória sistêmica causa alcalose respiratória. A dispneia tem como causas a redução da complacência pulmonar secundária ao extravasamento capilar, a hipoxemia, a hiperestimulação do centro respiratório, as secreções profusas e, ocasionalmente, o broncospasmo desencadeado pela infecção. *Se a doença for grave, as alterações da mecânica pulmonar secundárias às reduções do volume e da complacência pulmonares, bem como o shunt intrapulmonar do sangue, podem levar o paciente à insuficiência respiratória e à morte. PAC ETIOLOGIA *A lista numerosa de agentes etiológicos potenciais das PACs inclui bactérias, fungos, vírus e protozoários. *Entre os patógenos identificados recentemente estão os metapneumovírus, os coronavírus responsáveis pela síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e pela síndrome respiratória do Oriente Médio e as cepas de Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA) adquiridas na comunidade. *Entretanto, a maioria dos casos de PAC é causada por um número relativamente pequeno de patógenos. Embora o Streptococcus pneumoniae seja mais comum, outros microrganismos também devem ser considerados em vista dos fatores de risco e da gravidade da doença do paciente. A separação dos agentes potenciais em patógenos bacterianos “típicos” ou microrganismos “atípicos” pode ser útil. Esse primeiro grupo inclui S. pneumoniae, Haemophilus influenzae e (em determinados casos) S. aureus e bacilos Gram-negativos, como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. Entre os microrganismos “atípicos” estão Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e as espécies de Legionella (nos pacientes internados), assim como os vírus respiratórios, como influenza, adenovírus, metapneumovírus humano e vírus sinciciais respiratórios. Os vírus podem ser responsáveis por uma grande proporção de casos de PAC que necessitam de hospitalização, mesmo em adultos. Os microrganismos atípicos não podem ser isolados pelas técnicas de cultura em meios convencionais e nem podem ser detectados pela coloração de Gram. A frequência e a importância dos patógenos atípicos têm implicações terapêuticas significativas. Esses microrganismos são intrinsecamente resistentes a todos os antibióticos β-lactâmicos e devem ser tratados com um macrolídeo, uma fluoroquinolona ou uma tetraciclina. Em cerca de 10-15% dos casos de PAC polimicrobiana, os agentes etiológicos comumente consistem em uma combinação de patógenos típicos e atípicos. *Os anaeróbios desempenham um papel significativo apenas quando houve um episódio de aspiração dias ou semanas antes da apresentação clínica da pneumonia. Nesses casos, o fator de risco principal é a combinação de vias respiratórias desprotegidas (p. ex., pacientes com intoxicações por álcool ou drogas, ou distúrbios convulsivos) e gengivite significativa. As pneumonias causadas por anaeróbios geralmente são complicadas por formação de abscessos e por empiemas significativos ou derrames parapneumônicos. *A pneumonia causada por S. aureus é uma complicação bem conhecida da infecção pelo vírus influenza.Contudo, foram isoladas cepas de MRSA como agentes etiológicos primários da PAC. Embora essa condição ainda seja relativamente incomum, os médicos devem estar atentos às suas consequências potencialmente graves, inclusive pneumonia necrosante. Dois fatos importantes são responsáveis por esse problema: a disseminação do MRSA dos hospitais para as comunidades e o desenvolvimento de cepas geneticamente diferentes do MRSA na comunidade. Essa primeira alteração tem mais tendência a causar PASS, enquanto as novas cepas de MRSA adquiridas na comunidade (MRSA-AC) podem infectar indivíduos saudáveis que não tiveram qualquer passagem pelos serviços de saúde. *Infelizmente, apesar da história detalhada, do exame físico cuidadoso e dos exames radiográficos rotineiros, é difícil prever com algum grau de certeza o agente etiológico da PAC; em mais de 50% dos casos, não é possível determinar uma etiologia específica. *No entanto, os elementos epidemiológicos e os fatores de risco podem sugerir o envolvimento de determinados patógenos. EPIDEMIOLOGIA *80% dos pacientes afetados são tratados ambulatorialmente e 20% são hospitalizados. *A taxa de mortalidade nos pacientes ambulatoriais costuma ser ≤1%, enquanto a de pacientes hospitalizados pode variar cerca de 12-40%, dependendo de o tratamento ser administrado dentro ou fora da unidade de tratamento intensivo (UTI). *As taxas de incidência são maiores nas faixas etárias extremas. 12-18 por 1.000 entre as crianças < 4 anos, e é de 20 por 1.000 na faixa etária > 60 anos. *Os fatores de risco para PAC em geral e para pneumonia pneumocócica em particular têm implicações nos esquemas terapêuticos recomendados. *Entre os fatores de risco para PAC estão alcoolismo, asma, imunossupressão, institucionalização e idade ≥ 70 anos. *Em idosos, fatores como redução dos reflexos da tosse e vômito e redução de respostas de anticorpos e receptores tipo Toll aumentam a probabilidade de pneumonia. *Os fatores de risco para pneumonia pneumocócica incluem demência, distúrbios convulsivos, insuficiência cardíaca, doença vascular encefálica, alcoolismo, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e infecção pelo HIV. *A pneumonia por MRSA-AC é mais provável nos pacientes com colonização ou infecção cutânea por esse microrganismo. *As enterobactérias tendem a infectar pacientes hospitalizados recentemente e/ou que fizeram tratamento antibiótico ou apresentam comorbidades como alcoolismo e insuficiência cardíaca ou renal. *A P. aeruginosa é um problema especial para pacientes com doença pulmonar estrutural, incluindo bronquiectasias, fibrose cística ou DPOC grave. *Os fatores de risco para infecção por Legionella são diabetes, neoplasias malignas hematológicas, câncer, doença renal grave, infecção pelo HIV, tabagismo, sexo masculino e estada em hotéis ou cruzeiros marítimos recentes. (Hoje, alguns desses fatores de risco poderiam reclassificar como PASS alguns casos que antes eram descritos como PAC.) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS *Pode ser indolente ou fulminante e sua gravidade pode variar de leve a casos fatais. *As manifestações de progressão e gravidade incluem achados constitucionais e aqueles limitados aos pulmões e a estruturas associadas. *O paciente frequentemente tem febre e taquicardia, ou pode apresentar calafrios e/ou sudorese. *A tosse pode ser seca ou produtiva com escarro mucoide, purulento ou sanguinolento. A hemoptise franca é sugestiva de pneumonia por MRSA-AC. *Dependendo da gravidade, o paciente pode ser capaz de pronunciar frases inteiras ou apresentar dispneia grave. *Se houver acometimento da pleura, o paciente pode referir dor torácica pleurítica. *Até 20% dos pacientes podem apresentar queixas gastrintestinais, como náuseas, vômitos e/ou diarreia. *Outros sintomas podem incluir fadiga, cefaleia, mialgias e artralgias. *As anormalidades do exame físico podem variar com a gravidade da condensação pulmonar e a existência ou ausência de derrame pleural significativo. *É comum observar aumento da frequência respiratória e utilização dos músculos acessórios da respiração. A palpação pode detectar acentuação ou atenuação do frêmito toracovocal, e a percussão pode evidenciar submacicez e macicez, que refletem a condensação pulmonar ou o líquido pleural subjacente respectivamente. A ausculta pode detectar estertores, sopros brônquicos e possivelmente atrito pleural. *A apresentação clínica pode não ser tão evidente nos pacientes idosos que, inicialmente, apresentam confusão mental de início súbito ou agravada e poucos sinais clínicos adicionais. *Os pacientes mais graves podem apresentar choque séptico e indícios de falência de órgãos. DIAGNÓSTICO *Frente a um caso potencial de PAC, o médico deve fazer duas perguntas: o paciente tem pneumonia? Em caso afirmativo, qual é sua etiologia provável? Em geral, a primeira pergunta é respondida com base nos exames clínicos e radiográficos, enquanto a última depende de técnicas laboratoriais complementares. Diagnóstico clínico *O diagnóstico diferencial inclui distúrbios infecciosos e não infecciosos, como bronquite aguda, exacerbações agudas da bronquite crônica, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, pneumonite de hipersensibilidade e pneumonite pós-radiação. A história detalhada tem importância fundamental. Por exemplo, uma doença cardíaca diagnosticada pode sugerir agravamento do edema pulmonar, enquanto um carcinoma preexistente pode indicar lesão pulmonar secundária à radioterapia. *Infelizmente, a sensibilidade e a especificidade das alterações detectadas pelo exame físico ficam aquém do que seria ideal, ou seja, em média 58% e 67%, respectivamente. *As radiografias de tórax geralmente são necessárias para ajudar a diferenciar entre PAC e outros distúrbios. Os achados radiográficos servem como parâmetro para comparações futuras e podem incluir fatores de risco sugestivos de maior gravidade (p. ex., cavitações ou padrão multilobar). Em alguns casos, os resultados das radiografias sugerem o diagnóstico etiológico. Por exemplo, pneumatoceles indicam infecção por S. aureus, enquanto lesões cavitárias nos lobos superiores sugerem tuberculose. *A tomografia computadorizada (TC) pode ser útil nos casos suspeitos de pneumonia obstrutiva causada por um tumor ou corpo estranho ou suspeita de doença cavitária. *Para os pacientes ambulatoriais, a avaliação clínica e radiológica geralmente é suficiente antes de iniciar o tratamento, porque a maioria dos resultados dos exames laboratoriais não fica disponível a tempo, de forma a influenciar significativamente o tratamento inicial. Em determinados casos, a disponibilidade dos testes diagnósticos rápidos realizados ambulatorialmente pode ser muito importante (p. ex., o diagnóstico rápido da infecção pelo vírus influenza pode indicar o uso de fármacos específicos para esse microrganismo e a profilaxia secundária). Diagnóstico etiológico *É comum que a etiologia da pneumonia não possa ser determinada somente com base na apresentação clínica. Com exceção dos casos de PAC internados em UTIs, não existem dados demonstrando que o tratamento dirigido a um patógeno específico seja estatisticamentesuperior ao tratamento empírico. Por essa razão, os benefícios da identificação da etiologia microbiana podem ser questionados, principalmente quando se consideram os custos dos exames diagnósticos. *Entretanto, algumas razões podem ser citadas para justificar a tentativa de chegar ao diagnóstico etiológico: -A identificação de um patógeno inesperado pode restringir o uso do esquema empírico inicial e reduzir pressão seletiva dos antibióticos e pode diminuir o risco de resistência; -Os patógenos com implicações importantes para a saúde pública, como Mycobacterium tuberculosis e vírus influenza, podem ser identificados em alguns casos; -Por fim, sem culturas e testes de sensibilidade, não é possível acompanhar cuidadosamente as tendências da resistência e é mais difícil planejar esquemas terapêuticos empíricos apropriados. *COLORAÇÃO PELO GRAM E CULTURA DE ESCARRO. O objetivo principal é confirmar que uma amostra é apropriada para cultura. Entretanto, também pode ajudar a identificar alguns patógenos (p. ex., S. pneumoniae, S. aureus e bactérias Gram-negativas) por seu aspecto característico. Para que uma amostra de escarro seja apropriada para cultura, ela deve conter > 25 neutrófilos e < 10 células epiteliais escamosas por campo de pequeno aumento. A sensibilidade e a especificidade da coloração pelo Gram e da cultura do escarro são muito variáveis. Mesmo nos casos de pneumonia pneumocócica com bacteremia, a positividade das culturas das amostras de escarro é ≤ 50%. Alguns pacientes, principalmente os idosos, podem não conseguir fornecer amostras adequadas de escarro expectorado. Outros podem já ter iniciado o tratamento com antibióticos por ocasião da coleta das amostras e isso pode interferir nos resultados. A incapacidade de fornecer escarro pode ser causada pela desidratação e a correção desse distúrbio pode aumentar a expectoração de escarro e acentuar o aspecto de um infiltrado na radiografia de tórax. Nos pacientes internados em UTI e intubados, o material obtido por aspirado traqueal ou lavado broncoalveolar (obtido por broncoscopia ou por outras técnicas) tem positividade alta na cultura quando a amostra é enviada ao laboratório de microbiologia no menor tempo possível. Como as etiologias da PAC grave são um pouco diferentes das que se observam na doença mais branda, as vantagens principais da coloração e da cultura das secreções respiratórias são alertar o médico para patógenos insuspeitos e/ou resistentes e permitir a modificação apropriada do tratamento. Outras técnicas de coloração e cultura (p. ex., colorações específicas para M. tuberculosis ou fungos) também podem ser úteis. *HEMOCULTURAS. A positividade das hemoculturas, mesmo quando as amostras são obtidas antes de se iniciar o tratamento antibiótico, é desanimadoramente baixa. Apenas cerca de 5-14% das hemoculturas dos pacientes hospitalizados com PAC são positivas, e o patógeno isolado mais comumente é o S. pneumoniae. Em razão da positividade baixa e da inexistência de impacto significativo, as hemoculturas não são mais consideradas obrigatórias para todos os pacientes hospitalizados com PAC. Alguns pacientes de alto risco – incluindo aqueles com neutropenia secundária à pneumonia, asplenia, deficiências de complemento, doença hepática crônica ou PAC grave – devem fazer hemoculturas. *TESTE DE ANTÍGENOS URINÁRIOS. Existem dois testes disponíveis no comércio para detectar antígenos pneumocócicos e de Legionella na urina. O teste para L. pneumophila detecta apenas o sorotipo 1, mas esse sorotipo é responsável pela maioria dos casos da doença dos legionários adquirida na comunidade nos EUA. A sensibilidade e a especificidade do teste para antígeno da Legionella na urina podem chegar a 90% e 99% respectivamente. O teste para antígeno pneumocócico na urina também é muito sensível e específico (80% e > 90% respectivamente). Embora possam ser obtidos resultados falso-positivos com amostras fornecidas pelas crianças colonizadas por pneumococos, o teste geralmente é confiável. Esses dois testes podem detectar os antígenos mesmo depois de ter sido iniciado o tratamento antibiótico apropriado. *REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE. Os testes de reação em cadeia da polimerase (PCR), que amplificam o DNA ou o RNA dos microrganismos, estão disponíveis para alguns patógenos. O PCR de swabs de nasofaringe se tornou o padrão para diagnóstico de infecções respiratórias virais. Além disso, a PCR múltipla pode detectar o ácido nucleico de espécies Legionella, M. pneumoniae, C. pneumoniae e micobactérias. Nos pacientes com pneumonia pneumocócica, a carga bacteriana aumentada no sangue total evidenciada pela PCR está associada a um risco mais alto de choque séptico, à necessidade de ventilação mecânica e à morte. A disponibilidade clínica desse teste poderia ajudar na identificação de pacientes para a internação em UTIs. *SOROLOGIA. A elevação de quatro vezes no título dos anticorpos IgM específicos entre as amostras de soro das fases aguda e de convalescença geralmente é considerada diagnóstica da infecção pelo patógeno em questão. No passado, os testes sorológicos eram realizados para ajudar a identificar patógenos atípicos e também alguns microrganismos incomuns, como a Coxiella burnetti. Entretanto, recentemente esses testes caíram em desuso em razão do tempo necessário para obter o resultado final na amostra da fase de convalescença. *BIOMARCADORES. Várias substâncias podem servir como marcadores de inflamação grave. Os dois atualmente usados são a proteína C-reativa (PCR) e a procalcitonina (PCT). Os níveis desses reagentes de fase aguda aumentam na presença de uma resposta inflamatória, particularmente com patógenos bacterianos. A PCR pode ser útil na identificação de piora da doença ou falha do tratamento, e a PCT pode ajudar para determinar a necessidade de terapia antibacteriana. Esses testes não devem ser usados sozinhos, mas, quando interpretados em conjunto com outros achados da história, exame físico, radiologia e exames laboratoriais, podem ajudar na escolha da antibioticoterapia e manejo adequado de pacientes gravemente enfermos com PAC. TRATAMENTO LOCAL DE CUIDADOS *O custo do tratamento hospitalar é cerca de 20 vezes maior que o do tratamento ambulatorial, e a internação hospitalar é responsável pela maioria dos gastos acarretados pela PAC. *Os recursos que permitem avaliar objetivamente o risco de desfechos desfavoráveis, inclusive doença grave e morte, podem reduzir as internações hospitalares desnecessárias. *Hoje, existem dois escores: o Pneumonia Severity Index (Índice de Gravidade da Pneumonia, ou IGP), um modelo prognóstico utilizado para identificar os pacientes com risco baixo de mortalidade; e o CURB-65, que avaliam a gravidade da doença. *Para determinar o IGP, o médico atribui pontos a 20 variáveis, inclusive idade, doenças coexistentes e anormalidades do exame físico e das análises laboratoriais. Com base no escore resultante, os pacientes são classificados em cinco grupos com as seguintes taxas de mortalidade: grupo 1: 0,1%; grupo2: 0,6%; grupo 3: 2,8%; grupo 4: 8,2%; e grupo 5: 29,2%. A determinação do IGP costuma não ser possível em um setor de emergência lotado devido ao número de variáveis que devem ser avaliadas. Porém, experiências clínicas demonstraram que a utilização rotineira do IGP possibilita a redução dos índices de hospitalização dos pacientes dos grupos 1 e 2. Os pacientes na classe 3 poderiam idealmente ser internados em unidade de observação até que se possa tomar novas decisões. *Os critérios CURB-65 incluem cinco variáveis: confusão (C); ureia > 7 mmol/L (U); frequência respiratória ≥ 30/min (R); pressão arterial, sistólica ≤ 90 mmHg e diastólica ≤ 60 mmHg (B); e idade ≥ 65 anos (65). Os pacientes com escore 0, entre os quais a taxa de mortalidade em 30 dias é de 1,5%, podem ser tratados ambulatorialmente. Com o escore 2, a taxa de mortalidade em 30 dias é de 9,2% e os pacientes devem ser hospitalizados. Entre os pacientes com escores ≥ 3, a taxa de mortalidade global é de 22% e esses indivíduos devem ser internados em uma UTI. *Nem o IGP nem o CURB-65 são ideais para determinar a necessidade de cuidar do paciente em uma UTI. O choque séptico ou a insuficiência respiratória no setor de emergência são indicações óbvias para cuidados em UTI. Porém, as taxas de mortalidade são maiores em pacientes menos doentes internados em enfermaria geral e que depois pioram do que em pacientes igualmente enfermos monitorados na UTI. Vários escores foram propostos para identificar pacientes com mais chances de deterioração precoce. RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS *A resistência aos antimicrobianos é um problema significativo que ameaça reduzir o arsenal terapêutico. O uso inadequado dos antibióticos aumenta a pressão seletiva, e isso pode afetar os padrões locais ou até mesmo mundiais de disseminação clonal. No caso das PACs, as questões principais de resistência atual envolvem o S. pneumoniae e o MRSA-AC. *S. pneumoniae. Em geral, a resistência dos pneumococos é adquirida (1) por incorporação e remodelação direta do DNA resultante do contato com outras bactérias comensais orais muito semelhantes; (2) pelo processo de transformação natural; ou (3) por mutação de alguns genes. Os cortes na concentração inibitória mínima (CIM) para a penicilina na pneumonia são de ≤ 2 μg/mL para suscetibilidade, > 2-4 μg/mL para intermediário e ≥ 8 μg/mL para resistente. Essas alterações dos limiares de sensibilidade resultaram em reduções dramáticas das porcentagens de cepas isoladas pneumocócicas consideradas resistentes. No caso da meningite, os limiares de CIM permanecem nos níveis anteriores maiores. Felizmente, a resistência à penicilina pareceu estabilizar-se, mesmo antes da alteração dos limiares da CIM. A resistência dos pneumococos aos antibióticos β-lactâmicos é atribuída unicamente à baixa afinidade das proteínas ligadoras de penicilina. Os fatores de risco para infecção por pneumococos resistentes à penicilina incluem tratamento antibiótico recente, idade < 2 anos ou > 65 anos, frequência às creches, internação hospitalar recente e infecção por HIV. Ao contrário da resistência à penicilina, a resistência aos macrolídeos está aumentando por vários mecanismos. Modificações em sítos-alvo causadas por metilação ribossomal em 23S rRNA codificadas pelo gene ermB resultam em resistência de alto nível (CIMs, ≥ 64 μg/mL) a macrolídeos, lincosamidas e antibióticos tipo estreptogramina B. O mecanismo de efluxo codificado pelo gene mef (fenótipo M) geralmente está associado à resistência de baixo nível (CIM, 1-32 μg/mL). A resistência dos pneumococos às fluoroquinolonas (p. ex., ciprofloxacino e levofloxacino) também foi descrita. As alterações podem ocorrer em um ou dois sítios-alvo (topoisomerases II e IV) por mutações dos genes gyrA e parC, respectivamente. Além disso, bombas de efluxo podem desempenhar um papel importante na resistência dos pneumococos às quinolonas. As cepas resistentes aos fármacos de três ou mais classes de antimicrobianos com mecanismos de ação diferentes são consideradas MDR. A tendência à associação da resistência dos pneumococos à penicilina com a sensibilidade reduzida aos outros antibióticos (incluindo macrolídeos, tetraciclinas e sulfametoxazol-timetroprima) também é preocupante. O fator de risco mais importante para infecção por pneumococos resistentes aos antibióticos é a utilização de um antimicrobiano específico nos 3 últimos meses. Desse modo, a história de tratamento antibiótico anterior é um fator crucial para evitar a utilização de um antibiótico inadequado. *MRSA-AC. A PAC atribuída ao MRSA pode ser causada por cepas com características genotípicas distintas, recém-descobertas, adquiridas na comunidade. A maioria das infecções causadas por esse primeiro grupo é adquirida direta ou indiretamente pelo contato com os serviços de saúde e, hoje, poderia ser classificada como PASS. Porém, em alguns hospitais, as cepas de MRSA-AC estão se tornando mais importantes que as cepas clássicas adquiridas nos hospitais – uma tendência sugestiva de que as cepas mais novas possam ser mais resistentes e dificultar essa diferenciação. A resistência do S. aureus à meticilina é determinada pelo gene mecA, que codifica a resistência a todos os antibióticos β-lactâmicos. Existem descritos no mínimo cinco tipos de cassete cromossômico estafilocócico (SCCmec). Em geral, as cepas típicas adquiridas nos hospitais apresentam os tipos II ou III, enquanto as cepas de MRSA-AC têm o elemento SCCmec tipo IV. As cepas isoladas de MRSA-AC tendem a ser menos resistentes que as adquiridas nos hospitais e, em geral, são sensíveis ao sulfametoxazol-trimetoprima, à clindamicina e à tetraciclina, além de à vancomicina e à linezolida. Contudo, a diferença mais importante é que as cepas de MRSA-AC também são portadoras de genes para superantígenos, como enterotoxinas B e C e a leucocidina de Panton-Valentine, uma toxina com tropismo pela membrana que pode formar poros citolíticos nos neutrófilos polimorfonucleares, nos monócitos e nos macrófagos. *Bacilos Gram-negativos. A discussão detalhada da resistência dos bacilos Gram-negativos está além dos objetivos deste capítulo. A resistência às fluoroquinolonas entre as cepas de Escherichia coli isoladas da comunidade parece estar aumentando. Em geral, as espécies Enterobacter são resistentes às cefalosporinas, e os antibióticos preferidos para tratar essas bactérias geralmente são fluoroquinolonas ou carbapenêmicos. Do mesmo modo, quando há suspeita ou comprovação de infecções causadas por bactérias que produzem β-lactamases de amplo espectro, deve-se utilizar uma fluoroquinolona ou um carbapenêmico; essas cepas MDR estão envolvidas mais provavelmente na etiologia das PASS. TRATAMENTO ANTIBIÓTICO INICIAL *Como o médico raramente conhece a etiologia da PAC antes de iniciar o tratamento, o esquema antibiótico inicial geralmente é empírico e tem como propósito cobrir os patógenos mais prováveis. Em todos os casos, o tratamento inicial deve ser iniciado o mais rapidamentepossível. *A cobertura sempre deve incluir pneumococos e patógenos atípicos. A cobertura para patógenos atípicos oferecida pelo acréscimo de um macrolídeo a uma cefalosporina, ou uma fluoroquinolona, ou pelo uso isolado de uma fluoroquinolona, foi associada claramente à redução expressiva das taxas de mortalidade, quando comparadas com os pacientes tratados apenas com β-lactâmicos. *O tratamento com um macrolídeo ou com uma fluoroquinolona nos últimos 3 meses está associado à probabilidade aumentada de infecção por uma cepa de S. pneumoniae resistente a um desses antibióticos. Por essa razão, deve-se utilizar um esquema à base de fluoroquinolona nos pacientes tratados recentemente com um macrolídeo e vice-versa *Quando o(s) agente etiológico(s) e sua(s) sensibilidade(s) são conhecidos, o tratamento pode ser alterado de forma a contemplar o(s) patógeno(s) específico(s). Entretanto, essa decisão nem sempre é fácil. Se as hemoculturas isolarem S. pneumoniae sensível à penicilina depois de 2 dias de tratamento com um macrolídeo e um β-lactâmico, ou apenas com uma fluoroquinolona, o esquema deve ser modificado para penicilina? Nesse caso, a questão é que um β-lactâmico isoladamente não seria eficaz em 15% dos casos possíveis de coinfecção por microrganismos atípicos. Não há uma abordagem padronizada. Em todos os casos, é preciso levar em consideração as características do paciente e os diversos fatores de risco. *O tratamento da pneumonia pneumocócica com bacteremia também é controverso. Os dados fornecidos por estudos não randomizados sugeriram que os esquemas combinados (especialmente macrolídeo com β-lactâmico) estejam associados a uma taxa de mortalidade mais baixa que a monoterapia, principalmente nos pacientes em estado grave. A razão exata para isso é desconhecida, mas as explicações possíveis incluem um efeito antibacteriano aditivo ou sinérgico, a tolerância aos antimicrobianos, a coinfecção por microrganismos atípicos ou os efeitos imunomoduladores dos macrolídeos. *Nos pacientes com PAC internados em UTI, o risco de infecção por P. aeruginosa ou MRSA-AC é maior. A cobertura empírica deve ser considerada quando um paciente tem fatores de risco ou quando a coloração de Gram for sugestiva desses patógenos. Se houver suspeita de MRSA-AC, pode-se acrescentar linezolida ou vancomicina ao regime empírico inicial; porém há preocupação crescente com a perda de potência da vancomicina contra o MRSA, sua má penetração no fluido do revestimento epitelial e a falta de efeito sobre a produção de toxinas quando comparada à linezolida. *Embora tradicionalmente os pacientes hospitalizados sejam tratados inicialmente com antibióticos intravenosos, alguns fármacos – principalmente as fluoroquinolonas – são muito bem absorvidos e podem ser administrados por via oral desde o início aos pacientes selecionados. Para os pacientes tratados inicialmente com antibióticos IV, a substituição pelos fármacos orais é adequada, contanto que eles possam ingerir e absorver os antibióticos, estejam hemodinamicamente estáveis e mostrem melhora clínica. *A duração do tratamento da PAC tem suscitado interesse significativo. No passado, os pacientes eram tratados por 10-14 dias, mas estudos com fluoroquinolonas e telitromicina sugeriram que um esquema de 5 dias seja suficiente para os casos não complicados de PAC. Mesmo uma dose única de ceftriaxona foi associada a um índice de cura significativo. Os cursos mais longos podem ser necessários aos pacientes com bacteremia, infecção metastática ou infecção por um patógeno virulento, incluindo P. aeruginosa ou MRSA-AC. CONSIDERAÇÕES GERAIS *Além da terapia antimicrobiana adequada, determinadas considerações gerais se aplicam ao lidar com PAC, PASS ou PAH/PAV. Hidratação adequada, oxigenoterapia para a hipoxemia e ventilação assistida quando necessária são fundamentais para um tratamento bem-sucedido. Os pacientes com PAC grave que continuam hipotensos apesar da reposição de líquidos podem ter insuficiência suprarrenal e melhorar com a administração de corticoides. A utilidade de tratamento coadjuvante, incluindo glicocorticoides, estatinas e inibidores da enzima conversora da angiotensina, ainda não estão comprovados para os pacientes com PAC. Falha terapêutica. Os pacientes que demoram a responder ao tratamento devem ser reavaliados em torno do terceiro dia (ou antes, quando suas condições pioram em vez de simplesmente não melhorar), e várias possibilidades devem ser consideradas. Alguns distúrbios não infecciosos podem simular pneumonia, inclusive edema ou embolia pulmonar, carcinoma do pulmão, pneumonites pós-radiação e de hipersensibilidade e doenças do tecido conectivo com acometimento dos pulmões. Se o paciente realmente tiver PAC e o tratamento for dirigido ao patógeno certo, a inexistência de resposta pode ser explicada de algumas formas. O patógeno pode ser resistente ao antibiótico escolhido ou um foco sequestrado (p. ex., abscesso pulmonar ou empiema) pode estar impedindo o acesso do(s) fármaco(s) ao patógeno. O paciente pode estar piorando porque o fármaco, a dose ou a frequência de administração estão incorretos. Também pode acontecer de a PAC ser o diagnóstico certo, mas o agente etiológico ser um patógeno diferente (p. ex., MRSA-AC, M. tuberculosis ou um fungo). As superinfecções nosocomiais – pulmonares e extrapulmonares – são explicações plausíveis para a falta de melhora ou o agravamento. Em todos os casos de resposta lenta ou deterioração clínica, o paciente deve ser reavaliado cuidadosamente e os exames apropriados devem ser iniciados, possivelmente incluindo procedimentos como TC ou broncoscopia. Complicações. Assim como ocorre com outras infecções graves, as complicações comuns da PAC grave incluem insuficiência respiratória, choque e falência de múltiplos órgãos, coagulopatia e exacerbação das comorbidades existentes. Três complicações particularmente dignas de nota são infecções metastáticas, abscesso pulmonar e derrame pleural complicado. A infecção metastática (p. ex., abscesso cerebral ou endocardite) é muito incomum e necessitará de um alto índice de suspeição e de uma avaliação detalhada para um tratamento adequado. O abscesso pulmonar pode estar associado à aspiração ou às infecções causadas por um único patógeno da PAC, inclusive MRSA-AC, P. aeruginosa ou (raramente) S. pneumoniae. Em geral, a pneumonia por aspiração é uma infecção polimicrobiana causada por aeróbios e anaeróbios. Os derrames pleurais significativos devem ser puncionados com finalidades diagnósticas e terapêuticas. Se o fluido apresentar pH < 7, um nível de glicose < 2,2 mmol/L e uma concentração de lactato desidrogenase > 1.000 U/L ou se bactérias forem observadas ou cultivadas, ele deve ser completamente drenado; costuma ser necessária a colocação de um dreno de tórax e uma toracoscopia videoassistida pode ser importante para o tratamento posterior ou nos casos difíceis. Acompanhamento. Em geral, a febre e a leucocitose regridem em 2-4 dias nos indivíduos com PAC e saudáveis sob outrosaspectos, mas as anormalidades do exame físico podem persistir por mais tempo. As anormalidades das radiografias de tórax demoram mais a regredir e podem necessitar de 4-12 semanas para desaparecer, com a rapidez de regressão dependendo da idade do paciente e da doença pulmonar subjacente. Os pacientes podem ser liberados do hospital quando suas condições clínicas, incluindo comorbidades, estiverem estáveis. O local de residência depois da alta (em um asilo, no lar com a família ou sozinho no domicílio) é uma consideração importante na decisão sobre a alta hospitalar, principalmente para os pacientes idosos. Nos pacientes hospitalizados, recomenda-se uma radiografia de acompanhamento em aproximadamente 4-6 semanas. Se for demonstrada uma recaída ou recidiva, principalmente no mesmo segmento pulmonar, deve-se considerar a possibilidade de uma neoplasia subjacente. PROGNÓSTICO. O prognóstico da PAC depende da idade do paciente, das suas comorbidades e do local em que o tratamento é efetuado (ambulatório ou hospital). Os pacientes jovens sem comorbidades evoluem bem e, em geral, recuperam-se por completo depois de aproximadamente 2 semanas. Os pacientes idosos e os que apresentam comorbidades podem demorar várias semanas ou mais para se recuperarem totalmente. A taxa de mortalidade global da população ambulatorial é < 1%. Para os pacientes que necessitam de hospitalização, a taxa de mortalidade global foi estimada em 10%, e cerca de 50% dos óbitos são atribuídos diretamente à pneumonia. PREVENÇÃO. Vacinas para influenza e pneumococos. DERRAME PLEURAL O derrame pleural parapneumônico (DPP) ocorre durante o curso clínico de uma pneumonia ou abscesso pulmonar. Sua incidência é frequentemente subestimada, podendo aparecer em cerca de 25% a 44% dos casos de pneumonias adquiridas na comunidade (PAC). Na maioria das vezes o quadro clínico do DPP se sobrepõe ao da PAC, sendo ele descoberto devido à realização da radiografia de tórax para o diagnóstico inicial ou avaliação da falta de resposta ao tratamento para a PAC. A maioria desses derrames é resolvida com o mesmo tratamento antibiótico da PAC, e sua presença pode passar despercebida. No entanto, quando não ocorre a resposta habitual ao tratamento, o DPP pode aumentar de volume e evoluir com septações (denominados de DPP complicados) ou para empiema pleural. CLASSIFICAÇÃO *O DPP desenvolve-se inicialmente como um exsudato reacional, de aspecto claro, não viscoso, com baixa celularidade, ausência de bactérias, pH normal e valores baixos de desidrogenase láctica e glicose. *Se o processo não for controlado com o uso de antibióticos, o derrame pode se tornar complicado, com aumento do volume de líquido, da celularidade pleural, da desidrogenase láctica e queda acentuada do pH. Valores de desidrogenase láctica > 1.000 U/l, glicose < 40 mg% e pH < 7,2 são sinais de intenso processo inflamatório, que podem levar a maior deposição de fibrina, com risco de loculações e espessamento pleural, além da evolução para empiema. *O DPP não complicado, o DPP complicado e o empiema pleural, apesar de considerados separadamente , podem representar a evolução do mesmo processo. *A virulência do agente agressor e a defesa imunológica do paciente podem determinar a evolução para DPP complicado e empiema pleural. Estas complicações são mais encontradas nos extremos de faixa etária (crianças e idosos), sendo alguns fatores de risco bem conhecidos, como diabetes mellitus, alcoolismo, má conservação dental, refluxo gastresofagiano, artrite reumatóide, doenças crônicas pulmonares e uso de drogas ilícitas intravenosas. QUADRO CLÍNICO *O quadro clínico predominante nos pacientes com DPP é semelhante ao de pneumonia. *A dor tipo pleurítica deve alertar para a presença de um DPP. *A presença de desconforto respiratório pode ser devida à existência de um DPP de moderado a grande volume. *Em condições normais, os sintomas de febre, tosse e falta de ar, característicos da pneumonia, devem apresentar redução importante a partir do terceiro dia de antibioticoterapia. *A falha de resposta ao tratamento indica a necessidade de realização de nova avaliação para se investigar a presença de um DPP não existente no momento do diagnóstico, ou uma complicação do DPP já existente. *O exame físico apresenta redução da ausculta pulmonar e do frêmito tóraco-vocal, com som maciço à percussão e presença de egofonia. DIAGNÓSTICO *A radiografia de tórax é, na maioria das vezes, suficiente para se investigar o DPP. *No entanto, pequenas coleções pleurais podem passar despercebidas. Neste sentido, pode ser recomendada a radiografia em decúbito lateral com raios horizontais. Este exame pode indicar volumes tão pequenos quanto 10 a 15 ml, observados por uma lâmina de líquido de menos de 10 mm. No entanto, a necessidade da radiografia em decúbito foi questionada recentemente em um trabalho comparando a radiografia em perfil com a radiografia em decúbito lateral. Esse estudo mostrou que uma lâmina de 10 mm em decúbito lateral é vista como uma imagem de até 5 cm no seio costofrênico posterior, não havendo portanto a necessidade de, rotineiramente, ser solicitada a radiografia em decúbito lateral. *A ultra-sonografia é um exame importante nos casos de derrames pequenos ou suspeitos de loculação, pois permite localizar com segurança o derrame, facilitando a coleta de amostra do líquido por toracocentese dirigida. *A tomografia computadorizada de tórax com contraste pode auxiliar na avaliação do espessamento pleural e da dimensão das loculações, além de detalhes do parênquima pulmonar e das estruturas mediastinais. Alguns casos de empiema pleural apresentam confusão diagnóstica com abscessos de pulmão, sendo nestes casos a tomografia de tórax com contraste um importante auxiliar no diagnóstico diferencial. TRATAMENTO *A partir da combinação dessas variáveis, foram estabelecidas quatro categorias de risco para auxiliar na decisão de abordagem terapêutica dos derrames parapneumônicos. *Deve ser lembrado que DPP menores que 10 mm na radiografia de tórax em decúbito lateral não necessitam de ser puncionados rotineiramente, pois na maioria das vezes se resolvem espontaneamente com antibióticos. Caso aumentem de volume, o risco de complicação se eleva, devendo então ser abordados. *Tratamento clínico. O tratamento do DPP deve ser iniciado pelos cuidados com as condições de suporte respiratório e hemodinâmico, associados à introdução de antibioticoterapia adequada, baseada preferencialmente nos resultados da cultura do líquido pleural e hemocultura. Em virtude da urgência no início do tratamento, a cobertura antibiótica deve ser inicialmente empírica, procurando abranger as bactérias mais encontradas na prática clínica, com base em dados de faixa etária e fatores de risco. Em pacientes com péssima conservação dentária e naqueles com suspeita de aspiração, deve-se suspeitar da ocorrência de bactérias anaeróbicas. Em casos de empiema secundário à PAC, os antibióticos escolhidos devem ser associadosa um agente para anaeróbios. Em casos de empiema secundário à pneumonia hospitalar, a presença de germes Gram negativos em associação a germes Gram positivos e anaeróbios deve ser considerada, sendo proposto o esquema de antibióticos baseado nas Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, de 2004. A cobertura deve ser preferencialmente baseada no conhecimento da resistência bacteriana encontrada em cada unidade hospitalar. Enfatizamos que os aminoglicosídeos não apresentam boa difusão em líquido pleural e, portanto, não são recomendados para uso na rotina. O Quadro 5 mostra o tratamento por antibioticoterapia baseado nos fatores para agentes bacterianos mais encontrados no empiema pleural. Nos pacientes em que o diagnóstico de DPP não complicado foi realizado, a melhora clínica deve ocorrer em até 72 horas. A persistência de sintomas ou aparecimento de novos sintomas, como dor torácica, deve alertar para novos exames, podendo ser necessárias novas radiografias, ultrasonografia e eventualmente nova toracocentese. Toracocentese terapêutica. A toracocentese é a forma menos invasiva de tratamento do DPP. Embora alguns estudos indiquem sucesso em 25% a 94% dos casos no tratamento do empiema, a tendência é seguir a recomendação de se considerar a toracocentese somente nos pacientes com derrames menores que a metade do hemitórax, com Gram e cultura negativos e pH > 7,2. Drenagem pleural. A drenagem pleural deve ser o tratamento de escolha para os DPP volumosos (maiores que a metade do hemitórax) ou que se apresentem com Gram ou cultura positivos ou pH < 7,2, e no empiema franco. Deve ser também considerada nos DPP recidivados após toracocentese inicial ou nos pacientes com quadro clínico instável. Agentes trombolíticos. O derrame pleural parapneumônico pode evoluir com a formação de loculações que dificultam a penetração de antibióticos no líquido e a adequada expansão pulmonar. Para a lise das loculações, podem ser utilizados os trombolíticos. Tanto a estreptoquinase como a uroquinase ou o fator ativador de plasminogênio podem auxiliar na dissolução da malha de fibrina. Pleuroscopia. A pleuroscopia é considerada uma alternativa eficaz nos DPP loculados se indicada precocemente, com óbvias vantagens de menor custo e menor agressão quando comparada com a decorticação pulmonar. Toracotomia e decorticação. A decorticação por toracotomia aberta está indicada no empiema com inadequada expansão pulmonar, em especial nos casos de fístula persistente do parênquima ou quando há coleções encistadas residuais pós-tratamento com fibrinolíticos ou pleuroscopia. Drenagem aberta e pleurostomia. A drenagem aberta, sem selo d'água, está indicada nos casos de pacientes muito debilitados e com empiemas crônicos (usualmente sem resolução após 30 dias de tratamento) que não suportam procedimentos mais agressivos.
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