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Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Cassandra Amidani Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Teorias de aprendizagem 1 Teorias de aprendizagem Teorias de AprendizagemUNIDADE Contextualização Vamos começar esta unidade com uma citação de Leonardo da Vinci sobre um comparativo interessante para refletir: Aquele que ama a prática sem teoria é como o navegante que embarca em um navio sem um remo e uma bússola e nunca sabe aonde vai parar (Leonardo da Vinci). Sábias palavras, não? Se as relacionarmos à prática dos profis- sionais que atuam em Educação, poderemos inferir que todo educador, ao ir para uma sala de aula, vai munido de seu remo e sua bússola – ou, pelo menos, deveria. Não é mesmo? Pode-se entender que o remo se associaria às ferramentas que o profissional lança mão para o desenvolvimento de sua práti- ca pedagógica, enquanto a bússola representaria a teoria que inspira ou ilumina a sua prática. Nesse sentido, constituem-se aparatos essenciais o desenho e a implementação de práticas educativas, sejam presenciais ou on-line. Agora que já vimos o porquê de estudar as teorias, avançaremos! Concepções de Aprendizagem Quando ouvimos falar em “teorias”, imaginamos que teremos de ler quilômetros de explicações e pontos de vistas difíceis de serem prati- cados, não é mesmo? Só de escutar a palavra “teorias” já pensamos... Ah! Não! “Teorias” de Aprendizagem? Eu quero é aprender como colocar as coisas em prática! Certo, não ficamos mesmo atraídos por “teorias”, mas precisamos entender que essas teorias nos ajudam bastante, pois buscam explicar e resolver problemas sob um determinado ângulo e sistematizar uma área de conhecimento. Daí, podemos utilizar mais facilmente essa solução sistematizada, compreende? Sendo assim, o que é uma teoria? Teoria é o conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou de uma ciência. Teoria é uma opinião sintetizada, é uma noção geral. Do grego theoria que no contexto his- tórico significava observar ou examinar. Com sua evolução o termo passou a designar o conjunto de ideias, base de 2 um determinado tema, que procura transmitir uma noção geral de alguns aspectos da realidade. (SIGNIFICADOS, 2018) Agora, para Moreira (2011, p. 12), Teoria de Aprendizagem é: [...] uma construção humana para interpretar sistematica- mente a área de conhecimento chamada de aprendizagem [...]. Tenta explicar o que é aprendizagem e porque funcio- na como funciona. Mas o que é aprendizagem? Quais os caminhos do aprender? Eles são iguais para todos? A aprendizagem humana é compreendida de diferentes maneiras, dependendo da corrente de pensamento. Como existe uma multipli- cidade de tipos de aprendizagem, é difícil chegarmos a uma definição universal de aprendizagem que satisfaça a abundância de teorias. Nunca é demais lembrar que as Teorias de Aprendizagem estudam: os papéis de professores e alunos; as especificidades dos conteúdos; os objetivos das aprendizagens; as interações entre os envolvidos no processo educativo; e as intervenções tecnológicas que podem contri- buir com a aprendizagem, considerando determinado ponto de vista, em um contexto histórico. A partir de agora, conversaremos sobre as principais concepções pedagógicas para que possamos entender melhor o que cada teoria considera importante no processo do ensinar e do apren- der. Começaremos pela Teoria de Aprendizagem Behaviorista. Teoria de Aprendizagem Behaviorista (Comportamentalista) A literatura indica que John B. Watson foi quem deu início ao Behaviorismo, para quem a psicologia deveria apresentar maior rigor na verificação concreta de hipóteses de comportamentos, controlados pelo processo de estímulo-resposta. De modo geral, o Behaviorismo (ou Comportamentalismo, como também é conhecido) entende que o ensino e a aprendizagem ocor- rem em resposta a determinados estímulos ambientais externos e re- 3 Teorias de AprendizagemUNIDADE sultam em comportamentos possíveis de serem observados, sem focar os processos internos mentais – e por isso não foram considera- dos aspectos como consciência, vontade, inteligência, emoção e me- mória, pois eram compreendidos como estados mentais ou subjetivos. RESPOSTA (Comportamentos a serem observados) ESTÍMULO REFORÇO (Positivo ou negativo) Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Para Skinner, um dos nomes mais expressivos dessa abordagem, o objetivo da aprendizagem por meio do Estímulo/Resposta/Reforço é aumentar a probabilidade de a resposta desejada ocorrer por meio de reforços. Então, quando um aluno recebe o estímulo adequado e apresenta uma resposta “certa”, ele recebe um reforço positivo; se a resposta estiver “errada”, recebe um reforço negativo. Todo comportamento traz uma consequência. Reforço: é quando um comportamento é fortalecido pela consequência que causou. O reforço positivo ocorre quando o comportamento tende a ser repetido ao trazer algo que satisfaça à necessidade da pessoa. Observe que, no reforço positivo, algo satisfatório é somado à situação. Veja um exemplo: uma garotinha disputa uma luta de judô com seu cole- guinha e realiza um golpe certo, fazendo seu professor dar a ela um entusiasmado “Parabéns!” (elogio). O reforço negativo ocorre quando o comportamento evita ou elimina alguma consequência desagradável ou estímulo aversivo presente ou futuro. Veja que, no reforço negativo, algo insatisfatório é retirado da situação. Por exemplo: Skinner dizia que a aprendizagem deveria ser uma experiência gratificante e, por isso, não concordava com a aprendizagem pelo erro, pois estudar por “tentativa e erro” é uma experiência desagradável e aversiva ao aluno – afinal, quem gos- ta de ficar errando sucessivas vezes? Estímulo aversivo: envolve algum tipo de desconforto ou desprazer físico ou psicológico. 4 Compreendamos melhor a questão do reforço. Observe o seguinte raciocínio: nossos comportamentos trazem consequências, essas con- sequências determinam a probabilidade de repetirmos ou não deter- minados comportamentos em situações parecidas. Skinner chamou isso de Comportamento Operante, que é um mecanismo de apren- dizagem de novos comportamentos, mecanismo chamado de modela- gem. O reforço é a principal ferramenta da modelagem. No Behaviorismo há também a preocupação em formular objeti- vos de aprendizagem mensuráveis, ou seja, os objetivos são definidos de forma que a aprendizagem possa ser medida pela mudança de comportamento observável que ocorre quando aprendemos. Os conteúdos, as atividades, metodologias e avaliações são elabo- rados com base nesses objetivos. Skinner apresentou uma proposta de ensino-aprendizagem media- da pela tecnologia, criando as “máquinas de ensinar” como meio de instrução programada para a aprendizagem ser alcançada. As máquinas de ensinar apresentavam exercícios de completar la- cunas. Dois espaços apareciam na máquina, um com a questão a ser resolvida e outro para o aluno preencher a resposta. Ao responder a questão, um mecanismo era acionado e imediatamente havia a indi- cação se a resposta estava certa ou não. As principais características da instrução programada são: apresentar o conteúdo em pequenas partes/seções, seguidas de uma atividade que oferece resposta imediata de acerto ou erro, para testar o aluno após o estudo de cada seção. A instrução programada leva ao estudo individual, com auxílio do professor; assim, o aluno progride em sua própria velocidade. Veja mais sobre o Behaviorismo acessando o link: https://goo.gl/s8JdHw Procure conhecer melhor Skinner, acesse o link: https://goo.gl/oMQGNi Bem, até aqui, vimos que o Behaviorismo (Comportamentalismo) estuda o comportamento sem considerar os processos relacionados à mente. Porém, outros psicólogos não concordavam muito com essa abordagem e passaram a inserir o estudo da mente nas análi- ses que buscavam compreender o comportamento humano. Assim, teve origem o Cognitivismo, sobre o qual estudaremos a seguir. 5 Teorias de AprendizagemUNIDADETeoria Cognitivista A Teoria Cognitivista não está satisfeita com o Behaviorismo, então, amplia aquelas ideias, incluindo os processos internos mentais no estu- do do comportamento. Os cognitivistas entendem que, quando recebe- mos um estímulo, antes de darmos uma resposta, o estímulo precisa ser processado pela mente, conforme nos mostra a Figura a seguir. ESTÍMULO RESPOSTA PROCESSO MENTAL Cognitivismo no processo Estímulo-Processo-Resposta Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Diferentemente dos behavioristas, os cognitivistas buscam desco- brir o que se passa “dentro” do cérebro humano e se preocupam em modelar os processos mentais da aprendizagem. Essa teoria realça o processo de cognição, pelo qual a pessoa dá significados à realidade à sua volta. A cognição é o processo de conhecer, a partir de vários tipos di- ferentes de processamento da informação. Envolve atenção, percep- ção, abstração, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. A cognição humana é a interpretação que o cérebro faz de to- das as informações apreendidas, bem como o processamento dessa interpretação para a internalizarmos. Na Teoria Cognitivista, a nossa mente é um processador de informação: recebe, compreende, inter- preta, transforma, armazena, recupera e utiliza informação quando dela necessita. Usando a analogia do computador, o Cognitivismo busca seguir o passo a passo das alterações da informação, da entrada à saída, e analisar o que a pessoa faz com a informação. A diferença é que as 6 pessoas não processam as informações à sua volta de modo passivo – como fazem os computadores. Além disso, as pessoas não conse- guem processar todas as entradas e saídas ao mesmo tempo. Com base nessa analogia, falando de um modo muito simplificado, a abordagem cognitivista estuda a relação entre estruturas cognitivas (men- tais) e novas informações. Agora, vamos conversar sobre um conceito fundamental da Teo- ria Cognitivista: a memória – tida, em linhas gerais, como o armaze- namento das informações. Esse armazenamento é explicado pelos cognitivistas em três tipos de memória: 1) a Memória Sensorial; 2) a Memória de Trabalho (me- mória de curto prazo); e 3) a Memória de Longo Prazo. 1. Memória sensorial – Capta informações pela retenção de alguns dos milhares de estímulos que recebemos (imagens, sons, movimentos cheiros, sabores etc.) pelos nossos senti- dos (ouvidos, nariz, boca, ouvidos etc.). São informações que duram pouquíssimo tempo (milissegundos); 2. Memória de curto prazo (ou memória de trabalho) – Após a decodificação das informações pela memória sensorial, a memória de curto prazo processa as informações captadas para dar respostas ou armazená-las. Não é possível manter muitas novas informações de uma só vez porque sua capaci- dade é limitada e são retidas por pouquíssimo tempo, sendo que alguns estudos indicam uma variação que se dá entre al- guns segundos e alguns minutos. Filatro (2015, p. 42) diz que a informação da memória de curto prazo “[...] se deteriora rapidamente (cerca de 20 segundos)”; 3. Memória de longo prazo – Recebe as informações da memória de curto prazo e as armazena para que possam ser recuperadas a qualquer momento. Pode durar muitos minutos, anos, ou uma vida inteira (tempo ilimitado), embora também tenha a capacida- de ilimitada de armazenamento das informações. Por exemplo: podemos recuperar várias memórias de nossa infância. O Cognitivismo evoluiu do paradigma inicial da mente como com- putador (processamento da informação) e passou a compreender o aluno como uma pessoa que processa as informações de maneira que lhe faça sentido e as relaciona com os conhecimentos que já possui. Agora que já entendemos as linhas gerais do Cognitivismo, ex- ploraremos as principais ideias dos representantes mais expressi- vos da Teoria Cognitivista: David Ausubel, Robert Gagné, Jerome S. Bruner e John Sweller (Teoria da Carga Cognitiva). 7 Teorias de AprendizagemUNIDADE Ausubel e a Teoria da Aprendizagem Significativa David Ausubel é considerado, por alguns estudiosos, como com- portamentalista; porém, para muitos outros, ele é cognitivista. A Aprendizagem Significativa é o conceito central de Ausubel. Para a aprendizagem significativa ocorrer, o assunto a ser apreendido precisa fazer algum sentido para quem estuda. Isso acontece quando a nova informação se fixa (ou se “ancora”) no conhecimento especí- fico relevante que já temos em nossa estrutura cognitiva. Ausubel chamou esse conhecimento de subsunçor. O subsunçor é uma proposição, um conceito, um conhecimento relevante que já está na estrutura cognitiva e que serve de “ancoradouro” para uma nova informação. Uma fala marcante de Ausubel nos diz muito sobre o seu pensamento: Se eu tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um único princípio, diria isto: o fator singular mais im- portante que influencia na aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece. Descubra o que ele sabe e baseie nis- so os seus ensinamentos. (AUSUBEL et al., 1980, p.137) Ausubel também nos diz que, diferentemente da aprendizagem sig- nificativa, há a aprendizagem mecânica, em que as novas informa- ções são apenas armazenadas, sem haver interação com os conheci- mentos anteriores. A aprendizagem mecânica ocorre quando um novo conhecimento é incorporado de forma arbitrária, isto é, quando o aluno “aprende” sem entender muito bem o sentido do assunto estudado. O aluno aprende do jeito que foi ensinado, sem haver uma interpretação pessoal. O novo conhecimento não se conecta a qualquer conhecimento re- levante preexistente; é, assim, um conhecimento isolado. Essa apren- dizagem ocorre mais pela memorização e há mesmo ocasiões em que precisamos memorizar algumas informações sem relacioná-las a outras ideias existentes. A aprendizagem mecânica pode ser necessária nos casos em que teremos um contato com um novo conhecimento do qual não sabe- mos nada ou sabemos pouco. Mas, conforme vamos aprofundando nossos estudos, poderemos formar subsunçores mais consistentes so- bre o assunto que pouco conhecíamos e possibilitar uma aprendiza- gem significativa. 8 Importante! Para Ausubel, aprendizagem signifi cativa e aprendizagem mecânica não são oposi- toras, e sim um continuum, pois ambas podem ocorrer simultaneamente. É possível ocorrer aprendizagem mecânica e aprendizagem signifi cativa em um mesmo episó- dio de aprendizagem. Importante! Conheça melhor Ausubel visitando o link: https://goo.gl/dceV7c A seguir, estudaremos mais sobre as aplicações de Gagné e como ele categorizou o processo de aprendizagem. Repare que, inicialmente, os estudos de Gagné compartilhavam mais dos enfoques behavioristas. Com o tempo, passou a incorporar as visões cognitivistas. Gagné fala em estímulos e respostas, que a aprendizagem deve ser visível (observável), mas considera tam- bém os processos internos da aprendizagem. Hierarquias de Aprendizagem de Gagné O processo de aprendizagem é realizado por fases lógicas, sequen- ciais e hierarquicamente bem definidas. Assim, as aprendizagens mais complexas devem ser realizadas a partir de aprendizagens mais simples, com base na definição de objetivos observáveis. A partir desses objetivos, os assuntos seguem do menos para o mais complexo. A aprendizagem ocorre quando a pessoa responde e recebe estí- mulos externos, interagindo com o meio ambiente, e daí há a mudan- ça de comportamento persistente. Houve aprendizagem ao compa- rarmos o desempenho do aluno antes e após passar por uma situação de aprendizagem. Outro ponto importante é que, para Gagné, a aprendizagem de- pende das condições internas e externas e das respectivas estratégias. E o que ele quer dizer com “condições de aprendizagem”? Bem, diferentes tipos de aprendizagem exigem diferentes condi- ções externas (eventos/situações estimuladoras) e internas (capacida- des internas do aluno) para que os resultados ocorram. 9 Teorias de AprendizagemUNIDADE Gagné nos diz oseguinte (1980, p. 3): “A fim de planejar eventos externos ao aluno que ativarão e manterão a aprendizagem, deve-se adquirir uma concepção do que ocorre “dentro da cabeça do aluno”. Para orientar as condições externas, esse autor criou os nove even- tos instrucionais, um processo de nove passos hierárquicos (sequen- ciais) para uma aprendizagem eficaz. Veja: 1. Ganhar a atenção – Pode ser obtido de diferentes modos: apresentar um problema de interesse imediato; fazer uma pergunta provocativa; mostrar um acontecimento interessan- te etc.; 2. Descrever os objetivos – Deixar evidente, para o aluno, o que aprenderá e como ele utilizará o novo conhecimen- to, indicando, também, conforme a necessidade, como essa aprendizagem será avaliada; 3. Estimular a conexão com o conhecimento anterior – Pela clareza da relação entre a nova informação e o conhe- cimento existente; 4. Apresentação de estímulos ao aprendiz – Materiais, tex- tos, gráficos, simulações etc., evitando a sobrecarga da me- mória, mantendo a coerência de estilo, entre outros aspectos; 5. Orientar a aprendizagem – Por meio de exemplos, repre- sentações gráficas, estudos de caso, material complementar, entre outros; 6. Favorecer o desempenho – Por meio da elaboração de si- tuações e pelo oferecimento das condições necessárias à apli- cação do novo conhecimento; 7. Emitir feedback – Imediatas observações do nível de acerto do aluno que aplicou o conhecimento. 8. Avaliar – O grau de assimilação do novo conhecimento, por meio de testes; 9. Aumentar a retenção e facilitar a transferência do co- nhecimento – Podem ser obtidos por meio de exercícios de aplicação. Aprendizagem por Descoberta, de Jerome Bruner Muitos consideram que Bruner compartilha suas ideias com pro- postas construtivistas, porém, a maior parte da literatura faz análises dos seus pensamentos pelos princípios cognitivistas. Seu principal le- gado foi a Aprendizagem pela Descoberta. E o que é isso? Bem, essa proposta diz que, quando ensinamos novos conceitos, devemos 10 utilizar uma abordagem voltada para a solução de problemas. Tam- bém propõe que o conteúdo seja dividido em partes que possam ser facilmente manipuladas/assimiladas pelo aluno. O método pela descoberta estimula o aluno a apresentar questões, a elaborar hipóteses e realizar experiências. Assim, o aluno interage com o mundo, explorando e manipulando objetos, discutindo aspectos divergentes, ou por meio da experiência. A estrutura cognitiva (esquemas, modelos mentais) fornece signi- ficado e organização para as experiências e permite ao indivíduo “ir além da informação dada” (descoberta). O desenvolvimento cognitivo (mental, no patamar do conhecimen- to) ocorre por três modos de representação pelo qual a informação é recebida. Para Bruner, o desenvolvimento intelectual é sequencial, indo da etapa enativa, passando pela icônica, até chegar à simbólica. Vejamos, a seguir, o significado de cada uma dessas representações. 1. Enativa (ou ativa): a informação é representada em termos de ações especificadas e habituais (caminhar, andar de bici- cleta). Por exemplo: se alguém perguntar a uma criança onde fica a sua escola, ela será capaz de levar a pessoa até lá; po- rém, é pouco provável que ela consiga fazer um mapa mais detalhado desse caminho; 2. Icônica: a informação é representada em termos de ima- gens. A imagem existe independentemente da ação; 3. Simbólica: a informação é apresentada sob a forma de um esquema eventual e abstrato. É possível representar o mundo por símbolos, sem uso da ação ou da imagem, traduzir expe- riências pela linguagem e receber mensagens verbais. Outro aspecto importante na aprendizagem em Bruner é a motiva- ção intrínseca. Ele reconhece que é importante haver recompensas externas no início de determinadas aprendizagens, porém, os efeitos da motivação extrínseca não são permanentes, e sim transitórios. Por isso, a motivação intrínseca é fundamental. Motivação intrínseca: As forças internas que nos predispõem e que nos movem para o desejo de aprender. Conheça melhor Bruner, visitando o link: https://goo.gl/wdKuXT 11 Teorias de AprendizagemUNIDADE Teoria da Carga Cognitiva (TCC), de Sweller A Teoria da Carga Cognitiva vem do campo da Ciência Cognitiva e tem sido muito utilizada na construção de materiais educacionais. Essa teoria teve seu início com estudos de John Sweller (1976), um psicó- logo australiano. Ele diz que o ser humano tem uma limitação natural para processar muitas informações na memória a cada momento. Se existe excesso de informação, nosso processo cognitivo faz um esforço maior e isso causa a sobrecarga cognitiva, o que restrin- ge a capacidade de aprender, compreende? Existem três tipos de carga cognitiva: 1. Carga cognitiva intrínseca – Ocorre pela complexidade do conteúdo e o nível de experiência do aluno; 2. Carga cognitiva relevante – Vem do trabalho mental exi- gido por atividades que desafiam o alcance do objetivo de aprendizagem; 3. Carga cognitiva irrelevante (ou extrínseca) – Carga des- necessária, que desperdiça recursos cognitivos que poderiam ser destinados à carga relevante. Por exemplo: excesso de informações redundantes; textos pouco claros; excesso de elementos visuais etc. A TCC pode ser aplicada a qualquer tipo de conteúdo e mídias, bem como a todos os aprendizes (TAROUCO, 2007). O Construtivismo de Piaget A abordagem Construtivista compõe uma das vertentes do Cogni- tivismo. Alguns estudiosos dizem que o Construtivismo virou “moda”, fazendo críticas por ser uma teoria complexa, sem muitas orientações claras quanto às práticas pedagógicas. Os estudos de Piaget tiveram muito foco no desenvolvimento infan- til e não tinham o propósito de formar uma nova metodologia peda- gógica, e sim desenvolver uma fundamentação teórica sobre como o conhecimento humano é construído. Ele não estudou especificamente a aprendizagem em ambiente esco- lar, mas, com o tempo, a área educacional foi se apropriando de vários de seus fundamentos, extrapolando a aplicação em crianças e, por isso, suas pesquisas são contribuições importantes para essa área. 12 Para Piaget, o conhecimento é produzido pela interação da pessoa com o seu meio e com base em experiências que essa pessoa já viveu. Isso significa que os sujeitos aprendem interagindo com aquilo que desejam compreender. Em termos bem gerais, o Construtivismo estuda o que é o saber e como ele se desenvolve. O conhecimento só se constrói e passa a exis- tir quando há a interação entre a pessoa e o ambiente (sujeito – meio). Agora observe, a seguir, a relação entre o Construtivismo e a aprendizagem: • Deve ser iniciada pelos fatos com os quais os alunos estão envol- vidos; • Deve levar o aluno a encontrar as respostas, com base em seus conhecimentos e da sua interação com a realidade e colegas; • Busca a construção do significado, e não as “respostas certas”; • O “erro” é fonte de aprendizagem; • O aluno não assimila o conteúdo passivamente, porque é um sujeito ativo da sua aprendizagem e reconstrói o conhecimento; • É um processo ativo e reflexivo que envolve o processo de desco- berta. O conhecimento é construído pelas experiências individu- ais e interações com o ambiente; • As partes são entendidas no contexto do todo, e não como frag- mentos isolados; • As interações sociais geram múltiplas perspectivas na aprendiza- gem. O aluno é um sujeito dinâmico e interpreta a nova experi- ência com base no seu conhecimento prévio. Para conhecer mais sobre o Construtivismo, visite: https://goo.gl/T5onRq Conheça melhor Piaget no link: https://goo.gl/DSnYez O Socioconstrutivismo de Vigotsky O Socioconstrutivismo é outra vertente do Cognitivismo. Originou- -se dos estudos do russo Lev Vigotsky, que fez várias pesquisas sobre o desenvolvimento da aprendizagem e o papel fundamental das rela- ções sociais nesse processo. 13 Teorias de AprendizagemUNIDADE Ele tinha interesse especial em estudar como a interação social in- terferiano desenvolvimento e na aprendizagem da pessoa. Para o so- cioconstrutivista, de fato, existe um conhecimento “do lado de fora”. Como assim? Bem, isso quer dizer que há um conhecimento na cultura, nas visões, nos modos de agir. Ou seja, as pessoas de uma mesma sociedade com- partilham hábitos, valores e entendimentos; porém, a pessoa, quando internaliza esses conhecimentos, faz reinterpretações porque tem uma história de vida que interfere na forma que ela vê as coisas. Pois é! Todos temos experiências próprias e, a partir delas, reinter- pretamos os conhecimentos que nos cercam. Entendeu? Para Vigotsky, a aprendizagem é uma construção que ocorre pela relação da pes- soa com o seu ambiente sociocultural e com o outro, tendo indivíduos mais ex- perientes para darem suporte. Essa relação promove o desenvolvimento, que é impulsionado pela linguagem. A interação social é fundamental para o desenvolvimento do conhecimento social, histórico e culturalmente construído. No processo ensino-aprendizagem, é preciso considerar as potencialidades do aluno. Agora observe, a seguir, a relação entre o Socioconstrutivismo e a aprendizagem: • É construída pela relação da pessoa com o seu ambiente socio- cultural, histórico e com o outro. Então, o aluno não é apenas sujeito ativo, mas também interativo ao constituir conhecimen- tos por meio de relações. • Os alunos aprendem tendo pessoas mais experientes para darem suporte e ajudarem nessa aprendizagem; • É mediada por meio de linguagens, signos e ferramentas. De todos os conceitos desenvolvidos por Vigotsky, o da Zona Proxi- mal de Desenvolvimento (ZPD) é o que mais tem influenciado práticas e pesquisas educacionais. Não se assuste! Esse é um nome complicado, mas a ideia é um pouco mais simples. Veja a explicação na Figura 4, a seguir. 14 Capacidade Potencial Evidenciada pela solução de problemas sob a orientação de outra pessoa mais experiente. ZDP A Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre a capacidade potencial e a capacidade real. Distância Capacidade Real Evidenciada pela capacidade de solucionar problemas que realizamos sem a intervenção de outra pessoa (de forma independente) Zona de Desenvolvimento Proximal Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Conheça melhor Vigotsky pelo link: https://goo.gl/Cb9LBP Compreenda melhor o Socioconstrutivismo no link a seguir:https://goo.gl/SR9QCi Já estudamos muita coisa sobre as teorias de aprendizagem, não é mesmo? Até aqui, conversamos sobre o Behaviorismo e as diversas vertentes do Cognitivismo. Vamos agora à Andragogia, teoria que está mais ligada à educação de adultos e como estes possuem uma interação distinta em relação à aprendizagem. Teoria Andragógica Andragogia significa ciência da educação de adultos e tem como principais suportes teóricos os pesquisadores americanos Eduard C. Lindeman e Malcolm Knowles – esse último estruturou o Modelo An- dragógico de educação. Daí por diante, muitos educadores passaram a se dedicar ao tema, surgindo muitas pesquisas sobre o assunto. Knowles construiu esse modelo por achar que o modelo pedagógi- co não era apropriado para ser aplicado na aprendizagem do adulto, isso porque o aprendiz adulto interagia de forma diferente da criança na relação educacional. 15 Teorias de AprendizagemUNIDADE Para entender melhor, vejamos os seis princípios da educação do aluno adulto que precisam ser levados em conta em qualquer desenho de uma ação educacional: 1. Necessidade de saber o motivo daquele estudo – O que e por que preciso aprender isso? Como aprendo isso? Quais as razões desse estudo? A aprendizagem precisa fazer sentido para o adulto; 2. Autoconceito – Tem necessidade de dirigir a si mesmo e de ser percebido como autodiretivo; 3. Experiência – O adulto já tem uma experiência de vida, já fez escolhas e sofreu as consequências das suas ações. Aprendeu com os seus erros e acertos. Então, é preciso considerar sua “bagagem de viagem” nas soluções educacionais; 4. Estado de prontidão para aprender – Adultos se sentem mais preparados para aprender temas que se relacionam com sua realidade; 5. Aplicação prática – Acentua-se a importância da experi- ência no aprendizado e o sentido de aplicar o que apren- deu é muito forte. Adultos tendem a valorizar aprendizagens que os auxiliem a solucionar problemas cotidianos e assimi- lam mais facilmente aprendizagens contextualizadas; 6. Motivação – Quando entendem as vantagens e os benefícios de um aprendizado e as consequências negativas de seu des- conhecimento, sentem-se motivados a aprender. Portanto, adultos são mais motivados a aprender por princípios inter- nos a eles. Mas observe: com a idade, crescem as diferenças individuais entre pessoas; então, a educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo, tempo, lugar e ritmo de aprendizagem. A Andragogia vem se consolidando não só na educação escolar formal, a educação corporativa de muitas organizações já vem uti- lizando os princípios andragógicos como base para muitos de seus programas de desenvolvimento profissional. Quer saber mais sobre a Andragogia? Navegue pelo site: https://goo.gl/H1QJSX Será muito proveitoso você ver o vídeo Andragogia no link: https://youtu.be/8I_0jXipUcI 16 A última teoria que veremos antes de partir para o próximo con- teúdo é a Heutagógica. Na nossa recente mudança de pensamen- tos sobre sociedade e aprendizagem, a heutagogia se torna uma opção interessante, que visa ao autoaprendizado e como ele está relacionado com as demais teorias e estilos de aprendizagem. Teoria Heutagógica A nomenclatura Heutagogia foi criada por Stewart Hase e Chris Kenyon, em 2000. Para eles, a Heutagogia amplia o entendimento da Andragogia ao reconhecer que as vivências do dia a dia podem ser um guia e uma for- ma de automotivação da aprendizagem com foco nas experiências. Nessa abordagem, a autonomia e a liberdade do aprendente adulto pos- sibilitam a ele autodeterminar e autodirigir sua aprendizagem. Ele busca desenvolver conhecimento de modo mais independente, em seu ritmo. Batista (2011, p. 32) explica que a Heutagogia é o método pelo qual o aluno define “[...] o quê, como e quando aprender”. Assim, percebe- mos que o aprendiz assume a responsabilidade da escolha do método e do conteúdo, de acordo com os próprios objetivos. Sobre o tema, em acordo com Hase e Kenyon (id), Almeida (2003, p. 105) nos diz o seguinte: O conceito de heutagogia (heuta – auto, próprio – e agogus – guiar) surge com o estudo da autoaprendizagem na perspecti- va do conhecimento compartilhado. Trata-se de um conceito que expande a concepção de andragogia ao reconhecer as experiências cotidianas como fonte de saber e incorpora a autodireção da aprendizagem com foco nas experiências. Estamos quase finalizando nossos estudos acerca das teorias de aprendizagem. Porém, antes de concluirmos, precisamos muito refletir sobre um ponto importante: Será que apenas uma teoria dá conta das questões desafiado- ras educacionais e pode se tornar base única das propostas pedagógicas? Observe que, quando estudamos as teorias de aprendizagem, enxergamos um pouco de cada situação educacional e de cada aluno; e um pouco de cada um de nós. Claro, muitas vezes, encontramos comportamentos dos alunos diante do conhecimento sem muita explicação e, mais frequen- temente ainda, encontramos dificuldades para entender a teoria aplicada à prática pedagógica. Daí a nossa tendência é nos agarrarmos a uma concepção pedagógica como se fosse a nossa tábua de salvação. 17 Teorias de AprendizagemUNIDADE Mas não podemos ver as teorias da aprendizagem como modelos isolados, fi xos e engessados. A teoria e a experiência têm levado educadores e designers educacionais a mesclarem aspectos de teorias da aprendizagem e a se apropriarem daquilo que cada uma delas tem de melhor para oferecer. Por isso, as teorias de aprendizagem não devem ser utilizadas como leis ou re- ceitas, e sim como norteadoras de propostaspedagógicas, planejamentos educa- cionais, elaboração de cursos e de materiais didáticos. A seguir, apresentamos uma síntese dos principais pontos que estudamos até este momento: Ao estudarmos a Teoria Behaviorista, vimos que o enfoque da aprendizagem está no comportamento que ocorre pelo estímu- lo-resposta-reforço e que pode ser descrito, explicado, medido, observado quantitativamente sem se levar em conta os proces- sos internos que podem ocorrer dentro da mente, tendo o aluno uma atuação mais passiva. Seguindo para a Teoria Cognitivista, verificamos que a preocu- pação dessa concepção está na inclusão do processamento que a mente faz das informações. Essa abordagem estuda a relação entre as novas informações e os conhecimentos que já existem na estrutura cognitiva (ancoragem). Estudando as vertentes cognitivistas, visitamos a Aprendizagem Significativa (Ausubel); as Aprendizagens Hierárquicas (Gagné); a Aprendizagem por Descoberta (Bruner); a Teoria da Carga Cogni- tiva (Sweller); a Concepção Construtivista e a Socioconstrutivista. Na Concepção Construtivista (Piaget), entendemos que a apren- dizagem ocorre na construção de significados e na interação entre o sujeito e o meio. Por isso, o aluno não absorve passiva- mente conteúdos e é sujeito ativo. Não existe a busca por “res- postas certas” e o “erro” também faz parte da aprendizagem. Compreendemos ainda os principais pensamentos da Concep- ção Socioconstrutivista (Vigotsky), que enfoca a aprendizagem como uma construção pela relação da pessoa com o seu ambien- te sociocultural, histórico e com o outro, sendo o aluno sujeito ativo e interativo. Descrevemos o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), definida por Vigotsky como a distância entre a capa- cidade potencial (capacidade de solucionar problemas com a intervenção de outra pessoa) e a capacidade real (capacidade de solucionar problemas sem a intervenção de outra pessoa). Exploramos a Teoria Andragógica, que se concentra em enten- der como os adultos aprendem, destacando os seis princípios da educação do aluno adulto: 1) Necessidade de saber o motivo daquele estudo; 2) Autoconceito; 3) Experiência; 4) Estado de prontidão para aprender; 5) Aplicação prática; e 6) Motivação. 18 Finalizando, estudamos a Heutagogia, um conceito mais recen- te (cunhado no ano de 2000), que amplia a visão Andragógica diante da autonomia e da autodireção do aluno adulto em responsabilizar-se pelo que, por que e como aprender, com foco nas experiências. Concluindo, verificamos que as teorias de aprendizagem não devem ser tomadas como um modelo fechado a ser incorporado em nossas ações, e sim como guias de concepções que orientam as construções educacionais que realizamos. 19 Teorias de AprendizagemUNIDADE Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Epistemologia genética PIAGET, J. Epistemologia genética. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil ARANHA, M. L. A. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2008. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Aprendizagem significativa MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora da UnB, 2006. Vídeos Condicionamento Operante Skinner https://youtu.be/-uTLlq_WBbs Videoaula - Teorias da aprendizagem https://youtu.be/k7D3GGfZUbU Conheça a Memória de Trabalho https://youtu.be/rjQk7njrZ3Y Jerome Bruner – Teoria De Ensino – Construtivismo https://youtu.be/HxMyLcGMrZA Andragogia https://youtu.be/8I_0jXipUcI Leitura Modelo 70 20 10 e o microlearning: alternativas para problemas modernos na educação corporativa https://goo.gl/aBNzGo Andragogia e Heutagogia: práticas emergentes na educação https://goo.gl/jRSC6A Pedagogia e andragogia na construção da educação de jovens e adultos https://goo.gl/mnhhUW Teorias Contemporâneas da Aprendizagem https://goo.gl/JxeEG1 20 Referências ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. As teorias principais da andragogia e heutagogia. In: LITTO, Frederic M.; FORMIGA, Marcos (org.). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education, 2008. p. 105-111. AMIDANI, Cassandra. Curso Produção de Material Impresso para EaD. Brasília: SaberEaD, 2017. BAPTISTA, Maria da Nazaré Mesquita Martins dos Santos. Poiésis. Tubarão, v. 4, n. 7, p. 145-155, jan./jun. 2011. AUSUBEL, D. P. The psychology of meaningful verbal learning. New York: Grune and Stratton, 1963. AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia educa- cional. Rio de Janeiro: Interamericana , 1980. AUSUBEL, D. P.; NOVAK, H. Psicología Educativa: un punto de vista cognoscitivo. 2. ed. México: TRILLAS, 1983. BECKER, F. O que é o construtivismo? Ideias, n. 20. São Paulo: FDE, 1994. p. 87-93. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov. br/pdf/ideias_20_p087- 093_c.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2018. BRANDOLI, F.; NIEMANN, F. Jean Piaget: um aporte teórico para o construtivismo e suas contribuições para o processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa e da Matemática. IX ANPED SUL. Seminário de Pesquisa em Educação Região Sul. 2012. Dispo- nível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anped- sul/9anpedsul/paper/viewFile/770/71>. Acesso em: 3 abr. 2018. BRUNER, Jerome. A cultura da educação. Porto Alegre: Artmed, 2001. CAIRO, Sabrina; FILATRO, Andrea. Produção de conteúdos edu- cacionais. São Paulo: Saraiva, 2015. FILATRO, Andrea. Design Instrucional Contextualizado: educação e tecnologia. 2. ed. São Paulo: Senac, 2007. GAGNÉ, R. M. Princípios essenciais da aprendizagem para o en- sino. Porto Alegre: Editora Globo, 1980. HASE, Stewart; KENYON, Chris. From Andragogy to Heutagogy. Melbourne, Austrália: Southern Cross University, 2000. Disponí- vel em: <http://pandora.nla.gov.au/nph-wb/20010220130000/ http://ultibase.rmit.edu.au/Articles/dec00/hase2.htm>. Acesso em: maio 2017. 21 Teorias de AprendizagemUNIDADE KNOWLES, Malcolm S. The adult learner. USA: Gulf Publishing, 1990. LEFRANÇOIS, G. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2012. MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 2011. SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003. _______. Tecnologia do ensino. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1972. SANTOS, Leila Maria Araújo Santos; TAROUCO, Liane Margarida Rockenbach. A importância do estudo da Teoria da Carga Cognitiva em Educação Tecnológica. Novas Tecnologias da Informação, CIN- TED, v. 5, n. 1, jul. 2007. 22 Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rita Maria Lino Tarcia Prof. Me. Geni Souza Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Cesarin Funções Cognitivas e estilos de aprendizagem 2 Funções Cognitivas e estilos de aprendizagem Funções Cognitivas e Estilos de AprendizagemUNIDADE Vamos continuar nossos estudos entendendo mais sobre as fun- ções cognitivas e sobre os estilos de aprendizagem já teorizados. Neste conteúdo, é importante complementar as teorias de apren- dizagem já aprendidas com os estilos a serem estudados e, assim, criar novos tipos de trilha de estudo e avaliações aos alunos. Funções Cognitivas e Estilos de Aprendizagem O estudo das funções cognitivas de retomada e reconstrução de significados se dá em função da nova realidade que se coloca com a existência e acesso ao ciberespaço. Sabe-se que os fenômenos cognitivos dependem dos mecanismos cerebrais, assim como o tratamento da informação por um programa informático depende dos circuitos eletrônicos de um computador. Nesse sentido, as Ciências Cognitivas preocupam-se em entender a forma como se dá a apropriação do conhecimento pelos indivíduos. Fonte: iStock/Getty Images Entende-se por Ciências Cognitivas, segundo Michel Imbert (1998,p. 55): “O estudo da inteligência, sobretudo inteligência hu- mana, da sua estrutura formal ao seu substrato biológico, passando por sua modelização, até as suas expressões psicológicas, linguísticas e antropológicas”. Logo, o estudo da inteligência humana vai desde sua estrutura for- mal e biológica até suas expressões psicológicas, antropológicas e lin- guísticas, portanto, só pode ser compreendida a partir de uma inter- -relação entre Ciências que estudam o cérebro, tais como a Psicologia, a Informática, a Antropologia, a Linguística e a Filosofia, entre outras. 2 Com essa definição, estamos novamente diante do problema de desvendar como nossas funções cognitivas são afetadas (e afetam) pelas novas representações da informação – e até mesmo da pesquisa – que a tecnologia nos proporciona. Importante! Todavia, não é suficiente saber do desenvolvimento das funções cognitivas do pas- sado, tampouco analisá-las com os mesmos instrumentos, mesmos conhecimentos e mesmas hipóteses. A memória, a imaginação, o raciocínio, a percepção e a compreensão deverão ser novamente estruturadas, a fim de poderem interpretar e recriar os novos fenômenos do conhecimento. Importante! Diante de funções cognitivas cada vez mais complexas, o ser hu- mano procura novos estilos de aprendizagem (learning styles). Isto é, Estilo de Aprendizagem é um método que uma pessoa usa para adquirir conhecimento. Cada indivíduo aprende do seu modo pessoal e único. Um Estilo de Aprendizagem não é o que a pessoa aprende, e sim o modo como ela se comporta durante o aprendizado. Vamos lembrar que os Estilos de Aprendizagem ajudam a expli- car as diferentes maneiras de se aprender a mesma coisa. Por exem- plo, uma criança pode aprender a dizer todo o alfabeto: • Após ler um livro de alfabetização; • Brincando com blocos de construção que tenham letras; • Cantando músicas como a Canção do ABC. Atualmente, existem pelo menos Sete Estilos de Aprendizagem identificados: 1. Físico (indivíduo que usa muito a expressão corporal); 2. Interpessoal (indivíduo extrovertido); 3. Intrapessoal (indivíduo introspectivo); 4. Linguístico (aqueles que se expressam melhor com palavras); 5. Matemático (os que usam mais o pensamento/raciocínio lógico); 6. Musical (interessam- se mais por sons e música); 7. Visual (exploram mais o aspecto visual das coisas). Tais estilos possuem o aporte teórico na teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, sintetizada a seguir. 3 Funções Cognitivas e Estilos de AprendizagemUNIDADE A teoria desenvolvida por Gardner sugere a existência de pelo menos 8 inteligên- cias distintas, isto é, 8 distintas maneiras de perceber e “conhecer” o mundo e de as pessoas resolverem os problemas que surgem, correspondendo, de alguma forma, a 8 estilos de aprendizagem. Gardner define “Inteligência” como um conjunto de competências que: • É autônomo das outras capacidades humanas; • Tem um núcleo base de operações de “processamento de informação”; • Tem uma história diferenciada de desenvolvimento (estágios de desenvolvi- mento por que todas as pessoas passam); • Tem raízes prováveis na evolução filogenética e pode ser codificada num sistema de símbolos. As oito inteligências identificadas por Gardner são: • Verbal/Linguística: Habilidade para “brincar com as palavras”, contar histórias, ler e escrever. A pessoa com este estilo de aprendizagem tem facilidade em re- cordar nomes, lugares, datas e coisas semelhantes; • Lógica/Matemática: Capacidade para “brincar com as questões”, para o raci- ocínio e pensamento indutivo e dedutivo, para o uso de números e resolução de problemas matemáticos e lógicos; • Visual/Espacial: Habilidade para visualizar objetos e dimensões espaciais, para criar “imagens” internas. Esse tipo de pessoa adora desenhar, pintar, visitar ex- posições, visualizar , vídeos e filmes; • Somato/Quinestésica: Conhecimento do corpo e habilidade para controlar os movimentos corporais. As pessoas com este “tipo de inteligência” movem-se en- quanto falam, usam o corpo para expressar as suas ideias, gostam de dançar, de praticar desportos e outras atividades motoras; • Musical/Rítmica: Habilidade para reconhecer sons e ritmos; tratam-se de pessoas que gostam de ouvir música, de cantar e até de tocar algum instrumento musical; • Interpessoal: Capacidade de relacionamento interpessoal. São pessoas que es- tão sempre rodeadas de amigos e gostam de conviver; • Intrapessoal: Autorreflexão, metacognição e consciência das realidades espirit- uais. São pessoas que preferem “estar só” e são pouco dadas a convívio; • Naturalista: Alta sensibilidade para as questões ambientais. São pessoas com elevado interesse pelas ciências da natureza e particular dom para lidar com plantas e animais. De acordo com os estudos de Gardner e outros pesquisadores da Pedagogia moderna, as pessoas são dotadas de múltiplas inteligên- cias, e não apenas uma única. Cada pessoa desenvolve mais de um tipo de inteligência, conforme sua capacidade e formação. Algumas inteligências já fazem parte da natureza humana; outras são adquiridas pelos meios em que se vive, por exemplo, a escola e a família. 4 Conhecendo o Estilo de Aprendizagem de seus alunos, os for- madores poderão criar procedimentos educacionais que serão mais personalizados, mais motivantes e significativos no que diz respeito à eficácia, tendo resultados muito melhores. Os adultos adquirem conhecimento e absorvem o que aprende- ram quando aquele assunto ou habilidade em jogo lhes é ensi- nado de modo que há empatia entre eles e o tema abordado. Descobrir o Estilo de Aprendizagem do estudante é descobrir como lhe ensinar com mais eficiência e resultados. Conceitos importantes do sistema educativo convencional, como o de avaliação individual, avaliação da prática docente e atenção à diver- sidade podem e devem ter apoio conceitual e metodológico importan- te na avaliação e conhecimento das diferentes maneiras de aprender que os sujeitos possuem. Esse conhecimento permitirá adequar a programação docente aos estilos dos alunos em alguns casos e, em outros, a ajustar a programa- ção para melhorar aqueles estilos em que são mais deficitários, assim como auxiliar o professor a diversificar seu estilo de ensinar. O conhecimento da existência de diferentes inteligências e estilos de aprendizagem gera discussão mais ampla que envolve, além da revisão de conceitos, a criação e adaptação de recursos didáticos e metodologias de ensino que valorizem as características individuais dos alunos. O desenvolvimento de novas tecnologias, de modo espe- cial as TICs, acaba favorecendo esse processo de criação e adaptação. As TICs são facilitadoras do acesso e armazenamento de dados e da informação, permitindo a criação do conhecimento, que também é adquirido mediante o compartilhamento de ideias, diálogos com grupos de especialistas, numa relação de troca pessoa a pessoa ou mediante a existência de documentos e rotinas nas instituições educacionais. A informação em ambiência virtual possibilita o desenvolvimento de pesquisas personalizadas, interativas e amigáveis, promovendo o acesso e o uso da informação multimídia e a redução de barreiras físi- cas e temporais à construção do conhecimento. A Sociedade da Informação e do conhecimento acaba por gerar novos instrumentos e sistemas de aprendizagem, favorecendo: • Pró-atividade das pessoas; • Modelos mentais; • Visão sistêmica; • Trabalho em equipe e rede; 5 Funções Cognitivas e Estilos de AprendizagemUNIDADE • Elaboração de visões compartilhadas; • Capacidade de aprender com a experiência; • Desenvolvimento de criatividade; • Desenvolvimento de mecanismos de geração e difusão do conhe- cimento; • Mecanismos de busca da informação e de captação do conheci- mento preexistente; • Desenvolvimento de mecanismos de aprendizagem nos erros e acertos de experiências anteriores. Diante dessa nova realidade que as novas tecnologias proporcio- nam, acreditamosser possível melhora considerável no processo edu- cativo como um todo, seja ele na modalidade presencial ou a distân- cia, e mais eficaz no caso de alunos portadores de deficiência física. Existem experimentos sendo realizados com alunos portadores de deficiência auditiva ou visual por meio do uso de TICs e recursos educacionais que valorizam os estilos de aprendizagem de tais alunos. Estamos vivendo um novo mundo, repleto de possibilidades que, em muitos casos, apenas eram pensadas no passado, nos filmes de ficção científica. Complementando o assunto abordado, deixo como sugestão o vídeo: Estilos de Aprendizagem, disponível em: http://goo.gl/eeKZWv Chegamos ao final deste tópico! Não deixe de pesquisar mais sobre o assunto, pois esse tema te ajudará bastante em suas práticas docentes. Vamos para o terceiro e último tópico desta fase: Neurociências e Processos Sensoriais 6 Referências ESTILOS de aprendizagem. Disponível em: <http://www.youtu- be.com/watch?v=cqxuVY6P9PM&feature=related> Acesso em: 14 jan.2016. KNOWLES, Malcolm. The Adult Learner: The Definitive Classic in Adult Education and Human Resource Development. 5 ed. Texas: Gulf Publishing Company/Houston, 1977. MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1992. 382 p. 7 Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Mara Sampaio Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin NeurociêNcias e Processos seNsoriais 3 NeurociêNcias e Processos seNsoriais Neurociências e Processos SensoriaisUNIDADE Contextualização O que de fato é importante para sermos bons alunos e bons traba- lhadores? Para iniciar esta Unidade, convidamos você a assistir ao vídeo de animação: ALIKE. Com duração de 8 minutos, é sobre a vida de um pai ensinando seu fi lho a ser um bom aluno e a se adaptar ao mundo da escola e do trabalho. Disponível em: https://youtu.be/UATPH44jRSw Há muitas gerações temos educado nossos filhos e alunos para o mesmo padrão de comportamento sobre o que é ser um adulto feliz. Será que os métodos ainda são válidos? Depois de assistir ao vídeo, reflita sobre: O que precisamos apren- der para educar nossos jovens para serem produtivos e felizes no sé- culo 21? Você deve estar se perguntando o que Filosofia tem a ver com a Neurociência, correto? Sabia que foi a Filosofia, seguida da Medi- cina e da Psicologia, que criou estudos, teorias e evidências sobre a influência da atividade cerebral no comportamento humano? O funcionamento do cérebro e da mente sempre inquietou a humanidade, e é isso que estudaremos um pouco mais nesta etapa de seus estudos. Além de breve introdução à neurociên- cia, veremos como a memória e o aprendizado estão ligados. Introdução à Neurociência O objetivo da Neurociência é compreender como o sistema nervo- so funciona. Os registros de atividades percebidas externamente e a análise in- terna da própria cabeça produziram descobertas importantes sobre a capacidade e a limitação da função encefálica. A palavra “Neurociê ncia” é nova. Foi só em 1970 que a Society for Neuroscience foi criada para associar neurocientistas profissionais. A origem profissional dos neurocientistas que se especializaram na compreensão do sistema nervoso é de diferentes áreas científicas: Medicina, Psicologia, Química, Biologia, Física e Matemática. 2 Foi o enfoque multidisciplinar que acelerou o desenvolvimento da Neurociência. Diferentes abordagens, cada uma com seu ponto de vista de como funciona o encéfalo, contribuíram para a produção de novos conhecimentos e uma nova perspectiva científica. Durante os últimos cem anos, aprendeu-se mais sobre as funções do encéfalo do que todo o período anterior da história das Ciências. Os gregos do século IV a.C. já acreditavam que encéfalo não ape- nas estava envolvido nas sensações, mas também era responsável pela inteligência, como preconizava Hipócrates (460-379 a.C.), o pai da Medicina ocidental. Dos antigos romanos até o século XVIII, acreditava-se que o cérebro funcionava por intermédio de espíritos, que se originavam dentro do organismo, e que os nervos eram canais por onde a substância espi- ritual se movia no corpo, sob o comando cerebral. Foi em 1753 que surgiu o novo conceito de que os nervos eram como “fios” que con- duzem sinais elétricos entre o corpo e o encéfalo. Contribuiu também, para a evolução do conhecimento, o surgi- mento da Teoria Celular proposta pelo zoólogo alemão Theodor Schwann, em 1839, que defendia que todos os tecidos são compos- tos por unidades microscópicas: as células. E foi em 1900 que a célula nervosa que chamamos de neurônio foi reconhecida como a unidade funcional básica do sistema nervoso (BEAR, 2017). Esse conjunto de estudos contribuiu para a sólida fundamentação sobre a qual se baseiam as Neurociências atuais. Compreender como o encéfalo funciona ain- da é um grande desafio para os estudiosos. Atu- almente, para atender a complexidade das pes- quisas necessárias, a Neurociência define seus experimentos em diferentes níveis de análises, como molecular, celular, de sistemas, compor- tamental e cognitivo. A combinação das novas técnicas de ima- geamento funcional com a técnica mais antiga de avaliação clínica de pacientes neurológicos possibilitou, recentemente, dois grandes avan- ços relacionados um ao outro: a elaboração de hipóteses testáveis sobre a geração de emoções e da consciência gerada pelo cérebro. Para Antônio Damásio, neurologista da Universidade de Iowa, nos EUA, que desenvolve esses estudos, a emoção não é uma abstração Fonte: Getty Images 3 Neurociências e Processos SensoriaisUNIDADE mental, mas um processo que nasce da interação entre o corpo e o cérebro. Para ele, ter conhecimento dos próprios sentimentos é extra- ordinariamente valioso para a orquestração da sobrevivência humana. Agora que já entendemos o que é a Neurociência e para que a utilizaremos, vamos entender por que memória e aprendizagem fazem parte desse universo e como podemos implantar esse co- nhecimento com tudo o que aprendemos nesta disciplina. Memória e Aprendizagem A memória é uma função mental em que a informação fica retida. Ela abre caminhos para a aprendizagem, pois é por meio dela que os conhecimentos se consolidam. A memória pode ser definida como o processo cognitivo que inclui, consolida e recupera toda a informação que aprendemos. É um sistema de armazenagem que possibilita a retenção da infor- mação aprendida e permite evocar essa mesma informação, isto é, permite a lembrança de informação retida anteriormente. Por exem- plo, para ler este texto, o leitor precisa utilizar a memória das palavras aprendidas anteriormente, interpretar o conjunto de palavras para adquirir novos conhecimentos ou evocar essas informações que já haviam sido aprendidas em outra oportunidade e já estão registradas na memória. Fonte: Getty Images Segundo Kandel (2014), neurocientista, prêmio Nobel de Medici- na em 2000 por suas pesquisas sobre a memória, um dos grandes achados para a Neurociência é o entendimento de que a unidade ele- mentar do armazenamento da memória está na conexão entre dois 4 neurônios, isto é, as memórias são proteínas nas sinapses. Elas estão na comunicação entre os neurônios e nos circuitos de que essas sinap- ses fazem parte. Cada vez que aprendemos algo, formam-se novas ligações entre os neurônios. Essas novas sinapses induzem a produção de novas prote- ínas, suprimindo outras. O aprendizado refere-se a uma mudança no comportamento que resulta da aquisição de conhecimento acerca do mundo, e a memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado, armazenado e posteriormente evocado. O aprendizado e a memória são essenciais para o pleno funcio- namento e a sobrevivência independente de pessoas e dos animais (KANDEL, 2014). Regiões cerebrais dos diferentes tipos de memória: http://bit.ly/37kxv7Z Tipos de Memória O conhecimentoque se tem sobre a Memória foi consolidado por meio de casos clínicos. Em meados do século 20, pôde ser comprova- do que lesões no lobo temporal (lobo temporal medial) tornavam pa- cientes incapazes de armazenar novas informações, mas preservava as lembranças antigas. O caso mais conhecido foi do paciente H. M., na década de 1950, que foi acompanhado por mais de 40 anos. Estudo de Caso H. M., então com 27 anos, tinha um quadro grave de epilepsia, que inviabilizava sua vida profissional. Ele procurou um famoso neurocirurgião, que fez remoção completa e bilateral do hipocampo. Os quadros de epilepsia melhoraram, mas sur- giu outro problema: ele conseguia se lembrar de tudo o que ele tinha vivido até a cirurgia e não era capaz de formar novas memórias. O paciente H. M. é um caso histórico, e sua deficiência ajudou em descobertas importantes, como: • O hipocampo é uma estrutura importante para a formação de novas memórias; • Existem diferentes tipos de memória e nem todos os tipos dependem do hipocampo; • As memórias não ficam armazenadas no hipocampo. 5 Neurociências e Processos SensoriaisUNIDADE A memória pode ser classificada de formas diferentes e interliga- das. Pode ser pelo tempo de armazenamento: curta duração e longa duração, e pela natureza da informação: declarativa (explícita) e não declarativa (implícita). MEMÓRIA TEMPO DE ARMAZENAMENTO NATUREZA DA INFORMAÇÃO CURTO PRAZO LONGO PRAZO DECLARATIVAEXPLÍCITA NÃO DECLARATIVA IMPLÍCITA O início da formação das memórias se dá na fase conhecida como aquisição, que é a chegada das informações como estímulo aos siste- mas sensoriais (visual, tátil, auditivo, olfativo e gustativo). Considerando o tempo de armazenamento após a aquisição, a memória pode ser de curta duração, que dura, em geral, de 30 mi- nutos a 6 horas e necessita de processos breves no hipocampo e no córtex entorrinal. É, por exemplo, o tempo em que foi memorizado o número de telefone para fazer uma ligação a uma loja para consultar o preço de um produto e o endereço para buscá-lo, ou pode ser memória de lon- ga duração, que dura muitas horas, dias, anos, cuja formação requer uma sequência longa de atividades moleculares no campo da amígdala e outras áreas do cérebro. Esse processo de formação é demorado e pode sofrer influências tanto do ambiente interno quanto do ambiente externo. Por exemplo, saber o nome de seu chefe, lembranças de seus professores e da es- cola que frequentou na infância. A memória de curto prazo, também chamada de memória de tra- balho, é mantida por um sistema de repetição verbal (alça fonológica) e visual (esboço visoespacial). É essa memória que mantém as pessoas presentes numa conversa, que possibilita fazer a leitura de um livro mantendo a história on-line na cabeça, sem precisar se lembrar de todas as palavras que foram usadas; permite seguir instruções, ajuda no planejamento, na interação social e na atuação em uma cena. Com relação à natureza da informação, os tipos de memórias po- dem ser: • Declarativa: para fatos e eventos, experiências vividas. Esta me- mória é consciente e pode ser evocada e declarada por meio das 6 palavras (verbal e escrita). É também chamada de memória explíci- ta. Ela é considerada episódica. É a memória autobiográfica, quan- do envolve histórias com data, por exemplo, ida do homem à lua; e a semântica, que é memória de conceitos e significados atemporais para entender, por exemplo, que o Papa vive no Vaticano; • Não declarativa: é a memória de procedimentos e habilidades, como dirigir um carro ou andar de bicicleta; não precisa ser de- clarada. Nesses circuitos, temos a participação do estriado e do cerebelo. Consolida-se com a prática e de forma inconsciente; memoriza pela repetição, e novas habilidades motoras, cognitivas ou de percepção são aprendidas desta forma. Não existe um local específico no encéfalo para as memórias. O lobo temporal contém o hipocampo, que é a região significativamente en- volvida com a memória a longo prazo. O armazenamento é distribuído em diversas regiões encefálicas e é acessado de forma independente quando necessário. Isto é, não existe a memória de um pavão inteiro e total. A forma, as cores, conceito de ave e outros elementos são itens separados e acionados quando precisavam formar a lembrança do que é um pavão. As informações são organizadas sob a forma de redes. De- terminado estímulo ou pista trará à consciência os registros necessários e outros registros em redes relacionadas (COSENZA, 2011). A memória declarativa é mediada por quatro tipos de processamento: 1. Codificação: o processo pelo qual novas informações são obser- vadas e conectadas com informações já existentes na memória, para serem bem lembradas; 2. Armazenamento: mecanismos e locais neurais que promovem a retenção da memória ao longo do tempo. Não existe limite para a quantidade de informação; 3. Consolidação: é o processo que faz a informação armazenada temporariamente ficar mais estável; 4. Evocação: processo construído para trazer novamente à mente diferentes tipos de informação, armazenados em diferentes lugares no encéfalo. A memória não declarativa é formada por diferentes processos: • Memória de procedimento: refere-se às habilidades e aos hábi- tos que não precisam ser verbalizados ao serem realizados (amar- rar sapatos, dirigir e nadar, entre outros); • Memória priming (PRÉ-ATIVAÇÃO): ativada por dicas senso- riais (olfato, som), associação com informações anteriores: pala- vra que faz lembrar uma música; • Condicionamentos: é um aprendizado associativo e inconscien- te. Por exemplo, o toque do relógio ao meio-dia faz salivar, pen- 7 Neurociências e Processos SensoriaisUNIDADE sando no almoço, conhecido como condicionamento clássico. E há o condicionamento operante, que é quando se aprende por repetição. Por exemplo: latido do cão do vizinho não é sinal de perigo, e sim aproximação. Nesses circuitos, temos participa- ção da amígdala e do cerebelo; • Habituação: desvanecimento da resposta ao longo de uma es- timulação monótona, identificado em estudos feitos por Kandel com a aplísia, uma lesma marítima; • Sensibilização: é o processo de incremento da resposta: uma resposta é aumentada quando precedida de algum aviso. Identi- ficada na mesma pesquisa com aplísia, ambos são aprendizados não associativos. Para uma situação ou lembrança ser evocada ou esquecida mais tardiamente, ela depende de alguns elementos que acontecem duran- te o aprendizado, sendo eles: • Número de vezes que um fato ou um evento é repetido; • Sua importância para a pessoa; • Grau em que se organiza e relaciona com conhecimentos existentes; • Facilidade com que se pode relembrar o material. Esses fatores são decisivos para determinar o quanto esse novo fato ou evento será capaz de provocar uma mudança neuronal, desenca- deando um Potencial de Longa Duração (LTP) para que se tenha uma boa memória. Quanto mais motivos e mais significados pessoais tiver um evento, melhor será o processo de aprendizagem e memorização. Existem elementos importantes que modulam etapas específicas da memória e que podem ajudar no aprimoramento dela. Observe o quadro a seguir: • ATENÇÃO: Pode ser voluntária, sustentada, alternada; • Importante estar atento, focado e concentrado aos estímulos para a qualidade do processo de memória. • SONO: Durante o sono REM, o cérebro se organiza para processar e armazenar as informações; • As sinapses que foram moduladas pelas acetilcolinas são ativadas durante o sono para fortalecer as conexões. • ATIVIDADE FÍSICA: Estimula a neurogênese (criação de novos neurônios) e a angiogênese (novos vasos sanguíneos) melhora a oxigenação encefálica para o crescimento e fortalecimento de novas sinapses. Aquisição Consolidação Evocação 8 Prática de mindfulness (atenção plena): efeitos neurobiológicos da atenção plena foram identificados por neuroimagem. Foram docu- mentadasalterações funcionais e estruturais relacionadas aos proces- sos cerebrais de atenção e memória influindo no controle do estresse e das emoções. A prática da meditação promove uma elevação dos níveis de dopa- mina e reduz níveis de cortisol e norepinefrina, com efeitos compro- vados no restabelecimento do equilíbrio emocional. Erros da Memória A memória permite que o passado pessoal seja revisto, dá acesso a uma vasta rede de fatos, associações e conceitos e permite o apren- dizado. Ela nã o é , contudo, perfeita. Com frequência, eventos sã o es- quecidos, rápida ou gradualmente; à s vezes, o passado fica distorcido e, ocasionalmente, recorda-se de eventos que se preferiria esquecer. Segundo Kandel (2014), Daniel Schacter classificou as imperfei- ções da memória em sete categorias, que chamou de falhas ou defei- tos da memória: 1. Transitoriedade: fugacidade ou desaparecimento da informação; 2. Distração: resulta da falta de atenção à experiência imediata; 3. Bloqueio: falta temporária de acesso à informação armazenada; 4. Erro de atribuição: refere-se à associação incorreta de uma me- mória com determinado momento, lugar ou pessoa; 5. Sugestibilidade: tendência de incorporar informações externas à memória; 6. Vié s (bias): distorções e influências inconscientes das crenças do indivíduo; 7. Persistê ncia: refere-se à s memó rias obsessivas, à recordaç ã o cons- tante de informaç õ es ou eventos que se poderia querer esquecer. O aprendizado e a memória são fundamentais para a experiência humana. A memória não é apenas um registro de experiências pesso- ais, é por meio dela que se desenvolve a identidade das pessoas, suas biografias, que se estabelece a comunicação e as relações sociais, que se criam e fortalecem culturas e a própria evolução da Humanidade. Finalizamos os nossos tópicos de estudos, agora você está pron- to para realizar o desafio desta fase! Volte para o ambiente virtual de aprendizagem e faça realize as atividades. Não esqueça de participar do fórum de discussão. 9 Neurociências e Processos SensoriaisUNIDADE Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Neurotransmissores https://youtu.be/FD8Qaw1TS-k Dan Dennett sobre nossa consciência http://bit.ly/2Oafzo0 Leitura Como neurônios conversam uns com os outros http://bit.ly/2NNM1xz A relevância das emoções nos processos decisórios e o mito da racionalidade pura a partir da neurociência de António Damásio http://bit.ly/370JozT 10 Referências BEAR, M. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2017. [Recurso eletrônico]. GAZZANIGA, M. S.; IVRY, R. B.; MANGUN, G. R. Neurociência cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2006. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de Neurociências. São Paulo: Atheneu, 2001. [Recurso eletrônico]. LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. São Pau- lo: Guanabara Koogan, 2008. 11 01PDF_Teorias_de_Aprendizagem 02PDF_Funcoes_Cognitivas_Estilos_Aprendizagem 03PDF_Neurociencias_Processos_Sensoriais Página em branco
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