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1 MATERIAL DIDÁTICO CURRÍCULO E PROGRAMAS U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 - OS FUNDAMENTOS DO CURRÍCULO ............................................... 5 UNIDADE 2 – CURRÍCULO, HISTÓRICO E A ABORDAGEM SOCIAL ................. 12 UNIDADE 3 - AS PERSPECTIVAS E ELABORAÇÃO DO PROCESSO CURRICULAR PAUTADO NOS PROGRAMAS EDUCACIONAIS .......................... 31 3.1 O processo de construção do currículo ............................................................... 33 3.2 Objetivos e propósitos para o currículo: uma discussão necessária ................. 44 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48 3 INTRODUÇÃO Inicialmente, é importante destacar que este material tem como objetivo discutir assuntos relativos ao processo de formação que envolve a qualificação e transformação do seu olhar para preceitos que envolvem a formação educacional e, nesse sentido, gostaríamos de lhe parabenizar por ter feito a opção pela Educação como um ideal de vida. Ora, reconhecer a educação como ideal de vida, pode ser uma expressão forte, mas é nesse aspecto que acreditamos e esperamos que você possa se engajar, pois devemos acreditar que o ser educador não é uma profissão como as outras. Ser educador é poder transformar potencialidades em oportunidades concretas de vida. É, acima de tudo, ensinar e aprender a sonhar, a ter um grande ideal para conquistar. É nesse espírito de envolvimento e de luta pela educação que este material reflexivo se apoia. Assim, os parabéns também são dados, por ter escolhido esta belíssima profissão! Pelo curso que você está inserido(a) e, fundamentalmente, pelo comprometimento com a futura formação de cidadãos, e que a sua mediação de saberes possa ser consciente e responsável. E, por fim, saudações, por acreditar que é pela “educação” que poderemos, em conjunto com outros educadores, com uma corrente do bem, revolucionar as mentes e os corações em busca de um País mais fraterno e humano! É essa a objetividade e compromisso da Educação: a possibilidade de humanização dos seres humanos. Com o intuito de oferecer, a você, o suporte reflexivo necessário para a continuidade nos seus estudos, e compreender como que processa os fundamentos curriculares, apoiando-o(a) no exercício da sua profissão, com as devidas compreensões sobre os conteúdos que serão desenvolvidos, é importante que leia atentamente, reflita e compreenda os objetivos desta disciplina, que são: identificar diferentes concepções de currículo, estabelecendo relações com o contexto sócio-histórico; construir um conceito crítico para o termo Currículo, a partir do estudo e da análise de diferentes concepções; identificar a evolução histórica do significado de Currículo; 4 explicitar diferentes perspectivas de Currículo, identificando as relações existentes entre a escola e o sistema capitalista; identificar conflitos, lutas de interesses e relações de poder presentes na definição e na implementação do currículo nas escolas; analisar a relação currículo e sociedade como uma relação contraditória. Faz-se necessário, avisá-lo(a) que as discussões aqui travadas serão significativas para sua trajetória pelos caminhos da prática educativa, pois propõe a reflexão da organização curricular da escola, tendo por base concepções teóricas bem fundamentadas, bem como as diretrizes e os parâmetros legais do sistema educacional brasileiro. Fica, portanto, o convite para que possa embarcar nessa viagem do conhecimento, que não será só de prazer, uma vez que exigirá esforço do pensar, do pesquisar para articular ideias, sair do lugar-comum e construir/desconstruir concepções e saberes. Espera-se que a proposta de trabalho, aqui desenvolvida, possa transformar nossas potencialidades em práticas pedagógicas significativas e realizadoras de sonhos! Bom trabalho para nós! 5 UNIDADE 1 - OS FUNDAMENTOS DO CURRÍCULO Os objetivos específicos desta unidade são: identificar os processos que sustentam o currículo como fundamento das bases formativas; identificar os princípios e critérios que direcionam a seleção e a organização dos conteúdos curriculares das unidades de ensino. Na sua trajetória interativa, seja na vida pessoal, profissional ou mesmo escolar, você deve ter se deparado com diferentes opiniões, seja de familiares, pais, professores, técnicos educacionais, alunos, entre outros, sobre a estruturação administrativa e pedagógica, relacionadas com as condutas pedagógicas, as normas de condução dos processos escolares, e, principalmente, sobre a estrutura curricular. O que mais tem gerado discussões nos meios educacionais é a fragilidade dos processos escolares e a incapacidade, relacionado às questões metodológicas e aos princípios formativos, de dar continuidade ao seu trabalho e contribuir de forma significativa para a melhoria dos aspectos educacionais da população, como um todo. O segmento educacional está estagnado, mesmo com tanta tecnologia sendo desenvolvida, a frações de segundos, a escola, aparentemente, permanece a mesma. Assim, o nosso objetivo é despertar em você uma reflexão para a necessidade de luta, pois o currículo e os programas difundidos pelos sistemas de ensino, sempre foi considerado, por diversos pensadores da área, como um campo de lutas e uma arena de conflitos. Existe, no meio educacional uma constante luta. Assim, Mas, é bom que paremos um pouco para uma tomada de fôlego, e reflexão... 6 VOCÊ SABE QUAL É A FUNÇÃO PRIMORDIAL DA EDUCAÇÃO? Não existe uma complexidade para responder a essa questão, isso é se pensarmos o processo teórico, mas na prática, esse conceito demanda uma atenção considerável, pois, teoricamente, dizemos que: Ora, você deve estar se perguntando: promover crescimento dos seres humanos? Essa ação não é natural? Bom, vamos ponderar: Ao se estabelecer as relações humanas, a vida em sociedade, o que surge é a necessidade de relacionamento entre os sujeitos, assim, com certeza, os conflitos, os embates de personalidade, modo de ser, de viver, de conceber os critérios de mundo, se diverge, dando lugar para o surgimento de outras necessidades, principalmente: Esse crescimento educativo, percebemos que são verbos de ações que nos remete a mobilizações, sobretudo, de decidir as ações pedagógicas mais adequadas para promover o aspecto educativo. Sua finalidade primordial é promover o crescimento dos seres humanos. 7 Enfim, o que estamos querendo enfatizar é que essa complexidade se dá efetivamente quando estabelecemos as práticas educativas para estabelecer as condutas dessa formação, e que essa prática se estabelece em um campo envolvendo variados fatores, dentre eles, o estabelecimento de procedimentos, normas, estruturas, organizações, tanto de espaço como de tempo, dentre outros fatores, que ao se juntar, formarão o que chamamos de currículo. Assim, faz-se necessário comentar que basicamente o que ocorre é uma junção de fatores que levará a prática que fundamentará como resultado, um processo de desenvolvimento, em grande parte interno à pessoa, e os que o concebem mais como o resultado de um processo de aprendizagem, em grande parte externo à pessoa. Mas, atudo isso que comentamos até agora, terá aspectos positivos se transformados em atividades educativas, e que essas sejam escolares, e que possam corresponder à ideia de que existem certos aspectos do crescimento pessoal, considerados importantes no âmbito da cultura do grupo, que não poderão ser realizados satisfatoriamente ou que não ocorrerão de forma alguma, a menos que seja fornecida uma ajuda específica. Bom, mas é de suma importância que você compreenda e veja que essa ajuda será expressa e exercida, por meio de atividades de ensino, especialmente pensadas para esse fim. São atividades que correspondem a uma finalidade e são executadas de acordo com um plano de ação determinado e estão a serviço de um projeto educacional. Mas, enfim... Viu como é complexo, na prática? 8 Mas, ponderando sobre o que está registrada na imagem acima, podemos complementar considerando que: Devemos reconhecer que toda essa discussão, ou seja, obter um ideal de formação educacional, essa é a nossa intenção, direcionar o seu olhar para as questões que envolvem a formação ideal de uma determinada sociedade. Portanto, o currículo é considerado um campo de luta, como já abordamos acima, e é nessa arena de conflitos, que as lutas se apresentam como uma constância, que pode estar ocorrendo no interior tanto dos debates acadêmicos como de órgãos oficiais responsáveis pelas definições relativas aos currículos para a rede de ensino público, 9 ou mesmo no interior da escola. Em todos esses níveis existem concepções e posições diferentes sobre esses assuntos, cujos defensores lutam para que sejam aceitas e legitimadas. Em consequência, os defensores das várias correntes estão sempre buscando mecanismos e estratégias para que suas ideias prevaleçam. Mas, em suma, é importante que você identifique que a nossa intenção é fazer com que você compreenda que o currículo é um campo de contestação, e o fato de haver muitas divergências, nos leva a opções e construções de conduções educacionais das mais diversas, pois os vários autores escolares pensam o caminhar do currículo dentro das suas teorias e concepções, assim podemos destacar que existem: aqueles que são atraídos pelas novas ideias que circulam nesse campo, e, por isso, defendem maneiras de organização do currículo que rompem com as tradições; outros resistem às mudanças propostas, argumentando que as inovações no campo do currículo têm contribuído para a queda da qualidade do ensino; outros, ainda, defendem posições intermediárias, baseados na ideia de que os currículos escolares devem ser renovados, introduzindo novas propostas para as questões que apresentam dificuldades pedagógicas Essas visões diferenciadas sobre o currículo se sustentam em concepções também distintas sobre a educação e sobre o papel da escola, o que está diretamente relacionado com posições sobre os rumos do desenvolvimento social, econômico e político do País. 10 combinadas com práticas consideradas mais tradicionais, mas vistas como bem sucedidas. Dentre esses três tipos de concepções, o grupo que defende a mescla, ou seja, a junção de novas práticas como as que historicamente deram certo, fazem uma crítica às formas pelas quais as políticas públicas voltadas para a orientação das concepções educacionais vêm sendo propostas e encaminhadas na educação, atualmente. Assim, conhecer e saber opinar sobre as estruturas curriculares, suas concepções e conduções educacionais, faz toda uma diferença no modo de conduzir os aspectos que envolvem a formação das novas gerações, bem como de se ostentar defesas e ideias sobre os modos de estruturas curriculares. Outro fator importante no que se refere à estrutura curricular ganha força quando a grande comunidade acadêmica para e reflete sobre: Para responder a essa questão, podemos recorrer à Kliebard (1992), que sustenta que isso se dá a determinados fatos sociais ou eventos políticos que tornam plausíveis, ou não, certas propostas colocadas em confronto. Podemos interpretar essa explicação, compreendendo que uma grande parcela do que se compreende, hoje, por currículo vem sendo construída há muito tempo, e que a cada momento histórico uma determinada concepção de currículo ganha força, motivada por diversos fatores sociais. Podemos exemplificar com as seguintes práticas: 11 Então, é bom que você reflita sobre essa possibilidade, pois a vitória de uma determinada concepção de uma das classes sociais tem como resultado a derrota de outras, e sabemos que sempre o vencido em uma determinada disputa de ideias, quase sempre, se posiciona criticamente ao vencido. Isso pode ser uma das justificativas de determinadas propostas curriculares terem vidas curtas, uma vez que terminam por serem constantemente “bombardeadas” pelas críticas dos opositores, aqueles que foram vencidos pelos seus ideais, e não somente pelas concepções que defendem. No entanto, nessas situações, uma proposta que vence conseguirá perpetuar as suas concepções, até o momento que o grupo, que a defende, for organizado ao ponto de terem capacidade de dialogar democraticamente, e que forem abertos a criticas e novas ideias. Se tais posturas não forem mantidas, a tendência é perder a liderança dos ideais e fracassar. Enfim, vamos ampliar nossas discussões, e na próxima unidade, veremos alguns pontos relativos às concepções construídas ao longo do tempo sobre as estruturas históricas do currículo. O convite se faz no sentido de chamá-lo(a) a entrar em um debate ampliado do que já estávamos comentando nesta unidade, e irmos em direção a um debate abordando a relação curricular na sociedade como uma relação contraditória, construída ao longo dos tempos e com estruturas históricas. Vamos em frente? Vamos ampliar nossas reflexões sobre o assunto? 12 UNIDADE 2 – CURRÍCULO, HISTÓRICO E A ABORDAGEM SOCIAL Os objetivos específicos desta unidade são: identificar diferentes concepções de currículo, estabelecendo relações com o contexto sócio-histórico; construir um conceito crítico para o termo Currículo, a partir do estudo e da análise de diferentes concepções; identificar a evolução histórica do significado de Currículo. explicitar diferentes perspectivas de Currículo, identificando as relações existentes entre a escola e o sistema capitalista; analisar a relação currículo e sociedade como uma relação contraditória. Afinal, o que significa esse termo e que importância ele possui em meu trabalho como profissional da educação? Ou mesmo, como professor(a) dos anos iniciais do Ensino Fundamental? Ou, ainda, como gestor de escola? Bom, essas perguntas você irá responder ao longo da nossa trajetória reflexiva, acredito que com o que já apresentamos como discussão, você tenha compreendido, alguns pontos, ou mesmo, tenha entendido o processo como um todo, pois não é difícil compreender o sentido geral sobre o conceitos que envolve o currículo. Mas, é bom que possa se perguntar sobre outras questões que envolvem a dinâmica do currículo, esperamos que outras perguntas surjam para compreendermos melhor o Currículo Escolar, que está envolto em uma Vamos iniciar falando de “currículo”. Mas, a essa altura das nossas discussões, você já deve estar perguntando: Por que estudar currículo? 13 complexidade de elementos e fatores que ultrapassam o domínio técnico- pedagógico, caracterizando-o como um espaço conflitante e contraditório, influenciado e regido pelas relações capitalistas. O currículo escolar, entendido como a totalidade das experiências curriculares dentro das escolas, entendidos como a totalidade das experiências a que as crianças e os jovens são submetidos nas escolas, está no centro da experiência educacional. É a sessãoampla de todas as experiências, e não apenas a relação de temas a serem tratados. Compreenda, portanto que o currículo dentro de uma escola não é uma pedra inerte. As estruturas de um currículo se deve àquilo que se faz com o conteúdo, aquilo que se faz com as experiências escolares que estão ligadas ao contexto social. É uma coisa de vida – produzida. Ora, as suas estruturas se fundamentam por meio das experiências escolares, que possuem como foco as relações estabelecidas dentro da escola, permeado, é claro, pelas políticas públicas, que gestam os processos educacionais, atuais, mas o currículo e suas dinâmicas, é o foco central para formar a criança e o jovem de uma determinada maneira, em aspectos gerais, relacionados com a possibilidade de progressão nos estudos, e ao mesmo tempo em que possibilita a formação particular dos alunos. Mas, é bom destacar, nesse contesto de discussão que em tempos atuais não é só o currículo que forma personalidades, mas sim, todo um conjunto de experiências sociais amplas, do qual o currículo escolar é uma parte. Talvez existam outras experiências mais importantes, perante as quais, o currículo escolar, inclusive fica alheio. Nesse contexto, faz-se necessário destacar que muitos problemas em relação ao currículo são decorrentes desse divórcio que existe entre as experiências proporcionadas pela escola e as experiências adquiridas fora da escola. Pois bem, o que estamos enfatizando é que o processo de modificação, elaboração ou implementação de currículo é sempre complexo e incessante, ou seja, é impossível elaborar uma proposta curricular definitiva. Ao iniciar-se o processo de implementação de uma proposta, já se faz necessário começar um processo de revisão do trabalho, procurando corrigir percursos e modificar aqueles aspectos que não estão funcionando bem. 14 Para avançarmos, é bom comentarmos que você precisa compreender com mais propriedade a dinâmica do currículo. Para tanto, algumas condições são necessárias e preponderantes de serem percebidas, principalmente as que se referem à existência de significados para a formação das novas gerações, mas acreditamos que isso tenha ficado claro para você. Assim, reconhecidamente, sabemos que os órgãos públicos quando elaboram novas propostas curriculares, utilizam-se das mais diversas estratégias para garantir a sua difusão e implementação, não perdendo de vista o que já foi comentado na unidade, anterior, sobre a defesa das concepções, daqueles que estão no poder. Nesse sentido, é importante comentar que quando uma escola elabora o seu currículo, procura-se garantir e criar mecanismos que possam fazer com que a realização do processo seja dinamizada, mas, é importante destacar também que qualquer proposta a ser implementada, apresenta problemas, inadequações, necessidade de adaptação diante dos imprevistos ou de fatores que não foram adequadamente considerados. Refletindo sobre essas considerações, é de suma importância que saibamos que toda e qualquer proposta precisa ser reajustada ou reformulada durante sua implementação. Sendo comuns as resistências, como bem colocado acima. Portanto, compreenda que o currículo escolar é tratado, atualmente, como uma complexidade que se refere a todo o funcionamento da escola e como uma questão a ser discutida e pesquisada. Nesse sentido, se repensamos e reformulamos o currículo, simplesmente podemos mudar a escola. Portanto, é importante: Mas, vamos avançar um pouco mais nas nossas reflexões sobre o tema? 15 São ações necessárias à formação do(a) professor(a), uma vez que o currículo não apenas socializa os educandos nos conhecimentos das diversas disciplinas, mas, sobretudo, que toda essa estrutura, traz em seu bojo os aspectos que levaram a formação das personalidades e subjetividades ao criar predisposições, sensibilidades e formas de raciocínio. Assim, você como profissional da educação, deverá, sem sombra de dúvida, estar atento a esses fatos aqui descrito. É preciso saber: São fatores que nesse contínuo de ações e reflexões, estruturaram por determinados caminhos, privilegiando certos tipos de conhecimentos e formas de ensinar, a reprodução das estruturas da vida social, na maioria das vezes injustas e marginalizadoras. O que se percebe na prática é que a forma como o(a) professor(a) encaminha o processo ensino-aprendizagem, suas opções acerca do conteúdo, do tempo, do espaço, dos materiais didáticos e as relações que estabelece com seus alunos estão 16 impregnados de concepções filosóficas, epistemológicas e psicopedagógicas, assumidas ou não, explícitas ou implícitas. Assim, a didática deixa de ser meramente um conjunto de metodologias e técnicas de ensino isoladas, para se constituir numa visão dialética que garanta ao educador e a educadora uma formação mais humana, na qual reconheça sua autonomia na busca de melhores caminhos para a construção de uma prática cada vez mais consciente e transformadora, fazendo da escola um espaço mais dinâmico onde as pessoas se vejam realmente incluídas e cresçam como seres humanos. Cabe à Didática, o estudo das relações entre o ensino e a aprendizagem e, ao estudá-las, não se pode isolar os fins pedagógicos dos fins sociais, lembrando-se de que um dos principais objetivos da Didática é problematizar, analisar, discutir e criticar o seu próprio objeto do conhecimento, o processo de ensino, para possibilitar os avanços na aprendizagem. De todos os estudos indispensáveis à formação teórica e prática dos professores, esse currículo, em conjunto com os processos didáticos, metodológicos ocupa um lugar especial. Ora, você não poderá perder de vista que a formação escolar, ou melhor, a objetividade essencial da educação, consiste em dirigir, organizar, orientar e estimular a aprendizagem dos alunos. Todos os saberes pedagógicos gerais se mobilizam em função das ações educativas na escola, onde, de fato, as ideias se materializam e transformam indivíduos em seres humanizados. Nesse sentido, esse estudo tem um papel fundamental na formação do(a) professor(a), porque trata de questões de estruturação curricular nas escolas, não só com relação ao domínio técnico (como fazer), mas principalmente no que diz respeito às intrincadas relações, explícitas ou não, que acontecem no interior do processo pedagógico e que formam determinadas identidades de homem e de mundo. E, essa especialidade da educação se sustenta na ideia de que a prática educacional tem como a atividade essencial o processo de ensino- aprendizagem. 17 Por fim... Que tipo de homem se deseja formar? Quais conhecimentos, experiências são importantes para viver nesta sociedade que aí está? Quais saberes os educandos trazem em suas experiências de vida? Que habilidades e competências a escola deve desenvolver nos educandos, considerando as peculiaridades deste novo tempo? Que conhecimentos são realmente necessários para provocar as transformações nas relações de domínio e submissão na sociedade? Pois bem, O currículo reflete a concepção de homem e de sociedade que se quer formar, o que definirá, entre outras, uma forma de organização do trabalho na escola, as posturas dos educadores, a seleção e a organização dos conteúdos, a metodologia de trabalho e o sistema de avaliação. O currículo é um importante elemento constitutivo da organização escolar. Implica a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente. É uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive. O conhecimento escolar é dinâmico, portanto, na organização curricular, é preciso considerar alguns pontos básicos: o currículo não é uminstrumento neutro, mas ideológico; o currículo deve reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinas, numa visão global; o currículo não pode ser separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e culturalmente determinado. Saiba que o currículo deve responder às seguintes questões: 18 Os atuais currículos escolares não refletem a constituição da sociedade que gira em torno das identidades mais diversas em termos de gênero, raça e cultura. Muitos interesses são excluídos do currículo ou estão distorcidos e representados a partir de uma única perspectiva. A saber: Essa estrutura política e econômica, a política neoliberal, que sustenta as estruturas educacionais, se estabelece em função da eficiência, da produtividade e do lucro. Então, existe todo um campo de luta em torno dos sistemas de ensino. Na verdade, uma batalha a ser empreendida em prol da constituição de um currículo que atenda à proposta de educação para a transformação e para a libertação de toda e qualquer condição de opressão. Mas, para que possamos compreender de forma geral, em que se pautam as relações entre a estruturação curricular, a formatação dos processos Neoliberais e a condução educacional, é importante conhecer as seguintes características: 19 Podemos ponderar, portanto, que diversos problemas em relação ao currículo são decorrentes desse divórcio que existe entre as experiências proporcionadas pela escola e as experiências adquiridas fora da escola. Assim, é necessário que você compreenda com muita propriedade os significados do currículo escolar, bem como seus dilemas e controvérsias, situando-o como um campo de lutas políticas, conhecendo os aspectos históricos que o constituíram e as teorias desenvolvidas para estudá-lo. Observem, então, alguns dos conceitos fundamentais sobre o processo curricular: Dessa forma, quando falamos em currículo escolar podemos nos referir à trajetória de formação dos alunos. 20 Podemos considerar, ainda que o currículo é: Todas essas considerações se inserem dentro das propostas de um currículo escolar e que devem se relacionar com os aspectos que envolvem os problemas da vida cotidiana, buscando formas de trabalho em sala de aula que permitam ao aluno construir o conhecimento, bem como diferentes habilidades intelectuais, atitudes, formas de conduta e valores. Nesse sentido, o foco central do trabalho docente estará votado para a construção do conhecimento pelo aluno. Para corroborar com as ideias, até então apresentadas, Sacristán (2000) sugere que todo educador, profissional da educação, pense o currículo escolar como sendo necessário e levante questões que se possam responder às seguintes indagações: 21 Tais questões têm como objetividade a realização de certo resgate histórico do currículo e pode-se constatar que essas questões foram respondidas de formas muito diferentes, dependendo dos dilemas sociais da época, vejamos: Na visão desses autores, o currículo era compreendido como estruturado por experiências vivenciadas pelos estudantes sob a coordenação da escola. Assim, cada época trouxe uma determinada interpretação, dessa forma nos anos: 22 Já nos anos: Por assim dizer, podemos considerar, partindo das ideias defendidas, acima, que a visão tradicional é caracterizada por ser neutra e desinteressada, fundamentada na objetividade da ciência cartesiana. Está relacionada às concepções de um currículo isolado no ambiente escolar, sem preocupações sociais e voltado para aspectos como ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento. 23 Por fim, ao conceituar o que foi a concepção de currículo nos anos 70, podemos considerar, sinteticamente, que o currículo foi compreendido como sendo: Evoluindo o processo de compreensão sobre o currículo, chega-se aos anos 80, e, considera-se que de lá para cá mantivemos, sobre maneira, os aspectos organizativos do currículo sem muitas alterações, assim nos anos 80, especialmente na segunda metade da década, há uma renovação na produção sobre currículo no Brasil, com a tradução de livros de autores estrangeiros que utilizavam outras abordagens teóricas para o tratamento das questões curriculares e com a publicação de livros e artigos de autores nacionais a partir de uma perspectiva crítica. No final da década de 80 e início do século XXI, o currículo passa: 24 Portanto, o currículo, como bem já mencionado, não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social, mas sim, está implicado de relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história, vinculada às formas especificas e contingentes de organização da sociedade e da educação (MOREIRA & SILVA, 1994, p. 7- 8). Essa visão de currículo confirma que ele deixou de ser apenas uma área meramente técnica, voltada para questões relativas a procedimentos, técnicas, métodos e avaliação para incluir questões sociais e culturais. Entretanto, temos ao longo do histórico de fundamentação do currículo os problemas inerentes, como já bem mencionados, aqui nessas discussões. E, o que evidenciamos são problemas de todas as ordens, principalmente em relação aos aspectos do planejamento que não podem ser cumpridos, seja por falta de recursos, seja por problemas que envolvem os recursos humanos da escola, devido a resistências manifestadas pelas direções das escolas, pelos professores, pelos alunos e pelas suas famílias. Em meio a tantos problemas, podemos destacar aqueles problemas que, ainda, não surgiram e serão evidenciados quando o processo de mudança, inerente a toda demanda de encaminhamento das escolas, começarem a acontecer ao longo do período letivo. Por tudo isso, é importante destacar que desde o princípio, uma proposta curricular bem formulada, mesmo que considere aspectos como a cultura da escola, suas rotinas, a qualificação do corpo docente, a infraestrutura da escola, seus recursos, entre outros, enfrentará situações que não foram previstas, além, é claro, de resistências. Diante disso, cabe aos envolvidos no projeto promover debates, deixando que os problemas e as resistências sobre as propostas sejam explicitadas. Nesse momento, é necessária a revisão dos trabalhos, dando evidência para a correção do percurso e modificação daqueles aspectos que não estão funcionando bem. Nesse contexto, atente-se para o fato de que a perspectiva crítica foi impulsionada pela Sociologia do Currículo voltada para o exame das relações entre currículo e estrutura social: 25 A preocupação maior, nessa visão, é entender a favor de quem o currículo trabalha e como fazê-lo trabalhar a favor dos grupos e classes oprimidos, buscando- se formas de desenvolver seu potencial libertador (MOREIRA & SILVA, 1994). Não é mais possível alegar qualquer inocência a respeito do papel constitutivo do conhecimento organizado em forma curricular e transmitido nas instituições educacionais, pois o mesmo passa a ser visto não apenas como implicado na produção de relações assimétricas de poder no interior da escola e da sociedade. O currículo é uma área contestada, é uma arena política (MOREIRA & SILVA, 1994, p. 20-21). O currículo, em seu conteúdo e nas formas pelas quais nos apresenta e se apresenta aos professores e aos alunos, é uma opção historicamente configurada, que se sedimentou dentro de determinada trama cultural, política, social e escolar; está carregado, portanto, de valores e pressupostos que é preciso decifrar, o que pode ser feito tanto a partir de um nível de análise político-social quanto a partir do ponto de vistade sua instrumentalização ‘mais técnica’, descobrindo os mecanismos que operam em seu desenvolvimento dentro dos campos escolares. (SACRISTÁN, 2000, p. 17). A leitura crítica do currículo e a institucionalização de um processo democrático no campo das decisões ainda não é uma realidade vivenciada no cotidiano das escolas, uma vez que o currículo é uma realidade gestionada e decidida a partir da burocracia que governa os sistemas educativos, em esquemas de racionalização definidos de acordo com as visões e intenções do gestor (SACRISTÁN, 2000). Dessa forma, tem-se que o currículo oficial é planejado oficialmente para ser trabalhado nas diferentes disciplinas e séries de um curso. É o que consta na 26 Proposta Curricular do Estado, nas Propostas Curriculares das Secretarias de Educação e nos livros didáticos elaborados a partir destas. Do mesmo modo, o currículo formal abrange todas as atividades e conteúdos planejados para serem trabalhados na sala de aula. O currículo formal inclui também o currículo oficial, no entanto, aquilo que realmente acontece na sala de aula e na escola, sob a mediação do professor, é que pode ser chamado de currículo em ação ou currículo real. Todos os tipos de aprendizagens que os estudantes realizam como consequência de estarem escolarizados é, pois, o currículo real de uma escola. Nas entrelinhas da formalidade do currículo, que, na maioria das vezes, é concebido e organizado pelos gestores, existe aquilo que se chama de currículo oculto, um campo não sistematizado que propõe-impõe todo um sistema de comportamentos e valores e não só de conteúdos de conhecimentos a assimilar. O currículo oculto significa o conjunto de normas e valores implícitos nas atividades escolares, porém não mencionados pelos professores ou não intencionalmente buscados por eles. São, portanto, aprendizagens ou efeitos de aprendizagens não intencionais que se dão como resultado de certos elementos presentes no ambiente escolar. É constituído tanto de práticas como de mensagens não explicitadas. Por último, é importante destacar o significado de currículo vazio ou currículo nulo. Este se constitui nos conhecimentos ausentes, tanto das propostas curriculares (currículo formal), como das práticas das salas de aulas (currículo em ação), que, muitas vezes, abrangem conhecimentos significativos e fundamentais para a compreensão da realidade e para a atuação nela. Também chamado de "campos de silêncio" ou de "omissões", seu significado é fundamental para entender o currículo como espaço de afirmação e negação de elementos das diferentes culturas, produzindo efeitos sobre o estudante, tanto em função do que diz como daquilo que silencia (SANTOS & PARAÍSO,1996). Uma visão, ainda, que superficial dos aspectos históricos do currículo, nos ajuda a compreender as diferentes perspectivas e formas de abordagem que são feitas dentro desse campo teórico. Essas abordagens estão relacionadas aos diferentes interesses existentes entre a sociedade e a escola, que definem o tipo de homem que se deseja formar. 27 Segundo Giusta (2001, p. 15): Em todas as sociedades, especialmente naquelas em que as desigualdades são muito acentuadas, a distribuição do poder e os mecanismos de controle social estão refletidos no currículo por meio da elaboração, seleção, distribuição, transmissão e avaliação do que é considerado saber escolar legítimo. A depender da origem social dos destinatários, das modalidades de educação oferecidas e dos fins que se tem em vista, o currículo cumpre, de forma diferenciada, sua função nessa distribuição de poder. Assim, há uma íntima ligação entre o currículo e o projeto de socialização a ser realizado, o que transparece em seus conteúdos, no formato e nas práticas que são criadas e recriadas indefinidamente. Você pode perceber que todos os autores citados deixam claro que o currículo não é algo abstrato, neutro, mas que projeta os valores, interesses e compromissos da sociedade, nem sempre de maneira explícita. Isso significa que a relação currículo e sociedade é disfarçada, o que dificulta a tomada de consciência de suas reais vinculações. Para Giusta (2001), o currículo pode, até certo ponto, explicitar-se, tornar públicos seus fins sociais e culturais, seus conteúdos de diferentes matizes e suas ações para o alcance das finalidades que a sociedade espera que a escolarização cumpra, mas tem sempre uma face oculta, que nos ludibria e nos submete a armadilhas, pelo próprio trabalho de interpretação dessas finalidades, pelo que realçamos e apagamos nesses conteúdos, pelos rituais, preconceitos, exigências e mitos que utilizamos. Visto dessa forma, o currículo é uma peça fundamental na democratização das oportunidades sociais mediadas pela escola, especialmente no que se refere ao trabalho com as classes populares na esfera pública. Quando perguntamos a quem esse currículo se destina, o que pretende, para quê e por quê já estamos marcando seu papel político. Por isso, torna-se imperiosa a permanente vigilância e análise crítica, no sentido do desvelamento dos seus interesses, bem como o engajamento de todos os educadores na construção do projeto político-pedagógico da escola, ocupando os espaços de autonomia que lhe são garantidos pela própria legislação vigente (LDB n. 9394/96). E, em se tratando de currículo escolar, temos mesmo uma grande margem de autonomia para incluir saberes e práticas mais convenientes aos projetos que consideramos importantes para a nossa realidade. Mas, isso é assunto de nossa próxima unidade. 28 Para concluirmos, destacamos os principais pontos desta unidade; aquilo que você deverá se lembrar para continuar os estudos sobre o assunto, buscar também uma complementação para os conhecimentos aqui adquiridos, assim, vimos que: Mas, enfim, o currículo não é algo abstrato, neutro, mas projeta os valores, interesses e compromissos da sociedade, nem sempre de maneira explícita. A relação currículo e sociedade são disfarçadas, o que dificulta a tomada de consciência de suas reais vinculações. É preciso saber que os conteúdos, os métodos, a avaliação ao se estruturarem por determinados caminhos, privilegiando certos tipos de conhecimentos e formas de ensinar, reproduz em estruturas da vida social, na maioria das vezes injustas e marginalizadoras, assim: 29 30 Por fim, compreenda que o currículo e os programas educacionais são as peças fundamentais na democratização das oportunidades sociais mediadas pela escola. Se você quiser saber mais sobre os aspectos conceituais e históricos do currículo pode acessar: http://www.uepg.br/propesp/publicatio/hum/2003/06.pdf http://www.uepg.br/propesp/publicatio/hum/2003/06.pdf 31 UNIDADE 3 - AS PERSPECTIVAS E ELABORAÇÃO DO PROCESSO CURRICULAR PAUTADO NOS PROGRAMAS EDUCACIONAIS Os objetivos específicos desta unidade são: identificar conflitos, lutas de interesse e relações de poder presentes na definição e na implementação do currículo na escola; identificar critérios e princípios que norteiam a seleção e a organização dos conteúdos curriculares na escola; estabelecer relações entre os Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC) e as diretrizes curriculares para a Educação Básica. Para iniciar essa unidade, importa-nos refletir sobre o que foi discutido, na unidade anterior, assim, é importante chamar a sua atenção para a importância do currículo na democratização da sociedade. Discutimos de forma ampla e foi objetivo, da unidade anterior, também a demonstração dos processos curriculares, ligados aos programas diversos, na perspectiva das políticas públicas, abordando o seu papel político é explicitado na definição de questões como: Você deve perceber a nossa insistência nesse ponto! Mas, é importante demarcar essa consideração... 32Temas, estes que mexem com as nossas estruturas sociais, e que ao mesmo tempo, nos faz refletir, sobre as conduções curriculares e como vem sendo construído historicamente, de acordo com diferentes interesses, por essa defesa, afirmamos que o currículo e os programas educacionais, não são e não devem, mesmo serem neutros. São, em verdade, dinâmicos e podem ser modificados pelos sujeitos que estão diretamente envolvidos na situação de ensinar e de aprender. É importante ficar claro que, para ser modificado e atender às necessidades de democratização da sociedade, o currículo precisa ser compreendido e interpretado pelos educadores no sentido de desvelar seus reais interesses. Faz-se necessário compreender que o currículo é um campo de lutas, de disputas e escolhas, assim tomará consciência e terá condição de poder, assumir seu papel político como educador e educadora. Esse papel político exige de você a tarefa de participar ativamente no processo de escolhas que sua escola fará no currículo, usufruindo a autonomia que lhe é concedida pela própria legislação do sistema educacional. Agora, para fazer escolhas, você precisará responder as perguntas: Uma vez que os conteúdos, a metodologia, os recursos didáticos, a avaliação são estruturados no currículo. Ou seja, você terá que compreender a organização curricular de sua escola, como também o seu próprio trabalho docente para depois poder intervir nela. Porém, é importante esclarecer que, mesmo aqueles educadores que não têm muito claro esse papel ativo no currículo, estão ajudando a reproduzir posturas e atitudes que formam personalidades e subjetividades. Essas atitudes adotadas pelos educadores na condução do currículo acabam, na maioria das vezes, reproduzindo as estruturas injustas e desiguais da vida social. Nas páginas anteriores deste guia de estudo, fizemos uma breve incursão pelas ideias do campo do currículo, seus aspectos teóricos e as reflexões suscitadas pelas diferentes abordagens. Nesta unidade, vamos ampliar nosso estudo, focalizando os principais 33 problemas relacionados ao processo de construção do currículo, destacando a seleção e organização dos conteúdos, os parâmetros e as diretrizes curriculares para a Educação Básica. 3.1 O processo de construção do currículo Os vários significados atribuídos ao currículo, de acordo com diferentes concepções sobre o papel da educação escolar na sociedade, geram divergências na elaboração e implementação do currículo nas escolas. Os defensores das várias correntes estão sempre buscando mecanismos e estratégias para que suas ideias prevaleçam. Para alguns, a ênfase deve ser em ‘o que aprender’, no conteúdo a ser trabalhado na escola. Para outros, é mais importante a forma como o currículo deve ser organizado, dando ênfase à definição das experiências mais significativas a serem desenvolvidas pela escola (SANTOS, 2001, p. 30). A autora está mostrando que existe uma luta em relação à definição dos currículos para a rede pública de ensino. Por isso é que se diz que o currículo é uma arena política, um campo de contestações. Você já observou que em toda escola há sempre dois grupos bem definidos de educadores? 34 Pois bem, pode-se afirmar que a estrutura do currículo de uma determinada escola é o que é porque um grupo assim o fez. Aquele que foi vitorioso. Não é obra do acaso! E a resposta é: a própria opção em aceitar o que está definido pelo sistema já é uma escolha. O sistema educacional (representado pelos órgãos públicos nas esferas municipal, estadual ou federal) quando elabora suas propostas curriculares, usa as mais diferentes estratégias para garantir sua difusão e implementação (é o caso dos PCN que veremos mais adiante). Santos (2002, p. 156-157) discute alguns pontos que têm sido recorrentes no momento de elaboração curricular: Ah, mas você vai me contestar afirmando que foi o sistema educacional que determinou assim!!! 35 (...) é importante lembrar que os currículos denominados tradicionais são organizados por disciplinas, com ênfase, sobretudo, na área cognitiva. Nesse tipo de currículo, os conteúdos abstratos têm maior prestígio que os saberes práticos, não havendo grande preocupação em estabelecer relação entre o que o é ensinado na escola e os problemas da vida cotidiana. Esse tipo de currículo volta-se para a definição de formas mais adequadas de transmissão de conhecimentos, em vez de voltar-se para a compreensão dos processos de aprendizagem. As novas propostas de currículo, chamadas de inovadoras, alternativas ou críticas, enfatizam a necessidade de se incluírem no currículo outros conhecimentos, além dos tradicionais conteúdos acadêmicos: as artes, a cultura corporal, as novas áreas de conhecimento e de saberes práticos. Além disso, enfatizam a necessidade de as propostas curriculares buscarem a integração dos conteúdos de diferentes campos, rompendo com a organização disciplinar do currículo. Defendem também a ideia de que o currículo escolar deve estar centrado em problemas da vida cotidiana, buscando formas de trabalho em sala de aula que permitam ao aluno construir o conhecimento, bem como diferentes habilidades intelectuais, atitudes, formas de conduta e valores. Nesse sentido, o foco central do trabalho estará voltado para construção do conhecimento pelo aluno. As novas propostas curriculares, sejam elas chamadas de inovadoras, renovadoras, alternativas ou criticas, baseiam sua crítica à organização disciplinar do currículo nos seguintes argumentos: - Os currículos disciplinares são elaborados com base na seleção de um conjunto de conteúdos, organizados de forma justaposta, favorecendo a fragmentação dos saberes escolares. - Nesse tipo de currículo, há pouco espaço para o desenvolvimento, nos estudantes, do gosto pela pesquisa autônoma, da criatividade, do espírito critico. - Geralmente, esse tipo de currículo tem dado grande importância ao conhecimento científico e acadêmico, abrindo, pouco espaço para outros tipos de saberes e de práticas sociais. Nesse tipo de currículo há pouco espaço para: Ao mesmo tempo, os currículos integrados, que não estabelecem uma fronteira nítida entre as disciplinas, ou seja, aqueles que buscam trabalhar de forma interdisciplinar são estimulados e defendidos porque: 36 Podemos perceber que a construção de uma proposta curricular que garanta a democratização da escola encontra muitos entraves, devido à divergência de concepções e disputa de interesses. Não é, portanto, uma questão meramente instrumental. Exige um processo constante de negociações e revisões. Santos (2001) sintetiza essas divergências em torno da elaboração do currículo nos seguintes dilemas: 37 38 39 Essas ideias apresentadas por Santos (2001) resumem as discussões recorrentes nos ambientes escolares sobre o processo de construção do currículo. Você já deve ter ouvido muitas vezes discussões entre educadores que defendem propostas diferenciadas de currículo e talvez não tenha compreendido bem o que eles queriam dizer. Depois dessas informações, certamente você terá mais condições de fazer escolhas conscientes e adequadas ao projeto de democratização da escola pública. Assim, é importante destacar que podemos dizer que há atualmente duas tendências que estão influenciando as mudanças curriculares: Santos (2001) enfatiza que tanto a primeira quanto a segunda tendência “defendem a ideia de que o currículo escolar deve voltar-se para a formação do aluno com habilidades e atitudes como autonomia, criatividade, capacidade de se posicionar e de expressar seu pensamento” (SANTOS, 2002, p. 163). 40 Devemos reconhecer que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal nº 9.394/96), no seu art. 22, afirma que a EducaçãoBásica deve assegurar a todos “a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Para dar conta desse amplo objetivo, a LDB consolida a organização curricular de modo a conferir uma maior flexibilidade no trato dos componentes curriculares e propiciar a todos a formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola de condições de aprendizagem para: 41 Pelo que nos parece, a LDB aponta para uma formação mais ampla que desenvolva também habilidades necessárias ao trabalho. Podemos argumentar que todos os condicionantes já discutidos por aqui, como também as diretrizes legais propostas pelas políticas públicas, fazem coro na ideia de que o currículo escolar deve sempre levar em conta as necessidades de aprendizagem dos sujeitos que estão diretamente envolvidos no processo educativo, tendo em vista a transformação de suas condições de vida. Para concluir, vamos refletir alguns pontos que são essenciais em um processo de seleção e organização do currículo: Dessa forma, voltamos ao nosso questionamento inicial: que tipos de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores devem estar presentes no currículo de uma escola? 42 43 A Constituição Federal de 1988, no artigo 210, do capítulo III, consolida a ideia de traçar diretrizes para a educação nacional afirmando: “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. Para você compreender melhor o que significa a palavra “DIRETRIZES” considere que: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) mantém esse princípio no inciso IV, do artigo 9º, que determina à União a incumbência de: estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum. 44 É o conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Básica, expressas pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, que orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na organização, na articulação, no desenvolvimento e na avaliação de suas propostas pedagógicas (PARECER CEB 04/98). A Educação Básica é constituída pela Educação Infantil, Ensino Fundamental (9 anos) e Ensino Médio. Para favorecer o cumprimento das determinações da LDB, bem como organizar o processo de gestão nas escolas, as autoridades responsáveis nas esferas federal e estadual estabeleceram as diretrizes para a Educação Básica nos seus diversos setores. Não é objetivo deste módulo, fazer o estudo de cada uma dessas diretrizes. O que nos propomos aqui é fornecer-lhe as indicações para pesquisas, de modo que você possa conhecer a legislação que orienta a organização curricular de sua escola. Você pode encontrar material sobre legislação educacional nos sites do MEC e da SEE/MG: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/lei9394.pdf http://portal.mec.gov.br/cne/index.php?option=content&task=section&id=6&Ite mid=227 http://www.educacao.mg.gov.br/sistema/inicial.html 3.2 Objetivos e propósitos para o currículo: uma discussão necessária Ao estabelecer vínculos com o processo formativo, o que mais se faz como ação são as estruturações dos trabalhos e planejamentos para os mesmos, assim você, na sua prática diária, já deve ter percebido que não há nada mais importante, para qualquer sujeito, do que estabelecer, experimentar, ou mesmo avaliar objetivos, planos e/ou propósitos. Um autor que esta ligado a essas ideias é Perrenoud (2000), pois ele indica que, todo planejamento necessita de um propósito, vejamos que na vida cotidiana de todo ser humano, essas ações são comuns, pois existe essa atividade intencional é o que separa a espécie humana das outras em grau, se não em espécie – e é essa atividade que permite à nossa espécie a escolha de criar ou destruir intencionalmente. Ora! Somos dotados do livre arbítrio, o que nos permite realizar escolhas. http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/lei9394.pdf http://portal.mec.gov.br/cne/index.php?option=content&task=section&id=6&Itemid=227 http://portal.mec.gov.br/cne/index.php?option=content&task=section&id=6&Itemid=227 http://www.educacao.mg.gov.br/sistema/inicial.html 45 Mas, ao se usar essas ideias dentro da escola, deve-se sempre refletir que: Pois, bem dentro das unidades escolares, essa responsabilidade deve ser potencializada, afinal de contas estamos falando de formação de pessoas. Mas, para corroborar com essas ideias, é bom que se sustente o norte das discussões em um autor que já discutia sobre esse assunto, quando da proposição da escola Nova, que é John Dewey(1980) que dizia: Portanto, a ação concreta de planejar tem relação com esse currículo, que se baseie em uma pedagogia e epistemologia interativas, contrariando a ideia de um ser que é apenas espectador. Mas, o que se vivencia contemporaneamente, e 46 mesmo nos processos escolares da época de Dewey(1980), é e foi uma compreensão errônea do que vem a ser estabelecimento de objetivos educacionais para uma criação do significado e o planejamento intencional. Assim, dois entendimentos errôneos destacam-se como cruciais: Observe que a complexidade é a natureza da Natureza, e somente nas últimas décadas é que começamos a estudar seriamente a complexidade, ou seja, o homem contemporâneo se apresenta dentro de uma complexidade, e a isso deve-se atentar, pois qualquer pessoa que a tenha estudado percebe que ela supõe conceitos não reconhecidos pelo modernismo: a auto-organização e a transformação são dois desses conceitos. Em uma estrutura que reconhece a auto- organização e a transformação, os objetivos, planos e propósitos não surgem apenas antes, mas também a partir da ação. Assim, deve-se reconhecer que esse procedimento se faz essencial, de acordo com Dewey(1980): 47 Reconhecendo que esse dois campos são interativos, cada um levando ao outro e dependendo do outro. Assim, curricularmente dizendo, essa ação tem significado transposto em prática de planos tanto de curso como de aula, que se possam ser escritos, de maneira geral, livres, um com uma certa indeterminação. Ou seja, o que se pretende dizer com essa “certa indeterminação” que a medida que o curso ou a aula progride, a especificidade torna-se mais apropriada e é trabalhada conjuntamente – entre professor, alunos, texto, contexto e demais elementos que constituem esse processo de conhecimento. No entanto, esse planejamento deve ser estabelecido em conjunto, e que essa união de esforços possam permitir a flexibilidade – a utilização do inesperado – como também permite que os planejadores se compreendam e compreendam seu assunto com um grau de profundidade de outra forma não obtido. Mas, é bom lembrar que existem padrões no nosso planejamento, como Piaget, Vygotsky e Bruner nos ajudaram a perceber, já há tempos. Portanto, tanto o material do assunto (o texto) que usamos no nosso planejamento tem a sua própria estrutura, o processo histórico vivenciado e os parâmetros atuais possuem também a sua parcela de contribuição. Por isso, faz-se necessário, investigar a estrutura e a história de um assunto, pois essas ações nos fornecem insights, e esses vão além, muito além, mesmo dos que se encontram registrados nos livros didáticos. Por fim, o que se pretendeu defender aqui foi que o planejamento conjunto, aquele que se desenvolve, aproveitando o inesperado, pois este pode levar a um conhecimento fundamentado e, por consequência, apoio ao aluno na aquisição de:Pois, reconhecidamente, sabemos que todos esses elementos são importantes atributos nas nossas tentativas de desenvolver a competência no manejo do mundo em que vivemos. Assim, um currículo rico e bem planejamento com propósitos coerentes e significativos, pode, de certa maneira, nortear um trabalho mais responsável e sustentável dentro das unidades escolares. Um repertório crescente de descrições alternativas. 48 REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais-introdução, v. 1. Brasília: MEC/SEF,1997. COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Escola Básica na virada do século: cultura, política e currículo. São Paulo: Cortez, 2000. DEWEY, J. A Arte como Experiência. Trad. M.O.R.P. Leme. São Paulo: Abril Cultural, 1980. GIUSTA, Agnella da Silva. Construção de uma nova concepção de currículo. In: Procap – fase escola Sagarana, oficina 3. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 2001. HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Educação - os projetos de trabalho. Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: ArtMed, 1998. LANZA, Avani. Parâmetros curriculares nacionais: algumas considerações. In: Sistema de ação pedagógica – dicionário do professor: currículo. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, s/d, p. 45-52. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1990. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU. 1986. MOREIRA, A. F. e SILVA, T. T. (Orgs.) Currículo, cultura e sociedade. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2000. SANTOS, Lucíola Licínio de Castro Paixão. Dilemas e controvérsias no campo do currículo. In: Procap – fase escola Sagarana, oficina 3. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 2001, p. 29-44. SANTOS, Lucíola Licínio de Castro Paixão. Processo de construção do currículo. In: Veredas - formação superior de professores, mod. 3, v. 4. Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais, 2002, p. 150-174. SANTOS, Lucíola Licinio Paixão & PARAISO, Marlucy Alves. Currículo. Belo Horizonte: Presença Pedagógica, v.2, n. 7,jan./fev. 1996. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 49 ZABALA, Antônio. A prática educativa: como ensinar. Trad. Ernani F. da Rosa. Porto Alegre:Artmed, 1998. ZABALA, Antônio. A prática educativa: como ensinar. Trad. Ernani F. da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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