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MATERIAL DIDÁTICO FILOSOFIA E SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 2 SUMÁRIO UNIDADE 1: INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 3 UNIDADE 2: RELIGIÃO ..................................................................................................................................... 6 UNIDADE 3: FILOSOFIA ................................................................................................................................. 11 UNIDADE 4: SOCIOLOGIA ............................................................................................................................. 41 PALAVRAS FINAIS ........................................................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 54 Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 3 UNIDADE 1: INTRODUÇÃO A globalização do mundo atual, dentre outras exigências e imposições, nos desafia a ser competitivos e eficientes! Para tanto, não podemos apenas desenvolver habilidades técnicas e adquirir conhecimentos científicos específicos. É preciso desenvolver uma visão generalista e ao mesmo tempo, crítico-reflexiva que nos leve a ser criativos, autônomos e flexíveis e repassar igualmente aos nossos alunos, para que eles tenham as mesmas condições de reflexão, crítica, sobrevivência e desenvolvimento. Assim, tendo este curso o objetivo de capacitar profissionais da educação que atuam ou que desejam atuar na área de Ensino Religioso, despertando o interesse e novas vocações para as atividades de pesquisa no campo do conhecimento do ensino religioso, esta apostila vem colaborar, juntamente com as disciplinas História das Religiões e Religiões no Brasil, no sentido de apresentar, conceituar, discutir e analisar as nuances filosóficas e sociológicas do Ensino Religioso. Na ótica da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei nº 9.394/96), os conhecimentos de Filosofia e Sociologia são justificados como “necessários ao exercício da cidadania” (artigo 36, § 1o, inciso III). Como os demais componentes da Educação Básica, devem contribuir para uma das finalidades do Ensino Médio, que é a de “aprimoramento como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (art. 35, inciso II, da LDB). E devem, ainda, mais especialmente, seguir a diretriz de “difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática” (art. 27, inciso I, da LDB) (BRASIL, 2006). Não somente para o Ensino Médio, mas para as mais diversas compreensões nas mais variadas áreas do conhecimento e graduações diversas, a Filosofia e a Sociologia encontram aplicação. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 4 A formação integral do cidadão e sua inserção no mundo social têm suas bases na Filosofia, cabendo a ela, possibilitar o desenvolvimento da consciência crítica do homem e a integração de todos os saberes por ele produzidos. A Filosofia da religião nos permite compreender dentre outras questões, a problemática contemporânea de relações entre filosofia e fé cristã; ou seja, Deus, a criação, o mal, a redenção, o amor, o sofrimento, a possibilidade de uma ética cristã, bem como são elaborados os discursos religiosos. Já a Sociologia da Religião busca explicar empiricamente (baseando na observação da realidade, das experiências), as relações mútuas entre a religião e a sociedade. Seus estudos fundamentam-se na dimensão social da religião e na dimensão religiosa da sociedade (ARON, 2000). Ambas, Filosofia e Sociologia nos levam a desenvolver as mais variadas competências e habilidades, tais como: Identificar, analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as explicações das Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos, e as do senso comum; Construir instrumentos para uma melhor compreensão da vida cotidiana, ampliando a “visão de mundo” e o “horizonte de expectativas”, nas relações interpessoais com os vários grupos sociais; Compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de etnias e segmentos sociais, agindo de modo a preservar o direito à diversidade, enquanto princípio estético, político e ético que supera conflitos e tensões do mundo atual; Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes; Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras produções culturais; Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 5 Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico- tecnológica (BRASIL, 2008). Passaremos por definições, conceitos e análises da filosofia, sociologia e religião de modo geral para na sequência, apresentarmos e discutirmos o pensamento de filósofos e sociólogos que marcaram o tempo e as gerações. Concordando com Sponville (2002, p. 11) filosofar é pensar por conta própria; mas só se consegue fazer isso de um modo válido, apoiando-se primeiro no pensamento dos outros, em especial dos grandes filósofos do passado. A filosofia não é apenas uma aventura; é também, um trabalho, que requer esforços, leituras, ferramentas. Ressaltamos que o assunto não se esgota e tanto por isso, ao final da apostila são oferecidas bibliografias complementares para sanar dúvidas que, por ventura venham surgir no decorrer do estudo, possíveis lacunas e para aprofundamento dos senhores. Desejamos a todos uma boa leitura e um estudo proveitoso! Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 6 UNIDADE 2: RELIGIÃO Etimologia e história Para adentrarmos os campos da filosofia e sociologia da religião, que é o objetivo desta apostila, torna-se necessário discorrer um pouco sobre a origem tanto da palavra religião e seus significados quanto das abstrações que a cercam. Portanto, Religião é: Um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental. Um conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. Derivada do latim “re-ligare” que significa ‘ligar com” ou “ligar novamente”ou de “religio”, cujo sentido primeiro indicava um conjunto de regras, observâncias, advertências e interdições, sem fazer referência a divindades, rituais, mitos ou quaisquer outros tipos de manifestação que, contemporaneamente, entendemos como religiosas (SILVA, 2004). Histórica e culturalmente no Ocidente, o conceito de religião foi sendo construído adquirindo um sentido ligado à tradição cristã. O vocábulo “religião” - nascido como produto histórico de nossa cultura ocidental e sujeito a alterações ao longo do tempo – não possui um significado original ou absoluto que poderíamos reencontrar. Ao contrário, somos nós, com finalidades científicas, que conferimos sentido ao conceito. Tal conceituação não é arbitrária: deve poder ser aplicada a conjuntos reais de fenômenos históricos suscetíveis de corresponder ao vocábulo “religião”, extraído da linguagem corrente e introduzido como termo técnico (SILVA, 2004, p. 4). Acadêmica e cientificamente o conceito de religião não pode ser vago ou ambíguo como, por exemplo, “visão de mundo”, porque seríamos levados a entender que todas as visões de mundo são religiosas, o que não é verdade, bem como dizer que religião é “sagrado”, pois teríamos que definir sagrado e o seu oposto, profano. O seu conceito também não pode ser restrito como “acreditar em Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 7 Deus”, pois deixaríamos de fora o Budismo e os politeísmos, que acreditam em uma realidade sobrenatural ou transcendental técnico (SILVA, 2004). Partindo das inferências acima, Silva (2004) nos propõe que a definição mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de organização e análise, tem sido a seguinte: religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobrehumanos dentro de universos históricos e culturais específicos. A religião além de ser um fenômeno individual é um fenômeno social, como por exemplo, a igreja (povo judeu) e o partido comunista, que na realidade, são doutrinas, ou seja, mais que uma fé individual, é a adesão a um certo grupo social. Para Pauli (1997), a religião é uma consideração que trata de maneira sistemática a realidade como um todo. É pela visão do todo, por onde importa começar. Nesse contexto, aos sociólogos, cabe analisar as religiões como fenômenos sociais. Eles procurando desvendar a influência dela na vida do indivíduo e da comunidade. E no tocante aos filósofos, o que lhes interessa na realidade, é saber se a visão religiosa do universo é ou não verdadeira e, por conseguinte, a questão é saber se Deus existe! Nesse sentido são vários os argumentos a favor da existência de Deus, muitos deles apresentados na Idade Média. Por exemplo, só da autoria de S. Tomás de Aquino há cinco argumentos a favor da existência de Deus, dentre eles os três mais importantes e que discutiremos adiante são: O argumento ontológico; O argumento cosmológico; O argumento do designo. Estes argumentos ganharam um novo fôlego nas mãos de teístas contemporâneos como Alvin Plantinga1 e Richard Swinburne, que defendem versões mais sofisticadas de alguns deles, como a “teologia natural” que 1 Ver filósofos contemporâneos – capítulo 2. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 8 corresponde ao estudo racional de Deus e a “teologia revelada” que é o estudo de Deus baseado na fé e na revelação. Mas voltando à Idade Média, ela viveu mundos distintos: O mundo ocidental e cristão, com novas nações; O mundo bizantino, também cristão, mas em declínio; O mundo árabe, emergente; O remoto oriente, com um mínimo de contato (PAULI, 1997). A índole religiosa medieval era altamente proselitista. Era também fanática, ao ponto de criar guerras religiosas e sacros impérios, além da pena de morte por heresia. O poder político era considerado como vindo do alto, de sorte a haver uma conceituação teocrática da vida civil (PAULI, 1997). A unidade religiosa era considerada de importância para a segurança do Estado, além de se colocar o Estado a serviço da entidade religiosa instalada (PAULI, 1997). No século XVI, mais precisamente em 1513, pós Idade Média, encontramos Maquiavel. No seu entendimento o que confere valor a uma religião não é a importância de seu fundador, o conteúdo dos ensinamentos, a verdade dos dogmas ou a significação dos mistérios e ritos. Importa não a essência da religião e sim sua função e importância para a vida coletiva. A religião ensina a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso (AMES, 2006). Essa norma coletiva pode assumir tanto o aspecto coercivo exterior da disciplina militar ou da autoridade política quanto o caráter persuasivo interior da educação moral e cívica para a produção do consenso coletivo. Segundo Ames, Maquiavel se tornou conhecido pelo propósito, firmado em ‘O Príncipe’, de considerar “mais conveniente seguir a verdade efetiva da coisa do que a imaginação desta” (Il Príncipe, capítulo XV). Na análise do fenômeno religioso, ele constata a utilização deste “método”: a religião é examinada a partir de seus efeitos práticos, ou seja, pela capacidade de despertar tanto o medo quanto o amor dos cidadãos a favor do vivere civile. Em outras palavras, “seguir a verdade efetiva da Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 9 coisa” implica em privilegiar a “causa eficiente”. Tratando-se da religião, consiste num determinado procedimento metodológico que analisa esse fenômeno por sua capacidade de cumprir a tarefa cívica de mobilizar os homens a favor do fortalecimento do Estado. Em semelhante modo de considerar as coisas, as questões teológicas perdem importância. Deste modo, para Maquiavel, a religião é de origem puramente humana e possui, como toda instituição, fundadores e chefes. Ao chegarmos à história moderna da religião, o neocristianismo2 se torna o principal fenômeno, sendo neocristão, aquele que batiza ao modo de expressão religiosa meramente cultural, sem, todavia, acreditar no efeito purificatório deste cerimonial, que deve retirar do indivíduo batizado os efeitos do pecado original. Embora sejam muitas as religiões, competindo mesmo com grandes expressões numéricas, - como é o caso do islamismo e do budismo, - deve-se reconhecer a expressividade mantida ainda pelo cristianismo, sobretudo se a ele se somarem diferentes formas de neocristianismo (PAULI, 1997). O neocristianismo tem, digamos, várias ramificações: O unitarianismo que nega a Trindade das pessoas divinas, é um dos mais antigos neocristianismo porque lhe retirou um elemento que ordinariamente costuma ser admitido pelo anterior cristianismo (PAULI, 1997). O espiritismo, como é praticado por muitos, é também um neo-cristianismo (PAULI, 1997). Mais especificamente, é também possível falar em neo-catolicismo, neo- protestantismo, e similares. Já o deísmo pode aceitar a bíblia cristã, mas sem os milagres, sem ritos de efeito sobrenatural, sem visões e sem revelações. Neste sentido, o deísmo é um neocristianismo. Sobre o agnosticismo, que suspende a opinião frente à impossibilidade de provar sobre Deus, é uma decorrência coerente da filosofia positivista, ou empirista. Pode também resultar de uma posição idealista, sobretudo quando reduz os princípios universais (ou axiomas) à pura2 Ocorre o neo- quando se alteram partes essenciais, mesmo que seja somente por exclusão, como por exemplo, o neoplatonismo é um neo- em relação ao platonismo, do qual excluiu algo e acrescentou outro algo. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 10 conceptualidade e afasta outras vias como a intuicionista e a misticista (PAULI, 1997). Quanto ao misticismo, não se pode simplesmente declará-lo um neocristianismo, porque ele foi uma característica das velhas religiões, em cujo contexto nasceu o cristianismo. E foi o misticismo um fenômeno presente em todas as épocas do cristianismo. Entretanto, pode um místico dar ao seu misticismo um rumo não ortodoxo, e então ingressar na faixa dos neo-cristãos (PAULI, 1997). As diferentes formas de neocristianismo tendem progressivamente a crescer, apesar dos esforços em contrário das igrejas oficiais em favor de sua ortodoxia tradicional, isto porque, segundo Pauli, a tendência do homem de hoje é pensar com a própria cabeça, e é estimulado a isto, porque, mais do que em outras épocas, tem acesso a muitas fontes de informação sobre o mesmo tema. Acontece também hoje, que os pregadores das religiões nem sempre sabem tanto quanto aqueles que eventualmente os ouvem. Por causa da prosperidade do pensamento crítico, prospera o número dos ‘neo-‘ em todas as religiões. A título de resumo, embora tenhamos uma apostila voltada para a história das religiões e as religiões no mundo, encontra-se abaixo um quadro resumo com as concepções das principais religiões: DEFINIÇÃO/CARACTERÍSTICA RELIGIÃO Ateísmo É a negação da existência de qualquer tipo de deus e da veracidade de qualquer religião teísta. Budismo - Confucionismo – Taoísmo Agnosticismo É a dúvida sobre a existência de deus e sobre a veracidade de qualquer religião teísta, por falta de provas favoráveis ou contrárias. Deísmo É a crença num deus que só pode ser conhecido através da razão, e não da fé e revelação. Monoteístas Acreditam na existência de um único Deus. Judaísmo – Cristianismo – Islamismo - Espiritismo Politeístas Acreditam na existência de mais de um deus. Xintoísmo – Hinduísmo - Xamanismo Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 11 UNIDADE 3: FILOSOFIA Conceitos, história e fundamentos Num primeiro momento e numa definição bem simplista, poderíamos dizer que a filosofia busca dar respostas precisas a perguntas diversas que se relacionam com as coisas do universo tais como: de onde viemos e para onde vamos. Na realidade, a filosofia quer explicar o universo e a natureza. Ela estuda os problemas gerais, enquanto as demais ciências estudam os menos gerais, mas sempre dependendo e se apoiando nas ciências. Esses problemas gerais ou abstratos do mundo podem ser entendidos: como a mente (que é o pensar), a matéria, a razão, a demonstração e a verdade. Etimologicamente a palavra Filosofia vem do grego philos (amigo) + sophia (sabedoria). Significa, portanto, amizade, amor e respeito pelo saber, pela sabedoria. O filósofo seria aquele que ama e busca a sabedoria. De acordo com Chauí (2003) os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e início do século VI a.C, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto, sendo considerado, Tales de Mileto, primeiro filósofo. O seu conteúdo ao nascer foi a cosmologia3. Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza. Chauí expõe em suas análises que existe um problema que, durante séculos, vem ocupando os historiadores da Filosofia: o de saber se a Filosofia - que é um fato especificamente grego - nasceu por si mesma ou dependeu de contribuições da sabedoria oriental (egípcios, assírios, persas, caldeus, babilônios) e da sabedoria de civilizações que antecederam à grega, na região que, antes de ser a Grécia ou a Hélade, abrigara as civilizações de Creta, Minos, Tirento e Micenas. 3 Cosmo (mundo ordenado e organizado) + logia (pensamento ou discurso racional, conhecimento) Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 12 Durante muito tempo e de acordo com afirmações de Platão e Aristóteles, a Filosofia nascera por transformações que os gregos operaram na sabedoria oriental. Os gregos, diziam eles, povo comerciante e navegante, descobriram, através das viagens, a agrimensura dos egípcios (usada para medir as terras, após as cheias do Nilo), a astrologia dos caldeus e dos babilônios (usada para prever grandes guerras, subida e queda de reis, catástrofes como peste, fome, furacões), as genealogias dos persas (usadas para dar continuidade às linhagens e dinastias dos governantes), os mistérios religiosos orientais referentes aos rituais de purificação da alma (para livrá- la da reencarnação contínua e garantir-lhe o descanso eterno), etc. (CHAUÍ, 2003, p. 29). Dessa forma, da agrimensura, os gregos fizeram nascer duas ciências: a aritmética e a geometria; da astrologia, fizeram surgir também duas ciências: a astronomia e a meteorologia; das genealogias, fizeram surgir mais uma outra ciência: a história; enfim, dos mistérios religiosos de purificação da alma, fizeram surgir as teorias filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana. Os pensadores judaicos, como Filo de Alexandria, e os Padres da Igreja, como Eusébio de Cesaréia e Clemente de Alexandria defendiam a filiação oriental da Filosofia porque ela tornara-se, em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos da época, os romanos, a forma superior ou mais elevada do pensamento e da moral (CHAUÍ, 2003). Os judeus, para valorizar seu pensamento, desejavam que a Filosofia tivesse uma origem oriental, dizendo que o pensamento de filósofos importantes, como Platão, tinha surgido no Egito, onde se originara o pensamento de Moisés, de modo que havia uma ligação entre a Filosofia grega e a Bíblia (CHAUÍ, 2003). Os Padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e por isso mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamento místico e oriental e, dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, que é uma religião oriental. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 13 No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”, e muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar na Filosofia como sendo o “milagre grego” (CHAUÍ, 2003, p. 30). Com a palavra “milagre” queriam dizer várias coisas: Que a Filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a preparasse; Que a Filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio de um milagre; Que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes e nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia, como foram os únicos a criar as ciências e a dar às artes uma elevação que nenhum outro povo conseguiu, nemantes e nem depois deles (CHAUÍ, 2003). Mas como enfatizou a autora, nem oriental, nem milagre! Desde o final do século XIX da nossa era e durante o século XX, estudos históricos, arqueológicos, linguísticos, literários e artísticos corrigiram os exageros das duas teses, isto é, tanto a redução da Filosofia à sua origem oriental, quanto o “milagre grego”. Retirados os exageros do orientalismo, percebe-se que, de fato, a Filosofia tem dívidas com a sabedoria dos orientais, não só porque as viagens colocaram os gregos em contato com os conhecimentos produzidos por outros povos (sobretudo os egípcios, persas, babilônios, assírios e caldeus), mas também porque os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os poetas Homero e Hesíodo, encontraram nos mitos e nas religiões dos povos orientais, bem como nas culturas que precederam a grega, os elementos para elaborar a mitologia grega, que, depois, seria transformada racionalmente pelos filósofos. Assim, os estudos recentes mostraram que mitos, cultos religiosos, instrumentos musicais, dança, música, poesia, utensílios domésticos e de trabalho, formas de habitação, formas de parentesco e formas de organização tribal dos gregos foram resultado de contatos profundos com as culturas mais avançadas do Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 14 Oriente e com a herança deixada pelas culturas que antecederam a grega, nas regiões onde ela se implantou (CHAUÍ, 2003). Esses mesmos estudos apontaram, porém, que, se nos afastarmos dos exageros da ideia de um “milagre grego”, podemos perceber o que havia de verdadeiro nessa tese. De fato, os gregos imprimiram mudanças de qualidade tão profundas no que receberam do Oriente e das culturas precedentes, que até pareceria terem criado sua própria cultura a partir de si mesmos. Dessas mudanças, podemos mencionar quatro que nos darão uma ideia da originalidade grega: 1. Com relação aos mitos: quando comparamos os mitos orientais, cretenses, micênicos, minóicos e os que aparecem nos poetas Homero e Hesíodo, vemos que eles retiraram os aspectos apavorantes e monstruosos dos deuses e do início do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; deram racionalidade às narrativas sobre as origens das coisas, dos homens, das instituições humanas (como o trabalho, as leis, a moral); 2. Com relação aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciência (isto é, num conhecimento racional, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática para o uso direto na vida. Assim, transformaram em matemática (aritmética, geometria, harmonia) o que eram expedientes práticos para medir, contar e calcular; transformaram em astronomia (conhecimento racional da natureza e do movimento dos astros) aquilo que eram práticas de adivinhação e previsão do futuro; transformaram em medicina (conhecimento racional sobre o corpo humano, a saúde e a doença) aquilo que eram práticas de grupos religiosos secretos para a cura misteriosa das doenças. E assim por diante; 3. Com relação à organização social e política: os gregos não inventaram apenas a ciência ou a Filosofia, mas inventaram também a política. Todas as sociedades anteriores a eles conheciam e praticavam a autoridade e o governo. Mas, por que não inventaram a política propriamente dita? Nas sociedades orientais e não-gregas, o poder e o governo eram exercidos como autoridade absoluta da vontade pessoal e arbitrária de um só homem ou de um pequeno grupo de homens que decidiam sobre tudo, sem consultar a ninguém e sem justificar suas decisões para ninguém. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 15 Os gregos inventaram a política (palavra que vem de polis, que, em grego, significa cidade organizada por leis e instituições) porque instituíram práticas pelas quais as decisões eram tomadas a partir de discussões e debates públicos e eram adotadas ou revogadas por voto em assembléias públicas; porque estabeleceram instituições públicas (tribunais, assembléias, separação entre autoridade do chefe da família e autoridade pública, entre autoridade político-militar e autoridade religiosa) e, sobretudo, porque criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da vontade coletiva pública e não como imposição da vontade de um só ou de um grupo, em nome de divindades. Os gregos criaram a política porque separaram o poder político e duas outras formas tradicionais de autoridade: a do chefe de família e a do sacerdote ou mago; 4. Com relação ao pensamento: diante da herança recebida, os gregos inventaram a ideia ocidental da razão como um pensamento sistemático que segue regras, normas e leis de valor universal (isto é, válidas em todos os tempos e lugares. Assim, por exemplo, em qualquer tempo e lugar 2 + 2 serão sempre 4; o triângulo sempre terá três lados; o Sol sempre será maior do que a Terra, mesmo que ele pareça menor do que ela, etc. (CHAUÍ, 2003, p. 31). Embora os historiadores lhe atribuam data, local de nascimento e primeiro filósofo, atribui-se a Pitágoras a criação da palavra Filosofia, que foi gerada ao longo da história da humanidade em decorrência da curiosidade e inquietação do próprio ser humano que, ao querer compreender todas as coisas, questionava os valores e interpretações que a maioria dos homens aceitava com sendo sua realidade. Parece que fugimos um pouco do tema chave que é a filosofia da religião, entretanto, é preciso deixar claro que conhecer a história, o passado, é ponto de partida, é a base, o alicerce para a compreensão do presente e para que possamos construir um futuro, se necessário, mais esclarecedor. Antes, porém, de voltarmos nosso pensamento para a atualidade, quando já conseguimos entender que a Filosofia é uma disciplina ou área de estudo que envolve a investigação, análise, discussão, formação e reflexão de ideias em Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 16 situação geral, vejamos alguns conceitos de filósofos famosos de vários tempos, os quais serão analisados a posteriori quando de interesse dessa apostila. Plantão (428-347 a.C.) afirma que a filosofia é o uso do saber em proveito do homem, o que implica posse de um conhecimento que seja o mais amplo e válido possível e o uso desse conhecimento em benefício do homem. Para René Descartes (1596-1650), significa estudo da sabedoria. Thomas Hobbes (1588-1679) entende como o conhecimento causal e a utilização desse em benefício do homem. Para Immanuel Kant (1724-1804) é ciência da relação do conhecimento à finalidade essencial da razão humana, que é a felicidade universal; portanto, a Filosofia relaciona tudo com a sabedoria, mas através da ciência. John Dewey (1859-1952) pontua que é a crítica dos valores, das crenças, das instituições, dos costumes, das políticas, no que se refere seu alcance sobre os bens. Sucintamente Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) define como a ciência da ciência em geral. Auguste Comte (1798-1857) conceitua como a ciência universal que deve unificar num sistema coerente os conhecimentos universais fornecidos pelas ciências particulares. Para Chauí (2003) e Oliveira (2008), a Filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. Ela não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo. É, antes de mais nada, uma prática de vida que procurapensar os acontecimentos além de sua pura aparência. Pode pensar a ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pensar a religião; pode pensar a arte; pode pensar o próprio homem em sua vida cotidiana. Quando começamos a colocar em questão tudo que sabemos (ou que pensamos saber) a filosofia nos apresenta como algo negativo, entretanto, a possibilidade de questionarmos, de transformarmos os valores e as ideias mostra o seu lado positivo. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 17 Devido sua natureza, ou seja, dentro do seu modo questionador, investigador, o pensamento crítico apresentado pela filosofia, gera, a cada resposta, uma nova pergunta e assim, sucessivamente. Segundo Chauí (2003), ao filósofo é mais importante perguntar do que responder, sendo três as perguntas básicas que rodeiam o pensamento do filósofo: 1º. Perguntar ‘o que’ é a coisa, o valor ou a ideia. A filosofia pergunta qual é a realidade ou a natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importando qual; 2º. Perguntar ‘como’ é a coisa, a ideia ou o valor. A Filosofia indaga qual é a estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma ideia ou um valor; 3º. Perguntar ‘por que’ a coisa, a ideia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo para conhecer-se, para indagar como é possível o próprio pensamento (CHAUÍ, 2003). Ainda no entendimento de Chauí (2003) “a filosofia não é um ‘eu acho que’ ou um ‘eu gosto de’. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores e montar uma propaganda”. Ela é mais do que um refletir. Ela é refletir sobre o refletir, surgindo quando a própria capacidade de refletir é posta em questão e tanto por isso que, para Sócrates, o ponto de partida do filosofar é o reconhecimento da própria ignorância. A afirmação “só sei que nada sei” só pode ser feita por alguém que já exerceu uma autocrítica, que já se debruçou sobre as bases de seus conhecimentos e os avaliou de modo adequado (CHAUÍ, 2003). Pontualmente a reflexão filosófica questiona: Os motivos, as razões e as causas de pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos e fazermos o que fazemos; Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 18 O conteúdo ou o sentido do que pensamos, do que dizemos ou fazemos; A intenção e a finalidade do que pensamos, dizemos ou fazemos (SILVA NETO, 2008). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 19 Três formas de se conceber a Filosofia Segundo Chauí (2003), Politzer (2001) e outros autores, existem três formas de concebermos a filosofia, sendo elas: a forma metafísica, a positivista e a crítica. A forma metafísica prevaleceu na Antiguidade e na Idade Média, tendo como característica principal, a negação de que qualquer investigação autônoma fora da Filosofia tivesse validade. Naqueles tempos, um conhecimento era filosófico ou não era conhecimento. As demais ciências eram apenas parte da Filosofia, sendo esta, o saber único possível. Para Politzer (2001) a metafísica só tem importância na filosofia burguesa, uma vez que se ocupa de Deus e da alma. Tudo aí é eterno. Deus é eterno, não mudando, permanecendo igual a si mesmo; a alma também. O mesmo acontece com o bem, o mal, etc., estando tudo isso nitidamente definido, definitivo e eterno. Nessa parte da filosofia que se chama metafísica, vêem-se, pois, as coisas como um conjunto congelado, e procede-se, no raciocínio, por oposição: opõe-se espírito à matéria, o bem ao mal, etc., isto é, raciocina-se por oposição das contrárias entre elas (POLITZER, 2001, p. 99-100). Ainda segundo Politzer, chama-se metafísica a essa maneira de raciocinar, de pensar, porque trata das coisas e das ideias que se encontram fora da física, como Deus, a bondade, a alma, o mal, etc. Metafísica vem do grego meta, que quer dizer além, e de física, ciência dos fenômenos do mundo. Portanto, metafísica ocupa-se de coisas situadas além do mundo. Na segunda forma, Positivista, o conhecimento cabe às ciências e à Filosofia cabe coordenar e unificar os resultados. Os positivistas abandonaram a busca pela explicação de fenômenos externos, como a criação do homem, por exemplo, para buscar explicar coisas mais práticas e presentes na vida do homem, como no caso das leis, das relações sociais e da ética. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 20 A filosofia positivista de Comte, surgida no século XIX, nega que a explicação dos fenômenos naturais, assim como sociais, provenha de um só princípio. Tem como base teórica os três pontos seguintes: 1) Todo conhecimento do mundo material decorre dos dados "positivos" da experiência, e é somente a eles que o investigador deve ater-se; 2) Existe um âmbito puramente formal, no qual se relacionam as ideias, que é o da lógica pura e da matemática; e, 3) Todo conhecimento dito “transcendente” - metafísica, teologia e especulação acrítica - que se situa além de qualquer possibilidade de verificação prática, deve ser descartado (CHAUÍ, 2003). Na terceira forma, a crítica, a Filosofia é juízo sobre a ciência e não conhecimento de objetos. Sua tarefa é verificar a validade do saber, determinando seus limites, condições e possibilidades efetivas. Segundo essa concepção, a Filosofia não aumenta a quantidade do saber, portanto, não pode ser chamada propriamente de “conhecimento” (CHAUÍ, 2003). Segundo Ewing (2008), recentemente, a filosofia crítica tem sido frequentemente contraposta à metafísica (que nesse caso é às vezes denominada filosofia especulativa). A filosofia crítica analisa e critica os conceitos pertencentes ao senso comum e às ciências. As ciências pressupõem certos conceitos que não são suscetíveis de investigação por meio de métodos científicos, de modo que passam a integrar o âmbito da filosofia. Nesse sentido, todas as ciências, com exceção da matemática, pressupõem de alguma forma a concepção de lei natural; cabe à filosofia, e não a qualquer das ciências particulares, examinar tal concepção. Enfim, a parte da filosofia crítica que trata da investigação da natureza e dos critérios de verdade, assim como da maneira pela qual obtemos conhecimento, é chamada de epistemologia (teoria do conhecimento). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 21 Filosofia da Religião Para Martins (1994) a Filosofia da Religião é uma das disciplinas que se constitui numa das divisões da filosofia. Tem por objeto o estudo da dimensão espiritual do homem desde uma perspectiva filosófica (metafísica, antropológica e ética), indagando e pesquisando sobre a essência do fenômeno religioso: "o que é afinal, a religião?". Para o seu estudo são usados os métodos: histórico-crítico comparativo, o filológico e oantropológico. O primeiro deles compara as várias religiões no tempo e no espaço, em busca de seus aspectos mais comuns e suas diferenças, para verificar o que constitui a essência do fenômeno religioso. O segundo faz o estudo comparativo das línguas, visando encontrar as palavras utilizadas para descrever e expressar o sagrado e suas raízes comuns e o terceiro método procura reconstruir o passado religioso tendo por base a etnologia (estudo dos povos primitivos e atuais, suas instituições, crenças, rituais e tradições) (PAULI, 1997). Na realidade, a Filosofia da Religião precisa conjugar adequadamente os métodos para obter a melhor soma de elementos para chegar à conclusão mais correta sobre a essência da religião e suas características universais. Para estudar a filosofia da religião, Pauli sugere sua divisão em duas partes, sendo a primeira, o estudo dos seus fundamentos e a segunda, o estudo da mesma enquanto culto, isto porque, todos os indivíduos se ocupam com religião o que acaba por envolver um fenômeno cultural. Em termos de fundamentos encontramos no monismo pré-socrático, o surgimento paulatino do conceito de Deus, como causa externa do mundo. A ideia filosófica sobre Deus, - como ente ao lado ou acima do mundo, mas sem se confundir com os deuses mitológicos surgidos do caos, - principiou com as razões filosóficas que apelam à causa eficiente do mundo (sobretudo para operar o movimento e estabelecer a ordem das coisas). Ainda continuando o pensamento de Pauli, os pré-socráticos conceberam as causas como intrínsecas ao mundo, e por isso não reclamavam um ser exterior para Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 22 estabelecer a ordem e o movimento. E por isso eram monistas, e somente neste plano falavam do divino. A crescente preocupação com as causas gerou finalmente a filosofia da divindade, ainda que em termos de monismo. Embora os pré- socráticos não chegassem a ideia de um Deus transcendente, pertence já a eles a ocupação com o divino nas causas. Entretanto, os tempos atuais, marcado pelo saber científico e pelo uso exagerado das técnicas não deixa espaço para que seja dada a devida importância à Filosofia da Religião devida importância. Outro fator contribuinte, segundo Zilles (2006) se relaciona com a Teologia que está muito pulverizada nos dias atuais, ou seja, sobrou quase que somente a Bíblia para análises e discussões. Para ele, a racionalidade ocidental é uma cultura de reflexão, orientada pelo paradigma do monoteísmo, desde Platão até Hegel. Os movimentos críticos contra o pensamento religioso e o próprio ateísmo só se compreendem dentro do paradigma monoteísta. A referência à questão de Deus, também ex negativo e indiretamente, permanece determinante até Marx, Nietzsche e Freud. Como diz ele: a filosofia da religião não se limita a descrições neutras de costumes da linguagem religiosa, nem fixa normas arbitrárias para o uso religioso da linguagem. Sua missão consiste em mostrar sentido e profundidade da religião, na vida humana, de maneira crítica. Vale usar a razão, para completar a fé, e crer, para aprofundar a razão, enfim, humanizar mais o homem e a humanidade [...]. A filosofia da religião pensa criticamente o fenômeno religioso como fenômeno que diz respeito ao homem e à humanidade, tornando-se uma expressão de liberdade. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 23 Quatro grandes períodos da Filosofia voltada para a Religião A Filosofia da Religião passou por quatro grandes períodos que foram: 1. Filosofia antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C); 2. Filosofia patrística (século I ao século VII); 3. Filosofia medieval (do século VIII ao século XIV); 4. Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI) A filosofia patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião - o Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da nova verdade e convertê- los a ela. Tal filosofia se liga à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos, sendo obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Com Santo Agostinho e Boécio, introduziu a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo. Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (através da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 24 A Filosofia medieval abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades ou escolas, onde passou a ser ensinada (daí sua também denominação – Escolástica). Sofreu influências de Platão e Aristóteles e ainda conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, a Filosofia medieval acrescentou outros - particularmente um, conhecido com o nome de Problema dos Universais – passando a sofrer uma grande influência das ideias de Santo Agostinho (PAULI, 1997). É desse período que remonta a Filosofia cristã, que é, na verdade, a teologia, que tinha como tema constante, provar a existência de Deus e da alma, isto é, demonstrar racionalmente a existência do infinito criador e do espírito humano imortal. Os grandes temas da filosofia medieval foram: a diferença e separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo), a diferença entre razão e fé (a primeira deve subordinar-se à segunda), a diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (espírito), o Universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais, minerais), a subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos. Uma característica marcante da Escolástica foi o método inventado para expor as ideias filosóficas, conhecida como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida por argumentos tirados da Bíblia, de Aristóteles, de Platão ou de outros Padres da Igreja e, dependendo da força dos argumentos, poderia ser considerada falsa ou verdadeira. Dentre os teólogos medievais mais importantes temos: Abelardo, Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, São Boaventura.Do lado árabe: Avicena, Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi (CHAUÍ, 2003). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 25 A Filosofia na Renascença foi marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos. Predominam as seguintes linhas de pensamento: 1. A ideia da Natureza como um grande ser vivo; o homem fazendo parte da Natureza como um microcosmo (como espelho do Universo inteiro) e podendo agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e criar outros, como um deus. 2. A valorização da vida ativa, isto é, a política, e a defesa dos ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano- Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores resgataram autores políticos da Antiguidade, historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos antigos” ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico. 3. Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro). As grandes descobertas marítimas da época garantiram ao homem novos conhecimentos, permitindo-lhes ter uma visão crítica de sua própria sociedade, principalmente críticas profundas à Igreja Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na ideia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma a Igreja respondeu com a Contra-Reforma e com o recrudescimento do poder da Inquisição. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 26 Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa (CHAUÍ, 2003). Chauí discorre ainda sobre outros grandes períodos da Filosofia, que não se voltaram tanto para a religião como os anteriores, mas merecem algumas considerações. Dentre eles, o período que vai do século XVII a meados do século XVIII, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, marcado pelo surgimento do sujeito do conhecimento, ou seja, as reflexões da filosofia partem da indagação de qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos, para depois responder à questão das coisas exteriores. Predomina nesse período, a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas, existindo também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional. Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi (CHAUÍ, 2003). Em meados do século XVIII e começo do século XIX predomina o Iluminismo, período em que a Filosofia crê nos poderes da razão e através dela, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política, é capaz de evoluir e progredir, sendo um ser perfectível. Nesse sentido, ele pode liberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais, da superstição e do medo, graças as conhecimento, às ciências, às artes e à moral (CHAUÍ, 2003, p. 58). Nesse período há grande interesse pelas ciências que se relacionam com a ideia de evolução e, por isso, a biologia terá um lugar central no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da filosofia da vida (CHAUÍ, 2003). Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant e Fichte (CHAUÍ, 2003). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 27 Enfim chegamos ao período da Filosofia contemporânea que vai de meados do século XIX até os dias atuais, definido por Chauí como o mais complexo e difícil de definir devido às várias posições filosóficas. Grandes Filósofos e suas concepções acerca da religião A nossa porta de entrada para o mundo dos filósofos se dará em Aristóteles (384-322 a.C.) embora possamos citar antes dele, Thales de Mileto (considerado o primeiro filósofo), Anaxímenes, Pitágoras, Heráclito de Éfeso, Sócrates, Platão e outros, pelo simples motivo que nos interessa nesta apostila especificamente, analisar a filosofia da religião e não as demais, digamos, vertentes ou áreas. Aristóteles possuía um conceito de Deus coerente com a veneração que ele e os gregos em geral tinham pela razão e pelo intelecto. Posteriormente, essas ideias foram de grande influência para o desenvolvimento racional de uma psicologia e teologias cristãs. Para Aristóteles, todas as coisas estão em movimento, sendo impossível conceber tanto o começo quanto o fim do movimento, portanto, deve existir um primeiro motor produzindo o movimento eterno e esse motor deve, por sua vez, ser imóvel, caso contrário, outro motor seria necessário para movê-lo. Deus é esse primeiro motor, eterno, imortal, não-material e perfeito (COLLINSON, 2006, p. 49). Já Santo Agostinho (354-430 a.C.) também conhecido como Agostinho de Hippo, expõe uma filosofia cristã que postula uma combinação entre fé e razão. Segundo ele “entendimento é busca da fé. Busque, portanto, não compreendê-la da maneira como você pode acreditar, mas acreditar de maneira que você possa compreendê-la”. Entretanto, a fé isoladamente é apenas um tipo de aprovação cega, precisando ser consolidada e tornada inteligível por meio da razão. É largamente devido à influência de Agostinho que o cristianismo ocidental concorda com a doutrina do pecado original e a Igreja Católica sustenta que batismo e ordenações feitos fora dela podem ser válidos (a Igreja Católica Romana reconhece ordenações feitas na Igreja Ortodoxa Oriental e Ocidental, mas não nas Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 28 igrejas protestantes, e reconhece batismos de quase todas as igrejas cristãs). Os teólogos católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no “presente eterno”; e o tempo só existe dentro do universo criado. O pensamento de Agostinho foi também basilar na orientação da visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo, portanto, mais importante. Afirmava, ainda, que a interpretação das escrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural.Santo Agostinho coloca a filosofia a serviço da teologia, adotando ideias platônicas e neoplatônicas, moldando de acordo com sua própria abordagem. Maimônides (Moisés Ben Maimon, 1135-1204) foi o mais proeminente filósofo judeu. Como Aristóteles, ele afirma que Deus é puro intelecto e confirma também que o intelecto humano tem uma semelhança com o de Deus. Seus posicionamentos influenciaram a filosofia ocidental do século XIII, influenciando os debates que cresceram e floresceram por aproximadamente duzentos anos após sua morte (COLLINSON, 2006, p. 60). A filosofia de São Tomaz de Aquino (1225-1274), chamado de “Doutor Angélico” pelo papa Pio V entrelaça com a sua teologia. Ele procurou estabelecer uma coexistência harmoniosa entre fé e razão, demonstrando em primeiro lugar, que os princípios da fé não contradizem as conclusões da filosofia e, segundo, que eles não se afastam dela e formam a base dos argumentos filosóficos (COLLINSON, 2006, p. 61). Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, introduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto na Idade Média, na escolástica anterior, compaginou um e outro, de forma a obter uma sólida base filosófica para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas “Summae”, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: são elas a “Summa Theologiae”, a “Summa Contra Gentiles” (MARTINS FILHO, 1997). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 29 A partir dele, a Igreja tem uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão (MARTINS FILHO, 1997). Explica que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus, o mal é a ausência de uma perfeição devida e a essência do mal é a privação ou ausência do bem (MARTINS FILHO, 1997). Guilherme de Ockham (1285-1349) foi acusado de heresias e excomungado da Igreja pelo Papa XXII. Seu empirismo tinha como base a crença de que tudo no mundo é contingente para o livre arbítrio de Deus. Sua doutrina nominalista reforça a alegação de que somente coisas individuais são reais. Isso quer dizer que, uma vez que todo conhecimento deriva de uma consciência intuitiva imediata das coisas particulares, sugere-se que ele condena toda possibilidade de conhecimento de Deus. Guilherme de Ockham faz uma clara separação entre revelação e fé por meio do conhecimento sensível e abstrato, produzindo impactos de longo alcance no pensamento filosófico. Contudo, como sua concepção de universo era dependente, em última instância, da contingência de uma vontade divina, tal estaria além da apreensão humana, sendo imutável. Enfim, para ele Deus não pode ser objeto de análises (COLLINSON, 2006). René Descartes (1591-1650) foi considerado o primeiro pensador moderno, além de grande matemático. A famosa declaração “penso logo existo” (conhecida como ‘cogito’) é a prova significativa de sua existência como um ser pensante e o ponto de partida de sua pesquisa para obter a certeza. Essa certeza fornece a ele a base requerida para a construção do seu edifício do conhecimento. Ele oferece dois argumentos para a existência de Deus. O primeiro argumento parte do reconhecimento de si mesmo como ser existente, que, em virtude de suas dúvidas, é imperfeito, já que é capaz de conceber a ideia de Deus como um ser perfeito. No seu entendimento essa ideia perfeita só poderia ser Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 30 oriunda de um ser perfeito, portanto, Deus deve existir como sendo a origem desta ideia. Essa versão do argumento cosmológico, apóia-se quase que inteiramente no princípio escolástico de que há, pelo menos, tanta realidade na causa quanto no efeito, isto é, se a ideia é perfeita, então sua causa é igualmente perfeita. O argumento ontológico é o segundo argumento de Descartes para a existência de Deus, argumentando que a ideia de um ser supremamente perfeito é a de um ser que contém toda a perfeição, e assim, contém a perfeição em todos os seus graus (COLLINSON, 2006, p. 102). Para Benedictus ou Bento de Espinoza (1632-1677) pertencente ao grupo de pensadores do século XVII, que além de filósofos eram matemáticos e cientistas, incluindo Descartes, Leibniz e Hobbes, afirmava que existe somente uma substância e que esta seria Deus. Existem comentários de que era obcecado por Deus, principalmente porque em seus argumentos filosóficos, ele utilizava formas geométricas e fornecia definições e axiomas baseados em proposições, provas e corolários. Sua intenção em todos os escritos era utilizar a razão para descobrir a verdade pura, e deste modo, “possuir um gozo contínuo e supremo para toda a eternidade” (COLLINSON, 2006, p. 106). Seu pensamento era de que conhecendo a verdade sobre as coisas que estão no mundo, seria capaz de aprender a agir corretamente e obter bem- aventurança. O conceito de substância era a base de sua busca pela verdade, sendo a substância conceituada como aquilo que existe em si mesmo e é concebida por meio de si mesma; é aquilo que não depende de nada mais para a sua existência. Ao que ele nomeou em sua Parte 1 da Ética, como Deus ou natureza. Essa identificação de Deus com o universo físico chocou os contemporâneos, mas Espinosa insiste que o criador e toda sua criação devem ser uma única substância. Deus e natureza são um; Deus é imanente e não transcendente; Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 31 considerados como um todo, Deus ou Natureza são auto-criados e, portanto, completamente livres (COLLINSON, 2006, p. 108). Na doutrina de Leibniz (1646-1716) encontramos restrições não somente à liberdade dos indivíduos, mas também à de Deus, partindo do seu pressuposto de que o conceito de indivíduo envolve tudo o que poderá acontecer a ele. A liberdade de Deus está, também, restrita àquilo que, uma vez decretado na existência de um indivíduo, aquela existência irá seguir: um curso implacável, ou seja, que Deus não estaria apto para alterar, e a liberdade do indivíduo seria completamente inexistente, visto que os eventos de sua vida estariam predestinados (COLLINSON, 2006, p. 125). Joseph Butler (1692-1752), bispo de Durham já associa sua filosofia moral muito mais à teologia natural do que à teologia da revelação. Ele postula que o que é ensinado na religião está de acordo com o que o governo natural nos outorgou por meio dos reconhecimentos preparados pela Providência. Faz dentre outras, analogias entre a natureza e a religião revelada. Todas as criaturas, sugere ele, vieram ao mundo e foram nutridas por outras. Do mesmo modo, Deus governa o mundo por mediação e Jesus Cristo é o nosso mediador. As escrituras não explicam a eficácia desta mediação, mas o fato de ser misteriosa não deve ser utilizado como um argumento contra ela, visto que a mediação não é senão uma das muitas matérias que ficam além do alcance natural das nossas faculdades. Ele argumenta ainda, que há muitas evidências históricas para apoiar o cristianismo; o todo é perfeitamente crível, e o corpo das evidênciaspositivas para tal não pode ser destruído, ainda que partes destas possam ser questionadas (COLLINSON, 2006, p. 138). Dentro da filosofia moderna, Butler faz parte de um movimento que conduz da confiança na religião revelada para o estudo da natureza humana e da ideia da consciência individual como o guia para a conduta moral. Para George Berkeley (1685-1753) a matéria não existe! Ele assegurava que todos os objetos que percebemos e que tomamos ordinariamente como existentes no mundo exterior a nós, constituem simples coleções de ideias presentes apenas Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 32 nas nossas mentes. Assegura ainda que Deus implanta as ideias em nós, de maneira ordenada e que, na sua mente, tudo existe em todos os tempos. Para ele tudo depende da vontade de Deus, sendo Deus quem mantém a comunicação entre os espíritos, por meio da qual eles estão aptos para perceber a existência um dos outros. Em relação ao seu discurso sobre os espíritos, encontra dificuldade para manter sua coerência, uma vez que as ideias são somente ideias dos sentidos, então não poderia existir a ideia de um espírito. Ele diz que as ideias são passivas e inertes e os espíritos, seres ativos e não podem, portanto, ser ideias. Berkeley é um empirista ao colocar a experiência como a medida do significado e da realidade. Para Collinson (2006, p. 133) na realidade, Berkeley espana a sujeira para debaixo dos nossos pés, ou seja, ele funde os conceitos de matéria e ideia, mas ao final, não convence. Emanuel Kant (1724-1804) apresentou um trabalho muito original, que lhe reservou enorme receptividade, além de colocá-lo como um dos mais importantes filósofos ao lado de Platão e Aristóteles. Suas produções aconteceram num período em que a filosofia passava por um momento crucial, em que pesava uma tensão entre a aliança do pensamento racional que florescia no continente europeu e o empirismo adotado da Grã-Bretanha. Reconheceu as reivindicações dos empiristas quanto à experiência ser a origem de todas nossas crenças, no entanto, não aceitou a conclusão cética de que estas mesmas crenças não poderiam ser justificadas. Tomou como tarefa para si, descobrir a existência de um conhecimento metafísico, isto é, o conhecimento relacionado a problemáticas tais como a existência de Deus, da imortalidade da alma e sobre a possibilidade dos seres humanos possuírem livre arbítrio. O seu livro “Crítica da Razão Pura” articula temas tão diferentes quanto filosofia da religião, moral, arte, história e ciência, bem como epistemologia e metafísica. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 33 Kant argumenta que podemos ter o conhecimento da causalidade no mundo das aparências, devido ao conceito puro de causalidade, ser exemplificado para nós na observação dos fenômenos do mundo e dos nossos julgamentos realizados de acordo com estes serem universalmente válidos. O que nós não podemos conhecer são as coisas em si mesmas, o que ele chamou de aspecto noumenal dos fenômenos. Nós também não podemos conhecer a verdade de preposições metafísicas tais como “Deus existe”, ou, “os seres humanos possuem almas imortais”, isto porque conceitos do tipo “Deus” e “alma” são exemplificados pela experiência. Kant denomina estes conceitos de Ideias ou Razão, os quais podem ser pensados, todavia não podem ser objetos do conhecimento, pois somente podemos conhecer o que é passível de ser objeto de uma experiência possível (COLLINSON, 2006, p. 159). Segundo Hegel (1770-1831), a Filosofia faz com que a religião seja superada, quando esta se apropria do seu conteúdo, tendo a capacidade de reconciliação do ser humano com Deus e do finito com o Infinito, ao mesmo tempo. Importante frisar que, para Hegel, Deus não é transcendente ao mundo. Ele tem uma visão monista, ou seja, diviniza o mundo e a história. Segundo Collinson (2006, p. 169) Hegel sustentava que a filosofia, a religião e a arte constituíam meios de compreensão do Absoluto. Enquanto pastor, a principal preocupação de Hegel eram os problemas religiosos do cristianismo. Atacou sempre a ortodoxia, não a doutrina propriamente. Acreditava na doutrina do Espírito Santo. Para ele, o espírito do homem, sua razão, são uma vela do Senhor. Essa fé de base religiosa na Razão é o fundamento de todo o trabalho de Hegel. Sua obra “O espírito do cristianismo e seu destino, fado” mostra que os judeus eram escravos da Lei de Moisés, vivendo uma vida sem amor em comparação com a dos gregos antigos. Jesus ensinou algo inteiramente diferente. O homem não deve ser escravo de comandos objetivos: a lei é feita para o homem, porém, fica acima da tensão da experiência moral entre a razão e a inclinação porque a lei é para ser cumprida com amor a Deus (COBRA, 2008). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 34 O Reino, no entanto, não pode realizar-se neste mundo: o homem não é somente espírito, mas também carne. Igreja e Estado, adoração e vida, piedade e virtude, ação espiritual e mundana nunca podem se dissolver em uma coisa só. É a partir desse pensamento religioso que começa a aparecer sua ideia de uma síntese de pólos opostos, no amor, - um pré-figuramento do espírito como a unidade na qual as contradições, tais como infinito e o finito, são abraçadas e sintetizadas. As contradições do pensamento no nível científico são inevitáveis, mas o pensamento como uma atividade do espírito ou "razão" pode elevar-se acima delas para uma síntese na qual as contradições são resolvidas. Este pensamento, escrito em textos religiosos, está nos manuscritos de Hegel do final de sua estada em Frankfurt (COBRA, 2008). Ainda de acordo com os estudos de Cobra acerca do pensamento de Hegel, há pressuposições de que a história da humanidade é um processo através do qual a humanidade tem feito progresso espiritual e moral e avançado seu auto- conhecimento. A história tem um propósito e cabe ao filósofo descobrir qual é. Alguns historiadores encontraram sua chave na operação das leis naturais de vários tipos. A atitude de Hegel, no entanto, apoiou-se na fé de que a história é a representação do propósito de Deus e que o homem tinha agora avançado longe bastante para descobrir o que esse propósito era: ele é a gradual realização da liberdade humana. Em muitos pontos o pensamento de Hegel serviu aos fundamentos do marxismo, e um deles é sua concepção de que os Estados têm que ser encontrados por força e violência, pois não há outro caminho para fazer o homem curvar-se à Lei antes dele ter avançado mentalmente tão longe suficiente para aceitar a racionalidade da vida ordenada. Alguns homens aceitarão as leis e se tornarão livres, enquanto outros permanecerão escravos. No mundo moderno o homem passou a crer que todos os homens, como espíritos, são livres em essência, e sua tarefa é, assim, criar instituições sob as quais eles serão livres de fato (COBRA, 2008). Henri Bergson (1859-1941) acreditava que o homem fosse capaz de superar o domínio da inteligência e de guardar o impulso criador, superando o nível estático Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 35 da moral e da religiãoaté transcender plenamente o élan vital, o impulso vital, que, definitivamente, é de Deus, se não é o próprio Deus. De acordo com Bochenski (2008) Bergson faz uma divisão: há uma religião estática e uma religião dinâmica. A religião estática consiste numa reação defensiva da natureza contra os efeitos da atividade da inteligência, que ameaçam oprimir o indivíduo ou dissolver a sociedade. A religião estática prende o homem à vida e o indivíduo à sociedade mediante fábulas que se assemelham a canções de berço. A religião é obra da “função fabuladora” da inteligência. A inteligência, em sentido estrito, ameaça desfazer a coesão social, e a natureza não pode opor-lhe o instinto, cujo lugar foi precisamente substituído no homem pela inteligência. Mas a natureza ajuda-se mediante a produção da função fabuladora. Se o homem sabe, pela inteligência, que tem de morrer, coisa que o animal não sabe, e se a inteligência lhe ensina que entre a tentativa e o êxito desejado existe o espaço desanimador do insondável, a natureza volta a ajudá-lo a suportar este conhecimento amargo, fabricando, graças a sua função fabuladora, deuses. O papel da função fabuladora nas sociedades humanas corresponde ao do instinto nas sociedades animais. A religião dinâmica, o misticismo, é algo inteiramente diferente. Resulta de um retorno na direção donde procede o élan vital, e nasce da pressentida captação do inacessível a que a vida aspira. Este misticismo é próprio somente de homens extraordinários. Não se manifestou ainda entre os velhos gregos, como nem em forma perfeita na Índia, onde não deixou de ser puramente especulativo. Contudo surgiu entre os grandes místicos cristãos, que possuíam uma saúde espiritual que se pode qualificar de perfeita. A religião cristã aparece como a cristalização deste misticismo, mas, por outro lado, constitui o seu fundamento, porque os místicos são todos imitadores originais, embora imperfeitos, daquele que nos deixou o Sermão da Montanha (BOCHENSKI, 2008). A experiência dos místicos permite-nos defender não só a probabilidade das concepções relativas à origem do élan vital, como também a afirmação da existência de Deus, que não se pode provar com argumentos lógicos. Os místicos ensinam também que deus é o amor, e nada impede que os filósofos desenvolvam a ideia, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 36 sugerida por eles, de o mundo não ser mais do que um aspecto palpável deste amor e da necessidade divina de amor (BOCHENSKI, 2008). Bertrand Russell (1872-1970) exerceu grande influência no desenvolvimento da filosofia do século XX. Embora tenha se voltado para vários tópicos dentro da Filosofia, suas maiores contribuições acontecem no campo da lógica matemática e da filosofia da lógica. Russell era cético no que se referia à argumentação relacionada com a existência de Deus, dizendo que não observava nenhuma razão para acreditar numa deidade, o que podemos encontrar no seu livro “Porque não sou cristão” onde critica e examina os argumentos sobre a existência de Deus. Igual criticidade encontramos a respeito da prática e da teologia cristã (COLLINSON, 2006, p. 235). Como expoente do Existencialismo Ateísta, encontramos Jean-Paul Sartre (1905-1980). Segundo Sartre, o homem está abandonado; Deus não existe e, para Sartre, a não-existência de Deus tem implicações extremadas. Aliás, alguns dos problemas principais que se levantam do abandono parecem também levantar-se meramente do fato de nós não podermos saber se Deus existe. Se Deus realmente existe, nós “não estamos abandonados”. O problema do abandono levanta-se meramente do fato de nós não podermos saber se Deus existe. Sua existência em tais condições equivale, para Sartre, em uma não-existência efetiva, que tem implicações drásticas. Primeiro, porque não há Deus, não há nenhum criador do homem e nem tal coisa como um concepção divina do homem de acordo com a qual o homem foi criado. Segundo, diz ele, louvando-se em Dostoiévski (na fala de Ivan Karamazov, na famosa novela daquele escritor russo): Se Deus não existe, então tudo é permitido. Terceiro, “Não há um sentido ou propósito último inerente à vida humana; a vida é absurda” (COBRA, 2008). Isto significa que o indivíduo, foi jogado de fato na existência sem nenhuma razão real para ser. “Simplesmente descobrimos que existimos e temos então de decidir o que fazer de nós mesmos.” (COBRA, 2008). Resta como o único valor para o existencialismo ateu, a liberdade. Afirma que não pode haver uma justificativa objetiva para qualquer outro valor. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 37 Porque não há nenhum Deus, não há nenhum padrão objetivo dos valores. Com o desaparecimento dele desaparece também toda possibilidade de encontrar valores. Não pode, então, haver qualquer bem a priori porque se nós não sabemos se Deus existe, então nós não sabemos se há alguma razão final porque as coisas acontecem da maneira que acontecem; não há nenhuma razão final porque qualquer coisa tenha acontecido ou porque as coisas são da maneira que elas são e não de alguma outra maneira e nós não sabemos se aqueles valores que acreditamos que estão baseados em Deus têm realmente validade objetiva. Consequentemente, porque um mundo sem Deus não tem valores objetivos, nós devemos estabelecer ou inventar, a partir da liberdade, nossos próprios valores particulares. Na verdade, mesmo se nós soubéssemos que Deus existe e aceitássemos que os valores devessem basear-se em Deus, nós ainda poderíamos não saber que valores estariam baseados em Deus, nós poderíamos ainda assim não saber quais seriam os critérios e os padrões absolutos do certo e do errado. E mesmo se nós sabemos quais são os padrões do certo e do errado (critérios), exatamente o que significam ainda seria matéria da interpretação subjetiva. E assim o dilema humano que resultaria poderia ser muitíssimo o mesmo como se não houvesse Deus (COBRA, 2008). Em Alvin Plantinga (1932- ), filósofo americano da modernidade, encontramos trabalhos que giram em torno da epistemologia da religião cristã. Ele apresenta uma crítica detalhada do fundacionalismo4 clássico, das diversas formas de coerentismo e de confiabilismo, e fornece uma defesa impressionante da racionalidade do teísmo cristão, incluindo não somente a crença em Deus como também as doutrinas clássicas do cristianismo. Além disso, apresenta uma refutação importante do naturalismo filosófico, procurando mostrar que a crença no Darwinismo pressupõe uma confiança epistemológica coerente com a visão teísta do homem e dos processos cognitivos (embora o Darwinismo seja considerado contrário ao teísmo), mas incoerente com as suas pressuposições naturalistas. Isso o projetou como o principal filósofo cristão evangélico no mundo contemporâneo. 4 O fundacionalismo baseia-se na observação de que boa parte das crenças que alguém sustenta baseia-se em outras crenças, ou seja, funda-se nelas, mas isso não pode ser verdade para todas as crenças; pelo menos algumas delas são aceitas sem base em outras (PLANTINGA, 1992 apud CARVALHO, 2006). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 38 Segundo Carvalho (2006) Plantinga inspirou-se, para a construção de sua proposta, em elementos teológicos oriundos da tradição
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