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APS - MULHERES DE CONFORTO

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15
Universidade Paulista – UNIP
Thais Pereira Giora RA: D1831I-1
AS MULHERES DE CONFORTO COREANAS COMO UM CRIME DE GUERRA
Campinas,
2019
Thais Pereira Giora
AS MULHERES DE CONFORTO COREANAS COMO UM CRIME DE GUERRA
Trabalho de curso por meio de elaboração de artigo científico para o Instituto de Relações Internacionais na Universidade Paulista UNIP, para atender requisitos ao curso de graduação em Relações Internacionais.
 Orientadora: Profª. Helena Salim de Castro.
Campinas,
	2019	
AS MULHERES DE CONFORTO COREANAS COMO UM CRIME DE GUERRA
Resumo
A Guerra do Pacífico fez da Coréia uma colônia do Japão (1932-1945), e transformou mais de 200 mil mulheres e adolescentes de diferentes idades em “mulheres de conforto”, vítimas que foram tiradas de suas casas e famílias sob o pretexto de uma vida melhor. Enganadas e até mesmo sequestradas, elas serviram como o consolo sexual dos soldados japoneses em prédios abandonados que começaram a servir como bordéis. E, incentivados pelo governo japonês, os soldados do Império se aproveitavam das vítimas, as obrigando a manter relações por mais de 30 vezes ao dia durante todo o período da Guerra. Ao final, poucas foram as sobreviventes que puderam retornar as suas casas, mas, elas não tiveram a chance de serem reconhecidas pois, o Japão nunca assumiu a culpa e, traumatizadas e oprimidas pela sociedade não tiveram a oportunidade de ter uma vida normal e nenhum reparo psicológico pelo crime que ficou silenciado por mais de 70 anos. Mesmo com a ajuda da ONU que em 1996 interviu nas relações entre Japão e Coréia, o mesmo ainda não cumpre com sua responsabilidade moral e legal. Ainda no aguardo de justiça, as mulheres que não morreram nos dias atuais, se tornaram símbolo para muitos movimentos feministas na Coréia e viraram tópico para a discussão dos Direitos Humanos no âmbito da Segurança Internacional em uma guerra política que parece não haver fim. Este estudo procura explorar o lado histórico para explicitar o crime de guerra e suas consequências que foram omitidas e a influência no feminismo na Coréia do Sul atualmente.
Palavras-Chave: Mulheres de Conforto, Crime de Guerra, Segurança Internacional.
THE COREAN CONFORT WOMEN AS A WAR CRIME
Abstract
The Pacific War made Korea a colony of Japan (1932-1945), and turned more than 200,000 women and teenagers of different ages into “women of comfort,” victims who were taken from their homes and families under the guise of a better life. Deceived and even kidnapped, they served as the sexual consolation of Japanese soldiers in abandoned buildings that began to serve as brothels. Moreover, encouraged by the Japanese government, Empire soldiers took advantage of the victims, forcing them to maintain sexual relations more than 30 times a day throughout the war. In the end, few survivors were able to return home, but they were not given a chance to be recognized as Japan never took the blame and, traumatized and oppressed by society they had no chance to have a normal life and none psychological repair for the crime that has been silenced for over 70 years. Even with the help of the UN that intervened in relations between Japan and Korea in 1996, Japan still does not fulfill its moral and legal responsibility. Still awaiting justice, women who have not died until today have become a symbol for many feminist movements in Korea and have become a topic for the discussion of human rights within the framework of international security in a seemingly endless political war. This study seeks to explore the historical side to make explicit the war crime and its consequences that were omitted and the influence in South Korea’s feminist movements currently.
Key Words: Comfort Women, War Crime, International Security.
Sumário
I. Introdução..............................................................................................................................5
V. Contextualização histórica anterior à Guerra.................................................................. 6
VI. O Sistema de Conforto e o papel da mulher coreana......................................................7
VII. As Relações Diplomáticas com o Japão e o reconhecimento do crime.........................9
VIII. A Teoria Feminista e o encaixe no caso das Mulheres de Conforto.........................11
XIII. Considerações Finais.....................................................................................................13
XIV. Referências Bibliográficas.............................................................................................13 
I. Introdução
Apesar da colonização japonesa ter começado em 1905, foi apenas durante os anos de 1932 a 1945, em uma disputa com EUA e outros países asiáticos, que a Guerra do Pacífico deslanchou e trouxe um dos maiores casos de tráfico humano, as chamadas “mulheres de conforto”. De acordo com Okamoto (2013), o governo japonês enxergou uma necessidade de satisfazer seus soldados sexualmente, assim, criou-se as estações de conforto, os então locais onde as coreanas eram levadas e obrigadas a manter relações a qualquer momento do dia.
A partir deste fato, é possível determinar o abuso físico e mental sofrido por todas as mulheres que passaram por essa “experiência”, no entanto, ainda é um pouco complicado explicar o motivo de tantos anos de silêncio que se sucederam após o término da Guerra do Pacífico, tanto por parte do Governo Coreano quanto o Governo Japonês. Medidas só começaram a ser tomadas muito depois do ocorrido. Enquanto isso, as vítimas continuaram sozinhas, sem o apoio governamental e com vergonha de seu próprio passado em uma sociedade patriarcal que as considerou “impuras”, tanto para o casamento quanto para arranjar empregos, as obrigando viverem sem o reconhecimento que deveriam.
Até hoje, as Mulheres de Conforto são um assunto inacabado por parte dos Governos. Ao lado da Embaixada Japonesa na Coréia, há uma estatueta de uma mulher que representa as mais de 200 mil vidas (AZENHA, 2017), que foram perdidas ou interrompidas. Em 2015, no governo de Park (2013-2017), na Coréia do Sul, houve um acordo que ainda não foi bem aceito pela população, deixando que as negociações prossigam repletas de farpas, onde a culpa ainda não foi completamente reconhecida e o reparo moral também não foi concluído, conforme Brito e Vieira (2017).
Este artigo é elaborado por meio da metodologia qualitativa, de modo a abranger o papel da mulher coreana para que fosse discutido a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial, explicitando os crimes de guerra que ocorreram (estupro e escravidão sexual), que não foram reconhecidos pelo Japão até os dias atuais colocando a Relação Diplomática em risco e, como foi promovido a pressão dos movimentos feministas asiáticos e dos Direitos Humanos a partir deste fato. De acordo com Okamoto (2013), as coreanas representaram aproximadamente 80% do número de vítimas por toda a Ásia nesta época, sendo acompanhadas de perto pelo Governo Japonês. Também visa a discussão da influência que isto levou aos movimentos feministas atuais, como o maior exemplo da falta de reconhecimento da mulher como sujeito passível de proteção legal. A partir disso, este estudo está dividido em contextualização histórica e o funcionamento do Sistema de Conforto, abordando as relações diplomáticas que se seguiram para enfim, agrupar estes acontecimentos na Teoria Feminista nos estudos de Segurança Internacional. 
IV. Justificativa
O recrutamento de mulheres jovens em um trabalho que de início deveria ser voluntario e, que ajudaria ao sustento da família, acabou se tornando em um acontecimento humilhante e desumano para a história. No entanto, o mais chocante é entender que este foi silenciado pelos próprios governos em uma tentativa de fugir da culpa e vergonha internacional e, até mesmo, para manter valores machistas dentro de uma sociedade.
É impressionante descobrir que muitos nãoconhecem a luta pelas quais mais de 200 mil jovens passaram no período de colônia japonesa na Segunda Guerra Mundial, conseguindo se tornar um segredo muito bem guardado. Porém, os acontecimentos que se sucedem em uma onda de aparição de sobreviventes que se juntaram e se fizeram ser ouvidas traz à tona uma mudança cultural e política que faz parte de um conservadorismo que as excluíam e as tratavam severamente como “impuras”.
E demonstra como a ONU teve um papel fundamental em ouvir e compartilhar aquilo que o Japão vinha escondendo e reportar internacionalmente os erros cometidos, mesmo que há muito tempo, para que as maiores vítimas tivessem o reconhecimento de que não são e nunca foram culpadas. Momento este, que promoveu levantes feministas pela Ásia de muitas garotas que agora lutam por um espaço maior de fala na sociedade, tudo por conta daquelas que sofreram presas em um silêncio quase eterno.
	Para tanto, propagar este acontecimento e analisá-lo de forma realística e factual colabora para que este período não fique esquecido, o que retoma o importante fator de que a história não deve ser silenciada.
V. Contextualização histórica anterior a Guerra
	No momento em que o Japão Imperial se envolveu contra os Estados Unidos e alguns países da Ásia na Segunda Guerra Mundial, criou-se um conflito paralelo que durou de 1932-1945, a chamada Guerra do Pacífico. No entanto, o Japão já se expandia militarmente pelo território da China e já comandava a Península Coreana desde 1905, pelo Tratado de Portsmouth, em que o concedia total direito sob a Coréia, conforme descrito por Azenha (2017).
De acordo com Okamato (2013), o território coreano era dominado economicamente pela agricultura, em especial o arroz e, o Japão se preparou para maximizar esta produção. Houve mudanças políticas e, como dito por Azenha (2017), o processo de colonização também migrou para os aspectos sociais como a língua e os seus costumes, os nomes também foram mudados para quebrar com as tradições familiares, desafiando a identidade coreana a se sustentar em meio a estas mudanças.
			
				 [...]. Para o Japão, a Coreia era o primeiro passo para o domínio e 					assimilação da região que passava mesmo pela adopção de nomes 					japoneses e a visita aos templos xintoístas como forma de demonstrar 					a lealdade para com o Imperador japonês[...]. A implementação das 					políticas de assimilação e controlo económico da Coreia eram duas 					componentes importantes no projecto de segurança e expansão geo 					estratégica militar do Japão destinados a obter o reconhecimento 					internacional enquanto uma grande potência. (AZENHA, 2017, P.21)
Assim, o Japão observa na Coréia uma possibilidade de “Manpower” para aumentar a força militar e, nos anos 30, como explicado por Dolgpool (1994), o Império Japonês criou os programas voluntários com a promessa de uma defesa nacional de Japão e Coréia. Muitos foram levados para trabalhos em minas, agricultura e fábricas no território nipônico. Apesar de ser descrito como voluntário, Dolgpool (1994), indica que o número de coreanos com “ódio” dos japoneses e a quantidade necessária de voluntários são conflitantes, o que indica que o método de recrutamento, certamente não foi pacífico como se alega, além disso, houve uma segurança forte para garantir que os “trabalhadores” não deixassem o seu local de trabalho.
É neste contexto que as Estações de Conforto surgem, o Jeongsindae (Corpo de Serviço Laboral Voluntário) necessitou de mais trabalhadores conforme a guerra ia ficando mais intensa, mas, como os homens eram mandados para a Guerra, as mulheres viram uma oportunidade de poderem se inserir nas instalações de fabricas e até mesmo na agricultura. Porém, conforme Okamoto (2013), este foi o início do Sistema de Conforto.
VI. O Sistema de Conforto e o papel da mulher coreana 
	Com a chance de entrar para o Jeongsindae (Corpo de Serviço Laboral Voluntário), as mulheres se voluntariaram para trabalharem em navios, hospitais e fábricas de guerra. Aproveitando-se da situação, o Governo as recrutou com falsas promessas para as Estações de Conforto militares, muitas ainda foram coagidas e outras sequestradas. Conforme Okamoto (2013), a situação das Estações era imunda e desumanas:
					[...]. As jovens eram confinadas em barracas imundas, divididas em 					pequenos cubículos de aproximadamente 1,85m², e forçadas a ter 					relações sexuais com soldados japoneses, geralmente entre 10 a 30 					vezes por dia, mas havendo casos de 50 a 60 vezes por dia. Além 						disso, eram submetidas por eles a tratamentos extremamente brutais e 					degradantes, que envolviam tortura, espancamento, queimaduras de 					cigarro, ou mesmo esfaqueamento. (OKAMOTO,2013, P. 96)
A situação nas Estações não era agradável, em alguns casos os soldados chegavam a matar as mulheres descritas como “dormentes” (que não esboçavam nenhuma reação durante o ato sexual). As autoras Okamoto (2013) e Azenha (2017) ainda pontuam que as doenças venéreas era um dos maiores problemas desses lugares e, de modo a auxiliar nesta situação, o Governo distribuía camisinhas, porém, este número era limitado dado a quantidade de vezes em que as relações podiam acontecer ao dia. Para tanto, as mulheres lavavam os preservativos que estivessem usados e os reutilizavam várias vezes ao dia.
Muitas das que estavam nesses lugares eram jovens coreanas, virgens e solteiras de 12 ou 14 anos, que foram levadas de suas famílias muito cedo, recrutadas como forma de entretenimento pelas tropas militares, elas eram transportadas para diversas regiões do país para suprir a necessidade sexual dos combatentes. De acordo com Soh (1996), essas mulheres chegaram a ser conhecidas pelos soldados pelo degradante nome de “toalete público”.
Um relato de um soldado mostra o verdadeiro descaso que havia para com essas mulheres durante os anos da Guerra:
[...] A bordo estavam mulheres usando lenços coloridos - vermelho, amarelo, azul. Pareciam-nos como anjos descidos do céu. A tropa ficou muito animada, depois de estar separada de mulheres por tantos meses. Sexo lá era lamentável. Havia uma fila de edifícios do tipo quartel e ao entrar em um havia apenas um colchão. Estava nojento depois de ter absorvido o suor e graxa de milhares de homens. Uma noite eu escapuli para a "estação de conforto". Depois de conversar por um tempo com o proprietário, eu paguei a taxa para a noite e entrei no quarto de uma mulher. Ela era pequena, maltrapilha e tratou o negócio bastante mecanicamente, como se fosse enfadonho. Não havia charme, não era diferente de aliviar-se no banheiro. Ela aparentava ter apenas dezoito ou dezenove anos e não havia nada de erótico em seus membros frágeis, que não pareciam totalmente desenvolvidos e transmitiam uma impressão patética. Durante a ação, ela não fez nenhum som e não mostrou nenhuma agitação. Nem sequer respirou mais forte. Foi insatisfatório e lamentável. (OKAMOTO,2013, P.97)
Muitas mulheres se suicidaram, de acordo com Soh (1996), depois de muito tempo suas mortes foram reconhecidas como virtuosas. Ainda de acordo com a autora, quando as sobreviventes voltaram para suas casas, se depararam com uma sociedade extremamente patriarcal, que as rejeitavam e não as deixavam esquecer de seu passado trágico, por trazerem vergonha à suas famílias, ainda haviam aquelas que escondiam de seus pais o verdadeiro acontecimento, naquela época, a castidade de uma mulher era extremamente valiosa. A maioria veio de regiões pobres e com pouca educação o que dificultou ainda mais a vida e postergou a luta pela justiça.
Por isso, quando o assunto foi levado às autoridades do já então Governo Coreano, 50 anos depois (OKAMOTO,2013), elas foram completamente ignoradas pela falta de evidência para se poder prestar queixas contra o Japão. Em 1991, foi feito o primeiro depoimento público de uma Mulher de Conforto coreana, o que criou uma cascata de outros depoimentos que com a ajuda dos movimentos feministas de diversos países asiáticos culminaram em uma reparação ativa.Mesmo escondidas, as vítimas desta escravidão sexual levaram a diferentes movimentos para a Liberdade Feminina, para o direito ao trabalho, ao voto e, principalmente ao livramento de uma sociedade patriarcal. Foram criadas diversas associações não governamentais que tinham o objetivo de prestar a assistência que Coréia e Japão não prestavam, principalmente dado ao momento mundial em que o Sistema Internacional se encontrava. Conforme Azenha (2017), a questão do Conforto só irá surgir novamente quando ambos os países tentam uma reaproximação diplomática e econômica em meados dos anos 60. No entanto, a verdadeira questão foi deixada de lado e, como dito por Soh (1996), o Embaixador Japonês não achou a questão importante e a Coréia precisava de apoio, até mesmo houve a exploração de mão de obra barata de jovens mulheres para que se conseguisse reerguer o país, como também foram utilizadas como profissionais do sexo para o turismo internacional para se ganhar a moeda estrangeira, e, Okamoto (2013), ainda ressalta que muitas tropas americanas se encontravam no país, continuando com toda a escravidão e contrariando toda uma necessidade de ajudar e reconhecer a mulher como um ser e não como objetos do capitalismo.
VII. As Relações Diplomáticas com o Japão e o reconhecimento do crime
	O Estado Japonês apenas reconheceu a culpa pela primeira vez em 1992, depois do primeiro depoimento público ter sido feito e apenas depois que foram descobertas evidências concretas sobre o ocorrido por um professor japonês. De acordo com Azenha (2017), este pedido veio acompanhado de uma desculpa a não dar nenhum tipo de apoio monetário às vítimas, o que ocasionou em uma “briga” entre os países.
					De modo geral, o discurso machista dominante dos 	funcionários do 					governo, dos intelectuais e dos formadores de opinião japoneses 					parecia considerar o problema das "mulheres de conforto" 						principalmente como um problema de compensação econômica, 					dando pouca atenção às violações de direitos humanos dessas 					mulheres. (OKAMOTO, 2013, P. 105)
	Por conta de toda a situação, a ONU fez uma intervenção no ano de 1992, após o pedido do Conselho Coreano, solicitando uma investigação sobre todas as atrocidades que ocorreram durante a Guerra do Pacífico, para que ajudasse a pressionar o governo em relação às indenizações que ainda não haviam sido recebidas. Muito se deu por parte dos movimentos feministas e da Subcomissão das Nações Unidas para a Prevenção da Discriminação e Proteção das Minorias que considerou o sistema japonês de "mulheres de conforto militar" um crime contra a humanidade por violar os Direitos Humanos, sendo considerado então, um crime de Guerra, a escravidão sexual nas Estações de Conforto (OKAMOTO,2013). 
	Mesmo com o caso nas Nações Unidas, o Japão ainda não demonstrava nenhuma posição favorável que previsse o auxílio necessário às vítimas. E, de acordo com a autora Soh (1996), o Estado nipônico teve um esforço grande em não permitir que as investigações prosseguissem como deveriam, intervindo sempre que necessário e sendo bem-sucedido neste aspecto. O Comitê contra a Tortura (2013), redigiu uma queixa contra Tóquio em 1994 e mais de dez anos depois ela ainda não foi solucionada.
	O assunto foi encerrado em 1997 sem nenhuma solução plausível, a relação entre Coréia e Japão fica estremecida, porém, por assuntos econômicos e contínuas mudanças políticas dentro dos países ela continua. Mas, em 2013, no que foi considerado uma ofensa o Primeiro Ministro Japonês visitar o Santuário Yasukuni (dedicado à memória dos combatentes japoneses na II Guerra Mundial), líderes da China e da Coréia do Sul reviveram as Mulheres de Conforto (BRITES; VIEIRA 2017).
	Por conta desta visita, não houve encontros entre os líderes da Coréia do Sul e do Japão, havendo um isolamento na região japonesa. Enquanto isso, a Coréia buscava se aliar a novos parceiros vizinhos asiáticos. Os autores Brites e Vieira (2017) colocam a postura do Governo Park (2012- 2016), como um momento de reaproximação que culminou em um acordo.
						[...] Em dezembro de 2015, os dois governos anunciaram 						um acordo em relação às “comfort women”. O Japão 						reconheceu a dor das vítimas e se comprometeu com o 						pagamento de indenização para que se crie uma fundação de 						apoio às vítimas. (BRITES; VIEIRA 2017)
	Essa postura, não agradou as vítimas que reconheceram neste acordo apenas uma forma de voltar aos laços econômicos e, depois do Impeachment de Park, a situação voltou a ficar insustentável. A Embaixada Japonesa é vista com protestos semanais, a fim de algum tipo de reconhecimento, ao lado dela, há uma estátua de uma Mulher de Conforto.
Figura 1- Estatua de uma Mulher de Conforto ao lado da Embaixada Japonesa em SEUL
 Fonte: Mundo Nipo, 2017
VIII. A Teoria Feminista e o encaixe no caso das Mulheres de Conforto
	As abordagens Feministas conseguem explicar o que acontecia no mundo para que as mulheres fossem omitidas dos conflitos armados. Essas teorias, começam a ter um importante papel nas Relações Internacionais e na Segurança Internacional a partir da década de 1980, com o visível fim da Guerra Fria que iria ocorrer em um pouco mais de uma década. Ainda, se percebe que o Sistema Internacional se encontra fortemente masculinizado e excluí casos de violência contra as mulheres, sendo este o contexto em que as coreanas precisam lutar para ter o seu reconhecimento dos acontecimentos cometidos a elas na Guerra do Pacífico.
						[...]sua principal crítica consiste na ausência da ótica de 						gênero nos estudos de Segurança Internacional, bem como 						nas políticas geridas a partir de Organismos Internacionais e 						de Estados que são essencialmente masculinizados. Entre as 						diversas formas de justificar as questões de gênero no campo, 						as diversas formas de dominação e subordinação feminina 						que são atingidas diretamente por políticas de defesa dos 						Estados acabam sendo as vítimas da violência internacional, 						tendo como exemplos: casos de estupros sistemáticos como 						forma de estratégias militares[...] (LIMA, 2016, P. 50)
	Portanto, é possível visualizar que as Mulheres de Conforto, foram extremamente rejeitadas pelo Japão e pelo Sistema Mundial, por conta de toda a masculinização e objetificação, elas ficaram caladas por 50 anos, o que muito tem a ver com a diferença entre os gêneros.
Conforme Lima (2016), é necessário diferenciar o indivíduo do coletivo na segurança. Entendendo que o conceito de gênero parte de uma estruturação social, cultural, política e discursiva. A autora, ainda coloca como os estudos levaram a uma conclusão de que as mulheres são mais pacíficas que os homens.
						A movimentação pacífica de mulheres desempenhou um 						importante papel na consolidação do movimento feminista 						pacifista, entretanto o fator crucial para a inserção das 						pesquisas feministas na Segurança Internacional pode ser o 						das dinâmicas internas dos debates acadêmicos, interligados 						aos processos de liberalização feminista ocorrido nos anos de 						1960 e 1970. (LIMA, 2016, P. 54)
	
A conta “mulheres = paz” trouxe uma perspectiva de que a mulher também não teria coragem, a levando para dentro de casa, nos trabalhos domésticos (privado) e o homem para o lado de fora (público), as levando para uma maior pobreza e uma depreciação de “valor” no mercado, sugerindo um maior nível de insegurança e dominação (LIMA, 2016). E, então, a mulher seria um “alvo” fácil para a subordinação e dominação dentro do sistema (Sistema de Conforto).
	Como a maior insegurança feminina ocorre em qualquer ambiente, sendo em nível estatal e internacional (o caso de estupro como o mais comum) e, a proteção acontecendo por hierarquias. É difícil, que uma mulher se sobressaia e ganhe destaque nas lutas contra esses crimes, podendo até mesmo ser um caso de contenção, o uso da força militar, por exemplo, pode ser legitimado como uma ordem social (LIMA,2016). Precisando-se de um novo meio para se olharfora da hierarquia social formada e que abrace os mais fracos da sociedade e seus comportamentos.
	Na ótica do Pós – Segunda Guerra, se inaugurou uma nova ordem social que continha a globalização e novos tipos de conflitos, com novas tecnologias e novas armas (sendo elas, biológicas também). Neste meio, identificamos uma invisibilidade de gênero, em uma política Internacional com poucas protagonistas em um histórico de subjugação da mulher. (LIMA,2016).
	O estupro virou uma arma de guerra e um crime de guerra, como nas Estações de Conforto, ele desumanizou as vítimas e as tirou de uma vida saudável que, conforme Lima (2016) vem de uma hierarquia social. E, como mencionado pela autora Okamoto (2013), quando voltaram muitas esconderam o seu passado com medo do desacolhimento dos parentes, sendo forçadas a viver como se o trauma não estivesse presente.
							Os casos de estupro e conflitos exploram tanto a 							vulnerabilidade quanto a vergonha e o sentimento 							de impureza que essas mulheres são acometidas, 							por estarem condicionadas às relações de poder 							patriarcais, levando a rejeições dos parceiros, de 							suas famílias e de suas comunidades. (LIMA,2016, 							P. 68)
	Mesmo com a criação de diversos organismos como a ONU que buscam a paz e buscam proteger aqueles considerados “fracos” ou minorias, se tem uma realidade em que é difícil assegurar a igualdade de gênero na Segurança Internacional. Uma vez que, os Estados são dominados por uma maioria masculina em uma tentativa militar de aumentar a sua segurança (Estado). Partindo desse princípio, a teoria feminista vai abordar em como isso afetam a vida do mais pobres socialmente, para se manter uma política internacional.
	Na história das coreanas, a maioria vinha de uma família do interior, que sobrevivia com a agricultura, de classes mais baixas e tradicionais. Conforme Okamoto (2013), essas mulheres se voluntariavam para o trabalho de fábricas, mas, foram submetidas a escravidão sexual. Fazendo conexão com o que foi colocado pela autora Lima (2016), de que a sociedade criou uma imagem de que a mulher não iria contra o que seria imposto para si, por sua natureza de paz, sendo submetidas a ordem de uma hierarquia social patriarcal, conforme ocorrido no passado e no presente, uma vez que, ainda existem muitos casos omitidos e não reportados pela dominação atual do Sistema Internacional.
IX. Considerações Finais
	As mulheres coreanas e asiáticas, em um geral sofreram abusos físicos e psicológicos, vivendo em condições degradantes, constantemente humilhadas e forçadas a mudarem de país e a deixarem suas casas. Foram enganadas sob a perspectiva de poderem ajudar na Guerra do Pacifico de algum modo. As desculpas japonesas e o reconhecimento seriam o mínimo merecido. Mas, como visto em uma perspectiva da Teoria Feminista no âmbito da Segurança Internacional, os Estados são patriarcais e por isso, é tão difícil reconhecer o erro contra o outro gênero.
	A tentativa mundial de implementar organismos que semeiam a paz é um esforço válido que reconheceria a mulher como mais que apenas o sexo frágil. No entanto, não é apenas necessário colocar ou criar mais organismos, mas, seria também preciso mudar toda uma política internacional, hoje hierarquizada, em que as mulheres são colocadas sob dominação e inferiorizas constantemente.
	Como no caso da Coréia, a China sofreu com o estupro em massa em Nanking, extremamente violento e cujo caso parece esquecido. O que parece fazer parte de uma continuação de esquecimentos e ignoramentos daquilo que fere e mancha a sua história. Nenhuma história de colonização é bonita, mas, o motivo é a violência implementada e as desculpas que se seguem logo após. Para todo o caso, é necessário que se reconheça e se repare os danos causados, tanto ao país quanto aos cidadãos dentro dele. 
	As mulheres de Conforto foram verdadeiras heroínas que ficaram em seu silêncio por meio século, aguentando toda a injustiça e o preconceito dentro da própria sociedade, por conta de pensamentos que objetificaram a mulher e não a trataram como um indivíduo. É extremamente importante que o Japão reconheça sua culpa e faça os reparos necessários para que elas possam enfim, ficar em paz.
Referências Bibliográficas
AZENHA, Tatiana Sofia Fonseca. Para além do silêncio: o sistema de conforto e o papel dos movimentos feministas na questão das Mulheres de Conforto na Coreia do Sul : 1905-2015. 2018. 97 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências Humanas, Universidade Catolica Portuguesa, Lisboa, 2018. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10400.14/26745>. Acesso em: 25 set. 2019.
BRITES, Pedro Vinicius Pereira; VIEIRA, Maria Gabriela. A Crise Política na Coreia do Sul: dilemas internos e a geopolítica regional. Boletim de Conjuntura, Porto Alegre, v. V.2, n. N.5, p. 19-29, 1 abr. 2017. > Acesso em: 05. Out. 2019
DOLGPOOL, Ustinia. REPORT OF A MISSION. 1994. 200 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, International Comission Of Jurists, Genevra, 1994. Disponível em: <https://www.icj.org/wp-content/uploads/1994/01/Japan-comfort-women-fact-finding-report-1994-eng.pdf>. Acesso em: 26 set. 2019.
GO, Sun. The impact of military sexual slavery on women’s marriage, childbirth, and schooling. 2014. 22 f. Tese (Doutorado) - Curso de Economia, Chung-ang University, Seoul, 2014. Disponivel em: https://pdfs.semanticscholar.org/bf67/a480fed6fb901843e4a2083dce19ce2b5c06.pdf. Acesso em: 20.09.2019
KIMURA, Kan. DISCOURSES ABOUT COMFORT WOMEN IN JAPAN, SOUTH KOREA AND INTERNATIONAL SOCIETY. 2015. 10 f. Tese (Doutorado) - Curso de International Relations And Diplomacy, Kobe University, Japan, 2015. Disponível em: <http://www.lib.kobe-u.ac.jp/repository/90003708.pdf>. Acesso em: 25 set. 2019.
LIMA, MAYARA AVELINO. GÊNERO EM GUERRA: UMA ANÁLISE DA GÊNESIS DA GUERRA A PARTIR DA PERSPECTIVA DA TEORIA FEMINISTA. Relações Internacionais, Sant’Ana do Livramento, p. 1-88, 12 dez. 2016. <Acesso em: 20. Out. 2019
MUNDO-NIPO. Seul promete retirar polêmica estátua de frente da embaixada do Japão. MUNDO-NIPO, [S. l.], 1 maio 2017. Notícias, p. 0-1. <Acesso em: 30. Out. 2019.
OKAMOTO, Julia Yuri. AS "MULHERES DE CONFORTO" DA GUERRA DO PACIFICO. 2013. 1 v. Curso de Relações Internacionais, Usp, Sao Paulo, 2013. Dísponivel em: https://www.periodicos.ufpb.br/index.php/ricri/article/view/17698 . Acesso em:20.09.2019
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