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Glicosídeos Digitálicos e Insuficiência Cardíaca

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1 
 
DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY 
 
DIGITÁLICOS (GLICOSÍDEOS DIGITÁLICOS) 
INTRODUÇÃO 
Na natureza, nós temos espécies vegetais que são do gênero 
chamado Digitalis, dentre as quais a Digitalis Lanata e a 
Digitalis purpuria, essas plantas têm como uma de suas 
características morfológicas lembrarem um dedal daqueles 
utilizados em costura para diminuir a picada da agulha que 
possa ferir a costureira. Os princípios ativos das espécies são 
glicosídeos, substâncias que tem em sua composição, 
derivados de carboidratos. Essa molécula, tem um 
componente glicídico e um componente não glicídico. O 
componente não glicídico é aquele que tem o efeito 
farmacodinâmico, mas o componente glicídico altera as 
propriedades farmacocinéticas do medicamento. Portanto, 
em seu conjunto, são chamados de “glicosídeos”, e, pelo fato 
de serem estimulantes do coração, “cardiotônicos”; 
Nós temos como exemplo de Digitálicos as Digoxinas e 
Digitoxinas. Esses que estão sendo agora descritos, não são 
totalmente encontrados na mesma espécie, o único que é 
encontrado em todas as espécies é a Digitoxina. Isso é 
interessante já que, ao fazer um estudo farmacológico, 
dependendo da espécie vegetal, a composição é diferente, 
embora o efeito seja igual. Portanto, dependendo na espécie 
a qual determinada substância foi extraída, ela terá 
variações farmacocinéticas fazendo com que algumas 
tenham meia-vida de eliminação brusca, e outras, meia-vida 
de eliminação mais prolongada. De acordo com essas 
características, nós podemos escolher alguns para efeitos 
imediatos, e outros para efeito de tratamento prolongado, 
assim como também podemos escolher o Digitálico para 
administração endovenosa, e o Digitálico de administração 
oral. Outro digitálico é a Ouabaína, e temos também o 
Deslanosídeo; 
Se formos fazer um histórico do tratamento de IC, os 
primeiros medicamentos que foram utilizados na história da 
medicina são exatamente eles, seja pelo extrato da planta, 
seja pelo princípio ativo isolado. Modernamente, à medida 
que outras substâncias foram desenvolvidas, vamos 
destacar também na IC, Inibidor da ECA, Antagonista de 
Receptor de Angiotensina, Diuréticos, Beta Bloqueadores. 
Então, com isso, fica provado que ao estudarmos 
determinado fármaco, ele tem um leque de opções 
terapêuticas. 
O QUE É A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA? 
UMA FALHA NO BOMBEAMENTO DO CORAÇÃO. 
Isso faz com que, a cada sístole, menos sangue possa ser 
transferido para a aorta, um refluxo de sangue para o 
ventrículo, e, permite uma alteração funcional imediata, que 
muitas vezes não é percebida. O organismo dispõe de várias 
medidas para equilibrar a sua homeostasia, e, nesse caso, 
uma falha inicial do bombeamento, acarreta um aumento 
da pressão diastólica final. 
 
 
 
 
 
 
 
Isso é regido pela Lei de Frank Starling. Então, através de um 
aumento da pressão diastólica, a gente observa um 
aumento da velocidade de encurtamento do sarcômero, e, 
também, uma regulação simpática. Essa regulação 
simpática é efetuada por intermédio do nosso 
neurotransmissor Norepinefrina. No coração, os receptores 
adrenérgicos são os receptores Beta-1. Na membrana da 
célula, há um conjunto de proteínas que se comunicam, 
como Proteína G e a Adenilciclase. A ativação da 
Adenilciclase gera a ativação do AMPc (Segundo 
Mensageiro). Uma vez que o AMPc tenha sua concentração 
elevada na célula, isso gera aumento da ativação de 
proteínas quinases, fosforilação de várias enzimas. Podemos 
encurtar o caminho, destacando o aumento da condutância 
de cálcio dentro dessa célula, que vai gerar ativação do 
complexo Actina-Miosina, e, consequente aumento da 
velocidade de encurtamento do sarcômero, gerando um 
aumento na contratilidade. Entretanto, devemos observar 
que, embora a atividade simpática seja eficiente no Efeito 
Inotrópico, o próprio organismo também se ressente dos 
Efeitos Cronotrópicos. Então, a sobrecarga cardíaca se faz 
notável. 
 
Muitas vezes, essas alterações funcionais imediatas, 
contornam a situação, mas em decorrência de um 
agravamento do quadro, essas alterações imediatas não são 
suficientes para estabelecer o quadro circulatório. Daí, 
começa a utilização de outros recursos fisiológicos, 
chamados de uma “alteração tardia”, tardia não no sentido 
de “muito tempo”, mas de “logo após”. 
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA 
A Renina está localizada no aparelho justaglomerular renal. 
O rim também está inervado pelo sistema autonômico, ele 
tem inervação adrenérgica. Na inervação adrenérgica, os 
receptores renais são do tipo Beta 1. Então, o próprio 
Sistema Simpático ativa o Renina. Na ativação renal, há 
liberação de Renina, e daí por diante, há liberação de 
Angiotensina 2, aumenta a RVP, aumenta a secreção de 
Aldosterona. A consequência disso é o aumento da pressão 
arterial. Então essa é a contribuição do rim para a 
manutenção do sistema cardiocirculatório. 
Por fim, o coração vai ficando cada vez maior, processo 
chamado de hipertrofia, essa, se deve ao aumento de fibras 
musculares. Então, à medida que essas fibras musculares 
vão aumentando em número, esse número não é 
acompanhado pela formação de capilares, então, a 
DISCIPLINA FARMACOLOGIA 
 AULA 6- DIGITÁLICOS 
PROFESSOR PAULO SIXEL 
AUMENTO 
DO RETORNO 
VENOSO
FIBRAS DO 
MIOCÁRDIO 
SE 
DISTENDEM
CONTRAÇÃO 
VENTRICULAR
AUMENTO 
DO DÉBITO 
CARDÍACO
 
2 
 
DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY 
musculatura se torna mais espessa, com o mesmo 
suprimento sanguíneo. Com isso, cada vez mais é produzido 
um certo débito circulatório metabólico, a ponto de ter um 
coração hipertrofiado. Uma das consequências de um 
paciente com quadro avançado de IC, é o cansaço mesmo 
sem esforço. 
QUEIXA PRINCIPAL: “ESTOU SEMPRE CANSADO” 
Então, se ele tiver que fazer um pequeno percurso, como 
subir uma escada, apresenta um quadro de Angina, podendo 
ser, inclusive, uma causa de IC. Angina pectoris gera IC, às 
vezes por um estreitamento da coronária. As repercussões 
vão sendo gradativas, até que chega um ponto que o 
paciente não aguenta mais, e procura atendimento médico. 
Então, é comum que a procura pelo atendimento médico 
seja muitas vezes em fases mais avançadas, já que até certo 
momento era imperceptível, mas adiante os sintomas já são 
mais desagradáveis fazendo com que a pessoa procure um 
especialista. 
ÍNDICE TERAPÊUTICO DOS DIGITÁLICOS 
Os Digitálicos perderam um pouco de sua utilidade, por 
apresentarem um Índice Terapêutico reduzido. Índice 
terapêutico consiste na proximidade da dose eficaz média 
com a dose tóxica média. 
No caso do Digitálico, esse Índice Terapêutico é 
aproximadamente 2, significando que, se você tomar 2 vezes 
uma dose eficaz média, você tem 50% de probabilidade de 
ter uma dose tóxica. Vamos ver mais adiante que, o quadro 
de Intoxicação Digitálica se assemelha aos sintomas da 
própria enfermidade. 
Com o surgimento de outros fármacos, que apresentam 
margem de segurança mais ampla, os Digitálicos foram 
perdendo gradativamente sua importância. Mas ainda 
temos no mercado farmacêutico Digitálicos não na sua 
formulação fitoterápica em forma de extrato, mas na forma 
de fármacos isolados com Digitoxina, Digoxina, Ouabaína ou 
Deslanosina. 
CASO CLÍNICO: Imaginando um paciente que não tenha 
facilidade de ter acesso ao seu médico, e piorou do 
tratamento depois de algumas semanas de eficácia e 
resolveu, por conta própria, aumentar sua dose. Então, se 
ele fizer isso inadvertidamente, basta tomar mais 1 
comprimido do que o habitual, estatisticamente você já tem 
50% de probabilidade de alcançar uma dose tóxica, e essa, 
se assemelha ao quadro patológico, podendo ainda fazer o 
paciente tomar mais, podendo levá-lo ao óbito por 
intoxicação. 
MECANISMO DE AÇÃO DOS DIGITÁLICOS 
Para entendermos esse mecanismo de ação, precisamos 
relembrar os mecanismos básicos verificados em uma 
despolarização de membrana na célula cardíaca. 
No esquema adiante temos uma célula, líquido extracelular, 
membrana, e o meio intracelular.Célula nervosa sofrendo 
um potencial de ação gerando na célula do músculo uma 
alteração de potencial. Despolarização de membrana, 
entrada de sódio. Se fossemos observar isso em um traçado 
eletrocardiográfico intracelular, por exemplo, dentro da 
célula de Purkinje, em um fenômeno que o potencial de 
repouso é de -50mV, ao entrar Sódio, o potencial já fica 
positivo, segue-se uma fase de potencial sem variação da 
carga, e depois temos uma entrada de Cálcio na fibra 
muscular. A quantidade de Cálcio no extracelular começa a 
ser muito maior em relação ao anterior. No sarcômero, o 
cálcio que entra, se soma com o Cálcio armazenado no 
retículo sarcoplasmático. Portanto, somando o Cálcio que 
vem de fora, com o Cálcio armazenado, isso promove uma 
sensibilização da Troponina C, ativação do complexo actina-
miosina, e, consequentemente, contração muscular. 
Cessada a transmissão, o Sódio retorna para o líquido 
extracelular para um meio em que a concentração é maior. 
Então, quanto temos uma substância passando do meio 
menos para o mais concentrado, isso exige um transporte 
ativo, efetuado por uma enzima da membrana celular 
chamada Na/KATPase de membrana, processo ativo que 
consome ATP fazendo com que o Sódio que entrou possa ser 
exposto, trocando com o Potássio. 
Na pesquisa farmacológica, sempre há dúvidas quanto ao 
mecanismo de ação principal. Geralmente, nós costumamos 
adotar como verdadeira, uma hipótese que possa ter sido 
comprovada, e que não foi contestada por ninguém, haja 
vista, que na semana retrasada foi falando sobre aqueles 
agonistas alfa-2 centrais, que as pessoas achavam que era 
um falso transmissor, e, na verdade, não tinha nada de um 
falso transmissor. 
Em qualquer livro de farmacologia, encontramos 
unanimemente, em todos os autores, que a ação dos 
digitálicos se deve a uma inibição da Na/KATPase de 
membrana, de certo modo, isso é muito lógico, já que, 
quando se faz uma inibição da Na/KATPase de membrana, 
resulta acúmulo de Cálcio, esse acúmulo faz com que a 
contração aumente. Não somente a contração cardíaca, 
como também a contração dos vasos. O Digitálico se 
notabiliza por esse fato, a ação deles não é apenas no 
ÍNDICE TERAPÊUTICO= DT50 
 DE50 
 
3 
 
DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY 
coração, mas é também nos vasos sanguíneos, 
especialmente, nas arteríolas, e, nas veias supra-hepáticas, 
portanto, a explicação racional que é adotada até hoje, é 
essa inativação da Na/KATPase de membrana, que para 
alguns pesquisadores, não seria exatamente assim. 
Essa explicação, ela é colocada em dúvida por vários 
aspectos. É interessante lembrar, que os Digitálicos, como 
foram descobertos por volta de 1760, quase 300 anos de 
conhecimento, foram estudados de todas as formas que 
podemos imaginar. Inicialmente, em vivo, in situ e in vitro. 
Os primeiros estudos com Digitálicos foram realizados em 
humanos, contrariamente ao que fazemos, e utilizando 
coração retirado de recém-mortos. Os estudos clássicos dos 
Digitálicos são provenientes da França, um país que naquela 
época, adotava pena de morte, e pena de morte por 
decapitação, e a Lei Francesa permitia que o decapitado 
pudesse ter prontamente retirado o coração e doado para a 
ciência (fase do Iluminismo). Naquela ocasião, já se 
observava o efeito inotrópico do Digitálico, aumento de sua 
força contrátil, o mesmo estudo efetuado em animal. 
Quando se estuda substâncias inotrópicas em animais, 
geralmente se usa o gato, já que o músculo papilar do seu 
ventrículo é altamente sensível a essas substâncias. Com o 
passar do tempo, os estudos bioquímicos vieram dar 
contribuição, já que podem ser feitos in vitro, nesse caso, a 
possibilidade de estudo é muito ampla, fazendo com que 
possamos avaliar a influência de uma substância sobre a 
atividade de uma enzima. Então, quando fizeram um estudo 
sobre a influência do Digitálico sobre a Na/KATPase de 
membrana, constataram que o Digitálico promovia a 
inativação dela, com todas as suas repercussões, aumento 
da quantidade de Cálcio, enfim, as variações 
eletrofisiológicas. Só que, esse fato tem constatações pelo 
seguinte: 
Qual seria a quantidade do Digitálico que faz a inativação 
da Na/KATPase de membrana? 
Porque outros estudos mostram que a quantidade dos 
Digitálicos encontrados no sangue em situações 
terapêuticas, por exemplo, ao tomar um comprimido de 
Digoxina e dosar sua quantidade no sangue, essa 
quantidade encontrada no sangue, faz o efeito inotrópico, 
mas não faz o efeito inibidor da Na/KATPase de membrana. 
O que é inquestionável, é que a quantidade do Cálcio 
aumenta dentro da célula, isso é inevitável. Mas ao analisar 
o aumento da quantidade de Cálcio dentro da célula, duas 
coisas poderiam estar em jogo, a dificuldade de expulsá-lo e 
a facilidade de entrada. Portanto, se eu tenho uma 
substância em um compartimento celular aumentado, 
vamos pensar nessa possibilidade, alguma coisa está 
favorecendo a entrada, ou outro efeito comprometendo sua 
saída. Os livros até hoje, se baseiam no experimento in vitro, 
a tendência é essa, inibiu a enzima, então o mecanismo de 
ação é esse, como se fosse o principal. Esse é apenas um 
pedaço do fenômeno. Paulo diz que ao seu ver, a segunda 
hipótese é mais apropriada, visto que, ao tratar um paciente 
intoxicado por Digitálico, ele tem doses elevadas de 
Digitálico, por isso, nesse caso, nós temos sim a inibição da 
Na/KATPase de membrana. O tratamento para reativar essa 
enzima é o antagonista do Sódio, ou seja, o Potássio. 
CASO CLÍNICO: Paciente foi medicado com Digitálico, e 
apresentou um quadro de intoxicação, como iremos tratá-
lo? 
Com Cloreto de Potássio. Quando esse é aplicado, 
promovemos um reestabelecimento da Na/KATPase de 
membrana, e não anulamos o efeito do medicamento, ou 
seja, combatemos a intoxicação, mas não inibimos o efeito 
ionotrópico. Se esse efeito principal fosse decorrente da 
inibição da enzima, nesse momento, seu efeito seria 
totalmente inibido. Portanto, quando suplementamos 
Potássio, trata-se a intoxicação, e preserva-se o efeito 
benéfico terapêutico. Portanto, é mais provável que o 
Digitálico, ao invés de reter Cálcio em dose terapêutica, ele 
facilite a entrada. 
Infelizmente, esses estudos não tiveram continuidade visto 
que, os Digitálicos foram sendo gradativamente substituídos 
por outras medicações. 
 
INDEPENDENTE DE SEU MECANISMO DE AÇÃO 
FARMACOLÓGICO, OS DIGITÁLICOS VÃO PROMOVER 
CONTRAÇÃO CARDÍACA E VASCULAR 
 
A grande importância do Digitálico é que a ação Inotrópica, 
não é acompanhada por uma ação Cronotrópica simultânea. 
Pelo contrário, o paciente com IC, ele está com pressão alta, 
bem como com frequência cardíaca aumentada, quando 
esse paciente é tratado, a tendência é aumentar sua força de 
contração cardíaca sem aumentar a frequência cardíaca, e, 
ao contrário, se ela estava 130/140, agora ela cai para 80. 
 
DIGITÁLICO É INOTRÓPICO POSITIVO SEM SER 
CRONOTRÓPICO POSITIVO 
 
Isso é uma grande vantagem, já que, reduz a própria 
demanda metabólica, permitindo que a performance seja 
muito mais eficiente. 
EFEITOS DOS DIGITÁLICOS 
SEM IC X COM IC 
Pelo fato dos Digitálicos serem medicamentos que já foram 
estudados há séculos atrás com facilidade no coração de 
gente decapitada, nós temos muitas informações do efeito 
dos Digitálicos não só em um coração com IC, mas também 
a influência do Digitálico no coração de um sadio, fenômeno 
que normalmente não aparece para nós com facilidade. 
Basta lembrarmos de um ensaio clínico farmacológico, uma 
substância desconhecida que queremos estudar, primeiro 
tenho que comprovar se a substância é segura, bem como, 
se ela é eficaz (binômino: segurança + eficácia). Começamos 
vendo se ela é segura, já que ela pode ser eficaz, mas se 
matar mais do que é eficaz, torna-se inviável. 
USO DE DIGITÁLICOS EM PACIENTES SEM IC 
EFEITOS DIRETOS 
 INOTROPISMO 
CONSTRIÇÃO ARTERIOLAR (PÓS-CARGA) 
CONSTRIÇÃO VENOSA 
EFEITOS INDIRETOS 
 PRESSÃO ARTERIAL 
RETENÇÃOVENOSA (PORTA HEPÁTICA) 
 
4 
 
DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY 
 DO RETORNO VENOSO 
TENDÊNCIA PARA DO DC (TÔNUS PS) 
 FC ( PS & S ) (NSA) 
BRADICARDIA SINUSAL 
ANÁLISE DOS EFEITOS 
Aumento do inotropismo, como também, constrição 
arteriolar, aumentando a pós-carga, e, constrição venosa, 
especialmente, das veias porta-hepáticas, esse é um efeito 
que resulta do acúmulo de Cálcio dentro da célula. Seja por 
aumento da condutância, seja pela dificuldade de saída dele. 
Essas, tratam, de ações diretas, mas elas repercutem através 
de ações hemodinâmicas. Então, vemos que aumentando a 
força contrátil, com aumento da resistência vascular, a 
pressão arterial irá aumentar. Constrição venosa no Sistema 
Porta, levando a retenção venosa, em sequência, diminuição 
do retorno venoso, tendência para diminuir o débito 
cardíaco, tratando-se do tônus parassimpático que está em 
atividade. Pressão arterial está aumentada, e, quando essa 
aumenta, os receptores de pressão, carotídeo e aórtico, 
sinalizam o Tronco Cerebral para ativar o Nervo Vago, então, 
tendência para diminuir o Débito Cardíaco. 
Consequentemente, diminuição da frequência cardíaca. 
Aumento do parassimpático e diminuição do simpático, 
todos esses efeitos mediados no Nodo Sinoatrial, em 
consequência, bradicardia sinusal. Quando analisamos todas 
essas alterações hemodinâmicas, veremos grande 
semelhança com o quadro de IC descompensada. 
USO DE DIGITÁLICOS EM PACIENTES COM IC 
EFEITO DIRETO 
 INOTROPISMO 
 TÔNUS ARTERIOLAR 
 TÔNUS VENOSO 
 TÔNUS SIMPÁTICO CARDÍACO 
 TÔNUS PARASSIMPÁTICO CARDÍACO 
EFEITO INDIRETO 
 DÉBITO CARDÍACO 
 PRESSÃO VENOSA 
 RETENÇÃO VENOSA (PORTA-HEPÁTICA) 
 RETORNO VENOSO 
 FREQUÊNCIA CARDÍACA 
 EDEMA 
ANÁLISE DOS EFEITOS 
Os Cardiotônicos, nas células do coração, irão aumentar a 
condutância do Cálcio, o que irá gerar aumento do 
inotropismo. Nos vasos sanguíneos, o mesmo acontece, a 
quantidade de cálcio dentro do vaso, na célula vascular, 
especialmente nas arteríolas e nas veias supra-hepáticas, 
teremos um efeito direto, mas, esse indivíduo, está 
previamente submetido a alterações funcionais. Devemos 
lembrar que ao tratá-lo, ele já tem um quadro de 
hiperatividade simpática, e de hiperatividade renal. O 
coração está bombeando com fraca intensidade, então, à 
medida que o coração agora recebe o reforço externo, 
aquela influência indireta, agora pode ficar retraída. Logo, se 
o coração volta a bombear normalmente, o sistema 
simpático agora pode retornar a valores basais ou diminuir a 
sua intensidade. Então, as coisas acontecem ao mesmo 
tempo, o Digitálico está atuando em um vaso que estava 
previamente contraído, mas com o efeito inotrópico, esse 
vaso agora não está mais tão contraído, então, quando 
fazemos uma contabilidade do efeito direto e do indireto, no 
paciente com IC, percebe-se uma diminuição do tônus 
arteriolar, uma diminuição do tônus venoso. Como a 
diminuição do tônus simpático e aumento do parassimpático 
cardíaco. Então, essa pressão que estava elevada tendo 
vasoconstrição, diminuiu, e o efeito é inotrópico. Então, o 
coração está bombeando com mais força, os vasos 
oferecendo menor resistência, o Débito Cardíaco aumenta. 
A própria atividade da Aldosterona, agora ela vai também 
diminuir. Então, aumento do Débito Cardíaco, diminuição da 
pressão venosa, diminuição do retorno venoso no porta- 
hepático, sendo a grande influência no paciente anasarcado, 
com retenção de líquido no organismo. Aumenta o retorno 
venoso e diminui a frequência cardíaca que estava 
aumentada. Então, vejam bem, o paciente com IC por 
ocasião do não tratamento, geralmente tem uma frequência 
cardíaca na ordem de 130/140bpm. Dando o Digitálico para 
ele, têm-se aumento do tônus parassimpático, portanto, 
temos aqui um Reflexo Vagal que a frequência cardíaca fica 
agora na ordem de 80bpm. O papel do Digitálico, lembrando 
mais uma vez, é o inotropismo sem acompanhamento do 
cronotropismo, portanto, temos efeito inotrópico sem efeito 
cronotrópico positivo, já que a frequência tende a cair 
gradativamente. Com aumento do Débito Cardíaco, 
aumenta a circulação renal, então, observa-se que no rim, 
no quadro de não tratamento, sistema adrenérgico estava 
liberando Renina, agora tem menos Noradrenalina, com 
isso, menos liberação de Aldosterona, e o próprio 
medicamento irá propiciar aumento do débito cardíaco, 
fazendo maior filtração glomerular. Com isso, vamos ter um 
efeito diurético, fazendo o efeito diurético, diminuição do 
edema. Então, veja bem, Digitálico tem efeito diurético 
dessa situação, mas não podemos pensar em utilizar 
Digitálico como medicamento diurético. Na Insuficiência 
Renal, como há uma retenção hídrica, pela diminuição da 
atividade simpática renal, pela maior atividade glomerular, 
estabelece-se uma diurese, mas não é uma diurese 
explorada terapeuticamente para outras situações, é o 
efeito diurético do Digitálico. Portanto, justifica-se 
plenamente sua indicação terapêutica. 
CURIOSIDADES 
É um aspecto interessante quando comparamos esses 
dados, já que a farmacologia que discutimos aqui o tempo 
todo na faculdade, é voltada para o tratamento alopático, 
mas, a terapêutica medicamentosa, além do sistema 
alopático, tem o sistema homeopático, criticado por muitos, 
mas que ainda é uma especialidade médica reconhecida pelo 
CFM. Na análise do medicamento homeopático, valoriza-se 
muito a influência de um remédio sobre o organismo sadio. 
Digamos que, na pesquisa homeopático, em primeiro lugar, 
se averigua o aspecto toxicológico da substância. Iremos 
observar que o aspecto toxicológico do digitálico se 
assemelha ao da própria enfermidade que ele quer tratar. 
Então, a filosofia homeopática se fundamenta nesse 
aspecto. A substância que provoca no organismo são uma 
 
5 
 
DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY 
patologia, em doses diluídas, seria o tratamento contrário. A 
contestação do tratamento homeopático, se deve 
exatamente a esse alto grau de diluição, já que nós temos 
produtos que moléculas não são mais encontradas ali. A 
explicação homeopática seria voltada para plena atividade 
da mudança de energia vital do organismo, e então vemos 
implicações filosóficas, religiosas e energéticas que não 
fazem parte da nossa discussão. Entretanto, esse é um 
fenômeno comum, uma substância, em um organismo sadio, 
provocar um quadro semelhante ao que vamos tratar. 
EXEMPLO: Um indivíduo que se intoxica com 
Aspirina, apresenta um quadro de hipertermia, e 
essa, em dose menor, é usada para tratar febre. 
INTOXICAÇÃO POR DIGITÁLICO 
Tomando cuidado, já que, embora seja 
extremamente eficaz, a margem de 
segurança é estreita. No caso de 
intoxicação, aí sim temos inativação da 
Na/KATPase de membrana. Na dose 
terapêutica, questiona-se se o efeito é 
decorrente dessa ação, mas no caso de 
intoxicação, não há dúvida, na 
intoxicação há uma inibição da 
Na/KATPase de membrana. Podemos reativar essa enzima 
que está acumulando Sódio no interior da célula usando seu 
antagonista, o Potássio. O sal de Potássio que é usado é o 
nosso Cloreto de Potássio. 
ALTERAÇÕES ELETROLÍTICAS QUE PROPICIAM 
INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA 
OBS: INIBIDOR DO CANAL DE CÁLCIO NÃO É O MESMO 
QUE INIBIDOR DE CÁLCIO. Inibidor do Canal de Cálcio 
diminui a entrada de Cálcio no sarcômero, por isso, o IECA 
tem uso na IC. Agora, Inibição de Cálcio, implica neutralizar 
o Cálcio extracelular. 
TRATAMENTO PARA INTOXICAÇÃO 
▪ Como a intoxicação digitálica gera arritmias cardíacas, 
podem ser utilizados como exemplo de tratamento para 
intoxicação antiarrítmicos como Lidocaína e Difenil 
Hidantoína, que são dois antiarrítmicos muito antigos, e 
como o estudo dos Digitálicos lá atrás, e naquela época 
já se reconhecia diante um quadro de arritmia, a 
necessidade de utilizar antiarrítmicos, esses dois até 
hoje são os clássicos, não implica que outros não 
possam ser usados, mas não existem estudos clínicos 
que comprobatórios, como já temos uma boa referência 
para esses dois, são usadosaté hoje; 
▪ Modernamente, para intoxicação Digitálica, temos os 
anticorpos anti-digoxina, isso se trabalharmos em um 
local altamente especializado que disponha desse 
medicamento. Esses anticorpos foram desenvolvidos a 
princípio, para monitorar a concentração plasmática dos 
Digitálicos no sangue. Sabemos que os Digitálicos são 
perigosos, já que, qualquer sobredose já provoca 
intoxicação então existem meios de analisar a 
quantidade dos Digitálicos em laboratório. Assim como 
um paciente faz uso de Lítio, em alguns momentos 
devem fazer análise para ver se está aumentada a 
quantidade, para evitar que ultrapasse a Janela 
Terapêutica. Depois que esses anticorpos foram 
descobertos, puderam ser utilizados também no 
tratamento. 
 
ANTICORPOS ANTI-DIGOXINA SERVEM PARA 
DIAGNÓSTICO E PARA TRATAMENTO 
SINAIS E SINTOMAS DE INTOXICAÇÃO 
DIGITÁLICA 
Quando um paciente retrata um desconforto abdominal, 
esse passa na maioria das vezes despercebido, sendo 
atribuídos a irritação de mucosa. Se ele diz que está tendo 
alteração de paladar, é comum pensar que o paciente está 
ingerindo algum condimento que está atrapalhando seu 
paladar. Pode dizer também que está 
tendo alteração de cores, confundindo 
verde e amarelo. Sendo essas as 
características da intoxicação pelos 
Digitálicos, portanto, não podem 
passar despercebidas. As 
manifestações cardíacas estão 
relacionadas com a piora do quadro. 
 
 
 
 
 
Estudiosos acreditam que a 
intoxicação por digitálicos, 
usados na época para 
tratamento de epilepsia 
(como a de Van Gogh) foram 
os responsáveis pelo excesso 
do uso do amarelo nas 
pinturas. 
INTOXICAÇÃO 
POR DIGITÁLICO
REVERTER COM 
CLORETO DE 
POTÁSSIO
HIPOCALEMIA
•Paciente que faz 
uso do Digitálico, 
geralmente, é 
interessante uma 
suplementação 
natural de 
Potássio. Você 
pode comer 
banana, laranja, 
que são sempre 
fontes de Potássio. 
Mas, se quisermos 
um tratamento 
com doses mais 
padronizadas, 
existem 
comprimidos de 
Cloreto de 
Potássio por via 
oral.
HIPERCALCEMIA
•Existem 
substâncias que 
quelam o Cálcio, 
um exemplo é o 
EDTA (Ácido 
Etilenodiamino 
Tetra-acético), 
substância 
utilizada em 
laboratórios como 
anti-coagulantes, 
ele tem ação in 
vitro e ação in 
vivo, esse sim, 
trata-se de um 
INIBIDOR DO 
CÁLCIO.
HIPERNATREMIA
•Em pacientes 
hipertensos, já 
sabemos os 
cuidados que 
devem ser tidos 
com o consumo de 
Sódio, se você faz 
uso do Digitálico, 
uma 
hipernatremia já 
está propiciando 
uma intoxicação 
digitálica, mais 
uma razão pra 
evitar a ingesta.
GASTROINTESTINAIS NEUROLÓGICOS CARDIOVASCULARES

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