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1 DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY DIGITÁLICOS (GLICOSÍDEOS DIGITÁLICOS) INTRODUÇÃO Na natureza, nós temos espécies vegetais que são do gênero chamado Digitalis, dentre as quais a Digitalis Lanata e a Digitalis purpuria, essas plantas têm como uma de suas características morfológicas lembrarem um dedal daqueles utilizados em costura para diminuir a picada da agulha que possa ferir a costureira. Os princípios ativos das espécies são glicosídeos, substâncias que tem em sua composição, derivados de carboidratos. Essa molécula, tem um componente glicídico e um componente não glicídico. O componente não glicídico é aquele que tem o efeito farmacodinâmico, mas o componente glicídico altera as propriedades farmacocinéticas do medicamento. Portanto, em seu conjunto, são chamados de “glicosídeos”, e, pelo fato de serem estimulantes do coração, “cardiotônicos”; Nós temos como exemplo de Digitálicos as Digoxinas e Digitoxinas. Esses que estão sendo agora descritos, não são totalmente encontrados na mesma espécie, o único que é encontrado em todas as espécies é a Digitoxina. Isso é interessante já que, ao fazer um estudo farmacológico, dependendo da espécie vegetal, a composição é diferente, embora o efeito seja igual. Portanto, dependendo na espécie a qual determinada substância foi extraída, ela terá variações farmacocinéticas fazendo com que algumas tenham meia-vida de eliminação brusca, e outras, meia-vida de eliminação mais prolongada. De acordo com essas características, nós podemos escolher alguns para efeitos imediatos, e outros para efeito de tratamento prolongado, assim como também podemos escolher o Digitálico para administração endovenosa, e o Digitálico de administração oral. Outro digitálico é a Ouabaína, e temos também o Deslanosídeo; Se formos fazer um histórico do tratamento de IC, os primeiros medicamentos que foram utilizados na história da medicina são exatamente eles, seja pelo extrato da planta, seja pelo princípio ativo isolado. Modernamente, à medida que outras substâncias foram desenvolvidas, vamos destacar também na IC, Inibidor da ECA, Antagonista de Receptor de Angiotensina, Diuréticos, Beta Bloqueadores. Então, com isso, fica provado que ao estudarmos determinado fármaco, ele tem um leque de opções terapêuticas. O QUE É A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA? UMA FALHA NO BOMBEAMENTO DO CORAÇÃO. Isso faz com que, a cada sístole, menos sangue possa ser transferido para a aorta, um refluxo de sangue para o ventrículo, e, permite uma alteração funcional imediata, que muitas vezes não é percebida. O organismo dispõe de várias medidas para equilibrar a sua homeostasia, e, nesse caso, uma falha inicial do bombeamento, acarreta um aumento da pressão diastólica final. Isso é regido pela Lei de Frank Starling. Então, através de um aumento da pressão diastólica, a gente observa um aumento da velocidade de encurtamento do sarcômero, e, também, uma regulação simpática. Essa regulação simpática é efetuada por intermédio do nosso neurotransmissor Norepinefrina. No coração, os receptores adrenérgicos são os receptores Beta-1. Na membrana da célula, há um conjunto de proteínas que se comunicam, como Proteína G e a Adenilciclase. A ativação da Adenilciclase gera a ativação do AMPc (Segundo Mensageiro). Uma vez que o AMPc tenha sua concentração elevada na célula, isso gera aumento da ativação de proteínas quinases, fosforilação de várias enzimas. Podemos encurtar o caminho, destacando o aumento da condutância de cálcio dentro dessa célula, que vai gerar ativação do complexo Actina-Miosina, e, consequente aumento da velocidade de encurtamento do sarcômero, gerando um aumento na contratilidade. Entretanto, devemos observar que, embora a atividade simpática seja eficiente no Efeito Inotrópico, o próprio organismo também se ressente dos Efeitos Cronotrópicos. Então, a sobrecarga cardíaca se faz notável. Muitas vezes, essas alterações funcionais imediatas, contornam a situação, mas em decorrência de um agravamento do quadro, essas alterações imediatas não são suficientes para estabelecer o quadro circulatório. Daí, começa a utilização de outros recursos fisiológicos, chamados de uma “alteração tardia”, tardia não no sentido de “muito tempo”, mas de “logo após”. SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA A Renina está localizada no aparelho justaglomerular renal. O rim também está inervado pelo sistema autonômico, ele tem inervação adrenérgica. Na inervação adrenérgica, os receptores renais são do tipo Beta 1. Então, o próprio Sistema Simpático ativa o Renina. Na ativação renal, há liberação de Renina, e daí por diante, há liberação de Angiotensina 2, aumenta a RVP, aumenta a secreção de Aldosterona. A consequência disso é o aumento da pressão arterial. Então essa é a contribuição do rim para a manutenção do sistema cardiocirculatório. Por fim, o coração vai ficando cada vez maior, processo chamado de hipertrofia, essa, se deve ao aumento de fibras musculares. Então, à medida que essas fibras musculares vão aumentando em número, esse número não é acompanhado pela formação de capilares, então, a DISCIPLINA FARMACOLOGIA AULA 6- DIGITÁLICOS PROFESSOR PAULO SIXEL AUMENTO DO RETORNO VENOSO FIBRAS DO MIOCÁRDIO SE DISTENDEM CONTRAÇÃO VENTRICULAR AUMENTO DO DÉBITO CARDÍACO 2 DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY musculatura se torna mais espessa, com o mesmo suprimento sanguíneo. Com isso, cada vez mais é produzido um certo débito circulatório metabólico, a ponto de ter um coração hipertrofiado. Uma das consequências de um paciente com quadro avançado de IC, é o cansaço mesmo sem esforço. QUEIXA PRINCIPAL: “ESTOU SEMPRE CANSADO” Então, se ele tiver que fazer um pequeno percurso, como subir uma escada, apresenta um quadro de Angina, podendo ser, inclusive, uma causa de IC. Angina pectoris gera IC, às vezes por um estreitamento da coronária. As repercussões vão sendo gradativas, até que chega um ponto que o paciente não aguenta mais, e procura atendimento médico. Então, é comum que a procura pelo atendimento médico seja muitas vezes em fases mais avançadas, já que até certo momento era imperceptível, mas adiante os sintomas já são mais desagradáveis fazendo com que a pessoa procure um especialista. ÍNDICE TERAPÊUTICO DOS DIGITÁLICOS Os Digitálicos perderam um pouco de sua utilidade, por apresentarem um Índice Terapêutico reduzido. Índice terapêutico consiste na proximidade da dose eficaz média com a dose tóxica média. No caso do Digitálico, esse Índice Terapêutico é aproximadamente 2, significando que, se você tomar 2 vezes uma dose eficaz média, você tem 50% de probabilidade de ter uma dose tóxica. Vamos ver mais adiante que, o quadro de Intoxicação Digitálica se assemelha aos sintomas da própria enfermidade. Com o surgimento de outros fármacos, que apresentam margem de segurança mais ampla, os Digitálicos foram perdendo gradativamente sua importância. Mas ainda temos no mercado farmacêutico Digitálicos não na sua formulação fitoterápica em forma de extrato, mas na forma de fármacos isolados com Digitoxina, Digoxina, Ouabaína ou Deslanosina. CASO CLÍNICO: Imaginando um paciente que não tenha facilidade de ter acesso ao seu médico, e piorou do tratamento depois de algumas semanas de eficácia e resolveu, por conta própria, aumentar sua dose. Então, se ele fizer isso inadvertidamente, basta tomar mais 1 comprimido do que o habitual, estatisticamente você já tem 50% de probabilidade de alcançar uma dose tóxica, e essa, se assemelha ao quadro patológico, podendo ainda fazer o paciente tomar mais, podendo levá-lo ao óbito por intoxicação. MECANISMO DE AÇÃO DOS DIGITÁLICOS Para entendermos esse mecanismo de ação, precisamos relembrar os mecanismos básicos verificados em uma despolarização de membrana na célula cardíaca. No esquema adiante temos uma célula, líquido extracelular, membrana, e o meio intracelular.Célula nervosa sofrendo um potencial de ação gerando na célula do músculo uma alteração de potencial. Despolarização de membrana, entrada de sódio. Se fossemos observar isso em um traçado eletrocardiográfico intracelular, por exemplo, dentro da célula de Purkinje, em um fenômeno que o potencial de repouso é de -50mV, ao entrar Sódio, o potencial já fica positivo, segue-se uma fase de potencial sem variação da carga, e depois temos uma entrada de Cálcio na fibra muscular. A quantidade de Cálcio no extracelular começa a ser muito maior em relação ao anterior. No sarcômero, o cálcio que entra, se soma com o Cálcio armazenado no retículo sarcoplasmático. Portanto, somando o Cálcio que vem de fora, com o Cálcio armazenado, isso promove uma sensibilização da Troponina C, ativação do complexo actina- miosina, e, consequentemente, contração muscular. Cessada a transmissão, o Sódio retorna para o líquido extracelular para um meio em que a concentração é maior. Então, quanto temos uma substância passando do meio menos para o mais concentrado, isso exige um transporte ativo, efetuado por uma enzima da membrana celular chamada Na/KATPase de membrana, processo ativo que consome ATP fazendo com que o Sódio que entrou possa ser exposto, trocando com o Potássio. Na pesquisa farmacológica, sempre há dúvidas quanto ao mecanismo de ação principal. Geralmente, nós costumamos adotar como verdadeira, uma hipótese que possa ter sido comprovada, e que não foi contestada por ninguém, haja vista, que na semana retrasada foi falando sobre aqueles agonistas alfa-2 centrais, que as pessoas achavam que era um falso transmissor, e, na verdade, não tinha nada de um falso transmissor. Em qualquer livro de farmacologia, encontramos unanimemente, em todos os autores, que a ação dos digitálicos se deve a uma inibição da Na/KATPase de membrana, de certo modo, isso é muito lógico, já que, quando se faz uma inibição da Na/KATPase de membrana, resulta acúmulo de Cálcio, esse acúmulo faz com que a contração aumente. Não somente a contração cardíaca, como também a contração dos vasos. O Digitálico se notabiliza por esse fato, a ação deles não é apenas no ÍNDICE TERAPÊUTICO= DT50 DE50 3 DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY coração, mas é também nos vasos sanguíneos, especialmente, nas arteríolas, e, nas veias supra-hepáticas, portanto, a explicação racional que é adotada até hoje, é essa inativação da Na/KATPase de membrana, que para alguns pesquisadores, não seria exatamente assim. Essa explicação, ela é colocada em dúvida por vários aspectos. É interessante lembrar, que os Digitálicos, como foram descobertos por volta de 1760, quase 300 anos de conhecimento, foram estudados de todas as formas que podemos imaginar. Inicialmente, em vivo, in situ e in vitro. Os primeiros estudos com Digitálicos foram realizados em humanos, contrariamente ao que fazemos, e utilizando coração retirado de recém-mortos. Os estudos clássicos dos Digitálicos são provenientes da França, um país que naquela época, adotava pena de morte, e pena de morte por decapitação, e a Lei Francesa permitia que o decapitado pudesse ter prontamente retirado o coração e doado para a ciência (fase do Iluminismo). Naquela ocasião, já se observava o efeito inotrópico do Digitálico, aumento de sua força contrátil, o mesmo estudo efetuado em animal. Quando se estuda substâncias inotrópicas em animais, geralmente se usa o gato, já que o músculo papilar do seu ventrículo é altamente sensível a essas substâncias. Com o passar do tempo, os estudos bioquímicos vieram dar contribuição, já que podem ser feitos in vitro, nesse caso, a possibilidade de estudo é muito ampla, fazendo com que possamos avaliar a influência de uma substância sobre a atividade de uma enzima. Então, quando fizeram um estudo sobre a influência do Digitálico sobre a Na/KATPase de membrana, constataram que o Digitálico promovia a inativação dela, com todas as suas repercussões, aumento da quantidade de Cálcio, enfim, as variações eletrofisiológicas. Só que, esse fato tem constatações pelo seguinte: Qual seria a quantidade do Digitálico que faz a inativação da Na/KATPase de membrana? Porque outros estudos mostram que a quantidade dos Digitálicos encontrados no sangue em situações terapêuticas, por exemplo, ao tomar um comprimido de Digoxina e dosar sua quantidade no sangue, essa quantidade encontrada no sangue, faz o efeito inotrópico, mas não faz o efeito inibidor da Na/KATPase de membrana. O que é inquestionável, é que a quantidade do Cálcio aumenta dentro da célula, isso é inevitável. Mas ao analisar o aumento da quantidade de Cálcio dentro da célula, duas coisas poderiam estar em jogo, a dificuldade de expulsá-lo e a facilidade de entrada. Portanto, se eu tenho uma substância em um compartimento celular aumentado, vamos pensar nessa possibilidade, alguma coisa está favorecendo a entrada, ou outro efeito comprometendo sua saída. Os livros até hoje, se baseiam no experimento in vitro, a tendência é essa, inibiu a enzima, então o mecanismo de ação é esse, como se fosse o principal. Esse é apenas um pedaço do fenômeno. Paulo diz que ao seu ver, a segunda hipótese é mais apropriada, visto que, ao tratar um paciente intoxicado por Digitálico, ele tem doses elevadas de Digitálico, por isso, nesse caso, nós temos sim a inibição da Na/KATPase de membrana. O tratamento para reativar essa enzima é o antagonista do Sódio, ou seja, o Potássio. CASO CLÍNICO: Paciente foi medicado com Digitálico, e apresentou um quadro de intoxicação, como iremos tratá- lo? Com Cloreto de Potássio. Quando esse é aplicado, promovemos um reestabelecimento da Na/KATPase de membrana, e não anulamos o efeito do medicamento, ou seja, combatemos a intoxicação, mas não inibimos o efeito ionotrópico. Se esse efeito principal fosse decorrente da inibição da enzima, nesse momento, seu efeito seria totalmente inibido. Portanto, quando suplementamos Potássio, trata-se a intoxicação, e preserva-se o efeito benéfico terapêutico. Portanto, é mais provável que o Digitálico, ao invés de reter Cálcio em dose terapêutica, ele facilite a entrada. Infelizmente, esses estudos não tiveram continuidade visto que, os Digitálicos foram sendo gradativamente substituídos por outras medicações. INDEPENDENTE DE SEU MECANISMO DE AÇÃO FARMACOLÓGICO, OS DIGITÁLICOS VÃO PROMOVER CONTRAÇÃO CARDÍACA E VASCULAR A grande importância do Digitálico é que a ação Inotrópica, não é acompanhada por uma ação Cronotrópica simultânea. Pelo contrário, o paciente com IC, ele está com pressão alta, bem como com frequência cardíaca aumentada, quando esse paciente é tratado, a tendência é aumentar sua força de contração cardíaca sem aumentar a frequência cardíaca, e, ao contrário, se ela estava 130/140, agora ela cai para 80. DIGITÁLICO É INOTRÓPICO POSITIVO SEM SER CRONOTRÓPICO POSITIVO Isso é uma grande vantagem, já que, reduz a própria demanda metabólica, permitindo que a performance seja muito mais eficiente. EFEITOS DOS DIGITÁLICOS SEM IC X COM IC Pelo fato dos Digitálicos serem medicamentos que já foram estudados há séculos atrás com facilidade no coração de gente decapitada, nós temos muitas informações do efeito dos Digitálicos não só em um coração com IC, mas também a influência do Digitálico no coração de um sadio, fenômeno que normalmente não aparece para nós com facilidade. Basta lembrarmos de um ensaio clínico farmacológico, uma substância desconhecida que queremos estudar, primeiro tenho que comprovar se a substância é segura, bem como, se ela é eficaz (binômino: segurança + eficácia). Começamos vendo se ela é segura, já que ela pode ser eficaz, mas se matar mais do que é eficaz, torna-se inviável. USO DE DIGITÁLICOS EM PACIENTES SEM IC EFEITOS DIRETOS INOTROPISMO CONSTRIÇÃO ARTERIOLAR (PÓS-CARGA) CONSTRIÇÃO VENOSA EFEITOS INDIRETOS PRESSÃO ARTERIAL RETENÇÃOVENOSA (PORTA HEPÁTICA) 4 DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY DO RETORNO VENOSO TENDÊNCIA PARA DO DC (TÔNUS PS) FC ( PS & S ) (NSA) BRADICARDIA SINUSAL ANÁLISE DOS EFEITOS Aumento do inotropismo, como também, constrição arteriolar, aumentando a pós-carga, e, constrição venosa, especialmente, das veias porta-hepáticas, esse é um efeito que resulta do acúmulo de Cálcio dentro da célula. Seja por aumento da condutância, seja pela dificuldade de saída dele. Essas, tratam, de ações diretas, mas elas repercutem através de ações hemodinâmicas. Então, vemos que aumentando a força contrátil, com aumento da resistência vascular, a pressão arterial irá aumentar. Constrição venosa no Sistema Porta, levando a retenção venosa, em sequência, diminuição do retorno venoso, tendência para diminuir o débito cardíaco, tratando-se do tônus parassimpático que está em atividade. Pressão arterial está aumentada, e, quando essa aumenta, os receptores de pressão, carotídeo e aórtico, sinalizam o Tronco Cerebral para ativar o Nervo Vago, então, tendência para diminuir o Débito Cardíaco. Consequentemente, diminuição da frequência cardíaca. Aumento do parassimpático e diminuição do simpático, todos esses efeitos mediados no Nodo Sinoatrial, em consequência, bradicardia sinusal. Quando analisamos todas essas alterações hemodinâmicas, veremos grande semelhança com o quadro de IC descompensada. USO DE DIGITÁLICOS EM PACIENTES COM IC EFEITO DIRETO INOTROPISMO TÔNUS ARTERIOLAR TÔNUS VENOSO TÔNUS SIMPÁTICO CARDÍACO TÔNUS PARASSIMPÁTICO CARDÍACO EFEITO INDIRETO DÉBITO CARDÍACO PRESSÃO VENOSA RETENÇÃO VENOSA (PORTA-HEPÁTICA) RETORNO VENOSO FREQUÊNCIA CARDÍACA EDEMA ANÁLISE DOS EFEITOS Os Cardiotônicos, nas células do coração, irão aumentar a condutância do Cálcio, o que irá gerar aumento do inotropismo. Nos vasos sanguíneos, o mesmo acontece, a quantidade de cálcio dentro do vaso, na célula vascular, especialmente nas arteríolas e nas veias supra-hepáticas, teremos um efeito direto, mas, esse indivíduo, está previamente submetido a alterações funcionais. Devemos lembrar que ao tratá-lo, ele já tem um quadro de hiperatividade simpática, e de hiperatividade renal. O coração está bombeando com fraca intensidade, então, à medida que o coração agora recebe o reforço externo, aquela influência indireta, agora pode ficar retraída. Logo, se o coração volta a bombear normalmente, o sistema simpático agora pode retornar a valores basais ou diminuir a sua intensidade. Então, as coisas acontecem ao mesmo tempo, o Digitálico está atuando em um vaso que estava previamente contraído, mas com o efeito inotrópico, esse vaso agora não está mais tão contraído, então, quando fazemos uma contabilidade do efeito direto e do indireto, no paciente com IC, percebe-se uma diminuição do tônus arteriolar, uma diminuição do tônus venoso. Como a diminuição do tônus simpático e aumento do parassimpático cardíaco. Então, essa pressão que estava elevada tendo vasoconstrição, diminuiu, e o efeito é inotrópico. Então, o coração está bombeando com mais força, os vasos oferecendo menor resistência, o Débito Cardíaco aumenta. A própria atividade da Aldosterona, agora ela vai também diminuir. Então, aumento do Débito Cardíaco, diminuição da pressão venosa, diminuição do retorno venoso no porta- hepático, sendo a grande influência no paciente anasarcado, com retenção de líquido no organismo. Aumenta o retorno venoso e diminui a frequência cardíaca que estava aumentada. Então, vejam bem, o paciente com IC por ocasião do não tratamento, geralmente tem uma frequência cardíaca na ordem de 130/140bpm. Dando o Digitálico para ele, têm-se aumento do tônus parassimpático, portanto, temos aqui um Reflexo Vagal que a frequência cardíaca fica agora na ordem de 80bpm. O papel do Digitálico, lembrando mais uma vez, é o inotropismo sem acompanhamento do cronotropismo, portanto, temos efeito inotrópico sem efeito cronotrópico positivo, já que a frequência tende a cair gradativamente. Com aumento do Débito Cardíaco, aumenta a circulação renal, então, observa-se que no rim, no quadro de não tratamento, sistema adrenérgico estava liberando Renina, agora tem menos Noradrenalina, com isso, menos liberação de Aldosterona, e o próprio medicamento irá propiciar aumento do débito cardíaco, fazendo maior filtração glomerular. Com isso, vamos ter um efeito diurético, fazendo o efeito diurético, diminuição do edema. Então, veja bem, Digitálico tem efeito diurético dessa situação, mas não podemos pensar em utilizar Digitálico como medicamento diurético. Na Insuficiência Renal, como há uma retenção hídrica, pela diminuição da atividade simpática renal, pela maior atividade glomerular, estabelece-se uma diurese, mas não é uma diurese explorada terapeuticamente para outras situações, é o efeito diurético do Digitálico. Portanto, justifica-se plenamente sua indicação terapêutica. CURIOSIDADES É um aspecto interessante quando comparamos esses dados, já que a farmacologia que discutimos aqui o tempo todo na faculdade, é voltada para o tratamento alopático, mas, a terapêutica medicamentosa, além do sistema alopático, tem o sistema homeopático, criticado por muitos, mas que ainda é uma especialidade médica reconhecida pelo CFM. Na análise do medicamento homeopático, valoriza-se muito a influência de um remédio sobre o organismo sadio. Digamos que, na pesquisa homeopático, em primeiro lugar, se averigua o aspecto toxicológico da substância. Iremos observar que o aspecto toxicológico do digitálico se assemelha ao da própria enfermidade que ele quer tratar. Então, a filosofia homeopática se fundamenta nesse aspecto. A substância que provoca no organismo são uma 5 DIGITADA POR JÚLIA ROBADEY patologia, em doses diluídas, seria o tratamento contrário. A contestação do tratamento homeopático, se deve exatamente a esse alto grau de diluição, já que nós temos produtos que moléculas não são mais encontradas ali. A explicação homeopática seria voltada para plena atividade da mudança de energia vital do organismo, e então vemos implicações filosóficas, religiosas e energéticas que não fazem parte da nossa discussão. Entretanto, esse é um fenômeno comum, uma substância, em um organismo sadio, provocar um quadro semelhante ao que vamos tratar. EXEMPLO: Um indivíduo que se intoxica com Aspirina, apresenta um quadro de hipertermia, e essa, em dose menor, é usada para tratar febre. INTOXICAÇÃO POR DIGITÁLICO Tomando cuidado, já que, embora seja extremamente eficaz, a margem de segurança é estreita. No caso de intoxicação, aí sim temos inativação da Na/KATPase de membrana. Na dose terapêutica, questiona-se se o efeito é decorrente dessa ação, mas no caso de intoxicação, não há dúvida, na intoxicação há uma inibição da Na/KATPase de membrana. Podemos reativar essa enzima que está acumulando Sódio no interior da célula usando seu antagonista, o Potássio. O sal de Potássio que é usado é o nosso Cloreto de Potássio. ALTERAÇÕES ELETROLÍTICAS QUE PROPICIAM INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA OBS: INIBIDOR DO CANAL DE CÁLCIO NÃO É O MESMO QUE INIBIDOR DE CÁLCIO. Inibidor do Canal de Cálcio diminui a entrada de Cálcio no sarcômero, por isso, o IECA tem uso na IC. Agora, Inibição de Cálcio, implica neutralizar o Cálcio extracelular. TRATAMENTO PARA INTOXICAÇÃO ▪ Como a intoxicação digitálica gera arritmias cardíacas, podem ser utilizados como exemplo de tratamento para intoxicação antiarrítmicos como Lidocaína e Difenil Hidantoína, que são dois antiarrítmicos muito antigos, e como o estudo dos Digitálicos lá atrás, e naquela época já se reconhecia diante um quadro de arritmia, a necessidade de utilizar antiarrítmicos, esses dois até hoje são os clássicos, não implica que outros não possam ser usados, mas não existem estudos clínicos que comprobatórios, como já temos uma boa referência para esses dois, são usadosaté hoje; ▪ Modernamente, para intoxicação Digitálica, temos os anticorpos anti-digoxina, isso se trabalharmos em um local altamente especializado que disponha desse medicamento. Esses anticorpos foram desenvolvidos a princípio, para monitorar a concentração plasmática dos Digitálicos no sangue. Sabemos que os Digitálicos são perigosos, já que, qualquer sobredose já provoca intoxicação então existem meios de analisar a quantidade dos Digitálicos em laboratório. Assim como um paciente faz uso de Lítio, em alguns momentos devem fazer análise para ver se está aumentada a quantidade, para evitar que ultrapasse a Janela Terapêutica. Depois que esses anticorpos foram descobertos, puderam ser utilizados também no tratamento. ANTICORPOS ANTI-DIGOXINA SERVEM PARA DIAGNÓSTICO E PARA TRATAMENTO SINAIS E SINTOMAS DE INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA Quando um paciente retrata um desconforto abdominal, esse passa na maioria das vezes despercebido, sendo atribuídos a irritação de mucosa. Se ele diz que está tendo alteração de paladar, é comum pensar que o paciente está ingerindo algum condimento que está atrapalhando seu paladar. Pode dizer também que está tendo alteração de cores, confundindo verde e amarelo. Sendo essas as características da intoxicação pelos Digitálicos, portanto, não podem passar despercebidas. As manifestações cardíacas estão relacionadas com a piora do quadro. Estudiosos acreditam que a intoxicação por digitálicos, usados na época para tratamento de epilepsia (como a de Van Gogh) foram os responsáveis pelo excesso do uso do amarelo nas pinturas. INTOXICAÇÃO POR DIGITÁLICO REVERTER COM CLORETO DE POTÁSSIO HIPOCALEMIA •Paciente que faz uso do Digitálico, geralmente, é interessante uma suplementação natural de Potássio. Você pode comer banana, laranja, que são sempre fontes de Potássio. Mas, se quisermos um tratamento com doses mais padronizadas, existem comprimidos de Cloreto de Potássio por via oral. HIPERCALCEMIA •Existem substâncias que quelam o Cálcio, um exemplo é o EDTA (Ácido Etilenodiamino Tetra-acético), substância utilizada em laboratórios como anti-coagulantes, ele tem ação in vitro e ação in vivo, esse sim, trata-se de um INIBIDOR DO CÁLCIO. HIPERNATREMIA •Em pacientes hipertensos, já sabemos os cuidados que devem ser tidos com o consumo de Sódio, se você faz uso do Digitálico, uma hipernatremia já está propiciando uma intoxicação digitálica, mais uma razão pra evitar a ingesta. GASTROINTESTINAIS NEUROLÓGICOS CARDIOVASCULARES
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