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A Conquista do Espaço (Do Sputnik à Missão Centenário)

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Organizadores:
Othon Cabo Winter 
Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado
do Sputnik à Missão Centenário
EspaçoA conquista do
Há meio século era lançado ao espaço o primeiro satélite artificial da 
Terra, o famoso SPUTNIK. Algo que muitos, escritores, filósofos e 
cientistas, já haviam sonhado. Um personagem central nesta conquista 
foi o russo Sergey Korolev. De lá para cá a evolução foi muito rápida. 
Alimentada pela Guerra Fria, uma incrível corrida espacial entre as 
duas principais potências mundiais da época teve início. A meta era 
levar o homem à Lua. Para tanto, foi necessário um enorme esforço 
gerando avanços científicos e tecnológicos, mas também às custas 
de muitos riscos, coragem e tragédias. No final da década de 60 o 
homem chegou à Lua. A partir de então o envio de sondas espaciais 
interplanetárias se tornou uma espécie de rotina. Já foram lançadas 
sondas para todos os planetas do sistema solar, além de sondas que 
visitaram cometas e asteróides. Satélites artificiais passaram a ser uma 
necessidade para a sociedade atual. No seleto grupo de países que 
possuem tecnologia e conhecimento na área aeroespacial se insere o 
Brasil. Ao longo das últimas décadas desenvolvemos e demonstramos 
capacidade de construção, rastreio e controle de satélites artificiais. 
Neste mundo em que o domínio da tecnologia se torna cada vez mais 
importante, esta é uma área estratégica na qual o nosso país vem 
ocupando espaço. Este é um livro comemorativo, que tem por objetivo 
divulgar de modo acessível os principais marcos da Era Espacial e 
apresentar a evolução e algumas das conquistas desta área no Brasil. 
Programa de Pós-graduação 
em Física - Guaratinguetá
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Neste início de século 21, é 
bastante evidente que a nossa 
sociedade está cada vez mais 
sedimentada nos avanços 
científicos e tecnológicos. Em 
especial, a área aeroespacial 
nos afeta de maneira tão 
intensa e freqüente que já 
não nos damos conta de sua 
importância. São imagens 
de TV, ligações telefônicas, 
internet, imagens de satélites 
que nos auxiliam na previsão do 
tempo, na identificação de áreas 
preservadas ou degradadas do 
meio ambiente; São imagens 
de sondas espaciais que nos 
revelam informações sobre 
outros planetas, asteróides, 
cometas e todo o universo; 
São astronautas que realizam 
experimentos a bordo de 
estações espaciais. Mas como 
tudo isso começou? Por que essa 
evolução foi tão rápida? Em 
que estágio o Brasil se encontra 
nesse contexto?
Neste livro comemorativo, são 
apresentados fatos históricos 
do início da Era Espacial, 
que começou com o primeiro 
satélite artificial – o Sputnik, 
e a sua evolução até a presente 
data, quando completa meio 
século de vida. Nesse cenário 
é dado destaque à participação 
brasileira.
Este livro é composto de textos 
escritos por 13 autores, 
sendo eles:
 Ana Paula Marins Chiaradia 
(UNESP), Antonio Fernando 
Bertachini de Almeida Prado 
(INPE), Cristiano Fiorilo de 
Melo (INPE), Elbert Einstein 
Neher Macau (INPE), Hélio 
Koiti Kuga (INPE), Marcelo 
Lopes de Oliveira e Souza 
(INPE), Marcos Cesar Pontes 
(Astronauta), Othon Cabo 
Winter (UNESP), Petrônio 
Noronha de Souza (INPE), 
Silvia Maria Giuliatti Winter 
(UNESP), Rodolpho Vilhena de 
Moraes (UNESP), Ulisses Tadeu 
Vieira Guedes (INPE) e Valcir 
Orlando (INPE).
A CONQUISTA DO ESPAÇO
Do Sputnik à Missão Centenário
A CONQUISTA DO ESPAÇO
Do Sputnik à Missão Centenário
Organizadores:
Othon Cabo Winter
Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado
Apresentação
Este livro surgiu a partir da idéia de se aproveitar o cinqüentenário de lança-mento do Sputnik para se fazer relatos da evolução histórica que permeia a 
Era Espacial e a participação do Brasil neste contexto. Trata-se de uma história 
que teve início no sonho e na necessidade do ser humano descobrir o desconhe-
cido, o que há lá fora, o que existe além da Terra. Os ingredientes que tornam 
essa história fascinante são muitos, passando por grandes disputas políticas in-
ternacionais, desenvolvimento de ciência e tecnologia, convicções pessoais, tra-
gédias e até o acaso.
Assim entendeu-se que seria uma importante oportunidade de produzir um 
documento interessante para o público em geral. Então houve a preocupação de 
se tentar redigir textos que sejam acessíveis, não estritamente técnicos, de modo 
que esse material possa ser útil como um meio de divulgação do conhecimento, 
histórico e científico. 
Para escrever os textos desse livro foram convidados pesquisadores do 
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Grupo de Dinâmica Orbital & 
Planetologia da UNESP de Guaratinguetá e também o astronauta Marcos Pontes. 
Este livro se tornou uma produção da Agência Espacial Brasileira e também 
contou com o apoio do Programa de Pós-graduação em Física da UNESP – 
Guaratinguetá.
OthOn CabO Winter e
antOniO FernandO bertaChini de almeida PradO
Copyright @ 2007, Agência Espacial Brasileira
1a edição
Direção editorial
José Roberto Marinho
Organizadores:
Othon Cabo Winter 
 Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado
Capa
Ana Maria Hitomi – Typography
Projeto gráfico e diagramação
Typography
Revisão
Maria Ângela Rodrigues Figueiredo
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 A Conquista do Espaço: do Sputnik à Missão Centenário / organizadores Othon Cabo Winter,
Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado. – São Paulo : Editora Livraria da Física, 2007.
Vários autores.
ISBN 978-85-88325-89-0
1. Espaço exterior 2. Espaço extra-terrestre – Exploração – Obras de divulgação 3. Estações
espaciais 4. Satélites artificiais 5. Sondas 6. Sputnik (Satélites) 7. Vôos espaciais I. Winter,
Othon Cabo. II. Prado, Antonio Fernando Bertachini de Almeida.
07-8115 CDD-629.435
Índice para catálogo sistemático:
1. Conquista do espaço : Astronáutica : História
629.435
Índice
Apresentação ............................................................................................................05
OthOn CabO Winter e 
CristianO FiOrilO de melO
O Sputnik ..................................................................................................................11
CristianO FiOrilO de melO e 
OthOn CabO Winter
A Era espacial ...........................................................................................................37
elbert e. n. maCau
Chegamos à lua ........................................................................................................75
rOdOlPhO Vilhena de mOraes e 
ana Paula marins Chiaradia
Instituições e agências brasileiras ........................................................................123
ValCir OrlandO e 
héliO KOiti Kuga
Os satélites SCD1 E SCD2 da missão espacial
completa brasileira - MECB ..................................................................................151
ValCir OrlandO e 
héliO KOiti Kuga
Rastreio e controle de satélites do INPE .............................................................177
silVia maria giuliatti Winter
Sondas espaciais .....................................................................................................209
ulisses thadeu Vieira guedes, 
marCelO lOPes de OliVeira e sOuza
e héliO KOiti Kuga
Reentrada atmosférica ...........................................................................................241
antOniO FernandO bertaChini de almeida PradO
e PetrôniO nOrOnha de sOuza
Estações espaciais ...................................................................................................269
marCOs Cesar POntes
O Brasil na Estação Espacial Internacional - ISS ............................................... 293
Autores ....................................................................................................................317
Capítulo 1
O Sputnik
OthOn CabO Winter e CristianO FiOrilO de MelO
Nesteprimeiro capítulo procuraremos apresentar o contexto histórico/políti-
co por trás do projeto do primeiro satélite artificial terrestre e o trabalho de supe-
ração das barreiras técnicas e científicas que propiciaram à humanidade entrar na 
era espacial, bem como, algumas de suas conseqüências para a sociedade. O texto 
se subdivide em Antes, Durante e Depois, visando apresentar as condições que le-
varam ao lançamento do primeiro satélite artificial, sua concepção e cumprimento 
desta missão espacial e finalmente, as repercussões e reações desse feito.
1. Antes
1.1 – Os sonhadores
O desejo de romper os limites da Terra e viajar pelo espaço é antigo e são 
muitos os relatos dessa vontade através dos tempos. Vejamos alguns exemplos: 
no século XIX, arqueólogos encontraram o conto do rei Etan nas escavações da 
grande biblioteca de Nínive de Assurbanipal III, o último grande rei Assírio, cujo 
reinado se estendeu de 668 a 627 a.C. Esse conto narra a estória do rei que subira a 
uma altura tal que a Terra, antes de sumir de sua vista, lhe pareceu do tamanho de 
um pequeno cesto; em 50 a.C., o filósofo romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), 
em seu livro A República, escreveu sobre o espírito de um homem que viajou pelos 
O Sputnik
12
O Sputnik
cinco planetas conhecidos à época (Mercúrio, Vênus, Marte, Jú-
piter e Saturno). Em 150 d.C., encontramos a obra Vera História 
de Luciano di Samosata (120-180), sírio radicado na Grécia, que 
descreveu uma fantástica viagem pelo espaço repleta de encon-
tros com alienígenas. 
Nos séculos seguintes à era cristã outras tantas obras sobre 
o assunto apareceram, Em 1516, L’Orlando Furioso do italiano Lu-
dovico Ariosto (1474-1533), relata a estória do corajoso cavaleiro 
de Astolfo que partiu para a Lua em uma máquina voadora. O 
famoso astrônomo alemão Johannes Kepler (1572-1630) relatou a 
viagem que fez à Lua em um sonho na obra intitulada Somnium, publicada em 1634. 
Em 1638, o Lord e Bispo inglês John Wilkins, um dos fundadores da “Royal Society” 
(Academia de Ciências do Reino Unido), publicou The Discovery of a World in the Mo-
one. Segundo Wilkins, o homem poderia voar de quatro maneiras: com o espírito dos 
anjos; com a ajuda de pássaros; com asas amarradas ao seu corpo e em uma carrua-
gem voadora. Depois, em 1652 e 1657, foram publicadas as obras do escritor francês 
Cyrano de Bérgerac (1619-1655) intituladas Viagens Cósmicas ao Sol e à Lua, respec-
tivamente. O autor imaginou uma máquina voadora fantástica construída a partir de 
uma caixa com dois furos nas extremidades; no meio, um globo com espelhos côn-
cavos e convexos concentrava os raios de luz em seu interior aquecendo o ar que en-
trava pelo furo superior. O ar aquecido era expelido pelo furo inferior e empregado 
como propulsor da magnífica “máquina voadora” chamada de “estatorreator”. Mas 
foi mesmo um outro escritor francês chamado 
Júlio Verne (1828-1905) que aproximou a ficção 
científica dos vôos espaciais que tornaram mais 
reais na atualidade. Extraordinariamente, em seu 
romance De La Terre à la Lune, publicado em 1865, 
descreveu uma viagem à Lua com um artefato de 
módulos desacopláveis construído por uma em-
presa norte-americana que partiu da Flórida com 
três astronautas posteriormente resgatados em 
uma pequena cápsula no oceano. Pode-se afir-
mar que Júlio Verne foi visionário: cento e três 
anos depois, em 1968, três astronautas partiram 
na Apollo 8, da Flórida, em um foguete modular, 
para o primeiro vôo tripulado ao redor da Lua. 
Luciano di 
Samosata
Escritor francês Júlio Verne.
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
13
Na volta, foram resgatados de uma cáp-
sula que pousou no oceano. Júlio Verne 
descreveu a viagem com tantos detalhes 
técnicos que conseguiu influenciar ge-
rações de pesquisadores que dedicaram 
suas vidas ao progresso da Astronáutica. 
O conceito de “satélite artificial” parece 
ter surgido em outro livro de Júlio Verne, 
Les Cinq cents millions de la Bégum, publica-
do em 1879.
Como podemos verificar, viajar 
pelo espaço é um sonho bem antigo, mas 
ele só se tornou realidade na segunda 
metade do século passado. Um marco 
inicial neste processo ocorreu mais preci-
samente em 4 de outubro de 1957, com o lançamento do primeiro satélite artificial, 
o Sputnik. Todavia, a idéia de se colocar um satélite em órbita da Terra já existia há 
pelo menos três séculos. O físico, matemático e astrônomo inglês, Sir Isaac Newton 
(1642-1727), que introduziu a Lei da Gravitação Universal, também afirmou que 
um objeto poderia se manter em órbita da Terra, assim como os planetas se mantêm 
em órbita do Sol, se a velocidade for suficiente para vencer a atração gravitacional 
da Terra. Ele previu que a resistência do ar atmosférico sobre o objeto reduziria 
sua velocidade ao longo do tempo. A genialida-
de de Newton o permitiu a ele ainda supor que 
em altitudes mais elevadas, onde a atmosfera 
é mais rarefeita e oferece menor resistência, o 
objeto poderia permanecer em órbita da Terra 
por longos períodos. Todavia, para chegar até 
lá, seria preciso desenvolver foguetes capazes 
de levar esses objetos (os atuais satélites) às al-
titudes mais elevadas. 
Antes de abordar a história do Sputnik 
precisamos fazer “um rápido vôo” pelo desen-
volvimento da Astronáutica, inclusive para en-
tender a importância do próprio Sputnik como 
um marco científico e tecnológico. 
Desenho do livro da Terra à Lua
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Retrato de Isaac Newton
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O Sputnik
14
O Sputnik
1.2 – A Astronáutica
No final do século XIX e início do século XX surgiu a Astronáutica. Trata-se 
da ciência que estuda os aspectos da locomoção no espaço, o que inclui as tecnolo-
gias que envolvem a construção dos foguetes, o cálculo das órbitas dos satélites e 
das trajetórias das sondas espaciais, os meios de transmissão e recepção de sinais 
entre a Terra e as naves, as técnicas de pouso em outros corpos celestes e muitas 
outras atividades relacionadas ao tema.
No século XVII, Newton forneceu as condições iniciais para o desenvolvi-
mento teórico da Astronáutica. Mas, no que diz respeito à construção dos fogue-
tes, foi preciso esperar pelo desenvolvimento de motores à reação e de combustí-
veis potentes, o que só ocorreu efetivamente no início do século XX. Já existiam, 
entretanto, antes dessa época, artefatos que poderiam ser chamados de foguetes: 
algumas armas militares e fogos de artifício, os quais usava combustível sólido 
a base de pólvora. As referências mais antigas conhecidas sobre estes artefatos 
remontam à China do terceiro século antes de Cristo e relatam a construção dos 
primeiros fogos de artifício feitos de pedaços de bambu cheios de salitre, enxofre 
e carvão. Não tardou muito para que alguns personagens, cujos nomes se per-
Ilustração do livro Principia 
(Isaac Newton) mostrando as 
trajetórias de objetos sendo 
lançados a partir da Terra e 
outras já orbitando a Terra, 
como satélites.
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
15
deram no tempo, descobrissem as aplicações militares desses artigos. Assim, ao 
longo da história, muitos exércitos lograram êxitos e fracassos usando foguetes 
como armas de guerra, embora o uso deles tenha sido discreto e, inexpressivo até 
a segunda Guerra Mundial. 
Os três principais precursores dos estudos teóricos e práticos sobre os fogue-
tes e a Astronáutica viveram praticamente na mesma época. Porém, ao que tudo 
indica, eles nunca se encontraram, e nenhum deles sabia em que os outros dois 
trabalhavam. Mesmo assim, eles chegaram a resultados muito semelhantes. Foram 
eles: o russo Konstantin Eduardovich Tsiolkovsky (1857-1935), o americano Robert 
Hutchings Goddard (1882-1945) e o romeno de ascendência alemã Hermann Julius 
Oberth (1894-1989). 
Tsiolkovsky nasceu na provín-
cia de Riazan, Rússia, e aos 16 anos 
foi enviado para estudar em Moscou. 
Em 1903, ele publicou “A exploraçãodo espaço cósmico com a ajuda de apa-
relhos propulsores à reação”. Segundo 
esse trabalho, o foguete seria metáli-
co e de forma alongada, semelhante a 
um dirigível e com propulsores à base 
de oxigênio e hidrogênio líquido. Na-
quele que foi, portanto, seu primeiro 
artigo sobre o motor-foguete, Tsiolko-
Desenho de espaçonave tripulada, 
concebida por Tsiolkovsky
Diagramas de 
foguetes feitos 
por Tsiolkovsky
Uma foto de 
próprio Tsiolkovsky
O Sputnik
16
O Sputnik
vsky apresentou a teoria do vôo do foguete demonstrando a possibilidade de seu 
uso em viagens interplanetárias. Ao longo dos anos, Tsiolkovsky aperfeiçoou essa 
idéia de propulsão de um foguete por meio de combustível líquido, a qual classifi-
cava com ironia como “Projetos Utópicos”. 
Goddard nasceu no estado de Massachusetts, EUA, e se graduou no Institu-
to Politécnico de Worcester em 1908. As suas investigações com foguetes começa-
ram em 1899, quando construiu uma câmara de combustão para medir a retropro-
pulsão dos gases. Quando estudava no Instituto Politécnico, ele realizou as suas 
primeiras experiências com pequenos foguetes a base de combustível sólido. Em 
1912, Goddard demonstrou matematicamente que era possível fazer um fogue-
te atingir grandes altitudes utilizando-se a força gerada pelos gases emitidos por 
propulsores. Coube a Goddard o experimento com o primeiro foguete movido a 
combustível líquido da história, experiência executada em 16 de março de 1926. A 
partir de então trabalhou com foguetes de maior porte. Em 1935, fez com que um 
de seus foguetes atingisse 2.280 metros de altura e a velocidade de 880 km/h.
Oberth nasceu na Romênia e após abandonar a carreira de médico foi estu-
dar na Alemanha. Em 1923, Oberth escreveu o livro chamado “Os Foguetes no Espa-
ço Interplanetário”. Ele teve tanto destaque na Alemanha que, em 1928, foi chamado 
para ser assessor técnico do famoso diretor cinematográfico Fritz Lang no filme 
baseado no romance “Uma mulher na Lua”, escrito pela esposa de Lang.
O livro escrito por Oberth encantou muitos jovens pesquisadores da época, 
entre eles o alemão Wernher Magnus Maximilian von Braun (1912-1977). O talento 
de Von Braun para foguetes era precoce e seus experimentos começaram ainda na 
Monumento a Tsiolkovsky 
em Kalunga Rússia. 
Selo em homenagem a 
Tsiolkovsky (URSS, 1986)
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
17
adolescência. Em certa ocasião, com apenas 13 anos, ele amarrou 6 foguetes a um 
velho brinquedo e o lançou sobre sua cidade natal provocando alvoroço entre os 
moradores. Todavia, o jovem von Braun demonstrou pouca aptidão para Física e 
Matemática quando estudante da escola fundamental. Mas isso mudou radical-
mente a partir de 1925, ao ler o livro de Oberth com quem foi trabalhar em 1932, 
quando assinou um contrato com o exército alemão para desenvolver foguetes 
militares. Em 1934, após se doutorar em Física com uma tese sobre foguetes de 
combustível liquido, von Braun passou a integrar uma grande equipe de cientis-
tas e técnicos para o desenvolvimento de foguetes para o exército alemão. Dentre 
os vários projetos desenvolvidos pela equipe de von Braun, o principal deles foi 
o primeiro foguete/míssil balístico conhecido como V2 (Vergeltungswaffe.2, que 
significa “arma de represália”, em alemão), lançado em 1942, e que tornou-se uma 
poderosa arma do exército nazista durante o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 
14 de março de 1944, von Braun foi preso pela Gestapo por ter declarado que o V2 
poderia ser usado para viagens ao espaço. Era esperado que ele dissesse que ele 
permitiria a vitória da Alemanha na guerra. Porém, o sucesso do programa depen-
dia de von Braun e, por isso, ele acabou solto, embora as ordens de Hitler fossem 
para mantê-lo sob vigilância. 
Em maio de 1945, von Braun e sua equipe renderam-se ao exército americano. 
O alto comando do exército alemão havia decretado a execução de toda equipe para 
Goddard ao lado do primeiro foguete movido a 
combustível liquido da história. O foguete alcançou 
46 metros de alturafo
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Oberth 
(ao centro) e 
von Braun 
(sentado à 
mesa)
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O Sputnik
18
O Sputnik
que os segredos do programa V2 não caíssem nas mãos dos aliados. Em setembro 
daquele mesmo ano, ele e sua equipe, com cerca de 200 cientistas, chegaram aos 
Estados Unidos e imediatamente começaram a trabalhar no desenvolvimento de 
foguetes para o exército. Esses mesmos cientistas foram extremamente importantes 
para o desenvolvimento do programa de foguetes e mísseis balísticos norte-ame-
ricanos. Assim, pouco tempo depois, em 1950, os EUA lançaram os primeiros fo-
guetes Bumper, derivados das V2 alemãs. Em 1 de fevereiro de 1956, foi criada a 
Agência de Mísseis Balísticos do Exército dos Estados Unidos (ABMA, ou Army 
Ballistic Missile Agency), com a missão de desenvolver mísseis nucleares balísticos 
para o exército americano. Aglutinados nessa agência estavam os cabeças que cria-
ram a V2, como Wernher von Braun e Hermann Oberth entre outros. von Braun e 
sua equipe trabalharam em inúmeros projetos para as forças armadas norte-ameri-
canas e para a NASA, inclusive nos foguetes Saturno, do Projeto Apollo, que acabou 
levando o homem à Lua.
Outro personagem que merece destaque neste início da Astronáutica é o 
francês Robert Esnault-Pelterie (1881-1957). Esnault-Pelterie foi aviador e estu-
dou Engenharia na Sorbonne. Em 1927, deu uma conferência intitulada “A ex-
ploração por foguetes da alta atmosfera e a possibilidade das viagens interplane-
tárias”, que foi ampliada e convertida no livro “A Astronáutica”, publicado em 
1930. Nesse livro desenvolveu as equações para o vôo de um foguete no espaço. 
Numa edição do livro de 1934, estão incluídos detalhes de viagens interplanetá-
rias e o uso da energia nuclear.
Lançamento do Bumper 2, 
em julho de 1950, em cabo 
Canaveral na Flórida
Wernher von Braun
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OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
19
1.3 – Korolev
Os norte-americanos não foram os únicos a herdar os segredos do programa 
V2 dos alemães. Os soviéticos também conseguiram inúmeros documentos cien-
tíficos durante o final da Segunda Guerra Mundial, o que lhes permitiu alavancar 
seus programas de mísseis e foguetes espaciais. Porém, os méritos soviéticos, as-
sim como dos norte-americanos, não se devem apenas às contribuições obtidas 
dos alemães, mas também ao trabalho de muitos outros cientistas. Entre eles o 
principal destaque foi o engenheiro Sergei Pavlovitch Korolev (1907-1966). Korolev 
nasceu na Ucrânia e estudou na melhor escola de engenharia da Rússia – Escola 
Superior Técnica de Moscou. Ele se graduou em 1929 e a partir de 1933, passou a 
ser vice-chefe do Instituto de Pesquisa de Propulsão a Jato – RNII, onde participou 
do grupo que lançou o primeiro foguete soviético movido a combustível líquido. 
Durante o esforço de guerra soviético trabalhou no desenvolvimento de aviões 
movidos a foguetes líquidos para o exército vermelho. 
A partir de 1946, Korolev trabalhou simultaneamente no desenvolvimento 
de mísseis nucleares balísticos e foguetes capazes de levar cargas (satélites) ao es-
paço. Assim surgiu o Semiorka, também conhecido como R-7, um foguete de dois 
estágios, não superpostos, mas em feixe, capaz de colocar até 1300kg em órbitas 
baixas. O primeiro estágio era constituído de 4 foguetes aceleradores dispostos 
ao redor do corpo principal do engenho, os quais serviam de segundo estágio 
e também possuía um motor. No lançamento, todos os motores funcionavam 
Robert Esnault-Pelterie, 
publicou o livro 
“A Astronáutica”
Korolev
O Sputnik
20
O Sputnik
Korolev e o Regime Comunista
no auge do regime repressor de stalin (1937-1938), vários cientistas foram acu-sados de atividades anti-soviéticas e foram presos. Korolev foi acusado de sa-
botagem econômica, foi preso e torturado. durante um dos interrogatórios ele teve 
o maxilar inferior fraturado e perdeuos dentes. sentenciado a seis anos de prisão foi 
enviado a um “Gulag” (espécie de campo de concentração). na prisão, Korolev foi 
submetido a condições desumanas, trabalhando como mineiro de ouro. Porém, devido 
a sua especialidade profissional, foi salvo quando o renomado engenheiro aeronáutico 
andrey topolev, que também estava preso, solicitou a transferência de Korolev para 
uma prisão especial para cientistas. em regime carcerário, Korolev participou da equipe 
de topolev no projeto de um bombardeiro, um dos principais aviões soviéticos durante 
a segunda Guerra Mundial. em 1944, Korolev foi libertado, mas só foi reabilitado de 
fato em 1957, no período de relaxamento do premier nikita Krushchev, apenas seis 
meses antes do lançamento do sputnik. aos 59 anos de idade, no auge de sua carrei-
ra, morreu em virtude de imperícia médica ao ser submetido a uma cirurgia intestinal, 
realizada pelo próprio ministro soviético da saúde. 
simultaneamente, os quatro foguetes do primeiro 
estágio liberavam todo seu empuxo, enquanto o 
principal o liberava parcial e gradativamente. O 
tempo de combustão do primeiro estágio era de 
112 segundos e o do segundo estágio era de 244 
segundos. Durante a subida, o direcionamento do 
foguete era mantido por 12 pequenos motores aco-
plados ao primeiro estágio e quatro ao segundo. Já 
nos primeiros testes, o Semiorka apresentou exce-
lentes resultados e, em 1956, a Academia de Ciên-
cia da URSS decidiu usá-lo para o lançamento de 
um satélite artificial, o Sputnik 1. Korolev com Yuri Gargarin 
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Foto de Korolev tirada na prisão em 1938
n
a
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 K
o
ro
le
Va
Monumento 
a Korolev 
na cidade de 
Baikonour, 
Cazaquistão.
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
21
As contribuições de Korolev à Astronáutica foram incríveis. Seu nome está 
associado a inúmeros feitos do início da era espacial. Por exemplo, ao desenvolvi-
mento dos satélites do programa Sputnik (dez ao todo), as primeiras fotografias da 
face oculta da Lua (Lunik III, 1959), o primeiro vôo de um homem ao espaço (Yuri 
Gagarin, 1961), a primeira saída de um homem de um veículo no espaço (Aleksei 
Leonov, 1965), a primeira mulher no espaço (Valentina Terechkova, 1965), o pri-
meiro impacto de uma sonda em outro planeta (Vênus, 1966), o primeiro pouso 
lunar de uma sonda (Lunik IX, 1966). Ainda sob sua orientação, foram lançadas 
outras naves com destino a Vênus, Marte e Lua, bem como, o desenvolvimento de 
outros projetos espaciais soviéticos (Molniya-1, Electron, Cosmos e Zond). 
Serguei Pavlovitch Korolev
W
iK
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ia
Ano Geofísico Internacional
em 1952, o Conselho internacional de uniões Científicas decidiu estabelecer o perío-do de 1 de julho de 1957 a 31 de dezembro de 1958 como sendo o ano Geofísico 
internacional (iGy – international Geophysical year), pois os cientistas sabiam que o 
ciclo de atividades solar estaria no seu máximo. em outubro de 1954, o Conselho bai-
xou uma resolução na qual fazia uma chamada por lançamento de satélites artificiais, 
durante o iGy, para mapear a superfície da terra. em julho do ano seguinte, o gover-
no norte-americano declarou ter planos de lançar um satélite dentro da programação 
do iGy. na oportunidade, a Casa Branca solicitou às agências governamentais de 
pesquisa propostas para serem desenvolvidas. a proposta escolhida para representar 
os eua chamada Vanguard foi apresentada pelo laboratório de Pesquisa naval. o 
Vanguard seria um pequeno satélite, com menos de 2 quilogramas.
Semiorka, R-7, o foguete que levou o Sputnik 
e os primeiros satélites soviéticos ao espaço
O Sputnik
22
O Sputnik
1.4 – Muita Persistência
O desenvolvimento dos foguetes teve um avanço espetacular nos primeiros 
15 anos após a Segunda Guerra Mundial. Todavia, embora a grande maioria dos 
cabeças por trás dos projetos alemães, soviéticos e americanos fosse entusiastas da 
exploração espacial, os políticos que liberavam as verbas estavam mais preocupa-
dos com a corrida armamentista. 
No final dos anos 40, Korolev tentou, eventualmente e sem sucesso, sensibili-
zar lideranças do governo soviético quanto à importância de satélites artificiais. Inde-
pendentemente, Mikhail K. Tikhonravov (1901-1974), outro cientista que trabalhava 
num instituto dedicado à pesquisa sobre aplicações de mísseis balísticos, publicou 
diversos importantes relatórios sobre a possibilidade de veículos lançadores espa-
ciais e satélites artificiais. Em 1954, Tikhonravov fez uma exposição técnica detalhada 
intitulada “Relatório sobre um Satélite Artificial da Terra”. Isso ocorreu no mesmo 
momento em que o governo soviético atribuiu ao Escritório de Design de Korolev a 
tarefa de desenvolver o primeiro Míssil Balístico Intercontinental Soviético (ICMB). 
Korolev não perdeu tempo, na mesma semana enviou o relatório de Tikhonravov 
para o governo soviético com uma carta de encaminhamento dizendo:
eu trago à sua atenção o memorando do camarada M.K. tikhonravov, 
“relatório sobre um satélite artificial da terra”, e também materiais 
encaminhados dos eua sobre o trabalho que está sendo feito neste campo. 
o atual desenvolvimento de um novo produto (o r-7 iCBM) permite-nos falar da 
possibilidade de desenvolver um satélite artificial num futuro próximo... 
Parece-me que no momento atual existe uma oportunidade... para fazer 
o trabalho exploratório inicial sobre um satélite e mais detalhado trabalho sobre 
problemas complexos envolvidos com este objetivo. 
nós aguardamos sua decisão.”
A solicitação de Korolev parece ter passado por vários níveis do governo. Seus 
argumentos persuasivos sensibilizaram quatro oficiais do alto escalão da Indústria 
de Defesa, que submeteram uma proposta ao líder soviético Georgiy Malenkov pe-
dindo permissão para conduzir um “trabalho sobre as questões teórico-científicas 
associadas com vôo espacial”. Interessado em aplicações militares dos satélites de 
Tikhonravov, o governo aprovou a idéia. Esta foi a primeira intervenção oficial do 
governo soviético em um assunto relacionado à exploração espacial. 
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
23
2. Durante
2.1 – Projetos, Obstáculos e Construção
Em agosto de 1955, Korolev propôs que o satélite fosse lançado entre abril 
e julho de 1957, ou seja, antes do início do Ano Geofísico Internacional (IGY). Os 
americanos planejavam lançar um satélite durante o IGY. Se assim fosse, os sovié-
ticos chegariam à frente dos americanos. Uma comissão da Academia de Ciências 
havia coletado propostas de instrumentos científicos para que fizessem parte do 
satélite. Em setembro, o próprio Korolev aprovou um programa científico preli-
minar que incluía estudos da ionosfera, de raios cósmicos, do campo magnético 
terrestre, da luminescência na alta atmosfera, do Sol e suas influências na Terra, e 
outros fenômenos naturais. Entre dezembro de 1955 e março de 1956 um grande 
número de renomados acadêmicos soviéticos foi ouvido para refinar o pacote de 
experimentos científicos. Foi uma operação em grande escala que, devido à sua 
natureza civil, tinha pouco precedente. Como um projeto puramente científico, 
gerenciado pela Academia de Ciências, ele não era considerado como de grande 
prioridade pelo governo. Porém, o projeto, como outros, era visto como de baixo 
custo e ignorado pelas lideranças políticas. Finalmente, em 30 de janeiro de 1956, 
o Conselho de Ministros da URSS assinou o decreto número 149-88ss, solicitando 
a criação de um satélite artificial. O documento aprovou o lançamento de um sa-
télite, designado “Objeto D”, em 1957. Conforme previsto em cálculos feitos por 
Tikhonravov, a massa do satélite estava limitada de 1.000 a 1.400kg dos quais 200 
a 300kg seriam instrumentos científicos. Além da Academia de Ciências, cinco mi-
nistérios da área industrial estariam envolvidos no projeto. 
O Objeto D (ou D-1) era assim chamado por ser o quinto tipo de carga-útil a 
ser levado em um foguete Semiorka. No alfabeto cirílico as primeiras cinco letras 
são A, B,V, G e D. Os Objetos A, B, V e G haviam sido usadas para designações 
de diferentes ogivas nucleares. O satélite era um laboratório científico complexo, 
bem mais sofisticado do que qualquer outro projeto do Ano Geofísico Internacio-
nal. A execução desse projeto envolveu muitos desafios tecnológicos. Havia pouca 
experiência em criar “containers” pressurizados e instrumentos para trabalhar em 
órbita da Terra, bem como, para o desenvolvimento de sistemas de comunicação 
de longo alcance. A seleção de metais para a construção do satélite também apre-
sentava problemas para os engenheiros, já que os efeitos da exposição contínua ao 
ambiente espacial ainda estavam no campo das conjecturas. 
O Sputnik
24
O Sputnik
A construção começou em 5 de março de 1956, e foi esse processo domina-
do pelos grupos de Korolev e de Tikhonravov, mas também contava com várias 
organizações que forneciam componentes para completar o satélite. Em meados 
de 1956, o projeto do Objeto D estava bastante atrasado em relação ao seu crono-
grama. Freqüentemente partes do satélite eram entregues fora das especificações 
originais. Modelos de teste do Objeto D, que deveriam estar prontos em outubro, 
ainda permaneciam inacabados. No final do mês seguinte, Korolev sofria de muita 
ansiedade. Isto se devia também a duas outras questões. Primeiro, Korolev havia 
recebido a informação, incorreta, de que os americanos haviam falhado ao tentar 
lançar um satélite ao redor da Terra. Segundo, resultados de testes do Semiorka 
apresentaram empuxo específico inferior ao necessário para lançar o pesado saté-
lite Objeto D. Então, Korolev concluiu que talvez estivesse tornando este desafio 
ainda complicado. No lugar de um observatório astronômico de 1,5 toneladas, por 
que não tentar lançar algo mais simples na primeira tentativa? No final de novem-
bro, seu “braço direito”, Tikhonravov, propôs: “Que tal se fizéssemos o satélite 
mais leve? Uns 30 quilogramas ou até menos?”.
Na primeira semana de 1957, Korolev enviou carta ao governo descrevendo 
seu plano revisado. Ele pediu permissão para lançar dois satélites pequenos, 40-
50kg, que conteriam apenas um simples transmissor de ondas curtas com uma 
fonte de energia suficiente para 10 dias de operações. Estes satélites poderiam ser 
feitos majoritariamente por sua equipe, no Escritório de Design, apenas com as 
colaborações de dois outros institutos, os quais seriam responsáveis pelas baterias 
a bordo e os radio-transmissores. Korolev justificou a mudança de planos com a 
urgência de lançar um satélite antes dos americanos. O Conselho de Ministros da 
URSS assinou um decreto (no. 171-83ss) em 15 de fevereiro de 1957, aprovando o 
novo plano. Os dois satélites foram chamados de satélites simples números um e 
dois, ou simplesmente, PS-1 e PS-2. 
Entre março e agosto daquele ano engenheiros se debruçaram sobre cálculos 
para refinar a trajetória de lançamento do veículo e seu satélite. Os cálculos eram ini-
cialmente feitos com o uso de calculadoras elétricas e tábuas trigonométricas de seis 
dígitos. Quando cálculos mais complexos eram requeridos, os engenheiros tinham 
acesso ao computador recém-instalado na Academia de Ciências. Uma máquina gi-
gante que enchia uma enorme sala. Ela podia realizar dez mil operações por segun-
do. Tratava-se do computador mais rápido da URSS no final dos anos 50.
Quanto ao formato do primeiro satélite, havia um certo debate. Muitos acha-
vam que ele deveria ser um cone, já que assim ele se encaixaria facilmente ao formato 
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
25
cônico do nariz do foguete lançador. Po-
rém, o próprio Korolev decidiu que o for-
mato seria esférico, com diâmetro mínimo 
de um metro. Foram definidas seis diretri-
zes básicas para a construção do PS-1:
• o satélite teria que ser de máxima 
simplicidade e confiança tendo em 
mente que os métodos usados para 
essa sonda seriam utilizados em 
projetos futuros;
• o corpo do satélite deveria ser esférico para que pudesse determinar a densi-
dade atmosférica em seu caminho;
• o satélite possuiria equipamento de rádio operante em pelo menos dois com-
primentos de onda com potência suficiente para ser captado por amadores e 
para obter dados sobre a propagação de ondas de rádio através da atmosfera;
• as antenas deveriam ser projetadas de modo a não afetar a intensidade dos 
sinais de rádio devido à rotação do satélite;
• as fontes de potência deveriam ser baterias “on board” garantindo trabalho 
para duas ou três semanas; e
• o vínculo do satélite ao estágio central seria tal que não ocorreria falha na 
separação. 
Os cinco objetivos científicos primários da missão eram:
• testar o método de colocar um satélite artificial em órbita da Terra;
• prover informação sobre a densidade da atmosfera por meio do cálculo do seu 
tempo de vida em órbita;
• testar métodos de rastreamento orbital por meios ótico e de rádio;
• determinar os efeitos da propagação de ondas de rádio através da atmosfera; e
• verificar princípios de pressurização usados no satélite.
Finalmente, o satélite construído era uma esfera de 58 centímetros, feito de liga 
de alumínio. O volume interno pressurizado era cheio com nitrogênio a 1,3 atmos-
feras para manter uma fonte eletro-química, dois rádio-transmissores, um sistema 
termo-regulador, um sistema de ventilação, um sistema de comunicações, transmis-
sores de temperatura e pressão. Os rádio-transmissores operavam nas frequências 
de 20,005 e 40,002 megaciclos a comprimentos de onda de 15 metros e 7,5 metros. O 
Equipamentos no interior do Sputnik I.
O Sputnik
26
O Sputnik
sistema de antenas possuía quatro: duas com 
2,4 metros de comprimento cada uma e duas 
de 2,9 metros cada uma. 
Por outro lado, os três primeiros lança-
mentos do foguete Semiorka, que ocorreram 
entre maio e julho de 1957 falharam. Assim, 
Korolev fracassava na sua tentativa de lan-
çar um satélite antes do início do IGY. Nesse 
período, a pressão sobre Korolev aumentou 
tremendamente, a ponto de se cogitar a pos-
sibilidade de cancelar todo o projeto. Toda-
via, na quarta tentativa, em 21 de agosto, o 
lançamento do Semiorka foi bem sucedido. 
Então, Korolev entrou com um pedido de autorização para lançar o satélite assim 
que o Semiorka tivesse sucesso em seu segundo e consecutivo lançamento. Para 
pressionar pela aprovação, Korolev prepôs que o lançamento do primeiro satélite 
artificial da Terra fosse uma questão de prioridade nacional a ser decidida pelo 
Comitê Central do Partido Comunista. A pressão funcionou e o lançamento foi 
autorizado. Em 7 de setembro se concretizou com sucesso, o segundo lançamento 
do Semiorka. 
2.2 – O Lançamento
Inicialmente planejou-se o lançamento do satélite para 17 de setembro, pois 
assim coincidiria com o centésimo aniversário de Tsiolkovsky. Porém, essa data 
estava muito próxima e não daria tempo hábil. Então, baseando-se em tempo ade-
quado para realizar os preparativos, foi definida a data de 6 de outubro como meta 
para o lançamento. Nessa oportunidade também foi definido que um anúncio pú-
blico do lançamento do PS-1 só ocorreria após a primeira órbita ser completada.
Todavia, Korolev estava preocupado. No início de outubro, dentro da pro-
gramação do IGY, estaria ocorrendo uma conferência em Washinghton onde um 
dos trabalhos que a delegação americana apresentaria era intitulado “Satélite so-
bre o Planeta”. Korolev temia que essa apresentação fosse feita para coincidir com 
um possível anúncio de lançamento do satélite dos EUA. Assombrado por esse 
fantasma, Korolev antecipou em dois dias o lançamento de seu satélite. 
Em 3 de outubro, o foguete Semiorka foi transportado para a base de lançamen-
Satélite PS-1, Sputnik
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
27
to em Tyura-Tam (Baikonur, Cazaquistão) e, na manhã seguinte, começou a ser abas-
tecido com combustível. A pressão era imensa, mas Korolev mantinha-se cauteloso. 
Ele dizia aos engenheiros: “Ninguém nos apressará. Ao surgir a menor dúvida,nós 
pararemos o teste e faremos as correções necessárias no satélite. Ainda há tempo ...”. 
Exatamente às 22 horas, 28 minutos e 34 segundos, horário de Moscou, os 
motores foram ligados e os 272.830 quilogramas decolaram da plataforma numa 
explosão de fumaça e luz. Os cinco motores do Semiorka produziram aproximada-
mente 398 toneladas de empuxo no lançamento. Embora os foguetes tenham deco-
lado suavemente, havia problemas. Atrasos nos disparos de vários motores quase 
levaram ao cancelamento da missão. Além disso, 16 segundos após a decolagem, o 
Sistema de Esvaziamento Simultâneo dos Tanques (SOBIS) falhou, aumentando o 
consumo de querosene. Por conta disso, houve falha numa turbina e isto resultou 
no corte do motor principal um segundo antes do momento planejado. Todavia, 
a separação do estágio principal ocorreu 324,5 segundos após a decolagem e foi 
bem sucedido. Assim, os 83,6 quilogramas do PS-1 (que seria chamado de Sputnik) 
voaram em uma trajetória elíptica em queda livre conforme previsto. Deste modo 
entrava em órbita da Terra o primeiro objeto construído pelo homem. 
Após o lançamento, todos correram para a estação rádio móvel para ouvir o 
sinal do satélite. Eles tiveram que esperar algum tempo para que a estação inter-
ceptasse com frequência e claramente o famoso “beep-beep”. Sua órbita era uma 
elipse de perigeu com altitude de aproximadamente 230km, apogeu a aproxima-
damente 950km e período de 96 minutos. O plano da órbita possuía uma inclina-
ção de aproximadamente 65 graus em relação ao equador da Terra.
Foguete Semiorka 
na plataforma de 
lançamento.
Desenho 
mostrando 
a órbita do 
Sputnik ao 
redor da Terra.
O Sputnik
28
O Sputnik
3. Depois
A designação completa do Sputnik em russo era Iskustvenyi Sputnik Zewli, ou companheiro artificial da Terra. Apesar da simplicidade do Sputnik 1, o im-
pacto de seu lançamento ressoou por todo o planeta. Assim, do ponto de vista his-
tórico, o Sputnik além de marcar o início da era espacial, também foi responsável 
pelo início de uma fantástica corrida espacial entre soviéticos e americanos que 
levou o homem à Lua menos de 12 anos após seu lançamento. 
Muitos comentários “maldosos” surgiram após o término da missão, alguns 
diziam que o Sputnik só fazia barulho. O que não era verdade. Foram justamente 
os sinais enviados por ele e recebidos por estações de rastre-
amento de todo o planeta que mostraram a possibilidade de 
acompanhar o movimento de satélites em órbita da Terra. A 
variação daqueles “beep-beep”, ou seja, os sinais ainda reve-
laram importantes características da densidade da ionosfera 
terrestre, por exemplo. 
Não há como negar a importância do Sputnik. Ele não 
representou apenas um marco histórico ou um ponto na cor-
rida espacial entre soviéticos e norte-americanos. Mais do 
que isto, o Sputnik foi a realização de um sonho que acom-
panha o homem, desde o despertar das civilizações mais an-
tigas, como vimos no início deste capítulo. 
3.1 – A Imprensa
Quando Korolev e seus colegas voaram para Moscou no dia seguinte, os 
pilotos do avião disseram-lhes que todas as estações de rádio do mundo esta-
vam transmitindo duas palavras, Rússia e Sputnik. Mas no próprio jornal sovi-
ético, o tradicional PRAVDA, de 5 de outubro, foi publicado um modesto artigo 
informando o lançamento do primeiro satélite artificial da Terra, como sendo o 
resultado de um grande e dedicado esforço dos institutos de pesquisas científicas 
da União Soviética. O artigo era na primeira página, mas sem quaisquer desta-
ques, com um título padrão “Relatório da Agência de Notícias Tass”. Somente 
mais tarde é que o governo soviético se deu conta da grandeza do ocorrido. No 
dia seguinte o jornal estampou em letras garrafais no topo da primeira página 
“PRIMEIRO SATÉLITE ARTIFICIAL DA TERRA” reconhecendo a importância 
Selo soviético 
comemorativo do 
lançamento do 
Sputnik
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
29
do feito. A página foi dedicada quase que inteiramente ao assunto. É interessante 
observar que os nomes dos principais protagonistas eram mantidos em segredo 
e, portanto, sendo impossível entrevistá-los. Todo o mundo parabenizou e teceu 
elogios aos soviéticos. Nos dias subseqüentes, o PRAVDA se deliciou em impri-
mir os elogios dos amigos e adversários.
Um dos principais jornais dos EUA The New York Times recebeu a história 
na tarde de sexta-feira, 4 de outubro. Na manhã seguinte imprimiu uma matéria ex-
tremamente chamativa, com um título de três linhas em letras maiúsculas de mais 
de um centímetro, cobrindo a largura completa da primeira página do jornal (veja 
foto adiante). Outro influente jornal The Manchester Guardian também deu igual 
destaque ao assunto. Alguns dias depois esse mesmo jornal começou a especular 
sobre o que os soviéticos poderiam fazer em seguida. E publicara: “Os Russos agora 
Primeira página do jornal 
New York Times no dia seguinte 
ao lançamento do Sputnik
Reportagem em jornal dos EUA 
informando que diversos rádio 
Amadores haviam captado 
sinais emitidos pelo Sputnik.
O Sputnik
30
O Sputnik
podem construir mísseis balísticos capazes de atingir qualquer alvo escolhido em 
qualquer lugar do mundo”. O jornal francês Le Figaro também reagiu de maneira 
contundente: “Mito se tornou realidade: Gravidade da Terra Conquistada” e rela-
tou “desilusão e amargas reflexões” dos “Americanos, que tinham tido pouca expe-
riência com humilhação no domínio técnico”. Durante as três primeiras semanas do 
seu lançamento pode-se ouvir o “beep” do Sputnik, que completou mais de 1.400 
revoluções ao redor da Terra, antes de se queimar no retorno ao planeta, devido ao 
atrito com a atmosfera, após ter permanecido três meses no espaço.
3.2 – Impacto e Reação
O presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower e outros líderes de sua 
administração parabenizaram os soviéticos, mas tentaram minimizar a importân-
cia do evento. Só não tinham idéia de que o feito geraria uma reação pública tão 
intensa. Alguns historiadores chegaram a afirmar que o lançamento do Sputnik 
teve um efeito “Pearl Harbor” sobre a opinião pública norte-americana. Para o ci-
dadão comum foi um tremendo choque tomar conhecimento de que o início da era 
espacial estava se iniciando pelas mãos dos soviéticos, comunistas, oponentes ... 
Alguns norte-americanos adeptos da “guerra fria” sugeriram que o satélite sobre-
Reportagem do jornal 
Folha da Manhã, 
de 6 de outubro de 
1957, informando 
que pesquisadores 
ligados ao 
Observatório de 
São Paulo haviam 
captado sinais 
emitidos pelo Sputnik.
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
31
voava os EUA coletando informações de possíveis alvos para os mísseis balísticos 
soviéticos. O que não era o caso mesmo. 
O fenômeno Sputnik gerou insegurança e a ilusão de que havia um enorme 
distanciamento tecnológico entre os EUA e a URSS. Os soviéticos não haviam 
apenas lançado o primeiro satélite artificial da Terra. O Sputnik era mais de 50 
vezes mais pesado do que o primeiro satélite que os norte-americanos pretendiam 
lançar dentro do projeto Vanguard. 
A polêmica se instalou, gerando uma crise, onde muitas pessoas acusaram a 
administração Eisenhower de permitir à União Soviética vencer os Estados Unidos 
da América. Isto fez com que se reforçasse o conceito popular de que Eisenhower 
era “um risonho incompetente”. O líder da maioria no senado Lyndon B. Johnson 
percebeu que algo deveria ser feito sobre a crise do Sputnik. Então, ele ordenou 
que uma subcomissão do Senado fizesse uma revisão sobre os programas espacial 
e de defesa norte-americanos. Um dos auxiliares de Johnson, George Reedy, suma-
rizou o sentimento de muitos dos norte-americanos: “o simples fato é que nós não 
podemos mais considerar os russos como estando atrás de nós em termos de tec-
nologia. Eles levaram quatro anos para nos alcançar com a bomba atômica e nove 
meses para nos alcançar com a bomba de hidrogênio. Agora nós estamos tentando 
alcançá-los com o satélite deles.”
Na tentativade reagir às críticas de imobilidade, a Casa Branca anunciou que 
os EUA fariam um teste de lançamento do Projeto Vanguard em 6 de dezembro 
de 1957. Na esperança de recuperar a confiança do público em geral, toda a mídia 
foi convidada a testemunhar o lançamento. Porém, o resultado foi catastrófico. 
Durante o estágio de ignição, o foguete subiu aproximadamente um metro acima 
da plataforma e logo em seguida, se desintegrou em chamas. 
Com o fracasso do Projeto Vanguard, as Forças Armadas norte-americanas se 
voltaram para o Projeto Explorer. Esse projeto era da mesma equipe que havia sido 
preterida no processo de seleção para o lançamento do satélite norte-americano no 
Ano Geofísico Internacional, coordenado pelo carismático Vernher von Braun e sua 
equipe de engenheiros alemães que havia imigrado para os EUA ao final da Segunda 
Guerra Mundial. Apesar do curto intervalo de tempo disponível, o Projeto Explorer 
foi um sucesso. Após dois lançamentos abortados, o foguete Juno I, carregando o 
satélite Explorer I, decolou de Cabo Canaveral, Flórida, às 22:55h de 31 de janeiro de 
1958. O satélite continha um contador Geiger para medir a radiação ao redor da Terra, 
um equipamento construído pelo físico James Van Allen. Os dados obtidos por este 
instrumento verificaram a existência do campo magnético da Terra e descobriram o 
O Sputnik
32
O Sputnik
que passou a se chamar “Cinturão de Radiação de Van Allen”. Na tarde de primeiro 
de fevereiro de 1958, ocorreu uma coletiva de imprensa na Academia Nacional de 
Ciências, onde von Braun, Van Allen e diretor do Laboratório de Propulsão a Jato (Jet 
Propulsion Laboratory – JPL) eWilliam Pickering, anunciaram o sucesso da missão.
3.3 Criação da NASA
Logo nos primeiros meses da crise gerada pelo lançamento do Sputnik a ad-
ministração federal trabalhou com líderes do congresso para rascunhar uma legis-
lação criando uma agência federal dedicada a explorar o espaço. Depois de diversas 
propostas recusadas, vingou aquela para criar uma nova agência espacial civil alo-
cando todos os esforços não-militares relativos à exploração espacial. Assim surgiu 
a NASA - National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacio-
nal de Aeronáutica e Espaço). A nova organização começou a funcionar em primei-
ro de outubro de 1958, menos de um ano após o lançamento do Sputnik.
A NASA é a agência norte-americana que cuida do desenvolvimento das 
atividades espaciais. Ela foi criada em 29 de julho de 1958. Os norte-americanos, 
que até então achavam que a URSS era um país essencialmente agrícola e ainda 
destruído pela guerra, ficaram surpresos com os sucessos dos primeiros satélites 
da família Sputnik em 1957. Logo os EUA perceberam que teriam de aumentar e 
organizar seus esforços caso quisessem se im-
por às conquistas da URSS no espaço. Foi justa-
mente dessa crise desencadeada pelo Sputnik, 
que surgiu a NASA.
O embrião da NASA foi outra agência cujo 
nome era NACA (National Advisory Committee 
for Aeronautics) que, na ocasião, possuía cerca de 
8000 funcionários e um orçamento anual de 100 
milhões de dólares. Do ponto de vista estrutural, 
três laboratórios (Langlay, principal laboratório 
de pesquisas Aeronáuticas, Laboratório Aero-
náutico AMES e o Laboratório de Propulsão de 
Vôo Lewis) e duas pequenas instalações de tes-
tes compuseram o núcleo da nova agência. Seu 
primeiro administrador foi Thomas Keith Glen-
nan (1905-1995) que, em pouco tempo incorpo-
Thomas Keith Glennan 
(1905 - 1995) – primeiro 
presidente da NASA.
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
33
rou à NASA várias organizações envolvidas em projetos de exploração espacial e 
outras agências federais a fim de centralizar sob um comando único as atividades 
de exploração espacial. Assim, ainda em dezembro de 1958, Glennan trouxe para o 
controle da NASA o Laboratório de Propulsão à Jato - JPL. Em 1958, Wernher von 
Braun e sua equipe de engenheiros e cientistas alemães foram também transferidos 
para NASA. Glennan ainda conseguiu a administração de parte do Laboratório de 
Pesquisa Naval e criou o Centro de Vôo Espacial Goddard. E em 1960, Glennan 
obteve a transferência para a NASA do ABMA situado a Huntsville, Alabama, e 
renomeou-o de Centro de Vôo Espacial Marshall. Ele incorporou outros programas 
de satélite, duas sondas lunares, e o esforço de pesquisa para desenvolver um fo-
guete com um milhão de libras força (4,4 MN) de câmara-única para a Força Aérea 
e o Departamento de Defesa norte-americano.
3.4 – Missões Sputnik
Menos de um mês após o lançamento do primeiro Sputnik, e com ele ainda 
em órbita, a URSS lançou o Sputnik 2. Segundo relato do cosmonauta Grechko, logo 
após o lançamento do Sputnik 1, Korolev foi ao Kremlin onde Nikita Khrushchev, 
lider soviético, teria lhe dito “Nós nunca pensamos que você lançaria um Sputnik 
antes dos americanos. Mas você conseguiu. Agora, por favor, lance algo novo no 
espaço para o próximo aniversário da nossa revolução.” Korolev cumpriu a deter-
minação. Em 4 de novembro de 1957 lançou o Sputnik 2, de 508kg e que levou o pri-
meiro ser vivo ao espaço: uma pequena cadela, Laika, recolhida das ruas de Moscou. 
A princípio os técnicos soviéticos disseram que a intenção era resgatar a cadela com 
vida e que isso não havia acontecido, porquê o módulo no qual ela se encontrava 
não se desprendeu do restante do foguete como previsto. Mas, na verdade, o módu-
lo não tinha sido projetado para isso, e Laika morreu devido ao superaquecimento 
do módulo que ocupava, após sobreviver por 10 dias em órbita. Essa informação só 
foi divulgada depois do fim da URSS. Após ser colocada na posição de confinamen-
to, dentro do módulo dotado de ar condicionado e alimentos, inúmeros sensores 
foram acoplados ao seu corpo e ligados a rádios que transmitiram, através de sinais, 
a pulsação e a taxa de respiração. O Sputnik 2 se desintegrou na atmosfera em 14 de 
abril de 1958, mas mostrou que um organismo vivo poderia sobreviver no espaço. 
O Sputnik 3 foi o primeiro satélite soviético verdadeiramente científico e ti-
nha 1327kg. Foi posto em órbita em 15 de maio de 1958 e confirmou a existência do 
cinturão de Van Allen, descoberto pelo primeiro satélite norte-americano em 31 de 
O Sputnik
34
O Sputnik
janeiro de 1958, o Explorer 1, de apenas 14kg. O Sputnik 3 reentrou na atmosfera 
em abril de 1960.
O Sputnik 4 voou em 15 de maio de 1960 e foi o primeiro de uma série de vôos 
testes não tripulados do foguete lançador de espaçonaves derivado do Semiorka, 
o Vostok. O Sputnik 5 foi lançado em 19 de agosto de 1960 e foi o segundo vôo 
teste do novo foguete Vostok. Dessa vez, foram enviados dois cães, Belka e Strelka, 
recuperados numa cápsula no dia seguinte, depois de 18 voltas ao redor da Terra. 
O Sputnik 6 foi o terceiro vôo teste do Vostok, lançado em 1 de dezembro de 1960 
com outros dois cães, Ptsyolka e Mushka. Efetuaram 17 voltas ao redor da Terra 
e morreram em virtude de uma falha que levou à reentrada em um ângulo incor-
reto. O Sputnik 7 lançado em 4 de fevereiro de 1961 deveria ser a primeira sonda 
interplanetária da história enviada a Vênus, mas houve falha no lançamento. Logo 
em seguida, foi o Sputnik 8, em 12 de fevereiro de 1961, desta vez, com a sonda 
Reportagem de jornal dos EUA mostrando 
um cão “tentando fazer contato de rádio” 
com a Laika, do Sputnik 2.
Laika confinada 
do Sputnik 2.
OthOn CabO Winter e CriStianO FiOrilO de MelO
35
Venera 1 com 644kg que, depois de colocada em órbita da Terra, foi lançada em 
direção a Vênus passando a cerca de 100.000km do planeta. Porém, uma falha nos 
transmissores interrompeu a comunicação com a Terra quando ela estava a cerca 
de 5 milhões de quilômetros. Lançado em março de 1961, o Sputnik 9 levou a ca-
dela Chernushka ao espaço. Ela foi recuperada com vida após uma volta ao redor 
da Terra. O último satélite com a designação Sputnik foi o número 10, lançado em 
25 de março de 1961, em outro vôo teste do Vostok e levou a cadela Zvezdochka, 
igualmenterecuperada com vida após duas voltas ao redor da Terra. 
Após o Sputnik 10, as naves soviéticas passaram a receber outras denomina-
ções, dependo do projeto ao qual elas pertenciam.
3.5 – Reforma Educacional da Era Sputnik
A crise gerada pelo Sputnik nos EUA tinha a peculiaridade de questionar 
a supremacia norte-americana no campo científico-tecnológico. Então, natural-
mente, o sistema educacional também foi apontado como responsável por essa 
“tragédia”.
Em meados da década de 50 várias organizações norte-americanas, como o 
Conselho Nacional de Pesquisa (National Research Council – NRC), a Fundação 
Nacional de Ciência (National Science Foundation – NSF) e outras organizações 
profissionais de Ciências e Matemática, patrocinaram encontros e conferências 
para discutir maneiras de revisar os currículos dessas matérias. Uma das princi-
pais críticas era que os conteúdos de Ciências e Matemática eram fragmentados 
e apresentados como pedaços de informação a serem memorizados ou ainda ha-
bilidades computacionais a serem dominadas, sem desenvolver qualquer senso 
de relacionamento entre idéias mais amplas. Não era dada a devida atenção ao 
desenvolvimento histórico do assunto. Outra questão considerada problemática 
era que as conexões feitas entre os princípios científicos e as aplicações tecnoló-
gicas e sociais eram tidas como triviais e vistas como algo que diminuía a quali-
dade intelectual dos cursos.
Em 1957, na época em que o Sputnik foi lançado, os EUA estariam prepa-
rados para o tipo de reforma educacional que muitos cientistas e matemáticos 
haviam recomendado. A crise iniciada pelo Sputnik foi a grande motivação para 
as reformas que vieram, e mesmo para aquelas que já haviam se iniciado antes de 
1957. No caso das ciências, a reforma havia se iniciado em 1956 com o programa de 
Física conhecido como PSSC – Physical Science Study Committee. Analogamente, 
O Sputnik
36
O Sputnik
vieram os programas de Química, Chemical Education Materials Study – Chem 
Study, de Biologia, Biological Sciences Curriculum Study – BSCS, de ciências da 
Terra, Earth Sciences Curriculum Project – ESCP. Também havia programas de 
Ciência para a escola elementar (ensino fundamental). Concomitantemente, fo-
ram desenvolvidos programas voltados para a Educação Matemática, como, por 
exemplo, o University of Illinois Committee on School Mathematics – UICSM, e o 
Greater Cleveland Mathematics – GCM.
Uma característica geral nesses programas foi o uso da abordagem de ativida-
de-orientada na Educação Científica. A ênfase em Ciência e Matemática aplicadas ao 
dia-a-dia ou a problemas tecnológicos foi considerada a maior mudança na aborda-
gem das disciplinas ocorrida no movimento de reforma educacional da era Sputnik.
CAPÍTULO 2 
A era espacial
Cristiano Fiorilo de Melo e othon Cabo Winter
Neste capítulo procuraremos apresentar, numa sequência cronológica, as 
várias etapas da evolução da conquista do espaço. Inicialmente, a motivação 
principal foi a corrida espacial entre as duas principais potências mundiais, EUA 
e URSS. Logo em seguida, veio o interesse comercial, com satélites para uso nas 
telecomunicações. Em seguida, sondas de grande porte foram utilizadas na ex-
ploração científica do Sistema Solar. Simultaneamente, ocorreram as propostas 
de estações espaciais, como laboratórios orbitais de longa duração. Ao longo dos 
anos, apenas alguns poucos países conseguiram entrar no seleto grupo dos que 
constroem e/ou lançam seus próprios satélites. Devido à relevância dos temas, 
os capítulos 3, 7 e 9 serão dedicados especificamente à ida do homem à Lua, às 
sondas espaciais e às estações espaciais, respectivamente. 
1. O início da exploração espacial
Logo após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América surgiram como maior potência do planeta e a então União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas, URSS, como sua rival. A disputa política, diplomática e militar entre 
ambos, chamada de guerra fria impulsionou o desenvolvimento científico e tec-
nológico de maneira jamais vista. Rapidamente, essa corrida generalizou-se para 
outras áreas, inclusive na exploração do espaço.
A erA espAciAl
38
Como vimos no capítulo anterior, o Sputnik foi o marco da exploração do 
espaço pelo homem e o primeiro de uma família de 10 satélites. Por outro lado, seu 
lançamento também foi o episódio inicial de uma incrível competição por méritos 
e descobertas relativas ao espaço travada pela União Soviética e os Estados Unidos 
ao longo de mais de três décadas.
Neste capítulo, mostraremos alguns dos fatos históricos por trás desta “cor-
rida” espacial e o seu desfecho atual em que a cooperação uniu essas duas nações, 
e muitas outras, no principal empreendimento da exploração espacial da atualida-
de – a Estação Espacial Internacional. 
2. Explorer 1
Após o lançamento dos Sputniks 1 e 2, este último com a cadela Laika, os Es-tados Unidos começaram uma grande reação. Já no dia seguinte ao lança-
mento do Sputnik 1, Wernher von Braun (que trabalhava na América desde 1945) 
prometia o lançamento do primeiro satélite artificial norte-americano, o Explorer 
1, dentro de 90 dias. O Foguete utilizado seria o Juno I cujo projeto era coordenado 
pelo próprio von Braun. O apogeu desta reação foi a criação da NASA em 29 de 
julho de 1958, através do “National Aeronautics and Space Act of 1958”.
O Explorer 1 foi lançado em 31 de Janeiro de 1958. Oficialmente, seu nome 
era Satellite 1958 Alpha. Foi projetado e construído pelo Laboratório de Propulsão 
a Jato (JPL) do Instituto de Tecnologia da Califórnia sob direção do Dr. William H. 
Pickering. Os instrumentos do Explorer foram projetados e construídos pelo físico 
Dr. James Van Allen da Universidade do Estado de Iowa e foi o primeiro de um 
Da esquerda para direita, 
William H. Pickering, James 
A. Van Allen e Wernher von 
Braun seguram um modelo 
do Explorer 1.
Explorer 1, destacando-se 
suas 4 antenas de fibra 
de vidro. JPL
/N
A
SA
JP
L/
N
A
SA
cristiAno Fiorilo de Melo e othon cAbo Winter
39
longo programa de satélites que se estendeu por mais de quatro décadas.
Mas o sucesso do Explorer 1 foi precedido por um fracasso em 6 de dezem-
bro de 1957, quando o foguete Juno I explodiu dois segundos após a ignição. 
O Explorer 1 carregava um contador Geiger cuja finalidade era medir a inten-
sidade dos raios cósmicos. Quando o satélite atingia órbitas com altitudes da ordem 
de 1000km, os contadores paravam de funcionar e só voltavam a altitudes menores. 
Estudando as variações dos sinais emitidos pelo Explorer 1, Van Allen e sua equipe 
descobriram os cinturões de radiação que envolvem a Terra, os quais receberam seu 
nome e passaram a ser chamados de Cinturões de Van Allen. 
Esses cinturões correspondem a camadas de partículas carregadas, prótons 
e elétrons, localizadas a cerca de 3000 quilômetros da superfície da Terra, entre 30º 
de latitude norte e 30º de latitude Sul. As partículas mantêm-se em órbita pela ação 
do campo magnético da Terra. Entre 10000 e 20000 quilômetros da superfície da 
Terra existe outra camada de partículas carregadas, predominantemente elétrons, 
e é bem mais larga que a primeira. A energia dessas partículas pode variar consi-
deravelmente, dependendo das emissões de fluxos de plasma do Sol, as chamadas 
tempestades magnéticas.
Também havia no Explorer 1 um sensor de temperatura interna, três sensores 
de temperatura externa, um sensor de temperatura de nariz-cone, um microfone 
de impacto de micrometeoritos, e um anel de medidas de erosão de micrometeori-
tos. Foram transmitidos dados destes instrumentos para a Terra por 4 antenas de 
Explosão do foguete Juno I em 6 de dezembro de 1957 
em Cabo Canaveral, dois segundos após a ignição
JP
L/
N
A
SA
Esquema dos Cinturões 
de Van Allen Wik
iP
éd
iA
/m
o
d
if
ic
A
d
o
A erA espAciAl
40
fibra de vidro, operando em 108MHz.
Os Satélites Explorer 3 e 4, também 
lançados durante o ano de 1958, contri-
buíram para a constatação da existência 
do Cinturãode Van Allen, assim como a 
sonda norte-americana Pioneer 3 (lança-
da em 6 de dezembro de 1958), o Sputnik 
3 e a Lunik 1 (lançados em maio de 1958 
e janeiro de 1959, respectivamente), estes 
dois últimos soviéticos.
Do ponto de vista científico e do 
planejamento de uma missão espacial, o 
Explorer 1 obteve resultados muito mais 
expressivos do que os primeiros satélites 
do programa Spunik. O Explorer 1 deixou 
de enviar dados em 23 de maio de 1958, 
mas permaneceu em órbita por mais 12 
anos, até reentrar na atmosfera em 31 de 
março de 1970 e cair sobre o Oceano Pací-
fico. Como dissemos anteriormente, o Explorer 1 foi o primeiro de um longo pro-
grama de satélites norte-americanos, e até o ano de 2004 foram lançados outros 83.
N
A
SA
Foguete Juno I, projetado por von Brawn em 1956 
e construído pela então Agência de Mísseis Balísticos 
do Exército dos Estados Unidos (ABMA) com objetivo 
de transportar bombas nucleares. 
Dados: 
Comprimento: 21,2 metros 
diâmetro: 1,7 metros 
massa: 29060 kg. 
Podia levar cargas úteis de até 
11 kg a baixas altitudes.
Dados sobre o 
Explorer I e sua missão
Agência organizadora: Army 
Ballistic Missile Agency, ABmA.
Construtor: Jet Propulsion 
Laboratory, JPL.
Lançamento: 31 de janeiro de 
1958.
Veículo lançador: Juno i.
Tempo de missão: 111 dias.
Forma e comprimento: cilíndrica, 
97cm.
Massa: 13,97 kg.
Altitude do apogeu: 2550 km.
Altitude do perigeu: 358 km.
Semi-eixo maior: 7832,2 km.
Excentricidade: 0,139849.
Inclinação: 33,24º.
Período orbital: 114,8 min.
Número de órbitas: 56000.
cristiAno Fiorilo de Melo e othon cAbo Winter
41
3. As primeiras missões para a Lua
3.1. Thor-ABLE 1, Agosto de 1958
É certo que os primeiros passos da exploração espacial das décadas de 
1950 e 1960 foram dados em meio à guerra fria entre EUA e URSS. Mas o fascí-
nio do homem pela Lua sempre foi muito grande. Por isso, menos de um ano 
após o lançamento do Sputnik, foi organizada a primeira missão de uma sonda 
lunar, a Thor-Able 1, também conhecida como Pioneer 0. A Able 1 foi lançada 
em 17 de agosto de 1958 e o sucesso dessa missão poderia ser uma resposta dos 
EUA aos Sputniks, mas uma falha no sistema de fornecimento de combustível 
aos motores do foguete encarregado de levar a Able 1 causou sua explosão 77 
segundos após o lançamento, a 16 quilômetros de altitude. Seus destroços caí-
ram sobre o Atlântico. 
A Able 1 levava uma câmera de TV que operava na faixa do infravermelho e 
outros instrumentos de rádio e telemetria além de uma antena de transmissão. A 
missão havia sido planejada para chegar à Lua em uma órbita hiperbólica em 2,6 
dias. Ao atingir as cercanias da Lua, a Able 1 seria colocada em uma órbita lunar 
de 29000km por, pelo menos, duas semanas. Sem dúvida, se isso tivesse ocorrido, 
os norte-americanos teriam impressionado. Mas não deu certo. 
O projeto foi um esforço feito pelos EUA para tomar a frente na corrida es-
pacial com a URSS e também em comemoração ao 1º Ano Geofísico Internacional 
que aconteceu em 1957-1958. 
A nave era basicamente um cilindro de 74cm de diâmetro e 76cm de altura 
com cones presos em suas laterais, e um cone para expelir gases produzidos por 
um pequeno foguete. A nave carregava 11 kg de combustível sólido em um tanque 
interno e baterias de níquel e cádmio para acionar os foguetes. 
3.2. Lunik 1
Mais uma vez, a URSS causou espanto aos norte-americanos, e ao mundo, 
ao laçar a Lunik 1, a primeira sonda lunar, em 2 de janeiro de 1959. A sonda 
tinha uma forma esférica, sua massa era de 361,3 kg e seu diâmetro de 60 centí-
metros. Presas a um dos hemisférios da Lunik havia cinco antenas de transmis-
são e por toda esfera sobressaíam instrumentos científicos em constado direto 
com espaço.
Após o lançamento, a sonda entrou em órbita da Terra ainda acoplada ao ter-
A erA espAciAl
42
ceiro estágio do foguete Semiorka cujo diâme-
tro era de 2,4 metros e o comprimento de 5,2 
metros. Como a Lunik não possuía motores, 
portanto, o impulso necessário para colocá-la 
na trajetória lunar foi dado pelo terceiro está-
gio. Quando o foguete foi acionado, ainda no 
dia 2 de janeiro, a Lunik 1 se tornou o primeiro 
engenho humano a atingir a velocidade de es-
cape da Terra. O objetivo da Lunik 1 era colidir 
com a Lua, mas um pequeno atraso na ignição 
do foguete fez com que ela “errasse” o alvo e 
passasse a 5995 quilômetros da superfície lu-
nar. Todavia, ela forneceu importantes infor-
mações sobre o meio entre a Terra e a Lua.
A nave se separou do foguete logo após 
a ignição, quando ela já se encontrava em uma 
trajetória hiperbólica em direção à Lua. Ao 
atingir a distância de cerca de 113000km da 
Terra, no dia 3 de janeiro, ela liberou 1 kg de um gás laranja. Esta emissão deixou 
um rastro muito tênue, praticamente invisível a olho nu, mas que pode ser visto 
ao longo de todo Oceano Índico com auxílio de instrumentos. Isso permitiu aos 
técnicos soviéticos acompanharem a trajetória da Lunik 1 por algum tempo, ob-
servar o comportamento de uma emissão de gás no vácuo e, é claro, mostrar aos 
americanos que a URSS seria a primeira a atingir a Lua. 
A passagem pela Lua ocorreu cerca de 34 horas depois do lançamento. Logo 
após, a Lunik 1 entrou em órbita do Sol cujo período estimado é da ordem de 453 
dias, periélio de 146,4 milhões quilômetros, afélio de 197,7 milhões de quilôme-
tros e inclinação de 0,01º em relação à eclíptica. Dessa forma, a Lunik 1 também 
se tornou, além do primeiro artefato humano a escapar da gravidade terrestre, o 
primeiro planeta artificial do Sol, recebendo o nome de Meichtcha.
3.3. Lunik 2
Lançada em 12 de setembro de 1959 e ejetada em direção à Lua em uma 
trajetória hiperbólica, foi o primeiro engenho a atingir a superfície Lunar no dia 
seguinte a oeste da cratera de Autolycus (1ºW e 30ºN) com uma velocidade de 
Lunik 1 – Primeiro engenho 
humano a atingir a velocidade 
de escape da Terra, a passar nas 
cercanias da Lua e a escapar da 
gravidade terrestre, tornando-se o 
primeiro planeta artificial, aliás, 
em órbita do Sol até hoje, mais 
exatamente entre a Terra e Marte.
N
A
SA
cristiAno Fiorilo de Melo e othon cAbo Winter
43
aproximadamente 3,3 km/s. A Lunik 2 era idêntica à Lunik 1 com forma esférica e 
diâmetro de 60 centímetros, mas com uma massa maior, de 390kg. 
3.4. Lunik 3
Lançada em 4 de outubro de 1959, dois anos após o Sputnik, a Lunik 3 so-
brevoou a Lua a uma altitude de 6200 quilômetros, no dia 6 de outubro. No dia 
seguinte, ela tirou cerca de 30 fotografias da face oculta da Lua a distâncias entre 
65200 e 68400 quilômetros. Essas fotos foram divulgadas em 17 de outubro. Após 
essa aproximação, a Lunik 3 entrou em órbita da Terra com apogeu de 470000 qui-
lômetros e perigeu de 40000 quilômetros. 
 
4. Anos 60 e 70, a grande corrida
4.1. O primeiro homem no espaço – Yuri Gagarin
Os primeiros satélites (alguns com cães) e as primeiras sondas lunares já 
haviam mostrado que o espaço poderia ser conquistado pelos engenhos humanos. 
Só, faltava sacramentar a era espacial com o envio de um ser humano. Mais uma 
vez, os Soviéticos saíram na frente.
Em Janeiro de 1961, a força aérea soviética selecionou 20 pilotos para o pri-
meiro vôo espacial com um ser humano. Em 11 de abril de 1961, dois deles esta-
vam prontos para decolar a bordo da Vostok 1. Yuri Alekseyevish Gagarin e Ger-
man Stepanovich Titov. O próprio Serguei Korolev foi o encarregado de anunciar 
a decisão.
Lunik 3
Fotografia da face 
oculta da Lua tirada 
pela Lunik 3
N
A
SA
Após a Lunik 3, a Lua só voltou 
a receber a visita de outra sonda 
em abril de 1962, a Ranger 4. 
A continuação da exploração da 
Lua merece uma seção à parte.
A erA espAciAl
44
Gagarin foi escolhido pela sua habilidade como piloto, excelente desempe-
nho nos treinamentos e biotipo adequado para a missão, já que tinha 1,58 metros 
de altura e 69 kg. Gagarin tinha apenas 27 anos e uma carreira vertiginosa, além 
disso, era de origem humilde, filho de camponeses, e nasceu em uma fazenda co-
letiva.Antes de se tornar piloto, foi metalúrgico. Portanto, a trajetória de Gagarin 
representava, acima de tudo, o ideal comunista da época. Seu companheiro, Titov, 
por outro lado, embora possuísse todas as qualidades técnicas era oriundo da clas-
se média russa. 
O foguete utilizado foi o Vostok (uma evolução do Semiorka, utilizado para 
colocar os primeiros satélites e sondas em órbita) e a nave que entrou em órbita 
tinha o mesmo nome. 
A nave na qual Yuri Gagarin permaneceu durante os 108min da missão ti-
nha um comprimento de 4,4 metros, diâmetro de 2,4 metros, e massa de 4.730 
kg. Era formada por dois módulos: a cápsula de reentrada (onde ficou Gagarin) 
e o módulo de equipamentos com instrumentos, antenas, tanques de oxigênio e 
nitrogênio para suporte a vida e combustível para os retrofoguetes, que também 
ficavam nesse módulo e usavam, óxido nitroso como propelente. A nave possuía 
lastros internos em apenas um dos lados, o que garantia o posicionamento correto 
durante a reentrada, já que ela não era manobrável. Havia acomodação apenas 
para um ocupante em traje pressurizado em um assento ejetável. A nave também 
possuía duas janelas, uma sobre a cabeça do Gagarin e outra bem próxima do vi-
sor de seu capacete (foi desta janela que proferiu a famosa frase, “a Terra é azul”), 
perto dos seus pés havia um visor ótico (dispositivo de orientação). A orientação 
da nave (atitude) era obtida por meio de jatos de gás frio. A Vostok, deste primeiro 
Yuri Gagarin: 
foto oficialWik
iP
ed
iA
Minutos antes 
da decolagem
N
A
SA
cristiAno Fiorilo de Melo e othon cAbo Winter
45
vôo tripulado, não tinha sistemas de orientação por giroscópios, mas apenas um 
sistema primitivo, semelhante ao de um relógio, que indicava a posição da nave 
sobre o globo terrestre. A nave possuía um pára-quedas para descida após a reen-
trada, embora o cosmonauta tivesse o seu próprio. 
Gagarin ejetou após a reentrada a 8000 metros de altitude e desceu usando 
um pára-quedas, como planejado, embora este fato tenha sido negado durante 
anos pela URSS devido ao medo que o vôo não fosse reconhecido pelas entidades 
internacionais, já que Gagarin não acompanhou sua espaçonave até o solo.
O foguete começou a subir às 8 horas e 57 minutos (hora de Moscou) do 
dia 12 de abril de 1961; uma hora depois, a Vostok passou sobre a América e às 
10 horas e 32 minutos o módulo habitável se separou do restante da nave (nesse 
instante, a temperatura externa do módulo era de 1000º Celsius).
Após o vôo histórico, Gagarin se tornou herói soviético e viajou por todo o 
mundo visitando 27 países como símbolo da capacidade tecnológica do regime 
socialista. Em agosto de 1961, Gagarin esteve no Brasil e foi condecorado com a 
Esquema da Nave Vostok. No canto direito é apresentada uma comparação de tamanho 
entre ela e a nave Mercury norte-americana.
A erA espAciAl
46
ordem do Cruzeiro do Sul pelo Presidente Jânio Quadro. Ao chegar em Brasília, 
Gagarin disse: “Parece que estou chegando em outro planeta”, dada a beleza e mo-
dernidade da cidade para aquela época.
 Também Gagarin acabou tendo problemas com a fama e o alcoolismo; 
chegou a se envolver em um acidente de automóvel em 1961, ao lado de uma en-
fermeira, sua amante. Entre 1962 e 1967, Gagarin ocupou o cargo de Deputado no 
Soviete Supremo. Em 1968, voltou a trabalhar no programa espacial na chamada 
cidade das Estrelas (Zniozdniy Gorodok, próximo de Moscou) no projeto de novas 
naves espaciais. Em 27 de março de 1968, Gagarin fazia um vôo de re-qualifica-
ção em um MIG-15. O avião caiu 13 minutos após a decolagem causando sua 
morte; as causas exatas da queda não foram determinadas até hoje.
4.2. O primeiro Americano no espaço
Estarrecidos com o sucesso soviético, os norte-americanos não tardaram a 
enviar um homem ao espaço. O escolhido foi Alan Bartlett Shepard Jr. (1923-1998). 
Dez anos mais tarde, Shepard comandou a nave Apollo 14 na quarta missão tripu-
lada para a Lua.
 O vôo sub orbital de 15 minutos aconteceu em 05 de maio de 1961 a bordo 
da Freedom 7 do projeto Mercury. O foguete responsável por colocar a Freedom 7 
em órbita, foi o Redstone, um projeto da equipe de von Braun.
Presidente Jânio Quadros condecorando Gagarin com a 
Medalha de Honra do Cruzeiro do Sul, em agosto de 1961
A
eB
Alan Shepard com a Freedom 7 ao fundo, 
após o pouso sobre o mar
N
A
SA
cristiAno Fiorilo de Melo e othon cAbo Winter
47
4.3. Titov e um verdadeiro vôo espacial
Ainda em 1961, no dia 7 de agosto, Titov se tornou o segundo soviético e o 
terceiro homem no espaço. Ele tinha apenas 26 anos e, até hoje, é o homem mais 
jovem a ter viajado ao espaço. 
Essa missão bateu o recorde de permanência no espaço e Titov chegou a 
sentir enjôo. A nave Vostok 2 estava equipada com equipamento de suporte à 
vida, rádio e televisão para monitorar as condições do cosmonauta, gravador de 
fita magnética, sistema de telemetria, equipamentos biológicos e equipamentos de 
controle manual e automático. A missão executou 17,5 órbitas ao redor da Terra e, 
assim como Gagarin, Titov desceu usando seu próprio pára-quedas. A missão in-
vestigou os efeitos da falta de gravidade por longo tempo no organismo humano, 
e a habilidade do homem de trabalhar na ausência de gravidade.
Talvez este sim deveria ser considerado o primeiro vôo espacial de verda-
de, já que Titov executou várias órbitas ao redor da Terra e, diferente de Gagarin, 
assumiu o controle da Vostok 2. Como vimos, a Vostok 1 tripulada por Gagarin 
não era manobrável, nem controlada da Terra, lastros internos colocados em ape-
nas um dos lados do módulo de serviço garantiram o ângulo correto durante a 
reentrada na atmosfera. Após este vôo, ele continuou trabalhando no programa 
espacial Soviético até 1992 e ao longo de sua carreira recebeu inúmeras honrarias 
dentro e fora dos limites da antiga União Soviética. Uma cratera lunar, localizada 
German 
Stepanovich 
Titov, 
1935-1990
N
A
SA
O foguete Redstone decola, levando 
o astronauta Alan Shepard a bordo da 
cápsula espacial Freedom 7
N
A
SA
eS
A
A erA espAciAl
48
do lado oposto da Lua a 28ºN e 151ºE leva seu nome. 
Titov morreu aos 65 anos em Moscou, vítima de proble-
mas cardíacos. 
4.4. A primeira mulher no Espaço
Valentina Vladimirovna Tereshkova foi a primeira 
mulher no espaço. Ela nasceu em 06 de março de 1937 
na cidade de Yaroslavl (atual Rússia). Aos 18 anos, Va-
lentina era operária de uma fábrica têxtil, e com essa 
mesma idade começou a praticar pára-quedismo de 
forma amadora. Em 1961, o comando do programa es-
pacial Soviético, especialmente Korolev, decidiu enviar 
uma mulher ao espaço o mais rápido possível e, assim, 
superar mais uma vez, os norte-americanos na então 
corrida espacial entre estas duas nações. Em fevereiro de 1962, ela foi admitida 
para treinamento, principalmente, por sua experiência como pára-quedista, mas 
também a seu favor, influiu o fato de seu pai, o sargento Vladimir Tereshkova ter 
morrido como herói em combate durante a guerra paralela travada entre a União 
Soviética e a Finlândia durante a Segunda Guerra Mundial. Assim, em 16 de junho 
de 1963, ela subiu ao espaço e pilotou a nave Vostok 6, permanecendo em órbita 
por 2 dias, 22 horas e 50 minutos.
Valentina recebeu várias condecorações da União Soviética, foi presidente do 
comitê das mulheres soviéticas, assim como Gagarin, tornou-se membro do Soviet 
Supremo e do Presidium, um grupo especial dentro do governo soviético. Valentina 
foi eleita a mulher do Século XX em 2001. Atualmente, ela vive em Moscou. 
Valentina em visita 
à Finlândia 2002.
No traje de vôo Wik
eP
éd
iA
W
ik
eP
éd
iA
Selo comemorativo em 
homenagem à primeira 
mulher no espaço
W
ik
eP
éd
iA
cristiAno Fiorilo de Melo e othon cAbo Winter
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No mesmo mês, outra nave, a Vostok 5, conduzida por Valery Bykovsky, 
bateu o recorde de resistência no espaço, quando completou uma missão de 5 dias 
em órbita. Tanto a Vostok 6 de Valentina quanto a Vostok 5 de Bykovsky voltaram 
à Terra

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