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escolares refere-se a problemas vividos pelas crianças no processo de aprendizagem. Grande parte das crianças encontra-se, no momento do encaminhamento, no início do processo de alfabetização. Portanto, as dificuldades de adaptação são normais. Porém, tais fatos são ignorados pelos educadores que avaliam o desempenho dos alunos diante de um novo ambiente e de novas práticas pedagógicas, como indisciplina ou problema de aprendizagem. Ainda segundo Sousa (1997, p. 18), [...] dentro da lógica da “pedagogia da repetência” acredita-se que um aluno ao repetir terá a oportunidade de “refazer”, de “reparar” aquilo que não sabe ou que não estudou convenientemente. As análises estatísticas mostram, porém, uma outra face desse processo; uma criança repetente tem a metade das chances de ser aprovada no ano seguinte, quando comparada a uma criança ingressante nessa mesma série. Ao invés da repetência permitir que o aluno “refaça” seu aprendizado, via de regra, cria espaço para a sua estigmatização, marcando-o como diferente ou deficiente em relação aos demais. Dessa forma, a criança repetente é vista como inferior em relação às que estão iniciando a série. Verificamos assim, que o ensino no Brasil culpa o aluno pelo seu fracasso escolar. Na década de 1950, essa forma de pensar o fracasso escolar teve como respaldo a teoria da carência cultural, na qual o aluno carente era visto como portador de deficiências provenientes da sua classe social, que teria uma deficiência cultural ou “ausência de cultura”. Não existe superioridade cultural, nem ausência de cultura, mas culturas diferentes. No entanto, as crianças oriundas das classes populares são rotuladas como incapazes e atualizam a “profecia de auto-realização”, tornando-se verdadeiramente incapazes. Desse modo, é necessário que a criança, ao ingressar no contexto escolar, encontre um ambiente acolhedor, que possibilite uma estabilidade emocional para que possa adquirir habilidades psicomotoras, que possa socializar-se, adquirir conhecimentos de forma prazerosa etc. Do mesmo modo, uma vez estando a escola inserida num contexto social, o sucesso do seu processo pedagógico estará no relacionamento que ela desenvolve Teorias da aprendizagem e a formação de professores 161 com os seus agentes, permitindo que a vida possa vir a fazer parte do “dentro da escola”. Trazer a vida para dentro da escola é, portanto, uma maneira de despertar o interesse do educando e diminuir os índices alarmantes de fracasso escolar. Formação de professores e inclusão: um diálogo possível? Nesse momento apresento um enfoque crítico em relação à formação de professores no Brasil, levantando questões sobre a carência de profissionais qualificados e as limitações de recursos pedagógicos. Para professores despreparados em lidar com alunos portadores de necessidades educacionais especiais é mais fácil fazer o encaminhamento aos especialistas do que buscar por ele mesmo uma qualificação para enfrentar tal desafio. Esse é mais um motivo para o aumento da discriminação no sistema escolar, por existirem educadores que estão acostumados a repassar o “problema” para outros colegas especializados, não recaindo sobre seus ombros o peso de suas limitações profissionais. A decisão pela construção de um sistema educacional inclusivo, referindo- se à formação não somente intelectual como também para a vida como um todo, já foi tomada no Brasil e encontra-se apoiada em nossa Legislação. Como diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: [...] IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas, intelectual ou psicomotora. A inclusão escolar pode gerar uma crise de identidade na instituição, desconstruindo o sistema atual de significação escolar excludente e normativo com seus novos mecanismos de produção da identidade e da diferença. Segundo Mantoan (2003, p. 69), [...] ao serem modificados os rumos da administração escolar, os papéis e a atuação do diretor, coordenadores, supervisores e funcionários perdem o caráter controlador, fiscalizador e burocrático e readquirem teor pedagógico, deixando de existir os motivos pelos quais esses profissionais ficam confinados em seus gabinetes, sem tempo para conhecer e participar mais intensiva e diretamente do que acontece nas salas de aula e nos demais ambientes educativos das escolas. (2003, p. 69). Assim, observa-se que, atualmente, é mais fácil para a coordenação pedagógica de uma escola gerenciar as diferenças formando classes especiais, devido à “facilidade” de se administrar grupos homogêneos. Sob o ponto de vista contemporâneo, constata-se que o profissional da Educação, sobretudo se ele for adepto da escola inclusiva, deve estar atualizado, Teorias da Aprendizagem 162 comprometido com as transformações sociais, acompanhando as novas tendências educacionais. Como afirma Sobrinho (2003, p. 47), [...] queremos deixar claro que o profissional não deve ser um mero aplicador de métodos e técnicas de ensino. Ao contrário, ele precisa ter sempre postura de busca, de análise de sua prática pedagógica, para reformulá-la quando necessário e quando as circunstâncias exigirem. Deve estar sempre aberto a fazer novas revisões no seu referencial teórico, acompanhando as descobertas e o desenvolvimento da educação. Assim, o professor bem-formado será o melhor observador das situações que acontecem em seu ambiente de trabalho numa classe inclusiva. Cabe ao educador tomar essa decisão de desmontar suas características conservadoras e direcionar-se a uma sociedade igualitária com planos mais ambiciosos voltados para a evolução do sistema educacional. Na sociedade em que vivemos, os valores mais cultuados são as capacidades de se ajustar a um mundo competitivo e individualizado, no qual nos é transmitido que devemos ser cada vez mais produtivos e independentes. Neste contexto, pessoas com deficiências são classificadas como diferentes e equivocadamente uma parte da sociedade não espera muito de sua capacidade de produtividade além de sua auto-suficiência, como um ser dependente da caridade alheia, vítima de rótulos que uniformizam um “quadro de deficientes” e não permitem sua autonomia para que tomem decisões que dizem respeito aos seus desejos e às suas necessidades. Dentre os motivos que se opõem à formação de educadores nesse tipo de educação, destacam-se as falhas curriculares na formação do educador. Uma vez que os conteúdos estão voltados ao ensino dos alunos ditos “normais”, há falta de serviços de apoio pedagógico, de salas de recursos e de equipamentos específicos para que se possa desenvolver um trabalho adequado de inclusão. As dificuldades encontradas na formação de professores nesta área acarretam um baixo nível de escolaridade na maioria dos alunos com algum tipo de deficiência. Uma possível mudança desse quadro seria a melhoria da qualidade da formação continuada de professores, bem como a produção de materiais adequados a cada tipo de deficiência e a adaptação de outros recursos necessários ao processo de ensino-aprendizagem dos Portadores de Necessidades Educativas Especiais (PNEE). A atuação efetiva de uma Educação de qualidade para todos, como observamos nas propagandas televisivas, depende de gestos e atitudes na prática relacionados à cultura e às posturas políticas do educador. Outras particularidades profissionais devem ser apreciadas no educador que desenvolve trabalhos em turma de inclusão como a criatividade para lidar com