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Material exclusivo Passei Direto De janeiro à primeira quinzena de setembro deste ano, o Pantanal teve mais de 2,9 milhões de hectares atingidos pelo fogo, segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo). O número representa cerca de 19% do bioma no Brasil. Isso mesmo: quase 1/5 do pantanal sumiu com as chamas de janeiro para cá. Já foram registrados em 2020 15,4 mil focos de calor no Pantanal. É o maior número no período desde 1999, ano em que iniciou o monitoramento que virou referência para acompanhar as queimadas no país. -- De acordo com a classificação do IBGE, o Pantanal é o menor dentre os seis biomas terrestres brasileiros. Com área quase equivalente a do estado do Paraná, esta região é considerada um santuário da biodiversidade por convergir elementos amazônicos e do cerrado em meio a uma planície sazonalmente alagada pela bacia do rio Paraguai. Compreende uma região contínua dentro dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de abraçar parte do Paraguai e Bolívia. No pantanal vivem cerca de 650 espécies de aves, 260 espécies de peixes, 120 diferentes tipos de mamíferos, 1100 espécies de borboletas e 100 répteis. Aliás, é o local com maior densidade de mamíferos e jacarés do mundo! Além disso, existem mais de 3500 espécies vegetais neste singular bioma. Por mais o pantanal seja sempre lembrado pela água, pescadores e música caipira, dois outros personagens cada vez mais estão, infelizmente, caracterizando este bioma: o gado e o FOGO! -- Para entender essa realidade, é preciso contar um pouco de história. A baixada cuiabana foi ocupada de maneira exploratória principalmente em função da grande quantidade de ouro encontrado no início do século XVIII. Era o tal ouro de aluvião, extraído no leitos dos rios. Aquele mesmo que se extraía no rio Doce com mão de obra escrava, em Minas Gerais. Com o término do ciclo do ouro, a região de Cuiabá (MT) já era bastante povoada e as pessoas começaram a procurar outros meios de manter a economia local. A pecuária expandiu-se pela região do Pantanal, especialmente pela porção norte do bioma, através da cidade de Poconé. O bovino trazido pelos colonizadores europeus gradativamente se adaptou ao ambiente, dando origem ao "gado Pantaneiro ou Tucura". Muito embora as pessoas não saibam, a região do pantanal é, sim, uma extensão do cerrado, porém alagadiço e com influência amazônica. E tal como o cerrado, possui vegetação de gramíneas altas, arbustos, touceiras e árvores mais esparsas. Nem sempre essa vegetação é propícia à pastagem bovina (muito em função da sua irregularidade estrutural). Sendo assim, desde o início da criação de bois no local a prática de atear fogo tem sido bastante comum. As queimadas eliminam arvoretas, arbustos e toda a vegetação. No entanto, após o fim do fogo gramíneas forrageiras (ideais para as pastagens) rapidamente ocupam o local e servem de alimento para os bovinos. É, eu não sei se você está percebendo, mas o consumo de carne tem relação direta com aquilo que acontece hoje no bioma Pantanal. -- Como você já sabe, quase 20% do bioma pantanal queimou esse ano. Isso representa danos irrecuperáveis a curto e médio prazo. Especialistas apontam que na atual situação, em algumas porções teremos uma restituição de flora local somente em cerca de 25 anos, caso o pantanal nunca mais sofra qualquer tipo de interferência. O que você e eu sabemos, não vai acontecer. Em relação aos animais, o dano é ainda maior. Grandes mamíferos como felinos, antas, tamanduás, tatus estão morrendo em números incalculáveis todos os dias. Répteis como jabutis e lagartos da mesma forma. Talvez você pense: ao menos as aves escapam. Infelizmente não. A essa época do ano, com a seca, os peixes ficam mais expostos e se tornam um prato cheio para as aves, que se alimentam com fartura e iniciam o período reprodutivo. Em setembro, muitas aves já estão com ninhos prontos, às vezes já chocando os ovos. O fogo acabou, infelizmente, com uma geração inteira de aves em algumas regiões. Além disso, os animais sobreviventes invadem locais intactos e tentam se estabelecer por lá, causando efeito competitivo e escassez de alimento, comprometendo também a reprodução de seres não atingidos pelas queimadas. Mas por que tudo isso está acontecendo em 2020? É uma soma de fatores: 1º: Tivemos um período de seca histórica neste ano! As chuvas de 2020 ficaram 40% abaixo da média esperada. A umidade relativa do ar está em níveis perigosos inclusive para a saúde humana. Desde que existem registros (há 50 anos) nunca passamos por algo similar. É importante frisar aqui que não obrigatoriamente essa situação tem a ver com aquecimento global. Precisamos ver o que vai acontecer com o clima daqui pra frente para inferir algo mais preciso. 2º: O agronegócio em expansão. Um levantamento do Instituto SOS Pantanal aponta que cerca de 15% da área do Pantanal foi convertida em pastagem. E, claro, qual é o método mais eficaz para “limpar o local” e criar essa pastagem? Fogo! 3º: Diminuição da fiscalização ambiental em 2020. Mesmo com o índice de queimadas aumentando em 210% no comparativo com o ano passado, as multas do IBAMA em 2020 caíram em 48% na média entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os fiscais reclamam da falta de efetivos (gente para trabalhar), cargos superiores e gerências nominadas a pessoas sem experiência ou com interesses duvidosos e falta de diretrizes ambientais firmes do ministério do meio ambiente. Vamos lembrar que em agosto, o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles chegou a anunciar corte de verba de 60 milhões de reais destinados ao IBAMA e ICMBIO. Felizmente o vice-presidente indeferiu o bloqueio. De qualquer forma, enquanto o país pega fogo em vários aspectos. Infratores vão “passando a boiada” de maneira impune. 4º: Desmatamento amazônico. Boa parte do regime de chuvas no Brasil é condicionado pelos chamados Rios Voadores amazônicos. A evapotranspiração da floresta é tão intensa que massas de ar úmidas gigantescas se formam e deslocam-se para o sul levando chuvas em todo o percurso. Com o desmatamento aumentando na Amazônia, menos evapotranspiração ocorre e menos rios voadores se formam. Resultado: queda considerável no volume de chuvas reforçando o problema da seca. -- E o que podemos fazer? O problema é urgente e precisa de medidas a curto prazo. - Lembre-se: a internet faz barulho. Participe, comente e entre em discussões sobre o tema. Divulgue campanhas, informação, textos interessantes e até vídeos informativos como este. - Faça pressão nas três esferas políticas. O Facebook, o twitter também estão aí pra isso, não só pra postar foto bonitinha. Procure hashtags relevantes e compartilhe a sua opinião usando elas. Fale a real do prefeito inoperante da sua cidade que está sofrendo com o problema das queimadas; Enalteça o prefeito que está tomando boas decisões; O mesmo pode ser feito com governadores e governo federal. É importante expressar nossas opiniões. - Existem campanhas de financiamento coletivo rolando por aí para trazer caminhões com água, para contratar força de trabalho de combate ao fogo, para tentar salvar o maior número possível de animais. Vou deixar links na descrição para dois financiamentos coletivos seguros que podem fazer a diferença nos locais de queimadas. A longo prazo, o buraco é mais fundo: - Temos urgentemente que rever os nossos padrões de consumo de carne. Afinal, tudo isso tem a ver com pecuária e agronegócio. Se você não pretende ser vegetariano, ao menos moderar o consumo, criar um dia sem carne na sua semana, procurar alimento de origem conhecida e de respeito ao meio ambiente são boas maneiras de impactar menos. - Voto consciente só existe com informação. Não espere que um país inteiro, da noite pro dia, vai votar em políticos melhores se a gente não tiver acesso à informação. Valorize a sua escola, proponha campanhas, debates discussões. Sevocê é professor, tente criar iniciativas de integração da escola com a sociedade. Mostre realidades. O pantanal pega fogo também por causa da ignorância e do nosso descaso. - Temos que apoiar políticos com pautas ambientais bem definidas. Se fala tanto de saúde, economia, ensino... o maior patrimônio nacional é a biodiversidade. O meio ambiente tem que fazer parte das discussões políticas urgentemente. O Vídeo documentário está publicado no YouTube no link https://youtu.be/ZKt_6R7dzog https://youtu.be/ZKt_6R7dzog
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