Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Assis 2019 SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL FRANCIELA DE BARROS SCHWARZ ABUSO SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR: A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CREAS – ASSIS/SP Assis 2019 ABUSO SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR: A INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CREAS – ASSIS/SP Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Profª. Mileni Alves Secon FRANCIELA DE BARROS SCHWARZ Dedico este trabalho a toda a minha família. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus em primeiro lugar e a toda minha família, principalmente ao meu sobrinho que foi a inspiração para este tema. Aos meus amigos. A Profª tutora Jôsi Greffe, que me orientou de forma expecional e respondeu prontamente e de forma muito atenciosa a todas as minhas dúvidas. A todos os tutores virtuais e presenciais que contribuíram para agregar conhecimento a minha vida acadêmica e profissional e a todos os meus colegas de turma. A impunidade gera a audácia dos maus. Carlos Lacerda SCHWARZ, Franciela de Barros. Abuso sexual infantil intrafamiliar: A intervenção do assistente social no CREAS – ASSIS/SP. 2019. 52f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – UNOPAR, Assis/SP, 2019. RESUMO A presente pesquisa deseja explorar sobre o abuso sexual infantil intrafamiliar. Esta forma de abuso ocorre dentro das famílias e são consideradas como incestuosas, em alguns casos, a família se coloca em silêncio diante dos fatos que estão ocorrendo, devido à necessidade que estão vivendo em determinado momento. O abuso sexual é todo ato sexual que ocorre sem o consentimento do indivíduo, com ou sem penetração. Então, pode ser desde uma carícia até ao estupro. O CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social – é uma instituição que visa atender as necessidades da população, que se encontra em risco pessoal e social, cujos direitos foram violados. Neste caso, o CREAS – Assis/SP atua em vários problemas nesta cidade e também atende aos casos de abuso sexual infantil. Diante disso, o objetivo principal é avaliar as praticas e as possíveis intervenções do assistente social no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) Assis/SP frente à situação de vulnerabilidade social do abuso sexual infantil. A justificativa para a elaboração deste estudo refere-se ao um episódio de abuso próximo a minha convivência familiar. Por isso, torna-se relevante entender acerca deste tema e conhecer as suas possíveis formas de prevenção. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica, a qual o acervo é encontrado majoritariamente pela internet, desde artigos, livros, teses e outros. Os resultados encontrados fazem menção de que a intervenção do assistente social frente aos casos de abuso sexual infantil ocorre de maneira sigilosa e o principal intuito é restabelecer a vítima na sociedade. Portanto, o assistente social do CREAS – Assis/SP atua de modo expecional e de uma maneira que acolha as vítimas, para que os casos sejam averiguados e o suspeito agressor possa ser punido. É importante ressaltar neste contexto, que a integridade física e psicológica da criança é o foco para ela ser inserida na sociedade novamente. Palavras-chave: Abuso sexual infantil intrafamiliar. Criança. CREAS – Assis/SP. Assistente Social. Integridade física e psicológica. LISTA DE FIGURAS Figura 01: Rede de proteção a criança e adolescente no Brasil..............23 Figura 02: Dados sobre a violência sexual no Brasil: 2011-2017............26 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CRAS: Centro de Referência da Assistência Social CREAS: Centro de Referência Especializado de Assistência Social LOAS: Lei Orgânica de Assistência Social PNAS: Política Nacional de Assistência Social NOB: Norma Operacional Básica SUAS: Sistema Único de Assistência Social PSE: Proteção Social Especial PSE/MC: Proteção Social Especial de Média Complexidade SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................111 CAPÍTULO 1: O ABUSO SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR............................Erro! Indicador não definido.3 1.1 O ABUSO SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR................................................Erro! Indicador não definido.3 1.1.1. Consequências do abuso sexual infantil.........................................................Erro! Indicador não definido.7 1.1.1.1 Os possíveis meios de prevenção contra o abuso sexual infantil e sua abrangência no contexto da atualidade......................................................................2Erro! Indicador não definido. CAPÍTULO 2: BREVE CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL DO CREAS – BRASIL: IMPORTÂNCIA DO CREAS-ASSIS/SP....................................................................29 2.1 A LEGALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL....................................................29 2.1.1 Proteção Social Especial de Média Complexidade: CREAS/BRASIL..............30 2.1.1.1 Compreensão quanto à responsabilidade social do CREAS ......................... 33 2.1.1.1.1. A importância do CREAS – ASSIS/SP.......................................................38 2.1.1.1.1.1. A intervenção do assistente social nos casos de abuso sexual infantil.42 3 METODOLOGIA......................................................................................................47 4 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 51 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 11 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa deseja investigar sobre a intervenção do assistente social diante dos casos de abuso sexual infantil intrafamiliar. A princípio o olhar do assistente social será conduzido pela instituição do CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social: Assis/SP – cujo respaldo refere-se a prestar serviços para a população a fim de garantir atendimento a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social que tenham seus direitos violados. Desta maneira, segundo Tonon e Aglio (s.d) versam que a ação do Serviço Social direciona-se para o enfrentamento das condições sociais, desde as mais diversas áreas, intervindo nas situações de vulnerabilidade e risco social, para contribuir em uma abordagem local indo além da demanda apresentada. O Assistente Social assume o papel de protagonista em um novo modelo social, cujo propósito é a promoção da cidadania, da construção e da fortificação das redes sociais e da articulação entre ações e serviços. O principal objetivo do Assistente Social é garantir os direitos dos cidadãos e atendê-lo em suas dificuldades com relação aos problemas sociais. Diante disso, será abordado sobre o abuso sexual infantil intrafamiliar. Esta forma de abuso ocorre dentro das famílias e refere-se a casos entre pais, padrastos e filhos (as). O ato pode ocorrer com ou sem a penetração, cuja violência pode ser física ou psicológica. Então, desde a carícia até o estupro, podem ser consideradas formas de abuso sexual. Pesquisas apontam, como o Boletim Epidemiológico do Brasil, do Ministério da Saúde, que grande parte dos casos ocorremnas residências, na faixa etária do um aos cinco anos, a maioria do sexo feminino, abusadas por homens (pais, padrastos, tios e outros). Neste caso, são situações consideradas incestuosas. Como justificativa ao estudo, constata-se a vontade e necessidade de se pesquisar sobre este tema primeiramente se foi dado a um fato ocorrido próximo a minha convivência familiar e também devido a observação em campo de estágio onde se constatou relevante aumento do número de denúncias recebidas. Pretende-se, contudo, analisar as práticas do assistente social no atendimento às vítimas e conhecer suas abordagens, intervenções e prevenções implantadas junto a rede deste município para que assim no exercício profissional já se tenha uma boa qualificação através do conhecimento obtido minimizando o 12 problema, oferecendo as vítimas superação e reintegração social através do saber ético e profissional. Tendo em vista os problemas expostas acima, salienta-se que será levantada a seguinte questão: “Qual é a intervenção do assistente social diante dos casos de abuso sexual infantil?”. Por assim dizer, a fundamentação teórica com relação a esta problemática terá como base a concepção de vários autores que avaliam este tema. Neste sentido, este trabalho desenvolve-se com base em uma fundamentação teórica de natureza bibliográfica, sob o amparo da metodologia qualitativa consistindo no exame de livros, periódicos, teses, artigos científicos, dicionários, etc. Para a elaboração dessa pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema, refletindo sobre a intervenção do assistente social nos casos do abuso sexual infantile e possui ideias de diferentes autores da área expostas de um modo reflexivo e crítico. O objetivo principal será avaliar as praticas e as possíveis intervenções do assistente social no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) Assis/SP frente a situação de vulnerabilidade social do abuso sexual infantil. Além do mais, os objetivos específicos que pretendem completar tal intento pretendem: identificar as consequências do abuso sexual infantil no âmbito intrafamiliar; apontar possíveis meios de prevenção contra o abuso sexual infantil e promover a reflexão sobre o trabalho do assistente social com as famílias em situação de violência atendidas pelo CREAS/Assis/SP. Inclusive o estudo está dividido em dois capítulos: o primeiro refere- se ao abuso sexual infantil intrafamiliar. O segundo trata-se sobre o breve contexto histórico social do CREAS – Brasil: Importância do CREAS-Assis/SP. Neste âmbito, o primeiro capítulo irá explorar acerca do abuso sexual infantil intrafamiliar, trazendo concepções também das consequências desses abusos para a vida das crianças e os possíveis meios de prevenção contra estes abusos. Bem como, irá apontar a respeito do abuso sexual infantil na atualidade. O segundo capítulo irá apontar a respeito do histórico social do CREAS-BRASIL. É necessário expor sobre o CREAS/BRASIL, para que o leitor possa compreender a sua abrangência nacional e sua influência acerca de Assis/SP. O capítulo trará acerca da intervenção do assistente social com relação aos abusos sexuais infantis. 13 Portanto, a pesquisa deseja abarcar de forma profunda sobre o abuso sexual infantil intrafamiliar e seus impactos na formação da vida da criança. Ainda, é importante ressaltar sobre o papel do assistente social neste parâmetro, pois ele é um agente que irá propor ações para que a vítima seja reintegrada a sociedade novamente. É um tema delicado, impactante e preocupante com os dados, os quais mostram que não é somente responsabilidade do assistente social alterar este quadro, mas da sociedade como um todo. 14 CAPÍTULO 1: O ABUSO SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR 1.1. O ABUSO SEXUAL INFANTIL INTRAFAMILIAR O tema proposto nesta pesquisa gera certa polêmica, por se tratar de um assunto que infringe os direitos da criança, com relação ao seu corpo. A criança é um sujeito em desenvolvimento e quando vivência esse ato sexual não concedido, sendo praticado com violência física ou não, ela passa para outra fase da vida, da qual é recheada de consequências para a sua adolescência e vida adulta. Por isso, é importante compreender sobre o que é o abuso sexual infantil intrafamiliar, as suas consequências, os seus possíveis meios de prevenção e sua abrangência na atualidade. Neste âmbito, Eghari (2006, p.10) explica que: Ao longo dos anos, muitas crianças vêm sendo abusadas sexualmente dentro de suas próprias famílias, em um local onde deveriam receber carinho, atenção e principalmente respeito, são molestadas pela pessoa na qual depositaram sua confiança e sua vida, e agora, é a causa de sua humilhação e sofrimento. Tais crianças passam anos ou mesmo suas vidas guardando um segredo que só lhes causam mal, não tendo coragem ou até mesmo o espaço para revelar ao que tiveram que se submeter. Acontecimentos como esses atingem famílias no mundo inteiro, não tendo preferência por raça, credo ou classe social, apenas são repetidas ao longo da história em um ciclo que parece não ter fim. Percebe-se que as crianças são abusadas no seio de suas famílias e muitas guardam em silêncio esse momento aterrorizado vivido por elas, seja por medo ou outros fatores. Ainda, verifica-se que o abuso não possui classe social, etnia, raça, gênero, isto é, pode estar presente em qualquer família. Ainda, pode-se compreender: O abuso sexual infantil é uma forma de violência que envolve poder, coação e/ou sedução. É uma violência que envolve duas desigualdades básicas: de gênero e geração. O abuso sexual infantil é freqüentemente praticado sem o uso da força física e não deixa marcas visíveis, o que dificulta a sua comprovação, principalmente quando se trata de crianças pequenas. O abuso sexual pode variar de atos que envolvem contato sexual com ou sem penetração a atos em que não há contato sexual, como o voyeurismo e o exibicionismo. As pesquisas apontam que, quando se trata de abuso sexual ocorrido no espaço doméstico e familiar, há uma maior predominância do homem como agressor e da mulher como vítima. Os meninos também são vítimas de abuso sexual, mas a incidência maior acontece fora da família, em geral perpetrado por adultos não parentes. (ARAÚJO, 2002, p. 4) 15 Reforça-se que: Entende-se o abuso sexual como uma espécie de violência que envolve a prática de qualquer ato de natureza sexual entre uma criança ou adolescente com pessoa que possui um estágio psicossexual mais avançado, sendo a vítima utilizada pelo perpetrador para a sua gratificação ou estimulação sexual. Os atos que caracterizam o abuso sexual podem variar desde a manipulação da genitália, carícias, voyeurismo, exibicionismo, bem como o ato sexual, com ou sem penetração. No que concerne ao contexto da prática do abuso sexual, este poderá ocorrer tanto no ambiente familiar, como fora deste. (MATTOS E LIMA, 2012, p. 3) Compreende-se que o abuso sexual pode não deixar marcas físicas, cujo ato ocorre com ou sem a penetração. Atualmente, a mídia mostra constantemente casos de abuso sexuais infantis, praticados em diversas situações. Essas notícias causam comoções nos telespectadores. Então, o abuso sexual pode ser qualquer ato sexual não concedido pela vítima, classificado desde uma carícia não desejada até ao estupro. Dando continuidade, Araújo (2002) denota que o abuso sexual é um fator complexo e difícil. Considera-se como difícil, porque se trata de uma violência que acontece dentro da família. Bem como, é difícil aos profissionais, pois em determinados casos, ficam sem saber como agir diante do problema. Neste caso, o abuso sexual infantil é um problema que agrega questões legais de proteção à criança e punição doagressor, além de situações terapêuticas de atenção à saúde física e mental da criança, por conta das consequências psicológicas em relação ao abuso. Essas consequências relacionam-se aos seguintes elementos: idade da criança; duração do abuso; condições em que ocorre; violência ou ameaças; grau de relacionamento com o abusador e ausência de protetores parentais. Além disso, a revelação do abuso sexual repercute em uma crise familiar e na rede de profissionais. Eghari (2006) reitera que o ser humano possui contato com as demais pessoas, para que seja estabelecido um convívio social e a permanência da espécie. Um exemplo seria o núcleo familiar, no qual acontecem trocas de afeto e conforme o tempo torna-se mais intensa e comprometida com o outro. Sendo assim, Madanes (1997 apud Eghari 2006) enfatiza que o aspecto mais intenso é o amor, por meio deste sentimento o indivíduo agressor adquire uma possessividade invasiva e a violência revela-se como maior. Isto é, 16 quanto mais ligação e dependência ao objeto, mais intensa a violência será. Neste caso, a violência pode ser de cunho psicológico, físico e sexual. Neste âmbito, Sanderson (2005) mencionado por Eghari (2006) retrata que o abuso sexual infantil possui uma natureza social, visto que é influenciado pela cultura e tempo histórico que ocorre, cujo aspecto é difícil de ser definido universalmente. Desta maneira, o abuso sexual pode ser extrafamiliar e intrafamiliar. Habigzang (2005) citado por Eghari (2006) aponta que os casos extrafamiliares referem-se ao abuso sexual envolvido na pornografia, exploração infantil e por pessoas que possuem acesso as crianças em diversas situações. Já, o intrafamiliar acontece dentro de casa e são praticados por pessoas próximas, as quais possuem o papel de cuidar dessas crianças. Além do que, podem ser denominados como incestuosos (praticados por pais ou padrastos). Como também, Souza (2013) explana que o abuso sexual intrafamiliar de crianças e adolescentes não se restringe apenas aos aspectos raciais, sendo praticados por homens e mulheres, considerados como “normais”. Enfatiza-se que os ambientes familiares deveriam representar os modos de conforto, amor e confiança, cujos elementos constituem as personalidades dos indivíduos, contudo, quando ocorre esse tipo de violência, há uma “proteção por conspiração do silêncio”. Assim sendo, entende-se: A categoria do abuso sexual intrafamiliar, também pode ser entendida como incesto, que, comumente, dura um longo período e pode ser praticado com o conhecimento e cobertura de outros membros da família. Em nossa cultura, o incesto é uma das formas de abuso sexual mais frequente, sendo este o que geralmente causa consequências – em nível psíquico – extremamente danosas às vítimas. (FLORENTINO, 2015, p. 1) Depreende-se que o abuso sexual intrafamiliar refere-se aos abusos que existem dentro de casa e são considerados incestuosos, os quais ocorrem com conhecimento de alguns membros familiares ou não. Deste modo, este tipo de abuso revela-se como impactante, já que envolve membros próximos afetivos da criança, o qual causa grande comoção nas pessoas, porque se refere a um ato considerado “desumano” e que acarreta em grandes problemas para a vida posterior dessa criança, tanto na fase da adolescência quanto na fase adulta. É uma relação sexual com ou sem penetração - não desejada pela vítima - que acontece 17 precocemente e sem entendimento real daquele ato presente na vida da criança. Isto é, ela conhecerá as questões sexuais baseada na violência psicológica ou física, que deixará marcas profundas em sua memória. Um dado relevante para se atentar é que “faz-se importante salientar que o abuso sexual não se caracteriza somente pelo contato sexual, mas também por inúmeras ações de adultos que estejam envolvendo a criança para questões sexuais”, declara Eghari (2006). Lima e Diolina (s/d) afirmam que o progresso dos princípios morais e legais em defesa das crianças e dos adolescentes amplia-se a cada ano, contudo, as políticas públicas e a criações de diversos órgãos não impedem desse crime prevalecer. Tanto que os serviços prestados as crianças e aos adolescentes constatam que os casos de abuso expandem gradativamente. Esses abusos revelam transtornos e sequelas, muitas vezes irreparáveis a vítimas, principalmente quando essa ação violenta ocorre no seio da própria família. Constata-se que os casos de abuso sexual infantil intrafamiliar são incestuosos e são atos que podem ocorrer com ou sem a penetração, tendo uma violência psicológica ou física. Os laços afetivos de tais famílias que vivenciam esses casos tornam-se desestruturantes, já que são cometidos por pais, padrastos ou outros. Isto é, a figura do pai não funciona como um responsável que deveria selar pela vida da sua filha. Acontece uma mudança radical na vida da criança, da qual levará consequências para a sua vida futura: fases da adolescência e adulta. Além de ser uma infância interrompida, confusa e distorcida. 1.1.1. Consequências do abuso sexual infantil As consequências com relação ao abuso sexual são inúmeras. Por assim dizer, essas consequências influenciam de forma abrangente na formação do ser humano e isso acarreta em marcas que poderão permanecer por uma vida inteira. Essas consequências serão descritas por diversos autores e assim o leitor poderá entender a respeito da alteração do desenvolvimento humano das vítimas que passam por essa situação. No dizer de Lima e Diolina (s/d), os estudiosos verificam que as consequências para quem sofre abuso sexual na infância e na adolescência decorrem dos recursos psíquicos próprios de cada sujeito. Os recursos psíquicos 18 provêm da interação entre a vivência pessoal, elementos hereditários, relação de objeto, identificação e modelo familiar. Em meio a este contexto, estudos confirmam que o abuso sexual na infância e na adolescência simboliza um grande impacto. Para Tilman (1993) citado pelas autoras, a violência sexual contra a criança e o adolescente causam danos ao desenvolvimento normal da personalidade, envolvendo as funções do ego em nível afetivo, comportamental e nas inter- relações. Outro ensinamento de Lima e Diolina (s/d) é que vários autores abordam sobre as consequências ao longo prazo no indivíduo, que inclusive pode transformar-se em uma patologia definida. Além do mais, os danos variam de indivíduo para indivíduo, conforme a sua subjetividade, situação emocional, estímulos e influências do meio em que o ser está incluso. Por certo, as consequências descritas ao longo prazo são: Físicas: dores crônicas gerais, hipocondria ou transtornos psicossomáticos, alterações do sono e pesadelos constantes, problemas gastrointestinais, desordem alimentar. Comportamentais: tentativa de suicídio, consumo de drogas e álcool, transtorno de identidade. Emocionais: depressão, ansiedade, baixa autoestima, dificuldade para expressar sentimentos. Sexuais: fobias sexuais, disfunções sexuais, falta de satisfação ou incapacidade para o orgasmo, alterações da motivação sexual, maior probabilidade de sofre estupros e de entrar para a prostituição, dificuldade de estabelecer relações sexuais. Sociais: problemas de relação interpessoal, isolamento, dificuldades de vínculo afetivo com os filhos. (LIMA E DIOLINA, S/D, p. 12) Acrescenta-se também: Ao discorrer sobre as consequências do abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes, é essencial pensar o quanto é monstruosa a deturpação da condição física, biológica ou orgânica, pois o abuso sexual compreende uma violação do corpo da vítima que, muitas vezes, sai com ferimentos na própria pele.7 Desta forma, é possível apontar como consequências orgânicas: lesões físicas gerais; lesões genitais; lesões anais; gestação, doenças sexualmente transmissíveis; disfunções sexuais;hematomas; contusões e fraturas. Usualmente, a vítima sofre com ferimentos advindos de tentativas de enforcamento; lesões genitais que não se dão somente pela penetração e sim por meio da introdução de dedos e objetos no interior da vagina das vítimas; lesões que deixam manifesto o sadismo do agressor, como queimaduras por cigarro, por exemplo; lacerações dolorosas e sangramento genital; irritação da mucosa da vagina; diversas lesões anais, tais como a laceração da mucosa anal, sangramentos e perda do controle esfincteriano em situações onde ocorre aumento da pressão abdominal. (FLORENTINO, 2015, p. 3) 19 As autoras reforçam que são diversas sequelas existentes na vítima que sofre abuso sexual. Isto é, refere-se a uma violência física e psicológica, uma marca vigente a cada dia e que na maioria das vezes não se apaga. Pelo olhar dos autores com relação às consequências do abuso sexual, observa-se que são muitas e isto interfere não apenas na relação sexual futura, contudo, na própria afetividade com amigos e familiares. Na questão física, o corpo é afetado por meio de lesões e dores. Na questão psicológica, afeta o próprio desenvolvimento comportamental, social e emocional. A criança cresce com interferências negativas que a acompanharam ao longo de sua vida, por isso é muito importante o apoio familiar e o tratamento terapêutico. Ocorre a seguinte observação com relação ao transtorno de estresse pós-traumático: Neste sentido, retoma-se a discussão para o campo subjetivo, debatendo uma questão que, imediatamente, praticamente todas as vítimas de abuso sexual passam após a situação abusiva – estresse pós-traumático ou Transtorno de Estresse Pós-Traumático, como costuma ser nomeado por alguns autores. O transtorno de estresse pós-traumático – TEPT8 - está ligado a experiências in-comuns da existência humana que causam um impacto emocionalmente severo no indivíduo, deixando consequências que afetam a saúde física e mental. (FLORENTINO, 2015, p. 141) Como também, existe a questão do segredo: Outra situação que compromete a vida das crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual é o segredo. O segredo carrega uma proibição de verbalizar os fatos que é explícita em certos casos, mas pode ser ligada ao modo de comunicação não-verbal, predominantemente quando o abuso e abusador estão no meio familiar. Esta vítima busca manter o segredo das situações vividas, seja por temor de sofrer sanções e castigos por ambos os genitores, seja por sentir sobre seus ombros a responsabilidade de manter o equilíbrio e integridade da família. (FLORENTINO, 2015, p. 142) Nota de uma importante revelação: É possível afirmar que a criança ou adolescente facilmente encontrará razões para se sentir culpada diante de uma situação de abuso sexual. Por isso, é essencial ouvir a criança e permitir que se expresse ao nível de sua culpa, pois o que ela pode dizer e sentir no plano consciente, e também no inconsciente, talvez seja muito diferente de nossas projeções e de nossa lógica enquanto adultos. (FLORENTINO, 2015, p. 142) O segredo causa angústia e sofrimento para a vítima, por isso o correto seria que a qualquer mudança de comportamento realizado pela criança, seja observado atentamente pela mãe ou por outra pessoa confiável, para que o 20 abuso sexual seja interrompido. A voz da criança é muito importante neste estágio, independente de sua faixa etária, para que o abusador possa ser punido e a criança seja estabelecida em seu meio social. Florentino (2015)1 salienta que nos casos de abuso sexual intrafamiliar, a família revela-se como um espaço de insegurança, medo, desconfiança, conflitos e incertezas, aspectos que não eram para ser cabíveis ao âmbito da família. Nesta situação, acontece uma inversão de papéis, da qual a criança é tida como uma parceira pseudo-igual no relacionamento sexual e os papéis familiares acabam ficando confusos. Evidencia-se que a família deveria ser um lugar de crescimento, confiança e apoio, mas, na realidade, ocorre uma descaracterização desses fatores. Ainda, Florentino (2015) denota que o comportamento social das vítimas caminha-se para a destruição do modo de como se relacionam e de confiança nas pessoas, isto é, compartilham menos, ajudam menos e se vinculam menos com as outras crianças. O comportamento social das vítimas traz a seguinte nota: O comportamento sexual inadequado pode ser considerado como outro sintoma muito característico de crianças sexualmente abusadas. O comportamento sexual inapropriado é caracterizado por brinquedo ou brincadeiras de cunho sexual com bonecas; introduzir objetos ou dedos no ânus ou na vagina; masturbação excessiva; comportamento sedutor; conhecimento sexual inapropriado para a idade e pedido de estimulação sexual para adultos ou outras crianças. (FLORENTINO, 2015, p.143) Assimila-se que a mudança de comportamento das vítimas, seja por meio de brincadeiras ou outras atitudes (masturbação, comportamento sedutor) são expressões que necessitam ser observadas por adultos. São atitudes que podem ocorrer no ambiente escolar, familiar e outros, então, cabe ao adulto se atentar aos fatos para que o abuso seja descoberto o mais breve possível e sua interrupção possa acontecer (casos contínuos). Como se não bastasse à mudança de comportamento social, Romaro e Capitão (2007) mencionados por Florentino (2015) fazem menção a outros tipos de transtornos, tais como: disfunção sexual (falta ou perda de desejo sexual); impotência sexual; disfunção orgástica (orgasmo inibido); ejaculação precoce; vaginismo não orgânico (oclusão de abertura vaginal); dispaurenia não 1 Concepção em Furniss (1993); Gabel (1997); Romaro; Capitão (2007). 21 vaginal (dor durante o ato sexual) e ninfomania (desejo sexual impulsivo). Diante disso, cabe a seguinte reflexão: Em suma: não é possível generalizar ou delimitar perfeitamente os efeitos do abuso sexual, uma vez que a gravidade e a extensão das consequências dependem de particularidades da experiência de cada vítima. Dentro desta perspectiva, é importante pensar o assunto sob a ótica da singularidade de cada indivíduo – criança ou adolescente – para não cair em num reducionismo ou generalismo da questão. Cada criança ou adolescente que sofre abuso sexual é uma potencial vítima de uma ou mais consequências descritas anteriormente. Por isso, é importante que o psicólogo que venha a deparar-se com tais casos – em alguma política pública ou em consultórios particulares – tenha a sensibilidade necessária e esteja capacitado para enfrentar essa situação extrema-mente complexa e desafiadora. (FLORENTINO, 2015, p. 144) A criança e o adolescente que sofre abuso das mais diversas formas apropriam-se de mudanças nas várias áreas do seu convívio na sociedade, desde comportamental; transtornos e outros déficits de vivência externa. Então, verifica-se que o abuso é totalmente negativo para a vítima e este ato influência na sua formação como ser humano e na sua integridade física e emocional. 1.1.1.1. Os possíveis meios de prevenção contra o abuso sexual infantil e sua abrangência no contexto da atualidade O tema exposto ao longo deste capítulo é impactante, visto que se refere às crianças e revela o quanto as consequências afetam o desenvolvimento humano desses sujeitos. Diante disso, este assunto requer refletir sobre os possíveis meios de prevenção contra os abusos. Em vista disso, os meios de prevenção existem, contudo, é necessário também o envolvimento forte da família para que os casos sejam denunciados e o agressor seja punido. Neste sentido, Carvalho et al (s.d) salientam que as crianças são sujeitos de direitos, isto é, possuem direitos garantidos pela legislação brasileira, que necessita ser respeitada por todos. As crianças caracterizam-se como indivíduos em desenvolvimento e sua sexualidade não deveser tratada como a de uma pessoa adulta. Tanto as crianças como os adolescentes precisam ser protegidos integralmente e isto acarreta na garantia a saúde, educação, segurança e todos os direitos. Cumpre aqui ressaltar, segundo os autores, que nem toda pessoa que abusa da criança ou adolescente é um pedófilo. Visto que a pedofilia é um 22 transtorno de personalidade agregado por crianças pré-púberes, ou seja, geralmente abaixo de 13 anos. A pessoa caracterizada como pedófila, necessita ter um diagnóstico de um psiquiatra. Então, atenta-se ao dado que muitos casos de abuso e exploração sexual são cometidos por pessoas que não apresentam esse tipo de transtorno. Neste caso, “o que caracteriza o crime não é a pedofilia, mas o ato de abusar ou explorar sexualmente uma criança ou um adolescente” destacam Carvalho et al (s.d, p. 11). Como também, os autores explicam que os maiores números são de origem de baixa renda, porque é mais comum essas famílias procurarem os serviços de proteção a criança e adolescente. Os autores alertam que se alguém tiver alguma suspeita ou conhecimento de um abuso ou violência contra a criança e o adolescente, é necessário que façam as denúncias nos seguintes canais: conselho tutelar da cidade; disque 100 (telefone ou e-mail: quedenuncia@sedh.gov.br) canal gratuito e anônimo; escola, por meio dos professores, diretores e orientadores; delegacias especializadas ou comuns; polícia militar, rodoviária e federal; número 190 e pornografia na internet: www.disque100.gov.br. É importante apresentar sobre a rede de proteção de criança e adolescente no Brasil: mailto:quedenuncia@sedh.gov.br 23 Figura 01: Rede de proteção a criança e adolescente no Brasil. Fonte: Campanha de Prevenção à Violência Sexual contra crianças e adolescentes – Cartilha Educativa. Disponível em: <http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/sedh/cartilha_educativa.pdf>. Acesso em: 07 de setembro de 2019. Por meio deste quadro, pode-se compreender sobre a rede de proteção a criança e o adolescente e como funciona o processo de hierarquização até que a denúncia seja realmente comprovada. Por assim dizer, declara-se também http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/sedh/cartilha_educativa.pdf 24 que refere ao um processo demorado, visto que precisam de provas, testemunhas e outros aspectos, para que o abusador seja punido e a vítima reintegrada a sociedade. Santos (2018) aborda sobre a prevenção do abuso sexual na perspectiva da promoção a saúde. Sendo assim, compreende-se acerca deste assunto: São as possibilidades identificadas em alguns ideais e princípios da PS – Promoção da Saúde - (Concepção holística de saúde, Equidade, Intersetorialidade, Empoderamento, Participação Social, Ações Multi- estratégicas e Sustentabilidade) que levam a crer no potencial das estratégias de prevenção do abuso sexual para promover a saúde de crianças. Por buscar compreender o sujeito de forma integral, como um ser biopsicossocial, e por considerar a saúde como processo complexo resultante da articulação de diferentes fatores como alimentação, justiça social, ecossistemas, renda e educação e fruto das ações do Estado e da singularidade, autonomia e participação dos sujeitos, na perspectiva da promoção, a saúde não pode ser atribuída à responsabilidade de uma única área de conhecimentos e práticas. (SANTOS, 2018, p. 36) Acrescenta-se também: Nesse conceito é possível visualizar o aspecto promotor da prevenção ao objetivar a qualidade de vida, buscar melhora contínua e se basear em ações educativas participativas. [...] a prevenção primordial, que visa evitar o surgimento de problemas relacionados à saúde, vida social, econômica e cultural; a prevenção primária, ações voltadas para evitar doenças e agravos trabalhando em cima de suas causas; a prevenção secundária, que busca a identificação e correção prévia do problema; e a prevenção terciária, que atua nos problemas já ocorridos com foco na redução de danos e integração de pessoas. Vale salientar, no entanto, que a perspectiva de prevenção relacionada à promoção da saúde não restringe sua ação exclusivamente aos sujeitos ou indivíduos, neste estudo às crianças, mas propõe intervenções que integrem os “diversos sujeitos” e setores que podem contribuir para a ocorrência, perpetuação e enfrentamento da problemática, neste caso o abuso sexual. (SANTOS, 2018, p. 37) A autora faz referência a uma prevenção na perspectiva da promoção a saúde, na qual a criança e adolescente será restituído em sua integridade física e emocional. Deste modo, as ações direcionam-se a saúde, vida social, econômica e cultural. Atenta-se que este tipo de prevenção refere-se quando o abuso já ocorreu, contudo, é de extrema relevância para a restituição do indivíduo na sociedade. Ainda, Santos (2018) contempla a respeito das tecnologias educacionais, a qual se refere a uma ferramenta de atividades para prevenção da 25 violência e abordagem de assuntos como educação para sexualidade de crianças. Então, acompanha-se: A adoção do termo Tecnologia educativa, para referir-se às metodologias construídas para instrumentalizar profissionais(ou fruto das aprendizagens da prática de trabalho desses)e outros atores sociais, nas ações de intervenção sobre o abuso sexual contra crianças, resulta de um processo de pesquisa sobre como essas ferramentas são nomeadas pelos seus criadores e qual termo seria mais adequado para abarcar a diversidade de propostas e nomenclaturas que essas recebem. (SANTOS, 2018, p. 38) E mais: [...] as tecnologias educativas voltadas para prevenção da violência sexual e promoção da saúde de crianças se tratam de subsídios no formato de livros, manuais, cadernos, programas, jogos, kits, entre outros. São consideradas não só aquelas destinadas para o público infantil, mas, também, as ferramentas idealizadas para famílias, profissionais das mais diversas áreas, organizações comunitárias, instituições, entre outros atores sociais, que podem contribuir para a prevenção da violência sexual na infância. Foram consideradas tecnologias propostas por instituições de origem governamental e não governamental, nacional, internacional e transnacionais, de domínio público e privadas. (SANTOS, 2018, p. 40) Acredita-se que as tecnologias educativas podem ser um viés que auxilie na prevenção do abuso sexual. Atualmente, é visível o uso da tecnologia, por diferentes setores na sociedade, a tecnologia com a internet é utilizada por grande parte da população, para diversos fins. Diante disso, constata-se que esta ferramenta pode contribuir e muito na prevenção do abuso sexual. Fernandes (2019) versa que o dia 18 de maio é declarado como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Esta data possui como objetivo de conscientizar a sociedade e reafirmar a responsabilidade de todos em garantir os direitos das crianças e adolescentes. Desta maneira, a escola inclui-se neste cenário, como uma instituição que necessita assumir o seguinte papel: prevenção, identificação e combate ao abuso sexual infantil. Para se atentar a abrangência deste tema como forma de conscientização, toma-se como base os seguintes dados: 26 Figura 02: Dados sobre a violência sexual no Brasil: 2011-2017. Fonte: Boletim Epidemiológico, 27 do Ministério da Saúde. Disponível em: <https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/25/2018-024.pdf>. Acesso em: 07 de setembro de 2019. Esta tabela apresentada refere-se como uma enorme preocupação para a sociedade, mesmo que o item “abuso sexual” não esteja de forma explicita na tabela, observa-se que as mais diversas formas de violência sexual cresceram nos últimos anos. Como também, nas residências inserem-se os maiores números. Énecessário refletir sobre o porquê estes números aumentaram e se as prevenções estão realmente auxiliando na diminuição destes números. Neste caso, é preciso https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/25/2018-024.pdf 27 que a sociedade de forma coletiva almeje diversas formas e estratégias, para que as crianças e adolescentes sejam protegidas dos tipos de violência sexual. A escola pode funcionar como uma instituição de prevenção e combate ao abuso sexual, segundo a autora. Além do mais, a vítima pode ser observada no ambiente escolar, por meio dos seguintes sinais: comportamento isolado; dificuldades nas relações com os amigos; medo da figura adulta; comportamento hipersexualizado; baixa no rendimento escolar; demonstração de raiva, tristeza e ansiedade. Para Fernandes (2019), com base em estudos de outros autores – Jane Felipe de Souza – é necessário que a escola discuta questões relacionadas ao gênero e sexualidade. Jane Felipe de Souza citada por Fernandes (2019) explica que a escola é um ambiente de produção e circulação do conhecimento. Desta maneira, é preciso tratar de todos os assuntos e de todas as dúvidas, as crianças necessitam entender que seus corpos não estão disponíveis e que algumas atitudes dos adultos não devem ser aceitas. Em relação ao abuso, a criança pode até sentir prazer, por ser um ato sedutor e não violento. Para Jean Von Hohendorff, mencionado por Fernandes (2019), os professores precisam conhecer os tipos de violência sexual. Bem como, é necessário que existam nas escolas uma educação sexual. Neste caso, a educação sexual evidencia-se na ideia de trabalhar com noções corporais, as alterações que o corpo passa, higiene e explicar que as pessoas não podem tocar no corpo, sem a devida permissão e instruí-las em caso de ter ou acontecer um toque ruim. Ainda, é preciso que o professor esteja disposto em ouvir a criança. Caso a criança relate alguma situação de abuso, a orientação proposta é que a vítima tenha um adulto de referência para participar da conversa, caso não exista esse adulto, o caso deve ser encaminhado ao conselho tutelar. É importante destacar que os casos suspeitos também podem ser encaminhados ao Conselho tutelar, não necessariamente precisa-se ter a certeza primeiramente. Como também, existem as principais leis que priorizam a vida da criança e do adolescente com relação à violência sexual. Então, podem-se acompanhar os artigos que compõem a Constituição Federal de 1988 e o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. O que diz a Constituição Federal de 1988: 28 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...] § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. Acrescenta-se o Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais; [...] Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990) A legislação prioriza os direitos da criança e do adolescente e insere o ato sexual como crime, o qual acarreta na prisão do agressor. Contudo, o processo de prisão do possível acusador leva tempo e necessita de provas, dependendo do ato que realiza na criança, este não aparece em exames e outras evidências, por isso é extremamente importante acreditar na palavra da criança, porque esta se refere a um forte indicio do que ocorre em casa e inclusive pode evitar casos piores. Bem como, completa-se que muitos casos passam impune, por ausência de provas, mesmo assim, é muito relevante a denúncia, até no anonimato. É preciso que o possível acusador seja realmente punido diante dos fatos que ocorreram dentro de casa. O abuso sexual infantil intrafamiliar na atualidade atribui-se ao sexo feminino como vítimas, a maior parte da faixa etária do 1 aos 5 anos, realizadas pelo homem na figura de pai, padrasto, tios e outros. Grande parte dos casos são considerados incestuosos e as suas consequências influenciam na formação do ser humano na fase da adolescência e vida adulta. Pelo olhar dos autores e figuras expostas delineadas neste tópico, percebe-se que os casos evoluíram, isto se revela como um dado que precisa ser destacado para a sociedade. Quais são os reais motivos dos abusos acontecerem? Por que ocorrem de forma concedida por pares próximos?. Essas são questões que precisam ser refletidas pela sociedade e principalmente apontar soluções que possam diminuir esses números. 29 CAPÍTULO 2: BREVE CONTEXTO HISTÓRICO SOCIAL DO CREAS – BRASIL: IMPORTÂNCIA DO CREAS-ASSIS/SP 2.1. A LEGALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL A profissão de assistente social foi regularizada por meio de várias legislações. Inclusive, a principal delas atribui-se a Constituição Federal de 1988. Este profissional requer lidar com as situações sociais em que a população vive, desde necessidades básicas até situações complexas. É um agente que prioriza o ser social, para ser reintegrado a sociedade. Neste sentido, Sposati (2009 apud PEREIRA ET AL. 2011) aborda que a Constituição Federal de 1988 foi um marco para o Brasil no seu processo de redemocratização e assim influenciou no histórico de proteção social do país, fortalecendo os direitos humanos e sociais, no que tange a responsabilidade pública e estatal. Neste sentido, Pereira et al. (2011) retrata que a Assistência Social foi conceituada pela Constituição de 1988, a qual refere-se a uma política pública de direitos e não contributiva. Desta maneira, a Assistência Social começou a integrar o Sistema de Seguridade Social, as políticas da Saúde e da Previdência Social, que se instituem na Política de Proteção Social, a qual sistematiza as outras políticas sociais direcionadas à promoção e a garantia da cidadania. Na visão de Pereira et al. (2011), a legalização da Assistência Social como política pública, dever do Estado e direito do cidadão, interrompeu com os paradigmas e concepções conservadoras de caráter benevolente e assistencialista. Quanto a legislação pública, pode-se assimilar que: A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/1993) - ratificou e regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição Federal, assegurando a primazia da responsabilidade do Estado na gestão, financiamento e execução da política de Assistência Social. Sua organização, em todo país, tem respaldo legal na diretriz da descentralização político – administrativa, coroando, portanto, o pacto federativo ao estabelecer responsabilidades e atribuições entre os três entes federados e considerar o comando único das ações em cada esfera de governo. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 12) Em relação ao financiamento, a LOAS obteve a sua estruturação com base nos fundos da assistência social – nacional, dos Estados, DF e municípios, na qual a gestão funciona como um órgão responsável pela política da assistência 30 social na respectiva esfera federativa. Acrescentou o direito da participação direta ou representativa da população na produção, controle e avaliação das ações da assistência social, através dos Conselhos de Assistência Social – Nacional, do DF, Estaduais e dos municípios – alémdas Conferências, espaços democráticos e deliberativos. (PEREIRA ET AL., 2011) Neste âmbito participativo foi aprovada em 2004, a Política Nacional de Assistência Social – PNAS, implantada pelos dispositivos da Constituição Federal de 1988 e da LOAS. Por este ângulo, explica-se o que é o PNAS: A PNAS/2004 reorganiza projetos, programas, serviços e benefícios de assistência social, consolidando no país, o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, com estrutura descentralizada, participativa e articulada com as políticas públicas setoriais. Nesse sentido, demarca as particularidades e especificidades, campo de ação, objetivos, usuários e formas de operacionalização da Assistência Social, como política pública de proteção social. (PEREIRA ET AL, 2011, p. 13) Com este ponto de vista, segundo Pereira et al. (2011) foi aprovada em 2005 a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), além da descrição acima, considera as particularidades e diversidades das regiões, assim como a realidade das cidades e meio rural. Os autores denotam que em 2011, a Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011 (Lei do SUAS) regulamenta a institucionalidade do SUAS, o qual assegura avanços significativos, destacando o cofinanciamento federal, influenciado pelo fortalecimento da gestão, serviços, programas e projetos de assistência social. As principais legislações descritas neste tópico evidenciam o quanto é importante a profissão do assistente social para a sociedade. É uma profissão que foi regularizada pela Constituição Federal de 1988 e que se apóia em vários atributos para que o profissional a exerça de forma qualitativa. Então, refere-se a um indivíduo que enfrentará diversas situações. Nessas situações, soluções terão que ser apontadas e acompanhamentos deverão ser realizados, para que o cidadão possa estar em vivência formidável com a sociedade. 2.1.1. Proteção Social Especial de Média Complexidade: CREAS/BRASIL Será descrito sobre a proteção social especial de média complexidade. Deste modo, os autores verificam que o SUAS possui dois níveis de 31 proteção, os quais são: a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial. Por conseguinte, a Proteção Social Básica contêm vários serviços, direcionados aos programas e projetos e benefícios da Assistência Social, cujo propósito é precaver as situações de vulnerabilidade e riscos pessoais e sociais (violência intrafamiliar física e psicológica, abandono, negligência, abuso e exploração sexual, situação de rua, ato infracional, trabalho infantil, afastamento do convívio familiar e comunitário, idosos em situação de dependência e pessoas com deficiência com agravos decorrente de isolamento social), por violação de direitos; devido ao desenvolvimento de potencialidades e aquisições e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Ocorre a definição do CRAS: O Centro de Referência da Assistência Social – CRAS é a unidade pública estatal, descentralizada, responsável pela organização e oferta de serviços de Proteção Social Básica. É a referência, no seu território de abrangência, da oferta da atenção às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social no âmbito do SUAS. Deve estar localizado nos municípios e no Distrito Federal em áreas de fácil acesso a estas famílias e indivíduos. Todo CRAS, obrigatoriamente, desenvolve “a gestão da rede socioassistencial de proteção social básica do seu território” (MDS, 2009, p.11) e oferta o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF. Em conformidade com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, além do PAIF, outros serviços podem ser ofertados ou referenciados ao CRAS. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 17) Do mesmo modo, a Proteção Social Especial organiza os serviços, programas e projetos de caráter especializado, o qual possui a finalidade de colaborar para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, assim, acontece a consolidação das potencialidades e aquisições quanto a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de risco pessoal e social, por violação de direitos. No contexto dessa organização da PSE, é de suma relevância compreender o aspecto socioeconômico, político, histórico e cultural que influência nas relações familiares, comunitárias e sociais, neste caso, podem gerar conflitos, tensões e rupturas, requerendo um trabalho especializado. (PEREIRA ET AL., 2011) Os autores frisam que conforme os níveis de agravamento, natureza e especificidade do trabalho social, organiza-se o PSE em dois níveis de complexidade: Proteção Social Especial de Média Complexidade (PSE/MC) e a Proteção Social Especial de Alta Complexidade. Em síntese, a PSE/MC oferece serviços, programas e projetos de caráter especializado que exigem maior 32 infraestrutura técnica e operativa, que inserem competências e atribuições definidas, dirigidas ao atendimento a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos. “Devido à natureza e ao agravamento destas situações, implica acompanhamento especializado, individualizado, continuado e articulado com a rede” reiteram Pereira et al. (2011, p. 20). Constituem os serviços de referência da PSE/MC: Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS): Unidade pública e estatal de abrangência municipal ou regional. Oferta, obrigatoriamente, o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP):Unidade pública e estatal de abrangência municipal. Oferta, obrigatoriamente, o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. • Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI); Serviço Especializado em Abordagem Social; Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 21) Logo, a Proteção Social de Alta Complexidade oferece serviços especializados em diversas modalidades e equipamentos, o qual garante a segurança acolhida a indivíduos ou famílias afastadas temporariamente do núcleo familiar ou comunitários de origem. Possibilita-se a proteção integral dos sujeitos atendidos, assegurando o atendimento personalizado e em pequenos grupos, atribuindo o respeito as diversidades (ciclos de vida, arranjos familiares, raça/etnia, religião, gênero e orientação sexual). O objetivo principal é a preservação das famílias ou regaste da convivência familiar e comunitária. (PEREIRA ET AL., 2011) Integram-se os seguintes serviços: Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades: Abrigo institucional; Casa-Lar; Casa de Passagem; Residência Inclusiva. • Serviço de Acolhimento em República; • Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora; • Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 22) Quanto ao conceito sobre o CREAS, se expressa: Considerando a definição expressa na Lei nº 12.435/2011, o CREAS é a unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência, nos territórios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos. Seu papel no SUAS define, igualmente, seu papel na rede de atendimento. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 23) 33 Para os autores, o papel do CREAS compreende a disponibilização dos serviços especializados, caracterizados como continuado para famílias e indivíduos em risco pessoal e social, por violaçãode direitos, consoante a tipificação nacional de serviços socioassistenciais. Envolve também, a gestão de processos de trabalho na unidade, ampliados pela coordenação técnica e administrativa da equipe, o planejamento, o monitoramento e avaliação das ações, a organização e execução do trabalho social na esfera dos serviços ofertados, o relacionamento cotidiano da rede e o registro de informações, sem prejuízo das competências do órgão gestor de assistência social em relação a unidade. 2.1.1.1. Compreensão quanto à responsabilidade social do CREAS O CREAS é uma importante instituição que visa atender as necessidades da população e restituir os direitos dos cidadãos perante a sociedade. Desta maneira, Pereira et al. (2011) explana que o planejamento do CREAS exibe a proposta da Unidade e dos Serviços ofertados, contemplando os objetivos e metas, para serem alcançadas em um dado período de tempo, assim como os meios e recursos primordiais para o seu alcance. Como também este planejamento indica as reflexões a respeito das ações desenvolvidas, os processos de trabalho adotados e os resultados alcançados. Do ponto de vista destes autores, o planejamento precisa ser participativo, dinâmico e contínuo, para que transite em todos os processos do CREAS, propiciando mudanças, ajustes e medidas corretivas. Para isso, é importante que a equipe inclua em seu cotidiano profissional, reuniões para planejar e acompanhar as atividades, discutir fatores relevantes da Unidade e dos serviços, cujo intuito é aperfeiçoar, qualificar e revisar as ações desenvolvidas. Segundo Pereira et al. (2011) a gestão de processos de trabalho para a equipe técnica direciona para um campo que tenha trocas de informações, experiências e conhecimentos, fundamental para a qualificação das ações desenvolvidas na Unidade. O trabalho em equipe é interdisciplinar, o qual adota estratégias que viabiliza a participação e o compartilhamento de concepções para todos os integrantes da equipe. Em relação ao sigilo, pode-se considerar que: A atuação em equipe deve considerar os princípios éticos de cada profissão 34 e o respeito ao sigilo profissional no CREAS. Para tanto, cabe a cada profissional, junto com a Coordenação, quando for o caso, avaliar os aspectos que podem ser compartilhados com a equipe para integrar as ações, de modo a evitar exposições desnecessárias da vida e das situações vivenciadas pelos usuários. Nessa perspectiva, ainda, é importante que a coordenação do CREAS, em conjunto com a equipe, avalie e defina as informações que irão compor os relatórios (de acompanhamento familiar, de atividades da Unidade, relatórios para o órgão gestor de Assistência Social, para os órgãos de defesa de direitos, quando for o caso, dentre outros) e, igualmente, a troca de informações de uma forma geral com a rede, observadas as questões relativas à ética profissional. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 55) Nesta acepção, a coordenação dos recursos humanos e o trabalho em equipe interdisciplinar define momentos de integração e reflexão em equipe, que contribui para o aprimoramento do trabalho desenvolvido. São sugeridas as seguintes atividades para a melhoria do trabalho em equipe e o desenvolvimento do trabalho social, as quais são: reuniões em equipe; reuniões para estudo de caso e a supervisão e assessoria de profissional externo. Os estudiosos apontam que o CREAS está associado ao conjunto de leis e normatizações, referentes às políticas de assistência social e que regulam o SUAS. Neste contexto, os serviços especializados pelo CREAS precisam garantir a segurança socioassistenciais, conforme inscrito no PNAS e na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, assim, fica incluso a Segurança da Acolhida; Segurança de Convívio ou Vivência Familiar e a Segurança de Sobrevivência ou de Rendimento e de Autonomia. A Segurança da Acolhida representa o conhecimento com relação a cada família e o sujeito em sua particularidade, promovendo informações relativas ao trabalho social e aos direitos que possam acessar, para a construção de um ambiente de expressão e diálogo. Além do que, necessita conter os seguintes elementos: estrutura física adequada, equipe técnica direcionada a escuta e recepção e profissionais qualificados. A Segurança de Convívio direciona-se para um serviço de forma continuada, o qual, expressa fortalecimento, regaste ou o desenvolvimento de vínculos familiares, comunitários e sociais. Possui como propósito a construção de projetos individuais e coletivos, que proporciona a vivência de novas interações familiares e comunitárias, além da participação social. A Segurança de Sobrevivência expressa o respeito a autonomia das famílias e indivíduos, cuja intenção é a superação de condições adversas, 35 provenientes de situações vivenciadas. Essa independência familiar e pessoal, na qualidade dos laços sociais, precisa integrar o acesso aos serviços, benefícios e programas de transferência de renda. Os autores salientam que as competências do CREAS são determinantes para o papel efetivo do SUAS, o qual abrange a essas expectativas: • clarificar o papel do CREAS e fortalecer sua identidade na rede; • evitar sobreposição de ações entre serviços de naturezas e até mesmo áreas distintas da rede que, evidentemente, devem se complementar no intuito de proporcionar atenção integral às famílias e aos indivíduos; • evitar a incorporação de demandas que competem a outros serviços ou unidades da rede socioassistencial, de outras políticas ou até mesmo de órgãos de defesa de direito; • qualificar o trabalho social desenvolvido. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 25) Cumpre aqui ressaltar que o CREAS não deve ocupar lacunas relativas a ausência de atendimento na rede, proporcionada por outras políticas públicas e órgãos de defesa de direito; além do seu papel não ser confundido com outras políticas ou órgãos, nem as funções de sua equipe com as de equipes interprofissionais de outros atores na rede; não assumir investigação para a responsabilização dos autores da violência, pois o seu papel institucional é estabelecer o seu papel e competências do SUAS. (PEREIRA ET AL., 2011) Pereira et al. (2011) denota que outro aspecto relevante é que os demais serviços de defesa e responsabilidades não sejam instalados no mesmo imóvel que o CREAS. Neste caso, os serviços de “Disques” denúncias relacionados a situações de violência e violação de direitos precisam localizar-se em determinados locais que não sejam o CREAS. Ainda afirmam que o CREAS não pode ser administrado por entidades e órgãos privados de assistência social. Bem como o CREAS não pode sofrer interrupções com questões relativas a alternância de gestão ou qualquer outro motivo. Os referidos autores realçam sobre os eixos norteadores que influenciam na organização e desenvolvimento do CREAS, precedido pelos princípios e diretrizes do PNAS e nos conceitos e parâmetros do SUAS. Então, esses eixos são: atenção especializada e qualificação do atendimento; território e localização; acesso a direitos socioassistenciais; centralidade na família; mobilização e participação social; e trabalho em rede; além da concepção compartilhada pela equipe na atuação profissional para o desenvolvimento do trabalho social. Serão descritos apenas alguns eixos. 36 A atenção especializada e a qualificação do atendimento refere-se as intervenções mais complexas relacionadas a violação de direitos, as tensões familiares e comunitárias, as quais exigem conhecimentos e habilidades técnicas mais específicas por parte da equipe, tendo as ações integradas com a rede. As singularidades de cada família/indivíduo precisam ter uma atenção específica, conforme a orientação e construção do Plano de Acompanhamento Individual ou familiar. O trabalho social especializado pelo CREAS requer uma equipe profissionalinterdisciplinar, com profissionais de ensino superior e médio, habilitado em determinada função em detrimento de sua capacidade técnica. A equipe especializada representa: Nesse sentido, numa perspectiva dialética, deve agregar instrumentos técnicos e operativos, bases teórico-metodológicas e ético-políticas, que possam proporcionar uma aproximação sucessiva e crítica à realidade social, donde emergem as situações atendidas. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 28) O acesso a direitos socioassistenciais contêm os seguintes direitos assegurados pelos serviços oferecidos pelo CREAS, os quais são: • Atendimento digno, atencioso e respeitoso, ausente de procedimentos vexatórios e coercitivos; • Acesso à rede de serviços com reduzida espera e de acordo com a necessidade; • Acesso à informação, enquanto direito primário do cidadão, sobretudo àqueles com vivência de barreiras culturais, de leitura e de limitações físicas; • Ao protagonismo e à manifestação de seus interesses; • À convivência familiar e comunitária; • À oferta qualificada de serviços. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 31) O trabalho social no CREAS aponta para o reconhecimento do protagonismo e da autonomia dos usuários, englobados pelas decisões e respostas a situações que convivem. Assim sendo, os sujeitos precisam ser vistos como autônomos e protagonistas, não apenas como objetos de intervenções, para obter acesso aos serviços e órgãos de direitos (direito a escuta e participação ativa nos projetos e decisões na trajetória de vida individual e familiar). (PEREIRA ET AL, 2011) Os autores mostram que o CREAS precisa informa o usuário sobre o funcionamento da Unidade e os procedimentos inseridos ao longo do acompanhamento. Devem-se apresentar as informações relacionadas a respeito dos benefícios, serviços, competências e atribuições a cada rede e ainda a forma de acesso dos mesmos. 37 Os estudiosos explicitam em seus pressupostos sobre a centralidade da família que indica a construção e expressão das relações familiares entre os seus membros. Neste sentido, a família não pode ser responsabilizada pelos componentes que vivenciam em seu cotidiano, no entanto, precisa contextualizar a situação vivenciada para restituir o papel do Estado, que se constitui por direitos e por meio de políticas sociais, que agrega instrumentos de apoio e sustentação necessária para proteção social das famílias. Na visão de Pereira et al. (2011), o CREAS ao coordenar as ações que focalizam a família, precisa compreender a sua composição, relações de convivência, estratégias de sobrevivência, os diversos padrões familiares e a relação com o contexto social. Esses aspectos demonstram que as famílias não podem ser rotuladas como “estruturadas” e “desestruturadas”. O trabalho social retrata: O trabalho social com centralidade na família no CREAS visa ao fortalecimento da sua função de proteção e atenção a seus membros, prevenindo, mediando e fortalecendo condições para a superação de conflitos. Essa perspectiva é fundamental para prevenir a recorrência e/ou agravamento de processos que gerem e/ou acentuem situações de violência, abandono, negligência ou qualquer outro tipo de situação de risco pessoal e social, por violação de direitos. Nessa direção, o trabalho social proposto pelo CREAS deve primar pelo acesso das famílias e indivíduos a direitos socioassistenciais e inclusão na rede, tendo em vista o empoderamento e a potencialização de seus recursos e capacidade de proteção. (PEREIRA ET AL., 2011, p. 34) É importante mencionar, conforme a concepção dos autores, que a centralidade da família também pode representar um espaço contraditório, no qual o lugar de proteção pode direcionar para a violência e a violação de direitos. Por conseguinte, o empoderamento familiar e de cada membro para o enfrentamento das situações preconiza na reconstrução das relações familiares, para a direção de uma nova construção de referência familiar e comunitária, como melhor alternativa para assegurar a proteção. Os pesquisadores consideram que a violação dos direitos em decorrência ou em função do ciclo de vida, gênero, orientação sexual, deficiência, alcoolismo, uso de drogas, condições materiais, contexto cultural e outros, nestes casos, o CREAS necessita reconhecer as singularidades e definir a organização das metodologias e intervenções de forma adequada. A mobilização e a participação social necessita referenciar a participação social dos usuários para a concretização de ações que promovam as 38 intervenções nos territórios direcionados a mobilização social, como forma de prevenção e enfrentamento das situações de risco pessoal e social, por violação de direitos. Por este ângulo, os usuários podem participar ou organizarem associações, movimentos sociais e populares, comissões locais, podem participar das instâncias de controle social, como os conselhos de direitos e de políticas públicas, os quais são espaços importantes de decisão e deliberação. (PEREIRA ET AL, 2011) Os autores enfatizam acerca do trabalho em rede que promove a articulação das políticas sociais, a sua elaboração, execução, monitoramento e avaliação, os quais são fatores que superam a fragmentação e possibilitam a integração das ações, guardando as especificidades e competências de cada área. Acrescenta-se também sobre os órgãos de defesa de direitos para a investigação e acusação das responsabilidades dos autores da violência, os quais são: Conselhos Tutelares, Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Organizações da Sociedade Civil (Centros de Defesa, Fóruns de Defesa de Direitos), Delegacias, entre outros. Por fim, este tópico mostrou que a legalização da Assistência Social foi um dos passos importantes para a institucionalização do CREAS no país. O CREAS assume uma responsabilidade social excepcional, porque envolve o ser humano para a superação dos conflitos, tensões, violação de direitos, riscos pessoais e sociais, então, o trabalho social formada por uma equipe interdisciplinar é de suma relevância para promover a autonomia e integridade do sujeito. 2.1.1.1.1. A importância do CREAS – ASSIS/SP O CREAS foi fundado em 2010 na cidade de Assis interior do Estado de São Paulo. Além do que, Assis foi fundada em 1905 e hoje tem 114 anos, com aproximadamente um pouco mais de 100.000 mil habitantes. O CREAS tem a missão de prestar serviços para esta população a fim de garantir atendimento a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social que tenham seus direitos violados. Toda proposta de ação está na PNAS/2004 (Política Nacional de Assistência Social) e contemplada na resolução n°109/09 da CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), referente à Tipificação Nacional de serviços Socioassistenciais que organiza por níveis de complexidade do SUAS, oferecendo o CREAS Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade. São 39 considerados serviços de média complexidade aqueles que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos. Na cidade de Assis, o CREAS oferta os seguintes serviços, para os seguintes usuários: ❖ Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Família e Indivíduos – PAEFI. Usuários: Famílias e Indivíduos que vivenciam violações de direitos por ocorrência de: a) Violência Física, psicológica e negligência; b) Violência Sexual: abuso e/ou exploração sexual; c) Afastamento do convívio familiar devido à aplicação de medida socioeducativa ou medida de proteção; d) Tráfico de pessoas; e) Abandono; f) Vivência de trabalho infantil; g) Discriminação em decorrência da orientação sexual e/ou raça/etnia; h) Descumprimento de condicionalidades do PBF (Programa Bolsa Família) em decorrência de violação de direitos; ❖ Serviço Especializado em AbordagemSocial. Usuários: crianças, adolescentes, jovens, adultos e famílias que utilizam espaços públicos como forma de moradia e/ ou sobrevivência; ❖ Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosos (as) e suas Famílias. Usuários: Pessoas com deficiência e idosos (as) com dependência, seus cuidadores e familiares. O serviço de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), este serviço vem sendo realizado por uma Organização Não Governamental da cidade referenciado junto ao CREAS. Os serviços acima citados são de natureza do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), aprovado pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) por meio da Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. Faz articulação junto a rede de atenção intersetorial. Desta forma envolve os conselhos municipais; serviços, programas e projetos de instituições não 40 governamentais e comunitárias; sistema de segurança pública; gestores e técnicos de várias áreas profissional; universidades e demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos, uma vez que esta rede possibilita acompanhamento especializado, individualizado e continuado. As principais ações e atividades que constituem o trabalho social essencial a serem realizados pela equipe do CREAS são: acolhida; escuta; estudo social; diagnóstico socioeconômico; monitoramento e avaliação do serviço; orientação e encaminhamentos para a rede de serviços locais; construção de plano individual e/ou familiar de atendimento; orientação sócio-familiar; atendimento psicossocial; orientação jurídico-social; referência e contra-referência; informação e comunicação e defesa dos direitos; apoio a família na sua função protetiva; acesso à documentação pessoal; mobilização, identificação da família extensa ou ampliada; articulação da rede socioassistenciais; articulação com os serviços de outras políticas públicas setoriais; articulação interinstitucional com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos; mobilização para o exercício da cidadania; trabalho interdisciplinar; elaboração de relatórios e/ou prontuários; estímulo ao convívio familiar, grupal e social; mobilização e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio; dentre outros. Todas as ações do CREAS fundamentam-se em direitos e garantias expressas na Constituição Federal do Brasil – CFB, na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Política Nacional de Assistência Social – PNAS, Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – NOB/SUAS, no Estatuto da Criança e Adolescente – ECA, Estatuto do Idoso, Lei Maria da Penha, Guia de Orientação nº1 do Ministério de Desenvolvimento Social de Combate a Fome – MDS e outras legislações complementares. Os casos atendidos são recebidos através do disk denúncia (disque100), encaminhado pela rede socioassistenciais, Ministério público, Poder judiciário, Conselho Tutelar e através da comunidade que são as denúncias por demanda espontânea presencial ou anônima. Atualmente a instituição conta com 1 coordenadora, 2 técnicas assistentes sociais, 1 psicóloga, 1 auxiliar administrativo, 1 auxiliar de serviços gerais (incluída pela inclusão social frente de trabalho) e 1 advogado comissionado. Está aberto para atendimento ao público, de segunda à sexta-feira das 07h30 às 17hs. 41 Seu órgão gestor é a Prefeitura Municipal de Assis junto ao fundo de assistência social do município de Assis e sua responsável é a Secretária Municipal de Assistência Social é Nadir Blefari de Almeida. Os recursos financeiros são repassados pelo governo federal e municipal para o fundo municipal de assistência social e assim transferido diretamente ao CREAS. A instituição presta atendimento para cerca de 60 famílias ou indivíduos em situação de violação de ambos os sexos abrangendo somente a cidade de Assis. Os usuários tem faixa etária de 0 à 94 anos sendo de todas as classes econômicas. Atualmente a maioria dos casos são de negligência/abandono, maus tratos e exploração financeira à idosos. Houve aumento significativo de casos durante o ano de 2018. As tomadas de decisões dos casos em acompanhamento se da através de reuniões com equipe técnica interna e reuniões junto à rede socioassistencial. Quando não se obtém êxito e o caso se torna mais complexo é representado ao Ministério Publico. O serviço social na instituição conta com a assistente social Jaqueline Pereira Mendonza, Bacharel em Serviço Social, CRESS N° 50749/SP 9ª REGIÃO, que exerce sua profissão na instituição acerca de 9 meses e trabalha durante a semana cumprindo 6 horas diárias e 30 horas semanais. Atende 23 casos em média ao mês e a predominância se da a violação dos direitos do idoso. A profissional faz acompanhamento familiar e ou/ individual cujo os direitos estejam violados e orienta a população na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos, contribui com a defesa e a efetivação de direitos sociais e com a melhoria da qualidade de vida dessa população. Sempre compromissada com os valores e princípios norteadores do código de ética da profissão, sendo pró ativa, responsável, resolutiva e flexível a frente das questões sociais existentes. Os atendimentos diários da parte da assistente social apresentam vários pontos dos quais, clareza e perspicácia se mostram necessários no momento da escuta. O trabalho da profissional é interdisciplinar na sua prática, pois agrega saberes para atuação onde a fragmentação do saber encontra seu limite e atua para melhor resolução dos problemas junto a sua equipe técnica contando com 42 outros profissionais de outras áreas como exemplo a psicologia. Pode-se dizer ainda que a atuação da mesma condiz plenamente com o código de ética do assistente social, levando em consideração o respeito, a ética e o sigilo profissional que a demonstra junto aos colegas de trabalho. O Projeto Ético Político está em consonância com o projeto societário brasileiro, onde os direitos e deveres dos cidadãos sejam reconhecidos, respeitados e garantidos, na busca por uma sociedade mais justa, livre e autônoma. Em conjunto da responsabilidade social com a qualidade dos serviços prestados, observa se a real atuação da profissional no intuito de fortalecimento da reconstrução de vínculos familiares e comunitários para o enfrentamento das situações de risco por violações de seus direitos. Constata-se que o CREAS é uma instituição que está ligada aos acontecimentos da cidade de Assis e inclusive presta os seus serviços de forma qualitativa e atenciosa. É um órgão importante para a cidade e que prioriza os direitos dos cidadãos para a vivência em sociedade. 2.1.1.1.1.1. A intervenção do assistente social nos casos de abuso sexual infantil O assistente social é um sujeito que irá interferir na situação do abuso sexual infantil de forma sigilosa e tentará investigar como o caso aconteceu para depois apontarem soluções plausíveis. Por assim dizer, Tonon e Aglio (s/d) versam que a ação do Serviço Social direciona-se para o enfrentamento das condições sociais, desde as mais diversas áreas, intervindo nas situações de vulnerabilidade e risco social, para contribuir em uma abordagem local indo além da demanda apresentada. O Assistente Social assume o papel de protagonista em um novo modelo social, cujo propósito é a promoção da cidadania, da construção e da fortificação das redes sociais e da articulação entre ações e serviços. No tocante a violência sexual contra crianças e adolescentes, os autores afirmam que existem os desafios aos assistentes sociais, principalmente com a consolidação do ECA, porque atualmente há a inversão dos valores, “que permite a visão destes como seres inferiores e passíveis de qualquer forma de violência” reiteram Tonon e Aglio (s/d,
Compartilhar