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8 Transtornos do humor � 8.1 Depressão maior e transtorno bipolar O humor pode ser definido como uma emoção ou um tom de senti- mento difuso e persistente que influencia o comportamento de uma pessoa e colore sua percepção de ser no mundo. Os transtornos do humor – às vezes chamados de transtornos afetivos – constituem uma categoria importante de doença psiquiátrica, consistindo em transtorno depressivo, transtorno bipolar e outros transtornos, os quais são discutidos nesta seção e na seguinte. Diversos adjetivos são usados para descrever o humor: de- primido, triste, vazio, melancólico, angustiado, irritável, desconso- lado, excitado, eufórico, maníaco, jubiloso e muitos outros, todos de natureza descritiva. Alguns podem ser observados pelo médico (p. ex., um rosto infeliz), e outros podem ser sentidos apenas pelo paciente (p. ex., desesperança). O humor pode ser lábil, flutuar ou alternar rapidamente entre os extremos (p. ex., rindo alto e de modo expansivo em um momento, choroso e desesperado no se- guinte). Outros sinais e sintomas de transtorno do humor incluem mudanças no nível de atividade, nas capacidades cognitivas, na fala e nas funções vegetativas (p. ex., sono, apetite, atividade sexual e outros ritmos biológicos). Esses transtornos quase sempre resul- tam em comprometimento do funcionamento interpessoal, social e ocupacional. É tentador considerar os transtornos do humor em um con- tinuum com variações normais no humor. Indivíduos com esses transtornos, entretanto, com frequência relatam uma qualidade in- definível, mas distinta, em seu estado patológico. O conceito de um continuum, portanto, pode representar a identificação excessiva do médico com a patologia, desse modo, possivelmente, distorcendo sua abordagem dos pacientes afetados por essa condição. Pacientes apenas com episódios depressivos maiores têm transtorno depressivo maior ou depressão unipolar. Aqueles com episódios tanto maníacos quanto depressivos ou somente com episó- dios maníacos são considerados com transtorno bipolar. Os termos “mania unipolar” e “mania pura” às vezes são usados para pacientes bipolares que não têm episódios depressivos. Três categorias adicionais de transtornos do humor são hipo- mania, ciclotimia e distimia. Hipomania é um episódio de sintomas maníacos que não satisfaz os critérios para episódio maníaco. Ci- clotimia e distimia são transtornos que representam formas menos graves de transtorno bipolar e de depressão maior, respectivamente. O campo da psiquiatria tem considerado a depressão maior e o transtorno bipolar como transtornos separados, particularmente nos últimos 20 anos. Entretanto, a possibilidade de que o transtorno bipolar seja, na verdade, uma expressão mais grave de depressão maior foi recentemente reconsiderada. Muitos pacientes que recebe- ram o diagnóstico de transtorno depressivo maior revelam, em um exame cuidadoso, episódios passados de comportamento maníaco ou hipomaníaco que não foram detectados. Muitas autoridades veem considerável continuidade entre transtornos depressivos e bipolares recorrentes. Isso levou a amplas discussões e debates sobre o espec- tro bipolar, que incorpora transtorno bipolar clássico, bipolar II e depressões recorrentes. HISTÓRIA No Velho Testamento, a história do rei Saul descreve uma síndrome depressiva, assim como a história do suicídio de Ajax na Ilíada, de Homero. Por volta de 400 a.C., Hipócrates usou os termos mania e melancolia para descrever distúrbios mentais. Em torno de 30 d.C., o médico romano Celsus, em sua obra De re medicina, descreveu melancolia (do grego melan [“negra”] e chole [“bile”]) como uma depressão causada pela bile negra. O primeiro texto de língua ingle- sa (Fig. 8.1-1) inteiramente relacionado à depressão foi Anatomia da melancolia, de Robert Burton, publicado em 1621. Em 1854, Jules Falret descreveu uma condição denominada folie circulaire, na qual os pacientes vivenciam estados de humor alternados de depressão e mania. Em 1882, o psiquiatra alemão Karl Kahlbaum, usando o termo ciclotimia, descreveu mania e depressão como estágios da mesma doença. Em 1899, Emil Kraepelin, com base no conhecimento de psiquiatras franceses e alemães, descre- veu a psicose maníaco-depressiva utilizando a maioria dos critérios que os psiquiatras atualmente utilizam para estabelecer o diagnós- tico de transtorno bipolar I. De acordo com Kraepelin, a ausência de uma evolução para demência e deterioração na psicose maníaco- -depressiva a diferencia de demência precoce (como a esquizofrenia era chamada na época). Kraepelin também descreveu uma depressão que veio a ser conhecida como melancolia involutiva, que, desde então, passou a ser vista como uma forma de transtorno do humor com início na vida adulta tardia. Depressão Um transtorno depressivo maior ocorre sem uma história de um epi- sódio maníaco, misto ou hipomaníaco. O episódio depressivo maior deve durar pelo menos duas semanas, e normalmente uma pessoa com esse diagnóstico também experimenta pelo menos quatro sinto- mas de uma lista que inclui alterações no apetite e peso, alterações no sono e na atividade, falta de energia, sentimentos de culpa, pro- blemas para pensar e tomar decisões e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio. 348 Compêndio de Psiquiatria Mania Um episódio maníaco é um período distinto de humor anormal e per- sistentemente elevado, expansivo ou irritável que dura pelo menos uma semana, ou menos se o paciente tiver de ser hospitalizado. Um episódio hipomaníaco dura pelo menos quatro dias e é semelhante a um episódio maníaco, exceto por não ser grave o suficiente para causar comprometimento no funcionamento social ou ocupacional e por aspectos psicóticos não estarem presentes. Tanto a mania como a hipomania estão associadas com autoestima inflada, necessidade de sono diminuída, distratibilidade, grande atividade física e mental e envolvimento excessivo em comportamento prazeroso. O transtorno bipolar I é definido como tendo um curso clínico de um ou mais epi- sódios maníacos e, às vezes, episódios depressivos maiores. Um epi- sódio misto é um período de pelo menos uma semana no qual tanto um episódio maníaco quanto um episódio depressivo maior ocorrem quase diariamente. Uma variante de transtorno bipolar caracterizada por episódios de depressão maior e hipomania, em vez de mania, é conhecida como transtorno bipolar II. Distimia e ciclotimia Dois transtornos do humor adicionais, distimia e transtorno ciclotímico (discutidos em detalhes na Seção 8.2), também foram considerados cli- nicamente por algum tempo. Ambos são caracterizados pela presença de sintomas menos graves do que os de transtorno depressivo maior e de transtorno bipolar I, respectivamente. A distimia é caracterizada por pelo menos dois anos de humor deprimido não grave o suficiente para receber o diagnóstico de episódio depressivo maior. O transtorno ciclo- tímico é caracterizado por pelo menos dois anos de ocorrência frequen- te de sintomas hipomaníacos que não podem ser diagnosticados como um episódio maníaco e de sintomas depressivos que não podem ser diagnosticados como um episódio depressivo maior. EPIDEMIOLOGIA Incidência e prevalência Os transtornos do humor são comuns. Nos levantamentos mais re- centes, o transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao longo da vida (quase 17%) de todos os transtornos psiquiátricos. As taxas de prevalência ao longo da vida de diferentes formas de trans- torno depressivo, de acordo com levantamentos da comunidade, são mostradas na Tabela 8.1-1. A taxa de prevalência ao longo da vida para depressão maior é de 5 a 17%. As taxas de diferentes formas clínicas de transtorno bipolar são mostradas na Tabela 8.1-2. A in- cidência anual de doença bipolar é geralmente considerada inferior a 1%, mas ela é difícil de estimar, porque formas mais leves desse transtorno muitas vezes passam despercebidas. FIGURA 8.1-1 Frontispício de Anatomia da melancolia, deRobert Burton (1621). (De Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Kaplan & Sadock’s Comprehen- sive Textbook of Psychiatry. 9th edition. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2009.) TABELA 8.1-1 Taxas de prevalência de transtornos depressivos ao longo da vida Tipo Taxa Episódio depressivo maior Variação 5-17 Média 12 Distimia Variação 3-6 Média 5 Transtorno depressivo menor Variação 10 Média – Transtorno depressivo breve recorrente Variação 16 (Adaptada, com permissão, de Rihmer Z, Angst A. Mood Disorders: Epi- demiology. Em: Sadock BJ, Sadock VA, eds. Comprehensive Textbook of Psychiatry. 8th ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2004.) TABELA 8.1-2 Taxas de prevalência ao longo da vida de transtorno bipolar I, transtorno bipolar II, transtorno ciclotímico e hipomania Prevalência ao longo da vida (%) Transtorno bipolar I 0-2,4 Transtorno bipolar II 0,3-4,8 Ciclotimia 0,5-6,3 Hipomania 2,6-7,8 (Adaptada, com permissão, de Rihmer Z, Angst A. Mood Disorders: Epi- demiology. Em: Sadock BJ, Sadock VA, eds. Comprehensive Textbook of Psychiatry. 8th ed. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2004.) Transtornos do humor 349 Sexo Uma observação quase universal, independentemente de país ou cultura, é a prevalência duas vezes maior de transtorno depressivo maior em mulheres do que em homens. As hipóteses das razões para essa disparidade envolvem diferenças hormonais, os efeitos do par- to, estressores psicossociais diferentes para mulheres e para homens e modelos comportamentais de impotência aprendida. Em contraste com o transtorno depressivo maior, o transtorno bipolar I tem uma prevalência igual entre homens e mulheres. Episódios maníacos são mais comuns em homens, e episódios depressivos são mais comuns em mulheres. Quando episódios maníacos ocorrem em mulheres, elas têm mais probabilidade do que os homens de apresentar um quadro misto (p. ex., mania e depressão). As mulheres também têm uma taxa mais alta de ciclagem rápida, definida como quatro ou mais episódios maníacos no período de um ano. Idade A idade de início do transtorno bipolar I é mais precoce do que a do depressivo maior, variando da infância (a partir dos 5 ou 6 anos) aos 50 anos, ou até mais, em casos raros, com idade média de 30 anos. A idade média de início para transtorno depressivo maior é em torno dos 40 anos, com 50% de todos os pacientes tendo início entre os 20 e os 50 anos. Esse transtorno também pode iniciar na infância ou na velhice. Dados epidemiológicos recentes revelam que a incidência de transtorno depressivo maior pode estar aumen- tando entre pessoas com menos de 20 anos. É possível que isso es- teja relacionado ao aumento do uso de álcool e do abuso de drogas nessa faixa etária. Estado civil O transtorno depressivo maior ocorre mais frequentemente em pes- soas sem relacionamentos interpessoais íntimos e naquelas que são divorciadas ou separadas. O transtorno bipolar I é mais comum em pessoas divorciadas e solteiras do que entre as casadas, mas essa diferença pode refletir o início precoce e a discórdia conjugal resul- tante característica do transtorno. Fatores socioeconômicos e culturais Não foi encontrada correlação entre condição socioeconômica e transtorno depressivo maior. Uma incidência mais alta do que a mé- dia de transtorno bipolar I é encontrada entre os grupos socioeco- nômicos mais altos; entretanto, ele é mais comum em pessoas que não têm curso superior do que naquelas com diploma universitário, o que também pode refletir a idade de início relativamente precoce para o transtorno. A depressão é mais comum em áreas rurais do que em áreas urbanas. A prevalência de transtorno do humor não difere entre as raças. Contudo, existe uma tendência dos examinadores a diagnosticar menos transtorno do humor e mais esquizofrenia em pacientes cuja base racial ou cultural difira da sua. COMORBIDADE Indivíduos com transtornos depressivos maiores têm maior risco de apresentar um ou mais transtornos comórbidos. Os mais frequentes são abuso ou dependência de álcool, transtornos de pânico, transtor- no obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de ansiedade social. De modo inverso, indivíduos com transtornos por uso de substân- cias e de ansiedade também têm um risco elevado de transtorno do humor comórbido atual ou ao longo da vida. Tanto no transtorno unipolar como no bipolar, enquanto os homens apresentam com mais frequência transtornos por uso de substâncias, as mulheres têm transtornos de ansiedade ou alimentares comórbidos. Em ge- ral, pacientes bipolares apresentam mais comorbidade com uso de substância e transtornos de ansiedade do que aqueles com depressão maior unipolar. No estudo Epidemiological Catchment Area (ECA; Área de Captação Epidemiológica), a história ao longo da vida de transtornos por uso de substâncias, transtorno de pânico e TOC foi cerca de duas vezes mais alta entre pacientes com transtorno bipolar I (61, 21, e 21% respectivamente) do que nos com depressão maior unipolar (27, 10 e 12%, respectivamente). Os transtornos por uso de substâncias e de ansiedade comórbidos pioram o prognóstico da doença e aumentam de maneira acentuada o risco de suicídio entre indivíduos com depressão maior unipolar e bipolar. ETIOLOGIA Fatores biológicos Muitos estudos relataram anormalidades biológicas em pacientes com transtornos do humor. Até recentemente, os neurotransmisso- res monoaminégicos –norepinefrina, dopamina, serotonina e hista- mina – eram o centro das teorias e da pesquisa sobre a etiologia desses transtornos. Tem ocorrido uma mudança progressiva do foco nos distúrbios de sistemas de um único neurotransmissor em favor do estudo de sistemas neurocomportamentais, circuitos neurais e mecanismos neurorreguladores mais complexos. Os sistemas mo- noaminérgicos, portanto, são agora considerados sistemas neuro- modulares, mais amplos, e os distúrbios tendem a ser efeitos tanto secundários ou epifenomenais quanto relacionados direta ou causal- mente com a etiologia e a patogenia. Aminas biogênicas. Das aminas biogênicas, a norepinefrina e a serotonina são os dois neurotransmissores mais implicados na fisiopatologia dos transtornos do humor. NOREPINEFRINA. A correlação sugerida por estudos de ciências básicas entre a down regulation dos receptores �-adrenérgicos e as respostas clínicas aos antidepressivos é provavelmente a evidência isolada mais convincente indicando um papel direto do sistema no- radrenérgico na depressão. Outras evidências implicaram também os receptores �2 pré-sinápticos na depressão, visto que sua ativação resulta em redução da quantidade de norepinefrina liberada. Esses receptores também estão localizados nos neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de serotonina liberada. A eficácia clínica dos antidepressivos com efeitos noradrenérgicos – por exemplo, a venla- faxina – apoia ainda mais um papel da norepinefrina na fisiopatolo- gia de pelo menos alguns dos sintomas da depressão. SEROTONINA. Com o forte efeito que os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) – por exemplo, a fluoxetina – têm tido sobre o tratamento da depressão, a serotonina se tornou a amina biogênica neurotransmissora mais comumente associada à depres- são. A identificação de múltiplos subtipos de receptores serotonér- gicos também aumentou a expectativa da comunidade de pesquisa sobre o desenvolvimento de tratamentos ainda mais específicos para depressão. Além do fato de os ISRSs e outros antidepressivos sero- tonérgicos serem eficazes no tratamento da depressão, outros da- dos indicam que a serotonina está envolvida na fisiopatologia desse transtorno. A depleção da serotonina pode precipitar depressão, e alguns pacientes com impulsos suicidas têm concentrações baixas de metabólitos da serotonina no líquido cerebrospinal (LCS) e con- centrações baixas de zonas de captação de serotonina nas plaquetas. 350 Compêndio de Psiquiatria DOPAMINA. Embora a norepinefrina e a serotonina sejamas aminas biogênicas associadas com mais frequência à fisiopatologia da depressão, há a teoria de que a dopamina também desempenhe um papel. Dados indicam que sua atividade pode estar reduzida na depressão e aumentada na mania. A descoberta de novos subtipos de receptores de dopamina e o aumento no entendimento da regu- lação pré e pós-sináptica de sua função enriqueceram ainda mais a pesquisa sobre a relação entre a dopamina e os transtornos do hu- mor. Os medicamentos que reduzem as concentrações da dopamina – por exemplo, a reserpina – e as doenças que também têm esse efeito (p. ex., doença de Parkinson) estão associados com sintomas depressivos. Em contraste, medicamentos que aumentam suas con- centrações, como a tirosina, a anfetamina e a bupropiona, reduzem os sintomas de depressão. Duas teorias recentes sobre dopamina e depressão são que a via mesolímbica da dopamina pode ser disfun- cional e que seu receptor D1 pode ser hipoativo na depressão. Outros distúrbios de neurotransmissores. A acetilcoli- na (ACh) é encontrada nos neurônios que se distribuem de forma difusa por todo o córtex cerebral. Os neurônios colinérgicos têm relações recíprocas ou interativas com todos os três sistemas de monoamina. Níveis anormais de colina, que é um precursor de ACh, foram encontrados na necropsia de cérebros de alguns pa- cientes deprimidos, talvez refletindo anormalidades na composição de fosfolipídeo das células. Agentes agonistas e antagonistas coli- nérgicos têm efeitos clínicos diferentes sobre depressão e mania. Os agonistas podem produzir letargia, falta de energia e retardo psicomotor em indivíduos saudáveis, exacerbar os sintomas na depressão e reduzir os sintomas na mania. Esses efeitos em geral não são suficientemente fortes para ter implicações clínicas, e os efeitos adversos são problemáticos. Em um modelo animal de de- pressão, linhagens de camundongos supersensíveis ou subsensíveis a agonistas colinérgicos revelaram-se suscetíveis ou mais resisten- tes a desenvolver impotência aprendida (discutida mais adiante). Os agonistas colinérgicos podem induzir alterações na atividade hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (HHS) e no sono que imitam aquelas associadas com depressão grave. Alguns pacientes com transtornos do humor em remissão, bem como seus parentes em primeiro grau que nunca tiveram a doença, têm aumento do traço de sensibilidade-tipo a agonistas colinérgicos. O ácido �-aminobutírico (GABA) tem um efeito inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgico, particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. Reduções dos níveis plas- mático, do LCS e cerebral de GABA foram observadas na de- pressão. Estudos com animais também revelaram que o estresse crônico pode reduzir e, por fim, esgotar os níveis de GABA. Por sua vez, os receptores de GABA sofrem regulação ascendente por antidepressivos, e alguns medicamentos GABAérgicos têm efeitos antidepressivos fracos. Os aminoácidos glutamato e glicina são os principais neuro- transmissores excitatórios e inibitórios no SNC. Esses aminoácidos ligam-se a sítios associados com o receptor de N-metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. Significativamente, existe alta concentração de receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato, portanto, pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão recorrente grave. Evidên- cias recentes apontam que agentes que antagonizam os receptores NMDA têm efeitos antidepressivos. Segundos mensageiros e cascatas intracelulares. A li- gação de um neurotransmissor e um receptor pós-sináptico desen- cadeia uma cascata de processos ligados à membrana e intracelula- res mediados por sistemas de segundo mensageiro. Os receptores nas membranas celulares interagem com o ambiente intracelular por meio de proteínas ligantes do nucleotídeo guanina (proteínas G). As proteínas G, por sua vez, se conectam a várias enzimas intracelulares (p. ex., adenilato ciclase, fosfolipase C e fosfodies- terase) que regulam a utilização de energia e a formação de se- gundos mensageiros, como o nucleotídeo cíclico (p. ex., adenosina monofosfato cíclico [cAMP] e monofosfato cíclico de guanosina [cGMP]), bem como os fosfatidilinositóis (p. ex., inositol trifosfato e diacilglicerol) e cálcio-calmodulina. Os segundos mensageiros regulam a função dos canais iônicos da membrana neuronal. Evi- dências crescentes também indicam que agentes estabilizadores do humor agem sobre as proteínas G ou outros segundos mensageiros. Alterações da regulação hormonal. Alterações duradouras nas respostas neuroendócrinas e comportamentais podem resultar de estresse precoce grave. Estudos com animais indicam que mesmo períodos transitórios de privação materna podem alterar as respos- tas subsequentes a estresse. A atividade do gene codificando para o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) neuroquinina é diminuída após estresse crônico, assim como o processo de neuro- gênese. Estresse prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado funcional dos neurônios e acabar levando a morte celular. Estudos recentes com humanos deprimidos revelam que uma histó- ria de trauma precoce está associada com atividade HHS aumentada acompanhada de alterações estruturais (i.e., atrofia ou diminuição de volume) no córtex cerebral. Atividade de HHS elevada é uma característica de respostas a estresse em mamíferos e uma das ligações mais claras entre depres- são e a biologia do estresse crônico. Hipercortisolemia na depressão sugere um ou mais dos seguintes distúrbios centrais: tônus inibitório de serotonina diminuído; impulso aumentado de norepinefrina, ACh ou hormônio liberador de corticotrofina (CRH); ou diminuição da inibição do feedback do hipocampo. A evidência de aumento da atividade do eixo HHS é aparente em 20 a 40% dos pacientes ambulatoriais deprimidos e em 40 a 60% dos internados deprimidos. A atividade elevada de HHS na depressão foi documentada por meio de excreção de cortisol livre urinário (UFC), coletas de níveis de cortisol plasmático intravenoso (IV) de 24 horas (ou de segmentos de tempo mais curtos), níveis de cortisol salivar e testes da integridade da inibição de feedback. Um distúrbio desta última é testado pela administração de dexametasona (0,5 a 2,0 mg), um glicocorticoide sintético potente que costuma suprimir a atividade do eixo HHS por 24 horas. A não supressão da secreção de cortisol às 8h da manhã seguinte ou subsequente não supressão às 16h ou às 23h é indicativa de comprometimento da inibição do feedback. A hi- persecreção de cortisol e a não supressão de dexametasona não estão perfeitamente correlacionadas (em torno de 60% de concordância). Um desenvolvimento mais recente para melhorar a sensibilidade do teste envolve infusão de uma dose de teste de CRH após a supressão de dexametasona. Esses testes de inibição de feedback não são utilizados como um teste diagnóstico porque hiperatividade adrenocortical (embora em geral menos prevalente) é observada na mania, na esquizofrenia, na demência e em outros transtornos psiquiátricos. Transtornos do humor 351 ATIVIDADE DO EIXO TIREOIDIANO. Aproximadamente 5 a 10% das pessoas avaliadas para depressão têm disfunção tireoidiana ainda não detectada, conforme refletido por nível basal do hormônio estimulante da tireoide (TSH) elevado ou resposta de TSH aumen- tada a uma infusão de 500 mg do neuropeptídeo hipotalâmico hor- mônio liberador de tireotrofina (TRH). Essas anormalidades muitas vezes estão associadas com níveis elevados de anticorpos antitireoi- dianos e, a menos que corrigido com terapia de reposição hormonal, podem comprometer a resposta ao tratamento. Um subgrupo ainda maior de pacientes deprimidos (p. ex., 20 a 30%) apresenta uma res- posta de TSH embotada à administração de TRH. Até o momento, a principal implicação terapêutica de uma resposta de TSH embotada é a evidênciade um risco aumentado de recaída apesar da terapia antidepressiva preventiva. Vale destacar que, ao contrário do teste de supressão com dexametasona (TSD), a resposta de TSH embotada a TRH geralmente não se normaliza com tratamento eficaz. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO. O hormônio do crescimento (GH) é secretado da hipófise anterior após estimulação por norepi- nefrina (NE) e dopamina. A secreção é inibida por somatostatina, um neuropeptídeo hipotalâmico, e por CRH. Níveis de somatostati- na do LCS diminuídos foram relatados na depressão e níveis aumen- tados foram observados na mania. PROLACTINA. A prolactina é liberada da hipófise pela estimula- ção da serotonina e é inibida por dopamina. A maioria dos estudos não encontrou anormalidades significativas da secreção de prolacti- na basal ou circadiana na depressão, embora uma resposta embotada a vários agonistas de serotonina tenha sido descrita. Essa resposta é incomum entre mulheres antes da menopausa, o que sugere que o estrogênio tenha um efeito moderador. Alterações da neurofisiologia do sono. A depressão está associada com perda prematura do sono profundo (de onda lenta) e aumento no despertar noturno. Este último é refletido por quatro ti- pos de distúrbio: (1) aumento nos despertares noturnos, (2) redução no tempo de sono total, (3) aumento do sono de movimentos ocula- res rápidos (REM) fásico e (4) aumento da temperatura corporal. A combinação de movimento REM aumentado e sono de onda lenta diminuído resulta em uma redução significativa no primeiro período de sono não REM (NREM), um fenômeno chamado de latência REM reduzida. Esta, junto com déficits do sono de onda lenta, nor- malmente persistem após a recuperação de um episódio depressivo. A secreção de GH embotada após o início do sono está relacionada com diminuição do sono de onda lenta e mostra comportamento in- dependente de estado ou tipo traço semelhante. A combinação de la- tência REM reduzida, densidade REM aumentada e manutenção do sono diminuída identifica aproximadamente 40% dos pacientes am- bulatoriais deprimidos e 80% dos internados deprimidos. Achados falso-negativos costumam ser observados em pacientes mais jovens, hipersonolentos, que, na verdade, podem experimentar aumento no sono de onda lenta durante episódios de depressão. Cerca de 10% dos indivíduos saudáveis têm perfis de sono anormais, e, como ocor- re com a não supressão de dexametasona, casos de falso-positivos são vistos com frequência em outros transtornos psiquiátricos. Foi verificado que pacientes que manifestam um perfil de sono caracteristicamente anormal são menos responsivos a psicote- rapia e apresentam um risco maior de recaída ou recidiva e podem se beneficiar, sobretudo, da farmacoterapia. Distúrbios imunológicos. Os transtornos depressivos estão associados com várias anormalidades imunológicas, incluindo di- minuição da proliferação de linfócitos em resposta a mitógenos e outras formas de imunidade celular comprometida. Esses linfócitos produzem neuromoduladores, como o fator liberador de corticotro- fina (CRF), e citocinas, peptídeos conhecidos como interleucinas. Parece haver uma ligação com gravidade clínica, hipercortisolemia e disfunção imunológica, e a citocina interleucina-1 pode induzir atividade gênica para a síntese de glicocorticoide. Imagem cerebral estrutural e funcional. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) têm per- mitido métodos sensíveis e não invasivos para avaliar o cérebro vivo, incluindo os tratos cortical e subcortical, bem como lesões da substância branca. A anormalidade mais consistente observada nos transtornos depressivos é a maior frequência de hiperintensidades anormais nas regiões subcorticais, tais como as regiões periventri- culares, os gânglios da base e o tálamo. Mais comuns no transtorno bipolar I e entre idosos, essas hiperintensidades parecem refletir os efeitos neurodegenerativos prejudiciais de episódios afetivos recor- rentes. Aumento ventricular, atrofia cortical e alargamento sulcal também foram relatados em alguns estudos. Alguns pacientes de- primidos também podem ter volumes reduzidos do hipocampo ou do núcleo caudado, ou de ambos, sugerindo defeitos mais focais em sistemas neurocomportamentais relevantes. Áreas de atrofia difusas e focais foram associadas com maior gravidade da doença, bipolaridade e aumento dos níveis de cortisol. O achado de tomografia por emissão de pósitrons (PET) mais amplamente reproduzido na depressão é uma diminuição no metabolismo cerebral anterior, que é em geral mais pronunciada no lado esquerdo. De um ponto de vista diferente, a depressão pode estar relacionada com um aumento relativo na atividade do hemisfério não dominante. Além disso, uma inversão da hipofron- talidade ocorre após mudanças de depressão para hipomania, de modo que maiores reduções do hemisfério esquerdo são vistas na depressão, comparadas com maiores reduções do hemisfério direito na mania. Outros estudos observaram reduções mais es- pecíficas do fluxo sanguíneo ou do metabolismo cerebrais, ou de ambos, nos tratos dopaminergicamente inervados dos sistemas mesocortical e mesolímbico na depressão. Novamente, as evidên- cias sugerem que os antidepressivos normalizam essas mudanças pelo menos em parte. Além de uma redução global do metabolismo cerebral ante- rior, foi observado aumento do metabolismo da glicose em diversas regiões límbicas, em particular entre pacientes com depressão recor- rente relativamente grave e história familiar de transtorno do humor. Durante episódios de depressão, o aumento do metabolismo da gli- cose está correlacionado com ruminações importunas. Considerações neuroanatômicas. Tanto os sintomas de transtornos do humor como os achados das pesquisas biológicas apoiam a hipótese de que os transtornos do humor envolvem pato- logia do cérebro. A neurociência afetiva moderna focaliza-se na im- portância de quatro regiões cerebrais na regulação das emoções nor- mais: o córtex pré-frontal (CPF), o cingulado anterior, o hipocampo e a amígdala. O CPF é considerado a estrutura que contém repre- sentações de objetivos e as respostas adequadas para alcançá-los. Essas atividades são particularmente importantes quando respostas comportamentais múltiplas e conflitantes são possíveis ou quando 352 Compêndio de Psiquiatria é necessário superar a excitação afetiva. As evidências indicam al- guma especialização hemisférica na função do CPF. Por exemplo, enquanto a ativação do lado esquerdo de regiões do CPF é mais en- volvida em comportamentos dirigidos a objetivos ou necessidades naturais, as regiões do CPF direito são implicadas em comportamen- tos de esquiva e na inibição de atividades orientadas a necessidades naturais. Sub-regiões no CPF parecem localizar representações de comportamentos relacionados a recompensa e punição. Pensa-se que o córtex cingulado anterior (CCA) sirva como ponto de integração de estímulos atencionais e emocionais. Duas subdivisões foram identificadas: uma nas regiões rostral e ventral e uma subdivisão cognitiva envolvendo o CCA dorsal. A primeira compartilha conexões extensivas com outras regiões límbicas, e a última interage mais com o CPF e com outras regiões corticais. Foi proposto que a ativação do CCA facilita o controle da excitação emocional, sobretudo quando a realização do objetivo foi frustrada ou quando problemas novos foram encontrados. O hipocampo está mais claramente envolvido em várias for- mas de aprendizagem e memória, incluindo o condicionamento do medo, bem como na regulação inibitória da atividade do eixo HHS. A aprendizagem emocional ou contextual parece estar relacionada com uma conexão direta entre o hipocampo e a amígdala. A amígdala parece ser um local crucial para o processamento de estímulos novos de significado emocional e para a coordenação e organização de respostas corticais. Localizada logo acima dos hipocampos bilateralmente, a amígdala sempre foi considerada o coraçãodo sistema límbico. Embora a maior parte das pesquisas tenha-se concentrado no papel da amígdala na resposta a estímulos assustadores ou dolorosos, pode ser a ambiguidade ou a novidade, e não a natureza aversiva do estímulo em si, que ative a amígdala (Fig. 8.1-2). Fatores genéticos Inúmeros estudos de famílias, de adoção e de gêmeos há muito têm documentado a hereditariedade dos transtornos do humor. Recente- mente, entretanto, o foco primário dos estudos genéticos tem sido identificar genes específicos de suscetibilidade usando métodos ge- néticos moleculares. Estudos de famílias. Os estudos de famílias investigam se um transtorno é familiar. Mais especificamente, a taxa de doença nos membros da família de uma pessoa com o transtorno é maior do que a da população em geral? Dados familiares indicam que, se um dos genitores tem um transtorno do humor, um dos filhos tem um risco entre 10 e 25% de também apresentá-lo. Se ambos os genitores são afetados, o risco praticamente duplica. Quanto mais membros da fa- mília forem afetados, maior o risco para um filho. O risco é maior se os afetados forem parentes em primeiro grau do que mais dis- tantes. Uma história familiar de transtorno bipolar confere um risco maior para transtornos do humor em geral e, em particular, um risco muito maior para transtorno bipolar. O transtorno unipolar costuma ser a forma mais comum de transtorno do humor em famílias de probandos bipolares. Essa sobreposição familiar sugere algum grau de bases genéticas comuns entre essas duas formas de transtorno do humor. A presença de doença mais grave na família também confere um risco maior (Fig. 8.1-3). Estudos de adoção. Esses estudos fornecem uma abordagem alternativa para separar fatores genéticos e ambientais na transmis- são familiar. Apenas um número limitado desses estudos foi rela- tado, e seus resultados foram mistos. Um grande estudo encontrou uma taxa três vezes maior de transtorno bipolar e duas vezes maior de transtorno unipolar nos parentes biológicos de probandos bipo- A B DC Representação e regulação da emoção na depressão A B C D Córtex pré-frontal orbital Córtex pré-frontal dorsolateral Córtex cingulado anterior Córtex pré-frontal ventromedial Amígdala Hipocampo FIGURA 8.1-2 Principais regiões cerebrais envolvidas no afeto e nos transtornos do humor. A. Córtex pré-frontal orbital e córtex pré-frontal ventromedial. B. Córtex pré-frontal dorsolateral. C. Hipocampo e amígdala. D. Córtex cingulado anterior. (De Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Kaplan & Sadock’s Comprehensive Textbook of Psychiatry. 9th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2009.) Transtornos do humor 353 lares. De modo semelhante, em uma amostra dinamarquesa, uma taxa três vezes maior de transtorno bipolar e seis vezes maior de suicídio completado nos parentes biológicos de probandos com doenças afetivas foi relatada. Outros estudos, entretanto, foram menos convincentes e não encontraram diferença nas taxas de transtornos do humor. Estudos de gêmeos. Esses estudos fornecem a abordagem mais poderosa para separar fatores genéticos de ambientais, ou a “natureza” da “criação”. Dados de gêmeos fornecem evidências convincentes de que os genes explicam apenas 50 a 70% da etiologia dos transtornos do humor. O ambiente ou outros fatores não heredi- tários devem explicar o restante. Portanto, é uma predisposição ou suscetibilidade à doença que é herdada. Considerando os transtor- nos unipolar e bipolar juntos, esses estudos encontram uma taxa de concordância para transtorno do humor nos gêmeos monozigóticos (MZ) de 70 a 90%, comparada com a de gêmeos dizigóticos (DZ) do mesmo sexo de 16 a 35%. Estes são os dados mais convincentes do papel dos fatores genéticos nos transtornos do humor. Estudos de ligação. Marcadores do DNA são segmentos de DNA de localização conhecida no cromossomo, muito variáveis entre os indivíduos. Eles são usados para rastrear a segregação de regiões cromossômicas específicas em famílias afetadas com o trans- torno. Quando um marcador é identificado com doença em famílias, diz-se que a doença é geneticamente ligada (Tab. 8.1-3). Os cromos- somos 18q e 22q são as duas regiões com evidência mais forte de ligação a transtorno bipolar. Vários estudos de ligação encontraram evidências do envolvimento de genes específicos em subtipos clíni- NN ND Poligênica/limiar QTL Heterogeneidade genética Heterogeneidade Aditivo Epistático/Modificador afetado mais poligenes ND NN NN DD ND ND A A A B A B B C D E B C D E NN ND NN ND ND NDND Autossômica dominante Autossômica recessiva Ligada ao X ND N Mendeliana – locus principal único FIGURA 8.1-3 Muitos modelos diferentes de transmissão genética foram considerados e testados para ver se explicariam a transmissão de transtornos do humor. Esta é um seleção de alguns dos modelos mais proeminentes. Na transmissão mendeliana ou de locus principal único, um gene transmite a doença. No modelo de traço quantitativo poligênico (QTL), múltiplos genes se unem a fim de contribuir para um traço quanti- tativo. Nesta figura, o eixo X representa o número de poligenes que um determinado indivíduo está carregando, bem como o valor do traço quantitativo resultante. A frequência do valor desse traço na população é representada no eixo Y. No painel inferior, são ilustrados alguns possíveis modelos de heterogeneidade genética. (De Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Kaplan & Sadock’s Comprehensive Textbook of Psychia- try. 9th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2009.) TABELA 8.1-3 Regiões cromossômicas selecionadas com evidência de ligação a transtorno bipolar Cromossomo 18 Dados sugerem a presença de até quatro loci diferentes nesse cromossomo. Estu- dos encontraram ligação a 18q ocorren- do preferencialmente em famílias nas quais a doença afetiva foi transmitida pela mãe, sugerindo um possível efeito de origem parental. Cromossomo 21q Regiões mostraram ligação ou associação tanto a esquizofrenia como a transtorno bipolar. Cromossomo 22q O gene da região de agrupamento de pontos de quebra (BCR) está localizado no cromossomo 22q11. O gene BCR codifica uma proteína ativadora, conhe- cida por desempenhar papéis impor- tantes no crescimento do neurônio e na orientação do axônio. 354 Compêndio de Psiquiatria cos. Por exemplo, foi demonstrado que a evidência de ligação em 18q é derivada, em grande parte, de pares de irmãos bipolar II-bipolar II e de famílias nas quais os probandos tinham sintomas de pânico. Estudos de mapeamento genético da depressão unipolar en- contraram evidência muito forte de ligação ao locus para a proteína ligadora do elemento de resposta a cAMP (CREB1) no cromossomo 2. Outras 18 regiões genômicas também eram ligadas; algumas de- las exibiam interações com o locus de CREB1. Outro estudo rela- tou evidência de uma interação gene-ambiente no desenvolvimento de depressão maior. Foi demonstrado que indivíduos com eventos de vida adversos em geral tinham risco aumentado para depressão. Destes, entretanto, aqueles com uma variante no gene transportador de serotonina apresentavam o maior aumento no risco. Esse é um dos primeiros relatos de uma interação gene-ambiente específica em um transtorno psiquiátrico. Fatores psicossociais Acontecimentos de vida e estresse ambiental. Uma ob- servação clínica de longa data é a de que eventos de vida estressan- tes mais frequentemente precedem os primeiros episódios de trans- tornos do humor, e não os subsequentes. Essa associação tem sido relatada tanto em pacientes com transtorno depressivo maior como naqueles com transtorno bipolar I. Uma teoria proposta para expli- car essa observação é a de que o estresse que acompanha o primeiro episódio resulta em mudanças duradouras na biologia do cérebro. Essas mudanças podem alterar os estados funcionais de vários neu- rotransmissores e sistemas sinalizadores intraneuronais, mudanças que podem incluir mesmo a perda de neurônios e uma reduçãoex- cessiva de contatos sinápticos. Como resultado, uma pessoa tem alto risco de desenvolver episódios subsequentes de um transtorno do humor, mesmo sem um estressor externo. Alguns médicos acreditam que os eventos de vida tenham um papel primário ou principal na depressão; outros sugerem que seu papel seja apenas limitado no início e no momento da depressão. Os dados mais convincentes indicam que o evento de vida associado com mais frequência ao desenvolvimento da depressão é a perda de um dos genitores antes dos 11 anos de idade. O estressor ambiental mais associado ao início de um episódio de depressão é a perda do cônjuge. Outro fator de risco é o desemprego; indivíduos desem- pregados têm três vezes mais probabilidade de relatar sintomas de um episódio de depressão maior do que os que estão empregados. A culpa também pode ter um papel. Fatores de personalidade. Nenhum traço ou tipo de perso- nalidade isolado predispõe de forma única uma pessoa a depressão; todos os seres humanos, com qualquer padrão de personalidade, po- dem e ficam deprimidos sob determinadas circunstâncias. Aqueles com certos transtornos da personalidade – obsessivo-compulsiva, histriônica e borderline – podem ter um risco maior de depressão do que pessoas com personalidade antissocial ou paranoide. Estas últimas podem usar projeção e outros mecanismos de defesa exter- nalizantes para se protegerem de sua raiva interior. Nenhuma evi- dência indica que qualquer transtorno da personalidade em particu- lar esteja associado com o desenvolvimento posterior de transtorno bipolar I; porém, pacientes com distimia e transtorno ciclotímico têm o risco de mais tarde desenvolver depressão maior ou transtor- no bipolar I. Acontecimentos estressantes recentes são os preditores mais poderosos do início de um episódio depressivo. De um ponto de vista psicodinâmico, o médico sempre está interessado no significado do estressor. Pesquisas demonstraram que estressores que se refletem de forma mais negativa na autoestima têm mais probabilidade de produ- zir depressão. Além disso, o que parece ser um estressor relativamen- te leve para alguns pode ser devastador para o paciente devido aos significados idiossincrásicos particulares ligados ao acontecimento. Fatores psicodinâmicos na depressão. O entendimento psicodinâmico da depressão definido por Sigmund Freud e expandi- do por Karl Abraham é conhecido como a visão clássica da depres- são. A teoria envolve quatro pontos fundamentais: (1) distúrbios na relação bebê-mãe durante a fase oral (os primeiros 10 a 18 meses de vida) predispõem a vulnerabilidade subsequente a depressão; (2) a depressão pode estar ligada a perda real ou imaginada do objeto; (3) a introjeção de objetos que partiram é um mecanismo de defesa invocado para lidar com o sofrimento associado com a perda do ob- jeto; e (4) visto que o objeto perdido é percebido com uma mistura de amor e ódio, sentimentos de raiva são dirigidos contra o self. A Srta. C., uma mulher de 23 anos, tornou-se agudamente depri- mida quando foi aceita em um curso de pós-graduação de uma faculdade de prestígio. Ela tinha estudado muito nos quatro anos anteriores ara ser aceita e relatou ter ficado “brevemente feliz, por cerca de 20 minutos”, quando recebeu a boa notícia, mas logo en- trou em um estado de desânimo, no qual ponderava de forma re- corrente a inutilidade de suas aspirações, estava sempre chorando e teve que se conter para não tomar uma superdosagem letal da in- sulina de sua colega de quarto. No tratamento, focalizou-se em seu irmão mais velho, que durante toda sua vida a tinha insultado com regularidade, e em como “ele não estava indo bem”. Preocupava- -se demais com ele e mencionou que não estava acostumada a ser a “bem-sucedida” deles dois. Em associação com sua depressão, veio à tona que o irmão da jovem tinha tido uma doença pediátrica grave, potencialmente fatal e desfigurante que tinha exigido muito tempo e atenção da família durante toda sua infância. A Srta. C. tinha ficado “acostumada” à maneira insultuosa dele em relação a ela. Na verdade, parecia que necessitava do abuso do irmão a fim de não se sentir esmagada pela culpa de sobrevivente por ser a criança “saudável e normal”. “Ele podia me insultar, mas eu o pro- curava. Eu o adoro. Qualquer atenção que ele me dá é como uma droga”, ela dizia. A aceitação da Srta. C. no curso de pós-graduação tinha desafiado a imagem compensatória defensiva e essencial de si mesma como menos bem-sucedida, ou danificada, em comparação com seu irmão e, portanto, esmagado-a pela culpa. Sua depressão diminuiu na psicoterapia psicodinâmica quando entendeu sua iden- tificação com seu irmão e a fantasia de submissão a ele. (Cortesia de JC Markowitz, M.D., e BL Milrod, M.D.) A Srta. E., uma estudante universitária de 21 anos, apresentou- -se com depressão maior e transtorno de pânico desde o início da adolescência. Relatou se odiar, chorar constantemente e se sentir em profunda desesperança em parte devido à cronicidade de sua doença. Já na apresentação, ela observou sua sensibilidade aos humores de sua mãe. “Minha mãe está sempre deprimida, e isso me deixa muito infeliz. Simplesmente não sei o que fazer”, ela disse. “Eu sempre quero alguma coisa dela, nem mesmo sei o quê, mas nunca recebo. Ela sempre diz a coisa errada, fala sobre como sou perturbada, coisas desse tipo, faz eu me sentir mal em relação a mim mesma.” Em uma sessão, a Srta. E. descreveu de forma pungente sua infância: “Eu passava muito tempo com minha mãe, mas ela estava sempre muito cansada, nunca queria fazer alguma Transtornos do humor 355 Melanie Klein, assim como Freud, entendia a depressão como envolvendo a expressão de agressão contra entes queridos. Edward Bibring a considerava um fenômeno que se instala quando uma pessoa se torna consciente da discrepância entre ideais extraor- dinariamente elevados e a incapacidade de alcançar esses objetivos. Edith Jacobson via o estado de depressão como semelhante ao de uma criança impotente e desamparada, vítima de um pai atormen- tador. Silvano Arieti observou que muitos pacientes deprimidos vi- viam suas vidas mais para os outros do que para si mesmos. Ele se referia à pessoa para quem o paciente deprimido vive como o outro dominante, que pode ser um princípio, um ideal ou uma instituição, bem como um indivíduo. A depressão se instala quando o indiví- duo percebe que a pessoa ou o ideal pelo qual estava vivendo nunca vai responder de forma a satisfazer suas expectativas. O conceito de depressão de Heinz Kohut, derivado de sua teoria psicológica do self, baseia-se na suposição de que o self em desenvolvimento tem necessidades específicas que precisam ser satisfeitas pelos pais, para dar à criança um sentimento positivo de autoestima e autocoesão. Quando os outros não satisfazem essas necessidades, há perda mas- siva de autoestima, que se apresenta como depressão. John Bowlby acreditava que apegos iniciais danificados e a separação traumática na infância predispõem a depressão. Diz-se que as perdas do adulto revivem a perda traumática na infância e, dessa forma, precipitam episódios depressivos no adulto. Fatores psicodinâmicos na mania. A maioria das teorias acerca da mania considera os episódios maníacos uma defesa contra a depressão subjacente. Abraham, por exemplo, acreditava que esses epi- sódios pudessem refletir uma incapacidade de tolerar uma tragédia do desenvolvimento, como a perda de um dos genitores. O estado maníaco também pode resultar de um superego tirânico, que produz autocrítica intolerável, que é, então, substituída pela autossatisfação eufórica. Ber- tram Lewin considerava o ego do paciente maníaco sobrecarregado por impulsos prazerosos, como o sexo, ou por impulsos temidos, como a agressão. Klein também via a mania como uma reação defensiva contra a depressão, pelo uso de mecanismos de defesa, como a onipotência, em que o indivíduo desenvolve delírios de grandeza. Outras formulaçõesde depressão Teoria cognitiva. De acordo com a teoria cognitiva, a depressão resulta de distorções cognitivas específicas presentes nas pessoas pre- dispostas a desenvolvê-la. Essas distorções, referidas como esquemas depressogênicos, são modelos cognitivos que percebem tanto os da- dos internos quanto os externos de formas alteradas por experiências precoces. Aaron Beck postulou a tríade cognitiva da depressão, que consiste em (1) visão sobre si próprio – uma autopercepção negativa, (2) sobre o mundo – uma tendência a experimentar o mundo como hostil e exigente e (3) sobre o futuro – a expectativa de sofrimento e fracasso. A terapia tem por objetivo modificar essas distorções. Os elementos da teoria cognitiva são resumidos na Tabela 8.1-4. coisa ou brincar comigo. Eu me lembro de construir uma casinha com cobertores embaixo da mesa e ficar espiando-a. Ela estava sempre deprimida e negativa, como se estivesse vazia e triste. Eu nunca conseguia que ela fizesse alguma coisa.” Essa paciente vi- venciou extrema culpa em sua psicoterapia quando começou a fa- lar sobre a depressão da mãe. “Eu me sinto tão mal”, ela soluçou. “É como se eu dissesse coisas ruins sobre ela. E eu a amo muito e sei que ela me ama. Parece desleal da minha parte.” Sua depressão diminuiu na psicoterapia psicodinâmica quando ela reconheceu e se tornou mais capaz de tolerar seus sentimentos de raiva e de- cepção em relação a sua mãe. (Cortesia de JC Markowitz, M.D., e BL Milrod, M.D.) A Sra. G., uma dona de casa de 42 anos e mãe de um menino de 4 anos, desenvolveu sintomas de hipomania e, depois, de mania franca sem psicose, quando seu único filho foi diagnosticado com leucemia linfoide aguda. Mulher profundamente religiosa, que ti- nha vivenciado 10 anos de dificuldades para engravidar, a Sra. G. era uma mãe devotada. Relatou que em geral era bastante desani- mada. Antes da doença do filho, costumava brincar que tinha ficado grávida dele por intervenção divina. Quando ele foi diagnosticado e em seguida hospitalizado, foram necessários exames médicos dolo- rosos e quimioterapia de emergência, que o deixaram muito doente. Os médicos regularmente a bombardeavam com más notícias sobre o prognóstico do filho durante as primeiras semanas de sua doença. A Sra. G. estava sempre com seu filho no hospital, sem dor- mir, sempre cuidando dele; contudo, os pediatras notavam que, à medida que a criança ficava mais debilitada e o prognóstico mais sombrio, ela parecia borbulhar com renovada alegria, bom humor e alto astral. Ela parecia não conseguir se conter de contar piadas para o pessoal do hospital durante os procedimentos dolorosos do filho, e, à proporção que as piadas se tornavam mais ruidosas e mais inadequadas, a equipe ficava mais preocupada. Durante sua consulta psiquiátrica subsequente (solicitada pela equipe pediátrica), a Sra. G. relatou que sua “felicidade e seu otimismo” atuais eram justificados por seu sentido de “unidade” com Maria, mãe de Deus. “Estamos juntas agora, ela e eu, e ela se tornou uma parte de mim. Temos uma relação especial”, ela afirmava piscando o olho. Apesar dessas de- clarações, a Sra. G. não estava psicótica e disse que estava “falando metaforicamente, naturalmente, como uma boa católica falaria”. Sua mania cessou quando seu filho alcançou a remissão e recebeu alta do hospital. (Cortesia de JC Markowitz, M.D., e BL Milrod, M.D.) TABELA 8.1-4 Elementos da teoria cognitiva Elemento Definição Tríade cognitiva Crenças sobre si próprio, o mundo e o futuro Esquemas Formas de organizar e interpretar expe- riências Distorções cognitivas Inferência arbitrária Estabelecimento de conclusões específi- cas sem evidência suficiente Abstração específica Foco em um único pormenor, enquanto ignora outros aspectos, mais importan- tes, de uma experiência Generalização excessiva Estabelecimento de conclusões baseadas em experiência muito pequena e muito limitada Maximização e minimização Super e subvalorização do significado de um determinado acontecimento Personalização Tendência a atribuir a si próprio aconte- cimentos externos sem base Pensamento absolu- tista, dicotômico Tendência a colocar a experiência em categorias de tudo ou nada (Cortesia de Robert M.A. Hirschfeld, M.D., e M. Tracie Shea, Ph.D.) 356 Compêndio de Psiquiatria Impotência aprendida. A teoria da impotência aprendida da depressão associa fenômenos depressivos à experiência de aconte- cimentos incontroláveis. Por exemplo, quando cães, em laboratório, foram expostos a choques elétricos dos quais não podiam escapar, exibiram comportamentos que os diferenciavam de cães que não fo- ram expostos a tais eventos incontroláveis. Os cães expostos ao cho- que não cruzaram uma barreira para interromper o fluxo de choque elétrico quando colocados em nova situação de aprendizagem. Eles permaneceram passivos e não se moveram. De acordo com a teoria da impotência aprendida, os cães submetidos a choques aprenderam que os desfechos eram independentes das respostas, de modo que tinham tanto déficit cognitivo motivacional (i.e., não tentavam esca- par ao choque) quanto emocional (indicando reatividade diminuída do choque). Na visão reformulada da impotência aprendida aplica- da à depressão humana, pensa-se que explicações causais internas produzem perda de autoestima após eventos externos adversos. Os behavioristas que apoiam a teoria enfatizam que a melhora da de- pressão depende de o paciente desenvolver um senso de controle e domínio do ambiente. DIAGNÓSTICO Transtorno depressivo maior Os critérios diagnósticos do DSM-5 para depressão maior são lis- tados na Tabela 8.1-5; os descritores de gravidade e outros especi- ficadores para um episódio depressivo maior também são listados nessa tabela. Transtorno depressivo maior, episódio único A depressão pode ocorrer como um episódio único ou ser recor- rente. A diferenciação entre esses pacientes e os que têm dois ou mais episódios de transtorno depressivo maior é justificada pelo curso incerto do transtorno dos primeiros. Vários estudos relata- ram dados consistentes com a noção de que a depressão maior en- volve um conjunto heterogêneo de transtornos. Um deles avaliou a estabilidade do diagnóstico de depressão maior em pacientes ao longo do tempo e constatou que 25 a 50% deles foram pos- teriormente reclassificados com uma condição psiquiátrica di- ferente ou uma condição médica não psiquiátrica com sintomas psiquiátricos. Um segundo estudo avaliou os parentes em primeiro grau de pacientes com doença afetiva para determinar a presença e os tipos de diagnósticos psiquiátricos desses parentes ao longo do tempo. Ambos os estudos constataram que indivíduos depri- midos com mais sintomas depressivos têm mais probabilidade de ter diagnósticos estáveis ao longo do tempo e de ter parentes com doença afetiva do que indivíduos deprimidos com menos sinto- mas depressivos. Além disso, pacientes com transtorno bipolar I e aqueles com transtorno bipolar II (episódios depressivos maiores com hipomania) têm mais probabilidade de ter diagnósticos está- veis ao longo do tempo. Transtorno depressivo maior, recorrente Indivíduos que estão vivenciando pelo menos um segundo episódio de depressão são classificados com transtorno depressivo maior, re- corrente. O principal problema ao diagnosticar episódios recorrentes de transtorno depressivo maior é escolher o critério para designar a resolução de cada período. As duas variáveis são o grau de resolução dos sintomas e a duração da resolução. O DSM-5 exige que episó- dios distintos de depressão sejam separados por pelo menos dois meses, durante os quais o paciente não tenha sintomas significativos de depressão. Transtorno bipolar I Os critérios do DSM-5 para transtorno bipolar I (Tab. 8.1-6) reque- rem a presença de um período distinto de humor anormal de pelo menos uma semana e incluem diagnósticos separados de transtorno bipolar I para um episódio maníaco único e para um episódio recor- rentecom base nos sintomas do episódio mais recente, conforme descrito a seguir. A designação transtorno bipolar I é sinônimo do que antes era conhecido como transtorno bipolar – uma síndrome em que um conjunto completo de sintomas de mania ocorre durante o curso do transtorno. Os critérios diagnósticos para transtorno bipolar II são caracterizados por episódios depressivos e hipomaníacos durante o curso do transtorno, mas os episódios de sintomas maníaco-símiles não satisfazem por completo os critérios diagnósticos para uma sín- drome maníaca completa. Episódios maníacos claramente precipitados por tratamento antidepressivo (p. ex., farmacoterapia, eletroconvulsoterapia [ECT]) não indicam transtorno bipolar I. Transtorno bipolar I, episódio maníaco único. De acor- do com o DSM-5, os pacientes devem estar vivenciando seu primei- ro episódio maníaco para satisfazer os critérios diagnósticos para transtorno bipolar I, episódio maníaco único. Esse requisito baseia- -se no fato de que pacientes que estão tendo seu primeiro episódio de depressão do transtorno bipolar I não podem ser distinguidos daqueles afetados por transtorno depressivo maior. Transtorno bipolar I, recorrente. As questões relativas à definição do fim de um episódio de depressão também se aplicam à definição do fim de um episódio de mania. Os episódios manía- cos são considerados distintos quando são separados por pelo menos dois meses sem sintomas significativos de mania ou hipomania. Transtorno bipolar II Os critérios diagnósticos para transtorno bipolar II especificam a gravidade, a frequência e a duração dos sintomas hipomaníacos. Os critérios diagnósticos para um episódio hipomaníaco são lista- dos junto com os critérios para transtorno bipolar II (também na Tab. 8.1-6). Os critérios foram estabelecidos para diminuir o ex- cesso de diagnósticos de episódios hipomaníacos e a classificação incorreta de transtorno bipolar II para pacientes com transtorno depressivo maior. De uma perspectiva clínica, os psiquiatras po- dem achar difícil distinguir eutimia de hipomania em um paciente que esteve cronicamente deprimido por muitos meses ou anos. Como ocorre no transtorno bipolar I, os episódios hipomaníacos induzidos por antidepressivos não são diagnósticos de transtorno bipolar II. Especificadores (características dos sintomas) Além de especificadores de gravidade, psicose e remissão, outras características dos sintomas (especificadores) podem ser utilizadas para descrever pacientes com vários transtornos do humor. Com aspectos psicóticos. A presença de aspectos psicóticos no transtorno depressivo maior reflete doença grave e é um indica- dor de mau prognóstico. Uma revisão da literatura que comparou o TABELA 8.1-5 Critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno depressivo maior A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a outra condição médica. 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperan- ça) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.) 4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecrimina- ção ou culpa por estar doente). 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, também deve ser cuidadosamente considerada. Essa decisão requer inevitavelmente o exercício do julga- mento clínico baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda.* D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, trans- torno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtor- no psicótico não especificado. E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco. Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo maníaco ou do tipo hipomaníaco são induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica. * Ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior (EDM), é útil considerar que, no luto, o afeto predominante inclui sentimentos de vazio e perda, enquanto no EDM há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em ondas, conheci- das como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar associadas a pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de um EDM é mais persistente e não está ligado a pensamentos ou preocupações específicos. A dor do luto pode vir acompanhada de emoções e humor positivos que não são característicos da infelicidade e angústia generalizadas de um EDM. O conteúdo do pensamento associado ao luto geralmente apresenta preocupação com pensamentos e lembranças do falecido, em vez das ruminações autocríticas ou pessimistas encontradas no EDM. No luto, a autoestima costuma estar preservada, ao passo que no EDM os sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa costuma envolver a percepção de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não dizer ao falecido o quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa em morte e em morrer, tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele, enquanto no EDM esses pen- samentos têm o foco em acabar com a própria vida por causa dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da incapacidade de enfrentar a dor da depressão. Procedimentos para Codificação e Registro O código diagnóstico para transtorno depressivo maior está baseadoem se este é um episódio único ou recorrente, gravidade atual, presença de caracterís- ticas psicóticas e estado de remissão. A gravidade atual e as características psicóticas são indicadas apenas se todos os critérios são satisfeitos atualmente para um episódio depressivo maior. Os especificadores de remissão são indicados apenas se os critérios plenos não são satisfeitos atualmente para um episódio depressivo maior. Os códigos são os seguintes: Especificador da gravidade/curso Episódio único Episódio recorrente* Leve (p. 188) 296.21 (F32.0) 296.31 (F33.0) Moderada (p. 188) 296.22 (F32.1) 296.32 (F33.1) Grave (p. 188) 296.23 (F32.2) 296.33 (F33.2) Com características psicóticas** (p. 186) 296.24 (F32.3) 296.34 (F33.3) Em remissão parcial (p. 188) 296.25 (F32.4) 296.35 (F33.41) Em remissão completa (p. 188) 296.26 (F32.5) 296.36 (F33.42) Não especificado 296.20 (F32.9) 290.30 (F33.9) *Para que um episódio seja considerado recorrente, deve haver um intervalo de pelo menos dois meses consecutivos entre episódios separados em que não são satisfeitos os crité- rios para um episódio depressivo maior. As definições dos especificadores são encontradas nas páginas indicadas. **Se estão presentes características psicóticas, codifique o especificador “com características psicóticas”, independentemente da gravidade do episódio. Ao registrar o nome de um diagnóstico, os termos devem ser listados na seguinte ordem: transtorno depressivo maior, episódio único ou recorrente, especifi- cadores de gravidade/psicótico/remissão, seguidos pelos seguintes especificadores sem código que se aplicam ao episódio atual. Especificar: Com sintomas ansiosos (p. 184) Com características mistas (p. 184-185) Com características melancólicas (p. 185) Com características atípicas (p. 185-186) Com características psicóticas congruentes com o humor (p. 186) Com características psicóticas incongruentes com o humor (p. 186) Com catatonia (p. 186). Nota para codificação: Use o código adicional 293.89 (F06.1). Com início no periparto (p. 186-187) Com padrão sazonal (somente episódio recorrente):(p. 187-188) Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright ©2013) American Psychiatric Association. Todos os direitos reservados. Páginas referentes ao DSM-5. 358 Compêndio de Psiquiatria TABELA 8.1-6 Critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno bipolar I Para diagnosticar transtorno bipolar tipo I, é necessário o preenchimento dos critérios a seguir para um episódio maníaco. O episódio maníaco pode ter sido antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos maiores. Episódio Maníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigi da a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospi- talização se fizer necessária). B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade. 2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono). 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a objetivos). 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos). C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas. D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica. Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódio maníaco e, portanto, para um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos um episódio maníaco na vida é necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Episódio Hipomaníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de quatro dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias. B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irri- tável) persistem, representam uma mudança notável em relação ao comportamento habitual e estão presentes em grau significativo: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade. 2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono). 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora. 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos). C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático. D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas. E. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitali- zação. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco. F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento). Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de antidepres- sivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem necessariamente indicativos de uma diátese bipolar. Nota: Os Critérios A-F representam um episódio hipomaníaco. Esses episódios são comuns no transtorno bipolar tipo I, embora não necessários para o diag- nóstico desse transtorno. Episódio Depressivo Maior A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. Nota: Não incluir sintomas que sejam claramenteatribuíveis a outra condição médica. 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio ou sem esperan- ça) ou por observação feita por outra pessoa (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indi- cado por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou redução ou au- mento no apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.) 4. Insônia ou hipersonia quase diária. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecrimina- ção ou culpa por estar doente). (continua) Transtornos do humor 359 TABELA 8.1-6 Critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno bipolar I (continuação) 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa). 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Esse tipo de episódio é comum no transtorno bipolar tipo I, embora não seja necessário para o diagnóstico desse transtorno. Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por desastre natural, doença médica grave ou incapacidade) podem incluir sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se asse- melhar a um episódio depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um episódio de- pressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, deve ser também cuidadosamente considerada. Essa decisão exige inevitavelmente exercício do juízo clínico, baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda.1 1Ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior (EDM), é útil considerar que, no luto, o afeto predominante inclui sentimentos de vazio e perda, enquanto no EDM há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em ondas, conhecidas como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar associadas a pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de um EDM é mais persistente e não está ligado a pen- samentos ou preocupações específicos. A dor do luto pode vir acompanhada de emoções e humor positivos que não são característicos da infelicidade e angústia generalizadas de um EDM. O conteúdo do pensamento associado ao luto geralmente apresenta preocupação com pensamentos e lembranças do falecido, em vez das ruminações autocríticas ou pes- simistas encontradas no EDM. No luto, a autoestima costuma estar preservada, ao passo que no EDM sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa tipicamente envolve a percepção de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não dizer ao falecido o quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa em morte e em morrer, tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele, enquanto no EDM esses pensa- mentos têm o foco em acabar com a própria vida em razão dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da incapacidade de enfrentar a dor da depressão. Transtorno Bipolar Tipo I A. Foram atendidos os critérios para pelo menos um episódio maníaco (Critérios A-D em “Episódio Maníaco” descritos anteriormente). B. A ocorrência do(s) episódio(s) maníaco(s) e depressivo(s) maior(es) não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante ou transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico com outras especificações ou não espe- cificado. Procedimentos para Codificação e Registro O código diagnóstico para transtorno bipolar tipo I baseia-se no tipo de episódio atual ou mais recente e em sua condição quanto a gravidade atual, pre- sença de características psicóticas e estado de remissão. A gravidade atual e as características psicóticas só são indicadas se todos os critérios estiverem atualmente presentes para episódio maníaco ou depressivo maior. Os especificadores de remissão são indicados somente se todos os critérios não estão atualmente presentes para episódio maníaco, hipomaníaco ou depressivo maior. Os códigos são descritos a seguir: Transtorno bipolar tipo I Episódio atual ou mais recente maníaco Episódio atual ou mais recente hipomaníaco* Episódio atual ou mais recente depressivo Episódio atual ou mais recente não especificado** Leve (p. 154) 296.41 (F31.11) NA 296.51 (F31.31) NA Moderado (p. 154) 296.42 (F31.12) NA 296.52 (F31.32) NA Grave (p. 154) 296.43 (F31.13) NA 296.53 (F31.4) NA Com características psicóticas*** (p. 152) 296.44 (F31.2) NA 296.54 (F31.5) NA Em remissão parcial (p. 154) 296.45 (F31.73) 296.45 (F31.71) 296.55 (F31.75) NA Em remissão completa (p. 154) 296.46 (F31.74) 296.46 (F31.72) 296.56 (F31.76) NA Não especificado 296.40 (F31.9) 296.40 (F31.9) 296.50 (F31.9) NA *Os especificadores de gravidade e de características psicóticas não se aplicam; código 296.40 (F31.0) para casos que não estão em remissão. **Os especificadores de gravidade, de características psicóticas e de remissão não se aplicam. Código 296.7 (F31.9). ***Se características psicóticas estão presentes, codificar com o especificador “com características psicóticas” independentemente da gravidade do episódio. Ao registrar o nome de um diagnóstico, os termos devem ser listados na ordem a seguir: transtorno bipolar tipo I, tipo do episódio atual ou mais recente, especificadores de gravidade/características psicóticas/remissão, seguidos por tantos especificadores sem códigos quantos se aplicarem ao episódio atual ou mais recente. Especificar: Com sintomas ansiosos (p. 149) Com características mistas (p. 149-150) Com ciclagem rápida (p. 150) Com características melancólicas (p. 151) Com características atípicas (p. 151-152) Com características psicóticas congruentes com o humor (p. 152) Com características psicóticas incongruentes com o humor (p. 152) Com catatonia (p. 152). Nota para codificação: Usar o código adicional 293.89 (F06.1). Com início no periparto (p. 152-153) Com padrão sazonal (p. 153-154) Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright ©2013) American Psychiatric Association. Todos os direitos reservados. Páginas referentes ao DSM-5 360 Compêndio de Psiquiatria transtorno depressivo maior psicótico com o não psicótico indica que as duas condições podem ser distintas em sua patogênese. Uma diferença é que o transtorno bipolar I é mais comum em famílias de probandos com depressão psicótica do que em famílias de proban- dos com depressão não psicótica. Os próprios sintomas psicóticos são,
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