Buscar

Currículo: INSTRUMENTO DE PODER E DE TRANSFORMAÇÃO CULTURAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

ISSN 2176-1396 
 
 CURRÍCULO: INSTRUMENTO DE PODER E DE TRANSFORMAÇÃO 
CULTURAL 
 
Prado, Leandro Aparecido do1 - UNINTER 
Alencastro, Mario Sergio Cunha2 - UNINTER 
Almeida, Siderly do Carmo Dahle de3 - UNINTER 
 
Eixo – Cultura, Currículo e Saberes 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
Na contemporaneidade, as discussões sobre o currículo se apresentam como um processo 
complexo, em que os múltiplos saberes se relacionam colaborando na formação do aluno em 
sua totalidade. Assim, este artigo apresenta uma pesquisa de abordagem qualitativa que expõe 
uma revisão bibliográfica possibilitando uma releitura de autores indispensáveis em 
discussões sobre o tema. Este trabalho pretende rever as teorias que sustentam o currículo 
como documento responsável pela organização e teorização do conhecimento que se faz 
primordial no processo de conhecimento do homem. A seleção da bibliografia utilizada foi 
pensada em autores que visam o conhecimento e a construção do ser por intermédio do 
processo educativo. O problema de pesquisa que orientou a investigação buscou responder a 
seguinte questão: Como o currículo pode contribuir para a formação de cidadãos críticos e 
reflexivos, preparados para tomar decisões que irão impactar em sua vida pessoal e social? A 
pesquisa realizada teve o objetivo de analisar a bibliografia existente e as teorias tradicionais, 
críticas e pós-críticas elencadas por Silva (2015), e comentadas por Sacristán (2013), por 
Apple (2008) e outros autores, que permitiram uma nova visão e um reposicionamento do 
aluno como protagonista do processo de aprendizagem. A leitura sobre o tema trouxe como 
resultado a necessidade do empoderamento de termos que quando ressignificados permitirão 
o renascimento de uma geração que foi moldada por um currículo burocrático, que sofreu 
influências educacionais tecnicistas oriundas da revolução industrial. A reflexão sobre o 
assunto proporcionou conexões entre pensadores que valorizaram a postura do professor 
como mediador, responsável pela interpretação e aplicação do currículo em sua prática 
pedagógica. Conclui-se que o processo formativo, em que o professor valoriza as habilidades 
 
1 Mestrando em Educação e Novas Tecnologias pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). E-mail: 
leuctba@gmail.com 
2 Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor do 
Mestrado em Educação e Novas tecnologias do Centro Universitário Internacional (UNINTER). E-mail: 
mario.a@uninter.com 
3 Doutora em Educação e Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCPR). Coordenadora 
do Mestrado em Educação e Novas Tecnologias do Centro Universitário Internacional (UNINTER). E-mail: 
siderly.a@uninter.com 
mailto:mario.a@uninter.com
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17497 
 
que o aluno traz consigo, proveniente de suas experiências pessoais, legitima o conhecimento 
em todas as suas dimensões e oportuniza um renascimento social. 
 
Palavras-chave: Currículo. Cultura. Poder. Formação de professores. 
Introdução 
A variedade de experiências que um currículo escolar trabalhado com 
responsabilidade pode proporcionar é imensa, repleto de significados capazes de encontrar 
respostas para questionamentos que poderão redefinir a existência do sujeito. 
Ao discorrer sobre o tema, o leitor será convidado a percorrer o caminho das teorias 
tradicionais, críticas e pós-críticas do currículo, que foram responsáveis por mudanças 
significativas neste documento que norteia a educação. Ao enfatizar a valorização das 
experiências anteriores, com a mediação dos professores e trabalhar os temas relacionados no 
currículo, o aluno passa a desempenhar um papel ativo em sua formação, tornando-se autor do 
seu processo de conhecimento. Esse processo leva o discente a novas possibilidades, 
permitindo experiências inovadoras capazes de estimular a sua atuação crítica e criativa na 
identificação e resolução de problemas. 
Por defender um processo educativo no qual o aluno se faz autor do mesmo, foi 
desenvolvida uma narrativa sobre o significado da palavra currículo, como constituidor e 
ordenador da carreira do estudante, que enaltece e justifica a necessidade de trilhar esse 
caminho amparado pela figura do professor que se apresentará como o mediador do 
conhecimento. 
As várias teorias que conceberam o currículo como documento em constante processo 
de transformação, serão apresentadas e embasadas por autores como Silva (2015), Sacristán 
(2013), Apple (2008), Freire (2014a), Morin (2011), Eyng (2007) e outros que se dedicaram a 
estudá-las e a compreendê-las como processo social, responsável por uma transformação 
cultural, necessária para o país que ainda vive sobre as influências educacionais tecnicistas 
oriundas da revolução industrial. 
O currículo atual é fruto de discussões antigas e de uma evolução, à custa, de lutas 
travadas pela educação na busca da libertação intelectual e social do indivíduo em sua 
plenitude. As teorias pós-críticas deixaram como herança conceitos que efetuaram um 
importante papel na resignificação dos temas que envolvem o discurso sobre o currículo; a 
busca pela identidade, a apropriação da linguagem para o entendimento dos discursos 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
José Gimeno Sacristán é catedrático de Didáctica e Organização Escolar na Universidade de Valência. Foi professor nas universidades Complutense de Madrid e de Salamanca e Professor Visitante noutras universidades espanholas e estrangeiras. É autor de diversas publicações sobre cultura, ensino e educação, tendo ainda participado em diversas colectivas. Colabora habitualmente em inúmeras revistas sobre educação. Entre os seus livros editados em Portugal destaca-se "Educar e Conviver na Cultura Global. O Aluno como Invenção e A Educação Obrigatória".

Michael Apple: é sociólogo e teórico da educação estadunidense. Influenciado pelo Pedagogia Crítica e estudos sobre ideologia e currículo. Obras: "Pode a educação mudar a sociedade?" "Escolas Democráticas" entre outros
Edgar Morin: é antropólogo e filósofo francês. No livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, Morin apresenta o que ele mesmo chama de inspirações para o educador ou os saberes necessários a uma boa prática educacional.
Ariel
Realce
17498 
 
proferidos pela mídia, a descoberta da conexão entre saber e poder e a necessidade do respeito 
e da tolerância nas relações existentes fizeram com que surgisse uma compreensão 
antropológica que converge para o multiculturalismo, responsável não só por celebrar as 
diferenças, mas, por questioná-las. 
O poder do currículo e suas concepções 
 A palavra curriculum, vem do latim e pode ser traduzida como cursus honorum que 
seria a soma das honras. O cidadão, à medida que ocupava determinados cargos eletivos e 
judiciais, acumulava determinados conhecimentos e em consequência os utilizava para 
significar sua carreira, formando assim o seu curriculum. Na língua portuguesa a palavra 
currículo ganha um novo olhar conforme a orientação de Sacristán (2013). A mesma pode ser 
conceituada, primeiro como curriculum vitae, neste, tem-se a descrição e a valorização do 
percurso da vida profissional, a soma dos êxitos alcançados durante o trabalho. Já a segunda 
tradução da palavra currículo possui um sentido mais amplo, enfocando-o como o 
constituidor e ordenador da carreira do estudante, responsável por agregar e organizar os 
conteúdos que o aluno deverá aprender para trilhar este percurso. 
 Na idade média o conhecimento ideal era composto pela gramática, a lógica e a 
retórica, esse conjunto de saberes era chamado de trivium, que seriam os três caminhos ou 
disciplinas, (SACRISTÁN, 2013). Esse trio poderia ser chamado contemporaneamente de 
disciplinas instrumentais e com a somade mais uma especialidade formariam o cuadrivium, 
que seriam as quatro vias compostas pela astronomia, geometria, aritmética e música. Esse 
formato de aprendizagem constituiu um primeiro arranjo de organização do conhecimento e 
se fez presente nas universidades europeias durante vários séculos. No Brasil, o termo 
currículo chegou tardiamente no vocabulário utilizado. 
 
Em nosso contexto, o conceito de currículo aparece muito tardiamente na produção 
do pensamento educacional, nas publicações e no seu uso pelos professores. O 
Dicionário de la ERA não o apresentou até a edição de 1983, quando distinguiu duas 
acepções do termo: plano de estudo (projeto a ser realizado) e curriculum vitae 
(projeto já realizado). Nesse mesmo ano no registro de publicações com ISBN 
espanhol, apenas uma publicação apresentava em seu título um desses termos, 
curriculum ou currículo (SACRISTÁN, 2013, p. 19). 
 
 O atraso na introdução do termo e em sua significação para adequar a relação 
conteúdo, prática e transformação individual e social poderia ser indicado como um dos 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17499 
 
fatores responsáveis pela visão simplista e limitada que ainda se percebe em discursos que 
abordam o tema. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394/96) nos 
artigos 12 e 13 determina que cada escola deve elaborar de forma coletiva (direção, 
professores, alunos e comunidade), sua proposta pedagógica. Mas, a novidade da revisão 
realizada pela LDB é que a elaboração do projeto curricular que já era de responsabilidade da 
escola seja produzido de forma coletiva, dando voz a todos os que serão responsáveis por sua 
execução. Ao utilizar o termo projeto, é importante ressaltar a intencionalidade da palavra 
que visa uma projeção futura expressada nos seus processos e metas (EYNG, 2007). 
No contexto da educação no Brasil, o currículo se apresenta exercendo dupla função, 
organizadora e unificadora. Na visão organizadora os conteúdos são selecionados, ordenados 
e classificados. E na visão unificadora tem por objetivo garantir que todos os alunos tenham 
acesso ao mesmo conteúdo. Na escola, o currículo se apresenta como um instrumento 
regulador responsável por ordenar os conteúdos e as práticas que permearão o processo de 
ensino e aprendizagem do aluno, impondo regras, normas e práticas que serão determinantes 
na vida e na formação do educando. 
Quando as informações são distribuídas pelo professor, o aluno deverá exercitar a 
capacidade de juntá-las e formar então, o conhecimento que deve ser fruto de um trabalho de 
análise, reflexão e, principalmente, partilha. Para Silva (2015), o currículo se apresenta com 
vários significados que vão além daqueles limitados pelas teorias tradicionais; assim, o 
currículo é apresentado como lugar e espaço de discernimento, que permite uma viagem e 
uma trajetória capaz de forjar a identidade do aluno ao estabelecer uma relação de poder. 
 Neste contexto percebe-se que as trocas de informações entre professores e alunos 
devem ter finalidade específica, e com isso, o professor não pode se limitar em apenas 
reproduzir o currículo. Pois ele é plural, e por isso, será necessário sabedoria para dirigir os 
conflitos que serão gerados neste espaço de discernimento responsável pela transformação da 
vida do aluno. 
A herança deixada pelas teorias do currículo 
A concepção, montagem e execução do currículo educacional tem sido tema de 
grandes debates nas instituições de formação de professores. Com isso o assunto vem se 
tornando frequente entre professores e alunos e traz vários questionamentos como: O que é o 
currículo? Como é concebido? O que se pretende com ele? Esses e outros questionamentos 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17500 
 
refletem diretamente na sociedade e por isso a discussão continua. Silva (2015, p. 15) 
contribui com este pensamento afirmando que cada “modelo” de ser humano corresponde a 
um tipo de currículo. Assim, é preciso saber: Como formar cidadãos críticos e reflexivos, 
preparados para tomar decisões que irão impactar em sua vida pessoal e social? Nas 
discussões cotidianas ainda é possível observar o currículo se resumindo inadequadamente a 
uma grade curricular. Com isso, vê-se a necessidade de voltar a este tema e buscar nos autores 
uma nova ênfase para se discutir o currículo de maneira mais ampla, onde o mesmo permeará 
a vida do aluno traçando a sua identidade. 
Em 1918 os Estados Unidos da América, passavam por grandes transformações 
movidas por forças políticas, econômicas e culturais, e cada uma destas forças procurava 
naquele momento moldar a educação de acordo com seus objetivos específicos. Neste ínterim, 
Bobbitt lançou o livro The curriculum que estabeleceu o marco dos estudos focados neste 
tema. O objetivo principal era responder as questões citadas no parágrafo anterior e 
estabelecer novos contornos onde o foco deveria ser a formação do aluno e a valorização de 
suas experiências anteriores e não a especialização para o trabalho técnico. 
A principal definição de currículo presente nos debates sobre o tema é oriunda das 
teorias tradicionais, elencadas por Silva (2015), que o limitava a questões ligadas ao ensino, 
aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e 
objetivos. Esta teoria faz parte da burocratização do ensino e se não for trabalhada 
corretamente pode limitar o aluno rotulando o mesmo com base em avaliações quantitativas, 
impedindo-o de desenvolver suas habilidades. Quando o sistema tem como foco a preparação 
do aluno para a simples movimentação da economia, a formação tecnicista prevalece e o 
aluno não terá a possibilidade de evoluir em questões que dará a ele a possibilidade de 
participar e se desenvolver em debates democráticos na luta pelos seus direitos e de sua 
comunidade. 
A década de 1960 foi marcada pelos movimentos políticos e culturais que agitaram a 
época. Esses movimentos de maneira subjetiva clamavam por uma educação igualitária que 
daria vez e voz a todos e que principalmente, despertasse o senso analítico e crítico dos 
envolvidos. Assim, cada grupo reivindicava a precedência dos movimentos que deram início 
aos estudos sobre o currículo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a reivindicação a 
precedência do grupo aconteceu com o “movimento de reconceptualização”. 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17501 
 
Já na Inglaterra o sociólogo Michael Young, fundou o movimento intitulado de a 
“nova sociologia da educação” e no Brasil, a organização que buscava a discussão sobre o 
assunto era orientado por Paulo Freire que em 1968, lança a “Pedagogia do oprimido” que foi 
proibido no Brasil durante o período da ditadura militar e permaneceu inédito no país até 
1974. Na obra, Freire detalha as relações opressoras da atual estrutura social e aponta para 
novas possibilidades de mudança dando uma lição de cidadania e solidariedade. 
Neste contexto de profundas transformações as teorias críticas se fazem presentes 
reafirmando ideologias, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, 
relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e 
resistência. As teorias críticas trazem consigo, questionamentos profundos que fazem uma 
inversão nos valores das teorias tradicionais buscando novos arranjos educacionais que 
contemplassem a formação humana como um todo. Para realizar a crítica ao status quo 
proposto pelas teorias tradicionais que restringiam o currículo as atividades técnicas, as 
teorias críticas propunham a quebra de ajustes e adaptações gerando desconfiança no sistema 
e trazendo indagações que tinham em sua resposta a necessidade de transformações radicais. 
Dessa forma, Silva (2015, p. 32) afirma que: “a ideologia atua de forma discriminatória: ela 
inclina as pessoas das classes subordinadas à submissão e àobediência, enquanto as pessoas 
das classes dominantes aprendem a comandar e controlar”; por isso, o objetivo dos grupos 
revolucionários que criticavam as teorias tradicionais era de libertação intelectual e social, que 
permitiria maior autonomia dos estudantes e futuros trabalhadores. 
Por outro lado, conforme Freire (2014b), fazia-se necessária a libertação do currículo 
tradicional da classe dominadora, pois, isso permitiria uma evolução da sociedade como um 
todo. O autor comparava o processo de libertação a um parto doloroso que daria vida a um 
novo homem, liberto de suas opressões e entregue a práxis libertadora; contudo, este processo 
lento e doloroso só seria possível se as instâncias superiores permitissem que os filhos das 
classes dominadas tivessem acesso ao mesmo conteúdo que os filhos das classes dominantes 
tinham. Para Freire (2014b) o capital cultural existente deveria então ser moeda distribuída a 
todos para que posteriormente fosse possível uma negociação justa entre as classes, 
oportunizando acesso ao conhecimento por meio de um processo que envolve a 
intercomunicação e a intersubjetividade e isso só se tornaria possível se deixasse de existir a 
separação entre as classes. 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17502 
 
Por consequência das lutas travadas pelos idealizadores das teorias críticas, as teorias 
pós-críticas, receberam como herança a ênfase na identidade, alteridade, diferença, 
subjetividade, significação, discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, 
sexualidade e multiculturalismo (SILVA, 2015). O marco das teorias pós-crítica está no 
multiculturalismo, um fenômeno que tem suas raízes nos países mais desenvolvidos nos 
aspectos culturais e econômicos. 
O movimento multiculturalista, conforme Silva (2015), se apresenta de maneira 
ambígua; por um lado como movimento legítimo de reivindicação de grupos culturais que 
buscavam o reconhecimento e a valorização de sua cultura e por outro como uma simples 
solução para problemas ocasionados pela presença de grupos raciais e étnicos nos países de 
cultura nacional dominante. O multiculturalismo está presente na pauta atual dos debates 
políticos contemporâneos quando se discute desde a exploração colonial até o processo 
imigratório nos países europeus. 
A ênfase que se busca nas teorias pós-críticas para ressignificar o currículo como 
multiculturalista, tornando-o o documento responsável pela formação do aluno em sua 
plenitude, enfatiza a necessidade da tolerância e do respeito para que haja maior harmonia 
entre as culturas que dividem o mesmo ambiente. A questão vai além da simples aceitação e 
ressalta a necessidade do respeito e da tolerância nas relações de poder existentes, pois só 
assim, será possível a unificação do currículo e a universalização do conhecimento. 
Ao conceituar essas teorias tem-se a oportunidade de poder organizar, reestruturar e 
sonhar com uma realidade diferente. O aprofundamento do professor, do aluno e da 
comunidade nos temas que envolvem o currículo ajudará a formar cidadãos conscientes do 
seu papel na sociedade, capazes de analisar as situações que permeiam sua realidade e tomar 
decisões responsáveis sobre o seu futuro e os impactos das mesmas no seu ambiente. 
Relações de poder que envolve o currículo 
 As relações de poder que envolvem a construção do currículo ultrapassam o discurso 
dos pais, dos professores e dos alunos e chegam ao campo político. Os governantes utilizam o 
currículo para moldar a cultura da sociedade à sua maneira, impondo valores que vão ao 
encontro de interesses próprios das classes dominantes, com objetivos focados no trabalho 
para alavancar a produção e gerar mais riqueza para sua classe. Neste sentido Apple (2008) 
reforça este pensamento ao falar sobre as lutas educacionais e sua ligação com a política: 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17503 
 
 
As lutas educacionais estão intimamente vinculadas aos conflitos em áreas 
econômicas, políticas e culturais mais amplas. Assim, a influência crescente de 
posições direitistas em cada uma dessas áreas é acentuada e tem tido grandes efeitos 
na educação e nas políticas da identidade e da cultura, nas disputas sobre produção 
distribuição e recepção do currículo, bem como nas relações entre mobilizações 
nacionais e internacionais. Juntos esses domínios formam o “palco” em que se 
encena atualmente o teatro político da educação (APPLE, 2008, p. 19). 
 
 As posições direitistas citadas por Apple (2008) e implícitas no currículo corroboram 
para que sua formação transmita uma realidade parcial, formada por discursos que visam 
doutrinar os ouvintes por intermédio das noticias vinculadas nas rádios, nos jornais, na 
televisão, nos livros didáticos e outros. O autor faz uma crítica ao neoliberalismo, 
característico da sociedade norte-americana que reduz a democracia à escolha livre do 
consumidor; com isso, o teatro do capitalismo brada constantemente a nossa liberdade, mas, 
somente para comprar. 
É importante lembrar que a geração nascida após o ano 2000 é a geração Z, também 
conhecida como nativos digitais; esta geração navega por vários ambientes como jogos, redes 
sociais, blogs e outros; esses jovens são consumidores digitais que incorporam com muita 
facilidade uma grande quantidade de informações, absorvendo instantaneamente tudo o que 
vê e o que ouve. Por isso, há a necessidade de filtros para que estas informações sejam 
refinadas, evitando que esta geração caia no universalismo pregado em muitas instituições de 
ensino que desvaloriza a singularidade do aluno. O currículo dentre as suas várias funções 
deve ser esse filtro capaz de ajudar o aluno a fazer esse refinamento dos conteúdos recebidos 
pelos vários meios de comunicação. 
 Neste contexto, a figura do professor é de suma importância, pois ele, ao se posicionar 
criticamente conseguirá ajudar o aluno a vislumbrar e entender as relações de poder existentes 
que interfere direta e indiretamente em seu meio. A busca pela excelência deve ser a força 
motora que impulsiona as pessoas durante a sua vida. Entretanto, a omissão dos temas e das 
discussões sobre o conhecimento do ser, do mundo, das organizações que o administra, da 
realidade que o circunda e de tantos outros que se fazem pertinente, tornaria o professor 
negligente a sua função, seja por opção ou por imposição daqueles que governam. Por isso, 
Freire (2014d) enfatiza a necessidade do respeito à autonomia do aluno que será responsável 
pelo desenvolvimento de algumas virtudes importantes para a sua formação: 
 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17504 
 
Saber que devo respeito à autonomia, a dignidade e à identidade do educando e, na 
prática, procurar a coerência com este saber, me leva inapelavelmente à criação de 
algumas virtudes ou qualidades sem as quais aquele saber vira inautêntico, 
palavreado vazio e inoperante (FREIRE, 2014d, p. 61). 
 
Seu papel será o de fazer a crítica à doutrinação imposta no currículo e também de dar 
voz aos que foram silenciados. Freire (2014d) relata a necessidade de entendimento dos 
discursos vinculados aos vários canais para que haja a sobrevivência do todo social. A 
evolução constante do homem resulta na humanização do ser que, com a busca incessante por 
respostas concretas o leva a uma reflexão ontológica a procura de libertação intelectual e 
social. 
 Dessa forma o papel ativo do currículo, que permitirá a libertação do ser, só será 
consolidado quando o professor adotar em suas práticas o diálogo reflexivo sobre as questões 
e discursos que moldam o aluno; com isso será possível, uma reorganização mental mediada 
pela figura do educador, capaz de transformar beneficamente o percurso que o aluno deverá 
fazer. Neste processo de transformação o professor possui um papel ativo que deve instigar o 
aluno na busca por respostas colocando-o comofigura central no processo do conhecimento, 
responsável pela decodificação das mensagens recebidas e concomitantemente pela emissão 
de novos discursos. 
 As teorias pós-críticas deram ao currículo uma nova identidade, com maior 
significação ao discurso que o envolve e principalmente excluindo a visão neutra herdada 
pelas teorias tradicionais, que o colocava como imune às questões ideológicas, sociais e 
culturais. O discurso transmitido pelos professores embasados pelo currículo deve sinalizar 
um processo complexo de leitura, reflexão, crítica e valoração da realidade para dar sentido a 
existência e as ações resultantes do processo educacional. Sacristán (2013) sustenta que as 
determinações do currículo são tentativas de encontrar respostas, para desmentir as falsas 
simplificações apregoadas com o objetivo de manobrar a massa. 
 De acordo com Eyng (2007) a proposta atual que coloca o currículo como um 
instrumento responsável pela transformação da vida do aluno foge a época, onde as teorias 
tradicionais, o limitava à grade curricular, com sequencia de conteúdos que deveriam ser 
aplicados obrigatoriamente dentro do prazo estabelecido, nesse período, a didática estava 
amarrada a uma visão prescritiva e instrumental. Por isso, a luta atual para ressignificação do 
currículo deve buscar na didática uma nova metodologia composta por reflexão, entendimento 
e prática. 
Ariel
Realce
17505 
 
 Ao optar por uma sociedade democrática a população deve exigir dos dirigentes do 
sistema educacional, governantes, administradores e professores que formem cidadãos 
democraticamente preparados para exercerem seu papel reflexivo, crítico e prático. Em seu 
cotidiano, os alunos devem estar envoltos a um processo constante de questionamentos e 
investigações dos temas da sua realidade, pois, o processo de conhecimento e de construção 
do ser e do mundo só acontece mediante a reorganização da experiência pessoal e social 
(DEWEY, 1979). 
 A legitimação de um currículo que se apresente como verbo de ação positiva e 
transformadora na vida do aluno é urgente e depende em partes da ação do professor que terá 
a liberdade de fazer uso de diferentes metodologias para alcançar seus objetivos pedagógicos. 
A valorização do outro e dos conhecimentos prévios que o aluno traz consigo ao chegar à 
escola possui dimensões condicionantes para a consolidação do processo educativo. Por isso, 
a soma da valorização dos conhecimentos com metodologias adequadas consentirá para a 
formação de indivíduos com maior autonomia na tomada de decisões. A aprendizagem poderá 
ser favorecida pela problematização quando o professor conseguir contextualizar os temas de 
suas aulas a realidade do aluno. Os exemplos para as explicações baseados nas experiências 
empíricas do aluno são capazes de fazer com que a assimilação se torne um processo familiar. 
Com isso, o ato de aprender terá o seu significado mais aprofundado por valorizar a bagagem 
cognitiva do aluno e conceituar suas experiências anteriores. 
 A valorização dos conhecimentos prévios trazidos pelo aluno, segundo Freire (2014c), 
ajudará no seu processo de amadurecimento e de formação de conceitos éticos e morais que o 
acompanharão durante toda a sua vida e serão indispensáveis à convivência em sociedade. 
Com isso, o período de amadurecimento dará ao sujeito a autonomia para que ele se assuma 
também como produtor do saber. Assim, ao se tornar sujeito de sua formação, o aluno 
conseguirá deixar para trás a ideia de que o ato de conhecer faz parte de um processo 
automático onde ele seria programado para aprender sem a possibilidade de questionar os 
porquês das teorias impostas. 
 Hoje ainda se ouve relatos sobre professores que mantém uma postura de 
superioridade sobre seus alunos, impondo uma barreira que os coloca em um nível superior. 
Mas aos poucos, seja por opção própria, por exigência das instituições ou dos alunos esse 
número de profissionais irredutíveis às mudanças vêm diminuindo e dando abertura para esse 
modelo de formação onde professor e aluno ocupam o mesmo espaço e a mesma posição. Ao 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17506 
 
adotar uma postura dialógica o professor tem no aluno, não um ouvinte; mas sim, um 
interlocutor capaz de concordar, discordar e acrescentar para enriquecer o discurso proferido. 
 A inserção e a apropriação de novos conceitos como: democracia, justiça social, 
igualdade, fraternidade, solidariedade, redistribuição, reconhecimento, etc.; vão contribuir 
para que os sujeitos rompam definitivamente com o regime de submissão que os limitava a 
um vocabulário onde predominava os deveres e não os direitos do cidadão (SACRISTÁN, 
2013). A apropriação da linguagem utilizada ajuda no processo de libertação das classes 
oprimidas e intimida seus opressores que fazem uso de longos discursos para manterem o 
povo enfraquecido devido à falta de entendimento. A compreensão dos discursos irá favorecer 
a cidadania e empoderar a classe trabalhadora. Por isso, o enfoque à necessidade de 
conhecimento sobre o verdadeiro significado das palavras liberdade, democracia, direitos, etc. 
dará ao homem mais autonomia sobre as suas escolhas. Os jovens, moldados por um currículo 
que valoriza o ser e busca o seu pleno desenvolvimento, serão capazes de se posicionar 
criticamente e buscar seus direitos, debater criticamente, desenvolver suas habilidades e 
cumprir com seus deveres para a transformação da sua realidade. 
 Os responsáveis pela escola precisam ser conscientizados sobre o poder que ela 
exerce sobre as futuras gerações. Ao falar sobre o desejo de um mundo melhor e de uma 
sociedade mais justa, não se pode esquecer que para a realização desse sonho é necessário 
transformar aqueles que irão concretizá-los. Morin (2011) ao elencar os “Sete saberes 
necessários à educação do futuro”, lança um desafio aos atuais pensadores de rever seus 
conceitos e suas estratégias para repensar os rumos desejados para a educação. O livro relata a 
necessidade de rever e repensar as frentes de lutas que buscam uma educação mais justa, com 
“mentes armadas para o combate rumo à lucidez” (MORIN, 2011, p. 15). 
 O homem em sua plenitude é ao mesmo tempo físico, biológico, psíquico, cultural e 
histórico. Ao chegar à escola essa plenitude que o forma é desmembrada, compartimentada 
em disciplinas estanques, que ensina ao jovens as partes e não unifica o todo para que este 
consiga compreender-se em sua dimensão ontológica. Morin (2011) enfoca que com isso, 
para a autocompreensão, a condição humana deveria ser o objeto essencial da aprendizagem, 
capaz de fazer o homem reconhecer sua racionalidade para identificar seus limites e buscar a 
superação dos mesmos. O processo de autoconhecimento é extremamente doloroso, pois, 
envolve a aceitação, que será um processo de resignação interior, de reconhecimento das 
fragilidades e de luta para superação de obstáculos. Assim, o processo de autocompreensão 
17507 
 
será o meio e o fim para o abandono de concepções deterministas que predizem um futuro já 
estabelecido, fadado à aceitação e a submissão. 
 Contudo, Freire (2014a) afirma que o homem não nasce pronto, e que a sua construção 
como ser social se dá no processo de constante experimentação. Ao se construir, desconstruir 
e se reconstruir, o homem se torna mais forte frente às adversidades encontradas. O autor 
ainda reforça que não nasceu professor pronto e acabado, mas, que se fez ao longo do 
caminho, com construção e reconstrução árdua e resignificação constante de valores e de 
juízos. Assim, conhecimento do ser e sua construção só serão possíveis por intermédio desse 
processo doloroso e imprescindível que poderá e deverá ter início na execução da prática 
curricular. 
 
Considerações finais 
 
O currículo como organização e padronização do conteúdo escolar apresenta conexões 
e questões de poder que interferem e transformam a vidadas pessoas. 
Com os passar dos anos e o desenvolvimento das teorias que fundamentam o currículo 
como símbolo de transformação, foi possível dar a ele, o protagonismo na transformação da 
vida dos indivíduos. As lutas motivadas para sua resignificação permitiram uma 
ressocialização dos acadêmicos que se depararam com um universo diferente e mais exigente 
ao falar sobre educação. As teorias pós-críticas reavivaram velhos conceitos e os introduziram 
em grupos menos favorecidos que passaram a buscar por intermédio da educação uma 
evolução e emancipação dos poderes que os reprimia. O enfrentamento as políticas que 
buscavam moldar o sujeito a seu favor foi fortificando as discussões sobre o currículo e a 
necessidade de enxergar nele um instrumento poderoso, capaz de transformar a realidade. O 
estabelecimento de mecanismos de análise também somou no processo de evolução do 
currículo, exigindo responsabilidade na sua construção e na sua aplicação prática. 
Mas, não se podem julgar suas teorias como prontas e acabadas, ainda há muito que se 
discutir para dar continuidade a esse processo de libertação intelectual e social. O fato de a 
humanidade estar em constante evolução, exige que o currículo evolua também em suas 
dimensões sociais, políticas e culturais. 
Enfim, o currículo deverá oportunizar as várias gerações que bebem da sua fonte, 
experiências profundas, transformadoras e elucidativas que servirão como arauto de libertação 
Ariel
Realce
Ariel
Realce
17508 
 
graças às novas conexões estabelecidas entre currículo e poder. E como uma partitura 
apresenta em sequencia as notas musicais que deverão ser tocadas por seu intérprete para a 
execução de uma determinada canção, o currículo é apresentado ao professor como um polo 
norteador responsável não só pela junção de informações, mas principalmente pela 
organização e transformação dessas informações em conhecimento. 
 
REFERÊNCIAS 
 
APPLE, Michael Whitman. Currículo, poder e lutas: com a palavra, os subalternos. 
Tradução Ronaldo Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 
9.394, de 20 de dezembro de 1996. 
 
DEWEY, John. Democracia e educação. Tradução Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. 4. 
ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979. 
 
EYNG, Ana Maria. Currículo escolar. Curitiba: Ibpex, 2007. 
 
FREIRE, Paulo. Política e educação. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014a. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 57. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014b. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 21. 
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014c. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 48. ed. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014d. 
 
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução Catarina 
Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. 2. ed. 
São Paulo: Cortez, 2011. 
 
SACRISTÀN, José Gimeno. O que significa o currículo? In: SACRISTÀN, José Gimeno 
(Org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013. p. 16, 17, 19. 
 
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do 
currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.

Outros materiais