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Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor FABÍOLA MACIEL SALDÃO Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Autor FABÍOLA MACIEL SALDÃO Olá. Meu nome é Fabíola Maciel Saldão. Sou formada em Letras, com Mestrado em Estudos Linguísticos pela UNIFESP - SP, com uma experiência profissional sólida na área de educação básica pública sendo professora de Línguas por mais de 12 anos. Atuei também como Coordenadora Pedagógica coordenando projetos e ações voltadas para a formação de professores e tenho experiência na produção de materiais didáticos para EAD e para cursos de Línguas. Sou uma profissional apaixonada pelo o que faço e que acredita no poder da educação para impactar o mundo. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho, irei contribuir com reflexões sobre avaliação. Conte comigo! INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Ensino, aprendizagem e avaliação ................................................ 12 Reflexões sobre ensino e aprendizagem ................................................12 Reflexões sobre Avaliação ...................................................................................16 Um resumo das principais tendências da Avaliação ..................24 A concepção de fracasso escolar ...................................................28 Algumas reflexões sobre o fracasso escolar .......................................28 Por uma nova cultura avaliativa .......................................................33 Avaliação Mediadora: um caminho construtivo ................................33 A experiência de uma nova proposta de avaliação ...............36 Oficina de Avaliação – a proposta de um roteiro ............................ 36 Avaliação Teoria e Prática 7 UNIDADE 02 Avaliação Teoria e Prática8 Muitas são as questões nas reuniões pedagógicas e em encontros entre professores sobre os porquês dos fracassos dos alunos nas avaliações e nas atividades pedagógicas realizadas ao longo de cada bimestre letivo. Muitos são os estudos realizados nas universidades sobre o que de fato contribui significativamente para uma avaliação coesa, reflexiva e significativa da aprendizagem dos alunos. Há inúmeros questionamentos por parte dos professores sobre o impacto da homogeneidade nos padrões avaliativos em sala de aula e se de fato contribuem para a produção do fracasso escolar ou se é capaz de modificar o cenário e romper com as amarras deste fracasso. ´ É importante considerarmos que os resultados da avaliação continuam expondo uma escola que fracassa e oportuniza a reflexão sobre o que é educação, quais são suas bases e objetivos sólidos e o que está intrinsicamente atrelado às práticas avaliativas e que necessita ser instrumento de reflexão e proposta de mudança. É necessário refletir e aprofundar conhecimentos sobre qual escola queremos e qual sistema de avaliação. Que tal refletirmos um pouco mais a respeito? INTRODUÇÃO Avaliação Teoria e Prática 9 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 – Psicopedagogia, nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: • Analisar as relações entre ensino, aprendizagem e avaliação; • Identificar os fundamentos das concepções de fracasso escolar; • Identificar os desafios postos para as instituições educativas na construção de uma nova cultura avaliativa, no contexto do projeto político-pedagógico; • Elaborar instrumentos para a verificação da aprendizagem. Preparados para enfrentarem este desafio? Mãos a obra. Leitura, reflexão e muitos conhecimentos construídos e partilhados! OBJETIVOS Avaliação Teoria e Prática10 Ensino, aprendizagem e avaliação Ao término deste capítulo você será capaz de refletir com clareza sobre os principais aspectos que implicam na construção de uma relação efetiva e significativa entre ensino aprendizagem e avaliação. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Reflexões sobre ensino e aprendizagem Estamos vivendo em um mundo globalizado, onde, a informação circula de uma forma rápida e precisa, esse avanço tecnológico no qual estamos imersos criou um mundo acelerado, negócios, saúde, prestação de serviços e na educação consequentemente nossas crianças tem entrado mais cedo nas escolas já permeadas de informações e por muitos motivos buscam ali no chão da escola uma segurança. Algumas estão ali para de fato se desenvolverem rapidamente sendo essa uma decisão dos pais, outras estão por que os pais necessitam trabalhar para sustentar a casa e a escola acaba sendo uma opção melhor para “cuidar” do filho ou também pelo interesse de se apropriar dos benefícios ofertados pelas políticas públicas do governo as quais utilizam como um dos critérios a matrícula do filho na escola. A partir deste contexto, obviamente temos uma mudança no ensino ou na prática de ensinar, como muitos teóricos preferem dizer. A prática em sala de aula a partir de uma realidade tecnológica e com um público tão heterogêneo, com objetivos tão distintos, traz a necessidade de realinhar conteúdos didáticos e abordagens de ensino e os desafios borbulham de tão forma que chegamos a sempre questionar “Qual escola queremos? O que queremos ensinar a estas novas gerações?”. Para Paulo Freire “Ensinar exige apreensão da realidade” – para ele o professor possui a necessidade incluir em sua prática ou em sua experiência educativa a natureza das coisas, ou seja, temos que apreender o que de fato está acontecendo no contexto o qual estamos inseridos, as relações constituídas ali. Se de fato estou lecionando para um grupo de crianças tenho que apreender os processos e características da passagem entre a esfera da heteronômica para a autonomia. Se atuo em uma escola em uma comunidade periférica da cidade tenho Avaliação Teoria e Prática 11 que apreender ali os elos, os afastamentos, as dificuldades, o que socialmente impede ou possibilita o meu aluno de aprender. O ensino exige aventurar-se pelos caminhos tortuosos, mas ao mesmo tempo desafiadores da reflexão sobre a prática. Neste percurso ou podemos chamar neste processo de ensino, o que podemos ou devemos considerar enquanto prática de ensino? Para Zabala (1998) “A estrutura da prática obedece a múltiplos determinantes, tem sua justificação em parâmetros institucionais, organizativos, tradições metodológicas, possibilidades reais dos professores, dos meios, condições físicas existentesetc.” Nesta perspectiva podemos considerar o ensino a partir do planejamento e da avaliação com base em documentos curriculares e expectativas de aprendizagens, que de fato contribuem para que a engrenagem toda em sala de aula funcione e também proporcionam p algumas crenças docentes com relação aos elementos pedagógicos sejam constituídas. Por exemplo, da onde será que nasceu a prática de professores olharem e assinarem atividades e conteúdos desenvolvidos nos cadernos e considerarmos como um instrumento avaliativo? Será que existe algum documento curricular que norteia esta prática? Para Sacristán ( )”a prática boa e correta não pode ser deduzida diretamente de conhecimentos científicos descontextualizados das ações realizadas em situações reais”. O ato de ensinar, a prática de ensinar e a profissionalidade do docente, antes de se deduzir simplesmente da ciência, deve assentar-se sobre o bom julgamento ilustrado pelo saber e apoiar-se num senso crítico e ético. É de extrema importância ressaltar que para que uma aprendizagem aconteça, ela deve ser significativa e produtiva, o que de fato deve ser enxergada como um roll de significados, relacionando-se às experiências anteriores e vivências pessoais dos alunos, proporcionando a formulação de problemas de algum modo desafiadores que incentivem o aprender mais, a criação de diferentes tipos de relações entre fatos, objetos de aprendizagem, acontecimentos, noções e conceitos, desencadeamento, modificações de comportamentos e contribuindo para utilização do que é aprendido em diferentes situações. Ensino não é uma mecanização de habilidades de habilidades. Paulo Freire já trouxe Avaliação Teoria e Prática12 contribuições a respeito em seus escritos, só há aprendizagem quando houver participação consciente da criança, como sujeito do processo. Se acreditarmos realmente nisso, temos de acreditar que caminhamos para processos de auto avaliação. Os instrumentos de avaliação que sempre estudamos são importantes e necessários, porém precisamos repensá- los e realinhá-los ao modelo de escola atual e também quanto ás suas funções avaliativas. A prova, por exemplo, é, sim, algo importante, mas ela avalia apenas alguns aspectos sobre aprender um conteúdo em específico. Não sinaliza resultados de outros elementos que necessitam ser observados na formação do aluno. E com a realização da prova podemos entender que o mais importante não é a quantidade que o aluno demonstra saber, mais a qualidade daquilo que ela está sabendo e por meio da auto avaliação, o aluno poderá conscientizar-se de que é o seu principal agente avaliador. Necessitamos proporcionar estes momentos durante toda a aprendizagem para que esta tenha um caráter significativo real a cada aluno. Pois, precisamos entender que nada é mais motivador do que sentir-se capaz e envolvido com o objeto a ser aprendido. Quando a aprendizagem é significativa e a avaliação uma atividade formativa, ela estará sempre como uma amiga da excelência do desempenho. A perspectiva da mudança considera que o aluno deseja e está disposto a aprender e quer fazer isso sem o medo e o peso da discriminação. Acredita-se que é hora de parar de questionar as mesmas coisas relacionadas avaliação e partir para colocar em prática nossas reflexões, análises e objetivos buscando uma escola mais dialógica e inclusiva. A escola tem sido abordada como espaço de realização tanto dos objetivos do sistema de ensino quanto dos objetivos de aprendizagem. Com efeito, a escola tem uma tarefa muito clara que é a transmissão e construção de cultura, da ciência, da arte, preparar os alunos para o trabalho, para a cidadania, para a vida cultural, para a vida moral. Tal prática docente realizada nas escolas poderá ser caracterizada como tradicional, tecnicista, escola novista e sociocultural, segundo Romanowski (2007). A prática tradicional tem como objetivo durante a prática do docente a transmissão do conhecimento o qual deve ser assimilado pelos alunos à base desse enfoque está na seleção dos conteúdos. O educador Avaliação Teoria e Prática 13 privilegia a aula expositiva tornando assim, o aluno um memorizador dos conteúdos. Quando à avaliação é rigorosa e centrada na reprodução dos conteúdos, sempre privilegiando reprodução de informações, no método tradicional o professor é autoritário e se considera o detentor do saber. A prática tecnicista o professor passa a ser instrumental, pois nesse método ocorre a valorização da técnica aplicada ao ensino. A Ação instrumental do professor exige o domínio da disciplina ensinada, o conhecimento de técnicas para direcionar as atividades didáticas e os procedimentos de diagnóstico, assim como solução de problemas de aprendizagem. Esse enfoque objetiva enfatizar o desenvolvimento de competências e atitudes para formar o profissional a atuar no mercado de trabalho. Escola Nova tem como objetivo a promoção da aprendizagem dos alunos. O professor é visto como mediador para promover essa aprendizagem, sendo visto também como um facilitador, um artista que deve empregar sua sabedoria, experiência e criatividade para agir na promoção das condições do desenvolvimento para a aprendizagem dos seus alunos que passam a ser o centro do processo escolar. A valorização acontece na prática docente, pois o próprio professor é considerado um aprendiz. O enfoque sócio cultural considera a prática docente como reflexão para reconstrução ou transformação social. A principal meta é contribuir para a mudança da sociedade. Inclui como princípios da atividade do professor o respeito ao caráter ético da atividade ensino, assim como, a importância dos valores que regem a intencionalidade educativa apresentada durante todo o processo. Nesse sentido, a educação escolar consiste em promover mudanças qualitativas do desenvolvimento e na aprendizagem. A aprendizagem escolar como se sabe, tem suas especificidades, requer determinadas condições e exigências tanto dos alunos como dos professores e da própria escola, sob o risco de se comprometer o que a escola se propõe. Se acreditarmos que o objetivo mais democrático da escola é prover a todos sólida aprendizagem e os meios cognitivos e instrumentais para compreender a realidade e atuar nela de modo crítico e criativo, é preciso saber que condições sociais, físicas, cognitivas, afetivas, psicológicas, pedagógicas, são necessárias para isso. Avaliação Teoria e Prática14 Figura 1 Fonte: Freepik Reflexões sobre Avaliação Nos últimos tempos, diversos teóricos pesquisaram a questão da avaliação. No Brasil, é possível destacar, por exemplo: Hoffman (1991), Luckesi (1992, 1994), Romão (1998) e Romero (2000) dentre outros. Em outros países, autores como Katz (2000), Lunt (1994) e Perrenoud (1998), dentre outros também pesquisaram muito sobre o tema. O principal norteador da pesquisa é a busca de uma avaliação mais coerente, esses autores têm questionado a finalidade de tipos mais normativos de avaliações, evidenciando que sua função é a de hierarquicamente incluir alguns alunos à medida que exclui outros – dividindo crianças por sua origem sociocultural. No entanto, a maioria desse material não demonstra para o professor como transformar a teoria defendida em instrumentos e prática. A avaliação sempre se fez presente nos meios escolares e, ao longo da história, tem sido usada de diferentes formas, com diferentes objetivos, metodologias. Na Antiguidade não havia processos de avaliação institucionalizados. Avaliação Teoria e Prática 15 Na antiguidade, não havia nenhuma organização institucional da avaliação. O discípulo acompanhava o mestre, o saber transmitia-se sob forma de diálogo e interrogação. Esta abordagem supõe o sujeito como lugar de construção do saber, o que levou, por um lado, a centrar o ensino nele; mas também considerar de certa maneira,o saber como se fosse algo previamente inscrito no sujeito. (CHARDENET, 2007 p. 147). Nesta perspectiva, refletir sobre avaliação no contexto escolar significa considerarmos como tomada de decisões dirigidas a melhorar o desempenho em sala de aula, ou seja, o processo de ensino e a aprendizagem dos alunos. Estudar quais são os caminhos para atrelar a avaliação ao desempenho implica intrinsicamente em estudar as funções das avaliações, quais são seus reais e sólidos objetivos em sala de aula. O teórico Luckesi (2005) considera que o papel da avaliação é diagnosticar a situação da aprendizagem, proporcionando assim uma melhor tomada de decisão para um melhor caminho na prática educativa, com vistas à melhoria da qualidade do desempenho do educando. Por este viés, a avaliação, segundo Luckesi, é um processo dinâmico, pois permite a constante busca de meios pelos quais todos os educandos possam aprender, sendo assim inclusiva e democrática. Luckesi considera a realidade a serviço da obtenção do melhor resultado possível em sala de aula, podemos até fazer uma comparação com os dizeres de Paulo Freire utilizados na abertura deste capítulo “ensina exige apreensão da realidade”. Para o autor, seja satisfatória ou insatisfatória, agradável ou desagradável considerar a realidade é o ponto de partida para qualquer prática de avaliação. Tomamos como exemplo uma turma de 6º ano que na Avaliação Bimestral de Inglês não conseguiram atingir as habilidades dispostas no Currículo da disciplina em um instrumento avaliativo específico como uma Prova bimestral, o olhar do professor para os resultados é de apreensão da realidade e de reflexão sobre quais foram os caminhos percorridos até ali na construção da aprendizagem, assim compreende-se a avaliação da aprendizagem escolar como um ato amoroso, “O ato amoroso é aquele que acolhe a situação, na sua verdade (como ela é)” (LUCKESI, 2005), é um estado psicológico oposto ao estado de exclusão. Avaliação Teoria e Prática16 Para Hoffmann (1993), “a avaliação é uma reflexão permanente sobre a realidade, e acompanhamento, passo a passo, do educando, na sua trajetória de construção de conhecimento”. Por esta perspectiva, podemos considerar o professor como um avaliador que não se assusta com a realidade ali disposta, mas que utiliza os resultados para observar esta realidade ainda melhor e assim a partir de artefatos pedagógicos e de reflexões sobre a prática em sala de aula busca conhecer verdadeiramente esta realidade e a partir dele produzir um planejamento estratégico que proporcione a superação de limites e a ampliação das possibilidades didáticas com vistas à garantia da aprendizagem. É relevante considerar que para muitos teóricos o que ocorre nas escolas são exames, em vez de avaliação, pois não é valorizado o processo em si de análise dos resultados e sim verificado a partir de exames a classificação do desempenho dos alunos, com o objetivo da reprovação e da aprovação. Para Luckesi, “a prática do exame, devido a operar com os recursos de aprovação/reprovação,obrigatoriamente conduz à política da reprovação, que tem se manifestado como o mais consistente álibi para o fracasso escolar” (LUCKESI, 2005, p. 19). Figura 2 Fonte: Freepik Avaliação Teoria e Prática 17 A avaliação como classificatória e autoritária ainda é exercida na maioria das escolas e valorizada em muitos métodos de ensino. A concepção mais assertiva com relação à avaliação é a via de mão dupla entre diagnosticar e intervir. Podemos comparar com a situação da ida ao médico, recebemos o diagnóstico de um problema de saúde e a intervenção seja a partir do uso de um medicamento por um período de tempo ou algumas recomendações como uma dieta restritiva ou algum outro procedimento, depois de algum tempo retornamos ao médico para uma reavaliação desta intervenção e para saber como foi o desenvolvimento da medicação e das recomendações fornecidas. A avaliação a partir desta perspectiva, partindo de um olhar diagnóstico, serve de base para tomadas de decisão no sentido de construir conhecimentos, habilidades e hábitos que possibilitem o desenvolvimento. A partir de então os erros são analisados de maneira mais positiva, sendo o indicador do processo de aprendizagem, dando informações sobre o que lê, sabe e também do que não foi apreendido. Os equívocos dos alunos passam a ter um valor construtivo e devem ser utilizados como o recurso de observação, de diálogo, de correção, de aperfeiçoamento e construção do conhecimento. O processo de avaliar é a partir de uma mediação contínua a qual se destina a acompanhar, entender e proporcionar a contínua progressão do aluno em todas as etapas. Não é uma lista de exercícios aplicados em determinado dia em horário que trará o resultado para os conteúdos desenvolvidos ao longo do bimestre, Hoffman (1993) afirma que existem os ajustes aos percursos individuais de aprendizagem que se dão no coletivo e, portanto, em múltiplas e diferenciadas direções que a partir de um acompanhamento contínuo do professor em relação ao desempenho, desenvolvimento e apropriação do conhecimento do aluno, em uma ação conjunta no qual se mostra e possibilitam o progresso na aprendizagem. Vasconcellos (2013, p. 142) afirma que “Ensinar é preciso. Classificar não é preciso”. O autor compreende que muito mais que uma visão classificatória da avaliação, o objetivo concreto da avaliação deve ser sempre de direcionar novos rumos na resolução de situações problemas. Não existe portanto etapas a serem cumpridas e estanques, Avaliação Teoria e Prática18 trata-se de um processo contínuo de trabalho pedagógico em sala de aula com foco em novos conhecimentos, temos aqui a citação famosa de Hoffmann (2009) “a avaliação enquanto mediadora na experiência educativa significa acompanhar o aluno em ação-reflexão-ação”. [[Saiba Mais]] Phillippe Perrenoud escreveu a obra Escola e Cidadania – O papel da escola na formação para a democracia pela Editora Artmed em 2005 – esta obra traz algumas reflexões importantes sobre o papel da escola enquanto espaço democrático de convivência e de aceitação das diferenças. Mas este viés tradicional da avaliação classificatória está presente ainda nas escolas por estar relacionada à experiência do professor enquanto aluno. Luckesi (2005) traz a seguinte afirmação: “Em nossa vida escolar, fomos muito abusados com os exames (...)”. “(...), hoje no papel de educadores, repetimos o padrão”. Ao longo da história da educação o professor é visto como o elemento central do processo educativo e no ato de avaliar ele é visto como o responsável por atribuir conceitos e notas. A partir desta perspectiva, a postura do professor é autoritária e punitiva, onde o professor é tido como o “senhor da verdade”. O objetivo é bem claro, é o estabelecimento de uma classificação do aluno para fins de aprovação ou reprovação, considerando uma abordagem em que a aprendizagem tem um prazo determinado, ou seja, na hora, no momento exato de aplicação do instrumento (prova, atividade, questionário etc...) Hoffmann (1993) afirma que há em muitas normas e procedimentos curriculares que trazem padrões de avaliação que visam a classificação e faltam também subsídios teóricos e metodológicos que lhe dêem segurança para mudar a prática avaliativa e assim contribuir para que o desempenho do aluno seja analisado, observado e aprimorado de uma forma mais justa e democrática. A concepção mais moderna da avaliação, a qual considera o diagnóstico e a intervenção, ao longo do processo é complexa ao ser desenvolvida dentro da escola por requerer a competência pedagógica. Em muitas circunstâncias os professores se vêem permeados de orientações a serem seguidas relativas à avaliação da aprendizagem o que contribui para que estes não desenvolvam práticas mediadoras. Avaliação Teoriae Prática 19 Além disso, há também certo desconhecimento e inexperiência em realizar esta atividade tão importante na prática pedagógica e que por muitas vezes é realizada de forma muito rápida e sem reflexão. Podemos considerar que esta concepção de avaliação traz o conceito de investigação enquanto proposta para trabalhar contra as situações excludentes envolvem o desempenho e aprimoramento da aprendizagem, pois busca constantemente este processo dinâmico e dialógico entre avaliar e aprimorar o que se aprende o que ainda falta aprender e em qual nível o educando se encontra. Para Esteban (2001) além de diagnosticar, a avaliação tem a função de propiciar a autocompreensão do nível e das condições em que se encontram tanto o educando quanto o educador. Esse reconhecimento do limite e da amplitude de onde se está possibilita uma motivação e a consequente contribuição tanto para auxílio quanto para o aprofundamento da aprendizagem. Assim, é objetivo pontual da avaliação, de acordo com Furlan (2007), auxiliar a construir conhecimento e a interferir ativamente em uma situação em curso e assim o professor pode desenvolver habilidades docentes que possibilitam um trabalho pedagógico mais contextualizado e uma prática avaliativa mais contextualizada e mediadora além de melhor conhecer as formas como os seus alunos aprendem, melhorando então sua intervenção pedagógica. Esse contexto nos leva a concluir que, sendo a avaliação um meio imprescindível para a aprendizagem, o processo educativo deve apontar para a construção de uma prática avaliativa qualitativamente mais significativa, comprometida com a aprendizagem e, consequentemente, com o crescimento pessoal e intelectual do educando. Nesse sentido, ela deve ser entendida como processo integrado com todas as outras atividades desenvolvidas pelo educando, as quais subsidiam a sua aprendizagem. É certo que a avaliação vem ocorrendo como um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade, estando claramente a esse serviço, mas é claro também que isso não pode continuar, e para tanto precisamos praticar uma avaliação que se proponha a transformar a sociedade. Para chegarmos a uma mudança substancial na prática avaliativa, precisamos transformar a avaliação educacional escolar em diagnóstica, Avaliação Teoria e Prática20 só assim a maneira de avaliar vai atender a uma prática pedagógica que esteja de fato preocupada com a transformação social, para tanto deverá deixar de ser autoritária e conservadora, buscando mudanças que levam à democracia. Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a serviço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que procuramos fazer, temos de necessariamente situá-la num outro contexto pedagógico, ou seja, temos de opostamente, colocar a avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que se entenda e esteja preocupado com a educação como mecanismo de transformação social. (LUCKESI, 2003, p.28) Nesse sentido não podemos mais continuar apáticos diante de uma avaliação que tem colaborado para o fracasso escolar, não podemos ficar esperando por mudanças que saiam dos gabinetes de nossos governantes, pois, legislações por si só, não são capazes de mudar a prática do educador é preciso muito mais do que isso, é necessário uma reflexão profunda de cada professor, que deve estar de fato imbuído em buscar novas formas de ensinar e de avaliar a aprendizagem e, por conseguinte o seu trabalho. A prática avaliativa não irá mudar em nossas escolas em decorrência de leis, resoluções, decretos ou regimentos escolares, mas a partir do compromisso dos educadores com a realidade social que enfrentamos. Questionar os procedimentos avaliativos seletivos e excludentes de nossas escolas é uma das etapas desse compromisso. (LUCKESI, 2003, p. 36). Diante da realidade pouco otimista da avaliação da aprendizagem praticada atualmente nas unidades escolares, faz-se necessário uma reflexão sobre essas práticas, buscando alternativas, mudanças efetivas nesse processo, que se concretize no dia a dia do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental. Segundo Hamilton Werneck, a sociedade espera dos professores contemporâneos, uma mudança radical, que conduza ao diálogo, a troca de experiência e que ponha fim aos métodos avaliativos utilizados como instrumentos de tortura. E esse novo profissional nasce da esperança de uma educação mais humana e democrática, voltada para o sucesso do aluno, que avalie a Avaliação Teoria e Prática 21 aprendizagem a fim de descobrir em que ponto do caminho o aluno esta, com o intuito único de ajudá-lo a prosseguir cada vez melhor na estrada do saber. A educação mapeada pela esperança deve dar oportunidades de reconciliação dos alunos com a matéria lecionada e as notas baixas, quando ocorrerem, nunca os alicerces de inimizades entre educandos e educadores. (WERNECK, 2003, P.42). É notório e urgente que nossos educadores mudem suas posturas ante a avaliação, para tanto é necessário uma tomada de consciência coletiva dos docentes sobre suas atuações, enquanto professores. Segundo Jussarah Hoffmann, (2003), para concretização de princípios norteadores de uma avaliação numa perspectiva mediadora, se faz necessário uma mudança de dos métodos tradicionais, para métodos investigativos, é preciso ainda um compromisso por parte do docente quanto ao acompanhamento da construção do conhecimento, de forma a privilegiar o entendimento, em detrimento da memorização. Numa avaliação mediadora, o grande marco é o diálogo, num ambiente democrático, onde o aluno é um ser ativo, construtor de seu próprio conhecimento, onde professor e aluno trocam experiências, que enriquecem prática docente e promovem a construção da auto- estima do educando que sente valorizado ao contribuir de alguma forma para seu próprio aprendizado. Ambos, professor e aluno devem decidir quando e de que forma a avaliação deve ocorrer e da mesma maneira juntos, analisarem os resultados para a busca de novos caminhos capazes de levar a concretização da aprendizagem, ou seja, do sucesso escolar. A avaliação mediadora “encoraja a reorganização do saber”, e isso é feito pela “reciprocidade intelectual”: professor e alunos buscando coordenar seus pontos de vista, trocando idéias, reorganizando-se logicamente num ambiente democrático de dialogicidade.(MATUI, 1995, P.234). Uma das justificativas mais utilizadas por educadores, para a manutenção de uma avaliação classificatória, é de que essa forma de avaliar garante e mantêm a qualidade do ensino, no entanto, o que é preciso analisar é a forma como esta sendo oferecido esse ensino, bem como, os resultados obtidos. ”Porque não se pode considerar Avaliação Teoria e Prática22 como competente uma escola que não da conta sequer do alunado que recebe, promovendo muitos alunos à categoria de repetentes e evadidos” (HOFFMANN, 2003, P.12). Muitas vezes nós professores somos coniventes com uma política de elitização do ensino público considerando, equivocadamente, que isso garanta um ensino de qualidade. Essa visão equivocada de qualidade é no mínimo infantil, como poderíamos considerar bom um engenheiro que a cada dez casas prontas através de seus projetos, uma venha a cair. Essa cultura da reprovação como manutenção da qualidade do ensino é mais uma ideologia elitizada plantada no meio educacional, que infelizmente tem norteado muitos educadores. Um resumo das principais tendências da Avaliação • Avaliação Classificatória – herança do ensino tradicional A abordagem de ensino é centrada na técnica/ na assimilação do conteúdo e no ato de fazer – professor é o detentor do saber e o centro respeitoso em sala de aula. Com isso, não há processo de intervenção e realinhamento do saber, mas, sim, a preocupação emdar conta dos conteúdos dispostos no material didático. Ou seja: o papel e a função da educação, para o qual contribui a avaliação, é fazer dos alunos reprodutores do que foi ditado pelos professores, chegando à perfeição do original. Como é realizada apenas no final do processo de aprendizagem, possui o poder de impedir a trajetória escolar, ou seja, reprovar o aluno que não atingiu os objetivos propostos/ mal classificado. Avaliação Diagnóstica – sinalizar para intervir São realizadas com o propósito de identificar as fraquezas e as potencialidades dos alunos, com o objetivo de traçar intervenções claras. Este conceito está fundamentado na concepção de que, para o professor o desempenho do aluno é elemento primordial à prática pedagógica; ou seja, é de responsabilidade do professor revisitar seu planejamento de ensino após a avaliação diagnóstica e realinhar pontos que deram certo ou que foram infrutíferos a fim de promover a aprendizagem de uma maneira mais produtiva e significativa. Avaliação Teoria e Prática 23 Mas é relevante ressaltar que o diagnóstico realizado pela avaliação pode ser, portanto, a depender de como o professor interage com o aluno depois da avaliação, limitado a classificação ou, ainda, antecedendo a tomada de decisão quanto à continuidade dos processos pedagógicos, a partir do diagnóstico estimular o aluno para a refletir sobre o erro. • Avaliação Emancipatória – promoção de sujeitos Para Luckesi (2000) a avaliação emancipatória visa promover os sujeitos, a libertação dos modelos classificatórios e de estagnação social, proporcionando seu crescimento. Deste modo, não pode ser o momento final da aprendizagem, mas, sim, parte deste processo, de modo que haja a percepção, a crítica e a prática dos agentes (aluno e professor). A perspectiva emancipatória privilegia a avaliação processual, em que o docente analisa todas as atitudes do estudante ao executar uma tarefa de avaliação e, após a mesma, faz considerações relevantes para um processo de reconstrução e aprimoramento do saber. Para tanto, os instrumentos são diversificados, contínuos, e os alunos respeitados em suas diferenças. (HOFFMANN, 2000). • A avaliação formativa ou formadora – feedback dos progressos Fornece aos alunos um feedback de seus progressos, considerando avaliações feitas em diferentes momentos e instrumentos. Para Cipriano (2007) a avaliação formativa reforça a concepção de que a avaliação, no desenvolvimento global do currículo, é uma ocasião a mais de aprendizagem e não uma interrupção da mesma, tampouco um “prestar contas” mecânico e rotineiro “de” e “sobre” a informação recebida e acumulada previamente. A avaliação, em sua intenção e função formativa, transcende os resultados da prova e da qualificação, pois somente a partir de um interesse técnico e de controle se pode confundir o instrumento, o recurso - como o exame - com a atividade – avaliar. Avaliação Teoria e Prática24 Uma avaliação formativa ajuda o aluno a compreender e a se desenvolver. Colabora para a regulação de suas aprendizagens, para o desenvolvimento de suas competências e o aprimoramento de suas habilidades em favor de um projeto. Um professor comprometido com a aprendizagem de seus alunos utiliza os erros, inevitáveis sobretudo no começo, como uma oportunidade de observação e intervenção. Com base neles, propõe situações-problema cujo enfrentamento requer uma nova e melhor aprendizagem, possível e querida para quem a realiza. (MACEDO, 2007, p. 118). • A avaliação mediadora Exige do professor um acompanhamento sistemático em sala de aula do processo de construção do conhecimento, oportunizando aos alunos situações de aprendizagem desafiadoras, novas leituras ou explicações e vivências enriquecedoras. • A avaliação dinâmica Embora o centro seja a formação do ser humano e a aproximação e envolvimento do professor no processo de ensino aprendizagem, o foco da atuação está no aluno. Segundo Méier (2007) a avaliação dinâmica é quantitativa num primeiro momento, pois é necessário conhecer o ponto de partida do seu desenvolvimento real. Mas, num segundo momento, ela é qualitativa, permitindo ao professor e ao aluno conhecer seus processos metacognitivos, revelando assim velocidade, modalidades de apresentação mais significativas, áreas de interesse maior, formas de raciocínio mais eficazes. Esse tipo de saber/conhecimento a respeito do desempenho do aluno está em uma dimensão muito além da nota e das provas tradicionais, auxiliando-o a observar seu próprio progresso, particularidades no processo de aprender, estilo de aprendizagem. Deixa de ser apenas conhecimento, cognição, para ser metacognição, ou seja, conhecimento sobre os processos de conhecer (MÉIER, 2007). Avaliação Teoria e Prática 25 • Avaliação Apreciativa Também com foco no aluno está a avaliação apreciativa que valoriza o trabalho do autor, ou seja, a produção dos estudantes. O avaliador, ao invés de direcionar o foco de atenção para problemas e aspectos que não funcionam bem, ao encontrar-se com seus avaliados pede que analisem e descubram o que ocorre com sucesso. Solicita então que visualizem, imaginem o que ocorreria com tal organização ou processo se aquilo que está acontecendo com êxito ocorressem mais frequentemente. E assim, com base no que já era melhores, os envolvidos elaboram seus planos para as desejadas mudanças. Não se trata de inventar um modo de avaliação, mas sim de tornar a avaliação significativa e de estimular a criatividade do processo com maior satisfação dos envolvidos, com honestidade e integridade na comunicação (PENNA FIRME, 2007). É importante destacar que a ênfase na direção positiva da avaliação apreciativa não elimina a percepção dos aspectos negativos; ela apenas ressalta os positivos para que se fortaleça a capacidade de admitir falhas, problemas e a iniciativa em resolvê-los. (PENNA FIRME, 2007). Avaliação Teoria e Prática26 A concepção de fracasso escolar Ao término deste capítulo você será capaz de analisar os elementos que compõe a concepção de fracasso escolar e suas implicações no contexto escolar e na prática avaliativa. Mãos a obra! Vamos aprimorar ainda mais nossos conhecimentos sobre um tema tão polêmico e tão presente na educação. Algumas reflexões sobre o fracasso escolar No capítulo anterior vimos sobre três elementos interligados e de extrema importância no contexto escolar: ensino, aprendizagem e avaliação, neste capítulo entraremos em um campo polêmico e fecundo, e buscaremos compreender o que é o fracasso escolar, quais são suas relações com o processo de avaliação em sala de aula e como ele vem caracterizado em nossa época. Buscamos primeiramente o sentido da palavra fracasso no dicionário Aurélio: substantivo masculino 1. Estrondo de coisa que se parte ou cai 2. Mau êxito; malogro; ruína. O sentido da palavra em si não trazem obviamente uma explicação única e acabada sobre o conceito, mas revela o que está intrinsicamente atrelado: alguém que não possui capacidade para realizar algo/ alguém que realiza com mau desempenho algo. Considerando ao longo da história da educação, o fracasso escolar sempre foi atrelado ao sujeito enquanto responsável de seu mau desempenho escolar, unindo outros elementos chaves como: desinteresse em frequentar a escola, faixa etária e as condições socioeconômicas. Considerando uma análise sobre as concepções de fracasso escolar e quais seriam os meios para combatê-lo, percebemos que há um destaque nas propostas em situações que envolvem relações sociais e de poder articuladas no contexto de crianças pobres. Por este viés, ressalta-se que os motivos do fracasso escolar estão atrelados a não compreensão do real papel da escola enquanto espaço de socialização do conhecimento e a falta de compreensão de como se organizam as relações cotidianas entre gruposheterogêneos dentro e fora da escola Avaliação Teoria e Prática 27 e ainda às estratégias de rejeição de estudos e projetos legitimados por teóricos e outros profissionais que atuam na área da educação. Muito que se produz cientificamente sobre fracasso escolar não é discutido e aplicado em sala de aula por rejeição a teoria. (GATTI et al., 1981; SOUZA et al., 1994; PATTO, 1996; SAWAYA, 2000; CABRAL, SAWAYA, 2001). O fracasso então é visto como a síntese de muitas influências e variáveis que de fato interferem nos procedimentos educativos que proporcionam o aprendizado significativo e produtivo. Podemos elencar questões familiares, a sociedade em geral, assim como as crenças, os valores e as práticas dos professores em relação a como lidar com alunos que apresentam baixo desempenho e que possuem padrões culturais e sociais diferentes daqueles que serão transmitidos pela escola. Tomamos como exemplo atualmente o fervor em desenvolver projetos didáticos em sala de aula que envolvam a utilização de recursos tecnológicos como celular, tablet, notebooks etc..., há a necessidade do professor, retomando novamente as palavras de Paulo Freire “apreender a realidade” e considerar que a atividade e/ou projeto a ser desenvolvido necessitará de um olhar real do professor sobre o que possibilitará o sucesso e o fracasso, o que contribuirá ou não para que os alunos se engajem nas atividades e consigam atingir os objetivos propostos. Por outro lado, ao pensarmos no fracasso escolar em classes sociais superiores, encontramos o fracasso atrelado a outros elementos como excesso de cobranças dos pais, a busca incansável pelo diploma sendo porta para bons empregos, influências profissionais, prestígio, reconhecimento na sociedade e sequência em negócios e empreendimentos familiares, ou seja, muitas vezes o fracasso escolar do aluno de classe social alta está atrelado à concepção de ser o destaque, de na verdade “ter” que ser o destaque em meio aos demais. Avaliação Teoria e Prática28 Figura 3 Fonte: Freepik Considerando soluções para reverter o quadro do fracasso escolar é necessário buscar reflexões sobre a responsabilidade concreta da escola em relação à manutenção do baixo desempenho do aluno. Há a necessidade de observar quem é este aluno enquanto personagem central envolvido no cerne de relações que se concretizam no interior da escola e é possível analisar como as relações diárias acontecem dentro e fora da escola buscando assim o real objetivo da escola de socialização do saber. (GATTI ET al., 1981; SOUZA ET al., 1994). É importante ressaltar também que alguns autores (CABRAL; SAWAYA, 2001) a partir desta perspectiva de olhar para escola enquanto espaço de socialização do saber, trazem à proposta de conhecer mais a fundo a qualidade da aula e da relação professor-aluno em sala de aula, qual é o estilo de abordagem dos conteúdos didáticos e como se dá este processo de diagnosticar e intervir com vistas a avaliar o desempenho. Outras perspectivas analisam a solução do fracasso escolar partindo da necessidade de se buscar um espaço para superar a ideologia que permeia a escola de marginalizar o aluno e trazer subsídios aos professores, pais e alunos para que se coloquem como sujeitos responsáveis pela sua própria história e que de fato seja avaliado e revisto Avaliação Teoria e Prática 29 quais são os elementos que atrapalham e que auxiliam na produção de dificuldades de aprendizagem na escola. As discussões também envolvem a valorização da escola enquanto espaço de transformação social e de enriquecimento da cidadania para alunos de todas as raças, gêneros, classes sociais e padrões culturais e a abertura de discussões que possam trazer elementos que influenciam no processo de aprendizagem como, por exemplo, aspectos socioculturais e a história de vida daquele aluno. Por outro lado, temos os alunos de classe social superior e a importância de um trabalho de orientação e reflexão dos pais sobre o papel da escola enquanto instituição social e espaço colaborativo do saber, reconhecendo que além de um diploma, existe a possibilidade uma ascensão social de acordo com as habilidades que possui seus gostos, seus objetivos e suas capacidades. Alguns outros autores trazem a perspectiva que o fracasso escolar esteja atrelado a inúmeros fatores como o ambiente físico, questões econômicas e socioculturais do aluno até os elementos como aparência física, local sujo em vive, a desestrutura familiar e até mesmo a relação deste aluno com professores recriminadores e autoritários (CONCEIÇÃO, 1994; CRUZ, 1997). O fracasso escolar no âmbito da saúde traz esta mesma concepção, sendo o reflexo da situação social baixa, a desestrutura familiar, a falta de acompanhamento por parte dos pais e as condições precárias de vida além de falta de competência pedagógica IMPORTANTE: Nos anos 70 assiste-se a uma mudança na explicação do fracasso escolar, da ótica biológica para a cultural, influenciado pelas ideias produzidas nos Estados Unidos nos anos 60. A Teoria da Carência ou Privação Cultural procurava explicar as desigualdades educacionais pelas diferenças de ambiente cultural entre as crianças dos diversos segmentos socioeconômicos. Avaliação Teoria e Prática30 dos professores, salas com muitos alunos e abordagem de ensino inadequada (FERRIANI; IOSSI, 1998). Há concepções teóricas que defendem que o fracasso é manipulado por estatísticas do sistema de ensino para assim rebaixar resultados finais de reprovação desconsiderando as diferenças individuais ou culturais, não considerando a heterogeneidade (CARVALHO, 2001; COLELLO, 2003). Outros estudos para a diminuição do fracasso escolar apontam a necessidade da escola definir seu papel diante da sociedade e do mercado de trabalho que explicitamente subestima e marginaliza aqueles considerados com poucas habilidades intelectuais desenvolvidas (NOZAKI ET al., 2003). Outras soluções indicam a urgência de mudar a suposta cultura da repetência e implantar novas concepções de avaliação, oferecendo recursos para as escolas com turmas pequenas, espaços adequados, materiais pedagógicos, recuperação escolar e formação para professores (CARVALHO, 2001). Uma vez mais a teoria da carência cultural se faz presente agora na sua versão da diferença. Parte-se do ponto de vista que a escola é concebida para um aluno de classe média e que a mesma, incluindo-se o professor não está preparada para receber e ensinar um aluno que não atenda esse perfil, ou seja, haveria um grande distanciamento entre a escola e a sua clientela concreta. Assiste-se aqui um processo de culpa do professor por desconhecer os padrões culturais da criança pobre. A solução a ser implantada para a resolução desse distanciamento é a criação de escolas especiais para as crianças de classes populares e, que certamente serão menos exigentes, uma vez que esta clientela é vista como menos capaz. Este tipo de solução só vem a criar uma maior divisão de classes e acentuar o caráter preconceituoso para com as crianças das classes populares. Avaliação Teoria e Prática 31 Por uma nova cultura avaliativa Ao término deste capítulo você conseguirá compreender melhor sobre quais elementos são necessários para desenvolvermos uma nova cultura avaliativa nas escolas, a qual parte de uma perspectiva mediadora. E aí? Dispostos a aprender mais um pouquinho? Avaliação Mediadora: um caminho construtivo No capítulo anterior trouxemos para a reflexão o sentido da palavra fracasso, neste capítulo vamos analisar primeiramente o termo mediação, o qual traz como sentido original: intervenção, intercessão, intermediação, ou seja, algo que acontece no meio, entre duas ou mais partes e que podem fazer a passagem de um nível a outro, de uma coisa a outra, de uma parte a outra e dentro daquela realidade. Se atrelarmos essas definiçõespara a ação de avaliar, poderemos enxergá-la nessa perspectiva, ou seja, a ação avaliativa está entre uma etapa de produção do aluno (diagnóstico) ao que pode ser complementado (intervenção). Nessa perspectiva, a avaliação da aprendizagem é concebida por Luckesi (1995) como um ato amoroso, a partir da concepção de que a avaliação é acolhedora e inclusiva. A avaliação então, não está no fim, como resultado pronto e acabado da aprendizagem e na classificação de quem está apto e não apto, mas sim está dentro de um processo, de uma engrenagem aonde o sujeito exerce o papel fundamental e que garante que o processo de aprender se efetive. Para isso, é necessário entender a avaliação como possibilidade de vir a ser ou fazer um outro de si mesmo, a construção de cada um e do coletivo seres heterogêneos e cidadãos pertencentes a uma sociedade. É a prática de quem verdadeiramente somos se esculpindo com base na avaliação que formulamos de nós mesmos e dos processos mediativos que realizamos por meio da percepção-atuação do outro conosco, em uma perspectiva dialógica, o outro age em nossa realidade e nós agimos na realidade do outro. Assim, a construção da identidade ocorre no encontro com o outro, em um processo de construção social, e não como algo objetivo, sistemático e pontual. O caráter da avaliação tem, Avaliação Teoria e Prática32 assim, outra dimensão. É diferente, pois propicia avanço, progressão, mudança e a criação do novo. “O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção do melhor resultado possível, antes de tudo, implica a disposição de acolher a realidade como ela é” (LUCKESI, 2005). Isso significa a possibilidade de tomar uma situação da forma como se apresenta, seja ela satisfatória ou não. Acolhê-la, como está, é o ponto de partida para se fazer qualquer coisa que possa ser feita com ela. Sem esse acolhimento da realidade como ela se apresenta, não existe possibilidade de uma intervenção adequada, pois qualquer outro ponto de partida seria enganoso e sem sustentação, segundo o autor. Conduzir a avaliação nesse contexto implica reflexão crítica sobre a prática, no sentido de diagnosticar seus avanços e dificuldades e de possibilitar uma tomada de decisões sobre as “iniciativas cabíveis. Portanto, avaliar não é apenas constatar, mas, sobretudo analisar interpretar, tomar decisões e reorganizar o ensino” (SILVA, 2002). De acordo Furlan (2007), Hoffmann aponta a ação avaliativa como interpretação cuidadosa e abrangente das respostas do educando frente a qualquer situação de aprendizagem, sendo necessário entendê-la como acompanhamento de uma trajetória, permeada pelo entendimento e pela troca de ideias entre todos os participantes da ação educativa. Portanto, nesse contexto, avaliar um educando implica, antes de qualquer coisa, acolhê-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, para, então, a partir daí, decidir o que fazer. Diante disso, concordamos com Luckesi (1995) ao afirmar que a avaliação é um ato amoroso. “O ato amoroso é aquele que acolhe a situação, na sua verdade (como ela é)”.Por acolher a situação como ela é, o ato amoroso tem a característica de não julgar. Julgamentos aparecerão, todavia, para dar curso à vida (à ação), e não para excluí-la. O avaliador necessita ter a motivação de acolher a realidade que faz parte da vida do aluno sem essa motivação e postura por parte do avaliador, não há avaliação. Essa motivação resulta em aproximar- se da realidade. Não conseguimos avaliar produtivamente um aluno, se este, desde o início, for excluído. Para Luckesi, Essa é uma atividade que proporciona com que cada um de nós professores tenhamos: vínculo com a profissão, capacidade pedagógica e consistente, compromisso permanente com a educação, atenção plena e cuidadosa com todas as Avaliação Teoria e Prática 33 nossas intervenções, a flexibilidade no relacionamento com os alunos. (LUCKESI, 2005, p. 34) Por este viés, em que a prática avaliativa aponta dados para a transposição didática do professor, respeitamos a afirmativa de que avaliação e ensino não se separam, contudo, não se confundem. A avaliação, assim como o ensino, tem seus elementos próprios, sendo possível, portanto, ensinar informado por um ponto chave e avaliar por outro. É de extrema importância considerar, que a harmonia entre as teorias de ensino, de aprendizagem e de avaliação tem se mostrado um dos mecanismos de qualidade de ensino, o que enfatiza a necessidade de os professores se apropriarem dos fundamentos de suas práticas para trazer um novo sentido e realinhá-las. O professor que conhece o que, por que, para que e como ensina, avalia e aprende tem mais propriedade e capacidade técnica de avaliar o seu trabalho, de reconstruí-lo e de elevá-lo a outro nível de qualidade pedagógica com base em um planejamento estratégico dos conteúdos didáticos. Avaliação Teoria e Prática34 A experiência de uma nova proposta de avaliação No capítulo anterior refletimos um pouco sobre as possibilidades da implementação de uma cultura avaliativa mediadora e que traz à tona o diálogo na prática pedagógica. Neste capítulo você será capaz de refletir sobre as possibilidades de elaboração de instrumentos para a verificação da aprendizagem de uma maneira mais significativa e dialógica. Vamos avançar? Tenho certeza que você irá refletir muito sobre instrumentos de avaliação na perspectiva mediadora. Oficina de Avaliação – a proposta de um roteiro ‘Retomando ao que vimos anteriormente, nos outros capítulos o primeiro passo antes de avaliar é o de diagnosticar, a partir deste diagnóstico podemos constatar qualificar o objeto de aprendizagem e assim intervir. A constatação ocorre a partir da coleta de informações importantes que de fato trazem pistas claras sobre o estado de aprendizagem do educando ou dos educandos. Para esta constatação é necessário conhecer os dados relevantes, os instrumentos e a utilização destes instrumentos. Para conhecer o objeto que precisa ser avaliado, precisam- se obter dados relevantes para tal estudo. Por exemplo, ao ensinar o modo imperativo a um grupo de alunos do segundo ano do ensino médio, uma professora de Língua Portuguesa utiliza o contexto da Festa Junina para evidenciar os aspectos que compõe a estrutura do modo imperativo, neste caso a produção de cartazes de propagandas e folhetos da festa trouxeram a professora dados importantes sobre quem foram os alunos que conseguiram desenvolver a habilidade relacionada ao reconhecimento do gênero e suas principais características. Os problemas que surgem em sala de aula em se tratando de educação são muitos, em especial quando nos referimos à avaliação da aprendizagem, quando optamos por um instrumento de avalição, e consequentemente Avaliação Teoria e Prática 35 pensamos que não nos cabe fazer nada, por haver todo um contexto sinalizando ao contrário para nós e para que a educação em geral e a avaliação se processe tal qual vem ocorrendo ao longo da história, sem mudanças, sem perspectivas, no entanto, muita coisa pode ser feita por nós educadores, basta acreditarmos nessa possibilidade. Se nós professores, na sala de aula não podemos dar conta da política de oferta de vagas e de acesso dos educandos à escola, podemos dar conta de um trabalho educativo significativo para aqueles que nela têm acesso. Trabalho esse que, se for de boa qualidade, será um fator coadjuvante de permanência dos educandos dentro do processo de aquisição do saber e consequentemente um fator dentro do processo de democratização da sociedade. (LUCKESI, 2003, p.125). As mudanças no chão da escola e nos procedimentos pedagógicos só de fato acontecem a partir do desejo e da vontade real dos professores, pois é a partir de um processo reflexivo sore as práticas educação e avaliativas vivenciadas nas escolas, que podemos ter mudanças que de fatoimpactam nossa maneira de avaliar a aprendizagem. Os problemas que envolvem a avalição são muitos, mas o que é ressaltado é a questão da recuperação da aprendizagem que por muitas vezes ocorre superficialmente em nossas escolas. A recuperação da aprendizagem dos alunos é de grande importância no contexto da aprendizagem, mas é preciso que o professor analise os resultados das avaliações de aprendizagem por ele aplicadas e observe os erros dos alunos para buscar construir novas práticas e situações de aprendizagem que possam levar todos os seus alunos ao saber. O momento da avaliação deve ser, portanto, também um momento de reflexão do docente. Hoffmann (2004) ressalta o caráter essencial da avaliação uma vez que ela cause inquietação e dúvida, um docente que não analisa as situações do cotidiano e não reflete diante dos resultados obtidos pauta seu trabalho docente em verdades prontas, sem um trabalho reflexivo. Avaliação Teoria e Prática36 VOCÊ SABIA? A rede pública estadual de São Paulo possui uma avaliação elaborada a partir do Currículo Paulista que traz questões envolvendo habilidades básicas de leitura e de cálculos matemáticos a qual os resultados são utilizados pelas equipes escolares como diagnósticos para realinhar a prática em sala de aula – A avaliação começou por uma iniciativa pequena em uma Diretoria de Ensino, mas atualmente abrange toda rede e tem o nome de Avaliação da Aprendizagem em Processo. É claro que não é uma tarefa fácil mudar a forma de avaliar, considerando todo o caminho percorrido pela educação até aqui, mas precisamos ler e analisar mais as concepções de avaliações que temos e de instrumentos avaliativos como provas e testes que em muitas circunstâncias, excluem parte de nossos alunos. Muitos de nós professores articulamos intrinsicamente avaliação a provas e testes, o que culmina na perca do sentido real da avaliação que é muito mais de análise, de estudo do que de verificação e seletividade. Provas e exames implicam o julgamento, com consequente exclusão; avaliação pressupõe acolhimento, tendo em vista a transformação. As finalidades e funções da avaliação da aprendizagem são diversas das finalidades e funções das provas e exames. Enquanto as finalidades e funções das provas e exames são compatíveis com a sociedade burguesa, as das avaliações a questionam; por isso, torna-se difícil realizar a avaliação na integralidade do seu conceito no exercício de atividades educacionais, sejam individuais ou coletivas.(LUCKESSI, 2003, p. 171). Devemos pensar a avaliação sobre uma perspectiva de um serviço para uma educação mais democrática e humana com vistas à melhoria de nossas escolas e com vistas à redução de índices de reprovação e evasão escolar e ainda para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais humano. Se vista por essa maneira e assim realizada a avaliação da aprendizagem, deixara de ser um complexo problema, para estar a serviço da educação que tanto queremos. Avaliação Teoria e Prática 37 É bastante comum que os professores se preocupem exclusivamente em dar boas aulas, e não se preocuparem com o resultado disso, se os alunos estão aprendendo ou não e por conta dessa forma de pensar praticam avaliações extremamente tradicionais que levam a um número elevado de reprovações e não há uma preocupação com recuperação da aprendizagem dos alunos que não obtiveram bons resultados, esta pratica e pouco promissora e não atende as reais necessidades dos alunos. De que adiantará um professor que apenas se preocupe com o ato de ensinar, transmitido seus conhecimentos e experiências, sem se inquietar com o fato de estar ou não, o seu aluno aprendendo? Esse tipo de docente, preocupado exclusivamente com a “instrução”, embora bastante frequente ainda, nas escolas brasileiras de 1º, 2º e 3º grau, surge em completa dissonância com as necessidades e/ou aspirações de seu alunado. (VASCONCELOS, 1996,p.21). A avaliação deve nortear a prática docente, pois, a partir de uma avaliação da aprendizagem bem feita é possível corrigir rotas, fazer intervenções durante o percurso e isto, é muito diferente de chegar ao final do bimestre ou ano letivo e utilizar a avaliação para determinar quem será aprovado ou não e ponto final. É complexo considerarmos que há professores que acreditam ser simples ou comum parte dos alunos estejam reprovados, parece algo normal, que não aprendam que não atinjam as habilidades dispostas nos currículos e acreditar fielmente que nada pode ser feito. Deixam de lado a postura de professores motivadores por acreditar que não vale a pena e que o aluno não possui potencial, capacidade em seguir os processos educativos com autonomia e segurança. Temos uma metáfora/comparação famosa da situação da reprovação com o exercício da medicina, imaginando a possibilidade de termos médicos que conseguem diagnosticar e resolver o problema de saúde de 80% de paciente, mas ainda assim há 20% que são casos que não são resolvidos. Que insegurança teria ao passarmos por este médico e corrermos o risco de cairmos na linha dos 20%. Diante de fatos como esse, é preciso repensar a prática avaliativa, buscando pensar e repensar sobre os resultados das avaliações com a devida clareza e ética para entender que às vezes é preciso mudar o caminho, em prol do desempenho dos alunos. Avaliação Teoria e Prática38 Agimos impiedosamente quando deixamos que nossos alunos continuem na escola sem aprender, especialmente nas escolas públicas, pois na educação esta toda esperança de mudança de vida destes e alunos e sua família. Nem um de nós educadores gostaria que os professores de nossos filhos os deixassem de lado em suas dificuldades de aprendizagem, limitando se a reprová-los, mas, fazemos sem o menor peso de consciência com os filhos dos outros. A educação não tem lugar para carrascos. Educação é construção do conhecimento, é relacionamento aberto, cara a cara, sem capuzes, é amor de graça embora custe, educação é a partilha é o sentir sagrado da troca de experiências dentro e fora de sala. Aluno e professor são aliados e não adversários ou inimigos. Mas, infelizmente, estes tipos existem, causando danos humanos e econômicos nas estruturas e, fique bem claro, causam danos humanos e econômicos não porque se deseja a aprovação dos que não sabem, o que se deseja é que o professor ensine e o aluno aprenda. (WERNECK, 1995, p. 37) E para evitar situações desagradáveis em sala de aula é preciso que o diálogo seja uma constante em nossas salas de aula, especialmente quando se trata da avaliação da aprendizagem, pois é muito importante que os alunos se sintam bem na escola em todos os momentos e isso inclui os momentos de avaliação. A avaliação mapeada pela esperança deve dar oportunidades de reconciliação dos alunos com a matéria lecionada e as notas baixas, quando ocorrem, nunca os alicerces de inimizades entre educandos e educadores. (WERNECK, 1995, p.42). O planejamento de uma nova perspectiva de avaliação contribui para mantermos a esperança no novo, no que virá amanhã, nos estudos científicos sobre novas abordagens de ensino e novos vieses para a avaliação com vistas a auxiliar a todos na superação das dificuldades e na melhoria do desempenho. Neste contexto a avaliação deve ser contínua, um processo, que norteie o caminho a ser seguidos, os próximos passos da matéria, que nos mostre o momento de parar e voltar alguns passos se preciso for, para que o objetivo da aprendizagem seja alcançado. É notório que alguns consideram a reprovação benéfica, sendo a garantia de um ensino de qualidade. Hoffmann (2003), destaca que esta forma de pensar esta atrelada a uma prática avaliativa classificatória. Segundo Antunes (2002), não se proclama o fim da cultura de retenção, jamais se Avaliação Teoria e Prática 39 propugna pelo seu extermínio, mas, se sugere a busca de novos caminhos e a eficiência da recuperação da aprendizagem, além de mecanismosde sedução do aluno que os levem a aprender a alegria de viver. Segundo Antunes (2002), Quando se prega o fim da cultura da retenção, jamais propugna o seu fim, mas, se sugere antes a busca de novos caminhos, a eficiência dos sistemas de recuperação, reforços, enfim mecanismos pedagógicos eficazes para que haja a aprendizagem. E tudo leva a crer que a esperança deve haver sempre. A avaliação da aprendizagem somente cumprirá seu papel de subsidiar o professor na sua prática pedagógica, se ocorrer de forma contínua, fruto de uma observação ao longo do período escolar, ela não pode acontecer apenas em momentos de provas e testes, também não pode ocorrer apenas por meio de provas, é preciso utilizar outros métodos de avaliar a capacidade do aluno em selecionar informações e associá-las aos saberes que já possui (ANTUNES, 2002). A avaliação não pode ser tida como um processo acabado, ela precisa ser levada como algo contínuo e em constante evolução. A avaliação precisa deixar de ser conservadora e autoritária, para torna-se amorosa, inclusiva e inovadora. Errar ou acertar tem o mesmo efeito e um é tão determinante quanto o outro, se a intenção de quem educa (ou ensina) é saber em que situação real o aluno se encontra quando se realiza a atividade proposta. É para Vygotsky, a “Zona Real de desenvolvimento”, ou seja, aquilo que o aluno consegue realizar com autonomia, sem ajuda, naquele momento do processo. (BOZZA, 2007) Considerando os pressupostos teóricos estudados até aqui podemos considerar importante em uma esquematização de um passo a passo de uma proposta diferenciada de avaliação. • 1ª etapa – definir um grupo de conteúdos dispostos no Currículo ou no material didático utilizado. • 2ª etapa – identificar claramente quais habilidades os alunos irão desenvolver dentro daquele grupo de conteúdos. Os alunos neste momento podem ser consultados e assim expor seus conhecimentos prévios, sinalizar o que sabem sobre o assunto a ser explorado. É interessante disponibilizar ao aluno um recurso para registros: diário de bordo, fichas etc. • 3ª etapa - Questões norteadoras tendo como base o conhecimento prévio do aluno, nesta etapa são importantes o professor Avaliação Teoria e Prática40 perguntar ao aluno os porquês dele pensar daquela forma, tida inicialmente como incorreta ou incompleta. • 4ª etapa - Palavra aberta para contra argumentação com base no que já foi explorado pelo professor, concordâncias e discordâncias com argumentações e a importância também dos registros. • 5ª etapa - Interação aluno-professor. O professor poderá, através de perguntas, instigar a curiosidade e a evolução do conhecimento. O aluno resolverá os problemas de maneira lógica e evolutiva. • 6ª etapa - Explanação do conteúdo teórico via livro didático, recortes de revistas, músicas, seminários, atividades em grupo e elaboração de atividades de reflexão e interpretação. • 7ª etapa – Debate oral sobre tudo que foi realizado até aquele presente momento, todos os dados levantados. • 8ª etapa - Realização da prova escrita. • 9ª passo: Realização de um debate oral sobre as questões da prova escrita. O aluno irá refletir sobre o percurso que optou para obter a resposta da questão da prova e quem fez o percurso diferente deverá realizar também a reflexão de como chegou aquele resultado. O objetivo do debate é que os alunos possam chegar à conclusão coletiva e se expressem e possam refletir significativamente sobre o erro, proporcionando ao professor novos direcionamentos pedagógicos para novas ações e a utilização de outros instrumentos. • 10ª etapa - A partir do debate realizado, cada aluno irá se auto avaliar, sugerindo para a prova realizada uma nota de zero a cinco, ou um conceito, a depender da instituição/ projeto pedagógico. • 11ª etapa - Avaliação do professor. Neste momento a partir da observação do debate, dos registros realizados e do desempenho do aluno na avaliação escrita. O professor avaliará o aluno e depois somará a nota sugerida com a auto avaliação do aluno, obtendo assim uma nota final. Assim, a avaliação vai além de uma avaliação somativa e de outros métodos de avaliação, onde tanto os alunos quanto os professores poderão verificar se os objetivos foram ou não alcançados; e se não foram, saberão identificar onde existe a falha, e a corrigirão antes mesmo de avançar a mais um nível de aprendizagem. Isso somente será possível, a partir do momento em que os alunos encontrarem seus “erros” e tentarem corrigi-los ou procurarem uma solução para aquele determinado problema. Avaliação Teoria e Prática 41 RESUMINDO: Viu quanta coisa envolve a avaliação? É um tema polêmico e longo, mas de grande relevância para a prática docente. Agora para que nada fique escondido, esquecido e adormecido, vamos fazer uma revisão por tópicos sobre tudo que foi discutido até aqui. • A relação entre ensino, aprendizagem e avaliação; • A aprendizagem significativa. • Algumas reflexões sobre avaliação excludente ou classificatória e avaliação mediadora. • Algumas reflexões sobre o que fato atrapalha o trabalho docente em termos de avaliação. • O que é avaliação mais democrática e justa. • As concepções de fracasso escola.; • A questão social e o fracasso escolar. • A problemática da recuperação da aprendizagem. • A avaliação enquanto prática/ato amoroso. • Por um olhar modificador para a avaliação. • Uma proposta de avaliação diferenciada e com vistas à valorização do desempenho. • Foi uma viagem e tanto! • Agora vamos nos preparar para enfrentar outros caminhos. Questões avaliativas e muita interação! Sigamos firmes. Avaliação Teoria e Prática42 BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Celso. A Avaliação da Aprendizagem Escolar. 4ª ed. 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Rio de Janeiro: Vozes, 1995 Avaliação Teoria e Prática44 Ensino, aprendizagem e avaliação Reflexões sobre ensino e aprendizagem Reflexões sobre Avaliação Um resumo das principais tendências da Avaliação A concepção de fracasso escolar Algumas reflexões sobre o fracasso escolar Por uma nova cultura avaliativa Avaliação Mediadora: um caminhoconstrutivo A experiência de uma nova proposta de avaliação Oficina de Avaliação – a proposta de um roteiro
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