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1 Coleção E@D Leite, 3 Melhoramento genético e controle zootécnico de rebanhos leiteiros Embrapa Juiz de Fora, MG 2018 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Gado de Leite Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Maria Gabriela Campolina Diniz Peixoto Frank Angelo Tomita Bruneli Glaucyana Gouvêa dos Santos Cláudio Nápolis Costa Módulo 3 Estratégias de cruzamentos em rebanhos leiteiros Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Gado de Leite Unidade responsável pelo conteúdo e pela edição Embrapa Gado de Leite Comitê de Publicações de Embrapa Gado de Leite Presidente Pedro Braga Arcuri Secretária-executiva Inês Maria Rodrigues Membros Alexander Machado Auad, Fábio Homero Diniz, Fernando César Ferraz Lopes, Francisco José da Silva Lêdo, Frank Ângelo Tomita Bruneli, Jackson Silva e Oliveira, Letícia Caldas Mendonça, Nivea Maria Vicentini, Pérsio Sandir D’Oliveira, Rita de Cássia Bastos de Souza, Rita de Cássia Palmyra Pinto, Virgínia de Souza Columbiano Barbosa. 1ª edição Coordenação editorial Vanessa Maia Aguiar de Magalhães, Luiz Ricardo da Costa Supervisão editorial Vanessa Maia Aguiar de Magalhães, Luiz Ricardo da Costa Adaptação de linguagem e conteúdo Vanessa Maia Aguiar de Magalhães, Luiz Ricardo da Costa Revisão editorial e organização Rosangela Zoccal Revisão Gramatical Luiz Ricardo da Costa, Rita de Cássia Bastos de Souza Adaptação pedagógica Rita de Cássia Bastos de Souza Normalização bibliográfica Inês Maria Rodrigues (CRB 6/1689) Projeto gráfico, editoração eletrônica e tratamento das ilustrações Adriana Barros Guimarães, Vanessa Maia Aguiar de Magalhães, Luiz Ricardo da Costa Colaboração João Eustáquio Cabral de Miranda, Marcos Vinícius Gualberto Barbosa da Silva Equipe editorial Leonardo Mariano Gravina Fonseca, Luiz Ricardo da Costa, Rita de Cássia Bastos de Souza, Rosangela Zoccal, Vanessa Maia Aguiar de Magalhães Capa Adriana Barros Guimarães, Luiz Ricardo da Costa, Vanessa Maia Aguiar de Magalhães Fotos Vanessa Magalhães, Luiz Ricardo, Rosangela Zoccal, Marcos Lopes La Falce, Maria Gabriela C. D. Peixoto © Embrapa 2018 Melhoramento genético e controle zootécnico de rebanhos leiteiros – Módulo 3: Estratégias de cruzamentos erebanhos leiteiros. / Maria Gabriela Campolina Diniz Peixoto ... [et al.]. – Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 2018. 18 p. : il. col. Coleção E@D Leite 1. Cruzamentos entre raças. 2. Cruzamento triplo. 3. Cruzamento alternado. 4. Raças sintéticas. I. Peixoto, Maria Gabriela Campolina Diniz. II. Bruneli, Frank Angelo Tomita. III. Santos, Glaucyana Gouvêa dos. IV. Costa, Cláudio Nápolis. CDD 636.2082 Inês Maria Rodrigues (CRB 6/1689) Autores do curso Maria Gabriela Campolina Diniz Peixoto Médica-veterinária, doutorado em ciência animal, pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG Frank Angelo Tomita Bruneli Médico-veterinário, doutor direto em zootecnia, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG Glaucyana Gôuvea dos Santos Médica-veterinária, doutorado em zootecnia, ex-pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG Cláudio Nápolis Costa Zootecnista, PhD em Genética Animal, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG Autor do módulo 3 Frank Angelo Tomita Bruneli Médico-veterinário, doutor direto em zootecnia, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, MG Cálculo da composição racial Introdução Estratégias de cruzamentos entre raças leiteiras Cruzamento de Holandês e Jersey Esquema de reposição com fêmeas F1 Cruzamento por absorção Cruzamento triplo (Tricross) Cruzamento alternado com repetição do europeu Cruzamento alternado simples Formação de raças sintéticas 6 6 9 11 9 11 11 13 12 16 Sumário do módulo 3 - Estratégias de cruzamentos em rebanhos leiteiros Cuidados na escolha da estratégia de cruzamento17 Glossário18 6 Módulo 3 Estratégias de cruzamentos em rebanhos leiteiros 3.1 Introdução Da mesma forma que o produtor rural dispõe de diversas opções de raças puras para produção de leite, também dispõe de diversas opções para o cruzamento entre duas ou mais raças taurinas (europeias), ou com raças zebuínas (indianas), ou ainda, entre duas ou mais raças zebuínas, em variadas composições raciais. Os cruzamentos são realizados com a finalidade de reunir em um só animal as características desejáveis de duas ou mais raças, o que é chamado de complementariedade, ou seja, se uma destas raças já foi selecionada para uma característica e tem, portanto, alta frequência de alelos favoráveis à expressão do fenótipo desejado para a característica, as melhorias genéticas (alelos favoráveis) ocorridas nesta raça são transmitidas ao produto cruzado e contribuem para o melhor desempenho na característica. Além disso, os cruzamentos visam explorar a heterose (vigor híbrido) que é observada na maioria das características de importância econômica para bovinos leiteiros nos trópicos. Os principais motivos para a expressão da heterose no cruzamento entre raças européias e zebuínas são, provavelmente, a distância genética entre as raças e as condições de criação em que são manejadas. Ao se considerar as vantagens econômicas da utilização de cruzamentos, deve-se levar em consideração que o mérito total é uma função de várias características, onde a heterose global é o acúmulo das heteroses de todas as características. A escolha da raça ou a estratégia de cruzamento depende do sistema de produção adotado, do objetivo da fazenda e da capacidade de investimento do produtor. A utilização de animais mestiços, como também são conhecidos os animais cruzados, nos sistemas de produção de leite do Brasil tem por finalidade otimizar a lucratividade, produtividade e precocidade reprodutiva, em função da adaptabilidade às condições predominantemente tropicais onde os rebanhos estão situados. Estes representam a maior parte do rebanho leiteiro nacional, sendo bastante utilizadas em sua formação as raças Gir e Holandesa. É importante ressaltar que a composição racial, após a primeira geração (F1) ou meio sangue europeu zebu (½ EZ), é expressa em função da probabilidade de contribuição de cada raça para o animal cruzado. A seleção e o cruzamento podem ser utilizados conjuntamente para garantir a manutenção de elevados índices produtivos nos rebanhos mestiços. Em ambos, deve-se buscar o acasalamento com touro provado ou de mérito genético conhecido para as características de interesse. Assim, o objetivo deste módulo é auxiliar na definição de estratégias de cruzamento entre as raças leiteiras, mais adequadas para promover o melhoramento genético do rebanho leiteiro nas características de importância econômica. 3.2 Cálculo da composição racial O cálculo da composição racial de um animal também conhecida como composição genética, ou mais comumente como grau de sangue, é feito pela soma de metade das composições raciais de cada um dos seus pais. Tem-se como princípio que aos animais puros seja atribuída a nota 1, dando a conotação de 1 inteiro ou totalidade, independemente de serem de uma determinada raça A ou raça B. Assim, quando se refere ao cruzamento de um touro puro da raçaA (1A) com uma vaca pura da raça B (1B), tem-se então como resultado a soma das metades da raça paterna com a raça materna (Figura 1), ou seja: ½ (1A) + ½ (1B) = ½ A + ½ B ou simplesmente, ½ AB ou 7 Figura 1. Esquema de cruzamento de touro puro da raça A com vaca pura da raça B A partir disso, acasalando as fêmeas ½ AB com outro touro puro da raça A (1A), como mostrado na Figura 2, obtêm-se animais: Touro (A) x Vaca (½ AB) Cria = ½ (1 A) + ½ (½ A + ½ B) = ½ A + (¼ A + ¼ B) = 2⁄4 A + (¼ A + ¼ B) = ¾ A + ¼ B (ou ¾ AB) Figura 2. Esquema de cruzamento de touro puro da raça A com vaca meio sangue (AB) 8 Ou, então, se essas fêmeas ½ AB forem acasaladas com um touro puro da raça B (1B), como mostrado no na Figura 3, obtêm-se animais: ½ (1B) + ½ (½ AB) = ½ B + ¼ AB = ¾ BA, que é o mesmo que ¼ AB Touro (B) x Vaca (½ EB) Cria = ½ (1 B) + ½ (½ A + ½ B) = ½ B + (¼ A + ¼ B) = 2⁄4 B + (¼ A + ¼ B) = ¾ B + ¼ A (ou ¾ BA) Figura 3. Esquema de cruzamento de touro puro da raça B com vaca meio sangue (AB) Ainda, o produto do acasalamento de um terceiro touro puro da raça A (1A) com uma vaca ¾ AB será igual a 7/8 AB (Figura 4). O mesmo raciocínio é valido cruzando um outro touro da raça B (1B) com vacas ¾ BA, originando, nesse caso, animais 7/8 BA. Touro (A) x Vaca (¾ AB) Cria = ½ (1 A) + ½ (¾ A + ¼ B) = ½ A + (3⁄8 A + 1⁄8 B) = 4⁄8 A + ( 3⁄8 A + 1⁄8 B) = 7⁄8 A + 1⁄8 B (ou 7⁄8 AB) Figura 4. Esquema de cruzamento de touro puro da raça A com vaca ¾ AB 9 3.3 Estratégias de cruzamentos entre raças leiteiras O objetivo do cruzamento de animais de diferentes raças ou composição genética (grau de sangue) é promover a heterose (vigor híbrido) com a obtenção de animais de desempenho superior à média dos pais em características de importância econômica, pois as crias serão mais adaptadas às condições ambientes em que os animais irão produzir. A prática de cruzamento, amplamente adotada no país, permite a rápida obtenção de animais mais produtivos, precoces, adaptados e aumento da lucratividade na atividade, além de possibilitar a correção de problemas de úbere e de tetos, principalmente se utilizada a inseminação artificial com touros provados. É importante ressaltar que a composição racial, após a primeira geração (F1) ou meio sangue europeu zebu (½ EZ), é expressa em função da probabilidade de contribuição de cada raça para o animal cruzado. Após a primeira geração de cruzamento (F1) ocorre despadronização dos animais e perda de heterose. A perda da heterose é devida a segregação cromossômica na formação dos gametas, que pode ser representada, de forma simplificada, conforme mostrado na Figura 5. (Assista ao vídeo explicativo desse diagrama na biblioteca virtual). Figura 5. Segregação cromossômica na formação de gametas em cruzamentos de animais F1 A seleção dos animais e as estratégias de cruzamentos podem ser utilizadas em conjunto para garantir elevados índices produtivos dos rebanhos. Para tanto, deve-se buscar o acasalamento entre animais de alta produção, provados ou de mérito genético conhecido para as características de interesse. A escolha da raça ou a estratégia de cruzamento depende do sistema de produção adotado, do objetivo da fazenda e da capacidade de investimento do produtor. Dentre as estratégias de cruzamento, as mais utilizadas pelos produtores rurais são: esquema de reposição com fêmeas F1; cruzamento de Holandês e Jersey; cruzamento triplo (tricross); cruzamento por absorção; cruzamento alternado simples; cruzamento alternado com repetição do europeu; e formação de raças sintéticas. 3.3.1 Esquema de reposição com fêmeas F1 10 A fêmea mestiça F1 é resultado do cruzamento de uma raça pura (raça A) com outra raça pura (raça B), o que em condições tropicais normalmente equivale a uma raça europeia (E) com uma raça zebuína (Z) e aproveita ao máximo a heterose entre as duas raças. Os animais F1 (EZ) se adaptam melhor às condições tropicais, com boa resistência ao calor e aos ectoparasitos, bom porte, boa produção leiteira e bom valor comercial. Os machos F1 (EZ) podem ser recriados para corte com sucesso, servindo de renda extra ao produtor. O produtor de leite pode optar por comprar fêmeas F1 (EZ) no mercado, ou dispor de um rebanho de vacas zebuínas ou holandesas puras, ou contratar aspiração de oócitos em outro rebanho e transferir os embriões gerados, para obter o F1 (EZ) e poder fazer a reposição anual de 20% a 25% de seu próprio rebanho. Uma outra opção é utilizar também, fêmeas F1 como receptora de embriões F1, sendo que essas fêmeas iriam parir as próprias bezerras para substituição, dentro do próprio rebanho. Na Figura 6 está representado o diagrama do cruzamento para a obtenção de fêmeas F1. As vantagens e desvantagens de fêmeas F1 são: Vantagens: • A expressão de heterose é máxima, e é tão maior quanto maior a distância entre as raças envolvidas • As fêmeas F1 apresentam uniformidade, facilitando as práticas de manejo • Bom desempenho à idade ao primeiro parto e intervalo de partos • Duração da lactação (dias) e produção de leite (kg) igual ou superior às outras composições raciais Desvantagens: • Há dependência de manutenção de fêmeas F1 e de fêmeas puras simultaneamente no rebanho para produção deste tipo de animal quando se usa a inseminação artificial, ou de aquisição de fêmeas ou de embriões F1 para reposição. Em caso das fêmeas F1 não gestarem embriões F1, haverá dependência de mercado para descarte das crias ¾EZ ou ¼ EZ. Alguns produtores têm usado as técnicas de IATF (inseminação artificial em tempo fixo) e FIV (fertilização in vitro) para a produção de animais F1 destinados à venda ao mercado. Desta forma, o produtor não precisa manter no seu rebanho animais puros, simplificando o manejo. Figura 6. Diagrama de cruzamento para obtenção de fêmeas F1 11 3.3.2 Cruzamento de Holandês e Jersey Os cruzamentos entre animais europeus, com destaque para os cruzamentos das raças holandesa e Jersey, produzem animais de menor porte em relação à raça holandesa pura, possibilitando maior número de animais por unidade de área e ótima produtividade. Os teores de sólidos totais do leite, especialmente gordura e proteína, são aumentados devido ao elevado teor de sólidos da raça Jersey em relação ao da raça holandesa. Por se tratar de um cruzamento entre raças, há o efeito de heterose, porém em menor nível pois ambas são de origem europeia (Bos taurus) e possuem maior semelhança genética. Portanto, se comparada à heterose obtida em cruzamento de Holandês com Zebu (Bos indicus), a heterose do cruzamento entre a mesma espécie será menor. 3.3.3 Cruzamento triplo (Tricross) Tricross é popularmente chamado o produto do cruzamento de animais F1 com animais de uma terceira raça pura. Como exemplo, o acasalamento de um touro da raça Jersey com uma vaca F1 Holandês-Gir resultaria em um produto tricross ½ Jersey, ¼ Holandês e ¼ Gir. O objetivo da produção do tricross é acrescentar características desejáveis de uma terceira raça, melhorando o desempenho do animal cruzado, como eficiência produtiva e reprodutiva composição do leite, entre outras, e minimizar a perda de heterose na segunda geração (tricross retém 75% da heterose). As vantagens e desvantagens do tricross são: Vantagens: • Aproveitamento da heterose materna, pois a mãe do produto final é uma F1 • Obtenção de ganho produtivo em relação às médias das linhagens parentais, devido a introdução de uma terceira raça e consequente manutenção de boa parte da heterose • Manutenção da adaptação às condições tropicais com respeito à fertilidade, precocidade e longevidade Desvantagens: • Complexidade do sistema de criação, devido a necessidade de manutenção de grupos genéticos distintos em lactação (fêmeas puras, fêmeas F1 e fêmeas tricross), além de touros de duas raças em caso de monta natural se não for praticada a IA e/ou FIV (fertilização in vitro).3.3.4 Cruzamento por absorção No cruzamento por absorção, a partir da primeira geração (F1) ou de um rebanho mestiço, emprega-se somente touros de uma mesma raça, geração após geração, até chegar a um animal puro por cruza (PC), ou seja, a contribuição genética será em grande parte da raça utilizada nas sucessivas gerações. Os animais PC apresentam composição racial, igual ou superior a 31/32 da raça predominante. No Brasil, esta estratégia é empregada principalmente com touros da raça holandesa em fêmeas mestiças EZ, em função de sua maior produção de leite. Partindo-se de animais puros Zebu, por exemplo, usando sempre touro ou sêmen da raça holandesa, tem-se ½ EZ na primeira geração, ¾ EZ na segunda, 7/8 EZ na terceira, 15/16 EZ na quarta e 31/32 EZ, ou seja, animais puros por cruza, PC, na quinta geração. Na Figura 7, pode-se observar o diagrama do cruzamento por absorção. As vantagens e desvantagens dessa estratégia de cruzamento são: Vantagens: • Obtenção de animais especializados a partir de um rebanho comum com baixo custo inicial 12 • Formação de um rebanho mais padronizado, quando comparado a rebanhos de animais mestiços de cruzamentos não delineados • Obtenção de animais mais adaptados ao ambiente tropical, quando comparado aos animais europeus puros • O rebanho pode ser melhorado pela seleção das fêmeas nascidas no próprio sistema para a reposição Desvantagens: • À medida que os animais se aproximam mais da raça pura (mais apurados), aumentam-se as exigências em termos de ambiente, nutrição e manejo. Ao longo das gerações, ocorre uma diminuição da heterose. Figura 7. Diagrama de cruzamento por absorção 3.3.5 Cruzamento alternado simples Na estratégia de cruzamento alternado simples, se alternam as raças paternas (touros), a cada geração. Assim, a raça do reprodutor será sempre diferente da raça do pai da vaca que está se reproduzindo. Como exemplo, partindo de vacas 1/2 EZ acasaladas com touro Holandês, os animais resultantes terão cerca de 3/4 Holandês + 1/4 Zebu e, na geração seguinte, 3/8 Holandês + 5/8 Zebu, e assim sucessivamente. Neste sistema de cruzamento se produz alto nível de heterose. Utilizando alternadamente touros europeus (E) e Zebu (Z) em poucas gerações são obtidos animais 2/3 e 1/3 E, caindo a heterose em 2/3 da heterose máxima. Quando se quer manter uma proporção mais alta de genes europeus, pode-se realizar um cruzamento simples com um touro ½ E no lugar do zebu, o que resultará em vacas 4/6 e 5/6 E. É um esquema bom para produtores de leite que utilizam sistemas de produção a pasto com baixo uso de insumos, e desejam recriar os machos para corte. Contudo, o rebanho torna-se mais heterogêneo, com animais mais azebuados e menos azebuados, o que pode dificultar o manejo. Na Figura 8 observa- se o diagrama do cruzamento alternado simples e, a seguir estão citadas as vantagens e desvantagens dessa estratégia. 13 Vantagens • O melhoramento genético do rebanho pode ser obtido pela seleção das fêmeas nascidas no próprio sistema e destinadas à reposição • Manutenção de níveis satisfatórios de heterose, embora inferiores aos obtidos na geração F1 • Pode representar uma alternativa para cria e recria de machos para corte, quando existe mercado para este tipo de animal Desvantagens • É necessário manter touros das duas raças na propriedade, o que pode encarecer o sistema. Contudo, isto pode ser resolvido com o uso de inseminação artificial • A falta de padronização dos animais no rebanho pode dificultar o manejo das fêmeas em produção Figura 8. Diagrama de cruzamento alternado simples. É um tipo de cruzamento em que se empregam, por duas ou três gerações consecutivas, touros de raças europeias, alternando com um touro zebuíno. Este esquema pode ser representado na sequência E-E-Z ou E-E-E-Z. No primeiro caso (E-E-Z), as fêmeas mestiças de Europeu-Zebu são acasaladas com touros da raça europeia pura, produzindo animais com, no máximo, 7/8 Europeu + 1/8 Zebu; em seguida, retorna-se com o touro zebuíno, produzindo animais 7/16 Europeu + 9/16 Zebu, aproximando do ½ EZ. No segundo caso (E-E-E-Z), as fêmeas mestiças de Europeu-Zebu são acasaladas com touros da raça europeia pura, por três gerações seguidas, produzindo animais com até 15/16 Europeu + 1/16 Zebu; em seguida, retorna-se com o touro zebuíno, produzindo animais 15/32 Europeu + 17/32 Zebu, também aproximando do ½ EZ. A heterose média será em torno de 4/7 em relação a heterose máxima. Esta estratégia de cruzamento é adequada para propriedades que possuem boas condições de nutrição, sanidade e manejo do rebanho e a raça holandesa é a mais utilizada. As vantagens e desvantagens do cruzamento alternado com repetição do europeu são: 3.3.6 Cruzamento alternado com repetição do europeu 14 Vantagens • Com este esquema é possível obter animais próximo do ½ EZ, a cada 2 ou 3 gerações • É um esquema utilizado na maioria dos rebanhos mestiços, que não pretendem tecnificar demasiadamente seus sistemas de produção, quando comparado ao PC, mas manter níveis elevados de produção Desvantagens • A falta de padronização racial no rebanho pode dificultar as práticas de manejo, especialmente no controle de ectoparasitos, na termotolerância e no manejo da ordenha • Ao se retornar com uso de touro Zebu, poderão ocorrer casos de vacas com lactação curta e vacas com dificuldade para descer o leite sem a presença do bezerro, o que dificulta o manejo da ordenha mecânica. Na Figura 9, observa-se o diagrama do cruzamento alternado com repetição do europeu (E-E-Z) em duas gerações consecutivas e na Figura 10, em três gerações consecutivas (E-E-E-Z). Figura 9. Diagrama de cruzamento alternado com repetição do Europeu por duas gerações (E-E-Z) 15 Figura 10. Diagrama de cruzamento alternado com repetição do europeu por três gerações (E-E-E-Z) 16 Tradicionalmente, a formação de uma raça sintética está focada em combinação genética com 5/8 de raça europeia e 3/8 de raça zebuína, o que representa a probabilidade de contribuição genética de cada raça. No Brasil, tem-se o exemplo da raça Girolando, cujas normas para sua formação estão estabelecidas desde 1989. A raça é produto do cruzamento da raça holandesa (HOL) com a Gir (GIR), passando por variados graus de composição racial, mas direcionando-se à fixação do padrão racial no grau de 5/8 HOL + 3/8 GIR, para obter um gado produtivo e padronizado. A utilização de touros de raças sintéticas apresenta grande facilidade prática em comparação com as alternativas anteriores. A infraestrutura necessária para os cruzamentos rotacionados existem, muitas vezes, somente em rebanhos grandes e organizados. Entretanto, ao utilizar touros de raças sintéticas, o criador deverá optar pela aquisição de sêmen de animais de alto valor genético. No caso da raça Girolando, isso é possível em função da publicação anual do Sumário de Touros, o qual é baseado em um delineamento de teste de progênie. Dentre os esquemas de cruzamento para obter animais Girolando, pode-se utilizar um touro Gir na vaca 1/2 HOL-GIR, formando o animal 1/4 HOL + 3/4 GIR, que aproveita o melhoramento genético obtido pela raça Gir nos últimos anos e sua rusticidade. A vaca 1/4 HOL-GIR é coberta com touro Holandês, dando origem a um (a) filho (a) 5/8 HOL-GIR. Daí em diante, é formado o Puro Sintético (PS), mediante o acasalamento de touro 5/8 HOL + 3/8 GIR com vaca também 5/8 HOL + 3/8 GIR, como está representado na Figura 11. 3.3.7 Formação de raças sintéticas Figura 11. Diagrama de cruzamento de touro Gir com vaca meio sangue para formação da raça sintética 17 Entre as características de maior relevância na raça Girolando, além da produção de leite, estão as do sistema mamário que podem ser: úbere desenvolvido, com boa irrigação, consistência macia e não fibrosa, e de boa capacidade. Os quartos mamários anteriores são projetados para frente e firmemente inseridos no abdômen, e os quartos posteriores apresentam-sebem projetados para trás e para cima. Figura 12. Diagrama de cruzamento de touro Holandês com vaca meio sangue para formação da raça sintética Na escolha da estratégia de cruzamento para a formação de um rebanho leiteiro, deve-se levar em conta a endogamia. Em qualquer estratégia de cruzamento, o acasalamento entre parentes deve ser evitado porque as consequências são negativas em decorrência do aumento da consanguinidade ou endogamia dos animais. A endogamia pode, em um primeiro momento, diminuir o desempenho reprodutivo e, posteriormente, a produção de leite. Pode ainda, interferir na ocorrência de enfermidades, como susceptibilidade a agentes infecciosos, e defeitos hereditários, como é o lábio leporino. O acasalamento entre parentes ou endogamia foi adotado por muitos anos para uniformização das raças bovinas e formação das linhagens hoje existentes, mas pelos problemas decorrentes de sua utilização em médio e longo prazo, pelo longo intervalo de gerações e dificuldades de prever as consequências, os técnicos passaram a não reconhecer essa prática nos rebanhos bovinos. O mais importante na escolha da estratégia de cruzamento é o retorno econômico do sistema, portanto, não existe uma receita pronta para a escolha dos cruzamentos e sim as possibilidades mais adequadas cada região e sistema. Lembre-se que cruzamentos com maior composição das raças europeias aumentam a exigência do rebanho em relação aos manejos nutricional, reprodutivo, sanitário e de bem-estar. 3.4 Cuidados na escolha da estratégia de cruzamento Uma opção ao esquema anteriormente descrito pode ser o touro Holandês utilizado na vaca 1/2 HOL- GIR, gerando a vaca 3/4 HOL + 1/4 GIR, que é um animal de bom nível produtivo, devido à sua herança em maior proporção do Holandês (Figura 12). Com o aumento da disponibilidade de touros provados 5/8 HOL + 3/8 GIR, torna-se possível utilizá-los nas vacas 3/4 HOL + 1/4 GIR, obtendo por aproximação matemática, a vaca 5/8 HOL + 3/8 GIR. Disso, o próximo passo é obter o PS, com os acasalamentos entre os 5/8 HOL + 3/8 GIR. 18 3.5 Glossário Avaliação genética: processo para obtenção do valor genético dos animais a partir dos dados de desempenho em determinadas características coletadas nos rebanhos e do uso de metodologias matemático-estatísticas de análises de dados. Consanguinidade: é o resultado do acasalamento entre indivíduos aparentados, que são geneticamente semelhantes. Cruzamento: acasalamento de indivíduos de raças diferentes ou linhagens geneticamente diversas; reprodução entre espécies não pertencentes ao mesmo gênero. Fenótipo: aparência externa de um organismo, que resulta da ação dos genes com o meio ambiente; É a forma como o indivíduo expressa suas características, por exemplo, produção de leite e ganho de peso. Genótipo: se refere aos alelos de um indivíduo em uma localização específica do genoma. Heterose: é o fenômeno pelo qual os filhos apresentam melhor desempenho do que a média dos pais. Sólidos no leite: o leite é uma combinação de diversos elementos sólidos em água. Os elementos sólidos são: lipídios (gorduras), carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas, que representam aproximadamente de 12% a 13% do leite. Touro provado: são aqueles avaliados para as características importantes para produção. Touro provado é a mesma coisa que touro testado e aprovado. Tricross: são produtos do cruzamento entre animais F1 com animais de uma terceira raça pura. Valor genético: é a carga genética de um animal herdada dos pais. Vigor híbrido: é o fenômeno pelo qual os filhos provenientes de cruzamentos apresentam melhor desempenho do que a média de seus pais.