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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE (UBS): RELATO DE EXPERIÊNCIA MICHELE ALVES BRONDANI1 MARIANNA DIDONET HOLLERBACH2 CERVITA ROMERO CAVALEIRO3 LUCIANE BENVEGNU PICCOLOTO4 RESUMO As atividades realizadas em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) são voltadas aos atendimentos de atenção primária em saúde, destinadas à comunidade na área de abrangência. Entre suas principais atribuições estão a promoção e proteção à saúde, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde, visando desenvolver uma atenção integral à população atendida. Dessa forma, o presente relato de experiência, fundamentado em uma revisão narrativa de literatura, visa descrever a importância desse nível de atenção em saúde mental e a inserção do psicólogo neste setor. A atuação deste profissional em uma UBS tem como proposta oferecer uma importante contribuição na compreensão contextualizada e integral das pessoas, familiares e toda a comunidade assistida. Porém, como espaço recente do psicólogo, há muito o que se fazer e desenvolver em uma UBS. INTRODUÇÃO Ainda é recente a percepção de que os profissionais da área da saúde devem se integrar também às práticas de saúde. No que tange à psicologia, o atraso em perceber essa questão ainda é dominante e muitos dos motivos dizem respeito às práticas de ensino voltadas à preparação para exercer a profissão de forma autônoma, priorizando um modelo único de atendimento que tem como foco a psicoterapia contínua (SILVA, 1992). 1 Acadêmica do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. E-mail: michaabrondani@gmail,com 2 Acadêmica do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. E-mail: marianna.hollerbach@yahoo.com.br 3 Acadêmica do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. E-mail: cervitarc@gmail.com 4 Professora do Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria. E-mail: luciane.piccoloto@gmail.com Com o objetivo de acolher, acompanhar e promover uma melhor qualidade de vida às pessoas que procuram o atendimento psicológico na UBS, planejaram-se algumas intervenções que pudessem dar conta da demanda surgida no local de estágio: acolhimento e triagem, acompanhamento psicológico e desenvolvimento de grupos. Dessa forma, a proposta do presente relato busca descrever a importância do nível de atenção básica em saúde mental e a inserção do profissional de psicologia neste setor, no momento em que sua atuação não mais se restringe à clínica somente, e em face à demanda cada vez maior nos serviços que envolvem o nível de atenção básica em saúde, setor que ainda carece de serviços dos profissionais de psicologia. METODOLOGIA O referido relato de experiência busca como base referencial a revisão narrativa de literatura, que apresenta temática mais aberta e seleção dos artigos de forma arbitrária (CORDEIRO, et al., 2007). Como base de dados para fundamentar o relato foram analisados alguns autores pesquisadores da área e um levantamento bibliográfico sobre o tema na plataforma de pesquisa SciELO no mês de outubro de 2018. RESULTADOS E DISCUSSÃO As atividades realizadas na Unidade Básica são voltadas aos atendimentos de atenção primária em saúde, destinadas à comunidade na área de abrangência, constituindo-se como a principal porta de entrada e centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Geralmente instalada próxima dos locais onde os usuários residem, trabalham, estudam e vivem, desempenha um papel importante garantindo acesso à população à uma atenção à saúde de qualidade. Entre suas principais atribuições estão a promoção e proteção à saúde, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde, visando desenvolver uma atenção integral à população atendida (BOING; CREPALDI; MORÉ, 2009). Com as recentes mudanças na inserção dos psicólogos na saúde e o surgimento de novos campos de atuação, introduzem-se transformações qualitativas nas práticas bem como novas perspectivas teóricas, emergindo um novo campo de saber (SPINK, 2003). Assim, a atuação do psicólogo em uma Unidade Básica tem como proposta oferecer uma importante contribuição na compreensão contextualizada e integral das pessoas, familiares e toda a comunidade assistida. Diante da demanda surgida na UBS, foram planejadas intervenções que pudessem atender à população que busca os serviços psicológicos no local. Dentre as intervenções, elaborou-se uma triagem dessas pessoas que vinham até a unidade ou eram encaminhadas por médicos, em sua maioria. A triagem é um primeiro momento de escuta, no qual buscar-se-à os elementos que conduzam a uma avaliação se o que a pessoa busca ou espera ela vai poder ter ao ser atendida neste lugar (RIBEIRO, 2012). Dessa forma, a triagem é uma prática importante para se conhecer brevemente o paciente e o que ele traz, funcionando como um filtro de suas necessidades e direcionando-o ao tratamento/acompanhamento mais indicado. Porém, Ribeiro (2012) também atenta para o fato de que a triagem deve ser mais do que apenas uma coleta de dados para subsidiar a construção de um encaminhamento, isto é, deve ser entendida como um espaço privilegiado, onde junto com o paciente possa-se avaliar as reais possibilidades de atendimento no serviço naquele momento e discutir-se alternativas de atendimentos em outros locais. Outra intervenção que se planejou, após a realização da triagem, foi o atendimento clínico para aqueles pacientes selecionados para o acompanhamento. Esta intervenção é realizada na mesma sala de atendimentos da UBS onde é feita a triagem. Assim, o paciente é recepcionado pela atendente do local e logo é encaminhado pela estagiária na sala referida. O atendimento tem duração de 40-50 minutos, onde cada paciente terá a sua ficha de acompanhamento e evolução, sendo discutidos na reunião semanal de supervisão. Referente aos atendimentos clínicos realizados em uma Unidade Básica, Figueiredo (1996) afirma que a clínica psicológica se caracteriza não pelo local em que se realiza, mas pela qualidade da escuta e do acolhimento que se é oferecido ao paciente. Nesse caso, há que se concluir que independente do lugar onde o fazer clínico se aplica, seja no âmbito privado ou público, este será sempre um fazer psicológico que se pautará em concepções teóricas e metodológicas que refletirão essa postura diante do sofrimento ou fenômeno psicológico que se coloca diante dele, isto é, o ato clínico se pautará muito mais por uma ética do que por referenciais teóricos fechados (DUTRA, 2004). Outra atividade incluída no plano de ação, oriunda da necessidade do local de estágio, em vista do grande número de pacientes que procuravam a Unidade Básica, foi a criação e coordenação de grupos terapêuticos. Para que essa proposta pudesse se concretizar, planejou- se que após a triagem, os estagiários de Psicologia pudessem selecionar os pacientes triados conforme a demanda que traziam e convidá-los a participarem dos grupos, voluntariamente. Assim, foram criados os grupos terapêuticos com a finalidade de trazer mais qualidade de vida aos pacientes bem como atender a grande demanda da UBS. Sobre a importância dos grupos, Yalom (2006, p.189) afirma: “a terapia de grupo é uma modalidade potente que produz benefícios significativos para seus participantes”. Dentre estes benefícios, a terapia de grupo é superior à terapia individual no que se refere a aprendizagem social, do desenvolvimento de apoio social e da melhora das redes sociais, constituindo-se em fatores que minimizam a ocorrência de recaídas para pacientes com transtorno de uso de substâncias, mais efetiva para a obesidade e para pacientes com doenças médicas. Dessa forma, os pacientes aprendem a aumentar mais a auto eficáciacom os integrantes do grupo do que com a terapia individual (YALOM, 2006). CONCLUSÕES Diante de nossa experiência realizada no contexto de atenção básica envolvendo uma UBS, consideramos importante esclarecer que o trabalho exercido por um psicólogo neste setor necessita ser ampliado, desvinculando-se do contexto único da clínica e elaborando outras formas de atuação mais condizentes com a demanda existente. Não queremos aqui em hipótese alguma sugerir a abolição da prática clínica. Pelo contrário, sabemos de sua efetividade e importância, mas percebemos também a necessidade de desenvolver outros tipos de intervenções que possam dar conta dessa comunidade que busca esses atendimentos. Assim, percebe-se a necessidade de um olhar mais amplo nas práticas psicológicas neste nível de atenção em saúde, bem como a importância do trabalho multidisciplinar nas UBSs, promovendo várias formas de intervenção e troca de saberes, ao perceber o indivíduo integralmente, tanto biologicamente como psiquicamente, contextualizado em sua comunidade e âmbito social. REFERÊNCIAS BOING, E.; CREPALDI, M. A.; MORÉ, C. L. O. O. A Epistemologia Sistêmica como Substrato à Atuação do Psicólogo na Atenção Básica. Psicologia Ciência e Profissão, v.29, n. 4, p.828-845, 2009. CORDEIRO, A. M., et.al. Revisão Sistemática: uma revisão narrativa. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v.34, n.6, Rio de Janeiro, nov/dez 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-69912007000600012&script=sci_arttext. Acesso em: 12 out. 2018. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-69912007000600012&script=sci_arttext DUTRA, E. Considerações sobre as significações da Psicologia Clínica na Contemporaneidade. Estudos em Psicologia, v.9, n. 2, p.381-387, 2004. FIGUEIREDO, L. C. Revisitando as Psicologias: da Epistemologia à Ética das Práticas e Discursos Psicológicos. São Paulo, Petrópolis: EDUC/Vozes, 1996. RIBEIRO, M. S. M. Limites e possibilidades da clínica na universidade. III Jornada da CEIP: Clínica na Universidade, Santa Maria, RS, nov.2012. SILVA, R. C. A formação em Psicologia para o Trabalho na Saúde Pública. In. CAMPOS, F. C. B. (Org.) Psicologia e Saúde: repensando práticas. Ed. Hucitec, São Paulo, p. 25-40, 1992. SPINK, M. J. P. Psicologia da Saúde: a estruturação de um novo campo de saber. In.______ Psicologia Social e Saúde: Práticas, Saberes e Sentidos. Vozes, p.29-39, Petrópolis, RJ, 2003. YALOM, I. D.; MOLYN, L. Psicoterapia de Grupo: teoria e prática, Artmed, Porto Alegre, 2006. RESUMO INTRODUÇÃO METODOLOGIA RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÕES REFERÊNCIAS
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