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Resumo 'O que é trabalho' - Suzana Albornoz

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Suzana Albornoz no livro “O Que é Trabalho” adota uma linguagem de fácil compreensão e busca, através de uma análise de vários contextos históricos vinculados a eventos desde a antiguidade até os dias atuais, alçar uma reflexão acerca do sentido do trabalho para a sociedade. Desse modo, partindo da investigação da construção histórica da palavra trabalho e do levantamento dos múltiplos significados dentro de cada cultura e temporalidade, elenca que este, além do sentido popular pautado na perspectiva de rotina diária, concentra relações sociais e de poder. 
A autora, ao apresentar os diversos significados em sua linguagem cotidiana, coloca que tal significação atribuída ao homem sofre transformações de acordo com seu conteúdo valorativo e prático. Tal fenômeno é ilustrado na exemplificação das várias designações das línguas europeias que descrevem a atividade laboral. Entretanto, em português, a palavra trabalho resume a oscilação de sua significação em uma só expressão, designando tanto a obra que proporciona reconhecimento social permanecendo além da vida, quanto o esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incomodo inevitável. 
Ao realizar o percurso de levantamento dos múltiplos significados da palavra trabalho, evidencia-se que o esforço proveniente deste será, para alguns, predominantemente físico, para outros, preponderantemente intelectual. Entretanto, a autora coloca que a separação do trabalho corporal e mental não faz sentido, uma vez que um não existe sem o outro tendo uma relação claramente dependente. Sendo assim, trabalho é o esforço e também o seu resultado: a construção enquanto processo e ação, e o edifício pronto. 
Para muitos, o que distingue o trabalho humano do dos outros animais é que neste há consciência e intencionalidade, enquanto os animais trabalham por instinto, programados, sem consciência. Albornoz coloca que algo que definitivamente distingue o trabalho humano do esforço dos animais, embora para ambos a primeira motivação possa ser a sobrevivência, é que no trabalho do homem há liberdade. Partindo deste entendimento, tem-se que natureza e invenção se entrelaçam no trabalho humano, em níveis diversos, da ação mais mecânica e natural à mais controlada e consciente. Neste sentido, talvez possamos formar uma ideia mais clara do que é trabalho se antes passarmos pela história da experiência que lhe corresponde. 
No segundo capitulo do livro intitulado “o que o trabalho tem sido”, realiza-se uma rápida viagem ao longo das diversas épocas da história das civilizações. O trabalho no primeiro estágio da economia isolada e extrativa é um esforço apenas complementar ao trabalho da natureza. Ligado a subsistência, neste primeiro momento é tido quanto ação secundária frente às forças da natureza.
No estágio consecutivo ao das economias isoladas, temos o tempo em que os homens inventaram ou descobriram a agricultura. Colaborando para a superação do nomadismo dos povos caçadores, institui-se como uma forma padronizada de organização da obtenção dos meios de subsistência. O desenvolvimento da agricultura ocasiona o surgimento da noção de propriedade e o produto excedente, criando condições para a existência de uma classe social ociosa, onde o tamanho de propriedades e quantidades e trocas de excedentes instalam desigualdades, tendo como resultado final a separação da propriedade e do trabalho, a ponto de estabelecer a desapropriação total de quem trabalha pelo suposto direito de propriedade do ocioso.
Ao elencar os estudos sobre o desenvolvimento econômico da Antiguidade e da Idade Média Europeia, a autora estabelece conexão entre a submissão do trabalho à ideia da propriedade, estabelecendo relação com o surgimento da desigualdade, colocando que estas são mantidas por guerras ou táticas militares. Deste trabalho explorado sobre a terra origina-se a riqueza que incentiva o desenvolvimento do trabalho artesanal; ao mesmo tempo que, ao existir excedentes tanto na agricultura como na criação dos animais, intensifica-se o comércio, sendo este, mediado pela moeda, o passo seguinte da evolução econômica.
A prática do comércio, mediado pela moeda marcado pela venda dos produtos agrícolas, baseia o estabelecimento de uma hierarquia, dando inicio ao surgimento de uma nova classe social: a burguesia, que, ao não dependerem diretamente do cultivo e propriedade da terra ou de animais, desvaloriza o processo primário da obtenção de recursos. Neste processo de intensa valorização do comercio a burguesia torna-se classe dominadora, ocupando tal lugar ainda no mundo de hoje, determinando em grande parte as formas pelas quais se realiza hoje o trabalho em nossas sociedades capitalistas. 
Diante deste processo, as características da era moderna que a distinguem do passado será a aplicação da ciência à produção. Pois, embora mantendo certa autonomia em relação às condições materiais, artes e ciências acompanham de perto o desenvolvimento econômico. A ideia da burguesia em aplicar à produção os conhecimentos sobre a natureza e os fenômenos físicos juntamente com as riquezas obtidas pela Europa durante a colonização dos novos mundos descobertos, gerou a Revolução Industrial, caracterizada pelas seguintes três fases: invenção da máquina a vapor; uso da eletricidade; e invenção do computador. 
Juntamente com o advento da automatização nasce a possibilidade de uma humanidade liberta do fardo do trabalho, assim, a ociosidade, até então tomada por privilegio de uma minoria, poderia estender-se às grandes massas. No entanto, de maneira contraditória, a promessa de ampliação do ócio para as grandes massas chega no mesmo período em que a era moderna faz a glorificação teórica do trabalho. Sendo assim, a autora finaliza este capitulo colocando que a possibilidade de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho não apareceu como uma libertação do mundo da necessidade, mas como uma ameaça inquietante. 
O terceiro capitulo “o que o trabalho está sendo”, inicia afirmando que neste atual contexto do mundo industrial na era da automação, o trabalho é um esforço planejado e coletivo. 
O colonialismo cedeu lugar a um imperialismo econômico indisfarçável, colocando em destaque as organizações multinacionais. A valorização das organizações e das grandes empresas ocasionou a dependência da população a estas. O trabalho autônomo cada vez mais é deixado por um emprego em uma organização, ou mesmo pelo desemprego ante a organização. A este processo que se institui como realidade mundial atual, correspondem alguns fenômenos que lhe estão associados, seja como causa ou consequência, entre estes tem-se dois bons exemplos: o crescimento demográfico e a urbanização. 
Sendo o crescimento demográfico e a urbanização dois acontecimentos registrados pelas estatísticas e confirmados pela observação e vivencia, temos que o crescimento notável das cidades não se deve apenas ao aumento numérico da população, mas também as novas conquistas da área da saúde que possibilitaram o controle de certas endemias e a redução da mortalidade e às migrações. Com o advento da industrialização surge a necessidade dos trabalhadores se concentrarem perto de seu local de trabalho, tal realidade aliada à migração movida pela esperança de integra-se ao mercado de trabalho moderno e no modo de vida urbano trouxe como consequência exigente a urbanização. 
Dentro do contexto acima mencionado o trabalho é separado entre os lugares de trabalho e de moradia e entre o processo de produção de uma mercadoria. As partes do processo de produção de um objeto, de um projeto, passam a ser separadas, cada trabalhador ou funcionário entenderá apenas de um minúsculo ponto do processo. Tal especialização ocasiona a desvalorização do alcance do trabalho na medida em que o trabalhador deixa de vê o conjunto da atividade em que o seu esforço se insere. Dessa forma, o trabalho é alienado do trabalhador, que, quanto produtor, não detém, não possui e não domina os meios de produção, constituindo-se como uma consequência da organização legal do capitalismo
moderno e desta divisão social no trabalho. 
Nesse processo de especialização gera-se alienação mútua: o homem que vende sua força de trabalho aliena-se igualmente aquele a quem ele outorga e a quem passa a pertencer o seu trabalho e o produto deste. Diante desta relação, a especialização tem um efeito final que contradiz o seu propósito inicial. Depois de atingido um determinado ponto de fragmentação do processo de trabalho, em vez de acentuar-se a perfeição e beneficiar-se, pois, o aspecto técnico da produção, é este mesmo aspecto técnico que se perde. 
Fazendo a comparação do trabalho na organização com o modelo artesanal, a autora coloca que fica fácil perceber também a perda do aspecto lúdico. O trabalhador, inserido no contexto das organizações trabalhistas, não possui liberdade para interromper sua aplicação ao oficio no momento em que sente carência de descanso, não há a flexibilidade para se fazer pausas para o lazer. Diante da realidade que se coloca, Albornoz afirma que não há condições para introduzir-se nenhum prazer no tempo de trabalho, mesmo com o esforço dos departamentos de psicologia.
O trabalho hoje é uma espécie de negativo daquele artesanal, ou o seu oposto. No mundo industrial falta o vinculo entre o trabalho e o resto da vida, no mundo do trabalho em que vivemos este possui como uma das características mais decisivas a sua submissão ao capital, aos interesses dos capitalistas e dos proprietários. Somado a isto tem-se um Estado não inteiramente autônomo, mas não inteiramente confundindo com a classe dona da terra e das fabricas, que se apresenta como um instrumento quase perfeito para os interesses do capital e divulga sua ideologia de submissão, contribuindo para a alienação da população. 
Acerca do capitulo “do que se tem pensado sobre o trabalho”, a autora diz que os mitos sobre o esforço dos homens em busca de seu sustento moldaram os preconceitos das diversas culturas em todas as épocas. Portanto, as inúmeras maneiras de apresentar o conjunto de ideias ocorridas historicamente podem ainda estar influenciando nossos preconceitos sobre o trabalho. Assim, a autora defende que não há como pontuar a história dos preconceitos, ou ideias, sobre determinada área da experiência humana em nossa cultura sem que a procura das origens seja na Grécia, Roma, e também na tradição judaico-cristã.
Os preconceitos gregos encontram expressão em uma teoria geral da atividade criadora como a que aparece em Aristóteles. Para o pensamento antigo é a finalidade que dá sentido e comando o conjunto da atividade produtiva. A causa real da fabricação não está na vontade ou na força do artesão, mas fora dele, no produto feito, no fim a que se dirige a atividade. Para esta forma de pensar, o homem só age livremente quando sua ação não gera nada além dela mesma, ou seja, quando utiliza as coisas e não apenas fabrica. Dessa maneira o ideal do homem livre aparece na Grécia como sendo antes o do usuário que o do produtor. 
Trazendo Hannah Arendt, pensadora do século XX que repensa a distinção grega entre labor, práxis e poiesis, diante das novas realidades do mundo contemporâneo, coloca que esta julga quer no mundo contemporâneo a redução de todo trabalho ao nível de labor, ou seja, ao nível de esforço rotineiro e cansativo objetivando apenas a sobrevivência. Estaria ocorrendo uma laborização do mundo, bem mais do que a elevação do trabalho produtivo ao plano da práxis pela politização da vida operária, segundo o projeto socialista. 
A ideia de que o homem se faz a si mesmo e se eleva como ser humano justamente através de sua atividade pratica, com seu trabalho, transformando o mundo material, é uma ideia moderna, alheia ao pensamento antigo. Tal afirmação fica evidente quando a autora pontua o entendimento do trabalho na tradição judaica, onde é encarado como uma labuta penosa, à qual o homem está condenado pelo pecado. Tal teor do trabalho também é concebido na Bíblia, que o apresenta como castigo, e no cristianismo onde o trabalho era visto como punição para o pecado. 
Com a Reforma protestante, o trabalho sofre uma reavaliação dentro do cristianismo. Para Lutero, o trabalho aparece como a base e a chave da vida e, repetindo São Paulo, acrescentava que todo aquele capacitado para trabalhar tinha o dever de fazê-lo. Assim, o ócio era uma evasão antinatural e perniciosa. A profissão torna-se uma vocação e o trabalho é tido como caminho religioso para a salvação, visto como virtude e como obrigação ou compulsão. 
Weber associa a ética protestante ao que ele chama de espírito do capitalismo. A psicologia do homem religioso e do homem econômico coincidiram no empresário burguês que, quando para afirmar-se, necessita da religião do trabalho, onde é recomendada a intensa atividade profissional, defendendo que apenas a atividade afugenta as duvidas religiosas e dá a certeza da graça. A procura de bens materiais e dinheiro ainda são condenados, no entanto, a riqueza apenas é vista negativamente ao constitui-se em uma tentação para a vadiagem e o relaxamento. A perda de tempo é o primeiro e o principal de todos os pecados. 
A autora aborda a visão do trabalho renascentista, expõe as ideias de Rousseau e de economistas como Adam Smith e David Ricardo e então aborda o marxismo, fala que para Marx a essência do ser humano está no trabalho. O que os homens produzem é o que eles são. Sendo assim, os indivíduos dependem, portanto, das condições materiais que determinam sua atividade produtiva. 
Abordando a contemporaneidade afirma que, segundo Marcuse, o trabalho não seria apenas alienado no mundo de hoje, mas alienante. A servidão ao trabalho sem sentido serve para castrar os indivíduos como seres políticos e pensantes. Assim, o esforço alienado imbeciliza e reduz a capacidade de opor-se ao sistema e de supera-lo. Os produtos do trabalho doutrinam e manipulam, completando o processo de alienação do indivíduo, que não pode mais se destacar e opor. O trabalho torna-se necessário porque o produto é visto como tal; e assim se fecha o círculo da nova dominação. 
O capitulo cinco “o que o trabalho não é”, coloca que é preciso refletir sobre as semelhanças e diferenças eventuais entre trabalho e emprego, pois muitas vezes na linguagem coloquial se diz trabalho por emprego, e vice-versa. Muitas vezes fazemos a nossa preparação profissional não exatamente para atingir o domínio de um saber ou de uma técnica, ou alcançar a satisfação de uma nova capacidade. O que se pretende é depois do curso conseguir um emprego melhor, ou pelo menos o melhor emprego de nosso tempo. 
Paul Singer, economista brasileiro, além de distinguir os setores de emprego, o setor de mercado, do emprego na produção capitalista propriamente dita; o setor autônomo, da produção simples de mercadorias; o setor de subsistência; e o setor de emprego; comenta que hoje, na pratica, emprego não se entende, em primeiro lugar, como uma atividade peculiar, no sentido técnico de trabalho ou produção, mas sim como recurso de acesso, mesmo que parcial e defeituoso, a uma parte da renda, e consequentemente, ao consumo. As pessoas trabalham antes para consumir do que propriamente para produzir alguma coisa. 
O último capítulo intitulado “o que o trabalho ainda não é, mas pode ser”, a autora traz que para Borneman o trabalho deveria ser constituído como uma forma de prazer; o acento seria posto na criatividade, sobre a produtividade; o trabalho seria o produto da alegria de criar, satisfação análoga à atividade do artista, do pensador, do amador que exerce toda espécie de ofícios. Não sendo mais uma carga que o homem suporta apesar dele mesmo porque sem ele não sabe do que viveria. A vida de todos os membros da sociedade será assegurada independentemente de seus desempenhos e façanhas. De modo que o trabalho poderá tornar-se, enfim, uma atividade com sentido. 
Diante do exposto, finaliza afirmando que a instauração da gestão operária, que não quer dizer que os indivíduos de origem operaria sejam nomeados no lugar dos atuais dirigentes, mas sim que a produção, em todos
os níveis, seja dirigida pela coletividade dos trabalhadores, é o que permitirá começar imediatamente a eliminar as contradições fundamentais da produção capitalista, marcando o fim da dominação do trabalho sobre o homem, e o começo da dominação do homem sobre o seu trabalho. 
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