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ALTERAÇÕES E AGRAVOS NA SAÚDE DO TRABALHADOR

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ALTERAÇÕES E AGRAVOS NA
SAÚDE DO TRABALHADOR
Caro(a) aluno(a),
A Universidade Candido Mendes (UCAM), tem o interesse contínuo em
proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que
conduzem ao conhecimento.
Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional
para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento
intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm
acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem
cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às
informações necessárias para o exercício de suas variadas funções.
Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo,
totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construto melhor para
os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso.
Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita
dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente
da Universidade Candido Mendes (UCAM).
Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de
suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese
dos saberes.
Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o
equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos!
Atenciosamente,
Setor Pedagógico
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 
SUMÁRIO 
ASPECTOS PSICODINÂMICOS DA RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO: AS CONTRIBUIÇÕES 
DE C. DEJOURS ........................................................................................................................................ 4 
 
SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA DO TRABALHO ....................................................................... 14 
PARADOXOS DO TRABALHO ........................................................................................................... 16 
QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................................................ 20 
O SOFRIMENTO DO TRABALHO ...................................................................................................... 22 
 
A ERGONOMIA DA ATIVIDADE SE INTERESSA PELA QUALIDADE DE VIDA NO 
TRABALHO? REFLEXÕES EMPÍRICAS E TEÓRICAS ................................................................. 27 
CENÁRIO DE MUDANÇAS E PRINCIPAIS INDICADORES CRÍTICOS NO MUNDO DO 
TRABALHO ........................................................................................................................................... 29 
AS MARCAS DAS METAMORFOSES DO MUNDO DO TRABALHO ....................................... 29 
INDICADORES CRÍTICOS: IMPACTOS NA PRODUÇÃO .......................................................... 32 
INDICADORES CRÍTICOS: IMPACTO SOBRE OS TRABALHADORES................................... 33 
INDICADORES CRÍTICOS: IMPACTOS SOBRE OS USUÁRIOS E CONSUMIDORES ........... 35 
OS TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA ERGONOMIA DA ATIVIDADE ....................................... 36 
BREVE HISTÓRICO: DIÁLOGO ENTRE PESQUISADORES E TRABALHADORES ............... 36 
ERGONOMIA: DEFINIÇÕES E OBJETO DE ESTUDO ................................................................ 38 
ALGUNS DOS PRINCIPAIS RESULTADOS DE ESTUDOS E PESQUISA EM ERGONOMIA 
DA ATIVIDADE ................................................................................................................................ 39 
TRAÇOS TEÓRICOS DISTINTIVOS DA ERGONOMIA DA ATIVIDADE ................................. 43 
 
A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE: UMA VISÃO 
CRÍTICA FUNDAMENTADA NA GESTALT-TERAPIA .................................................................. 50 
 
ACAT: O TRABALHADOR COMO PROTAGONISTA DA ANÁLISE DE ACIDENTES DE 
TRABALHO .............................................................................................................................................. 60 
TRABALHO, SUBJETIVIDADE E SAÚDE MENTAL ....................................................................... 61 
A ACAT .................................................................................................................................................. 66 
A EXPERIÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO MÉTODO ........................................................... 69 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 73 
 
 
 
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ASPECTOS PSICODINÂMICOS DA RELAÇÃO HOMEM-TRABALHO: 
AS CONTRIBUIÇÕES DE C. DEJOURS1 
Ana Magnólia Bezerra Mendes2 
 
A necessidade de estudar mais profundamente a relação do trabalho com os processos 
psíquicos tem sua origem no começo do século XX, com ampla aplicação dos princípios 
tayloristas criados com o objetivo de racionalizar o trabalho. 
Com o desenvolvimento industrial e a acentuação da divisão entre concepção e 
execução do trabalho, a aplicação direta destes princípios trouxe graves prejuízos à saúde física e 
mental dos trabalhadores, em consequência de prolongadas jornadas de trabalho, ritmo acelerado 
da produção, fadiga física, e sobretudo, automação, não participação no processo produtivo e 
parcelamento das tarefas. 
Estudos desenvolvidos na França por Dejours (1987) criticam o modelo taylorista e 
demonstram que é a organização do trabalho a responsável pelas consequências penosas ou 
favoráveis para o funcionamento psíquico do trabalhador. O autor afirma que podem ocorrer 
vivências de prazer e/ou de sofrimento no trabalho, expressas por meio de sintomas específicos 
relacionados ao contexto sócio-profissional e ã própria estrutura de personalidade. 
 
A organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica, cujo impacto é o 
aparelho psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído 
ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de 
desejos e uma organização do trabalho que os ignora. Dejours (1987)3. 
 
Wisner (1994) compartilha essas ideias, considerando que a dimensão psíquica do 
trabalho, definida em termos de níveis de conflitos no interior da representação consciente ou 
inconsciente das relações entre pessoa e a organização do trabalho, interferem na percepção 
positiva ou negativa do trabalhador acerca do seu trabalho. 
 
1 Psicologia: Ciência e Profissão. Print version ISSN 1414-9893. 
Psicol. cienc. prof. vol.15 no.1-3 Brasília, 1995. <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931995000100009>. 
Disponível em: <pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98931995000100009>. Acesso em: 15 jun. 2013. 
2 Professora Assistente do Depto de Psicologia da UFPE. Mestre em Psicologia Social e do Trabalho. UnB. 
3 Foi mantida a formatação original do texto. 
 
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Os indivíduos reagem de forma diferente às dificuldades das situações de trabalho e 
chegam a este trabalho com a sua história de vida pessoal. Os problemas, neste contexto, nascem 
de relações conflituosas. De um lado, encontra-se a pessoa e sua necessidade de prazer; e do 
outro, a organização, que tende à instituição de um automatismo e à adaptação do trabalhador a 
um determinado modelo. 
A sistematização dos conceitos, acima apresentados, têm origem na psicopatologia, 
especificamente na Psicanálise, tendo sido discutidos por Freud nos seus estudos de 1930 no 
texto "Mal estar da civilização", o que de certa forma dá consistênciaà proposta da disciplina, 
denominada pelo próprio Dejours, desde 1990 de psicodinâmica do trabalho. 
Para Freud, a atividade do homem caminha em duas direções: busca de ausência de 
sofrimento e desprazer, e de experiência intensa de prazer. 
O prazer está relacionado à satisfação de necessidades representadas em alto grau pelo 
sujeito, tornando-se desta forma, uma manifestação episódica, tendo em vista as contrariedades 
impostas pela civilização. A esse conceito, acrescenta-se a afirmação de Dejours in Betiol 
(1994), de que o prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa 
autoriza. 
Por outro lado o sofrimento é caracterizado por sensações desagradáveis provenientes 
da não satisfação de necessidades. Estas são de origem inconsciente e estão relacionadas aos 
desejos mais profundos dos sujeitos, revelados muitas vezes ao consciente em forma de projetos 
e expectativas de vida. 
Freud, nos seus escritos de 30, considera que o sofrimento ameaça o sujeito em três 
direções: a do próprio corpo, do mundo externo e dos relacionamentos com os outros homens. 
Assim sendo, o sofrimento não é originado na realidade exterior, mas sim, nas relações 
que o sujeito estabelece com esta realidade. É a solicitação pulsional do meio externo que 
conduz a uma representação penosa. 
O trabalho, como parte do mundo externo ao sujeito e do seu próprio corpo e relações 
sociais, representa uma fonte de prazer ou de sofrimento, desde que as condições externas 
oferecidas atendam ou não à satisfação dos desejos inconscientes. 
 
 
 
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A atividade profissional constitui fonte de satisfação, se for livremente escolhida, isto é, 
por meio de sublimação, tornar possível o uso de inclinações existentes, de impulsos 
instintivos (pulsionais) persistentes ou constitucionalmente reformados. No entanto, 
como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não 
se esforçam em relação a ele como o fazem em relação a outras possibilidades de 
satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sob pressão da necessidade, e esta 
aversão humana ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis. (Freud, 
1974). 
 
Desta forma consideramos que a busca do prazer no trabalho e a fuga do desprazer 
constituem um desejo permanente para o trabalhador em face das exigências contidas no 
processo, nas relações e na organização do trabalho. Este, muitas vezes, só oferece condições 
contrárias a este propósito, gerando desprazer, expresso numa vivência de sofrimento, com 
sintomas específicos, transformando o trabalho em necessidade de sobrevivência, no lugar de 
fonte sublimatória de prazer. 
Neste sentido, Guareschi e Grisci (1993) afirma ser o sofrimento psíquico diferente do 
físico. O físico é visível, o psíquico é invisível, sendo em grande parte vivenciado de forma 
particular por cada sujeito, ou seja, quando as condições externas salientam esta cadeia, haverá 
um reencontro das relações parentais infantis com a realidade atual. 
Para Dejours (1990), a qualidade do sofrimento está relacionada à cadeia biográfica e à 
história de vida do sujeito, ou seja, quando as condições externas salientam esta cadeia, haverá 
um reencontro das relações parentais infantis com a realidade atual. 
Desde os anos 70, a disciplina psicopatologia do trabalho vem estudando a interface 
homem e organização do trabalho. De um lado, a organização do trabalho, caracterizada pela 
rigidez e por se constituir um sistema de imposições e restrições essencialmente técnicas e 
imóveis como proposto no taylorismo-fordismo. De outro lado, o funcionamento psíquico, 
caracterizado pela liberdade de imaginação e expressão dos desejos inconscientes do trabalhador. 
Numa segunda etapa, nos anos 90, já denominada, psicodinâmica do trabalho, a 
organização do trabalho é caracterizada pela mobilidade e mutabilidade, e o funcionamento 
psíquico, pelos mecanismos de mobilização subjetiva, tendo o trabalhador um papel ativo diante 
das imposições e a possibilidade de transformar concretamente as situações de trabalho, para que 
estas possam trazer benefícios para a saúde mental. 
Dejours in Betiol (1994) afirma que as condições de trabalho prejudicam a saúde do 
corpo do trabalhador, enquanto a organização do trabalho atua no nível do funcionamento 
 
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psíquico. A divisão de tarefas e o modo operatório evocam o sentido e o interesse de trabalho 
para o sujeito, e a divisão de homens mobiliza os investimentos afetivos, a solidariedade e a 
confiança. 
Dejours (1987) conceitua organização do trabalho como a divisão do trabalho, o 
conteúdo da tarefa (à medida que ele dela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de 
comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade. 
Os aspectos relativos à divisão e conteúdo das tarefas, sistema hierárquico e relações 
sócio-profissionais são estabelecidos a partir de padrões específicos do sistema de produção que, 
por sua vez, determina a estrutura organizacional na qual o trabalho é desenvolvido. 
Desta forma, cada categoria profissional está submetida a um modelo específico de 
organização do trabalho, o qual pode conter elementos homogêneos ou contraditórios, 
facilitadores ou não da saúde mental do trabalhador. Esta definição depende dos interesses 
econômicos, ideológicos e políticos daqueles que dominam o processo produtivo. 
Aprofundando seus estudos, Dejours e Abdoucheli (1990) passam a considerar que a 
organização do trabalho resulta das relações intersubjetivas e sociais dos trabalhadores com as 
organizações. Dinamicamente são estabelecidos compromissos entre os homens para definir 
regras defensivas e regras de ofício, e entre níveis hierárquicos para negociar essas regras, e 
obter novos compromissos renegociáveis posteriormente, caracterizando-se pela sua evolução 
em função dos homens, do coletivo, da história local e do tempo. 
Neste sentido, Abrahão (1986), ainda, demonstra que a organização do trabalho pode 
ser distinta para várias empresas com os mesmos processos técnicos, para empresas diferentes, e 
até variar de um local para outro dentro da mesma empresa. 
Considerando esta afirmativa, a organização do trabalho contém além deste aspecto da 
variabilidade, o caráter processual e dinâmico, que pressupõe uma relação intersubjetiva e social, 
à medida que a sua definição técnica é sempre insuficiente com relação à realidade produtiva, 
por esta exigir sempre reajustes e reinterpretações por parte dos sujeitos. 
Desta forma, o trabalho não é lugar só do sofrimento ou só do prazer, mas é proveniente 
da dinâmica interna das situações e da organização do trabalho, ou seja, é produto desta 
dinâmica, das relações subjetivas, condutas e ações dos trabalhadores, permitidas pela 
organização do trabalho. 
 
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Assim sendo, podemos considerar que tanto o modelo de organização do trabalho 
prescrito pela organização, como as relações subjetivas dos trabalhadores com o trabalho têm 
papel fundamental na determinação de vivências de prazer, com consequências para a 
produtividade. 
Por estas razões, o estudo deste tema pode trazer algumas contribuições para a empresa, 
como o questionamento do modelo prescrito e sua influência na produção, demonstrando que a 
gestão coletiva da organização do trabalho permite a transformação do sofrimento ou o prazer e 
possibilita o engajamento do trabalhador na atividade sem maiores prejuízos à sua saúde mental. 
Nesta perspectiva,a psicodinâmica identifica que o trabalho humano não ocupa um 
lugar marginal dentro da construção da identidade do sujeito, e que deve ser dada ênfase ao 
estudo da sublimação, ao invés de processos patológicos, porque a energia sublimada é essencial 
para a construção e a manutenção da economia psicossomática de cada um. 
Em termos ideológicos, a sublimação no trabalho pode suscitar questionamentos a 
respeito do seu papel no processo de alienação. Por isso vale destacar que a sublimação não 
significa necessariamente resistência às mudanças, bem como pressupõe criatividade e 
participação do trabalhador, não constituindo um processo passivo e conformado diante das 
imposições das situações de trabalho, mas sim, um resultado de uma negociação bem sucedida 
entre desejos inconscientes do sujeito e a realidade. 
Desta forma, segundo a psicodinâmica do trabalho, a relação homem-trabalho deve ser 
estudada do ponto de vista do normal e não apenas do patológico. Dejours & Abdoucheli (1990) 
consideram a possibilidade do trabalhador, por não suportar o sofrimento, de transformá-lo em 
criatividade, e, consequentemente, em prazer, ao invés de utilizar como único recurso as 
estratégias defensivas. 
A transformação deste sofrimento, originado na rigidez da organização do trabalho, em 
criatividade depende de dois elementos: a ressonância simbólica e o espaço público de discussão 
coletiva. 
A ressonância simbólica ocorre quando há uma compatibilização entre as 
representações simbólicas do sujeito, seus investimentos pulsionais e a realidade de trabalho: "a 
ressonância simbólica articula o teatro privado da história singular do sujeito ao teatro atual e 
 
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público do trabalho, abrindo assim uma problemática socialmente referenciada da sublimação e 
do prazer no trabalho". 
Para ocorrer esse processo, é necessário que a tarefa tenha um sentido para o sujeito, 
com base na sua história de vida. Assim sendo, Rodrigues (1992) compartilha a ideia de Dejours, 
que considera as dificuldades vivenciadas nas relações infantis com os pais como impeditivas 
para o sujeito vivenciar o processo de ressonância simbólica. 
Neste sentido, o trabalho pode ser considerado como o lugar de satisfação sublimatória, 
quando o trabalhador transfere sua energia pulsional, que inicialmente é dirigida para as figuras 
parentais com objetivo de satisfação imediata, para as relações sociais com satisfação mais 
altruísta. 
A ressonância simbólica é a reconciliação entre o inconsciente e os objetivos da 
produção. Na maioria das vezes, os preceitos rígidos e o controle organizacional não permitem 
ou limitam o espaço para ressonância simbólica, devido às exigências de responsabilidades, 
separação entre trabalho real e prescrito e entre concepção e execução. 
O espaço público é construído pelos próprios trabalhadores, constituindo o momento em 
que são partilhadas a cooperação, a confiança e regras comuns. Representa o espaço da fala, da 
expressão coletiva do sofrimento e da busca de mecanismos de transformação da situação 
vigente. 
O sofrimento criativo não é sinônimo de prazer. Este pressupõe um investimento 
sublimatório, no qual o prazer sexual infantil será substituído pelo prazer no trabalho. Neste 
sentido, o trabalho tem que ser uma escolha para o sujeito e espaço da satisfação dos desejos 
inconscientes. 
Não obstante, o investimento sublimatório e a ressonância simbólica tem, muitas vezes, 
seu espaço delimitado pelas imposições da organização do trabalho, fazendo com que o 
trabalhador utilize outros recursos, como o uso da inteligência operária e o processo de 
reconhecimento simbólico para transformar o sofrimento em prazer. 
A inteligência operária é conceituada por Dejours e Abdoucheli (1990) como uma 
inteligência astuciosa, que tem raiz no corpo, nas percepções e na intuição sensível do 
trabalhador, e, sobretudo, ela é uma inteligência em constante ruptura com as normas, regras, 
sendo fundamentalmente transgressiva. 
 
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Este tipo de inteligência é denominado por Dejours (1995) como a intelligence de la 
pratique supondo que a atividade requer um ajustamento das relações entre as prescrições das 
tarefas e obstáculos impostos pela organização do trabalho e a inteligência originada da 
experiência real do trabalhador e da sua concepção sobre a atividade 
Dejours (1992) amplia seus estudos e disto resultam alguns novos conceitos, que de 
certa forma representam a evolução e/ou síntese dos já desenvolvidos. 
Assim sendo, ele cria o conceito de mobilização subjetiva, processo que se caracteriza 
pelo uso da inteligência operária e pelo espaço público de discussões sobre o trabalho. A 
utilização destes recursos pelos trabalhadores depende da dinâmica contribuição-retribuição 
simbólica, que pressupõe o reconhecimento da competência do trabalhador pelos pares e pela 
hierarquia. 
O processo de mobilização subjetiva não é prescrito, sendo vivenciado de forma 
particular por cada trabalhador. Vale ressaltar que ele é fundamental no processo de gestão 
coletiva da organização do trabalho, à medida que evita o uso de estratégias defensivas ou de 
descompensação psicopatológica. 
Estes conceitos sistematizados permitem uma concepção de trabalho vinculada aos 
processos sublimatórios e à transformação do sofrimento. Assim, considera três componentes 
irredutíveis no trabalho: a atividade produtiva, a coordenação entre os agentes e a mobilização 
subjetiva dos trabalhadores. 
A atividade produtiva é resultado do uso da inteligência operária, que se manifesta no 
confronto entre o que é imposto pela organização do trabalho e as necessidades psíquicas do 
trabalhador. É uma espécie de resistência ao domínio dos conhecimentos e procedimentos 
padronizados e preconizados pela concepção e preparação do trabalho. 
A coordenação das atividades singulares é implementada por meio da cooperação. Esta 
não é prescrita nem decretada; depende da possibilidade de os agentes estabelecerem entre si 
relações intersubjetivas de confiança. 
Os resultados das pesquisas sobre a análise da confiança entre pares mostram que ela 
não depende apenas dos requisitos afetivos e éticos, mas principalmente da visibilidade dos 
ajustamentos singulares utilizados frente às insuficiências e às contradições da organização 
prescrita. 
 
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Esta visibilidade, por seu lado, é condicionada à qualidade do espaço da discussão sobre 
a organização do trabalho, bem como da cooperação, que exige articulação, coordenação e 
evolução das regras de trabalho, com o objetivo de substituir ou complementar a organização de 
trabalho prescrita. 
No processo de mobilização subjetiva, o trabalhador faz uso de sua personalidade e 
inteligência para se contrapor a uma racionalidade subjetiva específica gerada na situação de 
trabalho. Essa dinâmica se apóia no processo de contribuição-retribuição. 
A contribuição é espontânea à organização do trabalho real e tem como retorno a 
retribuição simbólica, que se dá pelo reconhecimento, processo ao qual é atribuído a construção 
da identidade social e de realização de si mesmo. Estes componentes do trabalho demonstram 
que ele é resultado da interseção de três mundos: o objetivo, o social e o subjetivo. 
Desta forma, a organização do trabalho é um compromisso resultante da negociação 
social simultânea entre os pares e os diferentes níveis hierárquicos. 
Este modelo teórico da psicodinâmica é aplicado a qualquer situação de trabalho; 
entretanto, oestudo da normalidade não elimina os efeitos psicopatológicos que o trabalho pode 
exercer nos trabalhadores. Neste sentido, a normalidade não implica ausência de sofrimento, bem 
como o sofrimento não exclui o prazer. 
O sofrimento ou as defesas se instalam no momento em que os trabalhadores não têm a 
possibilidade de utilizar o processo de mobilização subjetiva, ou sentir prazer resultante do 
investimento sublimatório, seja por restrições de sua estrutura de personalidade, seja pelas 
imposições do modelo de organização do trabalho. 
As estratégias defensivas são definidas como um mecanismo pelo qual o trabalhador 
busca modificar, transformar e minimizar sua percepção da realidade que o faz sofrer. Este 
processo é estritamente mental, já que ele não modifica a realidade de pressão patogênica 
imposta pela organização do trabalho. 
A diferença entre um mecanismo de defesa individual e coletivo reside no fato de que o 
primeiro permanece sem a presença física do objeto, porque ele está interiorizado, enquanto, que 
o segundo depende da presença de condições externas e se sustenta no consenso de um grupo 
específico de trabalhadores. 
 
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As estratégias defensivas coletivas podem permitir ao sujeito uma estabilidade na luta 
contra o sofrimento, que, em outras situações, seria incapaz de garanti-la apenas com as suas 
defesas individuais. 
Para o autor, a estratégia defensiva pode tornar-se um objetivo em si mesmo para 
enfrentar as pressões psicológicas do trabalho, o que leva a um processo de alienação, e assim, 
bloquear qualquer tentativa de transformação da situação vigente. 
Quando essas estratégias se estabilizam, surge o desencorajamento, a resignação diante 
de uma situação que não gera mais prazer, mas só sofrimento. 
Dejours in Betiol (1994) obteve como resultado de uma de suas pesquisas a tese do 
individualismo, que é um processo pelo qual os trabalhadores interpretam os fatos atuais das 
situações de trabalho de forma singular, e sem considerar a história que os produziu. Eles 
atribuem uma naturalização da casualidade, porque seria insuportável o desmantelamento do 
esquema defensivo e a confrontação com as causas do seu sofrimento no trabalho. 
Considerando as formulações teóricas da psicodinâmica, podemos concluir que o 
trabalho pode favorecer condições estabilizadoras que neutralizam o sofrimento, muitas vezes 
existencial, assumindo este papel quando as exigências pulsionais corespondem aos desejos 
inconscientes do sujeito, e tem lugar o processo de sublimação e/ ou o processo de mobilização 
subjetiva, que permite a transformação do sofrimento. 
O estudo dos aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho não pode desprezar 
que as vivências de prazer-sofrimento decorrentes da organização do trabalho são dialéticas, e 
por isso não podem ser estudados separadamente. Não obstante, podemos identificar elementos 
específicos da organização do trabalho que favorecem uma ou outra vivência, assim como a 
dinâmica delas decorrente. Isto só é possível por meio da fala dos trabalhadores, do discurso 
manifesto e latente, da analise da palavra, que se constitui mediadora entre representações 
psíquicas e a realidade. 
Por essas razões, cabe aos pesquisadores buscarem empiricamente a dinâmica que 
envolve a relação homem-trabalho, especialmente a psicologia do trabalho que tem no 
comportamento humano dentro das organizações o seu principal objeto de estudo. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 
ABRAHÃO, I. J. (1986) . Organisation du Travail, Représentation et Régulation du Sistèm de Production. Étude 
Anthropotecnologique de Deux Distilléries Situées Dans Deux Tissus Industrieis Différents du Brésil. Tese de 
doutorado. Paris: CNAM. 
DEJOURS, C. (1987) . A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. São Paulo: Cortez. 
_____; Abdoucheli, E. (1990). Itinéraire Theórique en Psychopathologie du Travail. Paris: Revue Prevenir, 20, 1º 
semestre. 
Dejours, C . (1992). Travail: Usure Mental (reedition). Paris. 
_____(1995). Le Facteur Humain. Paris: Presses Universitaires de France. 
BETIOL S. I. M. (1994). Psicodinâmica do Trabalho - Contribuições da Escola Dejouriana à Análise da Relação 
Prazer, Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Atlas. 
FREUD, S. (1974). Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago. XXI. PP. 174. 
GUARESCH, P.A. & Grisci, I.L..C (1993). A Fala do Trabalhador. Petrópolis: Vozes. 
RODRIGUES, A.M. (1992). Uma visão do Sofrimento Humano nas Organizações. In: Torres, S. L. O. (Org.). O 
indivíduo na Organização: Dimensões Esquecidas. São Paulo; Atlas. 
WISNER, A. (1994). A Inteligência no Trabalho. São Paulo. Fundacentro/Unesp. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA DO TRABALHO4 
 José Roberto HeloaniI; Cláudio Garcia CapitãoII5 
 
INTRODUÇÃO 
 
Um dos objetivos mais recentes da saúde mental não se restringe apenas à cura das 
doenças ou a sua prevenção, mas envidar esforços para a implementação de recursos que tenham 
como resultado, melhores condições de saúde para a população. 
Na visão de Bleger (1984), não interessa apenas a ausência de doenças, mas o 
desenvolvimento integral das pessoas e da comunidade. A ênfase, então, na saúde mental, 
desloca-se da doença à saúde e à observação de como os seres humanos vivem em seu cotidiano. 
Para Dejours (1994), a psicopatologia tradicional está alicerçada no modelo clássico da 
fisiopatologia das doenças que afetam o corpo. Dedica-se, exclusivamente, ao diagnóstico das 
doenças mentais, dos transtornos mentais orgânicos, da esquizofrenia, dos transtornos do humor 
e dos inúmeros transtornos de personalidade. O debate, porém, que este artigo pretende explorar 
abrange as condições de milhares de pessoas sem imunidade que, embora suportem as pressões, 
conseguem, de alguma forma, escapar de um transtorno psicótico severo, mas que se mantêm, 
por assim dizer, no campo da normalidade. 
Não é raro encontrar pessoas que, por uma condição de sua psicodinâmica interna, 
possuem a propensão a trabalhar em excesso e a divertir-se muito pouco; outras, pelo contrário, 
passam os dias a divertirem-se; outras ainda não conseguem fazer nem uma coisa nem outra. 
Sabe-se hoje que tanto o trabalho, quanto a diversão em proporções satisfatórias são critérios 
para avaliar um funcionamento psíquico saudável. 
Na realidade, ao contrário do que muitos possam supor, a organização do trabalho não 
cria doenças mentais específicas. Os surtos psicóticos e a formação das neuroses dependem da 
 
4 São Paulo em Perspectiva. Print version ISSN 0102-8839. São Paulo Perspec. vol.17 no.2 São Paulo Apr./June 
2003. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392003000200011. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
88392003000200012&script. Acesso em: 15 jun. 2013. 
5 I Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Campinas e na FGV-SP. II Psicólogo Clínico, Professor e 
Pesquisador em Psicologia na Universidade São Francisco. 
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 15 
estrutura da personalidade que a pessoa desenvolve desde o início da sua vida, chegando a certa 
configuração relativamente estável, após o período de ebulição da adolescência quandoas 
condições sociais são relativamente favoráveis, antes mesmo da pessoa entrar no processo 
produtivo. No entanto, "o defeito crônico de uma vida mental sem saída mantido pela 
organização do trabalho, tem provavelmente um efeito que favorece as descompensações 
psiconeuróticas" (DEJOURS, 1992, p. 122). 
Atualmente, observa-se uma pressão constante contra a grande massa de trabalhadores 
existente em quase todo o mundo. Uma ameaça com objetivo certeiro faz com que milhares de 
pessoas sintam-se sobressaltadas, pois a única ferramenta de que dispõem, sua força de trabalho, 
pode ser dispensada a qualquer momento. 
O desprezo assola o universo do trabalho e traz consequências drásticas para todos os 
que têm em seu trabalho sua única forma de sobrevivência. 
Contudo, a força de trabalho exigida precisa de especial qualificação, mesmo que seja, 
como antigamente, para apertar um simples botão. Assim, para a maior parte das atividades, 
exige-se um trabalhador complexo, que saiba muito mais além do que seria preciso para a 
execução de determinada tarefa. 
Acompanhando a tecnicidade do mundo, vai-se, paulatinamente, necessitando de um 
trabalhador com maiores habilidades, ágil, que saiba lidar com uma nova representação de 
mundo, mesmo que seja para ocupar um cargo simples como o de telefonista. Essa pessoa tem de 
dominar sua língua, em alguns casos outro idioma, tem de ter rapidez tanto manual, como na voz 
e na mente, além de uma bagagem de informação disponível enquanto recurso pessoal para, ante 
qualquer dificuldade, utilizá-la. 
Assim, o mundo do trabalho torna-se, de forma rápida e surpreendente, um complexo 
monstruoso, que se por um lado poderia ajudar, auxiliar o homem em sua qualidade de vida, por 
outro lado patrocinado pelos que mantêm o controle do capital, da ferramenta diária que 
movimenta a escolha de prioridades , avassala o homem em todos os seus aspectos. Alguns são 
absorvidos, exigidos, sugados. Outros alçados a postos de poder e de liderança que reproduzem o 
capital virtual. Outros, por assim dizer, alguns milhões, são jogados como a escória cuja água 
benta do emprego, da possibilidade do trabalho, não veio a salvar. 
 
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Esse princípio de realidade adentra e fere o psiquismo humano, fazendo com que as 
pessoas sintam-se exigidas; o sentimento de impotência e de desvalorização, que leva as pessoas 
pouco resistentes a degenerar-se rapidamente, avilta de si qualquer potencial humano que 
pudesse se somar às conquistas da civilização. 
 
PARADOXOS DO TRABALHO 
 
A barbárie do capital instaura na contemporaneidade a desumanidade das relações 
humanas, que se desqualificam quase totalmente, surpreendendo com a forma e a fôrma na qual 
o homem atual vai colocando-se. 
O capital, por meio do trabalho, organiza e estrutura o mundo. Só que hoje ele não tem 
mais nomes, expressa-se por Fundos. As empresas são gerenciadas por executivos, não mais por 
seus donos. Podem mudar de cidade, de nome, de país, de ramo de atividade, deixando seus 
trabalhadores em pleno mar de incertezas e retirando-lhes a identificação com sua prática diária e 
com a empresa para a qual trabalham. 
No pensamento e análise precisos e pontuais de Ianni (2000), é principalmente no 
neoliberalismo que se dá a dissociação entre o Estado e a sociedade civil, adquirindo o primeiro, 
características de um aparelho administrativo das classes e grupos que detêm o poder, 
configurando-se como blocos dominantes em escala mundial. O que se observa é um Estado 
comprometido com a possibilidade de facilitação da produção e dos mercados, tendo em seu 
bojo a fluidez do capital produtivo e especulativo, da alta tecnologia, da informática, etc. No 
entanto, sempre em sintonia com as políticas geradas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), 
Banco Mundial (Bird), Organização Mundial do Comércio (OMC), Grupo dos 7, Organização 
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) comprometidas em facilitar e 
incrementar a produção, com praticamente nenhum cuidado em relação aos resultados de suas 
políticas, sua repercussão social ou consequências diretas na vida de milhões de pessoas. 
Se o homem passa a maior parte de seu tempo trabalhando, suas relações pessoais fora 
de casa deveriam ter um valor afetivo de extrema importância. No entanto, as relações de 
companheirismo e de amizade no trabalho não se concretizam, pois elas são passageiras, 
imediatas, competitivas e as ligações afetivas, os vínculos não podem estabelecer-se, já que com 
 
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cada alteração rompem-se os laços, perdem-se as pessoas e daí, além do castigo do desemprego, 
há a solidão, a perda irreparável. 
Fala-se em corrosão do caráter porque ninguém, nem os que teriam todas as razões para 
estarem satisfeitos com o sistema já que representam seu próprio ideal, encara seu emprego num 
horizonte a longo prazo. O comportamento de curto prazo, como Sennett (1998) observou, 
distorceu qualquer senso de realidade, confiança e comprometimento mútuo. As empresas 
descartam seus funcionários e os que podem fazem o mesmo. As pessoas parecem não mais 
estarem preocupadas com o significado do seu trabalho ou com a oportunidade de vivência e 
troca coletiva. A preocupação volta-se para a acumulação de um valor de troca, como se todos se 
convertessem em uma ação de mercado, cujo preço é julgado por outrem. A verdadeira 
identificação com o trabalho parece viver de um objetivo que não chega a concretizar-se: 
acumula-se aprendizado, dinheiro, experiência, aumentam-se as páginas do currículo, tudo para o 
próximo processo seletivo já que o trabalho atual será apenas momentâneo. 
No presente, ao contrário da classe de mineiros descrita em Germinal, por Zola, o que 
se encontra são pessoas isoladas, esquizóides, que olham o colega como alguém não confiável, 
não só pelo fato do que o outro realmente é, mas, muito mais, pelo que representa: sofrimento e 
dor. No universo pós-moderno "são muitos os que colocam em plano muito secundário, ou 
simplesmente esquecem, o povo, as classes, os grupos e os movimentos sociais, assim como as 
correntes de opinião pública e os jogos das forças sociais [...] Em especial, esquecem as formas 
de organização social e técnica do trabalho, compreendendo as condições sob as quais se 
desenvolvem e realizam a produção, distribuição, troca e consumo, processos com os quais se 
funda uma parte fundamental da 'fábrica' da sociedade, em escala nacional e mundial" (IANNI, 
2000). 
Retrocedendo na História, assim como sugere Marx (1996), mais dependente aparece o 
indivíduo, e, consequentemente também o indivíduo produtor e o conjunto ao qual pertence. De 
início, esse aparece de um modo ainda bastante natural, no seio da família e da tribo, esta uma 
família ampliada. Mais tarde, surge nas inúmeras formas de comunidade resultantes do 
antagonismo e da fusão das tribos. Somente no século XVIII, na "sociedade burguesa", é que as 
diversas formas do conjunto social passaram a apresentar-se ao indivíduo como simples meio de 
realizar seus fins privados, como necessidade exterior. Todavia, a época que produz esse ponto 
 
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de vista, o do indivíduo isolado, é precisamente aquela na qual as relações sociais (e, desse ponto 
de vista, gerais) alcançaram o mais alto grau de desenvolvimento. 
Não se pretende nesse breve artigo sobrepor o homem atual àquele encontrado no 
século XVIII, no que se refere, por exemplo, ao trabalho e à forma como ele se organiza. Mas, ao 
contrário,esclarecer algumas das determinações históricas que fizeram com que o trabalho fosse 
e tivesse a forma atual e porque a relação com o trabalho deve ser de sofrimento, de pena a ser 
cumprida, de trabalho forçado e não algo ego-sintônico, motivado e prazeroso. Seriam apenas as 
relações de propriedade e de exploração? Ou a própria produção cria aquele que consome, que, 
por sinal, cria a própria Produção. 
Para Marx (1996, p. 31), "a produção é também imediatamente consumo. Consumo 
duplo, subjetivo e objetivo. O indivíduo, que ao produzir desenvolve suas faculdades, também as 
gasta, as consome, no ato da produção, exatamente como a reprodução natural é um consumo de 
forças vitais". 
Se a produção coincide com o consumo dos meios que obrigatoriamente foram 
utilizados e gastos para que ela ocorresse, o próprio ato de produção vai ser, como se verá, em 
todos os seus momentos, também ato de consumo. O resultado, em síntese, é que a produção é 
consumo, e que, imediatamente, é produção. "Cada qual é imediatamente seu contrário. Mas, ao 
mesmo tempo, opera-se um movimento mediador entre ambos. A produção é mediadora do 
consumo, cujos materiais cria e sem os quais não terá objeto. Mas o consumo é também 
mediador da produção ao criar para os produtos o sujeito, para o qual são os produtos" (MARX, 
1996, p. 32). 
Para entender quais as determinações históricas da relação homem x trabalho na 
modernidade, tem-se de penetrar na "máquina" que tece sua trama nevrálgica, a produção que 
cria seu produtor e consumidor, com base no momento em que foi gerada. 
Então, o trabalho configura-se como o representante da força dos impulsos que o 
homem emprega para executá-lo, para poder ou não consumir o que foi por ele produzido, 
abrindo possibilidades de constituição de subjetividades, correspondentes a cada época histórica, 
que tem, por domínio, uma forma de produção. 
Sujeito, trabalho, produto, consumo, lucro. Elementos constitutivos de um intrigante 
eixo gravitacional, em que consumidor e produto mantêm uma relação equidistante. Para Adorno 
 
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e Horkheimer (apud ROUANET, 1983, p. 147) "a atrofia da imaginação e da espontaneidade do 
consumidor cultural moderno não precisa ser reconduzida a mecanismos psicológicos. Os 
produtos mesmos, a partir do mais típico, o filme falado, paralisam aquelas faculdades por sua 
própria constituição objetiva. São feitos de tal forma que sua compreensão adequada exige 
rapidez de reflexos, dotes de observação, competência específica, mas também a absoluta 
suspensão da atividade mental do espectador, se este não quer perder os fatos que se desenrolam 
diante de seus olhos... o espectador não deve trabalhar com a própria cabeça; o produto prescreve 
todas as reações: não por seu contexto objetivo este se esvai no momento em que é submetido ao 
pensamento, mas através de sinais. Toda conexão lógica, que exija esforço intelectual, é 
escrupulosamente evitada". 
O produto posiciona o consumidor na mesma situação de uma linha de montagem e não 
se restringe apenas a filmes, mas a amplo universo de necessidades criadas, consumidas sem 
qualquer reflexão, como se os efeitos da paralisia mental sofrida na produção fosse transferida 
em gênero, número e grau, para aquele que o adquire. 
No que se refere à produção, e por que não dizer o mesmo para o consumo, a situação 
que se encontra na atualidade não surgiu por geração espontânea, mas ocorreram marcos no 
capitalismo, que, para melhor rendimento e maior produção, desenvolveu métodos, muitos dos 
quais, aperfeiçoados em diversas versões. 
Taylor (apud HELOANI, 1994) formulou uma forma de organização do trabalho 
caracterizada pelo amplo funcionamento das tarefas e concomitante o monitoramento dos 
movimentos dos trabalhadores. Tal forma rígida de controle objetivava a eficiência como meta e 
princípio. O modelo de Taylor, por seu lado, foi aperfeiçoado por Henry Ford, que desenvolveu a 
concepção de linha de montagem. 
O trabalho, então, é dividido de tal forma que o trabalhador possa a ser abastecido de 
peças e componentes através de esteiras, sem precisar, desse modo, movimentar-se. A 
administração do tempo passa a se dar de forma coletiva, pela adaptação do conjunto dos 
trabalhadores ao ritmo imposto pela esteira. O fordismo não se limitará apenas à questão 
disciplinar no interior da fábrica. Ele incorporará, tal como o taylorismo, um projeto social de 
"melhoria das condições de vida do trabalhador". O projeto social fordista revela-se um projeto 
 
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político que objetivava assimilar o saber e a percepção política do trabalhador para a 
organização. 
Até a crise do paradigma taylorista-fordista de produção, o modelo de Recursos 
Humanos e a própria concepção de administração estiveram articulados com concepções 
oriundas da engenharia, especialmente com a de produção, como também, com a lógica militar, 
expressa tão bem pela utilização de vocábulos pertencentes à caserna, tais como: logística, tática, 
estratégia, etc. 
Em consequência das transformações sociais e das ocorridas no cerne do capitalismo, a 
abordagem da engenharia foi perdendo espaço e começou a ser questionada à medida que o 
modelo fordista de desenvolvimento entra em crise perde sua eficácia em fins dos anos 60 e 
começo dos 70. Tal mudança não foi produto simples e acabado de uma visão mais humanista ou 
de um longo e bem-cuidado processo de conscientização, mas consequência de uma necessidade 
premente de responder a uma nova estrutura econômica e a um novo modo de regulamentação 
social; em suma, a uma nova realidade que se apresentava e que exigia respostas rápidas por 
parte do capital. 
 
QUALIDADE DE VIDA 
 
Hoje, o discurso manifesto encontrado nos folhetins que tratam das relações do trabalho 
parece demonstrar insistente preocupação com a melhoria da qualidade de vida dos que 
trabalham. Todavia, encontra-se uma política mundial de ajuste de custos que leva governos e 
empresas a minguarem as conquistas sociais alcançadas no último século pela classe 
trabalhadora. 
Embora não exista uma definição consensual sobre a expressão "Qualidade de Vida no 
Trabalho (QVT)", o termo vem sendo utilizado com diferentes conteúdos e significados sua 
origem, segundo Trist (1981), concerne a uma conferência internacional sediada em Arden 
House, em 1972, cujo tema principal versava sobre os "Sistemas Sociotécnicos". Não obstante, 
já no final da década de 50, quando o capital americano promove uma recessão para organizar o 
seu parque industrial, observa-se certa preocupação com esse assunto nos países que ditavam a 
política do capitalismo. Não teria, portanto o "movimento" de QVT sua verdadeira origem nas 
 
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consequências sociais da primeira retração econômica significativa após a Segunda Guerra 
Mundial nos EUA? É o que parece, ainda que tais mazelas só possam ser conhecidas e sentidas 
em sua real magnitude na crise do modelo de desenvolvimento fordista dos anos 60 e 70. 
O que se constata é que a qualidade de vida do trabalhador, especialmente dos que 
vivem no terceiro mundo, vem-se degradando dia após dia. Doenças até então inexistentes ou 
restritas a certos nichos empresariais, como a LER/Dort tornaram-se comuns a todos, e 
espalharam-se como doenças infecto-contagiosas, tornando impossibilitados, para o trabalho, 
milhares de trabalhadores. As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios 
Osteomusculares (Dort) relacionados ao trabalho são nomenclaturas utilizadaspara designar 
inúmeras doenças, entre as quais tenossinovites e tendinites, ou seja, inflamações que se 
manifestam nos tendões e nas bainhas nervosas que os recobrem; são afecções que podem 
acometer músculos, tendões, nervos e ligamentos de forma isolada ou associada, com ou sem a 
degeneração de tecidos, e que pode ocasionar a invalidez permanente. Em geral, não são 
facilmente diagnosticadas o que prejudica o processo de tratamento e afetam sobretudo 
trabalhadores do sexo feminino, das mais variadas atividades, com maior incidência entre os 
dezoito e trinta e cinco anos. Parece até que, pelo encolhimento do mercado de trabalho, as lutas 
dos trabalhadores restringem-se apenas à sobrevivência, assim como o quadro histórico 
encontrado no início do século passado, em que a luta era para não morrer, não importando o 
preço que teria de ser pago... viver como um estado apenas emergencial. 
No entanto, se a qualidade de vida do trabalhador é vista, pelo menos como uma política 
de relações públicas, ou como uma meta quase recorrente, deve-se perguntar o que no trabalho 
pode ser apontado como fonte específica de nocividade para a vida mental. A trama em que essa 
questão está envolta é quase evidente: a luta pela sobrevivência leva a uma jornada excessiva de 
trabalho, e as condições em que o trabalho se realiza repercutem diretamente na fisiologia do 
corpo. 
O rompimento de vínculos de relações fundamentais para manutenção e fortalecimento 
da subjetividade humana atua de certa forma que pode desencadear o assédio moral, o qual tem 
sido compreendido, atualmente, como a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e 
constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho; e passam a ser mais 
desestabilizadoras. Mesmo assim, logo as relações ficam mais desumanas e aéticas, nas quais 
 
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predominam os desmandos, a manipulação do medo, a competitividade desenfreada e os 
programas de qualidade total associados à produtividade e dissociados da QVT. A qualidade 
total sem qualidade de vida não é integral, mas parcial. 
O trabalho como regulador social é fundamental para a subjetividade humana, e essa 
condição mantém a vida do sujeito; quando a produtividade exclui o sujeito podem ocorrer as 
seguintes situações: reatualização e disseminação das práticas agressivas nas relações entre os 
pares, gerando indiferença ao sofrimento do outro e naturalização dos desmandos 
administrativos; pouca disposição psíquica para enfrentar as humilhações; fragmentação dos 
laços afetivos; aumento do individualismo e instauração do pacto do silêncio coletivo; sensação 
de inutilidade, acompanhada de progressiva deterioração identitária; falta de prazer; demissão 
forçada; e sensação de esvaziamento. 
As condições laborais, bem como as relações diretas entre os trabalhadores, influenciam 
diretamente a qualidade de vida. Essa, portanto, torna-se, nessa perspectiva, estratégica para a 
sobrevivência e desenvolvimento futuros das organizações. 
Como a produção estimula o consumo e ao mesmo tempo inventa o sujeito para o qual 
ela se destina, deve, então, esse sujeito, receber os impactos diretos da organização do trabalho. 
Resta, então, deduzir que, em grande parte, o sofrimento mental do trabalhador é consequência 
direta dessa organização, isto é, da divisão do trabalho, do conteúdo da tarefa, do sistema 
hierárquico, das modalidades de comando, das relações de poder, etc.; de todo um aparato que 
modula a percepção, o controle dos impulsos, as possibilidades de apreensão e a reflexão do que 
produz e que também se consome nas tarefas que executa. 
 
O SOFRIMENTO DO TRABALHO 
 
Dejours (1992) afirma que executar uma tarefa sem envolvimento material ou afetivo 
exige esforço de vontade que em outras circunstâncias é suportado pelo jogo da motivação e do 
desejo. A vivência depressiva em relação ao trabalho e a si mesmo alimenta-se da sensação de 
adormecimento intelectual, de esclerose mental, de paralisia da fantasia e da imaginação; na 
verdade, marca de alguma forma o triunfo do condicionamento em relação ao comportamento 
produtivo e criativo. Para esse pensador, no que diz respeito à relação do homem com o 
 
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conteúdo significativo do trabalho, é possível considerar, esquematicamente, dois componentes: 
o conteúdo significativo em relação ao sujeito e o conteúdo significativo, pode-se assim dizer, 
em relação ao objeto. Quando o progresso e o avanço dessa relação são bloqueados por algum 
motivo ou circunstância, observa-se a incidência do sofrimento. 
O sofrimento, por seu turno, é desdobrado: o ponto de incidência proveniente das ações 
mecânicas, conteúdo ergonômico da tarefa, é o corpo e não o aparelho mental; esse último será 
afetado pela insatisfação propiciada pelo conteúdo significativo da tarefa a ser executada, 
transformando em sofrimento bem particular, cujo alvo, antes de tudo, é a subjetividade, ou seja, 
a mente. 
Freud (1987a), ao descrever o desenvolvimento psíquico, relata que uma criança recém-
nascida ainda não diferencia seu ego do mundo externo como origem das inúmeras sensações 
que são vivenciadas por ela; apenas, com o passar do tempo, e progressivamente, vai aprendendo 
a fazer tal diferenciação, reagindo de modo adequado aos estímulos correspondentes. Por seu 
lado, o ego, movido pelo princípio do prazer, tenta afastar as sensações desprazerosas, denotando 
uma tendência a isolar e a projetar para fora de si tudo o que pode ser fonte de desprazer. Num 
estágio de maior integração, o ego, com a ação deliberada das atividades sensórias e da ação 
muscular correspondente, consegue diferenciar entre o que é interno e o que se origina do mundo 
externo, estabelecendo dessa forma as condições para a introdução do princípio de realidade. Por 
meio desse último, o ego pode localizar o sofrimento surgindo de três direções: de nosso próprio 
corpo, do mundo externo e da nossa relação com as outras pessoas. 
Esses desdobramentos na evitação do sofrimento por parte do ego podem também 
ocorrer em relação ao trabalho, tanto do ponto de vista físico quanto mental. O trabalho, não só 
como uma condição externa, pode propiciar sofrimento insuperável para o ego, empobrecendo-o 
e restringindo sua ação a mecanismos defensivos repetitivos e ineficazes, não lhe possibilitando 
aferir, de acordo com suas atividades, a satisfação de determinadas pulsões, que, não satisfeitas, 
tencionariam o aparelho psíquico, gerando angústia, estados depressivos, ansiedade, medos 
inespecíficos, sintomas somáticos, como sinais marcantes de sofrimento mental, com o agravante 
de que um ego debilitado e frágil não consegue diferenciar, pela sua condição, a origem de seu 
sofrimento. 
 
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Dejours (1994) distingue dois tipos de sofrimento: o sofrimento criador e o sofrimento 
patogênico. Este último surge quando todas as possibilidades de transformação, aperfeiçoamento 
e gestão da forma de organizar o trabalho já foram tentadas, ou melhor, quando somente pressões 
fixas, rígidas, repetitivas e frustrantes, configuram uma sensação generalizada de incapacidade. 
Todavia, quando as ações no trabalho são criativas, possibilitam a modificação do 
sofrimento, contribuindo para uma estruturação positiva da identidade, aumentando a resistência 
da pessoa às várias formas de desequilíbrios psíquicos e corporais. Dessa forma, o trabalho pode 
ser o mediador entre a saúde e a doença e o sofrimento, criador ou patogênico. 
Assim,prazer e sofrimento originam-se de uma dinâmica interna das situações e da 
organização do trabalho. São decorrências das atitudes e dos comportamentos franqueados pelo 
desenho organizacional, cuja tela de fundo constitui-se de relações subjetivas e de poder. 
Pela condição de funcionamento mental estabelecida, o sujeito perde sua autonomia e, 
por consequência de um ego debilitado, não tem forças para realizar o trabalho de reflexão em 
que está envolvida toda sua existência, pois "as variáveis de personalidade mais relevantes na 
determinação da objetividade e racionalidade da ideologia são as pertencentes ao Ego, a parte da 
personalidade que avalia a realidade, integra as demais instâncias, e opera da forma mais 
consciente. É o ego que percebe as forças não-racionais que atuam na personalidade, e se 
responsabiliza por elas" (ADORNO; HORKHEIMER, apud ROUANET, 1983:170). 
Nesse sentido, abre-se ao psicólogo, e aos demais profissionais de saúde mental, um 
campo enorme de estudo, não apenas de denúncia. As condições e as exigências do mercado de 
trabalho na atualidade rotinizam e amortecem o sentido da vida, deixando no corpo as marcas do 
sofrimento, que se manifestam nas mais variadas doenças ditas ocupacionais, além de atentar 
contra a saúde mental, em especial quando o psiquismo anquilosado em sua mobilidade faz com 
que a mente seja absorvida em formas de evitar o sofrimento. 
No entanto, as organizações cobram de seus psicólogos e das escolas que os formam um 
rápido ajustamento de suas metodologias e de suas estratégias de ação. Isso tem feito com que 
grande parte dos psicólogos organizacionais abracem novamente (sem nenhuma crítica, com 
pouquíssima reflexão) idéias, princípios e pressupostos vindos das teorias administrativas, tais 
como as chamadas "Teorias da Qualidade", verdadeiro fetiche pós-moderno, pois nada mais são 
do que a reatualização de alguns princípios da década de 30, bem untados com uma eficiente 
 
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metodologia quantitativa desenvolvida na década de 50, aproveitada nos anos 70 e aperfeiçoada 
na década de 80. 
Na realidade, com o esvaziamento da área de Recursos Humanos, em razão das 
reengenharias, processos dedownsizing e congêneres, alguns psicólogos estão-se transformando 
em consultores internos, assessorando treinamento e seleção e passando da posição de linha para 
a de staff, que além de ser, no cômputo geral, menos custosa, possui a vantagem do não 
envolvimento direto com os trabalhadores. 
Como nas organizações pós-fordistas houve uma maquiagem no que concerne ao 
controle. Agora o psicólogo não regula o processo, o controle é por resultados, o compromisso é 
com a qualidade e esse profissional deve voltar sua atenção para a auto-regulação do trabalhador. 
Essa sim é sua função! Não há nada de mais democrático ou participativo nisso em relação à 
concepção taylorista/fordista. O que existe é a substituição do controle externo do desempenho 
pelo controle interno dos próprios funcionários mediante eficiente trabalho de comunicação no 
qual o psicólogo, sem dúvida, poderá vir a ser protagonista, pois compete a ele, agora, instruir as 
equipes nesse sentido. 
Nas empresas pós-fordistas, signatárias do neoliberalismo, a matéria-prima principal são 
as pessoas; a moeda mais importante é o signo e o símbolo, e a manipulação dos processos 
psicodinâmicos constitui a principal tecnologia. Essas são algumas das ferramentas da empresa 
pós-moderna (se é permitido o neologismo). Substituíram o chicote, o supervisor e os testes 
psicológicos pela ilusão da integração e da participação. É a tentativa da construção de uma nova 
subjetividade que encontra no projeto neoliberal a sementeira do individualismo e da barbárie. 
 
CONCLUSÃO 
 
Pelos problemas aqui abordados, as questões que envolvem a psicodinâmica do trabalho 
tornam-se pontos fundamentais de preocupação para os que lidam com Saúde Pública, sobretudo 
quando se sabe que a separação entre mente e corpo é apenas uma questão semântica, didática, e 
que o conceito de saúde vai muito além do que a mera ausência sintomática de doenças. 
Quanto à psicologia, concorda-se com Freud (1987b, p. 61) quando assinala que "um 
psicólogo que não se ilude sobre a dificuldade de descobrir a própria orientação neste mundo, 
 
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efetua um esforço para avaliar o desenvolvimento do homem, à luz da pequena porção de 
conhecimentos que obteve através de um estudo dos processos mentais de indivíduos durante seu 
desenvolvimento de criança a adulto". Não se pode ser fiador de futuras ilusões para a grande 
massa de trabalhadores, que sofre com o trabalho ou com a sua falta. 
O trabalho não pode ser uma negatividade da vida, mas, muito pelo contrário, sua 
expressão, coisa que o capitalismo, em suas mais variadas versões apresentadas no decorrer da 
história, não permitiu que ocorresse. Eis a Esfinge que cabe ao homem contemporâneo decifrar, 
para não ser definitivamente devorado por ela. 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 
DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. 
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A ERGONOMIA DA ATIVIDADE SE INTERESSA PELA QUALIDADE 
DE VIDA NO TRABALHO? REFLEXÕES EMPÍRICAS E TEÓRICAS6 
Mário César Ferreira7 
INTRODUÇÃO 
 
O objetivo deste artigo é apresentar reflexões, apoiadas em fundamentos empíricos e 
teóricos, sobre a relação entre a ergonomia e a qualidade de vida no trabalho (QVT). Os 
fundamentosempíricos baseiam-se tanto em dados contemporâneos do mundo do trabalho, 
quanto em resultados específicos de estudos e pesquisas em ergonomia. A fundamentação 
teórica, por sua vez, engloba aspectos históricos, objeto e objetivos da ergonomia. 
De entrada, é importante explicitar de qual ergonomia o texto trata, posto que ela se 
constitui em um campo científico rico e diversificado. As reflexões apoiam-se, essencialmente, 
na abordagem franco-belga da ergonomia (WISNER, 1994) e sua importante produção científica, 
a denominada ergonomia da atividade (MONTMOLLIN, 1995). A outra grande vertente da 
ergonomia – de fato, a majoritária em número de integrantes e de indicadores bibliográficos –, de 
filiação anglo-saxônica (human factors) ocupa, de modo residual, a posição de coadjuvante neste 
texto. Tal recorte visa somente delimitar fronteiras empíricas e teóricas do foco temático do 
artigo e não enfatizar diferenças epistemológicas dessas duas "escolas" de ergonomia. 
À primeira vista, o título deste artigo induziria o leitor a uma resposta afirmativa. 
Todavia, uma análise da literatura em ergonomia da atividade recomenda certa cautela para 
responder à questão provocativa que serve de título ao texto. A compreensão de tal cautela 
interpretativa impõe, portanto, começar argumentando sobre a relevância do objeto do presente 
artigo. Por que é importante abordar as possibilidades de "diálogo e perspectivas" entre 
ergonomia da atividade e o campo da qualidade de vida no trabalho? Grosso modo, os motivos 
 
6 Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. Versão impressa ISSN 1516-3717. Cad. psicol. soc. trab. v.11 n.1 São 
Paulo jun. 2008. Disponível em: <pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-37172008000100009...sci>. Acesso 
em: 15 jun. 2013. 
7 Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. 
 
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são muitos e diversos. Mas, três modalidades reúnem aspectos fundamentais que colocam em 
primeiro plano a importância desta incursão analítica. 
Do ponto de vista social, a relevância se manifesta pelo papel central que o mundo do 
trabalho assume na vida em sociedade. A centralidade do trabalho e, principalmente, suas 
implicações econômicas, políticas, tecnológicas e culturais para seus distintos e contraditórios 
atores (dirigentes, gestores, trabalhadores e usuários/clientes) fundamentam a importância do 
debate sobre ergonomia e qualidade de vida no trabalho. As metamorfoses que se operam nas 
organizações públicas e privadas e, sobretudo, os indicadores econômicos e sociais críticos que 
têm sido produzidos robustecem o desafio de se compatibilizar o bem-estar de quem trabalha e a 
satisfação de usuários/clientes com os imperativos de eficiência e eficácia nos contextos de 
produção de mercadorias e serviços. Nesse cenário, a ergonomia pode e tem contribuído para a 
melhoria dos contextos de trabalho e o tema da qualidade de vida no trabalho, para além da 
variante modismo, vem se configurando como uma necessidade para eliminar ou atenuar os 
indicadores críticos existentes (LABIRIS, PETOUNIS, KITSOS, ASPIOTIS e PSILLAS, 2002; 
LAU, 2000; PATTANAYAK, 2003; STEIJN, 2001). 
Do ponto de vista das organizações, a relevância inscreve-se numa perspectiva de 
enfrentamento de um elenco de problemas presentes no cotidiano dos ambientes de trabalho que 
colocam a qualidade de vida no trabalho como uma real necessidade (LASCHINGER, 
FINEGAN, SHAMIAN e ALMOST, 2001; MARTEL e DUPUIS, 2006; SIRGY, EFRATY, 
SIEGEL e LEE, 2001). No que concerne às empresas privadas, os desafios postos pela 
mundialização da economia são inúmeros e cobram respostas "para ontem", merecendo 
destaque: o novo padrão de competitividade baseada no uso de alta tecnologia e na gestão 
flexível do trabalho; a atitude mais exigente e proativa de consumidores quanto à relação custo-
benefício de produtos e serviços; a evolução da consciência ambiental e a defesa dos recursos 
naturais. No âmbito do serviço público, dois aspectos caracterizam as transformações: o 
fortalecimento dos regimes democráticos e, em consequência, a postura mais vigilante e 
reivindicatória dos cidadãos-usuários quanto ao acesso à qualidade dos serviços prestados pelas 
agências governamentais e por seus dirigentes. 
Do ponto de vista acadêmico, a importância deste texto consiste em refletir sobre o 
papel e o campo de intervenção em ergonomia da atividade em uma perspectiva de 
 
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problematizar para avançar, ampliar e evoluir a sua abordagem clássica da inter-relação 
indivíduo-contexto de trabalho, agregando um enfoque (de viés preventivo) de qualidade de vida 
no trabalho. A tradição dos estudos e das pesquisas em ergonomia da atividade terminou 
produzindo a "clínica do trabalho" como um de seus traços: diagnóstico do indivíduo (ou de 
pequenos grupos) em situação de trabalho, mapeando sintomas de disfuncionamentos e 
prescrevendo recomendações para o reequilíbrio satisfatório da inter-relação indivíduo-contexto 
de trabalho. Olhando o horizonte, sem perder de vista o terreno teórico onde se pisa, vislumbra-
se esboçar as bases de um campo novo: a ergonomia da atividade aplicada à qualidade de vida no 
trabalho (EAAQVT), que vá além da tradição de estudos de casos cuja predominância é a 
abordagem qualitativa e o mérito indiscutível. 
Isso posto, duas questões servem de "guias" no trajeto argumentativo do presente texto: 
(a) como se caracteriza o cenário atual de mudanças no mundo do trabalho em termos dos 
principais indicadores críticos existentes? e (b) quais são os traços característicos principais da 
ergonomia da atividade que a habilitam para a tarefa da promoção da qualidade de vida no 
trabalho? A primeira questão é o foco do tópico a seguir. 
 
CENÁRIO DE MUDANÇAS E PRINCIPAIS INDICADORES CRÍTICOS NO MUNDO 
DO TRABALHO 
 
O cenário contemporâneo do mundo do trabalho, marcadamente em ebulição, tem seu 
ponto de inflexão histórica no final da década de sessenta do século passado. É naquele período 
que se iniciava um processo de reestruturação produtiva, ora em curso, como forma de superar a 
crise vigente no sistema produtivo dos países ocidentais, de feição taylorista-fordista 
(BRAVERMAN, 1975). Os aspectos históricos e os traços que foram sendo produzidos pela 
reestruturação produtiva marcam esse cenário de mudanças. 
 
AS MARCAS DAS METAMORFOSES DO MUNDO DO TRABALHO 
 
Na década de sessenta, o efeito combinado de diversos fatores (fortalecimento das 
reivindicações sindicais, esgotamento do enfoque hard da chamada administração científica do 
 
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trabalho, aumento brutal do preço do petróleo, aumento das taxas de juros) produziu uma crise 
no modelo de acumulação capitalista, impondo limites concretos nas taxas de mais-valia 
(HOBSBAWM, 1996). Conforme assinala De Toni (2006), instaurou-se: 
 
(...) um processo de reestruturação capitalista que inclui formas diferenciadas de se 
produzir e organizar o trabalho num contexto de fragmentação e fragilização do 
movimento sindical. Registram-se a redução do emprego assalariado, especialmente na 
indústria, a proliferação de atividades em serviços, a expansão de formas atípicas de 
inserção laboral em frente do padrão assalariado anterior e, principalmente, a ampliação 
do desemprego e sua manutenção em patamar elevado (p. 127). 
 
Estava nascendo a chamada reestruturação produtiva. 
O fenômeno da reestruturação produtiva e industrial pode ser definido como umabusca 
por harmonizar (compatibilizar) mudanças, principalmente, nos âmbitos do perfil das 
organizações produtivas, das relações de produção, do modelo dominante de gestão do trabalho, 
da tecnologia com a introdução de instrumentos de trabalhos baseados na microeletrônica, do 
papel dos Estados nacionais e do quadro jurídico internacional com medidas voltadas para o fim 
de barreiras comerciais. O processo de transição para um novo paradigma produtivo tem sido 
marcado por diferentes experiências, medidas e enfoques (MATTOSO, 1995). A reestruturação 
da economia mundial, que toma impulso nas décadas de 80 e 90 do século passado, vai 
paulatinamente dando forma e conteúdo à reestruturação produtiva propriamente dita (CASTEL, 
2003; LEITE, 2003; MATTOSO e BALTAR, 1996). Nesse sentido, merecem destaque três 
características principais: 
- O primeiro traço marcante consiste no investimento intensivo em inovações tecnológicas, em 
especial a automação e a informatização do processo de produção de mercadorias e de serviços. 
Aqui reside, certamente, um dos pilares principais do crescimento contínuo da economia sem 
necessariamente vir acompanhado – e isto é historicamente inédito – da geração de empregos 
assalariados. O suporte tecnológico da microeletrônica tem produzido mudanças estruturais 
profundas nas organizações públicas e privadas. 
- O segundo traço, o principal deles, situa-se na esfera da gestão organizacional e do trabalho. A 
introdução de ferramentas informatizadas é um dos facilitadores do enfoque de gestão flexível da 
produção (fabricação com base na demanda) e do trabalho (gerenciamento mais eficaz do tempo 
e das performances dos trabalhadores). Sem abandonar os pressupostos da organização científica 
 
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do trabalho (OCT) de Taylor (radicalizada por Henry Ford), a revolução informacional, com 
base nos avanços produzidos pela microeletrônica, tem produzido estilos gerenciais 
diferenciados que, no fundamental, reiteram o papel de co-adjuvantes dos trabalhadores nos 
processos produtivos. 
- O terceiro traço importante reside nas iniciativas de mudanças do aparato jurídico que 
normatiza as relações de trabalho e o próprio processo produtivo. Neste caso, tais iniciativas 
manifestam-se em dois níveis. O primeiro nível é macro, ou seja, no âmbito dos Estados 
nacionais e das relações econômicas internacionais. Nesse âmbito trata-se das medidas voltadas 
para o estabelecimento de bases mais livres para as relações de compra e venda de mercadorias, 
geração de tecnologias e intensificação do processo de comunicação. O segundo nível é micro, 
ocorre no interior das próprias organizações por meio do estabelecimento de novas normas, 
papéis e atribuições aos seus membros, buscando-se acelerar o processo de reestruturação 
produtiva (como o controvertido banco de horas na gestão da jornada de trabalho). 
Nesse cenário de metamorfoses, o paradigma da flexibilização vai se afirmando como 
um dos pressupostos centrais da chamada reestruturação produtiva (LEITE, 1994). A 
flexibilização pode ser conceituada como uma diretriz de gestão de processos produtivos que 
busca forjar organizações e trabalhadores resilientes às exigências, cada vez mais complexas 
(como instabilidade, imprevisibilidade), que resultam das relações de produção e de troca do 
mundo trabalho. Nessa perspectiva, a tradição do controle normativo das relações de trabalho 
constitui – parafraseando Drummond – uma "pedra no meio do caminho" da reestruturação 
produtiva. Entretanto, têm crescido, cada vez mais, os contratos por tempo determinado (causal-
workers ou temporary-workers) e os trabalhadores em tempo parcial (part-time-workers). A 
aplicação do paradigma da flexibilidade vem acompanhada da necessidade de um novo perfil dos 
trabalhadores (destaque para a polivalência funcional) e da delegação da atividade-meio para 
fora da empresa (prática da terceirização). 
O processo de mudanças aceleradas com base na reestruturação produtiva e apoiada no 
paradigma da flexibilização está em curso. Mas, seus contornos, consequências e tendências 
apenas começam a se esboçar. Os rumos da reestruturação são ainda incertos. De qualquer 
forma, as experiências mais eloquentes e dominantes – em curso nas grandes organizações 
 
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públicas e privadas – têm revelado seu caráter ideológico. Nesse sentido, a crítica de Sennett 
(2001) contra o verdadeiro sentido da flexibilização é bastante ilustrativa (grifos nossos): 
 
A palavra "flexibilidade" entrou na língua inglesa no século quinze. Seu sentido derivou 
originalmente da simples observação de que, embora a árvore se dobrasse ao vento, seus 
galhos sempre voltavam à posição normal. "Flexibilidade" designa essa capacidade 
de ceder e recuperar-se da árvore, o teste e restauração de sua forma. Em termos ideais, 
o comportamento humano flexível deve ter a mesma força tênsil: ser adaptável às 
circunstâncias variáveis, mas não quebrado por elas. A sociedade hoje busca meios de 
destruir os males da rotina com a criação de instituições mais flexíveis. As práticas de 
flexibilidade, porém, concentram-se mais nas forças que dobram as pessoas (p. 53). 
 
Essa crítica de Richard Sennett guarda fina sintonia com a crítica, de longa data, da 
ergonomia da atividade sobre os sistemas produtivos que têm, entre seus pilares de gestão, o 
pressuposto do trabalhador como variável de ajuste. 
É com base nesse cenário que um conjunto de indicadores críticos tem sido produzido e 
que coloca em primeiro plano a importância e o papel: (a) do resgate da qualidade de vida no 
trabalho no âmbito das organizações; e (b) da intervenção dos profissionais que atuam no campo 
das ciências do trabalho. 
 
INDICADORES CRÍTICOS: IMPACTOS NA PRODUÇÃO 
 
O processo de reestruturação produtiva, até onde se sabe, não tem conseguido sanar 
efeitos já bem conhecidos do mundo do trabalho os quais já existiam antes mesmo de sua 
inauguração a partir da década de setenta. Ademais, é preciso registrar que em grande parte das 
organizações públicas e privadas em países periféricos – como é o caso do Brasil – tal processo 
ainda permanece marcadamente ausente (BAUMGARTEN, 2006). O velho e carcomido 
taylorismo-fordismo ainda prevalece como modelo de gestão organizacional e do trabalho. 
Não obstante a falta de dados estatísticos mais globais confiáveis sobre indicadores 
críticos na esfera da produção – o que forneceria uma base de análise com maior grau de 
confiabilidade – o exame de estudos, pesquisas, relatórios e artigos diversos (inclusive em 
revistas não especializadas) mostra uma gama de indicadores que aparecem sob a forma de 
(PASTORE, 2001): 
 
 
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- Erros frequentes na execução de tarefas em virtude, sobretudo, de condições pouco 
adequadas de trabalho e formação profissional deficiente (por exemplo, aplicativos de 
computador com usabilidade deficitária que induz aos erros); 
- Retrabalho, decorrência inexorável da existência de erros ou falhas de concepção, que 
impacta na redução da eficácia do processo produtivo, no aumento do custo humano do 
trabalho e, não raro, repercute na insatisfação de usuários e consumidores; 
- Perda e desperdício de material, decorrentes de desenhos de tarefas e processos de 
trabalho com baixos graus de eficácia e eficiência que, em consequência, aumentam os 
custos de produção, por sua vez, repercutem no preço final das mercadorias (caso do 
setor privado) e comprometem a qualidade dos serviços públicos

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