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DEONTOLOGIA E LEGISLAÇÃO Danieli Urach Monteiro Práticas empresariais no mercado farmacêutico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar aspectos legais e principais implicações da falsificação de medicamentos. Analisar a legislação vigente e as penalidades referentes a trocas de prescrição médica. Explicar o processo de patente de novos medicamentos. Introdução O Brasil é um País com inúmeras oportunidades de crescimento e de- senvolvimento. Por consequência, é um País propenso a inovações no mercado farmacêutico. O farmacêutico ganhou muito espaço profissional nos últimos anos, atuando em diferentes frentes de trabalho e buscando oportunidades de crescimento e reconhecimento profissional. Nas diferentes funções exercidas por ele, a aquisição, conservação e comercialização de medi- camentos são grandes desafios. Neste capítulo, você vai ler sobre as questões polêmicas envolvendo práticas que dependem da atuação do farmacêutico, como falsificação de medicamentos, troca de receitas e patente de medicamentos. Aspectos legais e principais implicações da falsificação de medicamentos O mercado farmacêutico deu um salto no País, impulsionado principalmente pelo aumento dos gastos com saúde. Conforme a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), o setor farmacêutico está em plena ascensão — o faturamento das grandes redes de varejo farmacêutico cresceu 7,54% no primeiro semestre de 2018 (SOUZA, 2018). Esse crescimento expressivo do setor farmacêutico abre um leque de abordagens e oportunidades, pois o crescimento do mercado caminha ao lado da necessidade do cliente, com o intuito de continuar absorvendo uma demanda cada vez maior. Cabe colocar, aqui, que o poder aquisitivo da população brasileira é relativa- mente baixo. Assim, quando se combina a isso a popularidade dos medicamentos genéricos e similares, é garantida a esses fabricantes a liderança no comércio de medicamentos. Segundo a PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda (2013), 80% dos custos com medicamentos são realizados com produtos de baixo custo, fato novamente relacionado ao baixo poder aquisitivo da população, confrontando com mercados mais desenvolvidos. Além disso, podemos destacar que, no Brasil, ainda prevalece o perfil das doenças comuns em países subdesenvolvidos, como dengue, febre amarela e doença de Chagas. Apesar disso, as doenças de países emergentes, como hipertensão e diabetes, também estão se tornando bastante corriqueiras. Vários governos estaduais e municipais no Brasil estão gerando programas de incentivo ao investimento no mercado farmacêutico, buscando construir polos industriais do setor. Esses programas têm garantido o aprimoramento da infraestrutura, bem como a qualificação da mão de obra, gerando empregos e desenvolvimento nas cidades-polo (PRINCEWATERHOUSECOOPERS BRASIL LTDA, 2013). Para isso, é necessário manter o protótipo de excelência em todas as operações gerenciais e operacionais concretizadas desde a produção até o transporte das mercadorias, garantindo que os produtos farmacêuticos cumpram o seu objetivo principal: promover a saúde e a qualidade de vida. A saúde e o bem-estar físico se encontram no topo das prioridades da po- pulação. Assim, o setor farmacêutico é muito promissor. Com o mercado far- macêutico em alta, as instituições de ensino têm investido cada vez mais em opções de especialização e pós-graduação para que os farmacêuticos possam ter uma carreira de sucesso. Muitos são os farmacêuticos se formando todos os anos, com a missão de transformar a saúde de milhares de brasileiros que têm dificuldade em interpretar os sintomas mais simples ou de manejar enfermidades. Nesse sentido, os profis- sionais farmacêuticos, que anteriormente se dedicavam somente à interpretação de prescrições médicas, hoje têm diversas opções de atuação como: aplicação de vacinas; utilização dos conhecimentos nos consultórios farmacêuticos; atenção farmacêutica; segmento farmacoterapêutico. Práticas empresariais no mercado farmacêutico2 A essas ações, soma-se o interesse pelo cuidado com a falsificação de me- dicamentos. O farmacêutico tem conhecimento técnico e legal para identificar falsificações de medicamentos e deve interceder nessas questões. A falsificação de medicamentos distribuídos no Brasil pode ser realizada tanto no País quanto em países de fronteira. A investigação da venda e distribuição desse tipo de medicamento é geralmente realizada em parceria entre os laboratórios fabricantes, a vigilância dos Estados, a Anvisa e as Polícias Civil e Federal. A falsificação de medicamentos é crime hediondo conforme o art. 273 do Código Penal, com penas previstas no Código (BRASIL, 1940). A penalidade sanitária para farmácias e drogarias que comercializam esse tipo de medicamento vai de multas (entre R$ 2 mil e R$ 1,5 milhão) até o cancelamento da licença e da autorização de funcionamento do estabe- lecimento. Quando é detectada uma falsificação, os lotes são apreendidos e inutilizados. O art. 273 do Decreto-Lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, alterado pela Lei nº. 9.677, de 2 de julho de 1998, traz: “Art. 273 Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: (Redação dada pela Lei nº. 9.677/1998). Pena — reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.” (BRASIL, 1998, documento on-line). Para ler o Decreto-Lei nº. 2.848/1940 na íntegra, acesse o link a seguir. https://goo.gl/HiYwJ1 As categorias que identificam as irregularidades com medicamentos são: Medicamento falsificado — é um produto que copia o original, no entanto, pode não conter nenhum princípio ativo ou conter outros tipos de substâncias. 3Práticas empresariais no mercado farmacêutico Medicamento contrabandeado — é aquele importado de outro país, que não possui registro no Brasil, portanto, não é autorizada a sua entrada. Medicamento sem registro — é o produto sem o devido registro pela autoridade reguladora. Medicamento impróprio — é aquele produto vencido ou que não apresenta condições indispensáveis de acondicionamento e transporte. A Anvisa procura disseminar entre a população em geral, por meio de eventos e da mídia, as orientações e dicas para prevenir a compra de um medicamento falso. Além disso, os únicos estabelecimentos permitidos para a venda de medicamentos são: farmácias comerciais; drogarias; farmácias de manipulação. Assim, devemos ficar atentos aos estabelecimentos não credenciados, como bares, feiras, mercados, entre outros. Outra orientação a ser observada é a presença da chamada raspadinha, na caixa do medicamento. Esta é reativa ao ar e ao metal, sendo uma espécie de selo na embalagem do medicamento, que deve ser raspado pelo usuário com um objeto de metal, ainda não passível de falsificação (Figura 1). Figura 1. Tinta reativa utilizada em caixas de medicamentos para evitar a falsificação. Fonte: Adaptada de Farmacêuticas (2017). Práticas empresariais no mercado farmacêutico4 Uma parceria entre a Anvisa e a Casa da Moeda pretende criar um dispo- sitivo nos moldes da raspadinha a ser usado por todos os laboratórios. Esse dispositivo, ainda em formatação, dará também ao medicamento, além da segurança, um caráter de rastreabilidade (BRASIL, 2018). O medicamento falsificado não possui registro e, com certeza, não há como assegurar a sua qualidade, segurança e eficácia. Assim, a atenção deve ser re- dobrada em alguns itens. A embalagem do medicamento deve conter o número do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), que deve funcionar de fato. O aspecto do medicamento (cor, consistência, entre outros) e a formatação da embalagem também devem ser avaliados, sempre comparando com a embalagem sabidamente autêntica, quando da suspeita de falsificação. A escolha de um bom laboratório farmacêutico ou uma distribuidora de confiança para aquisiçãodos medicamentos é de extrema importância, visto que o risco de falsificação é mínimo. A Lei nº. 11.903, de 14 de janeiro de 2009, dispõe sobre o rastreamento da produção e do consumo de medicamentos por meio de tecnologia de captura, armazenamento e transmissão eletrônica de dados. Essa lei vem auxiliar o órgão de fiscalização, a fim de rastrear todos os medicamentos produzidos, dispensados ou vendidos em todo o Brasil. Para ler a Lei nº. 11.903/2009 na íntegra, acesse o link a seguir. https://goo.gl/lQMhf Segundo a Anvisa (BRASIL, 2004), três medidas importantes são tomadas para combater a falsificação de medicamentos no País: obrigação de constar o número do lote em cada nota fiscal de medica- mentos transportados; cadastramento dos estabelecimentos farmacêuticos na Anvisa; capacitação de inspetores das vigilâncias sanitárias estaduais. São medidas que permitem o cumprimento das regulamentações, impedindo que empresas, que não queiram se adaptar às novas legislações, insistam em permanecer no mercado de forma clandestina. 5Práticas empresariais no mercado farmacêutico Em caso de identificação de qualquer irregularidade com medicamentos — falsificação, contrabando, falta de registro ou impróprio —, o usuário ou o farmacêutico podem denunciar nos canais de comunicação da Anvisa (0800.642.9782), nas vigilâncias sani- tárias locais, no Ministério Público local ou na polícia do Estado em que foi encontrada a medicação. Saiba mais sobre os canais da Anvisa no link a seguir. https://goo.gl/Q3ZJWX Diversos são os riscos para quem utiliza medicamentos falsificados. Quando não temos a procedência do laboratório de fabricação do medicamento, não sabemos se a produção foi realizada com condições de higiene necessárias, se o produto não está contaminado por bactérias, se não foram colocadas substâncias erradas ou, ainda, se faltam princípios ativos que deveriam estar presentes. Esses são alguns dos problemas dos medicamentos falsos, que deixam de tratar a doença para a qual são destinados e, em alguns casos, pioram o quadro da doença do usuário. As pessoas que utilizam medicamentos falsificados correm diversos riscos, como a ausência do efeito desejado, consequentemente atrasando o tratamento para doenças e agravando o estado de saúde. O risco de óbito pela utilização de medicamentos que contêm substâncias desconhecidas, adicionadas pelo fabricante clandestino, é eminente. No entanto, isso não é um empecilho para quem pratica essa atrocidade. Segundo dados da Interfarma (2018), em 2008, foram apreendidas 500 mil unidades de medicamentos falsos (comprimidos e ampolas) e, em 2010, o número subiu para 18 milhões. Assim, o farmacêutico também deve orientar a população para que fique atenta no momento da aquisição e na tomada do medicamento, desconfiando sempre de: atitudes suspeitas; ausência do farmacêutico no local da venda; cores e desenho de letra diferentes da embalagem habitual; formato do comprimido. Práticas empresariais no mercado farmacêutico6 Sempre que alguém identificar falsificação de medicamentos, deve denun- ciar às autoridades competentes, a fim de evitar qualquer risco à saúde humana. A Política Vigente para a Regulamentação de Medicamentos no Brasil foi elaborada pela Anvisa (BRASIL, 2004) e traz informações sobre boas práticas de fabricação, venda, quali- dade de medicamentos, entre outras. Para ler o material na íntegra, acesse o link a seguir. https://goo.gl/Rd1ony Legislação vigente e penalidades referentes à troca de prescrição médica O médico, ao prescrever a medicação para um paciente, considera principal- mente o conhecimento prévio, a responsabilidade, a segurança e a efi cácia do produto frente à patologia ou sintomatologia que o paciente apresenta. A confi ança no fabricante do medicamento é sempre considerada na escolha correta da medicação a ser utilizada. O erro de medicação, em geral, leva ao uso inadequado de medicamento, podendo ou não lesar o paciente. No entanto, é um procedimento evitável e pode estar relacionado a: prática profissional; comunicação ineficiente na prescrição; rótulos; embalagens; preparação; dispensação; distribuição; monitoramento. As farmácias brasileiras possuem, obrigatoriamente, farmacêutico em turno integral, sendo este o único autorizado por lei a orientar sobre o uso dos medica- mentos ou efetuar troca de medicamento de referência ou similar por genérico. 7Práticas empresariais no mercado farmacêutico Quando o médico prescreve na receita o nome do princípio ativo, ele tem a cons- ciência de que a troca pode ocorrer, caso não tenha especificado qual o fabricante. A intercambialidade de medicamentos é regulamentada por: Lei do Medicamento Genérico (Lei nº. 9.787, de 10 de fevereiro de 1999); Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa nº. 16, de 2 de março de 2007; RDC do Ministério da Saúde nº. 58, de 10 de outubro de 2014. Essas legislações permitem ao farmacêutico substituir o medicamento de referência pelo medicamento genérico correspondente e vice-versa. e o medica- mento de referência pelo seu medicamento similar intercambiável e vice-versa. No caso dos medicamentos similares, o farmacêutico deve consultar a lista disponi- bilizada no portal da Anvisa. https://goo.gl/cmyKE A intercambialidade só poderá ser realizada se não houver qualquer restrição por parte do prescritor quanto à substituição. De acordo com a RDC Anvisa nº. 16/2007, ao realizar a intercambialidade, o farmacêutico deve indicar a substituição realizada na prescrição, além de colocar o carimbo com nome e número de inscrição do Conselho Regional de Farmácia, datar e assinar. O farmacêutico de uma drogaria recebe a receita de um determinado medicamento similar. O paciente solicita que seja realizada a troca pelo mesmo medicamento, mas genérico. Nessa situação, a intercambialidade não pode ser realizada, visto que, nas resoluções vigentes, não existe a possibilidade de intercambialidade entre os medicamentos similares ou entre um medicamento similar e um genérico e vice- -versa, pois esses medicamentos não passaram por testes (estudos de equivalência farmacêutica e biodisponibilidade, por exemplo) que comprovem que a troca será eficiente. A intercambialidade de medicamentos é um ato privativo do farmacêutico. Práticas empresariais no mercado farmacêutico8 Na prescrição que contiver o genérico, somente será permitida a dispensação do medicamento de referência ou de genérico correspondente. É obrigação do profissional farmacêutico orientar a dispensação realizada ao usuário de medicamentos, bem como fornecer toda a orientação necessária ao consumo racional do medicamento genérico. Para ler a RDC nº. 135, de 29 de maio de 2003, na íntegra, acesse o link a seguir. https://goo.gl/aPo4xb A Resolução do Conselho Federal de Farmácia (CFF) nº. 596, de 21 de fevereiro de 2014, caracteriza o farmacêutico como um profissional de saúde, devendo executar as atividades do seu âmbito profissional, contribuindo para assegurar a saúde pública. Caso, no exercício da profissão, o farmacêutico não cumpra com seus deveres e obrigações, poderá responder administrativa, civil e criminalmente pelos seus atos ou atos de terceiros sob sua supervisão que proporcionarem prejuízos a pacientes. Na dispensação e na escolha do medicamento, o farmacêutico não pode, de forma alguma, estar associado a qualquer tipo de interesse ou vantagem financeira. No exercício da profissão, é vedado ao farmacêutico receber co- missões ou premiações diretamente vinculadas ou condicionadas à venda de medicamentos (CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2017). Segundo a Resolução CFF nº. 596/2014: Art. 14 É proibido ao farmacêutico: [...] VIII — produzir, fornecer, dispensar ou permitir que sejam dispensados meio, instrumento, substância, conhecimento, medicamento, fórmula magistral ou especialidade farmacêutica, fracionada ounão, que não inclua a identificação clara e precisa sobre a(s) substância(s) ativa(s) nela contida(s), bem como suas respectivas quantidades, contrariando as normas legais e técnicas, excetuando- -se a dispensação hospitalar interna, em que poderá haver a codificação do medicamento que for fracionado sem, contudo, omitir o seu nome ou fórmula; (BRASIL, 2014, documento on-line). 9Práticas empresariais no mercado farmacêutico A Resolução CFF nº. 357, de 20 de abril de 2001, fala sobre a avalia- ção e interpretação das prescrições quanto aos aspectos técnicos e legais, sendo atribuídas ao farmacêutico durante a dispensação. Na prescrição farmacêutica, de acordo com a Resolução CFF nº. 586, de 29 de agosto de 2013, o farmacêutico deverá orientar suas ações de maneira ética, sempre observando o benefício e o interesse do paciente, mantendo autonomia profissional e científica em relação às empresas, instituições e pessoas físicas que tenham interesse comercial ou possam obter vantagens com a prescrição farmacêutica. Assim, é fundamental que os critérios de intercambialidade sejam cum- pridos, além da impossibilidade em caso de manifestação do prescritor. É importante lembrar que a saúde do paciente deve ser soberana aos interesses financeiros da indústria farmacêutica. Patente de novos medicamentos Quando há a descoberta e o desenvolvimento de novos fármacos, deduzimos que foram gastos muitos anos de pesquisa científi ca em uma área multidisci- plinar, o que requer compromisso contínuo e muita dedicação. De acordo com Vieira et al. (2013), nos Estados Unidos, o tempo es- timado para descobrir, desenvolver e registrar um novo medicamento é, em média, de 14,2 anos. De maneira geral, o processo de obtenção de um novo medicamento é dividido em descoberta, desenvolvimento e registro no órgão regulador. A última etapa para o desenvolvimento de um novo medicamento é a realização do registro pela autoridade regulatória do país onde o medicamento será utilizado, como, por exemplo, no Brasil, a auto- ridade regulatória é a Anvisa. Para isso, a indústria deverá submeter todos os dados coletados no período da fase de descoberta e desenvolvimento para avaliação do órgão competente. Os dados precisam mostrar que se trata de algo totalmente novo e que demonstra vantagens frente a outros medicamentos que estão no mercado. Ao contrário do registro de medicamentos, a patente de um medicamento é definida como o monopólio de sua exploração, sendo o tempo determinado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com prévia anuência da Anvisa. Práticas empresariais no mercado farmacêutico10 Patente é uma palavra originada da expressão latina litterae patentes, que significa carta aberta. Uma patente é um contrato entre o criador da medicação e a sociedade. Nesse acordo, a indústria criadora do novo medicamento torna pública sua invenção, por isso, recebe em troca, por tempo determinado, o direito de explorar comercialmente, com exclusividade, aquela invenção. Terminado o prazo da patente, finda-se a exclusividade de produção e venda, assim, outras empresas poderão copiar a formulação do produto e vendê-lo em forma de medicamento genérico ou similar. Conforme a própria definição legal, o medicamento genérico poderá somente ser fabricado caso o medicamento de referência não possua proteção de patente ou outros direitos de exclusividade. Por lei, esses medicamentos são, no mínimo, 35% mais baratos. Segundo a Interfarma (2018), a variação de tempo médio que os medicamentos genéricos ou similares esperaram para ter o registro na Anvisa e posteriormente serem vendidos nas farmácias foi de 1.741 dias (quatro anos e dez meses) em 2017. Até mesmo aqueles medicamentos que entram na fila de prioridades levam cerca de 370 dias para a conclusão da análise. Essa demora é resultado de um acúmulo de pedidos de quebra de patentes, que esperam para ser analisados pelos órgãos competentes. Para saber mais, acesse o link a seguir. https://goo.gl/Hst8w2 Os genéricos só podem ser comercializados depois de 20 anos contados da data em que o pedido de patente é protocolado no órgão responsável, que, no Brasil, é o INPI. O tempo de exclusividade começa a contar da data do protocolo da solicitação de patente, assim, um produto farmacêutico, em média, levaria 10 anos para ser desenvolvido e aprovado pelas autoridades sanitárias, dessa forma, o fabricante teria 10 anos de exclusividade no mer- cado. Esse prazo é um padrão internacional, mas pode ser maior no Brasil, 11Práticas empresariais no mercado farmacêutico devido a uma particularidade da lei nacional, que admite estender o período de vigência da patente. Por essa razão, o governo brasileiro acaba por gastar muito mais com medicamentos na compra em larga escala para abastecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Vale lembrar que, quando a patente de medicamentos é concedida, o seu de- tentor passa a ter direitos exclusivos de exploração do medicamento, de produção, utilização, comercialização sem concorrência, venda ou importação no período de 20 anos. Dessa forma, é de extrema importância a análise ponderada dos requisitos para a permissão desse benefício, considerando que pode refletir diretamente no custo final do medicamento, tanto para população quanto para o governo. Em geral, o pedido de patente acontece próximo ao quarto ano do desenvol- vimento do produto, e a sua aprovação para venda ocorre pode volta do décimo quarto ano. Para isso, todos os testes clínicos necessários devem ser realizados. É de extrema importância o processo de patente de um medicamento, visto que, se não fosse pela criação dos direitos patentários, inúmeros medicamen- tos não teriam sido descobertos, devido ao fato de não se ter um incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de atividades extremamente caras, demoradas e de resultados imprevisíveis. No Brasil, a Resolução RDC nº. 21, de 10 de abril de 2013, dispõe sobre o procedimento administrativo relativo à prévia anuência da Anvisa para a concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos. Nessa reso- lução, também consta que o requerente deverá apresentar à Anvisa, sempre que solicitado, por meio de exigência, todos os documentos necessários para esclarecer dúvidas surgidas durante o exame, a fim elucidar qualquer dúvida referente ao novo medicamento. Para ler a RDC nº. 21/2013 na íntegra, acesse o link a seguir. https://goo.gl/shPa5j A Anvisa e o INPI devem andar juntos a fim de liberar, o mais rápido pos- sível, as patentes que já estejam alcançando o limite de tempo de exclusividade patentária, proporcionando, assim, mais economia para o governo e para a população. Também cabe ao INPI expor argumentos técnicos, comprovando Práticas empresariais no mercado farmacêutico12 que a patente examinada não viola o interesse social, tecnológico e econômico do País na sensível área da saúde pública. Uma decisão judicial pode anular a patente de um medicamento quando o Judiciário achar que há um prejuízo aos cofres públicos. Esse julgamento é muito importante porque considera que a análise da patente não deve ignorar seu impacto sobre a saúde pública e a vida das pessoas que precisam de um medicamento, com altíssima carga tributária, para sobreviver. Os órgãos competentes na concessão de patentes ficam atentos a regras que impedem que a indústria fabricante utilize, para medicamentos diferentes, nomes semelhantes, bem como que a empresa comercialize o mesmo produto com mais de um nome comercial. Assim, o período de exclusividade patentária tem o objetivo de bonificar o inventor de determinado medicamento por todo gasto de tempo e dinheiro na sua pesquisa e no seu desenvolvimento. Entretanto, em situações bem específicas, de acordo com o interesse do País, a quebra de patente pode ocorrer antes do período específico, como é o caso de doenças graves que afetam a população. 1. A falsificação de medicamentos é combatida no Brasil e em fronteirascom o Brasil pelos órgãos compe- tentes, visando minimizar ao má- ximo o acesso da população a esses medicamentos. Diante disso, quais são os responsáveis por interceptar e combater os medicamentos falsifi- cados no Brasil? a) A falsificação de medicamentos é combatida por uma parceria entre vigilância sanitária do Estado, laboratório fabricante do medicamento em questão, Anvisa e Polícias Civil e Federal. b) A falsificação de medicamentos é combatida pela população em geral, secretaria de saúde municipal, Anvisa e Polícias Civil e Federal. c) A falsificação de medicamentos é combatida pela vigilância sanitária municipal, laboratórios fabricantes do medicamento em questão e Polícias Civil e Militar. d) A falsificação de medicamentos é combatida pela vigilância sanitária estadual, laboratório fabricante do medicamento em questão, secretaria de saúde municipal e Polícia Militar. e) A falsificação de medicamentos é combatida pela vigilância sanitária municipal, laboratórios fabricantes do medicamento em questão, Anvisa e Polícia Militar. 2. A prescrição de um medicamento ocorre, geralmente, em todas as consultas médicas. Com relação à troca do medicamento prescrito pela 13Práticas empresariais no mercado farmacêutico farmácia que comercializa o produto, assinale a alternativa correta. a) Todo medicamento prescrito em receita médica pode ser inter- cambiável por outro, desde que isso seja feito pelo farmacêutico. b) O medicamento prescrito em receita médica só pode ser tro- cado por outro medicamento do mesmo laboratório de fabricação. c) Somente ao farmacêutico é per- mitida a troca de medicamento de referência prescrito em receita médica por um medicamento genérico ou similar correspon- dente, salvo restrições expressas pelo profissional prescritor. d) A intercambialidade de medica- mentos em receita médica pode ser realizada por qualquer pessoa que trabalhe no estabelecimento farmacêutico, no entanto, só pode ser trocado por medica- mento similar correspondente. e) O farmacêutico é responsável pela intercambialidade de medicamentos prescritos pelo médico, no entanto, fica restrito somente à classe de medica- mentos anti-hipertensivos. 3. A Resolução CFF nº. 596/2014 caracteriza o farmacêutico como um profissional de saúde, devendo executar as atividades do seu âmbito profissional, contribuindo para assegurar a saúde pública. Se, no exercício da profissão, o farmacêu- tico não cumprir suas obrigações e deveres dentro do estabelecimento em que trabalha, quais sanções ele pode sofrer? a) O farmacêutico poderá responder somente administrativamente pelos seus atos ou atos de ter- ceiros sob sua supervisão que pro- porcionem prejuízos a pacientes. b) O farmacêutico poderá res- ponder somente criminalmente pelos seus atos no exercício da profissão que proporcionem prejuízos a pacientes. c) O farmacêutico poderá responder civil e criminalmente pelos seus atos e atos de gerentes de estabe- lecimentos comerciais que propor- cionem prejuízos a pacientes. d) O farmacêutico poderá res- ponder administrativa, civil e criminalmente pelos seus atos ou atos de terceiros sob sua supervisão que proporcionem prejuízos a pacientes. e) O farmacêutico não responderá por qualquer prejuízo a paciente, quando ele não for o proprietário do estabelecimento comercial. 4. Quando um medicamento novo chega no mercado farmacêutico, significa que a indústria fabricante gastou muitos anos de pesquisa cien- tífica em uma área multidisciplinar que requer compromisso contínuo e muita dedicação. O que quer dizer patente de novos medicamentos? a) Uma patente é um contrato entre a indústria criadora do novo medi- camento e a vigilância sanitária, em que os estabelecimentos comerciais vendem com exclusi- vidade o medicamento novo para profissionais da área da saúde. b) Uma patente é um acordo entre a indústria criadora do novo medi- camento e os estabelecimentos comerciais que fazem a venda, em que a indústria recebe bonifica- ções para vender somente para determinadas farmácias. Práticas empresariais no mercado farmacêutico14 c) Uma patente é uma lei esta- belecida pela Anvisa, em que a indústria fabricante do novo medicamento, por um determi- nado tempo, só poderá vender seu produto para representantes do Governo Federal. d) Uma patente é um contrato entre a Anvisa e os estabelecimentos comerciais, que somente poderão vender o novo medicamento para profissionais da área da saúde. e) Uma patente é um contrato entre a indústria criadora do novo medi- camento e a sociedade, em que a indústria torna pública sua in- venção, por isso, recebe em troca, por tempo determinado, o direito de explorar comercialmente, com exclusividade, aquela invenção. 5. Quando a patente de medicamentos é concedida, seu detentor passa a ter direitos exclusivos de exploração do medicamento, na produção, utilização, comercialização sem concorrência, venda ou importação, no período de 20 anos. Nesse sen- tido, quando uma patente pode ser quebrada? a) Uma decisão judicial pode anular a patente de um medicamento, quando o Judiciário achar que há um prejuízo aos cofres públicos e há uma necessidade pública, com relevância clínica para tal. b) Uma decisão judicial pode inde- ferir a patente de um medica- mento, quando o Judiciário achar que a indústria está arrecadando mais do que o devido. c) Uma decisão judicial pode anular a patente de um medicamento, quando o medicamento não está alcançando as metas de venda e há uma necessidade pública desse medicamento, com rele- vância clínica para tal. d) Uma decisão judicial pode anular a patente de um medicamento, quando este não está superando as expectativas dos pacientes. e) Uma decisão judicial pode anular a patente de um medicamento, quando os profissionais da área da saúde não estiverem prescrevendo constantemente a medicação e há uma necessidade pública, com relevância clínica para tal. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medicamentos falsificados. 2018. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/resultado-de-busca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_ state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&_101_ struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_assetEntryId=2861443&_101_ type=content&_101_groupId=219201&_101_urlTitle=medicamentos-falsificados&inhe ritRedirect=true>. Acesso em: 28 nov. 2018. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Política vigente para a regulamentação de medicamentos no Brasil. Brasília: Anvisa, 2004. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/anvisa/manual_politica_medicamentos.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2018. 15Práticas empresariais no mercado farmacêutico BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Resolução nº. 596, de 21 de fevereiro de 2014. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/Resolucao-cff-596-2014. htm>. Acesso em: 28 nov. 2018. BRASIL. 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